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TEXTO 1

DE VOLTA AO CORPO
MANIFESTAÇÕES
MANIFESTAÇÕES RÍTMICAS
RÍTMICAS E
E EXPRESSIVAS
EXPRESSIVAS
UNIDADE 1 DE VOLTA AO CORPO

UNIDADE 1

De Volta ao Corpo
Nesta primeira Unidade você vai se concentrar em si mesmo. Como assim?
O ritmo no ser humano se dá no corpo, através de seus movimentos e, antes de
focalizarmos o corpo do seu aluno, é preciso que você perceba a si mesmo. Correto?
Inicialmente, vamos relembrar concepções de corpo já vistas
por você em outras disciplinas e compará-las a que trazemos aqui.
Vamos entender o movimento como elemento constituinte do corpo e
meio de expressão e comunicação.
Em seguida, será sua vez de se exercitar e desenvolver em
si mesmo sua percepção corporal, experimentando fundamentos da
consciência corporal e da coordenação motora.
Afaste os móveis da sala. É hora de despertar o seu potencial
criativo!

Objetivos
Ao finalizar esta Unidade, esperamos que você possa:
comparar as concepções de corpo abordadas em outras disciplinas desse curso com a
concepção aqui apresentada;
conceituar corpo como totalidade mente e fisicalidade;
conceituar o movimento como elemento constituinte do corpo e meio de expressão e
comunicação;
aplicar em si mesmo fundamentos da consciência corporal como eixo e alinhamento,
base de apoio e sustentação, peso e forma corporais;
aprimorar a coordenação motora focalizando lateralidade, movimento das pequenas e
das grandes articulações, movimento das partes e do todo corporal.

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1.1 Concepções de Corpo

1.1.1 Conceitos Abordados em Outras Disciplinas

Ao longo dos dois primeiros módulos, você estudou dife-


rentes conceitos de corpo, em diferentes disciplinas. Aqui também
vamos precisar discutir sobre ele, para podermos entender de
que forma o ritmo faz parte do corpo e de que forma o corpo nos
constitui.

Hora de praticar
Faça um exercício de memória. Tente lembrar as concepções de corpo que você estudou
até aqui. Anote-as. Em seguida, consulte seu material do Módulo 1 e do Módulo 2.
Relacione as concepções aos momentos históricos e aos pensamentos filosóficos que as
nortearam. Fez isso? Bom! Agora responda:
1. “Com qual dessas concepções eu realmente concordo?”
2. “Como, de fato, eu vejo e entendo meu corpo?”
Lance suas respostas no fórum. Veja o que pensam seus colegas.

Com essa revisão, você deve ter relembrado como o corpo


foi freqüentemente tratado como dualidade: corpo X alma; corpo
X mente; sujeito X objeto. Uma dualidade marcada não apenas
pela distinção entre as partes mas também, e principalmente,
pela distinção de valor, de importância.

Para vários estudiosos, essa dualidade existe por ser uma


das formas possíveis de se entender uma das principais carac-
terísticas do corpo: a de ser sujeito e objeto ao mesmo tempo.

Meaurice Merleau-Ponty (1999), falando sobre o corpo,


nos diz que ele, o corpo, é uma simultaneidade de sujeito e obje-
to, existindo num espaço-tempo e servindo de referência central
ao processo perceptivo. Essa simultaneidade que caracteriza o
corpo, segundo Luiz Tatit (1996), impede, de fato, a demarcação
de limites entre sujeito e objeto, que é o que tenta fazer a visão
dualista. Nessa última, a mente corresponderia à porção sujeito do
ser, enquanto o corpo corresponderia à porção objeto.

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Se você prestar bem atenção, verá que


nosso pensamento e nossa linguagem cotidiana
estão até hoje impregnados dessa visão dualis-
ta. Quando falamos coisas como “- Meu corpo
dói” ou “– Passe shampoo no cabelo e lave bem
o corpo, filho!” estamos, no primeiro exemplo,
separando o eu do meu corpo, como se eu, que
sou o sujeito, possuísse uma coisa, um objeto
chamado corpo; no segundo, estamos separan-
do a cabeça do conjunto do corpo, o que, por
analogia entre pensamento, mente e cabeça,
significa separar a mente do corpo. Será possível pensarmos de outra forma?

