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Conferência 13 – Linguagem e Consciência – TRADUÇAO: LAÍSSA MUNIZ

DA SILVA

Journal of Russian and East European Psychology, vol. 43, nº5, July- August
2005, p.5-13.

Na conferência anterior, eu foquei em duas proposições. A primeira é que, com


a transição a uma sociedade humana baseada no trabalho, mudanças fundamentais na
estrutura da atividade tomam lugar. Elas consistem primeiramente no fato de que na
atividade, os processos direcionados ao alcance de resultados esperados, isto é,
processos orientados a uma meta, são apontados porque a meta constitui a
representação do resultado que deve ser atingido. Deste modo, na atividade um novo
“momento”, ou um novo “elemento formador” é separado na forma de ações orientadas
a uma meta. Historicamente, o surgimento de processos orientados a uma meta – de
ações – na atividade, foram conseqüência da transição para uma sociedade com base
no trabalho. A atividade de participantes num coletivo é estimulada pelo produto deste
trabalho, que inicialmente vai ao encontro com as necessidades de cada um deles.
Entretanto, a mais simples divisão técnica do trabalho que surge durante os primeiros
passos do desenvolvimento da atividade de trabalho coletiva, necessariamente conduz
a identificação ao que podemos chamar de resultados intermediários, resultados
parciais, atingidos pelos indivíduos participantes na atividade de trabalho coletiva, mas
os quais, por si mesmos, não são capazes de satisfazer suas necessidades. Suas
necessidades são satisfeitas não por estes resultados “intermediários”, mas por uma
cota do produto de sua atividade conjunta, recebido por cada um deles devido ao vigor
da relação que surge no processo de trabalho que os une – isto é, relação social.

A segunda proposição é que o processo de trabalho social muda


essencialmente os significados e formas da comunicação verbal de uma pessoa com
outras pessoas. Estes significados e formas de comunicação são transformadas em
comunicação utilizando a linguagem, que é também produzida no próprio processo de
trabalho. Como resultados destas mudanças, a fala intencionada é formada – a fala
que se refere a um certo alvo objetivo.

Estas principais circunstâncias – a separação de processos orientados a uma


meta (ações) e o nascimento da linguagem como uma forma de comunicação verbal –
necessariamente conduzem a origem de formas superiores de reflexão psicológica, ao
nascimento da consciência.

A tarefa que temos diante de nós não é somente mostrar a necessidade do


aparecimento desta forma e descrevê-la, mas de entender o processo em si mesmo, o
“mecanismo” que conduz ao surgimento da consciência – em outras palavras, de
entender não somente as condições por trás da origem desta forma de reflexão, mas
também o processo de seu surgimento.

O ponto é que o processo – a ação orientada a uma meta – deve ser


dependente da representação do resultado para o qual a ação é direcionada. Além
disso, o resultado deve ser conceitualizado numa forma que permitiria a comparação
constante das etapas da realização de um resultado com o resultado final em si.
Adicionalmente, o resultado deve ser conceitualizado numa forma de reflexão que
permita mudanças em si mesmo durante o curso da realização desta representação em
um produto, que serve como uma meta. Em outras palavras, a imagem do resultado e
as condições sob as quais a meta é atingida, devem ser constantemente justapostas, e
por esta razão devem ser localizadas e se deslocar dentro do mesmo plano.

