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POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Secretaria Municipal de Saúde (SMS)


ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE NO Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços
BRASIL: SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – PRINCÍPIOS E de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera esta-
DIRETRIZES, CONTROLE SOCIAL. INDICADORES DE dual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde.
SAÚDE
Conselhos de Saúde
O que é o Sistema Único de Saúde (SUS)? O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, Esta-
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais com- dual ou Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão
plexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o colegiado composto por representantes do governo, prestadores
simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação
da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo aces- de estratégias e no controle da execução da política de saúde na
so integral, universal e gratuito para toda a população do país. Com instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e fi-
a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema nanceiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder
público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e legalmente constituído em cada esfera do governo.
não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros,
todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movi-
na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção mentos representativos de usuários; 25% de entidades representa-
da saúde. tivas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação
A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou
participativa entre os três entes da Federação: a União, os Estados sem fins lucrativos.
e os municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tan-
to ações quanto os serviços de saúde. Engloba a atenção primária, Comissão Intergestores Tripartite (CIT)
média e alta complexidades, os serviços urgência e emergência, a Foro de negociação e pactuação entre gestores federal, esta-
atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemioló- dual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS
gica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica.
AVANÇO: Conforme a Constituição Federal de 1988 (CF-88), a Comissão Intergestores Bipartite (CIB)
“Saúde é direito de todos e dever do Estado”. No período anterior a Foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e mu-
CF-88, o sistema público de saúde prestava assistência apenas aos nicipais, quanto aos aspectos operacionais do SUS
trabalhadores vinculados à Previdência Social, aproximadamente
30 milhões de pessoas com acesso aos serviços hospitalares, caben- Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass)
do o atendimento aos demais cidadãos às entidades filantrópicas. Entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Fe-
deral na CIT para tratar de matérias referentes à saúde
Estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS)
O Sistema Único de Saúde (SUS) é composto pelo Ministério da Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Co-
Saúde, Estados e Municípios, conforme determina a Constituição nasems)
Federal. Cada ente tem suas co-responsabilidades. Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tra-
tar de matérias referentes à saúde
Ministério da Saúde
Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems)
e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacio- São reconhecidos como entidades que representam os entes
nal de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes
(CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estru- à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na
tura: Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hos- forma que dispuserem seus estatutos.
pitais federais.
Responsabilidades dos entes que compõem o SUS
Secretaria Estadual de Saúde (SES)
Participa da formulação das políticas e ações de saúde, pres- União
ta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e A gestão federal da saúde é realizada por meio do Ministério
participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e da Saúde. O governo federal é o principal financiador da rede públi-
implementar o plano estadual de saúde. ca de saúde. Historicamente, o Ministério da Saúde aplica metade
de todos os recursos gastos no país em saúde pública em todo o
Brasil, e estados e municípios, em geral, contribuem com a outra

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Regionalização: consensos e estratégias - As ações e os serviços Níveis de atenção à saúde: O SUS ordena o cuidado com a saú-
de saúde não podem ser estruturados apenas na escala dos municí- de em níveis de atenção, que são de básica, média e alta complexi-
pios. Existem no Brasil milhares de pequenas municipalidades que dade. Essa estruturação visa à melhor programação e planejamento
não possuem em seus territórios condições de oferecer serviços das ações e dos serviços do sistema de saúde. Não se deve, porém,
de alta e média complexidade; por outro lado, existem municípios desconsiderar algum desses níveis de atenção, porque a atenção à
que apresentam serviços de referência, tornando-se polos regio- saúde deve ser integral.
nais que garantem o atendimento da sua população e de municí- A atenção básica em saúde constitui o primeiro nível de aten-
pios vizinhos. Em áreas de divisas interestaduais, são frequentes os ção à saúde adotada pelo SUS. É um conjunto de ações que engloba
intercâmbios de serviços entre cidades próximas, mas de estados promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. De-
diferentes. Por isso mesmo, a construção de consensos e estraté- senvolve-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democrá-
gias regionais é uma solução fundamental, que permitirá ao SUS ticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas
superar as restrições de acesso, ampliando a capacidade de atendi- a populações de territórios delimitados, pelos quais assumem res-
mento e o processo de descentralização. ponsabilidade.
Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade,
O Sistema Hierarquizado e Descentralizado: As ações e serviços objetivando solucionar os problemas de saúde de maior frequência
de saúde de menor grau de complexidade são colocadas à disposi- e relevância das populações. É o contato preferencial dos usuários
ção do usuário em unidades de saúde localizadas próximas de seu com o sistema de saúde. Deve considerar o sujeito em sua singu-
domicílio. As ações especializadas ou de maior grau de complexida- laridade, complexidade, inteireza e inserção sociocultural, além de
de são alcançadas por meio de mecanismos de referência, organi- buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de do-
zados pelos gestores nas três esferas de governo. Por exemplo: O enças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam compro-
usuário é atendido de forma descentralizada, no âmbito do muni- meter suas possibilidades de viver de modo saudável.
cípio ou bairro em que reside. Na hipótese de precisar ser atendi- As Unidades Básicas são prioridades porque, quando as Unida-
do com um problema de saúde mais complexo, ele é referenciado, des Básicas de Saúde funcionam adequadamente, a comunidade
isto é, encaminhado para o atendimento em uma instância do SUS consegue resolver com qualidade a maioria dos seus problemas de
mais elevada, especializada. Quando o problema é mais simples, o saúde. É comum que a primeira preocupação de muitos prefeitos
cidadão pode ser contrarreferenciado, isto é, conduzido para um se volte para a reforma ou mesmo a construção de hospitais. Para o
atendimento em um nível mais primário. SUS, todos os níveis de atenção são igualmente importantes, mas a
prática comprova que a atenção básica deve ser sempre prioritária,
Plano de saúde fixa diretriz e metas à saúde municipal porque possibilita melhor organização e funcionamento também
É responsabilidade do gestor municipal desenvolver o proces- dos serviços de média e alta complexidade.
so de planejamento, programação e avaliação da saúde local, de Estando bem estruturada, ela reduzirá as filas nos prontos so-
modo a atender as necessidades da população de seu município corros e hospitais, o consumo abusivo de medicamentos e o uso
com eficiência e efetividade. O Plano Municipal de Saúde (PMS) indiscriminado de equipamentos de alta tecnologia. Isso porque
deve orientar as ações na área, incluindo o orçamento para a sua os problemas de saúde mais comuns passam a ser resolvidos nas
execução. Um instrumento fundamental para nortear a elaboração Unidades Básicas de Saúde, deixando os ambulatórios de especiali-
do PMS é o Plano Nacional de Saúde. Cabe ao Conselho Municipal dades e hospitais cumprirem seus verdadeiros papéis, o que resul-
de Saúde estabelecer as diretrizes para a formulação do PMS, em ta em maior satisfação dos usuários e utilização mais racional dos
função da análise da realidade e dos problemas de saúde locais, recursos existentes.
assim como dos recursos disponíveis. No PMS, devem ser descritos
os principais problemas da saúde pública local, suas causas, con- Saúde da Família: é a saúde mais perto do cidadão. É parte da
sequências e pontos críticos. Além disso, devem ser definidos os estratégia de estruturação eleita pelo Ministério da Saúde para re-
objetivos e metas a serem atingidos, as atividades a serem execu- organização da atenção básica no País, com recursos financeiros
tadas, os cronogramas, as sistemáticas de acompanhamento e de específicos para o seu custeio. Cada equipe é composta por um
avaliação dos resultados. conjunto de profissionais (médico, enfermeiro, auxiliares de enfer-
magem e agentes comunitários de saúde, podendo agora contar
Sistemas de informações ajudam a planejar a saúde: O SUS com profissional de saúde bucal) que se responsabiliza pela situa-
opera e/ou disponibiliza um conjunto de sistemas de informações ção de saúde de determinada área, cuja população deve ser de no
estratégicas para que os gestores avaliem e fundamentem o pla- mínimo 2.400 e no máximo 4.500 pessoas. Essa população deve
nejamento e a tomada de decisões, abrangendo: indicadores de ser cadastrada e acompanhada, tornando-se responsabilidade das
saúde; informações de assistência à saúde no SUS (internações equipes atendê-la, entendendo suas necessidades de saúde como
hospitalares, produção ambulatorial, imunização e atenção básica); resultado também das condições sociais, ambientais e econômicas
rede assistencial (hospitalar e ambulatorial); morbidade por local em que vive. Os profissionais é que devem ir até suas casas, porque
de internação e residência dos atendidos pelo SUS; estatísticas o objetivo principal da Saúde da Família é justamente aproximar as
vitais (mortalidade e nascidos vivos); recursos financeiros, infor- equipes das comunidades e estabelecer entre elas vínculos sólidos.
mações demográficas, epidemiológicas e socioeconômicas. Cami- A saúde municipal precisa ser integral. O município é respon-
nha-se rumo à integração dos diversos sistemas informatizados de sável pela saúde de sua população integralmente, ou seja, deve
base nacional, que podem ser acessados no site do Datasus. Nesse garantir que ela tenha acessos à atenção básica e aos serviços es-
processo, a implantação do Cartão Nacional de Saúde tem papel pecializados (de média e alta complexidade), mesmo quando locali-
central. Cabe aos prefeitos conhecer e monitorar esse conjunto de zados fora de seu território, controlando, racionalizando e avalian-
informações essenciais à gestão da saúde do seu município. do os resultados obtidos.

