o táxi

Edição 446 • dEzEmbro 2022

autônomo
Ele já existe, mas dá
seus vacilos. Veja como
é andar em um. p. 32

r$ 25,00

s
ta
is
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R
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Br

Já produzimos 9 bilhões de toneladas dele. 80% vão parar em lixões

e nos oceanos. E nos contaminam: cada pessoa ingere 20 g
de microfragmentos de plástico por mês, o equivalente a uma
pecinha de Lego. Mas avanços científicos prometem mudar isso. p. 20
por bruno garattoni e tiago cordeiro

p. 38 p. 48 p. 54 p. 08
cabral Sexo e poder de indiana por que a
depoiS do no mundo JoneS a barbie: china inSiSte
deScobrimento. animal. oS filmeS de 2023. na covid zero?
Br
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Br
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s
carta ao leitor
A ilha de lixo
Uma sacola de plástico leva 20
anos para se decompor. Um canu-
do, 200 anos. Uma garrafinha de
água, 450. Ou seja: se usassem gar-
rafas plásticas no século 16, ainda
haveria algo delas por aí. Provavel-
mente no mar.
Toneladas de plástico desembo-
cam nos oceanos, chegando pelos
rios. Daí em diante, seguem de ca-
rona nas correntes marítimas, e se
acumulam nos “giros” – pontos de
encontro nos quais a água se movi-
menta em círculo. Há dois grandes
giros no Atlântico, dois no Pacífico
e um no Índico. Todos acumulam
uma certa quantidade de lixo.
O caso mais grave é o do Giro do
Pacífico Norte, “alimentado” pelos
dejetos do sudeste asiático e dos
Estados Unidos. Ao longo das últi-
mas décadas formou-se ali a Gran-
de Porção de Lixo do Pacífico
(GPGP, na sigla em inglês). Trata-se
de uma ilha de objetos plásticos do
tamanho do estado do Amazonas
(1,6 milhão de km²).
De acordo com a ONG holande-
sa The Ocean Cleanup, que une
cientistas a fim de resolver essa
questão, são 80 mil toneladas de
plástico ali, o equivalente a 500
Boeings 747. Um estorvo para a vi-
da marinha.
E para a vida terrestre também.
Ao longo da decomposição, as sa-
colas e garrafas degradam-se em
“microplásticos” – partículas invi-
síveis que acabam ingeridas por
peixes, e a partir daí entram na ca-
deia alimentar. Estima-se que cada
pessoa já consuma o equivalente a
um cartão de crédito em micro-
plásticos por semana (eles chegam
pelo ar também). Não há um con-
senso sobre os efeitos disso para a
saúde, mas o certo é que a humani-
dade está brincando com fogo. E
que precisamos encontrar soluções
enquanto é tempo.
Uma delas é limpar os lixões dos
EDITORIAL
giros. A The Ocean Cleanup testa
um método simples, mas eficaz, des-
de 2021 na GPGP: arrastar uma rede
de 1,6 km de extensão e quatro me-
tros de profundidade puxada por
barcos, lixão adentro. Durante os ex-
perimentos, recolheram 101 tonela-
das de plásticos – e mandaram para
reciclagem. É pouco. Mas mostra
que, com uma frota suficientemente
grande de redes, trabalhando sem
parar, dá para mitigar o estrago.
Agora eles planejam colocar em
prática uma versão turbinada, com
s
2,5 km de rede. Isso amplia a área to-
tal de arrasto de 6.400 m² parata
10.000 m². Assim dá para capturar
is
mais lixo a cada operação, baixando
ev
o custo da empreitada. Segundo a
ONG, frotas de 10 redes de 2,5 km
R
bastariam para limpar cada um dos
cinco lixões oceânicos, versus 50 das
il
de 1,6 km.
as
O problema: nem todo plástico
pode ser reciclado. E mesmo os que
Br
podem se tornam lixo puro após al-
guns ciclos. Como extinguir o uso
de plásticos ainda é uma utopia, a
chave está na busca por novas tecno-
logias de reciclagem – e elas estão
chegando. É o que mostram o editor
Bruno Garattoni e o repórter Tiago
Cordeiro em nossa matéria de capa
– uma reportagem de fôlego e multi-
disciplinar, que mescla saúde, quími-
ca e engenharia de forma tão suave
quanto profunda. Mergulha lá.
Alexandre Versignassi
D i r etor De reDação
AlexAndre.VersignAssi@Abril.com.br
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VICTOR CIVITA
(1907-1990)
ROBERTO CIVITA
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cardápio DEZEMBRO DE 2022

20 Capa
o futuro
do plástico
Você ingere o equivalente a um cartão de
crédito por semana em microplásticos.
Veja quais são os planos para resolver o
problema do acúmulo desse material no
meio ambiente – e no nosso corpo.

32 Vou de Táxi
Em São Francisco (EUA), dá para pedir tá-
xis autônomos. Saiba como esses carros
funcionam – e como foi andar em um.

38 Cabral depois do Brasil

Pedro Álvares só passou dez dias por
aqui. Conheça o resto de sua história.

46 As caras da riqueza
Infográfico: as personalidades que já
estamparam as cédulas brasileiras.

s
ta 48 Guerra dos sexos
is
Machos dominantes, fêmeas dominadas?
Nem sempre: há relações de poder entre
ev

mamíferos que fogem a essa regra.

R

cabral: o lado
menos conhecido 54 Garanta a pipoca
do navegador O novo Indiana Jones, o filme cult da
il

português. p. 38 Barbie – e mais histórias de super-herói.

as

Saiba o que chega aos cinemas em 2023.

Br

12 carbono zero 65 manual

Aquecimento global ame- Como começar o próprio
essencial aça metade das árvores em
áreas urbanas do planeta.
número
incrível oráculo podcast?

6 uma imagem... 60 tears in heaven

Na Califórnia, uma Por que a gente solta lágri-
empresa quer produzir mas quando chora?
lítio a partir da evapo-
ração de água salgada.

16 coloquem os óculos 3d
Avatar: O Caminho da Água
estreia em dezembro. Veja
os bastidores do novo filme
8 ... uma opinião de James Cameron.
Por que a China 61 pá pum
mantém a política 18 de tablet a desktop 63 só acredito vendo
de Covid zero? Com tela flexível, novo 64 pensando bem...
notebook da Asus pode ser 64 lost in translation
usado de várias maneiras.
1,8
supernovas 12 enquanto isso... trilhão De pe�

10 feito em laboratório 14 3 notícias sobre

Daços De pl ás�
tico formam a
granDe ilha De
última página
Cientistas sintetizam a 16 pérolas do streaming lixo, no oce� 62 a vez de janja 66 pisa fundo, rudolph
tetrataenita, metal que só ano pacífico. Qual a função da primei- Quão rápido o trenó do
existe em asteroides. 19 você decide p.20 ra-dama do Brasil? Papai Noel precisaria ser?

capa | ilustração Felipe Del Rio

 essencial UMA IMAGEM...

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6 super dezembro 2022 foto David McNew / Getty Images

 s
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dezembro 2022 super 7

 essencial ...UMA OPINIÃO

na página anterior: Campos de evaporação de sal em Amboy, na Califórnia,

onde a empresa americana Standard Lithium pretende testar uma nova tecnolo-
gia: a produção de lítio a partir da água salgada. Se a técnica funcionar, com ren-
dimento e custo competitivos, poderá revolucionar a fabricação desse material,
que é essencial para as baterias – e, atualmente, extraído de reservas minerais,
que um dia acabarão se esgotando.

Por que
Apesar dos
afrouxamentos
recentes, ela
segue tomando

a China
medidas duras
para frear a

s
ta propagação do
vírus, na contra-
is
mão das nações

mantém a
ev

ocidentais.
Ninguém sabe ao
R

certo o motivo,
il

mas há quatro

política de
as

hipóteses. E uma
é especialmente
Br

preocupante.

Covid zero? POR

BRUNO GARATTONI

p
Placas de metal e cercas de arame farpado protegem as fronteiras
da cidade, para impedir que entre gente de fora – enquanto guar-
das em checkpoints controlam o movimento dentro dela. Poderia
ser uma cena da Berlim pós-Segunda Guerra Mundial, partida em
duas, a não ser por um detalhe: os testes de Covid que a população
é obrigada a fazer, em barraquinhas montadas pelo governo, várias
vezes por semana. Segundo a agência Bloomberg, que esteve no
local, assim é a vida em Ruili, cidade que fica na fronteira da Chi-
na com Mianmar e é o maior alvo dos lockdowns: já sofreu nada
menos do que sete deles. Mesmo após anunciar um afrouxamento
das regras, o governo chinês segue combatendo a Covid com mão
de ferro. Na metrópole de Guangzhou, onde recentemente houve
um surto da doença, as autoridades pretendem construir mais 130
mil leitos em alas de isolamento hospitalar, e 115 mil novas vagas
nos “centros de quarentena" – onde pessoas que estão infectadas,

8 super dezembro 2022

mas não doentes, são obrigadas a ficar.
Em outras cidades, é permitido cumprir
a quarentena em casa (quando aparece
um caso num prédio, todos os moradores
são isolados), mas isso também leva a
situações extremas. Em Zhengzhou, um
bebê de quatro meses morreu durante
uma quarentena, em novembro: os pais
tiveram que insistir muito para poder
levá-lo ao hospital, e só conseguiram
permissão tarde demais. Em Urumqi,
no norte do país, dez pessoas morreram
no incêndio de um edifício residencial.
Como o prédio estava sob quarentena,
as autoridades demoraram para permitir
a entrada dos bombeiros.
Uma série de casos assim (também
houve o de uma garota de 14 anos, que
morreu em outubro após ter convulsões
O país possui poucas UTIs, não tem
acesso às melhores vacinas, e está
ameaçado pelo chamado “débito
imunológico". Mas o pior nem é isso.
pessoas, impede a circulação de vírus
entre elas. O objetivo é esse mesmo,
afinal. Só que isso também gera um
represamento – já que, como o vírus
não circula, as pessoas não vão sendo
infectadas e criando imunidade a ele (ou
ficando doentes e morrendo). A China
não teve as grandes ondas de casos e óbi-
tos que o resto do mundo já enfrentou.
Ainda não “pagou o preço" da Covid. Se
ela liberar tudo agora, poderá ter uma
atinge em média 10% dos infectados,
metade deles de forma grave), que pode
deixar sequelas cardiovasculares e neu-
rológicas. Mas também há outro risco,
ainda mais sinistro: nos últimos anos,
alguns estudos encontraram indícios de
que a doença pode enfraquecer o siste-
ma imunológico. Um desses trabalhos,
publicado por cientistas de três univer-
sidades inglesas (2), constatou que, seis
meses após a Covid, pessoas curadas

s
num centro de quarentena em Ruzhou), avalanche de casos – e, mesmo com as da doença apresentavam alterações na
mais o cansaço natural do povo com
as restrições intermináveis, detonaram
vacinas, mortes.
A população da China é gigantes-
ta sua população de células T (cuja função
é matar células infectadas e regular a
is
uma série inédita de protestos nas ru- ca, o que potencializa esse efeito. Se o resposta imunológica do organismo), o
ev

as de oito cidades, incluindo Pequim, Sars-CoV-2 matar 0,1% dos infectados que poderia “afetar a imunidade a longo
Xangai e Wuhan – onde a pandemia co- (como na Nova Zelândia e na Coreia prazo". Os pesquisadores só acompa-
R

meçou, três longos anos atrás. Mas por do Sul, os dois países em que a Covid nharam pessoas que tiveram Covid
que a China continua tentando zerar a tem menor letalidade no mundo hoje grave, e chegaram a ser internadas.
il

Covid, enquanto o resto do mundo já (1)), e metade dos chineses for infecta- Mas um segundo estudo, que ava-
as

desistiu disso e abandonou a maioria da, o país terá 700 mil vítimas fatais liou casos leves e moderados da doença,
das medidas sanitárias? Só Xi Jinping – a mesma quantidade que o Brasil também encontrou disfunções imuno-
Br

e seus ministros poderiam responder acumulou ao longo da pandemia (in- lógicas (3): oito meses após a infecção,
com certeza. Mas há quatro hipóteses. cluindo o período mais crítico, antes os indivíduos analisados tinham baixos
Primeira: as vacinas. Segundo os das vacinas). Para piorar, a China tem níveis de células B e T do tipo naive (ca-
dados oficiais, cerca de 90% da po- poucos leitos de UTI: são 4 a cada 100 pazes de enfrentar patógenos “novos",
pulação chinesa está vacinada. Entre os mil habitantes, bem menos que os EUA ou seja, que a pessoa nunca pegou).
idosos acima de 80 anos, só 65% – mas (34) ou mesmo o Brasil (21). Além disso, os cientistas detectaram
alcançar os 35% restantes seria bem Também há um fator político. A po- sinais da chamada “exaustão das cé-
mais fácil e tranquilo do que continuar pulação chinesa aceitou os lockdowns lulas T", em que elas vão perdendo a
controlando toda a sociedade. O pro- e demais medidas sanitárias porque foi capacidade de combater infecções. Em
blema é que até hoje a China não tem convencida de que são necessários. Se o se confirmando, esse fenômeno poderá
vacinas de mRNA: a empresa chinesa governo desiste agora, e adota uma pos- trazer surpresas muito ruins nos próxi-
Walwax Biotech está desenvolvendo tura parecida com a ocidental, haverá mos anos – um risco que as autoridades
uma do tipo, mas ela ainda não foi uma alta de casos. E as pessoas poderão chinesas talvez não aceitem.
aprovada. Por questões geopolíticas, pensar: então por que nos fizeram sofrer Com suas restrições sanitárias, a
o país não vai comprar imunizantes tanto nos últimos anos? As autoridades China parece desconectada da rea-
dos EUA. Então, por enquanto, ele tem precisariam de algum motivo, ou no lidade do resto do mundo. Mas não
se virado com duas vacinas de vírus mínimo um pretexto convincente, pa- tomar nenhuma medida contra o
inativado, a Coronavac e a Covilo, e ra justificar uma guinada de abertura. Sars-CoV-2, e agir como se a pande-
uma de vetor viral (mesmo princípio da Mas esse elemento ainda não existe. mia tivesse acabado (como boa parte
vacina da AstraZeneca), a Convidecia. A última hipótese é a mais pertur- do Ocidente faz), também não é re-
Elas têm seu valor – mas não protegem badora, porque também diz respeito à alista. Os efeitos de longo prazo da
tanto quanto as vacinas de mRNA. E população dos demais países. Talvez as Covid ainda são incertos, só vamos
as autoridades chinesas podem estar autoridades chinesas continuem a lutar conhecê-los com o tempo. Talvez haja
levando isso em conta. tão duramente contra a Covid porque mais coisas entre o céu e a Terra, como
O segundo motivo é o chamado “dé- temam os efeitos da doença no futu- escreveu Shakespeare, do que supõe
bito imunológico". Quando você isola as ro. Existe a chamada Covid longa (que nossa vã filosofia. S
Fontes (1) ourworldindata.org/mortality-risk-covid. (2) Alterations in T and B cell function persist in convalescent COVID-19 patients. M
Menon e outros, 2021. (3) Immunological dysfunction persists for 8 months following initial mild-to-moderate SARS-CoV-2 infection. G
Matthews e outros, 2022. dezembro 2022 super 9
 supernovas
ILUSTRAÇÕES mariana andrello e tiago araujo DESIGN luana pillmann

s
ta
is
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R
il
as
Br

Cientistas fabricam metal descoberto no espaço

Ele se chama tetrataenita, e só existe em
asteroides – mas, agora, também pode ser produzido
em laboratório. Duas equipes de pesquisadores,
trabalhando separadamente nas universidades de
Cambridge (Reino Unido) e Northeastern (EUA),
anunciaram a criação de dois processos (1) sim-
ples e baratos para sintetizar esse material, que
foi descoberto em pedaços de meteoritos. Trata-se
de uma liga de ferro e níquel (a taenita, que existe
10 super dezembro 2022
na Terra), só que com os átomos organizados em
cristais de quatro faces – daí o “tetra" do nome.
Parece uma daquelas novidades que só interessam a
cientistas, mas não é: a tetrataenita serve para fazer
ímãs muito fortes, como os usados em turbinas
eólicas e nos motores dos carros elétricos – hoje
dependentes das chamadas “terras raras", que são
minerais caros e escassos (81% de todas as reservas
ficam em um só país, a China). (Bruno Garattoni)
A
sn. EDIÇÃO BRUNO GARATTONI

110
dólares deverá
ser o preço mínimo
da vacina da Pfizer
nos EUA, segundo a
diretoria da empresa
– que também cogita
cobrar um pouco
mais, até US$ 130 a
dose. Atualmente, o
governo americano
paga pelas vacinas
aplicadas no país,
desembolsando de

s
US$ 25 a US$ 30 por
dose. Mas em 2023
a Casa Branca pre-
ta
is
tende encerrar o pro-
ev

grama, e transferir a
vacinação para a ini-
ciativa privada. (BG)
R

B
il
as

escolas do eua liberam cetamina para uso doméstico

Br

texas colhem Droga já é usada para tratar depressão severa, mas só em hospitais – pois tem riscos.

dna de alunos a cetamina é um anestésico potente, que foi

lançado nos anos 1970. Na década passada,
tem outro lado: pode provocar alucinações e
causar dependência. Tanto é assim que acabou
o objetivo dessa estudos mostraram que ela pode ser eficaz se transformando em droga recreativa nos
prática, que foi contra a depressão persistente, que não se EUA – onde sua versão ilegal é conhecida
autorizada por lei, é resolve com outros medicamentos, e a droga pelo apelido “Special K" (do inglês ketamine).
ajudar os pais a iden- passou a ser utilizada com esse fim: em 2019, Só que as autoridades americanas liberaram
tificarem os corpos a Johnson & Johnson até criou uma variação, a cetamina para uso em casa: ela é vendida
dos filhos "em caso a escetamina (comercializada, inclusive no na forma de tabletes sublinguais, oferecidos
de emergência": um Brasil, com o nome de Spravato). Mas am- por várias empresas. São mais baratos do que
eufemismo para a bos os medicamentos só podem ser usados o tratamento convencional, em clínica. Mas
onda de atiradores sob supervisão médica: o paciente deve ir têm despertado o receio, em alguns médicos,
nas escolas do esta- até um hospital ou clínica para tomá-los, e de que possam criar uma onda de abuso e
do nos últimos dois ficar em observação por no mínimo 2 horas vício – como aconteceu após a liberação dos
anos. Em maio de antes de ir embora. Isso porque a cetamina opioides para uso doméstico. (BG)
2022, um garoto de
18 anos foi armado
de rifle a uma escola
na cidade texana de “Eu não quero morrer. Mas não quero viver na rua",
Uvalde, onde matou
21 pessoas. Várias disse o canadense Amir Farsoud, que se candidatou ao suicídio assistido permitido por uma nova regra: a
das vítimas ficaram partir de março, o Canadá irá permitir a eutanásia voluntária em quem sofre de doenças mentais. A medida
desfiguradas, o que é polêmica: há o temor de que ela acabe tirando as vidas de pessoas que só estão passando por dificuldades.
dificultou sua identi- Como o próprio Farsoud, de 54 anos, que mora em Ontario e estava prestes a perder sua casa. Após a
ficação. (BG) repercussão do caso, ele recebeu o equivalente a US$ 45 mil em doações – e desistiu da eutanásia. (BG)

Ilustrações A Mariana Andrello. B Tiago Araujo. Fonte (1) Direct Formation of

Hard-Magnetic Tetrataenite in Bulk Alloy Castings. Y Ivanov e outros, 2022. dezembro 2022 super 11
 sn.
O streamer Casimiro
bateu recordes de
audiência transmitindo
jogos da Copa.
enquanto
isso...
Texto Luisa Costa
Ilustração Luana Pillmann
Uma conferência internacional
aprovou medidas para com-
bater a caça e o tráfico de 37
espécies de animais selvagens.
Três astronautas chegaram à
estação espacial chinesa, para a
primeira troca de tripulação em
órbita na história do país.
Pesquisadores da USP desco-
briram que um esqueleto de
9,4 mil anos, encontrado em
Minas Gerais, é o caso de sífilis
mais antigo das Américas A.
Um estudo com peixes revelou
que a microbiota intestinal pode
influenciar o desenvolvimento
do cérebro deles – e também o
seu comportamento social B.
Fontes A International Journal of
Osteoarchaeology. B Universidade de
Oregon (EUA).
12 super dezembro2022
coluna: carbono zero
Por Salvador Nogueira
s
mudanças no clima ameaçam 50% das árvores nas cidades
ta
As chamadas ‘florestas urbanas' são mais uma vítima do aquecimento global.
is
ev
Muito se fala em proteger flores-
R
tas nativas, como a Amazônia, a fim de
combater as mudanças climáticas. Menos
il
conhecido é o papel das florestas urbanas
as
– termo usado para definir não só os par-
ques, mas também todas as árvores que
Br
existem dentro das cidades. Muitas delas
têm adotado uma estratégia de expandir
essas áreas para mitigar o impacto do
aquecimento global.
Mas, paradoxalmente, esse esforço
pode estar ameaçado pela própria crise
climática. As árvores fazem um serviço
bem maior do que meramente adornar
a cidade e dar um refresco aos pedestres
quando o tempo está quente demais (sem
falar nos benefícios de saúde mental e
as oportunidades de recreação que um
ambiente arborizado produz).
Elas também promovem processos de
evapotranspiração, que ajudam a resfriar
o ambiente urbano. Evaporação, quando
a água que cai no solo é aquecida e trans-
formada em vapor. Transpiração, quando
as árvores e arbustos absorvem água pelas
raízes e as liberam pelas folhas. E água
que passa de líquido para vapor, seja qual
for o mecanismo, está absorvendo calor
do ambiente – portanto, combatendo o
aquecimento urbano.
Mas qual é a chance de mantermos
nossas florestas urbanas saudáveis em
APRESENTADO POR
meio às mudanças climáticas? Essa foi a
questão sobre a qual se debruçou o grupo
de Manuel Esperon-Rodriguez, da Univer-
sidade do Oeste de Sydney, na Austrália.
E as notícias que ele traz, em artigo (2)
publicado na Nature Climate Change, não
são boas. Partindo de uma base de dados
chamada Inventário Global de Árvores
Urbanas, os pesquisadores constataram
que, em 164 cidades espalhadas por 78
países, mais da metade das espécies de ár-
vores que compõem as florestas urbanas
já está sob risco, por conta de temperatu-
ras excessivas e precipitação inadequada.
Pior: até 2050, esses números devem
crescer significativamente, atingindo até
70% das espécies. E o trabalho nem leva
em conta o fato de que as cidades podem
se tornar ainda mais quentes no futuro,
devido a seu crescimento (sim, as selvas
de concreto e a poluição concentrada au-
mentam a temperatura urbana). O efeito
é mais pronunciado, segundo os autores,
em cidades localizadas em latitudes mais
baixas, o que faz soar um sinal de alerta
ainda maior no Brasil.
Plantar árvores para mitigar o aqueci-
mento global é importante. Mas o estudo
mostra que nem isso poderá funcionar se
não trabalharmos com mais afinco para
reduzir as emissões de gases-estufa, e limi-
tar o aumento da temperatura do planeta.
 Uso de agrotóxicos no mundo quase dobrou desde 1990
América do Sul teve maior aumento; no Brasil, uso per capita também aumentou cinco vezes.

