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As Redes de Atenção à Saúde (RAS)

Você sabe o que são as Redes de Atenção à Saúde (RAS) no SUS?


Esse conceito foi abordado pela primeira vez, em 1920, no Relatório Dawson. Nele está descrita a
ideia da Atenção Primária em Saúde como organizadora de uma rede de serviços, além de
apresentar conceitos como território, populações adscritas, porta de entrada, vínculo/ acolhimento,
referência e Atenção Primária como coordenadora do cuidado.

Para o seu autor, Lord Dawson, a saúde só poderia ser assegurada mediante uma organização nova e
ampliada, distribuída em função das necessidades da comunidade. Tal organização é indispensável
por razões de eficiência e custos, assim como para o benefício do público e da profissão médica.
Para isso, os serviços de saúde deveriam estar localizados de acordo com a distribui ção da
população e dos meios públicos de transporte e com as correntes naturais de fluxos comerciais e de
tráfego, variando em tamanho e complexidade, segundo as circunstâncias.

Este modelo foi adotado por todos os países que instituíram sistemas nacionais de saúde,
preconizado pela Organização Mundial de Saúde e pela Organização Pan-Americana de Saúde e, faz
relação intrínseca entre os princípios e a estratégia de regionalização.
Segundo o Ministério da Saúde (2010), Redes de Atenção à Saúde são arranjos organizativos de
ações e serviços de saúde de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de
sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado
(Ministério da Saúde, 2010 – Portaria 4.279, de 30/12/2010).

A Rede de Atenção à Saúde organizada propõe diminuir a fragmentação histórica do sistema de


saúde, evitar concorrência entre os serviços, promover a orientação dos usuários, utilizar os recursos
de forma adequada (diminuição dos custos), promover o seguimento horizontal dos usuários
(aumento da prevalência das doenças crônicas), promover um melhor monitoramento e avaliação.

Como as Redes de Atenção à Saúde (RAS) são constituídas?


As RAS apresentam três elementos constitutivos: a população, a estrutura operacional e os
modelos de atenção à saúde.

População
O primeiro elemento das RAS, e sua razão de ser, é uma população, colocada sob sua
responsabilidade sanitária e econômica.

É isso que marca a atenção à saúde com base na população, uma característica essencial das RAS.

A população de responsabilidade das RAS não é a população dos censos demográficos, mas a
população cadastrada e vinculada a uma unidade de Atenção Primária em Saúde (APS).
Estrutura operacional
A estrutura operacional das RAS compõe-se de cinco componentes: o centro de comunicação, a
APS; os pontos de atenção à saúde secundários e terciários; os sistemas de apoio (sistemas de apoio
diagnóstico e terapêutico, sistemas de assistência farmacêutica, sistemas de teleassistência e
sistemas de informação em saúde); os sistemas logísticos (registro eletrônico em saúde, sistemas de
acesso regulado à atenção e sistemas de transporte em saúde); e o sistema de governança da RAS.

Modelos de atenção à saúde


O terceiro elemento constitutivo das RAS são os modelos de atenção à saúde. Os modelos de
atenção à saúde são sistemas lógicos que organizam o funcionamento das RAS, articulando, de
forma singular, as relações entre os componentes da rede e as intervenções sanitárias, definidos em
razão da visão prevalecente da saúde, das situações demográfica e epidemiológica e dos
determinantes sociais da saúde, vigentes em determinado tempo e em determinada sociedade. Os
modelos de atenção à saúde são de dois tipos: os modelos de atenção aos eventos agudos e os
modelos de atenção às condições crônicas.

Exemplo de uma das Redes temáticas de Atenção à Saúde


Rede Cegonha
A Rede Cegonha consiste em uma rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao
planejamento reprodutivo e atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como à
criança o direito ao nascimento seguro, ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis e tem como
objetivo, além de fomentar a implementação de novo modelo de atenção à saúde da mulher e à
saúde da criança, reduzir a mortalidade materna e infantil com ênfase no componente neonatal.

