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Introdução à Clínica

da Atividade

Centro Universitário UniAteneu


Disciplina: Instituições Organizacionais: Análise e proposta de intervenção
Profa. Ma. Karlinne de Oliveira Souza
Origens

▪ França, década de 1990.


▪ Yves Clot.
▪ Influências:
□ teoria histórico-cultural (Lev Vygotsky).
□ linguística (Mikhail Bakhtin).
□ correntes teóricas da tradição francesa de
análise do trabalho.
□ médico italiano Ivar Oddone (1970).
□ reflexões sobre a noção de saúde (Georges
Canguilhem).
Origens

▪ Brasil:
□ ainda é pouco difundida.
□ os textos já disponibilizados
demonstram uma precisão conceitual
e uma proposta metodológica
rigorosa.

[...] um aspecto é central: não há uma
identidade entre aquilo que as organizações
determinam ao profissional e o que de fato
acontece quando ele assume seu posto de
trabalho e desenvolve suas funções.
Como a ergonomia lida com esse
fosso?
▪ Tarefa versus atividade.
□ tarefa:
▫ orientação básica dada ao profissional
para delimitar quais suas atribuições e
como deve proceder.
▫ determinada pela organização.
▫ antecipa as condições de que o indivíduo
dispõe, de modo a alcançar um resultado
preestabelecido.
Como a ergonomia lida com esse
fosso?
□ tarefa:
▫ essa antecipação não traduz a realidade que o
trabalhador vai encontrar.
▫ concebida a partir das características médias
da população: há diferenças entre os perfis dos
profissionais.
▫ há também outras variações (matérias-primas,
uso do maquinário, público a quem se destina o
bem/serviço prestado, relacionamentos.
Como a ergonomia lida com esse
fosso?
□ tarefa:
▫ presunção do resultado é uma ficção que se
espera obter em condições ideais.
▫ compreende-se que a tarefa é essencial, pois é
ela, quando delimita a atividade, que dá a
permissão para o sujeito agir.
▫ sem uma definição mínima da tarefa, impõe-se
ao sujeito uma paralisia que o impede de
determinar os cursos que sua ação deve seguir.
Como a ergonomia lida com esse
fosso?
▪ Tarefa versus atividade.
□ atividade:
▫ estratégias de adaptação à situação real
de trabalho.
▫ ao agir, o sujeito se adequa às imposições
que lhe são feitas pela tarefa e, ao
mesmo tempo, lida com as contingências
que o contexto traz.
Como a ergonomia lida com esse
fosso?
▪ Tarefa versus atividade.
□ atividade:
▫ engloba o que o trabalhador faz na sua
ação, o que precisa despender de si para
sua execução em termos fisiológicos e
psíquicos.
▫ a atividade é o que é feito, o que o sujeito
mobiliza para efetuar a tarefa.
Como a Clínica da Atividade lida com esse fosso?

▪ Compreender o lugar da subjetividade na análise do


trabalho.

Real da Gênero de
Estilo da ação
Atividade atividade
A Clínica da Atividade
Real da Atividade Gênero de atividade Estilo da ação
Aquilo que pode ser Prescrição informal Apropriação do gênero
feito, mas não se faz: construída coletivamente. pelo sujeito.
as atividades “Senha” para se saber o
suspensas, que é possível ou não
contrariadas, sem A transformação a dos
esperar de uma situação. gêneros, por um sujeito,
possibilidades de
realização. Memória que não se em recursos para agir
refere apenas ao em suas atividades
passado, mas que serve reais.
para prever o futuro, para
antecipar, permitindo
evitar possíveis erros no
exercício da atividade.
A Clínica da Atividade
▪ Entre prescrito e real, tarefa e atividade,
interpõem-se os gêneros profissionais
□ culturas de trabalho tácitas, construídas por um
coletivo, que orientam a atividade do sujeito.
□ acordos implícitos que os sujeitos fazem e que
são transmitidos entre os membros do grupo.
□ dão suporte à atividade dos trabalhadores,
determinando os modos característicos de agir
daquele grupo.