Uso anual dos produtos, em toneladas Quilos de agrotóxico por hectare plantado

5 ou + até 4 até 3 até 2 até 1

EUROPA
AMÉRICA DO NORTE

486.732 468.431
-0,2%
+1,8%
ÁSIA

% Variação entre 658.529

1999 e 2020
+7,7%

90.163
+36,2%

s
AMÉRICA CENTRAL ÁFRICA
105.757
+67,8%
ta
is
ev

AMÉRICA DO SUL

770.393
R

OCEANIA
+119,4%
70.421
il

+88,4%
as
Br

Consumo por tipo de

Uso de pesticidas por habitante: lavoura, no Brasil:
2,0

Cana-de-açúcar
1,8
BRASIL
1,6

Algodão
OCEANIA 11%

10%
1,4
Kg per capita

Soja
1,2 AMÉRICAS 48%
1,0
EUROPA
0,8
0,6 4%
Outros

MUNDO
11%

0,4
0,2 ÁSIA
Café

Milho
3%

0,0 13%
ÁFRICA
1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020
Frutas e verduras

Fontes Pesticide Atlas 2022. Heinrich Böll Foundation/Friends of the Earth Europe, 2022. FAOSTAT: Pesticides Indicators. Food and Agriculture Organization of the United Nations.

780 MI
de dólares é quanto a empresa francesa Lafarge terá que pagar de in-
denização ao governo dos EUA, por ter ajudado a financiar a organização
terrorista ISIS. A companhia, que produz cimento, aceitou dar dinheiro
ao grupo para que sua fábrica na Síria pudesse continuar funcionando
durante a guerra civil no país (que começou em 2011 e continua, em me-
nor intensidade, até hoje). Foram US$ 5,92 milhões, caracterizados como
"doações", entre 2013 e 2014. A empresa e seus diretores também estão
sendo processados na França. (BG)

Ilustração Tiago Araujo. Fonte (2) Climate change increases global risk to urban forests. M Esperon-Rodriguez e outros, 2022. dezembro 2022 super 13
 sn.

3 notícias sobre
EUA
criaram
Espécies invasoras páginas
Elas são levadas por mãos humanas, e podem arrasar ecossistemas. Ou não.
falsas no
Facebook
Um relatório (5)
publicado pela Meta,
dona do Facebook,
afirma que "indiví-
duos associados às
Forças Armadas dos
EUA" criaram 39
contas e 16 páginas
falsas no site, bem
como 26 contas

s
ta no Instagram (que
também pertence à
is
Meta), para publicar
informações enga-
ev

nosas destinadas
a "vários países,
R

incluindo Afega-
nistão, Algéria, Irã,
il

1. 2. 3.
as

Iraque, Cazaquistão,
Quirguistão, Rússia,
Somália, Síria, Taji-
Br

austrália estuda o uso
de herpes contra peixes
As carpas foram levadas para
o país há mais de 100 anos, e
viraram um problema: há uma
superpopulação delas nos rios.
O governo cogita liberar o her-
pesvírus da carpa (CyHV-3), que
seria capaz de reduzir o número
em 40% a 60%. Mas há receio
sobre o efeito em outros peixes,
e também quanto à água – que
poderia ficar poluída pela quan-
tidade de carpas mortas. (BG)
32% das plantas invaso-
ras são desconhecidas
Essa é a conclusão de cientistas
americanos, que analisaram
quase 6 mil estudos publicados
sobre o tema ao longo dos
últimos 60 anos – e descobriram
que esses trabalhos ignoraram
mais de um terço das plantas
invasoras presentes no mundo 3.
A Oceania e a América Latina são
as mais afetadas: mais de 50%
de suas espécies invasoras não
foram catalogadas. (BG)
fenômeno também pode ter
lado positivo, diz artigo
As espécies invasoras afetam
o equilíbrio ecológico e podem
levar à extinção de plantas e
animais. Mas também podem
melhorar a qualidade do solo,
controlar pragas e até aumentar
a biodiversidade. Essa é a (po-
lêmica) conclusão de um artigo
científico publicado por pesqui-
sadores dos EUA e da Suíça, que
analisaram os efeitos de 102
espécies . (BG)
quistão, Uzbequistão
e Iêmen". Rússia
e China já foram
acusadas de práticas
similares – mas, com
os EUA, é a primeira
vez. A Meta diz ter
deletado as páginas.
Porém, segundo ela,
a operação também
se estende a outros
serviços, como
Twitter, YouTube
e Telegram. (BG)

Hackers já
roubaram
US$ 3 bi em
criptomoedas
neste ano
Além da quebra de
corretoras, mais um
problema para o
mundo cripto.

Fonte Chainalysis.
14 super dezembro 2022
 não é bem
assim...
Notícias que
bombaram por
aí – mas não
são verdade

a notícia

Cutucar o nariz
pode aumentar
risco de Alzhei-
mer, diz estudo
s
ta o que ela Dizia
is
Esse hábito pouco
ev

higiênico (mas bem

comum) pode infectar
as vias nasais com a
R

bactéria Chlamydia
pneumoniae, que é
il

crise de 1929 afetou os genes de americanos capaz de se propagar

as

pelo nervo olfatório

e chegar ao cérebro,
Pobreza e estresse deixaram marcas no DNA, que foram identificadas agora. onde provoca a forma-
Br

ção de placas de pro-

Certas situações, como a subnutrição conjunto de mudanças epigenéticas que teína beta-amiloide,
ou o estresse crônico, podem provocar acelera o envelhecimento. um elemento associa-
as chamadas alterações epigenéticas: o Não é o primeiro trabalho a encontrar do à doença. Foi o que
descobriram cientistas
corpo liga ou desliga determinados genes uma relação entre eventos históricos e a da Griffith University,
presentes no DNA da pessoa – e essa al- epigenética. Em 2018, um estudo mostrou na Austrália.
teração é transmitida, inclusive, para os que a falta de comida durante a Segunda
descendentes dela. Um estudo publicado Guerra Mundial causou duas alterações a verDaDe
por duas cientistas americanas (6) analisou epigenéticas nos holandeses (7), cujos orga- O estudo 9 é furado,
o DNA de 832 pessoas nascidas durante a nismos se tornaram capazes de sobreviver por duas razões.
Grande Depressão, que afetou a economia ingerindo menos calorias. Essa caracterís- Primeiro, ele foi
dos EUA entre 1929 e 1939 e chegou a ter tica passou para as gerações seguintes – e, feito em ratos – e
ratos não desenvolvem
taxas de desemprego altíssimas, de até 25%. décadas após o fim da guerra, se tornou Alzheimer. Segundo,
Resultado: aqueles indivíduos carregam um uma causa de obesidade no país. (BG) as placas de proteína
beta-amiloide não
são necessariamente
a causa da doença
starlink também pode ser usado como gps em humanos. Em um
estudo feito nos EUA
com 1.671 idosos, 41%
Essa é a conclusão de cientistas da Universidade do Texas, que analisaram os sinais emitidos pela dos voluntários acima
rede de internet Starlink e descobriram que ela também serve para localização 8. O truque consiste de 80 anos apresen-
em usar um determinado comando, que os satélites Starlink enviam periodicamente para orientar tavam essas placas
as antenas nas casas das pessoas (as miniparabólicas giram automaticamente para acompanhar no cérebro – mas
o movimento dos satélites). A descoberta é importante porque, ao contrário do americano GPS e nenhum deles tinha
seus similares, como o GLONASS russo e o BeiDou chinês, a rede Starlink é privada – e, pelo menos Alzheimer 10 . (BG)
em tese, não está sob o controle do governo de nenhum país. (BG)
Ilustrações Tiago Araujo. Fontes (3) Evidence of a vastly undersampled invasive plant pool. B Bradley e outros, 2022. (4) Valuing the contributions of non-native species.
D Sax e outros, 2022. (5) Adversarial Threat Report. Meta, 2022. (6) In utero exposure to the Great Depression is reflected in late-life epigenetic aging signatures. L
Schmitz e V Duque, 2022. (7) DNA methylation as a mediator of the association between prenatal adversity and risk factors for metabolic disease. E. Tobi e outros, 2018.
(8) Signal Structure of the Starlink Ku-Band Downlink. T Humphreys e outros, 2022. (9) Chlamydia pneumoniae can infect the central nervous system via the olfactory
dezembro 2022 super 15
and trigeminal nerves and contributes to Alzheimer’s disease risk. J Ekberg e outros, 2022. 10 Prevalence and outcomes of amyloid positivity. R Roberts e outros, 2018.
 sn. playlist

De volta 13 anos depois do primeiro filme, o diretor James Cameron retorna

ao universo dos Na’vi em Avatar: O Caminho da Água. Conheça alguns

a Pandora bastidores da produção, que chega ao Brasil em 15 de dezembro.

Texto Rafael Battaglia • Design Luana Pillmann

períoDo sabático tuDo planeJaDo maDe in terra�mÉDia por água abaixo haJa fÔlego

Logo após Avatar De 2013 a 2017, Cameron As cenas em live-action A produção construiu um O elenco treinou por
(2009), Cameron não e uma equipe de roteiris- de O Caminho da Água aquário de 3,4 milhões de meses com instrutores

s
tinha certeza se faria tas escreveram as quatro foram gravadas na Nova litros (um milhão a mais de mergulho livre da
continuações. Antes
de bater o martelo,
sequências de Avatar,
planejadas até 2028. Isso
ta
Zelândia. Mas, na maior
parte do filme, os atores
que uma piscina olímpi-
ca) para gravar as cenas
Marinha dos EUA. A
atriz Kate Winslet,
is
ele gastou seu tempo permitiu que boa parte usaram trajes com pontos embaixo d’água. Só que, que interpreta uma
em outras atividades das filmagens fosse para capturar o movimen- nesse ambiente, o reflexo nova personagem
ev

– como a exploração simultânea: além do to deles (e criar o modelo pode comprometer a (Ronal, líder do clã de
marinha, tema do filme segundo filme, o diretor digital dos personagens). filmagem. A solução Metkayina), quebrou o
R

de agora. Em 2012, a já gravou o terceiro (que O filme tem três horas de foi encher a superfície recorde de maior tempo
bordo de um pequeno está em pós-produção) duração – e 3,3 mil toma- com bolinhas opacas de segurando a respiração
submarino, tornou-se e parte do quarto. O das com algum tipo de durante uma filmagem
il

plástico (para diminuir

a primeira pessoa a efeito visual. Esse traba- submersa: 7 minutos.
as

Caminho da Água, a entrada de luz) e usar

mergulhar, sozinha, na sozinho, custou de US$ lho ficou a cargo de 1,4 mil um sistema com câme- Desbancou Tom Cruise,
Fossa das Marianas, o 350 milhões a US$ 400 artistas da Weta Digital, a ras infravermelhas para que havia ficado 6 min
Br

local mais profundo dos milhões – o que o coloca empresa neozelandesa do captar corretamente a sem respirar em Missão
oceanos (11 mil metros no páreo como o longa cineasta Peter Jackson (O movimentação Impossível: Nação
abaixo da superfície). mais caro da história. Senhor dos Anéis). dos atores. Secreta (2015).

fILME fILME
Upstream Color Glass Onion (2022)
(2013) MUBI Netflix
Kris (Amy Seimetz) é raptada Entre Facas e Segredos, de
e forçada a engolir uma larva. 2019, é um baita filme de
pérolas do Ela contém um parasita, que mistério, com personagens
migra para o cérebro da moça
streaming e começa a provocar efeitos
multifacetados e um enredo
cheio de surpresas: só bem
estranhos – incluindo uma no final o detetive Benoit
conexão com outros animais Blanc (Daniel Craig) conse-
infectados. Um sci-fi estra- gue elucidar o crime. Agora,
nho e memorável, escrito e ele vai ganhar uma nova
dirigido por Shane Carruth missão – que estreia
(autor do genial Primer). (BG) no Netflix dia 23/12. (BG)

16 supEr dezembro 2022 Imagens reprodução/divulgação.

 EDIÇÃO BRUNO GARATTONI

“Levei o ca-
chimbo à boca,
acendi a pedra
e inalei. Senti
o chamado
‘beijo de Deus',
o Santo Graal
do crack",
o machismo escreve Hunter Biden,

tecnológico A invenção dos games filho do presidente ameri-

Se uma mulher sofrer
um acidente de carro,
tem 47% mais risco
de se ferir gravemente
do que um homem: is-
cano Joe Biden, nesta au-
tobiografia em que conta
A palavra atari é o nome, em japonês, de um movimento do jogo de sua trajetória: a infância
tabuleiro Go (parecido ao “xeque", no xadrez). E, também, o nome da nos corredores do Sena-
primeira empresa de games – cuja fundação está completando 50 anos. do, a polêmica passagem
Este pacote inclui 90 jogos que marcaram a trajetória da Atari, em seus pela empresa ucraniana

so acontece porque os
automóveis são pro-
jetados para o corpo
masculino (as mulhe-
s
vários consoles (do pioneiro 2600 ao derradeiro Jaguar), textos e um Burisma, e a luta contra
ta
documentário contando a história da companhia. (BG) o vício em drogas. (BG)
is
Atari 50: The Anniversary Celebration. Para PC, PlayStation, Xbox e As Coisas Boas da Vida.
Switch. R$ 75 a R$ 200. R$ 40.
ev

res, cuja estatura ge-

ralmente é menor, são
R

obrigadas a sentar mais

perto do painel). Esse é A biOlOgiA dO trAbAlhO
il

um dos exemplos reve-

O tecelão-mascarado, pássaro típico da costa
as

lados pela inglesa Caro-

da África, tem um hábito curioso: a cada ano,
line Criado Perez neste
constrói até 25 ninhos e depois desmancha
Br

livro – que mostra co-

mo diversos produtos,
de medicamentos a
smartphones, acabam
deixando as mulheres
em segundo plano. (BG)
Mulheres Invisíveis
- o Viés dos Dados em
um Mundo Projetado
para Homens. R$ 67.
Documentário
Boa Noite, Oppy
(2022) Amazon
Quando a Nasa enviou o
rover Opportunity a Mar-
te, em 2003, a ideia era
que ele durasse 90 dias.
Depois disso, a poeira
da superfície marciana
cobriria os painéis sola-
res do robô, que pifaria.
Não foi o que aconteceu:
Oppy viveu, e viajou, por
incríveis 15 anos. (BG)
todos, um por um, para então recomeçar. É
exaustivo e aparentemente sem sentido; mas
tem um motivo. Neste livro, o antropólogo
James Suzman investiga o comportamento
de insetos, aves, primatas e humanos pré-his-
tóricos para entender as raízes dos nossos
hábitos de trabalho – e como elas explicam
o mundo moderno. (BG)
Trabalho. R$ 60.
Documentário
PCC, Poder Secreto
(2022) HBO Max
O Primeiro Comando da Ca-
pital surgiu em 1993, um ano
após o Massacre do Carandiru
(em que a PM executou 111
presos). Este doc com quatro
episódios mergulha fundo na
história do PCC para revelar,
com depoimentos de ex-inte-
grantes do grupo, como ele se
tornou a maior organização
criminosa do país. (BG)
Foi demais
para o Japão
você está preso em
Callisto, uma lua de Jú-
piter. Até que a cadeia é
invadida por uma forma
de vida alienígena – e a
única chance de sobrevi-
ver é fugir. Eis a premissa
deste game, que impres-
siona pelo visual realista
e violento. Tão violento
que, antes mesmo do
lançamento, já teve a co-
mercialização proibida no
Japão. (BG)
The Callisto Protocol.
Para PC, PlayStation e
Xbox. R$ 350.

dezembro 2022 super 17

 sn. tech
O notebook Ele é coberto por uma tela OLED flexível, e por isso pode
ser usado de vários jeitos – incluindo alguns bem diferentes
dos laptops tradicionais.
mutante Texto Bruno Garattoni • Design Luana Pillmann
is
ev
R
il
as
Br
FiChA téCniCA
CPU: Intel Core i7-1250U, 10 núcleos
RAM: 16 gigabytes, DDR5
Armazenamento: SSD, 1 TB
quando está fechado, o Asus 17 Fold OLED parece
um notebook comum, só um pouco menor e mais espesso.
Mas, assim que é aberto, ele revela seu segredo: a tela.
Quando está totalmente desdobrada, ela fica com 17,3
polegadas (e resolução de 2.560 x 1.920 pixels, o dobro de
uma Full HD). É um tamanho enorme, que normalmente
você só encontraria em laptops muito grandes e pesados,
com mais de 3 kg; só que o Asus tem metade, 1,5 kg.
Você vai trabalhar numa mesa? Pode usar o computador
dessa forma, com a tela e o teclado apoiados sobre ela – e
ele vira um desktop. A máquina também se transforma
em um notebook mais convencional, para usar no colo:
seu teclado é magnético e “gruda” na parte de baixo dele,
cobrindo metade da tela. Outras possibilidades: usar o
laptop semidobrado, mas sem o teclado (para comandar a
timeline com os dedos, em softwares de edição de vídeo),
18 super dezembro 2022
Modos de uso da máquina, que
também se transforma em um
laptop mais tradicional, para
usar no colo (o teclado vai en-
caixado na parte de baixo dele,
cobrindo metade da tela).
s
ta
ou deixá-lo aberto como um tablet – deitado na mesa, para
trabalhar diretamente sobre a tela (que é sensível ao toque),
ou nas mãos, para ler e ver vídeos.
Em suma: um conjunto de características bem interes-
sante. Mas a máquina também tem seus poréns. Ela não
vem com uma caneta digital (como a Apple Pencil, usada
nos iPads), e isso é uma limitação técnica: a tela OLED é
de plástico, e poderia ser danificada pela ponta desse ins-
trumento. Outra questão é que, como o teclado se conecta
ao computador via Bluetooth, ele pode falhar por alguns
instantes quando o Windows está “acordando” do modo
de espera (se a Asus tivesse usado um chip transmissor
específico para teclados, como o adotado nos modelos da
Logitech, isso não aconteceria). Mas o principal é que o
Fold é bem caro: US$ 3.500. O preço no Brasil ainda não
foi divulgado, mas deve passar de R$ 30 mil.
Fotos Reprodução/Divulgação