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Só assim estará promovendo saúde integral, como determina Desafios públicos, responsabilidades compartilhadas: A legis-
a legislação. É preciso que isso fique claro, porque muitas vezes o lação brasileira – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e legislação
gestor municipal entende que sua responsabilidade acaba na aten- sanitária, incluindo as Leis n.º 8.080/1990 e 8.142/1990 – estabe-
ção básica em saúde e que as ações e os serviços de maior comple- lece prerrogativas, deveres e obrigações a todos os governantes. A
xidade são responsabilidade do Estado ou da União – o que não é Constituição Federal define os gastos mínimos em saúde, por es-
verdade. fera de governo, e a legislação sanitária, os critérios para as trans-
A promoção da saúde é uma estratégia por meio da qual os ferências intergovernamentais e alocação de recursos financeiros.
desafios colocados para a saúde e as ações sanitárias são pensa- Essa vinculação das receitas objetiva preservar condições mínimas
dos em articulação com as demais políticas e práticas sanitárias e e necessárias ao cumprimento das responsabilidades sanitárias e
com as políticas e práticas dos outros setores, ampliando as pos- garantir transparência na utilização dos recursos disponíveis.
sibilidades de comunicação e intervenção entre os atores sociais A responsabilização fiscal e sanitária de cada gestor e servi-
envolvidos (sujeitos, instituições e movimentos sociais). A promo- dor público deve ser compartilhada por todos os entes e esferas
ção da saúde deve considerar as diferenças culturais e regionais, governamentais, resguardando suas características, atribuições e
entendendo os sujeitos e as comunidades na singularidade de suas competências. O desafio primordial dos governos, sobretudo na
histórias, necessidades, desejos, formas de pertencer e se relacio- esfera municipal, é avançar na transformação dos preceitos cons-
nar com o espaço em que vivem. Significa comprometer-se com os titucionais e legais que constituem o SUS em serviços e ações que
sujeitos e as coletividades para que possuam, cada vez mais, auto- assegurem o direito à saúde, como uma conquista que se realiza
nomia e capacidade para manejar os limites e riscos impostos pela cotidianamente em cada estabelecimento, equipe e prática sani-
doença, pela constituição genética e por seu contexto social, polí- tária. É preciso inovar e buscar, coletiva e criativamente, soluções
tico, econômico e cultural. A promoção da saúde coloca, ainda, o novas para os velhos problemas do nosso sistema de saúde. A cons-
desafio da intersetorialidade, com a convocação de outros setores trução de espaços de gestão que permitam a discussão e a crítica,
sociais e governamentais para que considerem parâmetros sanitá- em ambiente democrático e plural, é condição essencial para que o
rios, ao construir suas políticas públicas específicas, possibilitando SUS seja, cada vez mais, um projeto que defenda e promova a vida.
a realização de ações conjuntas. Muitos municípios operam suas ações e serviços de saúde em
condições desfavoráveis, dispondo de recursos financeiros e equi-
Vigilância em saúde: expande seus objetivos. Em um país com pes insuficientes para atender às demandas dos usuários, seja em
as dimensões do Brasil, com realidades regionais bastante diver- volume, seja em complexidade – resultado de uma conjuntura so-
sificadas, a vigilância em saúde é um grande desafio. Apesar dos cial de extrema desigualdade. Nessas situações, a gestão pública
avanços obtidos, como a erradicação da poliomielite, desde 1989, em saúde deve adotar condução técnica e administrativa compa-
e com a interrupção da transmissão de sarampo, desde 2000, con- tível com os recursos existentes e criativa em sua utilização. Deve
vivemos com doenças transmissíveis que persistem ou apresentam estabelecer critérios para a priorização dos gastos, orientados por
incremento na incidência, como a AIDS, as hepatites virais, as me- análises sistemáticas das necessidades em saúde, verificadas junto
ningites, a malária na região amazônica, a dengue, a tuberculose à população. É um desafio que exige vontade política, propostas
e a hanseníase. Observamos, ainda, aumento da mortalidade por inventivas e capacidade de governo.
causas externas, como acidentes de trânsito, conflitos, homicídios
e suicídios, atingindo, principalmente, jovens e população em idade A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios compar-
produtiva. Nesse contexto, o Ministério da Saúde com o objetivo tilham as responsabilidades de promover a articulação e a intera-
de integração, fortalecimento da capacidade de gestão e redução ção dentro do Sistema Único de Saúde – SUS, assegurando o acesso
da morbimortalidade, bem como dos fatores de risco associados universal e igualitário às ações e serviços de saúde.
à saúde, expande o objeto da vigilância em saúde pública, abran- O SUS é um sistema de saúde, regionalizado e hierarquizado,
gendo as áreas de vigilância das doenças transmissíveis, agravos e que integra o conjunto das ações de saúde da União, Estados, Dis-
doenças não transmissíveis e seus fatores de riscos; a vigilância am- trito Federal e Municípios, onde cada parte cumpre funções e com-
biental em saúde e a análise de situação de saúde. petências específicas, porém articuladas entre si, o que caracteriza
os níveis de gestão do SUS nas três esferas governamentais.
Competências municipais na vigilância em saúde Criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado
Compete aos gestores municipais, entre outras atribuições, as pela Lei nº 8.080/90, conhecida como a Lei Orgânica da Saúde, e
atividades de notificação e busca ativa de doenças compulsórias, pela Lei nº 8.142/90, que trata da participação da comunidade na
surtos e agravos inusitados; investigação de casos notificados em gestão do Sistema e das transferências intergovernamentais de re-
seu território; busca ativa de declaração de óbitos e de nascidos vi- cursos financeiros, o SUS tem normas e regulamentos que discipli-
vos; garantia a exames laboratoriais para o diagnóstico de doenças nam as políticas e ações em cada Subsistema.
de notificação compulsória; monitoramento da qualidade da água A Sociedade, nos termos da Legislação, participa do planeja-
para o consumo humano; coordenação e execução das ações de mento e controle da execução das ações e serviços de saúde. Essa
vacinação de rotina e especiais (campanhas e vacinações de blo- participação se dá por intermédio dos Conselhos de Saúde, presen-
queio); vigilância epidemiológica; monitoramento da mortalidade tes na União, nos Estados e Municípios.
infantil e materna; execução das ações básicas de vigilância sanitá-
ria; gestão e/ou gerência dos sistemas de informação epidemioló-
gica, no âmbito municipal; coordenação, execução e divulgação das
atividades de informação, educação e comunicação de abrangência
municipal; participação no financiamento das ações de vigilância
em saúde e capacitação de recursos.

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SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE O SUS deve atuar em campo demarcado pela lei, em razão do
Pela dicção dos arts. 196 e 198 da CF, podemos afirmar que disposto no art. 200 da CF e porque o enunciado constitucional de
somente da segunda parte do art. 196 se ocupa o Sistema Único de que saúde é direito de todos e dever do Estado, não tem o condão
Saúde, de forma mais concreta e direta, sob pena de a saúde, como de abranger as condicionantes econômico-sociais da saúde, tam-
setor, como uma área da Administração Pública, se ver obrigada a pouco compreender, de forma ampla e irrestrita, todas as possíveis
cuidar de tudo aquilo que possa ser considerado como fatores que e imagináveis ações e serviços de saúde, até mesmo porque haverá
condicionam e interferem com a saúde individual e coletiva. Isso sempre um limite orçamentário e um ilimitado avanço tecnológico
seria um arrematado absurdo e deveríamos ter um super Minis- a criar necessidades infindáveis e até mesmo questionáveis sob o
tério e super Secretarias da Saúde responsáveis por toda política ponto de vista ético, clínico, familiar, terapêutico, psicológico.
social e econômica protetivas da saúde. Será a lei que deverá impor as proporções, sem, contudo, é
Se a Constituição tratou a saúde sob grande amplitude, isso obvio, cercear o direito à promoção, proteção e recuperação da
não significa dizer que tudo o que está ali inserido corresponde a saúde. E aqui o elemento delimitador da lei deverá ser o da digni-
área de atuação do Sistema Único de Saúde. dade humana.
Repassando, brevemente, aquela seção do capítulo da Seguri- Lembramos, por oportuno que, o Projeto de Lei Complementar
dade Social, temos que: -- o art. 196, de maneira ampla, cuida do n. 01/2003 -- que se encontra no Congresso Nacional para regu-
direito à saúde; -- o art. 197 trata da relevância pública das ações lamentar os critérios de rateio de transferências dos recursos da
e serviços de saúde, públicos e privados, conferindo ao Estado o União para Estados e Municípios – busca disciplinar, de forma mais
direito e o dever de regulamentar, fiscalizar e controlar o setor (pú- clara e definitiva, o que são ações e serviços de saúde e estabe-
blico e privado); -- o art. 198 dispõe sobre as ações e os serviços lecer o que pode e o que não pode ser financiado com recursos
públicos de saúde que devem ser garantidos a todos cidadãos para dos fundos de saúde. Esses parâmetros também servirão para cir-
a sua promoção, proteção e recuperação, ou seja, dispõe sobre o cunscrever o que deve ser colocado à disposição da população, no
Sistema Único de Saúde; -- o art. 199, trata da liberdade da inicia- âmbito do SUS, ainda que o art. 200 da CF e o art. 6º da LOS tenham
tiva privada, suas restrições (não pode explorar o sangue, por ser definido o campo de atuação do SUS, fazendo pressupor o que são
bem fora do comércio; deve submeter-se à lei quanto à remoção de ações e serviços públicos de saúde, conforme dissemos acima. (O
órgãos e tecidos e partes do corpo humano; não pode contar com Conselho Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde também dis-
a participação do capital estrangeiro na saúde privada; não pode ciplinaram o que são ações e serviços de saúde em resoluções e
receber auxílios e subvenções, se for entidade de fins econômicos portarias).
etc.) e a possibilidade de o setor participar, complementarmente,
do setor público; -- e o art. 200, das atribuições dos órgãos e enti- O QUE FINANCIAR COM OS RECURSOS DA SAÚDE?
dades que compõem o sistema público de saúde. O SUS é mencio- De plano, excetuam-se da área da saúde, para efeito de finan-
nado somente nos arts. 198 e 200. ciamento, (ainda que absolutamente relevantes como indicadores
A leitura do art. 198 deve sempre ser feita em consonância epidemiológicos da saúde) as condicionantes econômico-sociais.
com a segunda parte do art. 196 e com o art. 200. O art. 198 estatui Os órgãos e entidades do SUS devem conhecer e informar à socie-
que todas as ações e serviços públicos de saúde constituem um úni- dade e ao governo os fatos que interferem na saúde da população
co sistema. Aqui temos o SUS. E esse sistema tem como atribuição com vistas à adoção de políticas públicas, sem, contudo, estarem
garantir ao cidadão o acesso às ações e serviços públicos de saúde obrigados a utilizar recursos do fundo de saúde para intervir nessas
(segunda parte do art. 196), conforme campo demarcado pelo art. causas.
200 e leis específicas. Quem tem o dever de adotar políticas sociais e econômicas
O art. 200 define em que campo deve o SUS atuar. As atribui- que visem evitar o risco da doença é o Governo como um todo (po-
ções ali relacionadas não são taxativas ou exaustivas. Outras po- líticas de governo), e não a saúde, como setor (políticas setoriais).
derão existir, na forma da lei. E as atribuições ali elencadas depen- A ela, saúde, compete atuar nos campos demarcados pelos art. 200
dem, também, de lei para a sua exequibilidade. da CF e art. 6º da Lei n. 8.080/90 e em outras leis específicas.
Em 1990, foi editada a Lei n. 8.080/90 que, em seus arts. 5º e Como exemplo, podemos citar os servidores da saúde que de-
6º, cuidou dos objetivos e das atribuições do SUS, tentando melhor vem ser pagos com recursos da saúde, mas o seu inativo, não; não
explicitar o art. 200 da CF (ainda que, em alguns casos, tenha repe- porque os inativos devem ser pagos com recursos da Previdência
tido os incisos daquele artigo, tão somente). Social. Idem quanto as ações da assistência social, como bolsa-a-
São objetivos do SUS: limentação, bolsa-família, vale-gás, renda mínima, fome zero, que
a) a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e de- devem ser financiadas com recursos da assistência social, setor ao
terminantes da saúde; qual incumbe promover e prover as necessidades das pessoas ca-
b) a formulação de políticas de saúde destinadas a promover, rentes visando diminuir as desigualdades sociais e suprir suas ca-
nos campos econômico e social, a redução de riscos de doenças e rências básicas imediatas. Isso tudo interfere com a saúde, mas não
outros agravos; e pode ser administrada nem financiada pelo setor saúde.
c) execução de ações de promoção, proteção e recuperação O saneamento básico é outro bom exemplo. A Lei n. 8.080/90,
da saúde, integrando as ações assistenciais com as preventivas, de em seu art. 6º, II, dispõe que o SUS deve participar na formulação
modo a garantir às pessoas a assistência integral à sua saúde. da política e na execução de ações de saneamento básico. Por sua
vez, o § 3º do art. 32, reza que as ações de saneamento básico que
O art. 6º, estabelece como competência do Sistema a execução venham a ser executadas supletivamente pelo SUS serão financia-
de ações e serviços de saúde descritos em seus 11 incisos. das por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados,
DF e Municípios e não com os recursos dos fundos de saúde.