Gênero Profissional

a parte subentendida da atividade, o que os


trabalhadores de determinado meio conhecem e
observam, esperam e reconhecem, apreciam ou temem;
o que lhes é comum, reunindo-os sob condições reais
de vida; o que sabem que devem fazer, graças a uma
comunidade de avaliações pressupostas, sem que seja
necessário re-especificar a tarefa a cada vez que ela se
apresenta.
Clínica da Atividade
▪ Reconceituação acerca da atividade.
□ Somente uma pequena parte da atividade
desempenhada é visível nas interações
sujeito/objeto de trabalho.
□ Ao agir, o trabalhador não lida somente com
o gesto executado, mas com:
▫ todas as demais possibilidades que
precisaram ser deixadas de lado.
Atividade triplamente dirigida
Pela
conduta do
sujeito

Para o
Atividade
objeto

Para a
atividade
dos outros
A Clínica da Atividade
▪ A atividade não se reduz ao que se faz
nela.
▪ A análise da atividade deve considerar “o
que não se faz, o que não se pode fazer,
o que se tenta fazer sem conseguir - os
fracassos - o que se teria querido ou
podido fazer (...)” (CLOT, 2001).
Clínica da Atividade
▪ Reconceituação acerca da atividade.
□ ao assumir seu posto o trabalhador não
se desfaz dos outros papéis que ocupa
(pai, filho, marido, religioso, peladeiro de
fim de semana, dentre outros)
□ o medo do desemprego ao ser mal
avaliado ou por não cumprir metas de
produtividade.
Clínica da atividade
▪ Reconceituação acerca da atividade.
□ é marcada pelas "pré-ocupações" que
acompanham o sujeito.
□ É preciso assenhorar-se de si, num
julgamento em que pesam o sentido do
que se faz e a necessidade de eficácia da
ação.
□ dominar as inúmeras interferências que se
apresentam.

[...] a transição, de dupla-via, entre o real da
atividade e a atividade realizada é fonte de
desenvolvimento para os sujeitos . Entretanto, o
real da atividade não é observável e acessível
diretamente, sendo necessário um método
indireto que permita aos sujeitos transformar a
experiência vivida de um objeto em um objeto de
uma nova experiência vivida.

(BATISTA; RABELO, 2013)


Métodos para a ação
▪ Devem produzir um deslocamento do trabalhador do
lugar de quem cumpre suas tarefas para o lugar de
quem observa e analisa seu próprio trabalho.
▪ O trabalhador, ou o saber da experiência operado por
este, se torna privilegiado na análise.
▪ A tomada de consciência não se define pelo resgate
de um passado intacto, mas na recriação da
experiência passada que é revivida na ação
presente.
▪ Coanálise do trabalho.
Métodos para a ação
▪ Papel do psicólogo:
□ criar condições necessárias para o processo de
análise da atividade pelos trabalhadores,
recusando o lugar de expert na análise do
trabalho.
□ O principal objetivo do clínico da atividade é
atingido quando os trabalhadores se utilizam
dele como meio para seu desenvolvimento.
Métodos para a ação: transformar o trabalho

Metodologia Método

criar as condições necessárias para ser instrução ao sósia; autoconfrontações


capaz de transformar o ofício, aumentando simples ou cruzadas: buscam favorecer o
assim o poder de agir acesso ao real da atividade
Instrução ao
Sósia
“Suponha que eu seja seu sósia e que amanhã vou
substituí-lo em seu local de trabalho. Quais instruções
você deveria me transmitir para que ninguém perceba a
substituição?” (Clot, 2007, p.144).

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Instrução ao
Sósia
O trabalhador deve colocar-se na posição de instrutor e
ajudar seu sósia “a se orientar em uma situação que ele não
conhece, ao lhe indicar não só o que faz habitualmente, mas
também aquilo que não faz nessa situação, aquilo que
deveria, sobretudo, não fazer ao substituí-lo, aquilo que ele
poderia fazer, mas que não se faz etc.” (Clot, 2007, p. 146).

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Autoconfrontação
Consiste em um encontro entre a atividade de trabalho de um
agente e ele mesmo, com o propósito de deflagração de um
novo contexto no qual o sujeito se torna um observador de
sua própria atividade.
Ponto de partida: plano da observação.
Pressupõe-se que toda observação do trabalho do outro
implica em uma ação sobre esse que é observado, isto é,
produz no mesmo uma atividade de observação sobre si.

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Referências bibliográficas
Clot, Y. A função psicológica do trabalho. Petrópolis: Vozes,
2007.
LIMA, M. E. A. Contribuições da Clínica da Atividade para o
campo da segurança no trabalho. Rev. bras. saúde ocup., São
Paulo, v. 32, n. 115, p. 99-107, June 2007 .
PINHEIRO, F. P. H. A. et al . Clínica da Atividade: conceitos e
fundamentos teóricos. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro , v. 68, n.
3, p. 110-124, dez. 2016 .
REZENDE, M. S.; CHRISTO, C. S. O princípio da autoconfrontação
na abordagem da Clínica da Atividade. Fractal: Revista de
Psicologia, v. 30, n. 2, p. 131-136, maio-ago. 2018.

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