O abajur
Br
da Amazon
O halo rise (us$ 139) funciona como abajur
e despertador: sua lâmpada vai se acendendo
aos poucos, para acordar você sem sustos.
Mas o interessante é que ele usa um radar
para monitorar os seus movimentos na
cama – e, a partir deles, determinar que
horas você pegou no sono, quantas vezes
acordou durante a noite, e quanto tempo
passou sonhando (as informações são
mostradas em gráficos, num app).
EDIÇÃO BRUNO GARATTONI
Como no dentista
O kit de clareamento dental
Optic White Advanced LED, da marca
Colgate, vem com tubinhos de peróxido
de hidrogênio e uma moldeira bucal
dotada de LEDs. Basta preenchê-la com
o produto, ligar os LEDs (a luz provoca
uma reação fotoquímica que acelera o
clareamento) e pôr a moldeira na boca
– dez minutos por dia, durante dez dias.
O produto custa US$ 145 nos EUA. No
Brasil, desde 2015 a Anvisa proíbe a
venda de clareadores dentais no varejo
(só com a prescrição de um dentista).
s
ta
is
ev
R
il
as
UM BARTENDER ROBÔ
Ele se chama bev, e prepara automaticamente
vários tipos de bebida alcoólica misturando destilados
(a máquina comporta até seis garrafas) e cápsulas
com sabores: sua fabricante, a empresa americana
Black & Decker, vende 40 tipos, desde os drinques
mais comuns, como Margarita e Cosmopolitan, até
alguns bem exóticos. A máquina custa US$ 299. As
cápsulas, em média US$ 2,50 cada.
gravador de vinil
Com o po-80 record factory, da marca
sueca Teenage Engineering, dá para fazer os
próprios discos em casa. Basta conectar o
celular ao aparelho, tocar o áudio desejado,
e ele esculpe os sulcos em compactos de
12 cm – que, depois, você pode ouvir em
qualquer toca-discos. O gadget é uma versão
doméstica, e bem divertida, das máquinas
de corte usadas nas fábricas de LPs. Custa
US$ 149, e vem com seis disquinhos virgens
(se você quiser mais, cada um sai por US$ 2).
você decide
Os projetos mais
interessantes
(e surpreendentes)
do mundo do
crowdfunding
Elétrica e rápida
kickstarter.com
Projeto Livall PikaBoost
O que é Um gadget que
transforma qualquer bicicleta
em elétrica – em 30 segundos.
Existem outros aparelhos
do tipo, mas são difíceis de
instalar, pois você tem que
trocar a roda da bike. Este é
muito mais simples: basta
prendê-lo no quadro, girando
um botão. O produto pesa
3 kg e promete 30 km de
autonomia (no modo pedal
assist, que complementa as
pedaladas).
Já arrecadou US$ 1 milhão
Chance de rolar bbb
Pulseira para autistas
indiegogo.com
Projeto Abrace Smart Bracelet
O que é Uma pulseira que
mede a resposta galvânica
da pele, ou seja, a atividade
elétrica das glândulas produ-
toras de suor – que aumenta
em situações de estresse.
Este gadget, desenvolvido
para portadores de autismo,
monitora esse sinal – e avisa
quando a criança está prestes
a ter um meltdown (momento
de descontrole).
Já arrecadou US$ 20 mil
Chance bbb
dezembro 2022 super 19
 capa

futuro
s
ta
is
ev

o do
R
il
as
Br

Texto Bruno Garattoni e Tiago Cordeiro Foto Studio Oz Design Juliana Krauss

A humanidade já produziu 9 bilhões de toneladas dele. 80% vão parar

em lixões e nos oceanos, onde levam séculos para se decompor
e contaminam o planeta: cada pessoa ingere 20 g de microfragmentos
de plástico, o equivalente a uma pecinha de Lego, por mês. Mas novas
leis, tecnologias e avanços científicos podem mudar esse cenário.

20 super dezembro 2022

PLÁSTICO s
ta
is
ev
R
il
as
Br

dezembro 2022 super 21

Br
as
il
R
ev
is
ta
s
o R
ev
is
O bebê cOnsegue ouvir durante a gra-
videz, principalmente o som da circu-
lação sanguínea da mãe. Também sente
os toques na barriga dela, e o sabor dos
il

alimentos que ela come. Mas, fora isso,

as

é como se o feto estivesse em outro pla-

neta. Porque ele está separado do nosso
ta
s
300 fragmentos microscópicos de
plástico é a quantidade que
cada pessoa come e inala
por dia, em média.

em vários tipos de plástico, faz isso (2).

O BPA está em garrafas plásticas, potes
para guardar comida e até nas latas (elas
são forradas com plástico por dentro).
Quando a gestante ingere fragmentos
dessa substância, ela se espalha pelo
corpo e chega à placenta – onde inibe
Br

mundo pela placenta: órgão que se forma um gene chamado ESRRG, que controla
a partir da quarta semana de gravidez o crescimento do feto. Com isso, o bebê
e funciona como um filtro poderosíssi- pode nascer menor – e sob maior risco
mo, controlando o fluxo de nutrientes de desenvolver pressão alta, diabetes e
e impedindo que vírus e bactérias en- doenças da tireoide ao longo da vida.
trem. Mesmo estando dentro do corpo Estamos expostos ao plástico antes
da mãe, onde há dezenas de trilhões de mesmo de nascer. E, ao chegar a este
micróbios, o bebê se desenvolve num mundo, somos bombardeados por ele.
ambiente 100% estéril. Exceto por uma Literalmente. Em 2020, cientistas da
coisa ainda mais onipresente: plástico. Universidade Cornell, nos EUA, cole-
Em setembro, um estudo publicado taram amostras de ar em 11 pontos do
por cientistas chineses detectou, pela pri- país – e descobriram que, nelas, “chovem”
meira vez, a presença de microplásticos mais de 1.000 toneladas de microplás-
(partículas com menos de 5 milímetros) ticos por ano, o equivalente a 120 mi-
na placenta humana (1). Eles analisaram lhões de garrafas PET (3). E o estudo foi
as placentas de 17 gestantes, e todas con- feito em reservas ambientais isoladas.
tinham quantidades “muito abundantes” Nas grandes cidades, o teor de plástico
de microplásticos. Eram onze tipos, em provavelmente é bem maior. Ele está em
especial o PVC, que é usado em canos (e todos os lugares – até na neve dos Alpes
estava presente em 43% das amostras), e e do Ártico (4). Mas suas principais fontes
o polipropileno, dos canudinhos e potes são a água e a comida. Um estudo da
de margarina (14,5%). Eles interferem Universidade de Newcastle (5) analisou a
com a placenta, e podem afetar o bebê. quantidade presente em alguns alimen-
Em março, pesquisadores da Universida- tos, como peixes, mariscos, sal, cerveja,
de de Manchester demonstraram como o água, mel e açúcar – e concluiu que ca-
Bisphenol A (BPA), ingrediente presente da adulto ingere em média 20 gramas

Fontes (1) Identification of microplastics in human placenta. L Zhu e outros, 2022.(2) Sex-specific effects of bisphenol A on the signaling pathway
of ESRRG. Z Zou e outros, 2022. (3) Plastic rain in protected areas of the United States. J Brahney e outros, 2020. (4) Microplastics prevail in snow dezembro 2022 super 23
from the Alps to the Arctic. M Bergmann e outros, 2019. (5) Estimation of the mass of microplastics ingested. K Senathirajah e outros, 2021.
 O ciclo dO plástiCO de microplásticos, o equivalente a uma
pecinha de Lego, por mês.
E o cálculo não considera outros
ele se propaga pelo ambiente e contamina certos alimentos ou fontes, como os micro-
alimentos, que têm quantidades consideráveis plásticos presentes em cremes dentais
de microplásticos: partículas com menos de 5 ou liberados por panelas com o reves-
milímetros, invisíveis a olho nu. timento antiaderente danificado – que
podem soltar mais de 9.000 fragmen-
De onDe vem tos a cada uso (6). Ou seja: não estamos
Xampus, condicionadores e cosméticos contêm plásticos, que vão para apenas sendo soterrados pelo plástico.
a água quando você toma banho. A roupa solta fragmentos ao ser lavada Ele já está dentro de nós. Em dois es-
e também depois, no varal. Animais marinhos comem embalagens.
tudos, publicados este ano por cien-
Tudo isso contamina vários alimentos – e volta para o seu corpo.
tistas italianos e holandeses, 75% das
amostras de leite materno analisadas
continham microplásticos – e o san-
Fontes
gue de 77% dos voluntários também (7).
As consequências disso para a saúde
doméstIca aquátIca atmosFérIca
ainda não estão claras. Estudos em ani-
mais sugerem que a ingestão de mi-
croplásticos pode provocar disfunções
metabólicas e reprodutivas – e, em tes-
Produtos de higiene Decomposição Fibras têxteis tes de laboratório, os microfragmentos

s
causaram danos a células humanas (8).
Água
ta É nesse cenário que, em março, a ONU
assinou o primeiro acordo internacional
is
de combate aos resíduos plásticos (9).
ev

Máquina de lavar Ingestão por animais Ele inclui mais de 70 países e é o maior
Fibras de pneus*
pacto ambiental desde o Tratado de Pa-
R

alImentos
*Os pneus contêm
ris, criado em 2015 para tentar frear as
25% de borracha emissões globais de CO2. Mas, por en-
il

sintética, que é um tipo

de plástico. Pedaços quanto, nada concreto ficou definido. Os
as

microscópicos se soltam
Água Açúcar Cerveja Mel Sal Frutos durante o uso do pneu, países signatários têm até 2024 para, aí
do mar e vão para o ar.
sim, definir um cronograma de metas e
Br

INGESTãO INALAçãO
obrigações. No fim de novembro, a União
Europeia propôs uma série de novas leis,
que tornam obrigatória a reciclagem de
garrafas e limitam o uso de plástico em
embalagens (os minifrascos de xampu
em hotéis, por exemplo, ficariam proi-
bidos). Com essas medidas, dizem as
autoridades, seria possível reduzir em
quanto você engole
15% o uso de plástico até 2040. A nova
A ingestão de microplásticos varia conforme a dieta de cada
pessoa, e onde ela mora. Mas, em média, cada adulto come
legislação ainda terá de ser votada e re-
ou respira 300 pedaços de microplástico por dia. gulamentada em cada país do continente.
Enquanto isso, o plástico segue em-
Fragmentos engolidos por dia Fragmentos inalados por dia
porcalhando o planeta. A cada ano, a
humanidade fabrica 400 milhões de
Isso dá toneladas dele, que se somam aos 9,2
homens mulheres crIanças aproximadamente bilhões já produzidos. Segundo dados da
5 gramas, o
100 equivalente a um ONU, apenas 10% do plástico é reciclado
cartão de crédito, (outros 14% são incinerados para gerar
200 por semana. energia, liberando CO2 e substâncias
químicas). Todo o resto vai parar em li-
300 xões e nos oceanos, onde leva centenas
Ou 20 gramas, de anos para se decompor.
400 uma pecinha de A solução é óbvia: deveríamos reciclar
Lego, a cada mês.
muito mais. Só que isso não é apenas
Fontes Estimation of the mass of microplastics ingested – A pivotal first step towards human health risk
uma questão de vontade, e você já vai
assessment. K Senathirajah e outros, 2021. Human Consumption of Microplastics. KD Cox e outros, 2019. entender o porquê. A esperança está em

24 super dezembro 2022

 para comercializá-lo. Não deu certo. O
produto era caro e visivelmente inferior
ao marfim, além de bastante inflamável.
Parkes acabou tendo de vender a empre-

s
sa. Mas a ideia foi adiante, e deu origem
ta
Nos oceanos,
ao celuloide usado em filmes fotográfi-
cos e de cinema. Parkes morreu em 1890,
is
o lixo plástico com mais de 60 patentes em seu nome.
ev

vai se decom- (Hoje, a parkesina tem outras aplicações:

pondo até
virar fragmentos as armações de óculos geralmente são
R

microscópicos feitas de nitrato de celulose.)

– que colocam Em 1907, o químico belga Leo Baeke-
il

em risco mais land desenvolveu o primeiro plástico

as

de 700 espécies totalmente sintético: o baquelite, que é

marinhas.
produzido com dois ingredientes sim-
Br

ples e baratos, o fenol e o formaldeído

(também conhecido como formol), em

1,8
descobertas científicas que prometem uma máquina que Leo batizou de Bake-
revolucionar a reciclagem de plástico – e, lizer. Foi um salto e tanto. O baquelite
talvez, torná-la quase tão comum quanto (cujo nome científico, impronunciável,
a do alumínio (no Brasil, 98,7% das latas é polioxibenzimetilenglicolanidrido)
são recicladas). Mas, antes: como um ma- era estável, maleável, versátil e, o mais
terial tão útil e versátil, que redesenhou importante, resistente à eletricidade e ao
a vida no século 20, pôde se tornar um calor. Baekeland criou uma empresa para
problema tão monstruoso? produzir e comercializar o material, a
General Bakelite Company. Nas décadas
Da parkesina ao PET seguintes, rádios, telefones e interrupto-
A palavra “plástico” vem da Grécia anti- res, entre uma infinidade de produtos,
ga. Era um adjetivo, plastikos, classifican- foram feitos de baquelite.
do qualquer material fácil de moldar. Foi Baekeland ficou famoso, foi capa da
só a partir do século 19 que ele começou revista Time, e se tornou um dos inven-
a virar substantivo. Em 1856, o inven- tores mais ricos de sua época. Morreu
tor inglês Alexander Parkes inventou em 1944, com mais de 100 patentes e
a parkesina: nitrato de celulose, feito a um legado de peso: 175 mil toneladas
partir de polpa de madeira tratada com de baquelite produzidas, para uso em
ácido nítrico. Nascia o primeiro plástico. mais de 15 mil produtos. Foi graças a
trilhão de fragmentos
Seu objetivo era relativamente modesto: ele que o plástico entrou nas casas das
de plástico formam a substituir o marfim em objetos domésti- pessoas. Mas Baekeland passou seus
grande ilha de lixo, no cos, como botões, puxadores de gavetas últimos meses de vida em um sanató-
oceano Pacífico. e suportes de escovas. Parkes fundou rio, acossado por manias – aposentado
uma empresa, a Parkesine Company, à força pelo filho após vários anos de
Fontes (6) Raman imaging for the identification of Teflon microplastics and nanoplastics released from non-stick cookware. Y Luo e outros, 2022.(7) Raman
Microspectroscopy Detection and Characterisation of Microplastics in Human Breastmilk. A Ragusa e outros, 2022. Discovery and quantification of plastic
particle pollution in human blood. HA Leslie e outros, 2022. (8) A rapid review and meta-regression analyses of the toxicological impacts of microplastic dezembro 2022 super 25
exposure in human cells. E Danopoulos e outros, 2022. (9) Resolution adopted by the United Nations Environment Assembly on 2 March 2022. UNEP, 2022.
 desentendimentos, ele só aceitava comi-
da enlatada e havia desenvolvido uma
estranha obsessão: queria criar um jar-
os bebês são
dim tropical de proporções bíblicas.
Alheia a isso, a indústria do plástico
continuou crescendo. Ela ganhou escala
expostos a
com a descoberta de reservas de petróleo
e gás natural (que servem para fabricá-lo),
a partir dos anos 1920. As empresas pe-
microplásticos
trolíferas começaram a investir pesado
em novas aplicações e tipos de plástico,
num ambiente de inovação acelerada que
– presentes
no leite da mãe.
culminou, em 1933, com a síntese indus-
trial do polietileno.
Esse material já era conhecido desde
1889, quando o químico alemão Hans
von Pechmann o descobriu sem querer
durante experiências com diazometano
(um reagente de laboratório). Mas ele era
muito difícil de fazer. Foram necessários
quase 50 anos até que alguém inventasse
um jeito consistente de fabricar polie-

s
tileno – os autores da façanha foram
Reginald Gibson e Eric Fawcett, que
trabalhavam na empresa inglesa ICI e
ta
is
descobriram a pressão e a temperatura
ev

ideais (1.400 bar e 170 °C) para fazer

aquele tipo de plástico.
R

Durante a Segunda Guerra, houve uma

escassez generalizada de metais, usados
il

para fazer o máximo possível de aviões,

as

tanques e armas. Com isso, os plásti-

cos ganharam mais um impulso – em
Br

especial o náilon, que já vinha sendo

utilizado em meias-calças femininas
e passou a ser empregado em lonas
de paraquedas. O náilon foi inventa-
do pela empresa americana DuPont, e
aperfeiçoado pela alemã IG Farben – a
mesma que produziu o gás Zyklon B,
usado para matar pessoas nos campos
de concentração. E a história do plástico
tem outra conexão com o nazismo. No
começo dos anos 1950, o alemão Karl
Ziegler e italiano Giulio Natta deram um
passo decisivo: inventaram um jeito de
fazer polietileno usando catalisadores,
sem precisar de tanto calor e pressão – o
que barateia muito o processo. Ziegler Não é só o
havia sido membro da Schutzstaffel: a leite. A placenta,
SS, uma organização paramilitar nazista, que protege o
feto durante
na qual ele chegou a ser condecorado a gestação,
durante a guerra. Mas isso foi deixado de também contém
lado, e os dois receberam o Prêmio Nobel plásticos: em ou-
de Química em 1963 pela descoberta. tro estudo, feito
Também no começo dos anos 1960, a na China, 43%
das amostras
fabricação de plástico superou a do alu- apresentavam
mínio pela primeira vez. E logo depois fragmentos
viria o maior salto de todos: o polietileno de PVC.

26 super dezembro 2022

75%
sair do controle e inundar o planeta. Dá
para ver isso em fenômenos recentes,
como a Grande Ilha de Lixo do Pacífico.
Ou melhor: visível, a rigor, ela não é.

A ilha transparente
Em 1997, o oceanógrafo Charles Moore
estava voltando de uma regata entre Los
Angeles e Honolulu, no Havaí, quando
resolveu testar seu veleiro, o Alguita.
Pegou uma rota tranquila, com pouco
vento, no Giro do Pacífico Norte – ele
queria ligar os dois motores diesel do
barco, que tinha sido reformado recente-
mente, e checar se estava tudo bem. Mas,
aí, viu pedaços de plástico boiando a
esmo no meio do oceano. Era a primeira
das amostras de leite materno, observação da Grande Ilha de Lixo do
em um estudo publicado por Pacífico, um fenômeno que havia sido
cientistas italianos, continham teorizado em 1988 por cientistas do
microplásticos. governo americano.
A ilha fica entre a costa oeste dos EUA

s
e o Japão, e é formada por mais de 1,8 tri-
ta lhão de detritos, que somam mais de 80
mil toneladas de plástico e se estendem
is
por 1,6 milhão de quilômetros quadrados
ev

– o tamanho do estado do Amazonas.

Ela se formou ali porque o Giro do Pa-
R

cífico Norte é um conjunto de correntes

marítimas, que puxam e seguram o li-
il

tereftalato, ou PET. Ele já existia desde xo. Os resíduos mais antigos datam de
as

os anos 1940, quando começou a ser uti- 1977. E, segundo um estudo publicado
lizado em roupas – também para suprir em 2018 por cientistas holandeses 10 , há
Br

uma brecha criada pela guerra, já que evidências concretas de que a ilha segue
dispensava o uso de algodão (permitindo crescendo. Aproximadamente 46% do
que a agricultura se concentrasse em material veio de redes de pesca que se
produzir comida, que também faltava). romperam – sim, elas também são feitas
Sabe quando você olha a etiqueta das principalmente de plástico.
roupas, e está escrito que elas contêm Só que a ilha não é bem como as pes-
poliéster? É um derivado do PET. soas imaginam, com uma gigantesca ma-
Mas foi só em 1973 que o PET en- çaroca flutuante. Em sua maior parte,
controu sua grande vocação: as garrafas ela é invisível a olho nu. Isso porque o
plásticas. Graças ao trabalho de outro lixo vai se fragmentando – e 80% dele
inventor, Nathaniel Wyeth. Ele era fun- já está na forma de microplásticos. Eles
cionário da DuPont, e em 1967 come- são muito pequenos, e ficam espalhados
çou a pesquisar o uso do material em por uma área gigantesca. Por isso, a ilha
garrafas. No começo, deu tudo errado: é difícil de ver – seja de barco ou por
elas se deformavam rapidamente quando imagens de satélite.
enchidas com líquidos gaseificados. Mas Mas ela causa um impacto ambiental
Wyeth perseverou, e seis anos depois enorme: afeta mais de 700 espécies. Os
finalmente conseguiu bons resultados. animais marinhos podem ficar presos
Hoje o PET corresponde a aproximada- na ilha de lixo, ou ingerir plástico em
mente 30% de toda a produção mundial quantidades nocivas. Além disso, co-
de plástico, e é o mais comum dos sete mo os pedacinhos de plástico deixam
tipos dele [veja quadro na pág. 28]. a água ligeiramente turva, reduzem o
No mundo moderno, quase tudo acesso das algas marinhas à luz do sol,
é feito de plástico. Metade de todo o podendo desregular seriamente a cadeia
plástico já produzido foi fabricado a alimentar. “Não enxergamos o problema
partir de 2004. É aí que ele começa a dos microplásticos com antecedência.