1.1.2 Corpo como Totalidade

Essa simultaneidade de sujeito e objeto de que nos fala


Merleau-Ponty (id.), destaca o aspecto fenomenológico do corpo,
um corpo sensível e inteligível, ou seja, um corpo que sente e que Quando falamos em
“aspecto fenomenológico
idealiza, simultaneamente; um corpo que é datado e localizado do corpo” estamos nos
espacialmente, o que significa dizer que tem, na sua constituição, referindo a sua aparição
como um fenômeno, a sua
as influências de sua época e do lugar onde se fez. essência em si mesmo, e
não a algo que é dito sobre
ele. Essa forma de pensar
Reflita sobre estas imagens: o corpo, e também os
objetos e fenômenos, vem
da Fenomenologia que é
uma linha de pensamento
filosófico que nasceu na
segunda metade do século
XIX, a partir das idéias de
Franz Brentano.
Edmund Husserl (1859-
1938), Martin Heidegger
(1889-1976) e Maurice
Merleau-Ponty (1908-
1961) foram alguns
dos principais filósofos
fenomenologistas do
século XX. Para eles, a
compreensão do mundo se
dá a partir da percepção
que temos de aparição
de seus fenômenos. Todo
conhecimento que existe
é fruto da percepção
humana.

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Veja como é interessante o que Merleau-Ponty diz sobre o ser:

Eu não sou o resultado ou o entrecruzamento de


múltiplas causalidades que determinam meu corpo ou
meu “psiquismo”, eu não posso pensar-me como uma
parte do mundo, como simples objeto da biologia, da
psicologia e da sociologia, nem fechar sobre mim o
universo da ciência. Tudo aquilo que eu sei do mundo,
mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão
minha ou de uma experiência do mundo sem a qual
os símbolos da ciência não poderiam dizer nada. Todo
o universo da ciência é construído sobre o mundo
vivido (1999, p.3).

IE 1/ VÉ através do corpo que o ser é ser; é através do mundo que


esse ser se sabe corpo, o que quer dizer que é através do mundo
que o ser toma consciência de si mesmo; é através do corpo que
o ser toma consciência do mundo. Merleau-Ponty (1999, p.125)
completa que essa compreensão instaura a “fusão entre alma e
corpo no ato, a sublimação da existência biológica em existência
pessoal, do mundo natural em mundo cultural”. Você percebe a di-
ferença entre pensarmos o corpo como “fusão entre alma e corpo
no ato” e pensarmos como “alma mais corpo”? Na primeira idéia
temos a totalidade, que se faz na ação, no movimento; na segun-
da temos a dicotomia, que separa.

Contrariamente a essa dualidade, é possível compreen-


dermos o corpo como totalidade mente e fisicalidade. Entender o
corpo como totalidade equivale a entendê-lo como um composto
de partes que não se iguala à soma dessas partes (KATZ,1994).

O termo fisicalidade será usado aqui sempre que estivermos nos referindo
apenas à matéria física corporal. Não usaremos mais o termo corpo com
esse sentido. Certo? O corpo é o todo que nos constitui e não apenas o
nosso físico e a palavra mente se refere ao imaterial: pensamento, emoções,
memória.

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Portanto, pensamento, cognição, emoções, mente, tam-


bém fazem parte do corpo, assim como os braços e pernas, o
sangue, a bílis, os músculos e os movimentos; e essas partes
se interconectam e influenciam (fisiologia e psiquismo), diferindo
apenas nas funções que possuem dentro do complexo dessa to-
talidade que é o corpo.

Veja o quadro abaixo.

SER HUMANO

MENTE

FISICALIDADE
TOTALIDADE DUALIDADE

SER HUMANO = CORPO SER HUMANO

MENTE CORPO
MENTE + FISICALIDADE +
SUJEITO OBJETO
SANGUE PENSAMENTO
MOVIMENTO
BILIS
SUJEITO +OBJETO

OBJETO
ELEMENTO UNO DESEQUILÍBRIO
PROCESSOS
NARRATIVOS E
ASPECTUAIS

ARTE e JOGO

Esse quadro sintetiza as duas formas de entendimento do


corpo: a da dualidade e da totalidade e traz mais alguns elemen-
tos. Vejamos.

