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DA SILVA
Journal of Russian and East European Psychology, vol. 43, nº5, July- August
2005, p.5-13.
O círculo é quebrado com o início prático da ação, isto é, com a ação que entra
em contanto real com objetos verdadeiramente tangíveis. O maior representante da
filosofia clássica alemã, Hegel, que desenvolveu junto a seu sistema idealista um
método dialético para a resolução de problemas teóricos, sabia, é claro, sobre aquele
círculo e um tanto ironicamente respondeu a questão sobre onde o círculo está
quebrado: “Nós nunca paramos para pensar o que governa a nós ou a nossas ações.
Não utilizamos isto como um ponto de partida, mas simplesmente começamos no que
agimos!” (“O indivíduo”, Hegel coloca, “não pode determinar o objetivo de sua ação até
que ele tenha agido”). *i
O que provê a afferentation, o que direciona a ação inicial para a qual o “ato” se
origina? what directs the initial action from which the “deed” begins?
Aparentemente, [a resposta é] algumas formas que são menos desenvolvidas e
qualitativamente diferentes daquelas que são descritas como formas de representação
consciente da meta (do objetivo) consciente.
Assim, para que a representação de algo surja, é essencial permitir que a ação
se inicie, o objeto desta que surge com determinado sistema de relações objetivas e
que é independente de estados subjetivos como necessidades, sentimentos, afetos,
inclinações, e assim por diante. Esta independência surge como uma conseqüência da
natureza coletiva da atividade de trabalho e da divisão técnica do trabalho inerente
nesta atividade, uma vez que é especificamente esta divisão técnica do trabalho que
cria condições ao homem de produzir variadas ferramentas, independentemente do
fato do objeto construído por ele responder a uma necessidade presente no momento.
De modo geral, o homem distingue sua necessidade de uma ferramenta específica da
necessidade objetiva, isto é, a necessidade decorrente de um certo trabalho coletivo. A
aplicação desta ferramenta como uma ferramenta de trabalho pode ser realizada por
outra pessoa, por outras pessoas com as quais a forma de utilização da ferramenta é
associada ao produto do trabalho agregado, isto é, uma pessoa pode satisfazer sua
necessidade direta através do resultado da ação coletiva. No centro da ação conjunta e
coletiva que cria novos relacionamentos entre as pessoas, não cabe a produção da
espécie humana, nem as relações sexuais, nem uma combinada (no sentido de uma
performance em uníssono) melodia, mas sim o processo objetivo de produção.
Deste modo, estamos lidando com certas ações orientadas por um objetivo que
realiza uma certa imagem. Esta imagem aparece duas vezes: primeiro, na forma da
representação sensorial inicial do objeto, como um condutor do processo; segundo, na
sua realização (prática), forma objetivamente existente. O objeto precisa ser alterado. A
representação do objeto alterado guia a ação, a alteração do objeto, mas quando esta
ação é efetuada, o objeto alterado existe em dois momentos: primeiro, originalmente,
na sua representação inicial; segundo, como percebido, e, assim, objetivamente
existente antes de mim. O resultado é a única duplicação da vida desta imagem, desta
representação: (1) sua existência na forma de uma imagem subjetiva; e (2) sua
existência na forma de um objeto objetivo. O objeto, aparecendo como uma realização,
reified representação de uma meta atingida, por assim dizer, um objetivo, espelho
material da minha imagem, da minha representação da meta. De qualquer modo, a
meta alcançada, sendo incorporada ao objeto, inicia através deste uma existência
independente do homem criador, inicia sua própria existência.
Isto estava na minha mente como uma representação, como uma meta, como
uma idéia. Agora isto se tornou anterior a mim no mundo objetivo. Este mundo objetivo
aparece como um espelho da minha representação. A percepção da imagem
incorporada no objeto é o seu reconhecimento: esta é a transformação a partir de um
original, uma forma vagamente percebida em uma forma que é objetivada e aparece
diante dos meus olhos e à minha percepção.
Uma pessoa desprovida de um espelho não é capaz de ver sua própria face.
Para fazer isso, ela precisa ter um espelho ante ela, e, o mais importante, ela deve ter
alguém como ela. Uma pessoa que vê outra pessoa, ao mesmo tempo, encontra sua
própria face. Eu não posso ver minha própria representação, mas a vendo incorporada
em alguma coisa ou em um outro alguém, eu sou capaz de ver. Isto é chamado “ser
capaz de apresentar a si mesmo”, isto é, estar consciente.
Todavia, este processo não pode se desdobrar tal como descrito acima. O fato é
que vendo uma imagem em um objeto requer mais uma condição. Este objeto precisa
aparecer ante mim em uma forma especial a fim de que eu veja nisto minha imagem
original – a representação de uma representação incorporada em algum tipo de
objetividade. Esta objetividade, colocando isto em um idioma filosófico, deve ser
idealizada, isto significa que ela ainda tem que encontrar a forma de sua existência
para mim, para a consciência do homem. Ela deve existir em alguma coisa que não um
objeto – por outro lado o objeto esconde o conteúdo que é incorporado a ela.
Notas
i
* Fonte não indicada no original.
ii
K. Marks [Marx] and F. Engel’s [Engels]. Soch. [Works]. 2 ed. (Moscow, 1954), vol. 3, p.29.