Fonte 10 Evidence that the Great Pacific Garbage Patch is rapidly accumulating plastic. L Lebreton e outros, 2018. dezembro 2022 super 27
 Por muito tempo, nem percebemos o
que estava acontecendo”, afirma Mal-
colm Hudson, biólogo da Universidade
de Southampton e especialista no tema.
“Mas agora que a população global saltou
de 3 bilhões, em 1960, para 8 bilhões, e
todo mundo usa plástico, essa questão
precisa ser atacada com urgência”, diz ele.
É verdade. Você sabe, e provavelmen-
te tenta fazer alguma coisa: usa menos
objetos descartáveis, e separa o seu lixo
orgânico do reciclável. Isso é ótimo. Mas
não resolve, por duas razões. A primeira
é que o plástico só pode ser reciclado
algumas (poucas) vezes – cedo ou tarde,
ele acaba virando lixo de qualquer ma-
neira. A segunda, e principal, é que nem
todo plástico é reciclável. “O plástico é
uma família enorme de materiais. Uma
garrafa é muito diferente de uma sacola,
por exemplo. Eles não podem ser pro-
cessados juntos”, diz Hudson. “Muitos
plásticos simplesmente não podem ser
reciclados, por suas propriedades físicas.
Outros contêm substâncias que deixam
o processo bem mais complexo”, explica.
Das sete categorias de plástico [veja
quadro ao lado], somente as duas pri-
meiras – o PET e o polietileno de alta
densidade, ou HDPE – são recicladas em
escala comercial 11 . Nos demais casos,
geralmente existe algum problema que
complica ou impede isso. O poliestireno
Br
(isopor), por exemplo, é considerado in-
viável de reciclar, porque seu transporte
é caro – cada 1 kg desse material, extre-
mamente leve, ocupa muito mais espaço
do que qualquer outro plástico – e ele se
esfarela facilmente durante o manuseio.
(Nos EUA, a indústria diz reciclar 10%
do isopor, mas há uma pegadinha aí:
são aparas, ou seja, sobras do próprio
processo de fabricação dele. Não lixo.)
Já o PVC contém cloro, que é libera-
do na forma de gás tóxico quando esse
plástico é aquecido. O polipropileno
dos canudos e potes de margarina não
sobrevive bem à reciclagem: fica fraco
demais. E diversos outros plásticos con-
têm resinas misturadas – o que torna sua
reciclagem economicamente inviável.
Uma investigação das emissoras ame-
ricanas PBS e NPR, que tiveram aces-
so a documentos internos de grandes
fabricantes de plástico 12 , revelou que
a indústria sabia disso tudo: mas pre-
feriu iludir os consumidores, dizendo
que a reciclagem resolveria todos os
problemas ambientais. “Apostar apenas
28 super dezembro 2022
O problema
DA RECICLAGEM
Em quase todos os objetos de plástico, você
encontrará um símbolo de reciclagem, com um
número. Ele indica qual é o tipo de material usado
ali. Só que, das sete categorias de plástico,
apenas duas são recicladas em grande escala.
pet ou pete (polietileno
1
tereftalato)
usado em: Garrafas, copos e
embalagens plásticas.
é recIclável? Sim. Nos EUA,
27,1% das garrafas PET vão
para reciclagem. O plástico é
triturado, derretido e usado
para fazer novas embalagens 4
s
– que misturam PET “virgem” ta
(novo) e reciclado. O
is
material também pode ser
transformado em fibras, para
ev
fazer tecidos sintéticos.
R
il
hDpe ou peaD
as
(polietileno de alta
densidade)
usado em: Frascos de
xampu, galões de produtos
de limpeza e outras
embalagens duras.
é recIclável? Sim, e
como: ele é muito resistente,
e pode ser reciclado até 10
vezes. Nos EUA, 28,8% dos
frascos de HDPE vão para
reciclagem – e viram objetos
como cestos e lixeiras.
pvc (policloreto de vinil)
usado em: Tubos plásticos,
mangueiras de jardim,
brinquedos.
é recIclável?
Tecnicamente, sim. Mas isso
quase nunca é feito. É que o
PVC contém cloro, liberado na
forma de gás (tóxico) quando
7
ele é derretido. A exceção é
a Europa, onde a indústria
tem um programa de
reaproveitamento – e recicla
9% do PVC jogado no lixo.
Fontes 11 Circular Claims Fall Flat Again. Greenpeace, 2022. 12 How Big Oil Misled The Public Into
Believing Plastic Would Be Recycled. Disponível em n.pr/3VzyzNJ
 na reciclagem é uma distração”, avalia
lDpe ou pebD (polietileno
Luísa Santiago, diretora da Fundação
de baixa densidade)
Ellen MacArthur (que produz estudos
UsAdo em: Sacolas sobre questões ambientais, plástico in-
de supermercado (não clusive) na América Latina. “Pode fun-
biodegradáveis) e de lixo,
cionar para um momento de transição,
sacos de pão de forma.
É reciclável? É. Mas não
mas não é suficiente”, diz. Segundo ela,
costuma ser. As sacolas a saída está em redesenhar os produtos,
geralmente estão sujas, o para que deixem de ser descartáveis e se
que complica e encarece o tornem reaproveitáveis. Mas isso, acredi-
processo. Ou elas vão para ta Santiago, só acontecerá se houver leis
3 aterros sanitários junto com
o lixo. Nos EUA, menos
e normas – e o acordo negociado pela
ONU é vital nisso. “Sozinha, a indústria
de 5% desse tipo de não vai avançar”, afirma.
plástico é reciclado. Há outras formas de lidar com o pro-
blema, como o projeto Ocean Cleanup,
que foi criado pelo holandês Boyan
Slat e já fez as primeiras retiradas de
pp (polipropileno) plástico da Grande Ilha de Lixo do Pa-
UsAdo em: Canudos, potes cífico. Ele usa grandes redes, presas em
de sorvete e margarina, flutuadores, para capturar os resíduos.
embalagens de comida O objetivo é acabar com a ilha de lixo

s
delivery. por meio de um trabalho pontual e per-
É reciclável? Muito
pouco: em média, menos de
ta sistente, “de formiguinha”. Após anos de
testes, o projeto começou para valer em
is
1% é reciclado. O problema
2021, quando realizou 45 coletas – que
é que, assim como o PEBD,
ev

pegaram 101 toneladas de plástico, ao

o polipropileno geralmente

6 vem contaminado por restos

todo. Seus criadores preparam um sis-
R

de comida. Além disso, ele se tema aperfeiçoado, com mais capacidade

torna menos maleável e mais (leia na pág. 04). Mas eles ainda têm um
il

fraco após a reciclagem. longo caminho pela frente: afinal, a ilha

as

é formada por 80 mil toneladas de lixo.

O plástico retirado do oceano está
Br

parcialmente decomposto, o que torna

ps (poliestireno) sua reciclagem especialmente difícil.

2 UsAdo em: Trata-se do

isopor, empregado em
E aí voltamos aos problemas anteriores:
nem todo plástico pode ser reciclado, isso
nem sempre é economicamente viável
diversas embalagens (de
caixas de ovo a copos etc. Não com os métodos atuais. Mas, nos
descartáveis). últimos anos, surgiram alguns avanços
É reciclável? Não. É que podem mudar esse jogo. E o maior
economicamente inviável. O deles veio da própria natureza.
material é difícil de manusear,
pois quebra e esfarela fácil, A bactéria mutante
e seu transporte custa caro A usina nuclear de Chernobyl é um dos
(1 kg de isopor ocupa muito pontos mais contaminados do mundo.
mais espaço do que 1 kg dos
Quando seu reator 4 explodiu, em 1986,
outros plásticos).
a radioatividade no local chegou a incrí-
veis 300 sieverts por hora: o equivalente
a 3 milhões de exames de raio-X, e sufi-
ciente para matar uma pessoa em cerca
outros (acrílico, náilon, de 1 minuto. Com o tempo e as obras
policarbonato etc.) de limpeza, a radiação foi diminuindo.
UsAdos em: Diversas coisas.
Ela ainda é tão alta que os pontos mais
são recicláveis? Depende críticos só podem ser vistoriados com
do material. Alguns até são, robôs. Mas foi ali que, em 1991, pes-
quisadores acharam algo incrível: um
5
outros não. Mas, na prática,
nenhum deles é reciclado em fungo radiotrófico, ou seja, capaz de
quantidades significativas. se alimentar de radiação. Ele se chama

Fontes 2020 US Post-Consumer Plastic Recycling Data Dashboard. The Association of Plastic Recyclers.
Progress Report 2022. VinylPlus.
dezembro 2022 super 29

Cryptococcus neoformans, e a ciência já o
conhecia; mas essa sua nova habilidade,
não. O fungo pratica a radiossíntese, um
processo parecido com a fotossíntese,
mas com radiação no lugar da luz solar.
Décadas mais tarde, em 2016, algo pa-
recido aconteceu – só que com o plásti-
co. Um grupo de pesquisadores estava
testando amostras do solo perto de uma
usina de reciclagem de garrafas PET na
cidade de Sakai, no Japão. Eles encontra-
ram uma bactéria capaz de “comer” esse
material, transformando-o em energia
para sobreviver 13 . O micróbio foi ba-
tizado de Ideonella sakaiensis, e passou a
ser estudado em laboratório. O segredo
dessa bactéria está numa enzima que ela
produz: a PETase, que decompõe esse
tipo de plástico. Nos anos seguintes,
outras pesquisas descobriram dezenas
de PETases, fabricadas por vários micro-
-organismos. Elas decompõem o plástico
em poucos dias – acelerando muito a
degradação natural, que leva séculos.
Mas havia um problema: na prática,
aquelas enzimas eram frágeis. Só fun-
cionavam em altas temperaturas, sob pH
controlado, e com plástico previamente
tratado. Não pareciam muito úteis para
uso em escala industrial. Até que, em
abril deste ano, isso mudou. Cientistas da
Universidade do Texas criaram uma ver-
são alterada da enzima 14 , que se chama
Br
FAST-PETase e funciona incrivelmente
bem: basta aplicá-la sobre o plástico, dei-
xar o material numa temperatura de 30
a 50 graus (fácil de atingir e manter num
galpão ou tonel levemente aquecido, por
exemplo), e a natureza faz todo o resto.
Um a sete dias depois, dependendo da
temperatura ambiente, você tem plástico
novo. Sem precisar derreter o material,
usar aditivos nem lidar com substâncias
tóxicas. E a enzima não só decompõe o
plástico, ela o refaz: repolimeriza as molé-
culas do material, montando novamente
as cadeias de átomos que formam o PET
(e o tornam tão flexível e resistente).
A FAST-PETase é produzida por uma
versão geneticamente modificada da
bactéria Pseudomonas putida, conhecida
por sua utilidade ambiental (nos anos
1990, cientistas criaram e patentearam
uma variação dela que é capaz de decom-
por substâncias tóxicas como o tolueno,
presente em combustíveis). Em tese, a
enzima poderia ser fabricada em grande
escala e usada para reciclar garrafas plás-
ticas de uma forma mais rápida, barata
30 super dezembro 2022
24
horas é o tempo de decomposição
das garrafas PET quando expostas
a uma determinada enzima.
s
e ecológica do que hoje.
ta
is
Além da PETase existem outras enzi-
ev
mas e micróbios, que decompõem outros
plásticos – e podem ser geneticamen-
R
te alterados para ganhar eficiência. Há
uma corrida nessa direção, envolvendo
il
várias startups e universidades. Depois
as
da descoberta da I. sakaiensis, que se ali-
menta de PET, já foram localizados um
fungo comedor desse material em Isla-
mabad, no Paquistão. E outra bactéria em
Leipzig, na Alemanha.
Também há testes com novos métodos
de reaproveitamento. A empresa holan-
desa Ioniqa, por exemplo, inventou uma
técnica que permite reciclar as garrafas
PET infinitas vezes, como é feito com as
latinhas de alumínio. (No método tra-
dicional, isso não acontece: o plástico
perde qualidade após cada reciclagem, e
você precisa adicionar uma porcentagem
cada vez maior de material “virgem”, ou
seja, novo, para fazer as garrafas.)
O novo processo foi desenvolvido pela
Universidade de Eindhoven, que fun-
dou a empresa, e consiste em adicionar
nanopartículas magnéticas ao plástico
durante a reciclagem. Elas aderem aos
componentes dele, que então podem ser
separados com ímãs. A empresa atraiu o
interesse de gigantes como Coca-Cola e
Unilever e já está montando sua primeira
usina, com capacidade para reciclar 10
mil toneladas por ano.
Outra linha de pesquisa envolve
 existem micróbios transformar o plástico em gases como
hidrogênio e metano, que podem ser
usados como combustíveis. Em julho de
que comem plás- 2021, cientistas dos EUA conseguiram
converter polietileno de alta densida-
de (HDPE) em diesel e combustível de

tico. e eles podem aviação, em apenas 1 hora e com 90%

de eficiência 15 .
Em suma: vem aí uma série de ino-

revolucionar vações que podem aumentar muito a

reciclagem. “Agora dá para começar
a enxergar uma verdadeira economia

a reciclagem. circular em torno do plástico”, disse o

químico Hal Alper, um dos criadores
da enzima FAST-PETase, ao anunciá-la.
Eis a outra chave para resolver o pro-
blema. “Economia circular” é um sis-
tema em que os produtos são criados,
fabricados e usados já pensando em
maximizar a reciclagem. “Precisamos
migrar para um sistema de consumo
em que o plástico seja projetado pa-

s
ra ser facilmente reaproveitável”, diz
ta Malcolm Hudson. “As soluções mais
promissoras são aquelas que permitem
is
acabar com o sistema linear de produção
ev

e descarte do plástico”, concorda Luísa

Santiago, da Fundação Ellen MacArthur.
R

“Os plásticos desnecessários, ou os de

uso único, precisarão ser repensados ou
il

simplesmente eliminados.”
as

O Brasil, diz ela, é um dos países mais

atrasados da América Latina quando
Br

se trata de implementar medidas de

economia circular. “A indústria ainda
mantém os debates em torno apenas da
reciclagem.” Enquanto isso, no Chile, a
empresa Algramo já vende comida (ar-
roz, feijão, café, açúcar) e produtos de
higiene (como detergentes) em máquinas
a granel. Os clientes utilizam embalagens
reutilizáveis e levam as quantidades de
que precisam. Quando a vida útil do re-
cipiente acaba, eles ganham descontos
para fazer a troca. E, aí, o plástico dessas
embalagens é reciclado.
A solução para o futuro do plástico
está no chamado “3R”: reduzir, reutili-
zar, reciclar. “Ao longo das últimas se-
te décadas, mobilizamos praticamente
A bactéria todos os aspectos das nossas vidas em
I. sakaiensis torno dele. Podemos dispensar os copos
foi descoberta descartáveis, mas ainda vamos precisar
no solo perto de equipamentos médicos, pneus, em-
de uma usina
de reciclagem balagens para alimentos”, diz Hudson.
em sakai, no E mais um zilhão de outras coisas. É
Japão. e iniciou muito difícil viver sem plástico. Mas po-
uma corrida demos, e precisamos, aprender a conviver
tecnológica. melhor com ele. S

Fontes 13 A bacterium that degrades and assimilates poly(ethylene terephthalate). S Yoshida e outros, 2016. 14 Machine
learning-aided engineering of hydrolases for PET depolymerization. H Alper e outros, 2022. 15 Deconstruction of high-density dezembro 2022 super 31
polyethylene into liquid hydrocarbon fuels and lubricants by hydrogenolysis over Ru catalyst. H Lin e outros, 2021.
tecnologia

Uma noite no

TÁXI AUTÔNO
robótico para andar pela cidade
as
R
ev

Qualquer pessoa pode chamar um carro

il

de São Francisco, nos EUA – onde

is
ta
s
Br

uma subsidiária da General Motors

começou a operar uma frota de táxis
sem motorista. Mas eles nem sempre
funcionam como deveriam.
 Texto Cade Metz, do “The New York Times”
Tradução e infográfico Bruno Garattoni
Fotos Jason Henry

e
Ilustração Davi Augusto
Design Juliana Briani

NOMOas
R
ev
il
is
ta
s Eram 9 da noite de uma terça-feira,
em São Francisco, quando eu chamei
um carro na porta de um restaurante
a alguns quarteirões do Golden Gate
Park. Alguns minutos depois, enquan-
to eu esperava num semáforo fechado,
uma Mercedes branca parou do meu
lado. Nela havia três adolescentes, com
as cabeças para fora do teto solar. Um
Br

deles apontou para o banco do motorista

do meu carro, que estava vazio.
“Quem está dirigindo?”, gritou ele.
“Ninguém”, gritei de volta.
Eu estava em um carro operado pela
Cruise, uma subsidiária da General Mo-
tors que começou a oferecer o serviço
de táxi autônomo para um número li-
mitado de pessoas sortudas, e corajosas,
em São Francisco. Há quase uma década,
várias empresas vêm prometendo que
em poucos anos os carros autônomos
ganharão as ruas das cidades. Mas esses
poucos anos, aparentemente, sempre
viram mais alguns anos. E, enquanto
essas empresas lutam para aperfeiçoar
seus carros, fico pensando se elas algum
dia conseguirão transformá-los em um
negócio viável, dado o enorme custo de
fabricar e operar os veículos.
O nosso carro naquela noite de se-
tembro, um pequeno Chevy Bolt cheio
de sensores no teto, soube mudar de
faixa sozinho. Ele esperou até que pes-
soas e seus cachorros atravessassem a
faixa de pedestres. Desviou de carros →

dezembro 2022 super 33


que estavam parados no meio da rua,
com o pisca-alerta ligado. Sabe aquelas
cenas de filme, em que os carros cantam
pneu em perseguições velozes? Agora
imagine o oposto e você terá uma no-
ção de como o táxi dirigiu, subindo e
descendo com cautela as ruas íngremes
de São Francisco, atravessando cruza-
mentos com cuidado e se esquivando
de carros parados em fila dupla.
Mesmo assim, e mesmo para alguém
como eu – um repórter que passou bas-
tante tempo com esse tipo de tecnologia
ao longo dos últimos anos –, andar por
uma cidade grande em um carro autô-
nomo foi uma verdadeira revelação.
Não que não tenha havido problemas.
40
é tão difícil de dirigir quanto aqui. [Nota
do tradutor: ele não conhece a Marginal
Tietê, em São Paulo.]
Atualmente, a Cruise opera com 30
carros, apenas numa certa região de São
Francisco e só entre as 10 da noite e
É o número de sensores as 5h30 da manhã, quando o trânsito é
e dispositivos que o carro relativamente leve. Seus veículos não
usa para “enxergar”.
passam de 50 km/h, e eles não traba-
lham sob chuva forte, neblina ou neve.
A Cruise e a Waymo pretendem expandir
seus serviços em São Francisco, aten-
dendo mais pessoas em mais bairros
e horários do dia. E os táxis robóticos

5
Assim que o carro passou por aquela
Mercedes com os adolescentes uma
segunda vez, ele virou com tudo pa-
ra a direita, presumivelmente porque sensores
confundiu os garotos com pedestres. liDar
(radar que

s
Em outro cruzamento, ele pisou no
funciona
freio bem na hora em que o sinal ficou
vermelho, e derrapou até parar bem em
com feixes
de laser)
ta
is
cima da faixa de pedestres. Um pedestre
ev

xingou o carro, e fez um sinal obsceno,

nesse momento. Não sei se isso foi mais
R

satisfatório ou menos do que xingar um

motorista humano.
il

E aí, quando nós pegamos um pou-

as

co de trânsito, o carro detectou um

possível acidente na rua e parou. Era
Br

um alarme falso, mas mesmo assim o

Cruise não queria mais andar. Minha
viagem terminava ali.
Um dia todo mundo poderá andar de
carro autônomo. A Cruise, que pretende
expandir seu serviço para as cidades de
Austin e Phoenix até o final do ano, é
apenas uma de várias empresas desen-
volvendo serviços de táxi robótico em
grandes cidades dos EUA. A Waymo,
uma subsidiária do Google, está prepa-
rando seu lançamento em São Francisco.

A Argo AI, que é financiada pela Ford
e pela Volkswagen, rodou entre 2019 e
2022 em Austin e Miami. A Motional,
que tem o apoio da Hyundai, está fo-
cando em Las Vegas.
Mas a tecnologia ainda não está
pronta. A Waymo opera desde 2019
um serviço de táxi autônomo nos su-
búrbios de Phoenix, onde as ruas são
largas e há poucos pedestres. Mas São
Francisco, com suas grandes ladeiras e
ruas estreitas e congestionadas... com a
possível exceção da Times Square, em
Nova York, não há nenhum lugar onde
COMO
1 O TÁXI
FUNCIONA
É uma versão modificada do
Bolt, um carro elétrico vendi-
do pela GM nos Estados Uni-
dos por US$ 25 mil (no Brasil,
Serviço é bem mais custa R$ 329 mil). Ele possui
câmeras, radares e sensores
lento do que um Uber do tipo LIDAR – uma espécie
– e ligeiramente de radar que usa laser em vez
mais barato. de ondas de rádio.