A visão dualista do corpo, segundo Tatit (1996, p.202), gera


desequilíbrios em nossa existência, em nossa experiência do cor-
po (quando falamos de forma dual, como no exemplo do banho
dado acima, experimentamos essa compreensão dicotômica de
nós mesmos). Já a visão totalizante caminha no sentido da ex-
periência da unicidade, da experimentação de uma existência in-
tegral, onde de fato percebemos que nossas ações, sentimentos
e pensamentos são acontecimentos simultâneos e integrados da
nossa existência fenomenológica.

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Tatit chama atenção para mais um fato. É possível recupe-


rarmos essa unicidade do ser através de “processos narrativos e
aspectuais”.

Agora, pense um pouquinho...

Você saberia dizer quais


seriam tais processos?

Bem, estamos falando sobre todas as experiências que,


fenomenologicamente, nos exigem uma participação integral, que
constroem sentidos e ações interdependentes. As brincadeiras e
jogos e as artes, por exemplo.

E o que essas experiências têm em comum, à primeira vis-


ta? O MOVIMENTO. Vamos conversar mais um pouco sobre ele.

1.2 Conceito de Movimento

Continuando com nossa abordagem fenomenológica, Mer-


leau-Ponty diz que o corpo possui uma espacialidade específica,
original, onde suas partes não se desdobram umas ao lado das
outras, mas se envolvem umas nas outras. Ele acrescenta: “meu
corpo inteiro não é uma reunião de órgãos justapostos no espaço.
Eu o tenho em uma posse indivisa e sei a posição de cada um
de meus membros por um esquema corporal em que eles estão
todos envolvidos” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 143-144).

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Você percebe a diferença entre ter as partes de alguma


coisa uma ao lado das outras e tê-las envolvidas umas nas ou-
tras? Seria mais ou menos assim: imagine uma boneca.

Suas partes estão juntas, Se retiramos o braço da bo-


compondo a boneca inteira. neca, ela fica incompleta,
Certo? mas nada, de fato, acontece
com suas outras partes. Não
é mesmo?

Conosco é diferente!

Nossas partes se envolvem, relacionam-se umas com as ou-


tras. Se perdemos um braço, todo nosso corpo é atingido por isso:
nosso tronco sofre transformações no seu equilíbrio de forças mus-
culares, nosso equilíbrio no deslocamento se altera, nossa relação
com o mundo se modifica, nosso emocional precisa se reorganizar;
é necessário construir um novo esquema corporal, entende?

Podemos avançar um pouco mais, então. Para o filósofo,


essa espacialidade original não é uma espacialidade de posi-
ção, como a dos objetos exteriores, mas uma espacialidade de
situação, a partir da qual se constrói o espaço externo. Posição e
situação são palavras com significados bem distintos aqui.

Posição Situação

Situação traz a idéia de

X
Posição nos dá a idéia de
lugar fixo, de um ponto, de movimento e de relação e
um espaço específico que um também a idéia de tempo. Uma
objeto ocupa. situação não é alguma coisa
que acontece em um espaço e
por um determinado tempo?

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O que Merleau-Ponty quer nos dizer é que a espacialidade


do corpo, a forma como ocupamos nosso espaço, só se realiza
com o movimento; e mais: que o espaço exterior, o espaço do
mundo a nossa volta, só se constrói, só existe para nós no mo-
mento em que nos relacionamos com ele, através do movimento.
O espaço a nossa volta não é sempre o mesmo, ainda que
não façamos nenhuma mudança física nele. Um lugar a que va-
mos todos os dias pode, a cada dia, nos parecer diferente. Pense
na sua sala de aula. Não há momentos em que ela parece pe-
quena demais ou grande demais? Isso se dá por uma questão de
movimento e de relação: depende do número de alunos, do nível
de agitação deles no dia, do seu próprio estado de espírito.
Tente lembrar em que outras situações o espaço a sua
volta muda para você.

O mais importante para se perceber aqui, então, é que o movimento não


apenas constitui nosso corpo, como também nos permite construir, para
nós, o espaço a nossa volta.