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Nesse ponto gostaríamos de abrir um parêntese para comen- com recursos que não os do fundo de saúde. Não podemos mais
tar o Parecer do Sr. Procurador Geral da República, na ADIn n. confundir assistência social com saúde. A alimentação interessa à
3087-6/600-RJ, aqui mencionado. saúde, mas não está em seu âmbito de atuação.
O Governo do Estado do Rio de Janeiro, pela Lei n. 4.179/03, Tanto isso é fato que a Lei n. 8.080/90, em seu art. 12, estabe-
instituiu o Programa Estadual de Acesso à Alimentação – PEAA, leceu que “serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacio-
determinando que suas atividades correrão à conta do orçamento nal, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos
do Fundo Estadual da Saúde , vinculado à Secretaria de Estado da Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas
Saúde. O PSDB, entendendo ser a lei inconstitucional por utilizar da sociedade civil”, dispondo seu parágrafo único que “as comis-
recursos da saúde para uma ação que não é de responsabilidade sões intersetoriais terão a finalidade de articular políticas e progra-
da área da saúde, moveu ação direta de inconstitucionalidade, com mas de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não
pedido de cautelar. compreendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde”. Já o seu
O Sr. Procurador da República (Parecer n. 5147/CF), opinou art. 13, destaca, algumas dessas atividades, mencionando em seu
pela improcedência da ação por entender que o acesso à alimenta- inciso I a “alimentação e nutrição”.
ção é indissociável do acesso à saúde, assim como os medicamen- O parâmetro para o financiamento da saúde deve ser as atri-
tos o são e que as pessoas de baixa renda devem ter atendidas a buições que foram dadas ao SUS pela Constituição e por leis espe-
necessidade básica de alimentar-se. cíficas e não a 1º parte do art. 196 da CF, uma vez que os fatores
Infelizmente, mais uma vez confundiu-se “saúde” com “assis- que condicionam a saúde são os mais variados e estão inseridos
tência social”, áreas da Seguridade Social, mas distintas entre si. nas mais diversas áreas da Administração Pública, não podendo ser
A alimentação é um fator que condiciona a saúde tanto quanto o considerados como competência dos órgãos e entidades que com-
saneamento básico, o meio ambiente degradado, a falta de renda põe o Sistema Único de Saúde.
e lazer, a falta de moradia, dentre tantos outros fatores condicio-
nantes e determinantes, tal qual mencionado no art. 3º da Lei n. DA INTEGRALIDADE DA ASSISTÊNCIA
8.080/90. Vencida esta etapa, adentramos em outra, no interior do setor
A Lei n. 8.080/90 ao dispor sobre o campo de atuação do SUS saúde - SUS, que trata da integralidade da assistência à saúde. O
incluiu a vigilância nutricional e a orientação alimentar, atividades art. 198 da CF determina que o Sistema Único de Saúde deve ser or-
complexas que não tem a ver com o fornecimento, puro e simples, ganizado de acordo com três diretrizes, dentre elas, o atendimento
de bolsa-alimentação, vale-alimentação ou qualquer outra forma integral que pressupõe a junção das atividades preventivas, que de-
de garantia de mínimos existenciais e sociais, de atribuição da assis- vem ser priorizadas, com as atividades assistenciais, que também
tência social ou de outras áreas da Administração Pública voltadas não podem ser prejudicadas.
para corrigir as desigualdades sociais. A vigilância nutricional deve A Lei n. 8.080/90, em seu art. 7º (que dispõe sobre os princí-
ser realizada pelo SUS em articulação com outros órgãos e setores pios e diretrizes do SUS), define a integralidade da assistência como
governamentais em razão de sua interface com a saúde. São ativi- “o conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos
dades que interessam a saúde, mas as quais, a saúde como setor, e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em to-
não as executa. Por isso a necessidade das comissões intersetoriais dos os níveis de complexidade do sistema”.
previstas na Lei n. 8.080/90. A integralidade da assistência exige que os serviços de saúde
A própria Lei n. 10.683/2003, que organiza a Presidência da sejam organizados de forma a garantir ao indivíduo e à coletividade
República, estatuiu em seu art. 27, XX ser atribuição do Ministério a proteção, a promoção e a recuperação da saúde, de acordo com
da Saúde: as necessidades de cada um em todos os níveis de complexidade
a) política nacional de saúde; do sistema.
b) coordenação e fiscalização do Sistema Único de Saúde; c) Vê-se, pois, que a assistência integral não se esgota nem se
saúde ambiental e ações de promoção, proteção e recuperação da completa num único nível de complexidade técnica do sistema,
saúde individual e coletiva, inclusive a dos trabalhadores e dos ín- necessitando, em grande parte, da combinação ou conjugação de
dios; serviços diferenciados, que nem sempre estão à disposição do cida-
d) informações em saúde; dão no seu município de origem. Por isso a lei sabiamente definiu
e) insumos críticos para a saúde; a integralidade da assistência como a satisfação de necessidades
f) ação preventiva em geral, vigilância e controle sanitário de individuais e coletivas que devem ser realizadas nos mais diversos
fronteiras e de portos marítimos, fluviais e aéreos; patamares de complexidade dos serviços de saúde, articulados pe-
g) vigilância em saúde, especialmente quanto às drogas, medi- los entes federativos, responsáveis pela saúde da população.
camentos e alimentos; A integralidade da assistência é interdependente; ela não se
h) pesquisa científica e tecnológica na área da saúde. completa nos serviços de saúde de um só ente da federação. Ela
só finaliza, muitas vezes, depois de o cidadão percorrer o caminho
Ao Ministério da Saúde compete a vigilância sobre alimentos traçado pela rede de serviços de saúde, em razão da complexidade
(registro, fiscalização, controle de qualidade) e não a prestação de da assistência
serviços que visem fornecer alimentos às pessoas de baixa renda. E para a delimitação das responsabilidades de cada ente da fe-
O fornecimento de cesta básica, merenda escolar, alimentação deração quanto ao seu comprometimento com a integralidade da
a crianças em idade escolar, idosos, trabalhadores rurais temporá- assistência, foram criados instrumentos de gestão, como o plano de
rios, portadores de moléstias graves, conforme previsto na Lei do saúde e as formas de gestão dos serviços de saúde.
Estado do Rio de Janeiro, são situações de carência que necessitam Desse modo, devemos centrar nossas atenções no plano de
de apoio do Poder Público, sem sombra de dúvida, mas no âmbito saúde, por ser ele a base de todas as atividades e programações da
da assistência socialou de outro setor da Administração Pública e saúde, em cada nível de governo do Sistema Único de Saúde, o qual

253
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

deverá ser elaborado de acordo com diretrizes legais estabelecidas


na Lei n. 8.080/90: epidemiologia e organização de serviços (arts. SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO E DE VIGILÂNCIA
7º VII e 37). O plano de saúde deve ser a referência para a demar- EPIDEMIOLÓGICA E SANITÁRIA
cação de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas dos
entes políticos. O Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan é
Sem planos de saúde -- elaborados de acordo com as diretri- alimentado, principalmente, pela notificação e investigação de ca-
zes legais, associadas àquelas estabelecidas nas comissões intergo- sos de doenças e agravos que constam da lista nacional de doenças
vernamentais trilaterais, principalmente no que se refere à divisão de notificação compulsória (Portaria de Consolidação nº 4, de 28 de
de responsabilidades -- o sistema ficará ao sabor de ideologias e Setembro de 2017, Anexo), mas é facultado a estados e municípios
decisões unilaterais das autoridades dirigentes da saúde, quando incluir outros problemas de saúde importantes em sua região, difi-
a regra que perpassa todo o sistema é a da cooperação e da conju- lobotríase no município de São Paulo. Sua utilização efetiva permite
gação de recursos financeiros, tecnológicos, materiais, humanos da a realização do diagnóstico dinâmico da ocorrência de um evento
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em redes na população, podendo fornecer subsídios para explicações causais
regionalizadas de serviços, nos termos dos incisos IX, b e XI do art. dos agravos de notificação compulsória, além de vir a indicar ris-
7º e art. 8º da Lei n. 8.080/90. cos aos quais as pessoas estão sujeitas, contribuindo assim, para
Por isso, o plano de saúde deve ser o instrumento de fixação a identificação da realidade epidemiológica de determinada área
de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas quanto geográfica. O seu uso sistemático, de forma descentralizada, con-
à integralidade da assistência, uma vez que ela não se esgota, na tribui para a democratização da informação, permitindo que todos
maioria das vezes, na instância de governo-sede do cidadão. Ressal- os profissionais de saúde tenham acesso à informação e as tornem
te-se, ainda, que o plano de saúde é a expressão viva dos interesses disponíveis para a comunidade. É, portanto, um instrumento rele-
da população, uma vez que, elaborado pelos órgãos competentes vante para auxiliar o planejamento da saúde, definir prioridades de
governamentais, deve ser submetido ao conselho de saúde, repre- intervenção, além de permitir que seja avaliado o impacto das in-
sentante da comunidade no SUS, a quem compete, discutir, apro- tervenções.
var e acompanhar a sua execução, em todos os seus aspectos.
Lembramos, ainda, que o planejamento sendo ascendente, A saúde pública é a disciplina que trata da proteção da saúde
iniciando-se da base local até a federal, reforça o sentido de que a nível populacional. Neste sentido, procura melhorar as condições
a integralidade da assistência só se completa com o conjunto arti- de saúde das comunidades através da promoção de estilos de vida
culado de serviços, de responsabilidade dos diversos entes gover- saudáveis, das campanhas de sensibilização, da educação e da in-
vestigação. Para tal, conta com a participação de especialistas em
namentais.
medicina, biologia, enfermagem, sociologia, estatística, veterinária
Resumindo, podemos afirmar que, nos termos do art. 198, II,
e outras ciências e áreas.
da CF, c/c os arts. 7º, II e VII, 36 e 37, da Lei n. 8.080/90, a integra-
O desenvolvimento da saúde pública depende dos governos,
lidade da assistência não é um direito a ser satisfeito de maneira que elaboram diversos programas de saúde para obedecer aos
aleatória, conforme exigências individuais do cidadão ou de acordo respectivos objetivos. Das várias funções da saúde pública, desta-
com a vontade do dirigente da saúde, mas sim o resultado do plano cam-se a prevenção epidemio-patológica (com vacinações massivas
de saúde que, por sua vez, deve ser a consequência de um planeja- e gratuitas), a proteção sanitária (controlo do meio ambiente e da
mento que leve em conta a epidemiologia e a organização de ser- contaminação), a promoção sanitária (através da educação) e a res-
viços e conjugue as necessidades da saúde com as disponibilidades tauração sanitária (para recuperar a saúde).1
de recursos, além da necessária observação do que ficou decidido Os organismos de saúde pública devem avaliar as necessidades
nas comissões intergovernamentais trilaterais ou bilaterais, que de saúde da população, investigar o surgimento de riscos para a
não contrariem a lei. saúde e analisar os determinantes de tais riscos. De acordo com o
Na realidade, cada ente político deve ser eticamente respon- que for detectado, devem estabelecer as prioridades e desenvolver
sável pela saúde integral da pessoa que está sob atenção em seus programas e planos que permitam responder a essas necessidades.
serviços, cabendo-lhe responder civil, penal e administrativamente A saúde pública também deve gerir os recursos para assegu-
apenas pela omissão ou má execução dos serviços que estão sob rar que os seus serviços cheguem à maior quantidade de pessoas
seu encargo no seu plano de saúde que, por sua vez, deve guardar possível. A saúde pública não pode oferecer serviços de vanguarda
consonância com os pactos da regionalização, consubstanciados para determinadas pessoas e descuidar das condições de saúde das
em instrumentos jurídicos competentes . restantes, já que parte de um princípio comunitário e não pessoal.
Nesse ponto, temos ainda a considerar que, dentre as atribui- Ao depender do Estado, a saúde pública não deve fazer quaisquer
ções do SUS, uma das mais importantes -- objeto de reclamações descriminações entre os habitantes de uma mesma região.
e ações judiciais -- é a assistência terapêutica integral. Por sua in-
dividualização, imediatismo, apelo emocional e ético, urgência e Vigilância Sanitária
emergência, a assistência terapêutica destaca-se dentre todas as No Brasil a Vigilância Sanitária2 – “Polícia Sanitária” – inicia suas
demais atividades da saúde como a de maior reivindicação indivi- ações segundo a Teoria dos Miasmas, posteriormente com novas
dual. Falemos dela no tópico seguinte. noções do processo saúde-doença, como a Teoria Unicausal, rela-
cionada à descoberta da bactéria. Recentemente configuram-se os
sistemas de Vigilância em Saúde, que incorpora o conceito de defe-
Prezado Candidato, a lei acima supracitada, já foi abordado em
sa da cidadania e do direito do consumidor.
tópicos anteriores (Lei n.° 8.080/90).
1http://portalsinan.saude.gov.br/
2 SOLHA, Raphaela Karla de Toledo. Vigilância de Saúde Ambiental e Sanitária.
1ª Edição. Érica.