34 super dezembro 2022

eventualmente chegarão a mais cidades
do chamado Cinturão do Sol [região que
abrange todo o Sul dos EUA], onde rara-
mente neva e as autoridades costumam
ser boazinhas com as empresas de carro
autônomo. Mas isso levará tempo.
O lançamento de cada novo serviço,
em cada cidade, requer meses de prepa-
ração – sem falar nas negociações com
o governo local. E, mesmo depois de
testes exaustivos, os carros vão acabar
encontrando situações com as quais eles
simplesmente não sabem lidar. Aí, para
a Cruise e as demais empresas do setor,
a pergunta será: o que vai acontecer? situações, e que se isso acontecesse a
empresa, que estava monitorando tudo
Os carros confusos à distância, poderia ter de enviar técnicos
Algumas horas antes da minha viagem, para ir buscá-los. Esses incidentes são
a Cruise organizou um pequeno evento extremamente raros, disse ele.
para jornalistas em sua sede, no centro de Os carros são bem competentes
São Francisco. O CEO da empresa, Kyle em lidar com a maioria das coisas que
Vogt, estava convidando os repórteres pa- acontecem na rua – congestionamentos,
ra andar em carros realmente autônomos mudanças de faixa, conversões à direita.
pela primeira vez – os veículos robóticos Mas outras situações são mais difíceis:
costumam ter a bordo um motorista hu- conversões à esquerda [nota do tradutor:
mano, pronto para assumir o controle se todos os veículos autônomos têm problemas
algo der errado. Vogt advertiu que seus com essa manobra, na qual é preciso evitar
táxis poderiam ficar “confusos” em certas o fluxo de carros que vêm na contramão],
pessoas atravessando fora da faixa e,

14
como eu logo descobriria, até mesmo
uma pequena câmera apontando para
fora da janela. Mas estou me precipi-
câmeras tando. Vamos começar do começo.

8
Em 3 de junho, dois dias depois que

3
as autoridades da Califórnia autorizaram
a Cruise a operar comercialmente sem

s
raDares motorista, um de seus carros estava levan-
raDares
laterais
De longo
alcance
ta do um passageiro pela Geary Boulevard,
uma avenida no bairro Richmond, em São
is
Francisco – não muito longe da região
ev

onde eu andei no táxi autônomo –, até

que ele chegou a um cruzamento. O sinal
R

estava verde, e o carro começou a virar à

esquerda para pegar uma rua lateral.
il

Um Toyota Prius, guiado por um mo-

as

torista humano, se aproximou do cru-

zamento na outra direção, e aí o carro
Br

da Cruise parou, assumindo que o Prius

também iria virar ali. Mas o Toyota se-

10
guiu reto, atravessando o cruzamento. Os
dois carros bateram. O Prius, que estava
a 65 km/h numa zona onde o limite é
raDares 40 km/h, foi parcialmente responsável
De curto pelo acidente, de acordo com uma aná-
alcance lise da batida. Os ocupantes de ambos
os veículos sofreram ferimentos leves,
e receberam atendimento médico.
Esse incidente mostrou o tipo de →

2 O APLICATIVO 3 AS CONDIÇÕES 4 O PREÇO

É bem parecido com o Uber,
com duas diferenças: só tem
versão para iPhone e requer
um convite, que a Cruise
distribui aos poucos. É uma
forma de controlar o uso do
serviço, que atualmente tem
30 carros (cada um deles foi
batizado com um nome).
O serviço está disponível das
22h às 5h30, em parte da cidade
de São Francisco. Só maiores
de idade podem andar (e pets
não são aceitos). O veículo
anda a no máximo 50 km/h.
Ele tem câmeras que vigiam os
passageiros – o carro aceita até
três – durante o trajeto.
você paga uma taxa inicial de
US$ 5, mais US$ 0,56 a cada
quilômetro rodado e US$ 0,40
por minuto de uso do carro.
A corrida sai 10% mais barata
que o preço normal do Uber
em São Francisco – mas , como
o carro anda devagar, ela pode
durar 50% mais tempo.

dezembro 2022 super 35

 situação complicada que os carros au-
tônomos inevitavelmente encontram nas
ruas urbanas. O governo dos EUA orde-
nou que a Cruise revisasse seu software,
e a empresa suspendeu temporariamente
táxis de Nova York, o banco da frente do
Cruise parece com o de qualquer carro –
exceto pelo fato de que não há ninguém
sentado nele. No banco de trás, acima
dos dois tablets, há um botão para você

50
as conversões à esquerda em sua frota, en- chamar o suporte técnico, e um viva-voz
quanto atualizava os carros para torná-los para falar com ele. É só isso.
capazes de lidar com eventos similares. O carro se comportou como um
motorista respeitoso. Quando pessoas
Impressionante e estressante atravessaram a faixa de pedestres na sua
Minha viagem começou na porta de frente [com o sinal aberto], ele respon-
um restaurante chamado Bistro Cen- deu com aparente confiança, andando
tral Parc. Um funcionário da Cruise me bem devagarinho até o momento em
disse que eu precisava baixar o app da que seu caminho ficou desobstruído, e km/h é a
empresa para chamar um carro. Mas eu ele acelerou. Quando o táxi encontrou velocidade
não conseguia. Eu tenho um Android, e uma obra na rua, demarcada com cones máxima
o aplicativo só roda em iPhone. Então a de plástico e uma grande seta amarela, na qual
o Cruise
empresa me emprestou um smartphone. ele desviou corretamente, esperando
pode
A Cruise iniciou o serviço uma hora que outro carro o ultrapassasse antes trafegar.
mais cedo, para os jornalistas. Às 9 em de fazer a manobra. E parou, mais de Mas, na
ponto, eu chamei um carro para ir até a uma vez, para pedestres que ameaçavam média, ele
Catedral Grace, no bairro de Nob Hill, a atravessar a rua – embora, ao fazer isso, anda mais

s
uns cinco quilômetros dali. O fotógrafo ele tenha dado trancos em nós dois no devagar.
ta
Jason Henry me acompanhou na corri- banco de trás. O Cruise também tinha o
da, que segundo o aplicativo duraria 21
is
minutos – ou 50% mais tempo do que
ev

um Uber, com motorista, levaria naquele

trajeto. A vida é mais lenta quando você
R

não pode passar de 50 km/h.

Quando o carro chegou, alguns mi-
il

nutos depois, nós sentamos no banco de

as

trás (os passageiros não podem ficar no

banco da frente) e, logo em seguida, uma
Br

voz nos cumprimentou pelo sistema de

som do carro. Era um funcionário do
suporte técnico da Cruise, perguntando
se nós precisávamos de alguma ajuda
para fazer o carro andar. Aparentemente,
nós estávamos demorando muito para
começar – é que Henry estava fotogra-
fando o veículo por dentro e por fora.
Respondemos que não precisávamos
de ajuda, apertamos um grande botão
vermelho em um tablet embutido no
banco do carro, e começamos a andar
num ritmo que parecia incrivelmente
lento se comparado ao típico motorista
de Uber. Uma mensagem automática nos
avisou para não colocar as mãos ou os
braços para fora das janelas do carro.
A viagem foi impressionante, descon-
certante e um pouco estressante. Era mais
ou menos como estar num carro com
a minha filha de 16 anos enquanto ela
aprendia a dirigir, só que mais inquietante
(minha filha pelo menos podia respon-
der aos meus acessos de pânico). Quando
você está sentado no banco de trás, atrás
de uma divisória de plástico como nos

36 super dezembro 2022


ONDE ELE ANDA
Os carros operam
numa área de 50 km2, no
centro expandido de SF.
s
ta
is
ev
R
hábito de desacelerar no meio de quar-
teirões vazios, sem motivo aparente.
il
Talvez ele tenha visto alguma coisa que
as
eu não notei – várias e várias vezes.
Aí, quando estávamos voltando para o
Br
restaurante, e já tínhamos rodado uns 8
km, pegamos a Geary Boulevard. A ideia
era virar à esquerda e entrar na avenida
Van Ness, com um grande cruzamento.
Queríamos ver como o carro iria se sair
ali, um dos pontos mais movimentados
da cidade – e cheio de pedestres para
uma noite de terça-feira. Durante boa
parte do trajeto, o carro parecia preferir
ruas laterais em vez de pegar avenidas,
e com isso evitava trânsito pesado e
conversões à esquerda. Mas, conforme
nos aproximamos da Van Ness, a pista
ficou cheia de carros na frente e atrás
de nós. Subitamente, o Cruise desistiu
de virar, e encostou na guia.
“Potencial colisão detectada”, disse uma
voz robótica. Logo antes de o carro en-
costar, Henry tinha abaixado sua janela
até a metade, e apoiado nela seu iPhone.
Ele queria capturar melhor o que esta-
Nos bancos
va acontecendo em volta do carro. Um
de trás há funcionário da Cruise nos disse, depois,
dois tablets – que aquilo tinha assustado o carro. O pro-
para acionar blema é que o iPhone estava num mini-
o carro. tripé, e uma das perninhas dele ficou para
fora da janela. A empresa diz que seus
carros estacionam, e não continuam, se
um objeto estiver “se projetando de for-
ma insegura” para fora da janela – ou se
alguém tentar colocar o corpo para fora
dela. Mas isso não deve acontecer, afirma
a Cruise, se um passageiro esticar a mão
para acenar a um amigo.
Os carros são projetados para en-
costar quando as coisas dão errado.
Em abril, policiais pararam um carro
da Cruise ao notar que ele não estava
com os faróis acesos. O veículo pare-
ceu tentar fugir dos policiais confor-
me eles se aproximavam. Na verdade,
estava manobrando para encostar na
guia – como fez ao detectar o iPhone.
Depois que nosso carro parou, uma
voz perguntou se estávamos bem, e disse
que a viagem continuaria em instantes.
Isso não aconteceu. Alguns minutos
depois, a voz disse que nós devíamos
descer. Um técnico da Cruise teria que
vir para checar o que estava acontecendo.
A empresa afirma que isso é um pro-
tocolo padrão, mas ela já teve problemas
com veículos empacados. No final de ju-
nho, muitos dos carros da Cruise foram
para a mesma rua, pararam, e travaram
o trânsito no centro de São Francisco.
Nos meses seguintes, os veículos da em-
presa continuaram a causar incidentes
em vários pontos da cidade. Mesmo que
sejam capazes de andar sem motorista,
eles ainda precisam de ajuda humana
de vez em quando. Às vezes, os técnicos
conseguem resolver tudo à distância. Em
outras, precisam ir até os veículos.
Isso custa dinheiro. E, para analistas
do setor, coloca em dúvida se os táxis
robóticos um dia serão mais baratos que
os tradicionais. Equipados com sensores
especiais, chips de computador e outras
tecnologias, os carros autônomos são
muito mais caros do que o Uber médio.
E os gastos com software, datacenters
e suporte técnico são altos. A Cruise
teve prejuízo de US$ 860 milhões só
no primeiro semestre de 2022. Um dia,
esses custos poderão diminuir.
Depois que nós descemos e fecha-
mos as portas, o carro parecia solitário.
Ele não podia fazer nada, só esperar
por ajuda. Mas eu ainda tinha aquele
smartphone emprestado. Então chamei
outro Cruise, e ele nos levou de volta ao
restaurante. Desta vez, sem problemas.
Nós mantivemos as mãos, os braços e
os tripés bem longe das janelas. S
dezembro 2022 super 37
 história

Texto Alexandre Carvalho Edição Alexandre Versignassi

Ilustração Felipe Mayerle Design Luana Pillmann

CABRAL além do
ev
is
ta
s

BRASIL
R
il
as
Br

Após sua célebre escala de dez dias na Bahia, ele

seguiu caminho rumo à Índia, superou naufrágios,
deu início a uma pequena guerra e enriqueceu
a coroa portuguesa com 700 toneladas de
especiarias. Então caiu no esquecimento por 300
anos. Conheça a jornada completa de Pedro Álvares.

38 super dezembro 2022

 s
ta
is
ev
R
il
as
Br

dezembro 2022 super 39

 D
dia 3 de maio. Até o de Caminha, com “suas
século 19, essa era a data vergonhas tão nuas”.
oficial do Descobrimento. O escrivão apontou o
O equívoco surgiu de um dia certo em seu relato
raciocínio do historiador ao rei de Portugal, Dom
português Gaspar Cor- Manoel 1º, mas a mo-
reia (1495–1561). Sem narquia escondeu essa
registros disponíveis certidão de nascimento

s
que apontassem a data do Brasil. A ideia era não
exata, ele foi no chute. E
concluiu o seguinte: como
vazar informações para
a Espanha – sua concor-
ta
is
os primeiros nomes do rente na reivindicação de
ev

Brasil foram Ilha de San- terras ainda não desco-

ta Cruz e Terra de Santa bertas no Atlântico Sul
R

Cruz, provavelmente seria desde o Tratado de Tor-

uma homenagem ao Dia desilhas, em 1494.
il

da Santa Cruz, celebrado Quando a carta ganhou

as

em… 3 de maio. publicidade, mais de três

Só virou 22 de abril séculos depois, outra cor-
Br

depois que a família re- reção aconteceu: Pedro

al portuguesa veio para Álvares Cabral, figura
cá, fugindo de Napoleão esquecida pelos portugue-
e trazendo na bagagem ses, emergiu com a impor-
um documento até en- tância que lhe era devida.
tão mantido em sigilo: E se tornou o Cabral dos
a carta de Pero Vaz de livros de história graças
Caminha. Em 1817, ela ao empenho do último
pôde ser impressa e veio imperador que tivemos.
a público – mais de três Dom Pedro 2º desejava
séculos após ter sido construir uma biografia
escrita detalhando as oficial do Brasil, algo que
circunstâncias daqueles ainda não existia. Então
eventos extraordinários colocou o historiador
de 1500. Francisco Adolfo de
Antes, ninguém podia Varnhagen, o Visconde
cravar com certeza quan- de Porto Seguro, para ir
do os navios portugue- atrás de mais informa-
ses chegaram às nossas ções sobre o cara por trás
praias, Frei Coimbra re- do Descobrimento.
zou a primeira missa em As pesquisas de Varn-
solo nordestino, e nossos hagen o levaram a uma
futuros colonizadores pequena cidade – ainda
tiveram a visão inédita hoje de aspecto gótico –
das populações nativas no interior de Portugal:
andando, nas palavras Santarém. Foi lá, dentro

40 super dezembro 2022

 da Igreja Nossa Senhora
da Graça, que o visconde
achou, em 1839, o lugar
onde Cabral estava sepul-
tado. Mas não porque o
local desse visibilidade à
presença ilustre de seus
restos mortais. Pelo con-
trário: ele estava enter-
rado com a família num
túmulo mal preservado,
cheio de mato em volta, e
identificado apenas pelo
nome de sua esposa, Isa-
bel de Castro, descenden-
te de um rei português do
século 14 (D. Fernando
1º, 1345–1383).
Ou seja, para os portu-
gueses de 1520, quando
o descobridor do Brasil
morreu, a mulher de Ca-
s
bral era mais importante
ta
que ele. E, até que a carta
de Caminha viesse à luz,
is
ninguém apareceu para
ev
dizer o contrário.
Quando, em 1882,
R
seu corpo foi exumado,
surgiu o esqueleto de
il
um homem de 1,90 m.
as
Uma altura imponente,
que certamente contri-
Br
buiu para que se fizesse
respeitar pela multidão
que comandou em 1500,
na mais portentosa fro-
ta que Portugal já havia
lançado ao mar. A mis-
são: dar protagonismo
aos portugueses em
relações comerciais na
Índia. E, não menos im-
portante, trazer a maior
quantidade possível das
valiosas especiarias (tem-
peros diversos) que só se
encontravam na Ásia…
… E também corrigir er-
ros da missão anterior
Não seria a primeira tenta-
tiva. Três anos antes, Vas-
co da Gama já havia parti-
do para a Índia, seguindo
o caminho apontado por
outro português, Barto-
lomeu Dias. Em 1488,
Dias tinha mostrado que
Vasco da Gama,
o primeiro a chegar
à Índia por mar, não
teve sucesso comer-
cial. A expedição de
Cabral nasceu para
virar esse jogo.
era possível chegar à Ásia
contornando o extremo
sul do continente africa-
no – trecho que chamou
de Cabo das Tormentas,
por ter chegado lá após
tempestades violentas,
mas que seria renomea-
do com o mais otimista
Cabo da Boa Esperança.
A “esperança” em ques-
tão era comprar especia-
rias direto na fonte, a uma
fração do preço das rotas
por terra, tocadas por mer-
cadores árabes. E vender
com lucros exorbitantes
numa Europa disposta a
pagar 50 gramas de ouro
por saca de pimenta-do
-reino (coisa de R$ 20 mil
em valores de hoje).
Bartolomeu Dias vol-
tou a Portugal após a des-
coberta do Cabo. Vasco
partiria de Lisboa nove
anos depois, em 1497,
com a missão de, aí sim,
chegar à Índia. E conse-
guiu um feito: navegou
por mais de 10 mil qui-
lômetros para alcançar a
cidade que era o principal
alvo de Portugal: Calicu-
te, na costa ocidental da
As especia- Índia, de onde saía boa
rias valiam parte das rotas terrestres.
a viagem?
Bom, a eu- Mas chegou ali com obje-
ropa estava tos de troca que fizeram
disposta rir os líderes do local:
a pagar o basicamente roupas, seis
equivalente bacias para lavar as mãos,
a R$ 20 mil
por saca de uma caixa de açúcar, uma
pimenta- barrica com mel e outra
-do-reino. com azeite. Parecia uma
dezembro 2022 super 41
 afronta diante de um
mercado tão rico. Resul-
tado: acabou voltando
para Portugal com min-
guadas sacas de pimenta-
-do-reino, cravo, canela
e gengibre.
Mas isso não teve im-
portância. Empolgado
com a perspectiva de
que a viagem era possí-
vel, Dom Manoel 1º então
mandou organizar uma
nova armada, desta vez
com ostentação capaz de
convencer os soberanos
de Calicute a aceitar os
portugueses como par-
ceiros de negócio. Foi pa-
ra essa jornada grandiosa
que ele convocou Pedro
Álvares Cabral.
Entre os 32 e 33 anos
(seu aniversário é desco-
nhecido), Cabral não era
navegador e não tinha
experiência alguma em
comandar uma frota na-
val. Mesmo assim foi no-
meado capitão-mor dessa
expedição em fevereiro
de 1500. Seu “currículo”
se limitava a fazer parte
da nobreza de Portugal, e
aqui vale uma explicação:
mais por política que por
bom senso, era comum à
época que os reis dessem
o comando das Grandes
Navegações a fidalgos
(termo que significa “filho
de alguém importante”).
A frota toda era com-
posta por 13 embarca-
ções: nove naus, três ca-
ravelas e uma naveta de
mantimentos. Enquanto
as caravelas, mais rápidas
e ágeis, mediam 22 me-
tros de comprimento, as
naus eram bem maiores:
podiam chegar a 35 me-
tros, com a capacidade
de levar quase o dobro
de gente. E se a aventura
de Vasco da Gama não
chegou a juntar duas
centenas de homens, a
tripulação de Cabral foi
42 super dezembro 2022
organizada para impres-
sionar: 1.500 indivíduos.
Quase a metade formada
por soldados.
O rei português tam-
bém não economizou no
pagamento para o líder
da viagem. Cabral re-
cebeu 10 mil cruzados,
o equivalente a US$ 1
milhão em dinheiro de
hoje. E os cofres dos na-
vios foram abarrotados
de moedas de ouro para
o comércio na Índia.
No caminho, o Brasil
A partida foi marcada
para 8 de março de 1500,
um domingo. A capela da
ermida de São Jerônimo,
às margens do Rio Tejo,
perto de onde saíam os
navios, recebeu
o próprio rei
ta
O rei português
is
n aq uel a m a -
apostava tanto
ev
nhã. Lá tam-
bém estavam na expedição que
R
os banqueiros
financiadores pagou a Cabral
il
da expedição:
US$ 1 milhão em
as
a Coroa sozi-
nha não dava dinheiro de hoje.
Br
conta do em-
preendimento.
As Grandes Navegações
foram uma parceria pú-
blico-privada.
Mas a direção do ven-
to mudou naquela tarde,
adiando para o dia seguin-
te a partida da expedição.
Aí, sim, ao meio-dia de
uma segunda-feira, 9 de
março de 1500, a frota zar-
pava rumo à Índia. E já no
começo teve um susto: à
altura das ilhas de Cabo
Verde, uma das naus sim-
plesmente desapareceu –
nada fora do comum nas
missões marítimas entre
os séculos 15 e 16. De-
pois de alguma procura,
os capitães mantiveram
sua missão.
Só que aí você sabe. No
meio do caminho houve
uma parada imprevista:
44 dias depois da partida,
o grupo de navios lançava
suas âncoras onde hoje fi-
ca a Bahia. Se foi mesmo
imprevista ou não, é uma
das maiores discussões
entre os historiadores.
Mas vamos nos limitar
apenas aos fatos aqui: o
documento com a ordem
do rei para a missão de
Cabral só diz que ele de-
veria ir para a Índia. A es-
tratégia da expedição es-
tava bem definida, havia
muito dinheiro em jogo
visando tão somente às
especiarias… Então, mes-
mo que desconfiasse da
existência de um Brasil
a descobrir (navegações
anteriores não paravam
s
de encontrar novas terras
deste lado
do Atlân-
t ic o), por
que Cabral
arriscaria
a missão e
sua reputa-
ção? Não fa-
ria sentido.
Tanto que
a parada foi
curta.
A frota só passou dez
dias por aqui, já que seu
destino era a Índia. Para
o evento não passar em
branco, a naveta de man-
timentos foi mandada de
volta a Portugal. O retor-
no era para comunicar o
“achamento” ao rei, levan-
do consigo a carta de Pero
Vaz de Caminha. Também
carregava toras de pau
-brasil, plantas recolhidas
na nova terra e artefatos
indígenas, como arcos,
flechas e cocares. Duas
araras fizeram sucesso na
Europa, que nunca tinha
visto ave semelhante.
África e, enfim, Índia
No dia 2 de maio, a ar-
mada retomou seu tra-
jeto a Calicute, descendo
o Atlântico junto à costa
brasileira e então desviou
para o leste rumo aos
perigos do Cabo da Boa
Esperança. Um temor,
aliás, que comprovaria
sua razão de ser.
Perto dessa curva no
sul da África, uma tem-
pestade afundou quatro
navios da expedição,
afogando cerca de 400
homens. “O vento pa-
recia constante, atrás
deles, quando foram
atingidos pela proa por
uma borrasca”, afirma
Roger Crowley, autor de
Conquistadores – Como
Portugal Forjou o Primei-
ro Império Global. Por iro-
nia do destino, dentre os
mortos estava justamente
Bartolomeu Dias, o pio-
neiro a vencer esse cabo
12 anos antes.
Nessa mesma tempes-
tade, o navio do irmão de
Bartolomeu, Diogo Dias,
foi afastado do grupo
devido à força dos ven-
tos e se perdeu. Foi pa-
rar numa ilha até então
desconhecida, na costa
sudeste da África. Havia
descoberto Madagascar.
Os navios restantes,
muito machucados, che-
garam a Quíloa, uma ilha
na costa da atual Tanzâ-
nia, em 26 de maio. Ali
havia um comércio em
que o forte era a troca de
ouro do Zimbábue e mar-
fim da África Ocidental
por tecidos, porcelanas,
joias e… especiarias da
Ásia. Só que não rolou
nada. Cabral bem que
tentou um acordo com
o governante local, mas
os africanos islâmicos
não quiseram conversa
com o português.
De Quíloa, a expedi-
ção partiu para Melin-
de, cidade fundada por
mercadores suaílis, na
costa de onde hoje fica
 A expedição de Cabral – ida e volta
Das 13 embarcações que deixaram Lisboa, só seis voltaram da
viagem: uma jornada marcada pela morte, relações diplomáticas
desastrosas, mas muito lucro no final.