Explicaremos este pensamento através de uma simples ilustração. Quando uma


pessoa conduz uma ação com um certo resultado em mente – por exemplo, uma
pessoa coloca um livro em uma prateleira – este processo não acontece da seguinte
maneira: uma pessoa experimenta colocar um grande livro em uma certa estante e
com somente uma tentativa ela tem certeza de que o livro não encaixa naquela
prateleira, o colocando em outra. O processo realiza-se de uma maneira
completamente diferente. Realiza-se na base de uma medição mental, neste caso na
medição da altura do livro comparada com a distância entre as prateleiras. Uma pessoa
não realiza esta ação como uma tentativa de errar. Ela primeiro comete um ato de
medição mental, e depois comete uma ação em si. Não faz diferença nenhuma se o
livro está no seu campo de visão ou dentro de sua maleta no dado momento. Eu acabei
de comprá-lo de uma loja, dei uma olhada nele e pensei – ou até mesmo nem pensei,
somente vi – que este livro não cabe aqui, mas caberá lá. A união de três coisas
diferentes – a percepção objetiva da estante, o livro imaginado, e o requerido resultado
– todas organizadas num plano comum revelam a realidade anterior a mim.
Conseqüentemente, nisto existe uma transformação da imagem sensorial sendo
revelada como a existência objetiva de um mundo anterior a pessoa, especificamente
como um mundo, e não como uma imagem de um mundo! Este mundo aparece, é
claro, não através da auto-observação, uma vez que se deseja ver uma pessoa
sentada a sua frente, a auto-observação não é necessária. Olhando para o outro, a
pessoa não o vê como uma experiência interior, mas como algo objetivamente
existente. Esta reflexão geralmente conduz a uma falsa concepção de que a imagem
sensorial do objeto é sua imagem interna, que não é o mundo que aparece antes de
uma pessoa, mas uma imagem do mundo. Para uma pessoa comum, o fato de que ela
tem uma imagem do mundo na qual ela, ela mesma, suas ações, e seu estado estão
incluídos, não apresenta, naturalmente, qualquer problema teórico; o mundo é anterior
a ela, e não uma imagem do mundo. Em seu “realismo” contem uma real, embora
ingênua, verdade. Uma pessoa simplesmente vê um coisa!
Entretanto uma outra muito mais importante e legítima questão surge em
comparação com a examinada acima. Não estamos caindo em um círculo lógico
vicioso? De modo a separar uma meta, precisamos de uma imagem, é necessário que
tenhamos a representação de um resultado, a representação de uma meta. Por outro
lado, para que a representação de uma meta surja, a ação é necessária. À primeira
vista, temos um círculo vicioso inescapável. Mas ele está quebrado, e a única questão
é: qual ponto deste círculo está quebrado?

Vamos imaginar este círculo: representação → ação voltada para a separação


de uma representação consciente → representação consciente → ação, e assim por
diante. Deste modo, as pessoas agem de acordo com suas representações e pelas
metas que elas identificam, como Marx coloca, determinam o significado e a natureza
de suas ações “como uma lei”. Entretanto, para que uma representação surja, uma
atividade especial visando identificar o objetivo (a meta), é necessária.

O círculo é quebrado com o início prático da ação, isto é, com a ação que entra
em contanto real com objetos verdadeiramente tangíveis. O maior representante da
filosofia clássica alemã, Hegel, que desenvolveu junto a seu sistema idealista um
método dialético para a resolução de problemas teóricos, sabia, é claro, sobre aquele
círculo e um tanto ironicamente respondeu a questão sobre onde o círculo está
quebrado: “Nós nunca paramos para pensar o que governa a nós ou a nossas ações.
Não utilizamos isto como um ponto de partida, mas simplesmente começamos no que
agimos!” (“O indivíduo”, Hegel coloca, “não pode determinar o objetivo de sua ação até
que ele tenha agido”). *i

O que provê a afferentation, o que direciona a ação inicial para a qual o “ato” se
origina? what directs the initial action from which the “deed” begins?
Aparentemente, [a resposta é] algumas formas que são menos desenvolvidas e
qualitativamente diferentes daquelas que são descritas como formas de representação
consciente da meta (do objetivo) consciente.

Aqui encontramos uma ingênua questão, “O que vem primeiro – o ovo ou o


galinha?”. Esta famosa questão foi respondida a muito tempo atrás. Anteriormente,
existia um outro ovo e uma outra galinha, os quais – abordando o assunto a partir de
uma perspectiva evolutiva – nada se pareciam com um pássaro.

Assim, antes de chegarmos à meta consciente, existem algumas vagas formas


transitórias que não serão sujeitas a um estudo direto no presente momento, mas que
devem ser seriamente confirmadas pelo pensamento teórico. Em responder a
pergunta, qual é o condutor da ação inicial, nós confirmamos: o objeto em si mesmo.
“O condutor”, o gerente do processo da atividade inicialmente é o objeto em si mesmo
e somente secundariamente é a imagem como um produto subjetivo da atividade que
fixa, estabiliza, e carrega consigo o conteúdo do objetivo. Colocando de outro modo,
toma lugar neste processo uma mudança de “objeto (objetivo) → processo de
atividade”, e uma mudança de “atividade → seu produto subjetivo”. Antes de uma
pessoa em um objeto (objetivo), e sua representação atua como um condutor,
direcionando o curso do processo, que se empenha em direção a um resultado
expresso em uma determinada forma objetiva. Este resultado aparece antes da pessoa
como realidade que continua apenas a ser recebida materialmente, mas que existe, e
que é refletida especificamente como realidade, de certa forma independente da atitude
da pessoa em direção a ela, independente de suas necessidades, afetos e
sentimentos. A atitude em direção a esta realidade é experimentada primeiramente em
direção a algo em si, algo que existe independentemente, embora em reflexão.