Observe na figura que a Rede Cegonha parte da Unidade Básica de Saúde (nível primário de atenção),
até a Maternidade (nível terciário de atenção), oferecendo assim, todo o suporte necessário para
esta linha de cuidado, em tempo e acesso igualitário dentro da complexidade de cada serviço.
Formas de organização de sistemas de saúde
Para compreendermos melhor o funcionamento da RAS, é necessário revisitar a concepção dos
níveis de atenção Hierárquica e piramidal de Atenção e a Rede Poliárquica em Rede, citado por
Mendes (2011).

Os níveis de atenção à saúde estruturam-se por arranjos produtivos conformados segundo as


densidades tecnológicas singulares, variando do nível de menor densidade, a APS, ao de densidade
tecnológica intermediária, a atenção secundária à saúde, até o de maior densidade tecnológica, a
atenção terciária à saúde.

Os níveis de atenção à saúde são fundamentais para o uso racional dos recursos e para estabelecer o
foco gerencial dos entes de governança das RAS.

Na prática social, ao se construírem as RAS, há que se combinar os territórios sanitários com os


níveis de atenção à saúde.

Nas RAS a concepção de hierarquia é substituída pela de poliarquia e o sistema organiza-se sob a
forma de uma rede horizontal de atenção à saúde. Assim, nas redes de atenção à saúde não há uma
hierarquia entre os diferentes pontos de atenção, mas a conformação de uma rede horizontal de
pontos de atenção à saúde de distintas densidades tecnológicas e seus sistemas de apoio, sem
ordem e sem grau de importância entre eles. Todos os pontos de atenção são igualmente
importantes para que se cumpram os objetivos, apenas se diferenciam pelas distintas densidades
tecnológicas que os caracterizam.

A concepção vigente na normativa do SUS é a de um sistema hierárquico, piramidal (figura),


formado segundo as complexidades relativas de cada nível de atenção em atenção básica, média
complexidade e alta complexidade.
Modelo hegemônico vigente no SUS X Modelo proposto pelas RAS

No primeiro modelo, as condições agudas são mais relevantes. A oferta, portanto, se dá


preferencialmente em resposta à estas condições. Sendo assim, a atenção se dá em relação à
demanda espontânea, evidenciando o aspecto biomédico como determinante do cuidado.

Já no modelo da RAS, o modo de pensar vai para além da queixa aguda, levando em conta a
continuidade do cuidado para o enfrentamento das condi ções crônicas.

Mendes (2011) ainda complementa que doenças agudas caracterizam-se pelo binômio tempo-
resposta enquanto que as condições crônicas exige uma resposta social
Atenção Primária como ordenadora do cuidado na RAS

Como vimos, as RAS são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados
entre si por uma missão única, por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente,
que permitem ofertar uma atenção contínua e integral a determinada população, coordenada pela
APS – prestada no tempo certo, no lugar certo, com o custo certo, com a qualidade certa, de forma
humanizada e segura e com equidade , com responsabilidades sanitária e econômica pela população
adscrita e gerando valor para essa população (MENDES, 2011).

Muito se fala em relação a Atenção Primária como "porta de entrada" e responsável por ordenar o
cuidado em saúde, mas como isso acontece?

Dentre as Diretrizes da Atenção Básica, destacamos algumas como pontos relevantes à esta
discussão, citadas na PNAB (Política Nacional da Atenção Básica), 2017.

Diretrizes da Atenção Básica


Resolutividade
A APS deve ser capaz de resolver a grande maioria dos problemas de saúde da população,
coordenando o cuidado do usuário em outros pontos da RAS, quando necessário; utilizando e
articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma cl ínica
ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas,
centrada na pessoa, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos
sociais.
Coordenar o cuidado
Elaborar, acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RAS, atuando
como o centro de comunicação entre os diversos pontos de atenção, responsabilizando-se pelo
cuidado dos usuários em qualquer destes pontos através de uma relação horizontal, contínua e
integrada, com o objetivo de produzir a gestão compartilhada da atenção integral. Articulando
também as outras estruturas das redes de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais.