254
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

A partir da Constituição Federal de 1988, a Vigilância Sanitária Missão - Promover e proteger a saúde da população por meio
passa a ser definida: de ações integradas e articuladas de coordenação, normatização,
“§ 1o do art. 6o da Lei no 8.080/90 como um conjunto de ações capacitação, educação, informação, apoio técnico, fiscalização, su-
capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir pervisão e avaliação em Vigilância Sanitária.
nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produ- Visão - Ser um centro de referência, coordenador da rede esta-
ção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da dual de Vigilância Sanitária, garantindo a inclusão social e a constru-
ção da cidadania para a proteção da vida.
saúde, abrangendo:
I – o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamen- A Vigilância Sanitária atua:
te, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e
processos, da produção ao consumo; 1. Nos locais de produção, transporte e comercialização de
II – o controle da prestação de serviços que se relacionam dire- alimentos
ta ou indiretamente com a saúde.” (BRASIL, 1988). Bares, restaurantes, mercados, frutarias, açougues, peixarias,
frigoríficos, indústrias e rotulagem de alimentos, transportadoras,
Essa nova definição torna a Vigilância Sanitária uma prática embaladoras, importadoras, exportadoras e armazenadoras de ali-
com “poder de interferir em toda a reprodução das condições eco- mentos, etc.;
nômico-sociais e de vida, em todos os setores determinantes do
pro- cesso saúde-doença” (EDUARDO, 1988), mas mantém suas 2. Nos locais de produção, distribuição, comercialização de
características mais antigas, relacionadas às atribuições de fiscaliza- medicamentos, produtos de interesse para a saúde
ção, à observação dos fatos, ao licenciamento dos estabelecimen- Farmácias, drogarias, perfumarias, saneantes, produtos de
higiene, produtos hospitalares (indústria, comércio e rotulagem)
tos, ao julgamento de irregularidades e à aplicação de penalidades.
importadora, exportadora, distribuidora, transportadora, armaze-
As características normativas e educativas demonstram o seu papel nadora de medicamentos, cosméticos e saneantes.
em prol da cidadania e da defesa do consumidor.
Esse novo papel da Vigilância Sanitária advém diretamente do 3. Nos locais de serviços de saúde
Código de Defesa do Consumi- dor, que passa a considerar como Hospitais, clínicas médicas e odontológicas, laboratórios, asi-
direitos básicos do consumidor a proteção, a saúde e a segurança los, presídios, profissionais de saúde, etc.
contra riscos decorrentes do consumo de produtos ou de serviços
perigosos ou nocivos – estabelece uma nova relação entre Estado, 4. No meio ambiente
sociedade e vigilância Sanitária. A participação da comunidade na Controla a qualidade da água, ar, solo, saneamento básico, ca-
gestão do SUS é outro mecanismo importante no controle de quali- lamidades públicas, transporte de produtos perigosos, monitora os
dade dos serviços de saúde, através dos conselhos. ambientes que causam danos à saúde, entre outros.
A intervenção do Estado é voltada para o controle das práticas
de produção por meio de normas e padrões de produção, exercen- 5. Nos ambientes e processos do trabalho/saúde do trabalha-
dor
do a fiscalização para o cumprimento das normas e dos padrões
Identificação e intervenção dos locais de trabalho das pessoas
para evitar o dano e disponibilização do Estado a seu serviço. Essas como lojas, fábricas, transportes, escritórios, etc.
noções determinam a necessidade de garantir a qualidade do pro-
duto ou serviço, com a responsabilidade do produtor/fornece- dor 6. Na pós-comercialização
para efetuar o controle interno e responder pelo produto final, e a Investiga situações que envolvem reações adversas a medica-
responsabilidade do Estado para controle desses processos de con- mentos, sangue e produtos para saúde, intoxicação por produtos
trole externo. químicos, etc.

A Diretoria de Vigilância Sanitária é o órgão da Secretaria de 7. Nos projetos de arquitetura


Estado da Saúde que coordena as ações de vigilância sanitária no Analisa projetos de construção, reforma, adaptação ou amplia-
Estado. Possui a missão de promover e proteger a saúde da popu- ção no que interfere na saúde das pessoas, em residências, hospi-
lação por meio de estratégias e ações de educação e fiscalização. tais, clínicas, fábricas, escolas, etc.
Atua em um conjunto de ações para eliminar, diminuir ou prevenir
8. Em locais públicos
riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do
Shoppings, cinemas, clubes, óticas, postos da gasolina, está-
meio ambiente da população e circulação de bens e da prestação dios, piscinas, escolas, cemitérios, salões de beleza, portos, aero-
de serviços de interesse da saúde. portos, áreas de fronteira, entre outros.
Com sua ação comunicativa busca mobilizar e motivar a popu-
lação a aderir as práticas sanitárias que estimulam mudanças de Prezado(a),
comportamento, formação da consciência sanitária e a promoção A fim de atender na íntegra o conteúdo do edital, este tópico
da saúde. será disponibilizado na Área do Aluno em nosso site. Essa área é re-
Estabelece os parâmetros necessários à saúde pública, regulan- servada para a inclusão de materiais que complementam a apostila,
do os processos e produtos que interferem na saúde das pessoas sejam esses, legislações, documentos oficiais ou textos relaciona-
e quando necessário usa o poder de polícia sanitária por meio da dos a este material, e que, devido a seu formato ou tamanho, não
fiscalização e do monitoramento, aplicando infrações e intimações, cabem na estrutura de nossas apostilas.
interditando estabelecimentos, apreendendo produtos e equipa- Por isso, para atender você da melhor forma, os materiais são
organizados de acordo com o título do tópico a que se referem e po-
mentos, entre outras ações.
dem ser acessados seguindo os passos indicados na página 2 deste
material, ou por meio de seu login e senha na Área do Aluno.

255
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

A gripe aviária, por exemplo, é uma doença “nova” que se ini-


ENDEMIAS/EPIDEMIAS: SITUAÇÃO ATUAL, MEDIDAS ciou como surto epidêmico. Assim, a ocorrência de um único caso
DE CONTROLE E TRATAMENTO de uma doença transmissível (ex.: poliomielite) ou o primeiro caso
de uma doença até então desconhecida na área (ex.: gripe do fran-
Endemia go) requerem medidas de avaliação e uma investigação completa,
É qualquer doença localizada em um espaço limitado denomi- pois, representam um perigo de originarem uma epidemia.
nado “faixa endêmica”. Significa que endemia é uma doença que Com o tempo e um ambiente estável a ocorrência de doença
se manifesta apenas numa determinada região, de causa local, não passa de epidêmica para endêmica e depois para esporádica.
atingindo nem se espalhando para outras comunidades.
Enquanto a epidemia se espalha por outras localidades, a en- Doenças epidêmicas
demia tem duração continua porém, restrito a uma determinada A história da humanidade foi marcada por algumas doenças
área. epidêmicas, como a peste negra, a cólera e a gripe espanhola, que
No Brasil, existem áreas endêmicas. A título de exemplo, pode fizeram inúmeras vítimas.
ser citada a febre amarela comum Amazônia. No período de infes- Recentemente, a sífilis passou a ser epidemia no Brasil, o que
tação da doença, as pessoas que viajam para tal região precisam ser está relacionado, entre outros fatores, ao menor uso de preservati-
vacinadas. A dengue é outro exemplo de endemia, pois são regis- vos nas relações sexuais, contribuindo para a sua transmissão entre
trados focos da doença em um espaço limitado, ou seja, ela não se as pessoas. O sarampo e a poliomielite (paralisia infantil) são do-
espalha por toda uma região, ocorre apenas onde há incidência do enças que estavam controladas no país, mas que hoje constituem
mosquito transmissor da doença. surtos, principalmente pela negligência na vacinação das crianças.

Doenças endêmicas Principais Endemias e Epidemias


O Brasil já teve e tem várias doenças endêmicas. Por exemplo, Endemia é uma doença infecciosa que ocorre em um dado ter-
na década de 80, a doença de Chagas era uma importante ende- ritório, e que permanece provocando novos casos frequentemente.
mia rural, mas ao longo dos anos teve a sua incidência melhorada, Já epidemia é o grande número de casos de uma doença num curto
embora permaneça classificada como uma das graves endemias no espaço de tempo.
Brasil. Exemplos de endemia no Brasil são as áreas afetadas por fe-
Atualmente, a malária e febre amarela são importantes doen- bre amarela na Amazônia e áreas afetadas pela Dengue, como o
ças endêmicas que preocupam as autoridades e necessitam de cui- sul da Bahia e a região sudeste. Estas regiões são denominadas fai-
dados especiais. Podem ser citadas a esquistossomose, a leishma- xas endêmicas, pois estas doenças possuem um alto grau de conti-
niose, a tuberculose, a dengue e algumas verminoses intestinais nuidade, na mesma região. Há outros exemplos de endemias pelo
(como a ancilostomose). A dengue, por exemplo, é uma doença mundo, como a malária e a AIDS em várias regiões da África, e a
que encontrou no Brasil boas condições climáticas (clima quente e tuberculose em diversas partes do mundo. Quando se viaja para
úmido) e sociais (disponibilidade de criadouros das larvas), se insta- uma área endêmica, é recomendável prevenir-se, se houver vacinas
lando e se tornando uma doença endêmica. ou medicamentos para a doença de tal faixa.
Caracterizar um agente epidêmico depende de vários fatores,
Espécies endêmicas como a suscetibilidade da população exposta, experiência prévia
Você pode estar se perguntando se doenças endêmicas estão com o agente, intensidade do agente, o tempo, o local e o com-
relacionadas as famosas espécies endêmicas. portamento do agente com relação à população. Doenças novas ou
As espécies endêmicas são aquelas que ocorrem em apenas que há muito tempo não apresentem casos, quando aparecem ou
determinadas regiões geográficas. Elas são muito discutidas na área reaparecem já podem ser consideradas surtos epidêmicos, mesmo
ambiental devido à sua importância para a biodiversidade e a ne- sem a contaminação em massa.
cessidade da sua conservação. De maneira semelhante, as espécies O termo epidemia não se refere apenas a doenças infecto-con-
endêmicas são aquelas que ocorrem em apenas algumas regiões. tagiosas, mas a qualquer doença que apresente muitos casos em
Algumas doenças endêmicas podem ser causadas por agentes uma população. É denominada epidemia toda doença que afeta
etiológicos ou vetores endêmicos, ou seja, espécies que não conse- uma grande quantidade de pessoas dentro de uma população ou
guem sobreviver em outros lugares. A transmissão da malária, por região, e se estas proporções tornam-se muito grandes, é caracteri-
exemplo, depende do mosquito prego, que é endêmico da região zada uma pandemia.
norte, por essa ser uma região úmida e quente que favorece a so- De acordo com o evoluir da história da humanidade, várias
brevivência desse vetor. epidemias foram registradas. Doenças como a Varíola, a Malária,
Assim, a restrição do vetor a uma determinada área geográfica a Tuberculose, o Tifo Epidêmico, a Poliomielite, a Febre Amarela e,
pode ser considerada um dos motivos de essa doença não se espa- mais recentemente, a AIDS, assolaram a população mundial em di-
lhar pelo Brasil. ferentes épocas.
A Varíola, doença causada por vírus que começou a infectar hu-
Epidemia manos há milhares de anos, causa febre alta, dores no corpo e erup-
É uma doença infecciosa e transmissível que ocorre numa co- ções na pele. A transmissão da doença pode ser por contato com a
munidade ou região e pode se espalhar rapidamente entre as pes- pele de alguém infectado, ou pelo ar, em locais fechados. Durante a
soas de outras regiões, originando um surto epidêmico. Isso poderá descoberta das Américas, por volta de 1500, os conquistadores eu-
ocorrer por causa de um grande desequilíbrio (mutação) do agente ropeus trouxeram consigo o vírus da Varíola, que assolou boa parte
transmissor da doença ou pelo surgimento de um novo agente (des- da população Inca e Asteca. O último caso de infecção natural por
conhecido). Varíola aconteceu em 1977, a doença hoje só existe em laboratório.