portUGAl, lisBoA

pArtidA:
9 de março de 1500
eUropA
cHeGAdA:
Junho de 1501

íNdiA, cAlicUte

cHeGAdA:
13 de setembro de 1500

áFricA, cABo verde em dezembro, morre

s
Pero Vaz de caminha
QUANdo:
22 de março de 1500
ta num conflit0.

íNdiA
is
Primeira embarcação
perdida.
ev

dAcAr
R

OCEANO
áFricA ÍNDICO
il
as

íNdiA, cocHim
meliNde
cHeGAdA:
Br

OCEANO Fim de
ATlâNTICO dezembro
de 1500
BrAsil
BrAsil, pArtidA:
porto seGUro 16 de janeiro
de 1501
cHeGAdA:
22 de abril
de 1500

pArtidA:
áFricA, QUíloA
2 de maio (atual Tanzânia)
de 1500
cHeGAdA:
26 de maio
áFricA, de 1500
cABo dA BoA esperANÇA

QUANdo: moÇAmBiQUe
24 de maio de 1500
4 navios naufragam, QUANdo:
morre Bartolomeu Janeiro de 1501
Dias e navio de Diogo navio encalha em
Dias se perde. banco de areia,
perdendo parte das
rotA de idA especiarias.

rotA de voltA

dezembro 2022 super 43

 o Quênia. Assim como
Vasco da Gama, anos an-
tes, Cabral aproveitou a
parada para conseguir um
piloto nativo que guiasse
sua frota até Calicute. E,
ufa, a combinação deu
certo. Finalmente, em 13
de setembro, a missão
chegava ao que era seu
destino desde o início:
o mais importante cen-
tro de comércio da costa
ocidental da Índia.
Efeito da bajulação
durou pouco
Era em Calicute que mer-
cadores árabes e chineses
negociavam havia sécu-
los. Mas os europeus que
chegassem tinham de li-
dar com o governante, o
samorim (adaptação por-
tuguesa para samutiri, “o
grande senhor do mar”).
Cabral, bem abastecido,
chegou com moedas de
ouro, objetos de prata,
almofadas de veludo,
tapetes ornamentais.
O conjunto de agrados
deixou o governante mais
bem impressionado do
que as quinquilharias
de Vasco. E assim, em
troca, os portugueses
ganharam autorização
para construir uma feito-
ria (entreposto comercial
fortificado por soldados)
e um armazém na cida-
de. Durante três meses, os
homens da armada per-
maneceram em Calicute,
e parecia que tudo ia de
vento em popa. Até que o
humor local azedou.
Quem controlava as
principais rotas comerciais
do Oceano Índico eram os
mercadores muçulmanos,
e o progresso daqueles
estrangeiros cristãos não
foi visto com bons olhos.
Uma tensão crescente
culminou num ataque-
surpresa à feitoria recém
-instalada. Nesse conflito,
44 super dezembro 2022
Cabral não aceitou
um cargo secundário
na viagem seguinte.
E a monarquia
nunca mais lhe deu
uma missão.
50 portugueses morreram,
incluindo o escrivão Pero
Vaz de Caminha.
A uma reação imediata,
Cabral preferiu aguardar
alguns dias por um pe-
dido de desculpas do
samorim. Afinal, rom-
per com as lideranças da
cidade não seria bom para
s
os negócios. O problema
é que essas desculpas
nunca chegaram – nem
ta
is
uma garantia de que ou-
ev
tros atos de terrorismo
não viriam em seguida.
R
O português, então, re-
solveu não deixar bara-
il
to. Ordenou o ataque e
as
o saque de dez navios
mercantes árabes, assas-
Br
sinando 600 tripulantes.
E foi além: bombardeou
Calicute por dois dias.
Essa pequena guerra,
claro, arruinou qualquer
possibilidade de manter
o comércio por lá. Mas
nem tudo estava perdido.
Pelo contrário.
Saindo às pressas da
zona de conflito, sua
expedição foi para outra
cidade mais ao Sul: Co-
para os chim. E ali houve har-
portugueses monia nos interesses de
de 1520, lado a lado. A cidade era
quando território vassalo de Cali-
Cabral cute e queria se libertar do
morreu,
sua esposa domínio do samorim. O
era mais líder local imediatamente
importante autorizou a instalação de
que ele. O uma feitoria portuguesa, e
túmulo em foi ali, não na prestigiada
que estava
enterrado Calicute, que Cabral fez a
só tinha o festa: encheu seus navios
nome dela. com especiarias preciosas.
 Missão cumprida, era
hora de voltar. Em janeiro
de 1501, nove meses após
a partida de Lisboa, a ex-
pedição finalmente toma-
va o caminho de volta.
Um retorno que não
rolaria sem percalços. Na
costa da África, um dos
navios encalhou num
banco de areia e come-
çou a afundar. Como os
outros já estavam cheios,
Cabral decidiu o que pa-
recia a única coisa a fazer:
abandonar essa parte de
carga valiosa embarcada.
Já na altura de onde ho-
je fica o Senegal, a frota,
então reduzida a cinco
navios, reencontrou a
nau de Diogo Dias, aquela
s
que tinha desgarrado no
ta
Cabo da Boa Esperança.
Mas foi como ver um na-
is
vio-fantasma. Ou quase.
ev
Só restavam sete homens
a bordo, doentes e à beira
R
de morrer de fome. Um
deles de fato morreu, mas
il
de emoção ao constatar
as
que seria resgatado.
Finalmente, em junho
Br
de 1501, Pedro Álvares
Cabral adentrou o Rio
Tejo, em Lisboa. Dos
1.500 homens que ha-
viam partido, cerca de
500 retornaram vivos.
Mas essa era uma taxa
de perda comum pa-
ra uma época em que
navegações transoceâ-
nicas equivaliam a via-
gens espaciais. O ponto
é que ele foi acolhido
com a pompa de quem
conseguira aumentar
as riquezas do governo
e dos investidores pri-
vados. “O rei o recebeu
em Santarém, em seu
suntuoso palácio de ve-
rão”, conta o historiador
Eduardo Bueno, no livro
A Viagem do Descobrimen-
to. As 700 toneladas de
especiarias que trouxe
renderam um lucro de
800%, e inflamaram os
europeus a novas traves-
sias, que redesenhariam
o mapa-múndi.
No fim, o ostracismo
Informado do conflito em
Calicute, Dom Manoel 1º
logo começou a armar
uma “Esquadra da Vingan-
ça”. Queria retomar a rota
Atlântico-Índico e chegar
à cidade asiática com todo
o poderio bélico que uma
armada pudesse levar.
Mas, para a chefia dessa
expedição, o rei preferiu
Vasco da Gama, já famo-
síssimo por ter sido o pri-
meiro a chegar por mar
a Calicute. Cabral ficaria
em segundo plano, num
cargo de subcomandante.
Sentindo-se humilhado,
teve a ousadia de recusar
a oferta. Foi o suficiente
para virar persona non
grata diante da monarquia
portuguesa – que nunca
mais lhe deu uma missão.
Quase nada se sabe
de sua vida entre 1501 e
1520, quando morreu. Só
que teve o casamento com
Isabel de Castro, uma no-
bre com mais sangue azul,
e dinheiro, do que ele, em
1503. Pedro Álvares Ca-
bral virou página virada
na história de Portugal.
Caiu no obscurantismo
e só “ressuscitou” pela
vontade de Dom Pedro
2º contar a história de um
país com raras evidências
sobre seu passado.
Os republicanos do co-
meço do século 20 deram
continuidade a esse resga-
te: em 1903, conseguiram
que fragmentos da ossada
do português viessem para
o Brasil. Hoje esse peque-
no conjunto de ossos está
reunido num caixão pe-
quenino, dentro da Igreja
Nossa Senhora do Carmo
da Antiga Sé, no centro do
Rio de Janeiro. S
dezembro 2022 super 45
 infográfico

riQUEZA 1.000
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Infográfico Maria Clara Rossini e Natalia Sayuri Lara

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pública
il

Alegoria da Re
200
200

O rosto que aparece nas

as

notas de hoje surgiu

es
eirel pela primeira vez na
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caras

Cecíl
Br

cédula de 200 cruzados

100

nd novos. Trata-se de uma

100

mo alegoria da República.
rum
s D de Um outro design para
rlo s
Ca ndra ha
ga a mesma ideia já havia
e A C aparecido na nota de
d s
rlo um cruzeiro, em 1970.
da

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Rui Barbosa
0

1.00
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bit
c
5

0
Jus

Osw

Antes dos animais, as nossas 1 500

cédulas eram estampadas por 100
rostos de personalidades do
100.0 50 10
Brasil. E não eram só políticos: 00 50.000
desde 1942, tivemos tanto 10.000
cientistas quanto presidentes
circulando nas notas. Ao lado,
uma breve história das moedas
anteriores ao real.

46 super dezembro 2022

SI_446_Infográfico.indd 46 08/12/22 08:38

 1 2
5
10
Almirante
Tamandaré

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Aqui, alguns rostos que você

Pr

talvez não conheça: II

dro
Pe
200
D.
Principal criador da oI
escola pública no Brasil. Pedr
Defendia que o ensino D.
500

deveria ser gratuito, A inflação constante do cruzeiro deu

s
laico e obrigatório – VI origem a notas de Cr$ 5.000 e Cr$
oão
definindo as bases da D. J ta 10.000. Então veio o cruzeiro novo,
educação atual. com o valor de mil cruzeiros. No início,
1.000 5.000 10.000
is
os rostos das moedas de Cr$ 1.000,
1

Historiador, antropólogo al Cr$ 5.000 e Cr$ 10.000 permanece-

s Cabr
ev

e um dos principais
edro Álvare ram os mesmos, mas passaram a va-
pesquisadores da cultura P
ler NCr$ 1, NCr$ 5 e NCr$ 10 (valores
brasileira. É autor dos li-
R

atestados por carimbos nas notas).

Tiradentes
5

vros Dicionário do Folclore

Brasileiro e História da A mesma estratégia foi adotada na
il

Alimentação no Brasil. transição do cruzeiro para o cruzado e

Santos Du
as

mont do cruzado para o cruzado novo. Este

10

Ecologista e naturalista Aleg voltaria a se chamar “cruzeiro” em 1990,

brasileiro. Tornou-se um oria sem perder zeros. Só perderia na transi-
Br

da Repú
dos principais pesqui- ção para o cruzeiro real, nossa última
blica
sadores das espécies de moeda antes do real.
beija-flores e orquídeas.
1

É considerado o patrono
da ecologia no Brasil.
D.
Ped
ro
I
D.
5

Pe
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da D Presidente 15,3%
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ns or Monarca 15,3%
10

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Militar 6,5%
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Diplomata 4,3%
Branco

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do

Explorador 4,3%
200 Cruzeiro - 1942
Dentista 4,3%
500 Cruzeiro novo - 1967
1.000 4,3%
Inventor
5.000 Cruzeiro - 1970
Político 4,3%
legendas

Cruzado - 1986 Músico 4,3%

Cruzado novo - 1989 Pintor 4,3%
Cruzeiro - 1990 Historiador 2,2%
Cruzeiro real - 1993 Pedagogo 2,2%

dezembro 2022 super 47

SI_446_Infográfico.indd 47 08/12/22 08:38

 evolução

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SEXO E
ev
R
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Br

Texto Reinaldo José Lopes

Ilustração Carol Nazatto
Design Natalia Sayuri Lara
Edição Alexandre Versignassi

48 super dezembro 2022

SI_446_Sexo-e-poder-mamíferos.indd 48 08/12/22 08:34

 s
ta
is

pOdEr
ev
R
il
as
Br

ENTRE OS MAMÍFEROS

Gorilas são de Marte:

garantem parceiras
com demonstrações de
poder. Bonobos são de
Vênus: preferem o amor à
guerra. E hienas fêmeas
desenvolveram pênis.
Entenda as soluções
que a evolução forjou
a favor dos interesses
reprodutivos deles e
delas no mundo animal.

dezembro 2022 super 49

SI_446_Sexo-e-poder-mamíferos.indd 49 08/12/22 08:34


Era uma vez um bando de babuí-
nos-verdes (Papio anubis) na savana
do Quênia. Como costuma acontecer
nos demais grupos da espécie, os ma-
cacos do bando em questão viviam
segundo a máxima “manda quem pode,
obedece quem tem juízo”. Os machos
maiores e mais fortes saíam no tapa
ou costuravam alianças políticas para
definir quem era o chefão do bando.
Quem ficava por cima monopolizava
sexualmente as fêmeas férteis.
Essa ditadura do patriarcado ter-
minou por conta de uma armadilha
involuntária. Os machos brutamontes
também eram os únicos que conse-
guiam acesso aos lixões dos hotéis
de safári que existiam na região. As
latas de lixo continham uma iguaria
cobiçada pelos grandalhões: restos de
carne bovina. Só que venenosos, pois
Br
vinham de gado com tuberculose.
A doença se espalhou por boa parte
do grupo de símios, mas os que mais
morreram foram os babuínos “Macho
Man” que comiam a carne contaminada.
Com isso, macacos do sexo masculino
menos agressivos passaram a ter uma
relação mais igualitária com as fêmeas,
e isso passou a ser uma característica
aparentemente cultural do grupo – até
os machos que saíam de outros ban-
dos na adolescência e se juntavam aos
babuínos “paz e amor” adquiriam esse
tipo de comportamento.
Essa novela da vida animal foi nar-
rada originalmente pelo primatólogo e
neurocientista americano Robert Sa-
polsky, que monitorou os babuínos
do Quênia durante décadas. A histó-
ria é só um dos exemplos de como
as relações de poder entre machos e
fêmeas de mamíferos, como nós, são
muito mais complicadas e maleáveis
do que parecem. Ok, é verdade que não
faltam exemplos de machos déspotas
– mas, mesmo nesses casos, dadas as
50 super dezembro 2022
SI_446_Sexo-e-poder-mamíferos.indd 50
condições certas, uma
relação mais equilibrada
pode acabar aparecendo,
como nos mostram os
babuínos de Sapolsky.
Fazendo as contas
Boa parte da visão tra-
dicional sobre poder e
sexo no mundo animal
– com machos agressi-
vos e fêmeas obrigadas
a submeter-se – depende
de uma espécie de teoria
econômica da reprodu-
ção, estudada há déca-
s
das pelos biólogos. O
resumo da ópera é que
os óvulos das fêmeas
ta
is
são “caros”, enquanto
ev
os espermatozoides dos
machos são “baratos”, o
R
que acaba tendo uma
série de consequências
il
comportamentais e so-
as
ciais, especialmente para
os mamíferos.
Em primeiro lugar, os
óvulos são caros porque
são raros. As fêmeas de
mamíferos dependem Hienas-
de um ciclo menstrual
que deixa seus óvulos -pintadas
“no ponto” para serem
fecundados e gerarem têm um
filhotes com sucesso.
Isso acontece com uma pseudopênis,
frequência relativamen-
te baixa – uma vez por que as
mês, mais ou menos, no
caso das mulheres, e às ajuda a
vezes bem mais raramen-
te em outras espécies. De não serem
quebra, no caso dos ma-
míferos, poucos óvulos penetradas
ficam disponíveis para a
fecundação a cada roda- à força.
da do ciclo.
Por outro lado, es-
permatozoides são ba-
ratíssimos. Centenas de
milhões deles são despe-
jados para fora em cada
08/12/22 08:34