Ordenar as redes
Reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando as
necessidades desta população em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo para
que o planejamento das ações, assim como, a programação dos serviços de saúde, parta das
necessidades de saúde das pessoas.

A PNAB ainda destaca a Atenção Básica como primeiro ponto de atenção e porta de entrada
preferencial do sistema, que deve ordenar os fluxos e contrafluxos de pessoas , produtos e
informações em todos os pontos de atenção à saúde.

Participação da comunidade
Estimular a participação das pessoas, a orientação comunitária das ações de saúde na Atenção
Básica e a competência cultural no cuidado, como forma de ampliar sua autonomia e capacidade na
construção do cuidado à sua saúde e das pessoas e coletividades do território. Considerando ainda o
enfrentamento dos determinantes e condicionantes de saúde, através de articulação e integração
das ações intersetoriais na organização e orientação dos serviços de saúde, a partir de lógicas mais
centradas nas pessoas e no exercício do controle social.

E quais são os serviços que correspondem a esta "porta de entrada" prioritária


para o sistema?
Atualmente, temos várias configurações de Unidades Básicas de Saúde. É a tal da "sopa de
letrinhas": UBS Tradicional, UBS Tradicional + ESF, UBS só com ESF, UBS só com EAP (Equipes de
Atenção Primária), AMA UBS Integrada.

De acordo com o Art. 6º da PNAB, 2017, todos os estabelecimentos de saúde que prestem ações e
serviços de Atenção Básica, no âmbito do SUS, de acordo com esta portaria serão denominados
Unidade Básica de Saúde - UBS.

Portanto, todos estes modelos são considerados Unidades Básicas de Saúde e devem ser pautadas
nos Princípios e Diretrizes do SUS.

Todas as UBS são responsáveis por uma população adscrita, ou seja, pelas pessoas que residem no
território de abrangência da Unidade Básica de Saúde, levando em consideração o princípio da
descentralização onde, em âmbito local, corresponde à distribuição dos serviços de saúde nos
territórios, garantindo que cada pessoa tenha uma unidade de saúde de referência para o seu
cuidado.

A PNAB tem na Saúde da Família sua estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção
Básica, ou seja, há um investimento para a ampliação da ESF em todas as Unidades Básicas de Saúde,
mas outras modalidades poderão ser adicionadas a este modelo, de acordo com a A PORTARIA Nº
2.539, DE 26 DE SETEMBRO DE 2019 que veremos a seguir.
O que há de novo na PNAB?
A PORTARIA Nº 2.539, DE 26 DE SETEMBRO DE 2019 altera as Portarias de Consolidação nº
2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, e nº 6, de 28 de setembro de 2017 (PNAB), 2017), para
instituir a Equipe de Atenção Primária - EAP e dispor sobre o financiamento de Equipe de Saúde
Bucal - ESB com carga horária diferenciada de modo a atender às características e necessidades de
cada município, e deverá observar as diretrizes da Política Nacional da Atenção Básica - PNAB e os
atributos essenciais da Atenção Primária à Saúde, como acesso de primeiro contato,
longitudinalidade, coordenação e integralidade.

Vejamos a seguir:

Equipe de Atenção Primária - eAP

Difere da Equipe de Saúde da Família - ESF em sua composição

Deverão ser compostas minimamente por médicos preferencialmente especialistas em medicina de


família e comunidade e enfermeiros preferencialmente especialistas em saúde da família
cadastrados em uma mesma Unidade de Saúde.

Poderão ser de duas modalidades, de acordo com a carga horária

Modalidade I: a carga horária mínima individual dos profissionais deverá ser de 20 (vinte) horas
semanais, com população adscrita correspondente a 50% (cinquenta por cento) da população
adscrita para uma eSF

Modalidade II: a carga horária mínima individual dos profissionais deverá ser de 30 (trinta) horas
semanais, com população adscrita correspondente a 75% (setenta e cinco por cento) da população
adscrita para uma eSF.

Para saber mais, acesse

https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.539-de-26-de-setembro-de-2019-218535009

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