256
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

A Malária tem registros na humanidade há mais de quatro mil


anos. A doença é transmitida por um mosquito, que se prolifera PLANEJAMENTO E PROGRAMAÇÃO LOCAL DE SAÚDE,
em águas paradas, que ao picar a pele do ser humano deposita um DISTRITOS SANITÁRIOS E ENFOQUE ESTRATÉGICO
protozoário na corrente sanguínea que se aloja nos glóbulos ver-
melhos e os destrói. Alguns dos principais sintomas da malária são: Planejamento em Saúde é o processo que consiste em dese-
febre, calafrios, sudorese, dores de cabeça e musculares. A Malária nhar, executar, acompanhar e avaliar um conjunto de propostas de
continua representando um sério fator epidêmico, principalmente ação com vistas à intervenção sobre um determinado recorte de
na África subsaariana. realidade. Trata-se, também, de um instrumento de racionalização
A Tuberculose destruiu populações e diversos momentos da das ações no setor de saúde, realizada por atores sociais, orientada
história da humanidade. A doença é causada por uma bactéria, e é por um propósito de manter ou modificar uma determinada situa-
transmitida pelo ar. A bactéria chega aos pulmões, causando dores ção de saúde. Para Matus (Matus, 1987a), planejamento significa
no peito, fraqueza, emagrecimento e tosse com sangue. Em casos o “cálculo que precede e preside a ação; a mediação entre o co-
mais graves pode atingir o cérebro, os rins ou a coluna vertebral.
nhecimento e a ação; é um processo social complexo, produto das
Apesar dos atuais tratamentos modernos, a tuberculose continua
relações de conflito e articulação entre as diferentes forças sociais
infectando muitas pessoas todo ano, e fatores agravantes, como o
em uma realidade historicamente dada”.
vírus HIV faz com que portadores do mesmo sejam mais suscetíveis
a desenvolver a forma grave da tuberculose, e chegar a óbito muitas
vezes. A Constituição Brasileira estabelece como norma o caráter uni-
O Tifo Epidêmico atingiu a humanidade durante muitos anos, versal e integral das ações de saúde a cargo do Estado, mas isto não
matando milhares de pessoas. A doença, causada por um micróbio evita que no dia a dia escolhas sejam feitas e instrumentos sejam
existente em piolhos, apresenta inicialmente sintomas como dor de usados para eleger prioridades e aproximar os serviços das necessi-
cabeça, falta de apetite, náuseas e febre. Logo pode evoluir e afetar dades mais importantes das comunidades atendidas.
a circulação sanguínea, causando gangrena em algumas partes do
corpo, pneumonia e insuficiência renal, e a febre alta pode evoluir As diretrizes do modelo de atenção integral à saúde apontam
para um coma e insuficiência cardíaca. Uma vacina foi desenvol- alguns tópicos que podem ajudar a organização dos serviços:
vida durante a Segunda Guerra Mundial, e o Tifo Epidêmico hoje • definir a demanda social, levando em consideração a mani-
é bastante controlado, apresentando remotos casos em áreas da festação pública de comunidades e seus representantes;
América do Sul, África e Ásia. • entender as conexões sociais do processo saúde/doença,
A Poliomielite atingiu os humanos durante milhares de anos, compreendendo a dinâmica das relações sociais, por intermédio de
paralisando milhões de crianças. A doença é causada pelo Polio- indicadores socioeconômicos;
vírus, que ataca o sistema nervoso humano. Os sintomas iniciais • utilizar a Epidemiologia para entender a maneira como as
são dor de cabeça, dor e rigidez nos membros, vômito e febre. Não relações sociais repercutem no modo de adoecimento das coleti-
existe cura efetiva para a Poliomielite, mas a vacina, aperfeiçoada vidades;
na década de 1950, garantiu o controle e extinção da doença em • recorrer às técnicas de Programação e Planejamento para
boa parte do mundo. Apenas alguns países subdesenvolvidos ainda orientar as atividades dos serviços de saúde;
apresentam casos da doença. • recusar o modelo clínico centrado na atenção individual
A Febre Amarela, doença transmitida por picada de mosquitos, como princípio ordenador das ações desses serviços;
tem como principais sintomas dores de cabeça, muscular, nas cos- • detectar problemas e articular soluções a partir de um con-
tas, febre e comumente insuficiência hepática, que causa icterícia, junto de saberes que convergem para práticas de caráter interdis-
o que dá nome à doença. Apesar da vacina e dos programas de pre- ciplinar;
venção, a doença ainda assola regiões da América do Sul e da África.
• definir o território de intervenção dos serviços em função da
Por fim a AIDS, doença que surgiu nos anos 80, causada pelo
dinâmica das populações e das relações.
vírus HIV, Vírus da Imunodeficiência Humana. O contágio se dá pelo
Podemos elencar alguns passos para o planejamento das ações:
contato com líquidos do corpo infectados, como sangue e sêmen.
Com o sistema imunológico afetado, quaisquer infecções que nor-
malmente não apresentam grande ameaça à saúde, tornam-se um • Passo 1 – Definição do território
potencial fator mortal. Em alguns países da África a doença já se Essa definição implica em definir a área de abrangência dos
tornou epidemia, pelos altos índices de prostituição e por mitos po- serviços, o perfil demográfico e socioeconômico da população
pulares, como, por exemplo, o de que uma pessoa infectada que atendida e o conjunto de equipamentos, profissionais e instalações
mantém relação sexual com outra virgem cura-se da doença. Estes existentes. Esse território pode ser considerado como um sistema
fatores contribuem para a transmissão acelerada da doença. Não local, onde estão presentes múltiplos fatores que influem no pro-
há cura para a AIDS, no entanto há medicamentos que controlam o cesso saúde/doença, especialmente em suas conexões sociais, eco-
vírus, e a recomendação é sempre a mesma, o uso de preservativos nômicas e culturais. O planejamento deve considerar as condições
para evitar o contágio por relação sexual, e o uso de agulhas des- de acesso aos serviços, o perfil epidemiológico e socioeconômico
cartáveis, para evitar o contágio por contato com sangue infectado. das populações, os mecanismos de controle comunitário sobre os
As doenças epidêmicas muitas vezes são também endêmicas. recursos disponíveis e de definição de prioridades.
As atuais condições sanitárias de muitas partes do mundo evitam os
surtos epidêmicos, e a avançada tecnologia permite controlar rápi- Dessa forma, territorializar significa por um lado uma medida
da e satisfatoriamente quando ocorre algum surto. No entanto, há de racionalização político-administrativa, mas por outro lado, asso-
muitas localidades que ainda sofrem com fatores já erradicados em cia-se à transformação das práticas sanitárias.
outras partes do mundo. O recomendável sempre é a prevenção.

257
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

• Passo 2 – Definição da situação atual da saúde da população A partir da “árvore de problemas” é gerada então a árvore de
adscrita objetivos, dos quais derivam as ações a serem realizadas nos terri-
Só é possível planejar tendo conhecimento da população e do tórios considerados em uma perspectiva intersetorial. Ou seja, as
contexto em que ela se insere. A epidemiologia é uma ferramenta ações e serviços a serem desenvolvidos não se restringem àqueles
bastante utilizada para definir as necessidades de saúde e auxiliar o que já são tradicionalmente ofertados pelas unidades de saúde,
planejamento dos serviços. Seu emprego permite a sistematização envolvendo um esforço adicional de mobilização e articulação de
de dados demográficos, de morbidade e mortalidade, permitindo outros órgãos governamentais e não governamentais que atuam na
análise capaz de alimentar o processo de planejamento e tomada área, inclusive a mobilização e envolvimento dos indivíduos, das fa-
de decisões da equipe. mílias e das coletividades que vivem e trabalham neste local.
A informação gerada em dados é transformada em indicadores
de saúde, geralmente disponibilizados por meio dos Sistemas de • Passo 5 – Levantamento de recursos
Informação em Saúde (SIS), que abordaremos na próxima Unidade. O estabelecimento de prioridades se baseia no fato de que o
recurso em saúde nunca é suficiente para a realização de todas as
• Passo 3 – Identificação dos principais problemas de saúde ações necessárias. Basicamente, quando se fala em planejamento
da população que se quer abordar para a ação em saúde são definidos os pontos mais importantes e
A partir da informação gerada e estudada, é possível identificar estes incluem priorizar tanto ações quanto recursos. É aconselhável
os principais problemas de saúde desta população, os grupos de lidar com um ou dois problemas de cada vez, evitando-se esforços
risco, o acesso dos pacientes ao sistema de saúde e a cobertura por em múltiplos problemas que acabam por pulverizar as ações e pro-
programas de saúde, bem como a organização e gerenciamento dos telar resultados. É da sabedoria popular que vem o ditado: “quem
programas da atenção básica. tem uma prioridade (ou objetivo), tem uma; quem tem duas, tem
meia; e quem tem três não tem nenhuma”.
Sugere-se que se aponte dentro dos problemas a serem en-
frentados aqueles que possam ser classificados como críticos de O conhecimento dos recursos de saúde disponíveis, bem como
acordo com os critérios de: de toda a rede de apoio não só da saúde, mas intersetorial, é tão
• frequência do problema; importante quanto o conhecimento dos problemas de saúde.
• morbidade e mortalidade relacionadas ao problema;
• efetividade das intervenções (pouco, moderada, muito); Nessa etapa é importante que as equipes de Saúde da Famí-
• custos da intervenção (alto, moderado, baixo); lia, para exercício da intersetorialidade, considerem como recursos
• intencionalidade em priorizar “grupos” de maior risco: mu- todo o equipamento público possível de acesso pela população da
lheres em idade fértil, crianças, idosos; área de abrangência, não se limitando aos recursos do Setor Saúde.
• impacto econômico: grupos de trabalhadores ou por caracte- Isso implica em parcerias com escolas, igrejas, associações comuni-
rísticas socioeconômicas etc. tárias e organizações não governamentais, além de estreita relação
com diferentes Secretarias de Governo, para ampliação da resoluti-
Nessa etapa, torna-se útil incorporar algum conhecimento so- vidade das ações empreendidas.
bre a situação de saúde de outras localidades e grupos populacio-
nais, bem como referências das instituições responsáveis pelas polí- • Passo 6 – Programação das ações
ticas e ações (Município, Estado, União, organismos internacionais), Por fim, é desejável a adequação das ações aos oito elementos
para organização da base da investigação. essenciais da programação da atenção básica:
• educação sobre os principais problemas – controle e preven-
• Passo 4 – Análise dos determinantes do problema: a árvore ção;
explicativa • conhecimento da disponibilidade de alimentos e promoção
Aqui destacam-se duas ordens de questões. Por um lado, as da nutrição adequada;
diferentes formas de representação, valoração e compreensão dos • suprimento de água potável e provisão de saneamento bá-
problemas de saúde, seja pelo olhar dos profissionais ou pela óti- sico;
ca dos diversos grupos sociais envolvidos, incluindo a população; o • saúde materno-infantil, incluindo planejamento familiar;
que apresenta, como um dos principais desafios, a necessidade de • imunização contra as principais doenças infecciosas;
articulação das diferentes racionalidades envolvidas em um proces- • prevenção e controle das principais doenças endêmicas e epi-
so concreto de planejamento. dêmicas;
• tratamento apropriado para as doenças e lesões comuns;
E leis que caracterizam a realidade sanitária apontam para di- • previsão de medicamentos e materiais essenciais.
versas possibilidades de ‘recorte’ desses problemas, em termos de
unidades de análise e intervenção. Cada uma dessas possibilidades Os gestores do SUS vêm se empenhando continuamente em
de recorte apresenta distintas implicações operacionais sobre a ca- planejar, monitorar e avaliar as ações e serviços de saúde. Tais es-
pacidade de apreensão e compreensão das necessidades de saúde, forços têm contribuído, certamente, para os importantes avanços
bem como de cumprimento dos princípios de equidade e integra- registrados pelo SUS nestes 20 anos de sua criação. É importante
lidade. reconhecer, contudo, que os desafios atuais e o estágio alcançado
Assim, a árvore de problemas deve ser desenhada de maneira exigem um novo posicionamento do planejamento no âmbito do
clara, sintética e precisa, a partir da identificação das causas do pro- SUS, capaz de favorecer a aplicação de toda a sua potencialidade,
blema e da forma como estão relacionadas entre si. corroborando de forma plena e efetiva para a consolidação deste
Sistema.