O movimento é a forma como nos revelamos, nos expressa-


mos e como nos relacionamos com o outro e com o mundo. Assu-
me diversas funções ao longo de nossa vida:

caráter funcional-utilitário: como quando nos movemos para


subir uma escada, ou pegar um objeto, por exemplo;

caráter lúdico: como quando brincamos de roda;

caráter essencialmente expressivo: como quando dançamos.

No entanto, em todas essas e outras diferentes funções, o mo-


vimento sempre nos expressa e nos revela.

Mas por que nos importa estudar sobre o corpo e o movimento


quando o assunto são manifestações rítmicas e expressivas?
Você arrisca um palpite?

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Pois bem. Quando falamos em movimento como elemento


constituinte do corpo, estamos falando de todos os movimentos:

INTERNOS EXTERNOS

- A batida do coração
– Aqueles que executamos e
- O ciclo menstrual são visíveis aos outros – como
o movimento das pequenas e
- A contração muscular grandes articulações.
Todos esses movimentos possuem ritmo próprio. De fato, o
corpo é nossa primeira experiência rítmica.
Entende agora porque precisamos nos voltar para nós
mesmos e para nossos movimentos? Precisamos ativar nossa
consciência corporal para percebermos nossos próprios ritmos.

Você já afastou os móveis da sala?

1.3 Fundamentos da Consciência Corporal

Consciência corporal é um termo velho conhecido nosso.


Não é mesmo? Diz respeito a capacidade de percebermos nosso
corpo, de senti-lo... Ops! Você viu como nos referimos ao corpo
agora? Na perspectiva da dualidade ou da totalidade? Pois é. O
grande desafio é termos de alcançar o conceito de corpo como
totalidade, não só na nossa forma de falar sobre ele, mas, princi-
palmente, na forma como o vivenciamos.

A consciência corporal, dentro desse âmbito, então, tem seu significado


ampliado. Não mais “percebermos nosso corpo”, mas percebermos que “so-
mos corpo”. Algo como tentar “pensar” com todas as nossas células, nosso
peso, nossa forma, nossos limites, nossa textura.

A proposta que trazemos, nesse momento, é então, de um


outro tipo de reflexão. Você vai ler e, em seguida, por em práti-
ca as sugestões de experimentação que faremos. Certo? E você
pode fazer sozinho ou pedir a alguém que vá lendo os comandos
para você. Dê intervalos de um dia entre cada exercício. Certo? Ao
final de cada um, registre e guarde suas impressões. Nós vamos
precisar delas depois.

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Exercício 1 - Peso corporal

Deitado em decúbito dorsal, de olhos fechados, procure perceber


que partes do corpo estão em contato com o chão. Perceba, então,
em qual delas a sensação de pressão é maior; essa sensação tra-
duzirá o peso de cada parte ou seguimento que descansa sobre
aquele ponto de contato. Feito isso, imagine-se ampliando esses
pontos de contato com o chão, como se você estivesse se der-
retendo e se infiltrando no piso da sala. A sensação deverá ser
de muito peso e de imobilidade.

Por fim, vá aos poucos retomando sua movimentação come-


çando pelas extremidades, dedos dos pés e das mãos, até que
você se movimente confortavelmente, como que se espregui-
çando. Antes de começar, releia esse parágrafo. Se estiver fa-
zendo sozinho, é preciso que você tenha memorizado as eta-
pas para que não interrompa a experimentação a fim de ler
esse texto novamente. Certo?
E então? Conseguiu concluir a prática? Conseguiu ficar
concentrado todo o tempo? Teve dificuldades? Quais? Que
sensações teve? Prazer, desconforto, sonolência? Que mais
gostaria de nos relatar? Não esqueça de registrar tudo. Ok?

Exercício 2 - Forma corporal

Deitado em decúbito dorsal, de olhos fechados, imagine um


pincel atômico (hidrocor) de cor bem viva encostado no alto da
sua cabeça, apontando para o chão.
Agora imagine que esse pincel atômico começa a se deslocar,
riscando no chão o contorno da sua cabeça. Ele vai seguindo
por sua orelha, seu pescoço, seu ombro, seu braço, cotovelo e
Lembre-se assim por diante, sempre encostado a você e riscando no chão
Antes de começar, memorize seus limites, até retornar ao ponto de partida, sobre a cabeça.
as etapas para que você não
interrompa os exercícios. Nesse momento, você terá desenhado imaginariamente o con-
torno de sua forma corporal.