ejaculação, e esse proces-
Após um so pode se repetir várias
vezes por dia, deixando a
incidente, maturação de óvulos e o
ciclo menstrual para trás
babuínos em termos de quantidade
e velocidade.
do Quênia Na prática, isso signifi-
ca o seguinte: enquanto as
desenvolveram fêmeas podem engravidar
apenas uma vez a cada vá-
uma cultura rios meses ou mesmo vá-
rios anos, os machos são
mais tecnicamente capazes de
emprenhar diversas fême-
igualitária as num único dia.
s
Em tese, essas dife-
entre machos e ta
renças básicas criariam
incentivos “econômicos”
is
fêmeas. muito diferentes para ca-
ev
da sexo na hora de produ-
zir bebês. As moças aca-
R
bam preferindo investir
numa renda fixa segura,
il
digamos: preferem pou-
as
cos e bons parceiros, que
aumentem a chance de
Br
que seus filhotes sejam
saudáveis (seja porque o
pai tem um DNA de exce-
lente qualidade ou, muito
mais raramente, porque a
ajuda a cuidar das crias).
Já os rapazes, de qual-
quer espécie, tendem a
procurar maior quanti-
dade de parceiras e en-
gajam-se pouco ou nada
na criação dos rebentos.
Se conseguirem for-
mar um harém só deles,
melhor ainda.
Essa é uma lógica ge-
ral da “guerra dos sexos”,
mas o contexto de cada
espécie e dos ambientes
em que cada uma vive faz
uma tremenda diferença.
É o que explica um
estudo publicado re-
centemente no perió-
dico científico Trends
in Ecology and Evolution,
SI_446_Sexo-e-poder-mamíferos.indd 51
coordenado pelas biólogas
francesas Eve Davidian e
Elise Huchard.
Nessa pesquisa, elas
examinaram os padrões
que conectam sexo e po-
der numa ampla gama de
mamíferos e verificaram
que os machos costu-
mam adotar caminhos
semelhantes rumo ao do-
mínio absoluto, enquanto
os contra-ataques evolu-
tivos das fêmeas adotam
estratégias mais variadas.
A chave, dos dois lados,
é ser capaz de controlar
quando e com quem fazer
sexo, propõe a dupla.
Gorilas mal dotados,
hienas com pseudo-
pênis
O caminho mais óbvio
e fácil de entender co-
mo isso funciona, para
quem já está familiari-
zado com coisas seme-
lhantes nas sociedades
humanas, é a intensida-
de do que os biólogos
chamam de dimorfismo
sexual. Ou seja, a dife-
rença de características
entre machos e fêmeas,
Espermato- especialmente no que
zoides são
diz respeito ao tamanho
baratos.
Óvulos são
e massa muscular.
caros. Isso Como a recompensa
faz com que de ter várias parceiras
machos é maior para os machos
busquem – na forma de mais fi-
monopoli- lhotes que levem seus
zar o maior genes para a frente –, o
número incentivo para que eles
possível de sejam capazes de impor
fêmeas, e seu monopólio, se neces-
com que
sário pela força, também
elas de-
senvolvam
aumenta. Isso acaba favo-
estratégias recendo a prevalência de
para sele- machos mais fortes.
cionar os Ao longo do tempo, a
parceiros a tendência se autorrefor-
dedo. ça. Vira uma bola de ne-
ve, até porque as fêmeas
passam a preferir incons-
cientemente esse tipo de
parceiro – são eles quem
garantem que os genes
→
dezembro 2022 super 51
08/12/22 08:34
 delas próprias passem
adiante de forma bem
sucedida, afinal, já que
produzem descendentes
mais fortes.
Entre gorilas ou ele-
fantes-marinhos, por
exemplo, os machos do-
minantes costumam ser
brutamontes com o dobro
da massa corporal das fê-
meas – 200 kg versus 100
kg no caso de um gorila
adulto e das fêmeas de seu
harém, por exemplo. As
dimensões descomunais
e o peito cheio de mús-
culos servem para con-
frontar outros machos
Fêmeas de que queiram tomar seu
poder, além de desenco-
mangusto rajar aventuras extracon-
s
jugais das “esposas”.
incitam ta
E isso parece ter um
efeito colateral curioso:
brigas entre
is
seus testículos e pênis
ev
são proporcionalmente
bandos minúsculos perto dos
R
de chimpanzés (e dos de
rivais para se machos da nossa espé-
il
cie). Ao que tudo indica,
desvencilhar
as
o encolhimento se deu
porque as fêmeas são
de machos
Br
controladas por poucos
machos. Logo, os gorilas
que as não precisam produzir
grandes quantidades de
monopolizam. espermatozoides para
competir pela fecundação
com o esperma de outros
indivíduos dentro do or-
ganismo das parceiras.
Mas o contrário tam-
bém acontece. Em algu-
mas espécies em que o
controle da vida reprodu-
tiva recai sobre as fêmeas,
elas é que tendem a ser
maiores, mais agressi-
vas ou mesmo a exibir
características aparen-
temente masculinas nos
seus órgãos sexuais. É
algo que se verifica em
52 super dezembro 2022
SI_446_Sexo-e-poder-mamíferos.indd 52
várias espécies de lêmu-
res – aqueles primatas
primitivos e esquisitões
da ilha de Madagáscar –
e suricatos (célebres por
causa do personagem Ti-
mão de O Rei Leão). Mas
o caso mais extremo é o
das hienas-pintadas (Cro-
cuta crocuta), estudadas
por Davidian na reserva
natural de Ngorongoro,
na Tanzânia.
As hienas-pintadas do
sexo feminino são porta-
doras de um pseudopê-
nis, um pouco mais curto
que o pênis verdadeiro
dos machos – só que
mais grosso e com uma
glande mais arredonda-
Bonobos da. Trata-se, na verdade,
têm testí- de um clitóris tamanho
culos enor- família, enquanto os lá-
mes: uma
bios vaginais, fundidos,
amostra de
que, entre
formam pseudotestículos.
A conformação des-
eles, a sele-
ção sexual se singular aparato das
acontece hienas fêmeas é tal que
dentro do nenhum macho é capaz
corpo das de penetrá-las contra a
fêmeas. vontade delas. Os ma-
chos precisam adotar
uma postura submissa
quando tentam se aca-
salar, e elas costumam
preferir indivíduos mais
jovens. A cópula acon-
tece pela abertura do
pseudopênis, que vai se
recolhendo “para dentro”
conforme a penetração
acontece. Parece dolori-
do, e talvez seja mesmo,
já que ambos os parceiros
passam vários minutos
lambendo sua genitália
depois da consumação
do ato. Mas foi assim
que as fêmeas da espécie
ganharam protagonismo
na seleção sexual.
As fêmeas contra
-atacam
Do lado das moças, a
estratégia radical de de-
senvolver um pseudo-
pênis muitas vezes não
08/12/22 08:34
 é necessária para equilibrar o jogo. O mais espermatozoides
importante é retomar ao menos parte – o oposto do que se dá
do controle sobre a própria capacidade com os gorilas.
reprodutiva, e dá para fazer isso das Outra possibilidade é Fossas no cio
mais variadas maneiras. a concentração da ferti-
Há, por exemplo, as fêmeas com es- lidade delas numa janela recolhem-se
pírito de agentes do caos dos mangus- tão estreita de tempo
tos-listrados (Mungos mungo), pequenos (algumas horas por ano em árvores.
carnívoros africanos aparentados aos apenas, no caso de cer-
suricatos. As fêmeas da espécie incitam tos lêmures) que, para os Assim,
brigas de seu bando com grupos vizi- machos, deixa de valer a
nhos cujo objetivo é distrair os machos pena o hábito de ficar no acasalam só
que normalmente as monopolizam. pé das parceiras.
Desse jeito, elas conseguem achar par- E quanto ao bom e ve- com quem
ceiros entre os machos do outro grupo. lho Homo sapiens? Bem,
Já as fossas (Cryptoprocta fossa), ani- nossa anatomia e fisiolo- desperta seu
mais de aparência levemente felina, gia trazem algumas pis-
endêmicos de Madagáscar, adotam a tas. Para começar, como interesse –
estratégia do “motel arbóreo”. Embora o você deve ter reparado,
bicho não seja arborícola em situações o dimorfismo sexual da empurrando
normais, as fêmeas no cio ficam espe- nossa espécie é bastante
rando os machos no alto das árvores. modesto e nem se com- os demais

s
Os pretendentes se aproximam com para ao dos gorilas – si-
aquela sede ao pote de sempre, mas elas nal de que haréns não são ta ao solo.
só se acasalam com os que realmente “naturais” entre nós.
is
despertam seu interesse – empurrando Os sinais de fertilidade
ev

os demais de volta ao solo. das humanas do sexo fe-

Um tipo de virada de mesa ainda minino também não são
R

mais sutil é o hormonal. Em muitas nada óbvios de detectar, o

espécies, as fêmeas costumam emitir que, de certa maneira, faz
il

o que os biólogos chamam de “sinais com que elas não sejam

as

honestos” de que seus óvulos estão tão diferentes das fêmeas

prontinhos para serem fecundados de bonobos.
Br

– coisas como um inchaço ou uma É verdade que inúme-

mudança da coloração na região da
genitália, por exemplo.
De vez em quando, porém, pode
valer a pena transformar os tais sinais
honestos em sinais enganadores. Em
espécies que são promíscuas, isso pode
fazer com que machos indesejáveis até
consigam copular com as fêmeas, mas
se tornem incapazes de gerar filhos com
elas, as quais “se guardam” para os ma-
chos que realmente são de seu interesse.
Os sinais enganadores sobre a fer-
tilidade parecem estar por trás, por
exemplo, da vida tranquila e relati-
vamente igualitária dos bonobos ou
chimpanzés-pigmeus (Pan paniscus).
Nessa espécie, as fêmeas têm elevado
prestígio social e muitos conflitos são
resolvidos por meio do sexo, e não da
pancadaria – justamente o contrário do
que acontece no caso dos chimpanzés-
-comuns. Já os testículos dos machos
são enormes: sinal de que a competi-
ção reprodutiva se dá dentro do cor-
po das fêmeas. Vence quem produzir
ros homens poderosos ao
longo da história fizeram
questão de monopolizar
sexualmente o maior
número possível de mu-
lheres – mas esse tipo
de comportamento é
uma “inovação” compa-
rativamente recente, que
apareceu após a invenção
da agricultura, cerca de
10 mil anos atrás. Mes-
mo depois disso, essa era,
em geral, uma opção para
poucos. Sempre foi muito
mais comum uma relação
mais íntima e menos de-
sigual entre homens e
mulheres. Eis aí um pen-
samento encorajador. S

dezembro 2022 super 53

SI_446_Sexo-e-poder-mamíferos.indd 53 08/12/22 08:34

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a Edição Alex
el Battagli
Texto Rafa

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54 super dezembro 2022

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(em US$
milhõeS)
não
---
divUlgado
Um épico sobre a Hollywood
da década de 1920: nas telas,
a era de ouro do cinema mu-
do e seus bastidores; as festas
extravagantes que marcaram
os roaring twenties (“os loucos
anos 20”), período de eferves-
cência econômica e cultural
dos EUA pós-Primeira Guer-
ra (tem a mesma atmosfera
de filmes como Cantando
na Chuva e O Grande Gats-
by). Com Brad Pitt e Margot
Robbie no elenco e direção
de Damien Chazelle (de Whi-
plash e la la land).
FEVEREIRO
---
Os Banshees
de Inisherin
Homem-Formiga e
a Vespa: Quantumania
pode eStar no oScar 2023
gênero tipo
drama aventUra Sci-fi original adaptação
ação romance policial remake continUação
terror comédia mUSical preqUel ( prelúdio )
JANEIRO
Cate Blanchett aprendeu
a tocar piano de verdade
(e até a reger uma or-
s
questra) para viver uma
ta
prestigiada composito-
ra neste drama de Todd ---
is
Fields. A trilha sonora é
ev
78 da islandesa Hildur Guð-
nadóttir, que venceu o
R
Oscar por seu trabalho
Babilônia em Coringa (2019). Tár
il
as
Br
Steven Spielberg teve uma infân-
cia conturbada. Na escola, apa-
nhou por ser judeu. Em casa, seu
pai, um renomado engenheiro da
General Electric, pouco aparecia
Martin McDonagh (de Três
--- (a mãe se apaixonou por um dos
Anúncios Para Um Crime,
indicado a sete Oscars) I Wanna melhores amigos do marido; e o
casamento terminou assim que
mostra o fazendeiro irlan-
dês Pádraic (Colin Farrell)
dance With o filho se formou). O refúgio de
Steven eram os filmes caseiros
tentando retomar a relação Somebody: que fazia com os colegas.
com seu amigo de longa
data, Colm (Brendan Gle- A História No documentário Spielberg (2018),
disponível no HBO Max, o cineasta
eson) – que havia cortado o
camarada de sua vida sem
de Whitney falou sobre seu passado – e como
todas essas experiências influen-
dar explicações. Houston ciaram a sua carreira. Já neste Os
Fabelmans, seu 33° filme, ele vai
contar essa história, mas na forma
de ficção. “É o projeto mais pes-
--- 40 soal que já fiz”, disse o diretor no
Festival de Toronto de 2022, onde
a obra ganhou o prêmio principal
– um termômetro importante pa-
Os ra o Oscar: os últimos dez vence-
dores de Toronto ganharam, pelo
Fabelmans menos, uma estatueta.
→
dezembro 2022 super 55
 A carreira de M. Night
Shyamalan divide opiniões:
o diretor de O Sexto Sentido
(1999) e Fragmentado (2016)
também tem no currículo
--- bombas como O Último Mes-
tre do Ar (2010) e Depois da
Terra (2013). Aqui, uma garota
e seus pais viram reféns de
quatro estranhos – que exi-
gem que a família faça uma
escolha para evitar o apo-
calipse. Shyamalan gravou
Batem com lentes dos anos 1990
para evocar a estética dos
à porta suspenses da época.
125
is
ev
R
Shazam: Fúria dos deuses
il
as
Br
Creed III
35 90
John Wick 4:
Pânico 6 Baba Yaga Super Mario Bros – O Filme
--- Em 2001, a Samoa Americana levou a
maior goleada em jogos internacionais
da história do futebol: 31 a 0, em jogo
contra a Austrália. Dez anos depois, sob
o comando do técnico Thomas Rongen,
conquistou sua primeira vitória oficial – e,
em seguida, uma classificação inédita para
a fase final das Eliminatórias da Oceania
Next para a Copa. Essa história de superação é
tema do novo filme de Taika Waititi (Jojo
Goal Wins* Rabbit), estrelado por Michael Fassbender.
56 super dezembro 2022
Entre os anos 1990 e 2000,
Brendan Fraser era um astro
de filmes de ação e comédia.
Em 2003, foi vítima de assédio
sexual. Entrou em depressão – e
--- nunca mais conseguiu papéis de
destaque. A Baleia, dirigido por
Darren Aronofsky (Cisne Negro;
Mãe!), consolida sua volta por
cima: ele vive um professor com
obesidade severa que busca se
reconectar com a filha. Pela per-
formance, Fraser recebeu seis
minutos de aplausos no Festival
de Veneza, um dos mais impor-
A Baleia tantes do cinema.
MARÇO Cinco anos depois de Creed II
(2018), Adonis Creed (Michael
B. Jordan) segue como cam-
peão absoluto no boxe. Mas
s
as coisas se complicam ao re-
ta encontrar Damian (Jonathan
Majors), amigo de infância que
passou anos na prisão – e quer
desafiá-lo no ringue. O filme é a
--- estreia do próprio Jordan na di-
reção (ele também atua como
produtor), mas será o primeiro
da franquia Rocky Balboa sem
Sylvester Stallone: o ator, que
criou o personagem nos anos
1970, abandonou o projeto por
divergências criativas.
---
ABRIL
---
Dungeons & Dragons
* Ainda sem título em português . Na tradução livre, é “O Próximo Gol Leva”.
 MAIO Em 2019, a Disney anunciou
que a atriz Halle Bailey viveria
Ariel na adaptação live-action
da animação de 1989. Bailey
também é cantora e, desde
--- a adolescência, faz parte da
gravadora de Beyoncé. Com o
anúncio, porém, surgiram co-
mentários contrários à escolha,
340 que se opunham à ideia de uma
mulher negra assumir o papel
de uma personagem que, supos-
200
tamente, deveria ser branca. A
resposta às falas racistas veio na
forma de trend nas redes sociais:
após o lançamento do trailer,
Guardiões as reações de crianças negras
Velozes e da Galáxia A Pequena assistindo ao vídeo (e se iden-
tificando com Bailey) bateram
Furiosos 10 Vol. 3 Sereia milhões de visualizações.

JUNHO s
Ao menos 45 roteiristas se en-
ta
is
volveram em algum grau nas
(várias) versões deste filme,
ev

que vai adaptar a HQ Ponto de

Ignição (2011). No longa, Flash
R

(Ezra Miller) volta no tempo

para impedir a morte da mãe,
il

mas isso gera problemas na sua

as

linha temporal – e na de outros

universos também. A existência
Br

de várias realidades vai permitir 200

a participação de antigos per-
sonagens da DC, como o Bat-
150 ---
man de Michael Keaton (o ator
está confirmado). Só tem um
problema: o recente comporta- Homem-
mento de Miller – duas passa-
gens pela prisão e acusações de
-Aranha:
furto, agressão e assédio – pode Através do
atrapalhar a divulgação e, pior,
a bilheteria do filme. The Flash Aranhaverso Elementos

“Eu adoraria dirigir um filme do James Bond”, con-

fessou Steven Spielberg para George Lucas, no
final dos anos 1970. “Eu tenho algo muito melhor”,
respondeu Lucas, que descreveu ao amigo uma
ideia que havia tido anos antes: “um arqueólogo
--- 200
que procura artefatos sobrenaturais”. Steven to-
pou na hora. O resultado: Os Caçadores da Arca
Indiana Perdida (1981), vencedor de cinco Oscars. O novo
filme vai se passar em 1969. Indiana (Harrison Ford,
Jones e O aos 80 anos) e sua afilhada, Helena (Phoebe Waller-
-Bridge, de Fleabag), vão atrás de antigos oficiais
Chamado nazistas que a Nasa contratou para ajudar os EUA Transformers:
do Destino a vencer a União Soviética na corrida espacial. O Despertar das Feras →

dezembro 2022 super 57

 JULHO
Assassinos
A ideia de fazer um filme em
live-action sobre a boneca da
100
da Lua das 200

Mattel ronda Hollywood des- oppenheimer Flores

de 2009. Passou por diversos
estúdios, diretores e roteiristas
— até que, em 2019, a Warner
Bros. anunciou Margot Rob-
100 C i l l i a n M u r p h y, R o b e r t O diretor Martin Scorsese vai
bie no papel principal. Desde
Downey Jr., Emily Blunt, Matt contar a história dos assassi-
então, o projeto ganhou ares
Damon, Florence Pugh... O natos em série de membros da
de filme cult. Não apenas pelo
responsável por juntar esses tribo Osage, que aconteceram
elenco (que inclui também Ryan
talentos é Christopher Nolan. em Oklahoma (EUA) nos anos
Gosling como Ken, o namorado
Depois de Dunkirk (2017), o di- 1920, quando esses indígenas
da Barbie): a direção é de Greta
retor volta à Segunda Guerra descobriram petróleo em suas
Gerwig (ladybird), que coescre-
Mundial para contar a história terras. Será a sexta colabora-
veu o roteiro com o cineasta (e
do físico americano J. Robert ção do cineasta com Leonardo
seu marido) Noah Baumbach
Oppenheimer, peça-chave na DiCaprio – e a décima com Ro-
Barbie (de História de um Casamento).
criação da bomba atômica. bert De Niro.

s
As gravações do sétimo Missão: Impossível foram conturbadas. Parali-
ta 290
is
sações durante a pandemia atrasaram o filme (um áudio de Tom Cruise
brigando com membros da equipe por não respeitarem os protocolos
ev

de saúde vazou – e viralizou). A preferência do diretor Christopher Mc-

Quarrie por realismo nas cenas também causou um desentendimento: a
R

produção queria explodir parte de uma ponte centenária (e abandonada)

na Polônia. O governo local apoiou, mas os moradores defenderam a
il

construção como um símbolo histórico. No fim, McQuarrie desistiu da

Missão: impossível – Acerto
as

ideia. O longa é a primeira parte da despedida do super-herói agente

secreto Ethan Hunt (Cruise); a segunda estreia em 2024. de Contas Parte 1
Br

AGOSTO SETEMBRO
120

100
Besouro Azul ---

---

A
Haunting Os
Mansão Mal-Assombrada in Venice* Mercenários 4

*Ainda sem título em português. Trata-se de uma adaptação do romance

58 super dezembro 2022 homônimo de Agatha Christie. No Brasil, o título da obra é A Noite das Bruxas.
 OUTUBRO NOVEMBRO
Este vilão do Homem-Aranha ---
apareceu nos quadrinhos há
quase 60 anos, em 1964. Sua
estreia nas telonas bateu na
trave duas vezes: Sam Raimi,
--- diretor da trilogia estrelada
por Tobey Maguire, considerou
Duna: Parte 2 usá-lo no quarto filme do he-
rói com esse ator (que nunca
saiu). Em 2018, o cineasta Ryan
Coogler também quis que ele
aparecesse em Pantera Negra.
No fim, a Sony, estúdio que já
Wish
fez filmes de outros antago-
nistas do Aranha (Venom e
--- Morbius), lançará um focado
no personagem, que será in-
terpretado pelo ator Aaron
Taylor-Johnson (o Mercúrio
Kraven
s
de Vingadores: Era de Ultron).
ta
is
---
ev

DEZEMBRO
R

Jogos Vorazes - A Cantiga

il

dos Pássaros e das Serpentes

as
Br

Em 2020, a escritora Suzanne Collins lançou um livro do universo

Jogos Vorazes que antecede a saga da heroína Katniss Everdeen.
A obra narra a juventude de Coriolanus Snow – e como ele se
--- tornou o ditador de Panem (no cinema, o vilão foi vivido pelo ator
Donald Sutherland). Aqui, Snow (que nasceu na Capital, a rica
sede de Panem) recebe a contragosto a tarefa de ser o mentor
--- Aquaman 2: de uma garota do pobre Distrito 12 (o mesmo de Katniss) na
O Reino décima edição dos Jogos Vorazes. O diretor é Francis Lawrence,
que também comandou os últimos três filmes da saga.
Wonka Perdido

PARA FICAR DE OLHO NApoleão

Três lançamentos que ainda
não têm data de estreia
definida – mas que merecem
ficar no radar.
Mostrará a ascensão e queda do
líder francês (Joaquin Phoenix)
e a conturbada relação com
sua primeira esposa, Josefina
(Vanessa Kirby). Este filme do
Apple TV+ é de Ridley Scott,
que trabalhou com Phoenix há
22 anos, em Gladiador (2000).
FerrAri
O filme sobre Enzo Ferrari
(Adam Driver) se passa em 1957
e vai abordar a ameaça de fa-
lência da montadora de carros,
o turbulento casamento com a
esposa, Laura (Penélope Cruz),
e sua participação na Mille Mi-
glia, corrida que cruzava a Itália.
mAUricio de soUsA
A cinebiografia sobre o criador
da Turma da Mônica ainda não
tem título oficial. Ela será estre-
lada por Mauro Sousa, filho de
Mauricio. Nos próximos anos,
devem estrear também longas
do Chico Bento, Penadinho e da
Turma da Mônica Jovem.

dezembro 2022 super 59

 oráculoilustrações lUísA vidEirA design jUliAnA krAUss
3,5
vezes por mês. é a
frequência média de choro
entre as mulheres. entre
os homens, é de 1,9 vez a
cada 30 dias. (1)

s
ta
is
ev
R
il
as
Br

Não existe um consenso. Mas algo já está confirmado:

as lágrimas que brotam de um estado emocional intenso
têm composição química diferente das que saem dos seus
olhos quando você pica cebola. Além das enzimas, lipídios,

por que a gente

metabólitos e eletrólitos que fazem parte de qualquer lágri-
ma, as de fundo emocional contêm mais proteínas. E essa
diferença as torna mais viscosas, de forma que aderem à
pele e escorrem pelo rosto mais lentamente. E qual o efeito

solta lágrimas
disso? Elas ficam mais propensas a serem vistas por outras
pessoas. E assim podem desencadear vínculos sociais. Para
os pesquisadores que apostam nessa linha, lágrimas no
choro teriam sobrevivido ao filtro da evolução para que
sejamos notados. Mostram para outros que estamos pas-

quando chora? sando por uma situação com a qual não conseguimos lidar
sozinhos. Que precisamos de ajuda. Derramar lágrimas
ao chorar, portanto, seria uma vantagem evolutiva, para
demonstrar vulnerabilidade – seja de natureza física ou
psicológica – e conquistar apoio. Empatia que chama. (2)

60 super dezembro 2022

 EDIÇÃO ALEXANDRE CARVALHO

de onde veio o símbolo de coração?