258
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Nesse sentido, é necessário elaborar instrumentos que contri- É importante destacar igualmente as Portarias Nº 399, de 22
buam para um melhor aproveitamento das oportunidades e para de fevereiro de 2006, e de Nº 699, de 30 de março subsequente,
a superação de desafios, entre os quais aqueles que possibilitem o editadas pelo Ministério da Saúde: a primeira “divulga o Pacto pela
desenvolvimento de rotinas de monitoramento e avaliação nas três Saúde 2006 - Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacio-
esferas de governo. Entre os desafios presentes, cabe destacar a nais do referido pacto” (BRASIL, 2006a) e, a outra, “regulamenta as
importância do financiamento pleno do SUS, o que envolve a regu- Diretrizes Operacionais dos Pactos pela Vida e de Gestão” (BRASIL,
lamentação e o cumprimento da Emenda Constitucional 29, assim 2006b). O Pacto pela Saúde envolve três componentes: o Pacto pela
como a manutenção de processo contínuo de planejamento. Vida, o Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão.
O Sistema de Planejamento do SUS – PlanejaSUS – busca apro- No Pacto de Gestão, os eixos são a descentralização, a regio-
priar-se da experiência acumulada pela área nas três esferas de ges- nalização, o financiamento, a programação pactuada e integrada,
tão que, no tocante à direção nacional, tem como exemplo impor- a regulação, a participação e o controle social, o planejamento, a
tante a formulação do Plano Nacional de Saúde – PNS 2004- 2007 –, gestão do trabalho e a educação na saúde.
cujo processo evidenciou a necessidade de uma ação permanente- O Sistema de Planejamento do SUS é objeto do item 4 do ane-
mente articulada, nos moldes de uma atuação sistêmica. xo da Portaria Nº 399/2006, estando nele contidos o seu conceito,
O planejamento – e instrumentos resultantes de seu processo, princípios e objetivos principais, na conformidade do presente do-
como planos e relatórios – é objeto de grande parte do arcabouço cumento. Destaque, também, que o Pacto estabelece cinco pontos
legal do SUS, quer indicando processos e métodos de formulação, prioritários de pactuação para o planejamento, que são:
quer como requisitos para fins de repasse de recursos e de contro- i) a adoção das necessidades de saúde da população como cri-
le e auditoria. Em relação ao planejamento e a instrumentos que tério para o processo de planejamento no âmbito do SUS;
lhe dão expressão concreta, destacam-se, inicialmente, as Leis Nº ii) a integração dos instrumentos de planejamento, tanto no
8.080/1990 e Nº 8.142/1990 (Leis Orgânicas da Saúde). A primeira contexto de cada esfera de gestão, quanto do SUS como um todo;
– Lei Nº 8.080/90 – atribui à direção nacional do SUS a responsabi- iii) a institucionalização e o fortalecimento do PlanejaSUS, com
lidade de “elaborar o planejamento estratégico nacional no âmbito adoção do processo de planejamento, neste incluído o monitora-
do SUS em cooperação com os estados, municípios e o Distrito Fe- mento e a avaliação, como instrumento estratégico de gestão do
deral” (BRASIL, 1990a). SUS;
A referida Lei dedica o seu Capítulo III ao planejamento e orça- iv) a revisão e a adoção de um elenco de instrumentos de pla-
mento. No primeiro artigo desse Capítulo, é estabelecido o proces- nejamento – tais como planos, relatórios e programações – a serem
so de planejamento e orçamento do SUS, que “será ascendente, do adotados pelas três esferas de gestão, com adequação dos instru-
nível local até o federal, ouvidos seus órgãos deliberativos, compa- mentos legais do SUS no tocante a este processo e instrumentos
tibilizando-se as necessidades da política de saúde com a disponibi- dele resultantes; e
lidade de recursos em planos de saúde dos municípios, dos estados, v) a cooperação entre as três esferas de gestão para o fortaleci-
do Distrito Federal e da União” (BRASIL, 1990a). Essa lógica de for- mento e a equidade do processo de planejamento no SUS. (BRASIL,
mulação ascendente é um dos mecanismos relevantes na observân- 2006a).
cia do princípio de unicidade do SUS. O seu cumprimento é desafio Em relação ao financiamento, introduz e estabelece blocos
importante, tendo em conta as peculiaridades e necessidades pró- específicos: atenção básica; atenção de média e alta complexida-
prias de cada município, estado e região do País, o que dificulta a de; vigilância em saúde; assistência farmacêutica e gestão do SUS.
adoção de um modelo único aplicável a todas as instâncias Configuram-se eixos prioritários para a aplicação de recursos (in-
Nos parágrafos 1º e 2º do Art. 36, são definidos a aplicabilidade vestimentos): o estímulo à regionalização e os investimentos para
dos planos de saúde e o financiamento das ações dele resultantes. a atenção básica.
O primeiro parágrafo estabelece que “os planos de saúde serão a No contexto da regionalização, define que os principais instru-
base das atividades e programações de cada nível de direção do mentos de planejamento para tanto são o PDR (Plano Diretor de
SUS e seu financiamento será previsto na respectiva proposta or- Regionalização), o PDI (Plano Diretor de Investimento) e a PPI (Pro-
çamentária” (BRASIL, 1990a). Já o segundo veta a “transferência de grama Pactuada e Integrada), a qual “deve estar inserida no pro-
recursos para o financiamento de ações não previstas nos planos cesso de planejamento e deve considerar as prioridades definidas
de saúde” (BRASIL, 1990a), salvo em situações emergenciais ou de nos planos de saúde em cada esfera de gestão” (BRASIL, 2006a).
calamidade pública de saúde. No Art. 37, a Lei atribui ao Conse- Segundo o Anexo II da Portaria, o planejamento regional expressará
lho Nacional de Saúde a responsabilidade pelo estabelecimento de as responsabilidades dos gestores para com a saúde da população
diretrizes para a elaboração dos planos de saúde, “em função das do território e o conjunto de objetivos e ações, cujas prioridades –
características epidemiológicas e da organização dos serviços em estabelecidas regionalmente – deverão estar refletidas no plano de
cada jurisdição administrativa” (BRASIL, 1990a). saúde de cada município e do estado. Cria também o Colegiado de
Já a Lei Nº 8.142/90 (BRASIL, 1990b), no seu Art. 4º, entre os Gestão Regional com a função de “instituir um processo dinâmico
requisitos para o recebimento dos recursos provenientes do Fundo de planejamento regional”. (BRASIL, 2006a).
Nacional de Saúde, fixa que os municípios, estados e o Distrito Fe- No item 3 do capítulo relativo à responsabilidade sanitária, es-
deral devem contar com plano de saúde e relatório de gestão “que tão estabelecidos os compromissos de cada esfera no que concerne
permitam o controle de que trata o §4º do artigo 33 da Lei Nº 8.080, ao planejamento e programação. Destacam-se como responsabili-
de 19 de setembro de 1990” (esse parágrafo refere-se ao acom- dades comuns aos entes federados:
panhamento, pelo Ministério da Saúde, da aplicação de recursos
repassados na conformidade da programação aprovada, a ser reali-
zado por meio de seu sistema de auditoria).

259
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

i) formular, gerenciar, implementar e avaliar o processo perma- sem a oportuna e efetiva melhoria da gestão do Sistema, da aten-
nente de planejamento participativo e integrado, de base local e ção e da vigilância em saúde, inclusive no tocante à reorientação
ascendente, orientado por problemas e necessidades em saúde ..., das ações. Tratava-se, na realidade, da insuficiência de um processo
construindo nesse processo o plano de saúde e submetendo-o à de planejamento do Sistema Único de Saúde, em seu sentido amplo
aprovação do Conselho de Saúde correspondente; – neste compreendido o monitoramento e a avaliação –, que con-
ii) formular, no plano de saúde, a política de atenção em saúde, tribuísse para a sua consolidação que, conforme assinalado, é uma
incluindo ações intersetoriais voltadas para a promoção da saúde; competência legal do gestor federal, em cooperação com as demais
iii) elaborar relatório de gestão anual, a ser apresentado e sub- instâncias de direção do Sistema.
metido à aprovação do Conselho de Saúde correspondente. (BRA- O Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais de Saúde re-
SIL, 2006b). cebem frequentemente, da parte de gestores e técnicos do SUS,
Cabe destacar também as portarias que norteiam a organiza- solicitação de orientações e cooperação técnica para a elaboração
ção e a implementação do Sistema de Planejamento do SUS – pac- de instrumentos de planejamento, em especial planos de saúde
tuadas na CIT –, a saber: e relatórios de gestão. Observa-se, por outro lado, que estados e
•Portaria Nº 3.085, de 1º de dezembro de 2006, que regula- municípios têm se esforçado para formulá-los, quer para fins de
menta esse Sistema; habilitação em uma condição de gestão – e, após o Pacto pela Saú-
•Portaria Nº 3.332, do dia 28 subsequente, que aprova orien- de, para a formalização do Termo de Compromisso de Gestão –,
tações gerais relativas aos instrumentos do PlanejaSUS e revoga a quer para subsidiar auditorias e controles, a cargo das instâncias
Portaria N.º 548/2001 (”Orientações Federais para a Elaboração e incumbidas destas atividades. Como um instrumento essencial de
Aplicação da Agenda de Saúde, do Plano de Saúde, dos Quadros gestão, cabe ao planejamento contribuir para que o SUS responda,
de Metas e do Relatório de Gestão como Instrumentos de Gestão com qualidade, às demandas e necessidades de saúde, avançando
do SUS”); de forma ágil rumo a sua consolidação.
•Portaria Nº 1.229, de 24 de maio de 2007, que aprova orienta- O processo ascendente de planejamento definido pela Lei Or-
ções gerais para o fluxo do Relatório Anual de Gestão do SUS. gânica da Saúde configura-se relevante desafio para os responsá-
Registrem-se ainda as Portarias: Nº 376, de 16 de fevereiro de veis por sua condução, em especial aqueles das esferas estadual
2007; Nº 1.510, de 25 de junho de 2007; e Nº 1.885, de 9 de setem- e nacional, tendo em conta a complexidade do perfil epidemioló-
bro de 2008, que institui incentivo financeiro para o PlanejaSUS; gico brasileiro, aliada à quantidade e diversidade dos municípios,
que desvincula o seu repasse da adesão ao Pacto pela Saúde; e que além da grande desigualdade em saúde ainda prevalente, tanto em
estabelece o incentivo de 2008, respectivamente. A íntegra dessas relação ao acesso, quanto à integralidade e à qualidade da aten-
portarias específicas do Sistema de Planejamento do SUS consta do ção prestada. Em relação à gestão, é importante levar em conta o
item Portarias relativas ao Sistema de Planejamento do SUS, página fato de que cerca de 90% dos municípios têm menos de 50 mil ha-
34. bitantes e que 48% menos de 10 mil (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004). Particularmente no tocante ao
Planejamento no SUS planejamento, a organização das ações ainda é bastante precária,
No âmbito do Ministério da Saúde, até o final de 2005 – quan- principalmente nos municípios de médio e pequeno portes, o que
do tomou a iniciativa de propor a construção do PlanejaSUS, como dificulta o exercício eficiente e efetivo de seu papel fundamental na
mencionado na apresentação –, o planejamento pautava as suas conformação do SUS neste nível.
ações principalmente no atendimento às demandas interna e ex- Cabe ressaltar que, apesar dos esforços empreendidos desde
terna, esta última oriunda da coordenação do correspondente a criação do SUS e os avanços logrados, a área de planejamento do
sistema federal, exercida pelo Ministério do Planejamento, Orça- Sistema ainda carece, nas três esferas de gestão, de recursos hu-
mento e Gestão (MP). Ao MP cabe, assim, conduzir o planejamento manos em quantidade e qualidade. Observa-se que falta, não raro,
estratégico do governo federal. As demandas internas referem-se infraestrutura e atualização contínua nas técnicas e métodos do
sobretudo a informações para o atendimento de necessidades téc- planejamento em si – sobretudo em se tratando de monitoramento
nico-políticas. e avaliação, no seu sentido mais amplo –, assim como o domínio ne-
O Sistema Federal de Planejamento tem uma agenda estabe- cessário das características e peculiaridades que cercam o próprio
lecida, mediante a qual responde também às exigências constitu- SUS e do quadro epidemiológico do território em que atuam. Tais
cionais e legais, entre as quais figuram a elaboração do Plano Plu- condições são estratégicas para a coordenação do processo de pla-
rianual – a cada quatro anos – e as suas revisões, das propostas nejamento e, portanto, para o funcionamento harmônico do Plane-
anuais de diretrizes orçamentárias e do orçamento, que balizam a jaSUS. É oportuno reiterar, nesse particular, os pontos essenciais de
aprovação das respectivas leis – LDO e LOA –, do Balanço Geral da pactuação para o Sistema de Planejamento do SUS – PlanejaSUS –,
União e da Mensagem do Executivo ao Legislativo. Além dessas de- definidos no Pacto pela Saúde 2006, em especial a institucionaliza-
terminações legais, o Sistema requer também o acompanhamento, ção e o fortalecimento deste Sistema, “com adoção do processo de
o monitoramento, a atualização e a avaliação das ações. Mesmo planejamento, neste incluído o monitoramento e a avaliação, como
reconhecendo os avanços na alocação dos recursos públicos – base- instrumento estratégico de gestão do SUS”. (BRASIL, 2006a).
ados em objetivos de médio e longo prazos, com melhor associação
às necessidades de saúde –, é importante considerar que deman-
das contingenciais de curto prazo ainda prejudicam o processo de
estruturação e consolidação do SUS.
Embora responda às necessidades internas e externas, até en-
tão o sistema de planejamento no MS não dispunha de medidas
que viabilizem o aperfeiçoamento do trabalho e que possibilitas-