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Então, abra os olhos e se levante, tentando não pisar sobre


a linha imaginária que acabou de construir. De pé, olhe para
o chão e tente visualizar seu desenho. Ali está registrado seu
espaço e forma corporais.
Para concluir, deite-se novamente, tentando ocupar o es-
paço do desenho imaginário. Depois, registre o processo, suas
impressões, dificuldades.

Exercício 3 - Limites, superfície e volume corporais

Deite em decúbito dorsal, de olhos fechados. Tente perceber as


partes de você que estão em contato com o chão. Em algumas,
o contato é direto entre a pele e o chão; em outras, haverá o
tecido da roupa entre o contato da pele com o chão. Tente per-
ceber as diferenças entre esses contatos.
Depois, faça a mesma coisa com sua superfície superior. Tente
perceber o contato da pele com o ar, nas partes em que não há
roupas, e o contato da pele com o tecido, nas partes em que há
contato com as roupas que está usando. Tente perceber se há
pressão das roupas em algum ponto (elásticos, botões, partes
mais justas etc).
Por fim, tente perceber a distância entre sua superfície superior
e o chão. Aí você terá uma sensação do volume corporal. Tente
percebê-lo preenchendo suas roupas. Retome sua movimentação
lentamente, espreguiçando-se.

A essa altura, esperamos que você já tenha tentado praticar os exercícios sugeri-
dos. Não se preocupe se você tiver tido dificuldades como desconcentração, sonolência,
esquecimento das etapas. Elas são comuns quando estamos começando a experimen-
tar a percepção integral do corpo. Não desanime. Repita esses exercícios outras vezes.
Com a prática você verá que a sua sensibilidade irá aumentar.

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1.4 Coordenação Motora


O termo coordenação motora diz respeito à capacidade
de organizarmos nossos movimentos em resposta a um estímulo
cerebral. Nessa organização, fatores específicos são trabalhados,
como equilíbrio, ritmo, direção, reflexo, criação/transformação e in-
dependência de movimentos.

Quanto mais aguçamos nossa consciência corporal, melhor desenvolvemos a capaci-


dade de coordenarmos nossos movimentos, sejam eles para fins utilitários, lúdicos ou
expressivos, como vimos anteriormente.

Agora, convidamos você a experimentar exercícios relaciona-


dos à sua capacidade de coordenar movimentos. Esses exercí-
cios estão agrupados a partir de critérios de orientação (latera-
lidade) e amplitude de movimento. Vamos começar.

1.4.1 Lateralidade

Chamamos de lateralidade a capacidade que temos de per-


ceber e utilizar conscientemente, ao mesmo tempo ou em sepa-
rado, nossos dois lados: direito e esquerdo. Desenvolvemos essa
capacidade concentrando-nos em nossas ações, praticando mo-
vimentos bilaterais (os dois lados ao mesmo tempo) simétricos ou
assimétricos e praticando movimentos unilaterais (apenas um dos
lados). Para a noção de lateralidade, é preciso termos consciência
de nosso eixo corporal, essa linha imaginária que demarca nossa
simetria.

Vamos praticar um pouco? Não esqueça de anotar suas im-


pressões!

Exercício 4 – Canhoto ou destro?

Você é canhoto ou destro?

Na verdade, isso não importa muito aqui. O que queremos


é que você perceba a si mesmo. Nas próximas 24 horas, obser-
ve seus movimentos cotidianos. Com que lado você os executa?

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Quais são seus movimentos bilaterais e unilaterais mais freqüen-


tes? Em que lado você descansa mais seu peso quando está em
pé, sobre a perna direita ou esquerda? Essas são algumas suges-
tões. Você pode fazer muitas outras observações.

Agora um desafio divertido: à medida que for observando,


procure trocar de lado; experimente fazer as coisas de outro jeito,
inverta os lados ou faça com os dois aqueles movimentos unila-
terais e também o contrário, faça com apenas um lado aquilo que
faz com os dois.