Um dos registros mais antigos é o do silphion, uma planta de
flores amarelas que, há 2,5 mil anos, era produto valioso no Mediter-
râneo. Tanto que passou a aparecer em moedas de prata. E a figura
da semente, cunhada no metal, é idêntica ao símbolo de coração (❤).
Essa popularidade pode ter colaborado para que sua imagem passas-
se a representar o amor. E, por consequência, o coração (órgão que
acelera quando você vê o ser amado). Mas a ocorrência mais antiga de
um símbolo retratando de fato um coração é mais recente. Aparece
numa ilustração francesa do século 13: um jovem entrega seu coração
à amada. Por que, então, haveria um hiato milenar entre o silphion e
esse símbolo? Porque talvez uma coisa não tenha a ver com a outra.
Pode ser que a imagem seja apenas uma simplificação do coração
anatômico. Basicamente todo mundo já tinha visto um coração de
porco, que é bem parecido com o nosso. (3)

s
pá pum Eu posso inventar um sobrenome para o meu filho? ta
is
É proibido inventar sobrenomes para nossos tradição e adotar o sobrenome da esposa. Aliás,
descendentes – ou para nós mesmos. Isso por- em caso de órfãos de sobrenome desconheci-
ev

que a regra é clara: ele deve seguir o de seus do, cabe ao registrador civil escolher um. (No
Quanto tempo, de genitores. O Estado encontra no sobrenome um segundo filme da saga O Poderoso Chefão, há
R

verdade, durou a fator de segurança para identificar as pessoas, a cena em que o futuro mafioso, ainda menino,
Guerra dos
indicando de que família cada uma vem. Uma chega da Itália aos EUA sem conseguir falar;
il

Cem Anos?
alteração na lei, em 2022, permite que você dê o profissional da imigração, então, identifica
as

116 anos (1337–1453). ao seu filho só o sobrenome dos avós ou dos bi- que ele vem da cidade de Corleone, e esse vira
savós (precisa mostrar documentação provando seu sobrenome.) Ah, mas e a Xuxa (nome de
Br

tem a ver essa ascendência). Também dá para incluir no batismo: Maria da Graça Meneghel), que incluiu
RG sobrenomes de outros ascendentes, mesmo o pseudônimo no sobrenome dela? Não foi isso.

130
que eles não constem no nome completo dos O que a apresentadora fez foi adicionar ao seu
seus pais. Modificações só podem ser feitas nas prenome o apelido pelo qual todo mundo a co-
hipóteses que incluem casamento, divórcio e nhece. E isso a lei permite. Desde junho de 2022,
se for uma criança adotada legalmente. Vale aliás, qualquer pessoa com mais de 18 anos pode
mil é a quantidade aproxi- também para matrimônios homoafetivos. E trocar de prenome – inclusive substituindo-o
mada de nomes diferentes nos heteroafetivos o homem pode quebrar a por um apelido.
que existem no Brasil
(grafias distintas, como
em Isabel e Izabel, valem
como um nome só). (4)
qual foi o primeiro Não dá para cravar quando a entrega de comida começou. Na Roma
outro DaDo alimento entregue Antiga, já existiam restaurantes de fast food, e provavelmente alguém
relevante sem por delivery? pediu para entregar, rs. O primeiro registro de delivery da história vem
nenhuma ligação da Ásia: no fim do século 18, dava para pedir naengmyeon (uma sopa
fria de macarrão) e receber em casa na Coreia. Isso aparece num diário

r$ 130
mil. Será o novo teto de
de 1768, de um estudante chamado Hwang Yoon Seok, que pediu o
caldo com noodles para o almoço. Essa prestação de serviço teve novo
estímulo em 1890. Um empresário de Mumbai, na Índia, fornecia refei-
ções para operários. O empreendimento foi chamado de dabbawalas. O
nome vem de dabbas, o termo para os recipientes (latas de metal) em
ganhos anuais para quem
que os almoços eram entregues – e ainda são: mais gente abriu serviços
é MEI, caso passe o projeto
de lei 108/2021, que tramita assim e a ideia se espalhou. Diferentemente dos deliveries aos quais
pelo Congresso. Atualmen- estamos habituados, este também coleta comida caseira nos lares de
te, ele é de R$ 81 mil. famílias boas de cozinha.
Reportagem Alexandre Versignassi, Alexandre Carvalho, Leonardo Caparroz, Luisa Costa, Maria Clara Rossini e Rafael Battaglia. Fontes (1) Harvard Medical School.
(2) Why Humans like to Cry: Tragedy, Evolution, and the Brain, de Michael R. Trimble. (3) Why Does the Heart Symbol look That Way?, da PBS Origins. (4) IBGE.
dezembro 2022 super 61
 oráculo
Praticar palavras cruzadas realmente ajuda
a prevenir o Alzheimer?
as
Durante um tempo, sim. Começar a praticar
palavras cruzadas ajuda a prevenir o comprome-
Br
timento cognitivo leve, que pode evoluir para o
Alzheimer. Um estudo americano apontou que
indivíduos fazendo palavras cruzadas tiveram
menor perda de memória do que aqueles que
exercitaram o cérebro com outros jogos que
estimulam o raciocínio. A constatação juntou-
se a outra boa notícia: exames de ressonância
magnética revelaram um menor encolhimento
no cérebro dos “cruzadistas” – essa redução de
tamanho é comum em quem tem enfraqueci-
mento da memória e dificuldade progressiva
de raciocínio. Mas há um porém: os efeitos
positivos diminuem caso a pessoa passe anos
pergunte
ao oráculo
Escreva para
alexandre.santos@abril.com.br
mencionando sua cidade e
estado – ou mande a pergunta
via direct no Instagram.
62 super dezembro 2022
qual a função da
primeira-dama do brasil?
Oficialmente, nenhuma. Não há como a primeira-dama assumir
um cargo para o qual não foi eleita. No entanto, há uma tradição de as
esposas dos presidentes brasileiros se envolverem em programas sociais
e ações beneficentes, tudo feito de forma voluntária. Até porque não há
salário previsto para os cônjuges dos chefes do Executivo. Michelle Bolso-
naro, por exemplo, atuou na inclusão social de pessoas com deficiência.
Sua antecessora, Marcela Temer, foi embaixadora do programa Criança
Feliz, voltado à primeira infância. No Brasil, esse costume vem de 1942.
Foi quando Darcy Vargas (esposa de Getúlio) criou a Legião Brasileira de
Assistência (LBA). A instituição visava a ajudar as famílias dos soldados
brasileiros enviados à Segunda Guerra Mundial, com recursos doados
por empresários. A implementação da LBA em cada estado da federação
ficou a cargo das esposas dos governadores. E após o fim do conflito a
associação passou a atender famílias necessitadas. Essa imagem positiva
de engajamento foi maculada em 1991, quando, sob direção de Rosane
Collor, a LBA sofreu denúncias de desvio de verba. A tal ponto que a
s
ta
Legião foi extinta no primeiro dia de mandato de Fernando Henrique
Cardoso, em janeiro de 1995. (1)
is
ev
R
lista
il
Qual a montanha-
sempre com as cruzadinhas. Isso porque a
-russa mais alta
prática vai ficando mais fácil – e deixando de
ser um exercício desafiador para a mente.
do mundo?
O mais importante para o cérebro é se aventu-
rar em novas habilidades. Começar a responder
às dicas das palavras cruzadas é muito bom, se
não virar algo que você faz com o pé nas costas.
Mas vale também inscrever-se num curso de 56 segundos de pânico. É o
que dura o passeio na campeã
idioma que ainda não domina, aprender a
em altura. (4)
cozinhar ou dançar… De tempos em tempos,
incluir um novo aprendizado. Ainda assim, Kingda Ka (EUa)
os pesquisadores são realistas: mesmo com 1 138,989 m
hábitos positivos, não há totais garantias de
que a saúde mental vá ser preservada – prin-
cipalmente entre os muito idosos. (2) SUpErman:
2 EScapE from
Krypton (EUa)
126,492 m
rEd forcE
númEro incrívEl 3 (ESpanha)
89
111,95 m
4
fUry 325 (EUa)
99,06 m
dias, foi o tempo que o americano
Jeremy Harper levou para contar de StEEl dragon
1 a 1 milhão. Ele detém o recorde de 5 2000 (Japão)
velocidade para essa contagem. (3) 97 m
 só acredito Como funciona Ele guarda um conjunto de informações (geralmente
letras compondo um link) ao qual você tem acesso.

vendo um QR code? Enquanto um código de barras muda a distância e lar-

gura das barras para codificar informações, o QR code
faz o mesmo com base na organização dos quadrados
quando você escaneia a imagem com o celular. Veja o
que cada posição do QR codifica.

1 A leitura começa com

os quatro quadradi- 3
4
A quarta posição
é basicamente um
nhos do canto inferior
direito. Eles apontam
3 buraco vazio que in-
dica que a mensagem

3
como o conjunto está
acabou. São como os
codificado (se são
códons de parada do
números, letras, byte,
DNA, que marcam o
kanji…). A leitura é
fim de uma proteína.
sempre feita de duas
Mesmo que o módulo
em duas colunas.
4 2 tenha informado

2 3 ta
s 3 3
quantos caracteres
a mensagem tem, o
4 funciona como uma
is
5 5 5 5 5
Os quadrados acima
linha de chegada.
ev

indicam quantos

5
caracteres tem a
mensagem – se é
3 3 3 3 3
R

um link curto ou um
Os últimos módulos
código gigante de pix,
5
il

fazem parte de um
por exemplo.
as

esquema complexo

3 3 3 3 3 2
de correção de erro.
Isso garante que,
Br

mesmo que o QR

5
Os módulos se-
code esteja sujo ou
guintes guardam a
mensagem em si. O
celular lê esses qua- 3 3 1 danificado, o celular
ainda seja capaz de
ler a mensagem.
dradinhos em blocos
de 4x2, seguindo um
zigue-zague, e des-
cobre o que cada um MARCADOR DE POSIçãO
quer dizer.

por que guiana e Suriname fazem parte da américa do EStranhoS no ninho Gráfico e ícones Natália Sayuri

Sul, mas não da américa latina?

Porque não importa só a localização, mas também o idioma

e o passado colonial. Para uma nação ser latino-americana, seus ha-
bitantes devem falar majoritariamente línguas derivadas do latim:
português, espanhol ou francês. Isso coloca no mesmo balaio os países As ilhas malvinas com 780 mil e A ilha de saint martin
da América do Sul, menos a Guiana, cujo idioma é inglês, e o Surina- (Falklands para os 550 mil habitantes, é um caso à parte: fala
me, onde se fala holandês. Entram também os da América Central, britânicos) são ex- respectivamente, francês no Norte e
menos Belize (inglês). E parte do Caribe, à exceção dos anglófonos, ceção ao esquema Guiana e Suriname só holandês e inglês no
“América Latina e não têm populações Sul. Com imigrantes
como Jamaica, Bahamas e Trinidade e Tobago. Para evitar confusão, Caribe”. Fala-se in- menores na América da República Domi-
de qualquer forma, o normal é dizer “América Latina e Caribe” para glês por lá e ficam no do Sul que a Guiana nicana, o espanhol
se referir a qualquer coisa nas Américas que não seja EUA e Canadá. Atlântico Sul. Francesa (294 mil). também circula.
Fontes (1) Artigos “Legião Brasileira de Assistência e políticas sociais: primeiro-damismo, gênero e assistência social”, “As-
sistência à saúde na trajetória da primeira-dama Sarah Kubitschek”. (2) “Computerized Games versus Crosswords Training in
Mild Cognitive Impairment”; The Global Council on Brain Health. (3) Guinness World Records.
(4) Roller Coaster DataBase https://rcdb.com/rhr.htm?m=1 dezembro 2022 super 63
 oráculo

Como as marcas determinam a validade

dos antitranspirantes?
Antitranspirantes são dois em um: reduzem o suor
e o cecê. (Diferentemente dos desodorantes, que não ini-
bem o suor; só reduzem o mau cheiro, disfarçando-o com
fragrâncias agradáveis ou atuando sobre as bactérias.)
Eles inibem a transpiração com sais de alumínio, blo-
queando as glândulas sudoríparas da pele, responsáveis
pela produção de suor. A reação química que promovem
fornece um bloqueio superficial e temporário. Os sais
também combatem as bactérias que devoram proteínas
e gorduras do suor – liberando, em troca, substâncias
fedidas. Dito isso, vamos à duração deles. As marcas
precisam informar ao consumidor por quanto tempo os
antitranspirantes cumprem sua missão. Para isso, fazem
testes com voluntários. A ideia é comparar quanto suor
uma pessoa libera usando ou não o antitranspirante em
determinado período de tempo. A Nivea, por exemplo,

o que é o sésamo do
s
faz assim: seus voluntários vestem camisetas de um
ta
tecido que absorve o suor. Os indivíduos seguem suas
rotinas: primeiro sem usar o antitranspirante da marca;

“abre-te sésamo!”?
is
depois, aplicando o produto e usando outra camiseta. Aí
ev

as duas roupas são pesadas para verificar quão ensopada

está cada uma: é a chave para comparar quanto suor
R

o voluntário liberou em cada ocasião. Desta forma, os

A expressão, você sabe, é da história Ali Baba e os Quarenta testes determinam se o produto é capaz de reduzir a
transpiração por 48 ou 72 horas. (1)
il

ladrões, o conto mais famoso da coletânea Mil e Uma Noites. Na

as

narrativa, o comerciante Ali Baba usa a frase mágica para abrir a

porta de uma caverna onde ladrões guardam seus tesouros roubados.
Br

Mas Sésamo não era o nome de algum porteiro do esconderijo. A

escolha do termo tem relação com a botânica. Sésamo (Sesamum
indicum) nada mais é do que chamamos no Brasil de gergelim: planta
originária do Oriente, capaz de crescer em solos nos quais outras
lost in Að leggja
plantas teriam dificuldade. O uso na história é uma analogia: tem
a ver com suas sementes ficarem protegidas por uma cápsula que
translation höfuðið í
Origem Islândia
se abre quando elas ficam maduras. O gergelim é muito usado na
culinária, seja com suas sementes cruas em pães e saladas, seja bleyti.
transformadas em óleo para fritura. São ricas em fósforo, potássio,
Deitar sua cabeça
cálcio, magnésio, fibras e antioxidantes. Na forma de óleo, fazem
bem para o coração e têm propriedades anti-inflamatórias. Tudo de
na água.
bom. Se o Sésamo de Ali Baba tinha poderes sobrenaturais sobre Se algum islandês lhe fizer essa sugestão (lembrando que
a entrada em cavernas, o gergelim é um verdadeiro tesouro – mas a água é geladíssima por lá), calma: é só para você refletir
para a sua saúde. sobre um assunto durante mais tempo.

Não. O discurso das pessoas deve

pensando A liberdade de ser julgado pelo escrutínio público, e

bem... expressão deve não pelas autoridades. A prática da

virtude requer a escolha consciente
Filósofos de ter limites? do bem sobre o mal. E a censura de
ontem opinam em opiniões seria um meio ineficaz de
assuntos de hoje proteger a moralidade pública, uma
por Alexandre Carvalho vez que enfraqueceria a capacidade
john milton de o indivíduo reconhecer a verdade
1608–1674 usando sua razão.

64 super dezembro 2022

 manual Como começar o
por Rafael
Battaglia próprio podcast?
1 � escolha bem o tema
A oferta de podcasts
é absurda. Então vale
identificar quais nichos
renderiam mais. Ouça
programas de vários
formatos (narrativos,
ficcionais, monólogos) e
analise as listas de mais
Fontes Bia Guimarães, jornalista e coapresentadora do podcast 37 Graus. Carlos Merigo, sócio-fundador do B9 e apresentador do Braincast.
ouvidos. A partir daí, es-
colha um tema pelo qual
seja apaixonado – desde
que seja possível fugir do
óbvio na abordagem.
3 � corta e corta
is
Para editar, softwares
gratuitos, como Auda-
ev
city e Anchor, são boas
opções para iniciantes. E
R
você não tem de colocar
o seu podcast nas (várias)
il
plataformas de streaming.
as
Há serviços de hospedagem
que encurtam esse proces-
so: você publica lá e ele se
Br
encarrega da distribuição.
Um dos mais usados é o
próprio Anchor.
para saber mais 1, 2, 3, testando
Vai ter entrevistas remotas? Evite Roteiros de podcast que não se atêm à
videoconferência (Zoom, Meet etc.): linguagem falada soam monótonos. Opte
a qualidade do áudio deixa a desejar. por frases curtas e com expressões do dia
Prefira plataformas voltadas para a dia. Leia o texto em voz alta antes e veja
podcast, como Zencastr e Riverside. se soa natural.
Sim. Este filósofo, referência do li-
beralismo, foi defensor da liberdade
de expressão. Mas não sem limites.
O indivíduo deveria ser independen-
te em tudo o que diz respeito só a ele.
O poder público estaria autorizado
a interferir nessa liberdade para a
proteção do coletivo: quando ela
john stuart mill coloca em risco a própria sociedade
1806–1873 ou um indivíduo.
Fontes (1) Leonardo Adami, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Nivea.
2 � não Desista por falta
De estrutura
Você não precisa contar
com todo o aparato de um
estúdio: use o celular ou
microfones com entrada
USB (há opções a partir de
R$ 150). O importante é
evitar que o som reverbere
(e pareça que você gravou
no banheiro). Para isso,
vale usar tapetes, cobrir-
se com lençol – ou gravar
dentro do guarda-roupa.
s
ta
4 � grave um piloto…
…e mostre para amigos
e potenciais ouvintes.
Construir audiência
demora. Participe de
outros podcasts e di-
vulgue o seu trabalho.
Publique periodicamente
para que o público saiba
que é sério e adquira o
hábito de acompanhar.
Mas seja realista: manter
um programa diário (ou
até mesmo semanal)
sozinho dá trabalho.
Para tirar o podcast do papel, existem
programas de aceleração e editais
de fomento, como o Google Podcast
Program e o Sound Up Brasil (este
prioriza criadores de conteúdo negros).
Depende. A liberdade de expres-
são costuma implicar uma assime-
tria de poder. O ouvinte/leitor tem
meios de identificar a verdade do que
está sendo dito? Ou de se defender
de ofensas do orador? Se tiver, tudo
bem. Caso contrário, não há equilí-
brio entre as partes, e o mentiroso
michel foucault ou ofensor teria vantagem sobre o
1926–1984 alvo de sua comunicação.
dezembro 2022 super 65
 última página DESCULPA QUALQUER COISA E ATÉ LOGO

Quão rápido Papai Noel deveria viajar para entregar presentes para todas as crianças cristãs do

Mete marcha
mundo em uma única noite? Segundo um cálculo feito por estudantes da Universidade de Lei-
cester, na Inglaterra, o bom velhinho atingiria 5,6 milhões km/h – 0,5% da velocidade da luz.
Veja aqui mais dados “realistas”. Infográfico Natalia Sayuri Lara e Maria Clara Rossini
Ilustração Nathalia Takeyama

NÚMERO ESTIMADO DE
criançaS criStãS NO MUNDO aSSUmindo Um pESo dE

715
MILHÕES

KG
s
para cada prESEntE, ta
is
ev

SEU trEnó dEvE tEr

capacidadE para

715
R

MIL TONELADAS
il
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Br

PARA ATINGIR A META, PAPAI NOEL

DEVE deixar preSenteS EM
eStimando Uma média
de trêS criançaS
POR SEGUNDO

por domicílio, Seriam

DOMICÍLIOS

oS cálcUloS aSSUmem

238 12 5.600.000
qUe noel cUmpriria
Uma Jornada de

logo, SUaS rEnaS têm dE viaJar a

H
km / h

milhõEs dE visitAs
66 super dezembro 2022 Fonte Universidade de leicester; shorturl.at/pvzS4

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