260
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Conceito e caracterização em planejamento no SUS, para o que deve também ser buscada a
Define-se como Sistema de Planejamento do Sistema Único de contribuição, por exemplo, de organismos internacionais – como as
Saúde – PlanejaSUS – a atuação contínua, articulada, integrada e Organizações Pan-Americana e Mundial da Saúde –, de instituições
solidária das áreas de planejamento das três esferas de gestão do de ensino, de pesquisa e entidades afins.
SUS. Tal forma de atuação deve possibilitar a consolidação da cultu- Outra condição importante é a adesão institucional mediante a
ra de planejamento de forma transversal às demais ações desenvol- observância da regulamentação do PlanejaSUS, expressa nas referi-
vidas no Sistema Único de Saúde. Nesse sentido, o PlanejaSUS deve das Portarias Nº 3.085/2006 e Nº 3.332/2006, e outras decorrentes
ser entendido como estratégia relevante à efetivação do SUS. Para o de pactuação tripartite, de que são exemplos processos de moni-
seu funcionamento, são claramente definidos os objetivos e as res- toramento e de avaliação dos instrumentos básicos, consoante às
ponsabilidades das áreas de planejamento de cada uma das esferas definições contidas nas Leis Orgânicas da Saúde. Constituem igual-
de gestão, de modo a conferir efetiva direcionalidade ao processo mente condições essenciais para a institucionalização do Planeja-
de planejamento que, vale reiterar, compreende o monitoramento SUS nas três esferas de gestão: a capacitação de recursos humanos
e a avaliação. para o processo de planejamento do SUS; a geração de informações
Na condição de sistema, e consoante à diretriz relativa à dire- gerenciais para a tomada de decisão; a adequação do arcabouço
ção única do SUS em cada esfera de gestão, o PlanejaSUS não envol- legal relativo ao planejamento; a cooperação técnica e financeira
ve nenhuma forma de subordinação entre as respectivas áreas de para o planejamento no SUS; e o provimento de estrutura e infra-
planejamento. Nesse sentido, a sua organização e operacionaliza- -estrutura para o desenvolvimento da atividade de planejamento.
ção baseiam-se em processos que permitam o seu funcionamento
harmônico entre todas as esferas do SUS. Para tanto, tais processos Objetivo geral
deverão ser objeto de pactos objetivamente definidos, com estri- O PlanejaSUS tem por objetivo geral coordenar o processo de
ta observância dos papéis específicos de cada um, assim como das planejamento no âmbito do SUS, tendo em conta as diversidades
respectivas peculiaridades, necessidades e realidades sanitárias. O existentes nas três esferas de governo, de modo a contribuir – opor-
desenvolvimento de papéis específicos visa, principalmente, poten- tuna e efetivamente – para a sua consolidação e, consequentemen-
cializar e conferir celeridade e resolubilidade ao PlanejaSUS, tanto te, para a resolubilidade e qualidade da gestão e da atenção à saú-
na sua implantação, quanto no seu funcionamento, monitoramento de.
e avaliação contínuos.
Como parte integrante do ciclo de gestão, o PlanejaSUS deve Objetivos específicos
estar próximo dos níveis de decisão do SUS, buscando permanen- São objetivos específicos do Sistema de Planejamento do SUS:
temente, de forma tripartite, a pactuação de bases funcionais de a) formular propostas e pactuar diretrizes gerais para o proces-
planejamento, monitoramento e avaliação do SUS, bem como pro- so de planejamento no âmbito do SUS e seu contínuo aperfeiçoa-
movendo a participação social e a integração intra e intersetorial, mento;
considerando os determinantes e condicionantes de saúde. Essa b) propor metodologias e modelos de instrumentos básicos
integração deve buscar o envolvimento de todos os profissionais. do processo de planejamento, englobando o monitoramento e a
Tal entendimento explicita o caráter transversal dessa função e, por avaliação, que traduzam as diretrizes do SUS, com capacidade de
conseguinte, o papel das áreas de planejamento nas três esferas adaptação às particularidades de cada esfera administrativa;
que, em síntese, é de: c) apoiar a implementação de instrumentos permanentes de
•coordenar os processos de formulação, monitoramento e ava- planejamento para as três esferas de gestão do SUS, que sirvam de
liação dos instrumentos básicos do PlanejaSUS; e parâmetro mínimo para o processo de monitoramento, avaliação e
•prover as demais áreas técnicas de mecanismos - como mé- regulação do SUS;
todos e processos - para que possam formular, monitorar e avaliar d) apoiar a implementação de processo permanente e siste-
os seus respectivos instrumentos, segundo as suas especificidades mático de planejamento nas três esferas de gestão do SUS, neste
e necessidades. compreendido o planejamento propriamente dito, o monitoramen-
Para o alcance do êxito esperado com o PlanejaSUS, estão iden- to e a avaliação;
tificadas algumas condições e medidas importantes. Tais condições e) promover a institucionalização, fortalecendo e reconhecen-
e medidas – ou eixos norteadores – podem gerar duplo benefício. do as áreas de planejamento no âmbito do SUS, nas três esferas de
De um lado, dariam celeridade ao atendimento de necessidades governo, como instrumento estratégico de gestão do SUS;
importantes da gestão do SUS, de que são exemplos a formulação f) apoiar e participar da avaliação periódica relativa à situação
ou a revisão de planos, programações e relatórios gerenciais. De de saúde da população e ao funcionamento do SUS, provendo os
outro, viabilizariam a conformação ágil do PlanejaSUS, tendo em gestores de informações que permitam o seu aperfeiçoamento e/
vista o caráter concreto de algumas medidas indicadas no presente ou redirecionamento;
documento. g) implementar e difundir uma cultura de planejamento que in-
Entre as condições necessárias, estão o apoio ao PlanejaSUS, tegre e qualifique as ações do SUS nas três esferas de governo, com
sobretudo por parte dos gestores e representantes do controle so- vistas a subsidiar a tomada de decisão por parte de seus gestores;
cial, incorporando o planejamento como instrumento estratégico h) promover a educação permanente em planejamento para os
para a gestão do SUS. Esse apoio deverá ser buscado principalmen- profissionais que atuam neste âmbito no SUS;
te junto aos Colegiados de Gestão Regionais, às Comissões Inter- i) promover a eficiência dos processos compartilhados de pla-
gestores (CIB e CIT), aos Conselhos Nacionais de Secretários Esta- nejamento e a eficácia dos resultados;
duais e Municipais de Saúde (Conass e Conasems) e aos Conselhos j) incentivar a participação social como elemento essencial dos
de Secretários Municipais de Saúde (Cosems). Trata-se de tarefa a processos de planejamento;
ser assumida, inicialmente, por todos os profissionais que atuam

261
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

k) promover a análise e a formulação de propostas destinadas i) apoio aos grupos de trabalho e demais fóruns da CIT em
a adequar o arcabouço legal no tocante ao planejamento no SUS; questões relativas ao planejamento no âmbito do SUS;
l) implementar uma rede de cooperação entre os três entes fe- j) organização de sistema informatizado que agregue informa-
derados, que permita amplo compartilhamento de informações e ções gerenciais em saúde de interesse do planejamento, valendo-se
experiências; dos sistemas já existentes;
m)identificar, sistematizar e divulgar informações e resultados k) implantação, monitoramento e avaliação sistemática do pro-
decorrentes das experiências em planejamento, sobretudo no âm- cesso de planejamento do SUS no âmbito federal e apoio a este
bito das três esferas de gestão do SUS, assim como da produção processo nos estados e municípios;
científica; l) utilização dos Planos Estaduais e Municipais de Saúde como
n) fomentar e promover a intersetorialidade no processo de subsídio prioritário na formulação do Plano Nacional de Saúde, ob-
planejamento do SUS; servada a Política Nacional de Saúde;
o) promover a integração do ciclo de planejamento e gestão no m)sensibilização dos gestores para incorporação do planeja-
âmbito do SUS, nas três esferas de governo; mento como instrumento estratégico de gestão do SUS;
p) monitorar, avaliar e manter atualizado o processo de pla- n) assessoria aos estados na definição de estratégias voltadas
nejamento e as ações implementadas, divulgando os resultados ao fortalecimento e à organização do processo de planejamento es-
alcançados, de modo a fortalecer o PlanejaSUS e a contribuir para a tadual.
transparência do processo de gestão do SUS;
q) promover a adequação, a integração e a compatibilização No âmbito estadual
entre os instrumentos de planejamento do SUS e os de governo; a) Organização e coordenação do PlanejaSUS no âmbito esta-
r) promover a discussão visando o estabelecimento de política dual e apoio a este processo nos municípios;
de informação em saúde; e b) apoio ao MS na implementação e aperfeiçoamento do Pla-
s) promover a discussão e a inclusão do planejamento na pro- nejaSUS em âmbito nacional;
posta de planos de carreira, cargo e salários do SUS. c) implementação das diretrizes, metodologias, processos e
instrumentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS;
Responsabilidades d) assessoria aos municípios na definição de estratégias volta-
As áreas e profissionais que atuam em planejamento nas três das ao fortalecimento e organização do processo de planejamento
esferas de gestão do SUS assumirão compromissos e responsabi- local e regional;
lidades voltadas à implantação, implementação, aperfeiçoamento e) utilização de Planos Regionais/Municipais de Saúde como
e consolidação do PlanejaSUS. A seguir, são descritas as responsa- subsídio prioritário na formulação do Plano Estadual de Saúde, ob-
bilidades nos âmbitos federal, estadual e municipal, identificadas servada a Política de Saúde respectiva;
pelos profissionais participantes das oficinas macrorregionais e dos f) coordenação do processo de planejamento regional de forma
encontros do Sistema de Planejamento do SUS. articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adaptação –
às realidades locais – das metodologias, processos e instrumentos
No âmbito federal pactuados no âmbito do PlanejaSUS;
a) Coordenação do processo nacional de planejamento do SUS, g) apoio à organização e funcionamento dos Colegiados de
em cooperação com os estados e municípios; Gestão Regionais;
b) organização, implantação e implementação do PlanejaSUS h) estímulo à criação e/ou apoio a câmaras específicas e grupos
em âmbito nacional; de trabalho dos CGR e CIB em questões relativas ao planejamento
c) cooperação técnica e financeira na implantação e implemen- no âmbito do SUS;
tação do Planejasus em cada esfera de governo, bem como para a i) fortalecimento das áreas de planejamento do estado e apoio
formulação, monitoramento e avaliação dos instrumentos básicos às referidas áreas municipais;
definidos para este Sistema; j) monitoramento e avaliação das ações de planejamento no
d) implementação de rede, no âmbito do planejamento, volta- âmbito estadual e apoio aos municípios para o desenvolvimento
da à articulação e integração das três esferas de gestão do SUS e à deste processo;
divulgação de informações e experiências de interesse do Planeja- k) estímulo ao estabelecimento de políticas públicas de saúde
SUS, bem como à disseminação do conhecimento técnicocientífico de forma articulada e intersetorial;
na área; l) desenvolvimento da cooperação técnica e financeira aos mu-
e) promoção da educação permanente em planejamento para nicípios no âmbito do PlanejaSUS;
os profissionais que atuam em planejamento no SUS; m)promoção e apoio à educação permanente em planejamen-
f) participação no Grupo de Planejamento da Secretaria Técnica to para os profissionais que atuam no contexto do planejamento no
da Comissão Intergestores Tripartite (CIT); SUS, em parceria com o MS e municípios;
g) formulação e apresentação, para análise e deliberação da n) participação na implementação de rede, no âmbito do pla-
CIT, de propostas relativas ao funcionamento e aperfeiçoamento do nejamento, voltada à articulação e integração das três esferas de
PlanejaSUS e dos seus instrumentos básicos; gestão do SUS e à divulgação de informações e experiências de in-
h) mobilização e coordenação do grupo de colaboradores, teresse do PlanejaSUS, bem como à disseminação do conhecimento
composto por especialistas e profissionais que atuam nas áreas de técnico-científico na área;
planejamento do SUS, no processo de planejamento e orçamento o) apresentação, para análise e deliberação da Comissão Inter-
na esfera federal e em instituições de ensino e pesquisa, com vistas gestores Bipartite – CIB –, de propostas relativas ao funcionamento
a apoiar o MS no cumprimento de suas responsabilidades junto ao e aperfeiçoamento do PlanejaSUS no respectivo âmbito;
PlanejaSUS;