Assim, para que a representação de algo surja, é essencial permitir que a ação
se inicie, o objeto desta que surge com determinado sistema de relações objetivas e
que é independente de estados subjetivos como necessidades, sentimentos, afetos,
inclinações, e assim por diante. Esta independência surge como uma conseqüência da
natureza coletiva da atividade de trabalho e da divisão técnica do trabalho inerente
nesta atividade, uma vez que é especificamente esta divisão técnica do trabalho que
cria condições ao homem de produzir variadas ferramentas, independentemente do
fato do objeto construído por ele responder a uma necessidade presente no momento.
De modo geral, o homem distingue sua necessidade de uma ferramenta específica da
necessidade objetiva, isto é, a necessidade decorrente de um certo trabalho coletivo. A
aplicação desta ferramenta como uma ferramenta de trabalho pode ser realizada por
outra pessoa, por outras pessoas com as quais a forma de utilização da ferramenta é
associada ao produto do trabalho agregado, isto é, uma pessoa pode satisfazer sua
necessidade direta através do resultado da ação coletiva. No centro da ação conjunta e
coletiva que cria novos relacionamentos entre as pessoas, não cabe a produção da
espécie humana, nem as relações sexuais, nem uma combinada (no sentido de uma
performance em uníssono) melodia, mas sim o processo objetivo de produção.

Deste modo, estamos lidando com certas ações orientadas por um objetivo que
realiza uma certa imagem. Esta imagem aparece duas vezes: primeiro, na forma da
representação sensorial inicial do objeto, como um condutor do processo; segundo, na
sua realização (prática), forma objetivamente existente. O objeto precisa ser alterado. A
representação do objeto alterado guia a ação, a alteração do objeto, mas quando esta
ação é efetuada, o objeto alterado existe em dois momentos: primeiro, originalmente,
na sua representação inicial; segundo, como percebido, e, assim, objetivamente
existente antes de mim. O resultado é a única duplicação da vida desta imagem, desta
representação: (1) sua existência na forma de uma imagem subjetiva; e (2) sua
existência na forma de um objeto objetivo. O objeto, aparecendo como uma realização,
reified representação de uma meta atingida, por assim dizer, um objetivo, espelho
material da minha imagem, da minha representação da meta. De qualquer modo, a
meta alcançada, sendo incorporada ao objeto, inicia através deste uma existência
independente do homem criador, inicia sua própria existência.

Isto estava na minha mente como uma representação, como uma meta, como
uma idéia. Agora isto se tornou anterior a mim no mundo objetivo. Este mundo objetivo
aparece como um espelho da minha representação. A percepção da imagem
incorporada no objeto é o seu reconhecimento: esta é a transformação a partir de um
original, uma forma vagamente percebida em uma forma que é objetivada e aparece
diante dos meus olhos e à minha percepção.

Veja o que aconteceu. A representação se tornou o objeto de percepção, apesar


de não aparecer em seu próprio formato. E isto aconteceu não porque o homem
aprendeu a observar suas imagens. Introspecção não tem nada a ver com isso. Uma
coisa começou a ser percebida, tomando a forma de um objeto objetivamente
existente. Esta é a consciência do objeto dado, o ver a imagem, mas este ver de forma
alguma se origina no meu próprio ver o objeto dentro de mim. Eu não vejo isto dentro
de mim – a auto-observação não é capaz de cumprir este papel. Eu vejo isto em
alguma coisa!

Uma pessoa desprovida de um espelho não é capaz de ver sua própria face.
Para fazer isso, ela precisa ter um espelho ante ela, e, o mais importante, ela deve ter
alguém como ela. Uma pessoa que vê outra pessoa, ao mesmo tempo, encontra sua
própria face. Eu não posso ver minha própria representação, mas a vendo incorporada
em alguma coisa ou em um outro alguém, eu sou capaz de ver. Isto é chamado “ser
capaz de apresentar a si mesmo”, isto é, estar consciente.