1.4.2 Movimento das Pequenas e das Grandes


Articulações

No Módulo 1, você aprendeu sobre vários tipos de movi-


mento articular. Lembra? Extensão, flexão, adução, abdução, rota-
ção. Nossa proposta agora é que você se concentre em perceber
corporalmente esses movimentos e as articulações em que eles
acontecem, partindo da mobilização das pequenas e grandes ar-
ticulações.

Exercício 5 – Marionete I

Quando falamos em
“pés paralelos” estamos
nos referindo à posição
corporal em que estamos
com joelhos e dedos
dos pés voltados para
frente, os pés como que
desenhando duas linhas
paralelas, tendo como
referência sua face inter-
na, medial. O contrário
dessa posição é quando
fazemos rotação exter-
De pé, com os pés afastados na distância aproximada da largu- na na articulação do
quadril, girando nossa
ra de seu quadril, dedos apontando para frente (pés paralelos), perna “para fora”. Nessa
distribua igualmente seu peso sobre os pés. Essa é sua base posição, nossos pés não
ficam “paralelos”, formam
de sustentação. Observe seu eixo corporal, alongue sua colu- um “V” no chão. Expe-
rimente passar de uma
na. Respire calmamente. posição à outra.

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Comece, então a movimentar apenas os dedos das mãos, das


duas ao mesmo tempo. Observe que movimentos são possí-
veis, de extensão, flexão, adução, abdução, rotação, que com-
binações você pode fazer. Passe para os pulsos, fechando as
mãos. Experimente vários movimentos com eles. Agora estabi-
lize os pulsos e os ombros; você só deve mover a articulação
do cotovelo. Não fazemos muita coisa, não é mesmo? Agora é
a vez dos ombros. Deixe estáveis os pulsos e cotovelos. O que
você é capaz de fazer com seus ombros? Repita o exercício
começando pelos dedos dos pés, um lado de cada vez, pas-
sando pelo tornozelo, joelho e articulação do quadril.

O que você observou quanto à amplitude desses movi-


mentos no espaço em relação ao tamanho das articulações?

1.4.3 Movimento das Partes e do Todo

Ter controle sobre movimentos simultâneos é uma tarefa


da coordenação motora. Quando falamos aqui em movimento das
partes e do todo corporal estamos nos referindo a nossa capa-
cidade de movermos partes de nós isoladamente e de nos mo-
vermos inteiramente, como em deslocamentos, saltos, giros, por
exemplo.

O que propomos a seguir é um exercício de controle motor,


apesar do resultado aparentar total descontrole. Você vai se divertir!

Exercício 6 - Marionete II

De pé, os pés paralelos, assim como no exercício 5.

Mentalize uma de suas partes e a movimente isoladamente,


mantendo imóveis as outras partes, por exemplo, cotovelo di-
reito; joelho esquerdo; ombro esquerdo; nariz etc. Repita várias
vezes.

Em seguida, mentalize duas partes ao mesmo tempo, por


exemplo, dedos da mão direita e tornozelo esquerdo; dedos do
pé direito e pescoço; joelho direito e ombro direito etc.

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Agora vá aumentando o número de partes envolvidas, combi-


nando várias articulações, até que você se movimente intei-
ramente, como se fosse uma marionete manipulada por outra
pessoa.


Que sensações você teve? Anote tudo, certo?

Concluímos a Unidade. o espaço que nos cerca. Percebeu ainda


Aqui você conheceu o que, como todo movimento tem um ritmo e
conceito de corpo como o corpo é constituído de vários movimen-
totalidade (mente-fisica- tos (internos e externos), o corpo é nossa
lidade) abordado dentro primeira experiência rítmica. Foi por isso
da linha filosófica da Fenomenologia. que, nessa unidade, nos dedicamos a nos

Percebeu como o movimento nos constitui observar, a explorar nossa consciência

e revela, e como, a partir dele, construímos corporal e nossa coordenação motora.

Bem, agora que já internalizamos os conceitos de corpo, de movimento e os


fundamentos da consciência corporal e da coordenação motora, podemos seguir para o
próximo assunto, em que veremos os conceitos de ritmo, os tipos de ritmos e a percepção
rítmica.
Vamos lá, então!

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