Todavia, este processo não pode se desdobrar tal como descrito acima. O fato é
que vendo uma imagem em um objeto requer mais uma condição. Este objeto precisa
aparecer ante mim em uma forma especial a fim de que eu veja nisto minha imagem
original – a representação de uma representação incorporada em algum tipo de
objetividade. Esta objetividade, colocando isto em um idioma filosófico, deve ser
idealizada, isto significa que ela ainda tem que encontrar a forma de sua existência
para mim, para a consciência do homem. Ela deve existir em alguma coisa que não um
objeto – por outro lado o objeto esconde o conteúdo que é incorporado a ela.

É necessário introduzir um objeto em um sistema de relações no qual é possível


desempenhar o papel de espelho, transformando a representação do homem em
consciência. Este objeto precisa ser significado e existir numa forma especial – na
forma de linguagem. Linguagem é a condição essencial, o único meio pelo qual um
objeto pode adquirir vida dentro da mente do homem, suas existência em uma forma
idealizada, e, conseqüentemente, transformar sua reflexão. É por isso que a linguagem
é um tão essencial momento no nascimento da consciência como atividade de
trabalho.

Porque é que o surgimento da linguagem é uma condição fundamental que


conduz à existência de um objeto idealizado? A vida de um objeto na linguagem
realmente existe. Existe e desenvolve-se no corpo da linguagem, no corpo da palavra,
por assim dizer. O objeto pode adquirir a sua existência na forma de um gesto, na
forma do discurso acústico. Entretanto, uma palavra significando um objeto e o objeto
em si, não são na verdade a mesma coisa. Se uma pessoa diz a palavra “relógio”, no
significado desta palavra está contido um objeto na sua forma generalizada. E o
condutor do conteúdo “relógio” não é algo material, mas é especificamente a palavra. O
objeto começa a existir para o homem não somente na sua forma material, mas
também no corpo de uma palavra. Eu ainda não encontrei um termo melhor que
“corpo” de uma palavra para indicar a substância física de uma palavra. Para o
discurso acústico que é a oscilação do ar, a contração das cordas vocais e a notação
que servem de material físico da palavra. Para o discurso ativo este material são
gestos que carregam um certo conteúdo separado do objeto e começa a viver sua
própria vida no corpo da linguagem.

É por isso que na ciência filosófica do Marxismo, é dada ênfase especial ao


significado da linguagem na formação e progressão da consciência humana. Nas
palavras de Marx, o que a linguagem representa é a “consciência prática” das pessoas.
Por essa razão, a consciência é inseparável da linguagem. Como a consciência, a
linguagem é o produto da atividade humana, o produto da coletividade, e ao mesmo
tempo é “existência propriamente dita”; somente por esta razão é que ela existe para o
indivíduo também.

“A linguagem é tão antiga quanto a consciência, linguagem é prática, real


consciência que existe também para outros homens, e por esta razão somente ela
existe para mim também”. ii Conseqüentemente, a linguagem não é algo efêmero como
o produto da auto-observação. Ela é um produto da vida. Um indivíduo em particular
encontra pronto a linguagem objetivamente existente com seus significados, assim
como quando nasce encontra pronto objetivamente existente o significado da
produção. É claro que, um determinado indivíduo faz contribuições particulares a
linguagem, por exemplo, desenvolvendo significado ou criando um novo trabalho, mas
esta contribuição é meramente um pequeno discurso na tremenda acumulação da
linguagem produzida durante o curso do processo sócio-histórico. Novamente eu
enfatizo que, partindo da perspectiva do significado, a linguagem sempre continua
como um fenômeno ideal que existe objetivamente e é um produto de uma produção
espiritual especial.
No auge do desenvolvimento da nossa consciência é extraordinariamente difícil
imaginar o processo do surgimento da consciência e da linguagem, considerando que a
distância que nos separa dos primeiros passos de seu aparecimento são gigantescos.
Neste caminho, complexas mudanças qualitativas ocorreram. No início da sua origem,
a linguagem humana não era certamente uma ferramenta universal que poderia ser
usada para indicar qualquer coisa possível – desde objetos do mundo externo até as
mais inspiradoras sutilezas da alma humana. Inicialmente, o âmbito de aplicação da
linguagem, e, conseqüentemente, o âmbito do que é conscientemente percebido, era
drasticamente limitado pela esfera da produção e de relações produtivas. Somente
gradativamente, em certos estágios do desenvolvimento, o processo de expansão da
esfera da comunicação ocorreu e, conseqüentemente, o sistema de significados
lingüísticos e a tecnologização [tekhnizatsiia] da linguagem. O termo tecnologização
pertence ao talentoso lingüístico soviético, V.I. Abaev, que percebeu que um estágio
particular do desenvolvimento da linguagem é o desenvolvimento de um aspecto
técnico primário da linguagem, por exemplo, a gramática. Tal tecnologização da
linguagem torna isto possível, fornecendo um relativamente modesto desenvolvimento
dos conteúdos léxicos do discurso, de modo a abranger um vasto leque de fenômenos
do mundo objetivo.

A partir da perspectiva da atividade humana, a linguagem, em termos de lugar


estruturado, pode ser comparada com uma ferramenta. Esta ferramenta, sendo uma
“operante” única, estabelece a maneira de agir que deve ser aplicada a ela. Assim, o
significado primeiro fornece os meios de transmissão, atribuindo significado (sentido)
aquilo que está sendo significado, e a relação de um significado com outros
significados, e em fazê-lo atua como um operador em operações cognitivas. Este
último movimento de significados reflete a lógica da gramática – a qual não é também
inventada por um indivíduo separado, mas é adotada por ele. Em essência, a
assimilação de uma palavra é igual em medida a assimilação de operações, de
maneiras de utilizar uma palavra, na qual a assimilação de uma ferramenta é a
assimilação das formas de usá-la. O que significa dominar uma serra? Dominar uma
serra significa nada mais do que aprender como serrar. É claro que, numa determinada
situação uma pedra pode se tornar um martelo; entretanto, a questão aqui não é a
pedra, mas sim o uso deste objeto físico como uma ferramenta.

Chegamos a uma preposição muito importante: juntamente com o


desenvolvimento da consciência e da linguagem, surge um tipo especial de
funcionamento – as operações lingüísticas. Tais operações incluem, somadas as
operações da comunicação, que foram abordadas acima, uma operação exclusiva a
ação. É uma operação mental que ocorre no plano da consciência. Essa operação é
uma transformação de significados ou, usando uma expressão do Philosophical
Notebooks [Filosofskie tetradi], de V.I Lenin, é como se “conceitos emanassem de um
para o outro”. Psicologistas freqüentemente falam do movimento de significados, e não
de conceitos, desde que o termo “conceito” é usado para enfatizar generalizações
como tais, enquanto que o termo “significado” é utilizado para enfatizar a natureza
lingüística da consciência, a forma da existência de um conceito de consciência.

Assim, significados, que começam a existir na mente humana, mudam, retirada


a sua forma lingüística externa. Em outras palavras, a forma lingüística se restringe ao
ponto de desaparecimento. A forma lingüística livre, como Moor que “fez seu trabalho”,
pode ir – e vai, em qualquer caso, para além das fronteiras da auto-observação. Na
medida em que a auto-observação está em questão, para entender este problema, ou
qualquer problema psicológico neste assunto, só pode desempenhar o papel de
iniciador de estudo e não é capaz, tomada de si mesmo, de resolver este problema
complexo. Na escola de Würzburg, onde os sujeitos experimentais eram os próprios
psicologistas que adquiriram grandes habilidades ao trabalhar utilizando o método
introspectivo, os pesquisadores revelaram-se completamente desarmados em sua
tentativa de estudar as transformações que sofrem a lingüística. Para aqueles da
escola de Würzburg, a forma da verdadeira existência do significado revelou-se
escondida.

Onde deveríamos procurar a resposta da questão sobre a natureza das


mudanças no significado? Somente através da via da investigação genética, do estudo
dos processos mentais e sua formação e desenvolvimento. Se o homem domina certas
atividades, por exemplo, dirigir um automóvel, este processo pode ser estudado
somente depois de o vermos em sua dimensão genética. Ademais, este estudo se
baseia absolutamente em indicadores objetivos, sem os quais é impossível estudar o
processo de fragmentação ou consolidação que são unidades da atividade.

O significado aparece como um “momento” da consciência, que, como atividade,


possui uma complexa estrutura. Consciência, assim como atividade, demanda
pesquisas em todos os momentos que a caracterizam e demanda estudos das inter-
relações de seus elementos. Considerando que a consciência nasce através da
atividade, como uma forma de reflexão, ela reproduz os principais “momentos” da
atividade generativa, depende dela, e, conseqüentemente, uma análise completa da
consciência, é essencial para continuar o estudo dos laços entre os distintos momentos
da consciência e os distintos momentos que caracterizam a atividade humana
desenvolvida.

Notas

i
* Fonte não indicada no original.
ii
K. Marks [Marx] and F. Engel’s [Engels]. Soch. [Works]. 2 ed. (Moscow, 1954), vol. 3, p.29.

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