262
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

p) apoio às câmaras e grupos de trabalho da CIB em questões melhores resultados, reduzir conflitos e incertezas. Neste sentido,
relativas ao planejamento no âmbito do SUS; programação guarda semelhança com o planejamento, embora
q) sensibilização dos gestores para incorporação do planeja- seja uma expressão associada a objetivos delimitados e pontuais.
mento como instrumento estratégico de gestão do SUS. Planejar ações políticas, definir estratégias econômicas, esquemas
regulatórios, modelos de administração de empresas e negócios
No âmbito municipal em geral fazem parte do cotidiano da ordem política e social. Como
a) Coordenação, execução e avaliação do processo de planeja- especialidade em seus diferentes ramos, o tema do planejamento
mento do SUS no âmbito municipal, consoante aos pactos estabe- é tratado por especialistas renomados em vasta literatura especiali-
lecidos no âmbito do PlanejaSUS; zada das disciplinas aqui assinaladas.
b) apoio ao estado e ao MS na implementação e aperfeiçoa- Pode-se afirmar que planejar é reduzir incertezas. Logo, implica
mento do PlanejaSUS; em algum grau de intervenção na economia, associa-se a práticas
c) implementação das diretrizes, metodologias, processos e regulatórias, orienta investimentos e está diretamente vinculado à
instrumentos definidos de forma pactuada no âmbito do Planeja- alocação eficiente de recursos. No setor saúde, as práticas de pla-
SUS; nejamento estão presentes em todo o processo que é conhecido
d) sensibilização dos gestores e gerentes locais para incorpora- como Gestão do SUS.
ção do planejamento como instrumento estratégico de gestão do Para esses objetivos, tratar-se-á planejamento e programação
SUS; como áreas de conhecimento e atividades referidas ao setor saú-
e) elaboração dos instrumentos básicos de planejamento de de, no qual o tema tem ampla utilização e grande diversidade de
forma articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adap- abordagens entre pesquisadores e dirigentes nas áreas pública e
tação – às realidades locais – das metodologias, processos e instru- privada. Definir metas, estabelecer objetivos e planejar ou progra-
mentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS; mar ações representam o dia-a-dia dos gestores do setor público
f) participação na implementação de rede, no âmbito do pla- em saúde. As atividades regulatórias, sejam por meio de auditoria
nejamento, voltada à articulação e integração das três esferas de de processos ou de resultados, são afetadas por tais definições de
gestão do SUS e à divulgação de informações e experiências de in- objetivos e de metas.
teresse do PlanejaSUS, bem como à disseminação do conhecimento Este capítulo abordará noções estabelecidas entre especialis-
técnico-científico na área; tas, sem a preocupação de cobrir todo o debate. Mais adiante serão
g) participação e promoção de capacitação em planejamento, referenciados alguns autores e textos que podem ser consultados
monitoramento e avaliação, na perspectiva da política da educação para aprofundamento no tema e para conhecer o modo como são
permanente; operadas no cotidiano do planejamento as diferentes técnicas aqui
h) promoção de mecanismos de articulação entre as diversas discutidas.
áreas da SMS e com outros setores do município; Em termos atuais, muito do que se discute sobre planejamen-
i) estímulo ao estabelecimento de políticas públicas de saúde to e técnicas de programação está associado à noção de contrato.
de forma articulada e intersetorial; O estabelecimento de contratos de entes públicos entre si e com
j) implementação do planejamento local com monitoramento agentes privados tem se tornado uma realidade cada vez mais for-
e avaliação das ações propostas, bem como divulgação dos resulta- te no SUS, seguindo uma tendência internacional. Isto tem trazido
dos alcançados; para as arenas decisórias os interesses de atores, com ou sem fins
k) coordenação de ações participativas visando a identificação lucrativos.
de necessidades da população, tendo em vista a melhoria das ações Buscando desconstruir a ideia usual de contrato de mercado
e serviços de saúde; strictu sensu, tem-se trabalhado esta interação de atores públicos e
l) operacionalização, monitoramento e avaliação dos instru- privados, muitas vezes de forma controversa, como um dos aspec-
mentos de gestão do SUS e retroalimentação de informações ne- tos da governança. Antes de tratar do planejamento e da programa-
cessárias às três esferas; ção como parte dos diferentes mecanismos de governança presen-
m)promoção da estruturação, institucionalização e fortaleci- tes na política de saúde será apresentado o modo como se instituiu
mento do PlanejaSUS no município, com vistas a legitimá-lo como no setor saúde o tema do planejamento para o desenvolvimento
instrumento estratégico de gestão do SUS; social. Em seguida, serão discutidos aspectos da programação em
n) participação no processo de planejamento regional de forma saúde e o modo como essa se consolidou no Brasil. Há uma longa
articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adaptação – história do planejamento em saúde na experiência internacional e,
às realidades locais – das metodologias, processos e instrumentos especialmente, na América Latina. Um grande número de autores
pactuados no âmbito do PlanejaSUS; tratou deste tema orientado à construção de sistemas públicos de
o) apoio à organização e funcionamento dos Colegiados de saúde e às reformas sanitárias.
Gestão Regionais.
Assim, foi criada uma sólida tradição em associar o planeja-
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E NORMATIVO mento às políticas de saúde. Em diversos casos, a produção dos au-
A noção de planejamento é aplicada, fundamentalmente, em tores principais foi aceita e praticada por agências de cooperação
diferentes áreas do conhecimento como Administração, Economia internacional na América Latina e, em particular, no Brasil. A seguir,
e Política. Um dos pontos essenciais do planejamento é sua natu- uma resumida apresentação de algumas das principais abordagens
reza estratégica, muito influenciada pelo uso nas ações militares. sobre o assunto, sem a preocupação de abranger todo o tema.
Na geopolítica, o planejamento estratégico pertence à própria
natureza da diplomacia e das relações internacionais. No senso co-
mum, a ideia costuma estar associada a organizar atividades, buscar

263
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Método CENDES/OPAS dois temas antes de entrar no item hoje dominante em termos de
Uma das mais antigas estratégias de planejamento em saúde planejamento e que se refere aos mecanismos de governança e à
na América Latina foi o desenho do método conhecido como CEN- entrada em cena da Nova Gerência Pública.
DES/ OPAS, que surge em um ambiente favorável à intervenção do
Estado na economia como forma de reduzir ou compensar as crises Planejamento estratégico
econômicas por meio do planejamento e do estabelecimento de O planejamento estratégico é uma concepção geral que implica
incentivos específicos. Fundamentalmente a partir da década de em dar à dimensão política o centro da elaboração de modelos. As
1920, a noção do planejamento foi entendida na América Latina relações entre atores políticos e instituições, tratadas como arenas,
como uma ferramenta do Estado para a promoção do desenvolvi- são analisadas e as orientações e estratégias são definidas a partir
mento social e econômico. Na Comissão Econômica para a América de conjunturas e equilíbrios de poder (MATUS, 1993). Muitos auto-
Latina (CEPAL), por exemplo, um setor da Organização das Nações res e instituições de saúde no Brasil utilizaram, desde a década de
Unidas (ONU) criado em 1948, o planejamento econômico é vis- 1980, modelos diretamente definidos por Carlos Matus e por Mario
to como uma atividade governamental orientada a romper com a Testa ou fizeram adaptações ou desenvolvimentos a partir de suas
dependência dos países latino-americanos frente às economias de- ideias (TEIXEIRA, 1993; RIVERA; HARTMANN, 2003; PAIM, TEIXEIRA,
senvolvidas e estimular o crescimento econômico. As relações entre 2006). Especificamente com relação às concepções de planejamen-
o pensamento cepalino, suas conexões com as técnicas de planeja- to situacional, Giovanella (1991) afirma que o planejamento estra-
mento e a emergência do planejamento estratégico no contexto da tégico situacional é uma evolução do pensamento crítico dos anos
América Latina foram tratadas por muitos especialistas. Giovanella sessenta em relação ao planejamento econômico.
(1991) apresenta uma análise minuciosa de todo o processo e de O Planejamento Estratégico Situacional (PES) se caracteriza
suas lacunas, a qual inclui a descrição da formação e dos conteúdos por tentar conciliar a ação sobre uma realidade complexa, com um
do método CENDES/OPAS e a emergência do planejamento estraté- olhar estratégico e situacional, considerando a visão de múltiplos
gico sob a influência de formuladores relevantes para a cultura téc- atores e a utilização de ferramentas operacionais para o enfrenta-
nica da saúde pública no Brasil, como Mario Testa e Carlos Matus. mento de problemas. Pode ser considerado, conforme assinalado
Como analisado por Giovanella (1991), esse método aplica os por Giovanella (1991), como uma vertente do planejamento estra-
fundamentos do planejamento da CEPAL no setor saúde para otimi- tégico de saúde, pois o pensamento de Matus, pelo seu frequente
zar ganhos econômicos e diminuir custos, sendo a escolha de prio- trabalho como assessor da OPAS, tem sofrido adaptações para a
ridades feita a partir da relação custo/benefício. saúde. O PES se divide em quatro momentos, a saber: Explicativo:
O objetivo era orientar investimentos em programas com me- seleção e análise dos problemas relevantes para os atores chaves e
nores custos para mortes evitadas em um modelo de planejamento sobre os quais se deseja atuar. Normativo: construção do plano de
de caráter normativo. intervenção, a situação objetivo que se deseja alcançar. Estratégico:
Esse método foi muito difundido no Brasil e ensinado nas esco- análise de viabilidade das ações e a construção de sua viabilidade
las de saúde, em cursos acadêmicos e em treinamento de gestores. quando consideradas essenciais. Tático-operacional: implementa-
A estrutura era em forma de planilha, onde informações de recur- ção do plano.
sos utilizados, custos por absorção e agravos evitados eram cruza- O enfoque estratégico foi adotado, como dito, de modo direto
das com o objetivo de orientar as decisões alocativas ou analisar ou adaptado para a cultura técnica do setor saúde no Brasil. Uma
o desempenho de sistemas e programas. A dificuldade estava na grande variedade de livros, artigos e teses foi produzida, assim
obtenção de informações consistentes e, principalmente, em esta- como relatórios e consultorias a governos municipais, estaduais e
belecer os benefícios esperados. ao Ministério da Saúde, desde o fim da década de 1980 e ao longo
Embora seja difícil especificar quando e onde o planejamen- da implantação do SUS, nos anos 1990.
to central tenha começado no setor saúde, certamente o Método Embora haja uma ênfase em atores políticos, as matrizes fun-
CENDES/OPAS representou o modelo institucional e oficial de busca dadoras e as diversas correntes políticas que animaram o debate
de racionalidade burocrática no âmbito de estruturas administrati- entre correntes de planejamento situacional e estratégico na Amé-
vas (ministérios, institutos e secretarias de saúde) que operavam de rica Latina se fundamentavam na concepção marxista de estruturas
modo predominante por meio de hierarquias, comando e contro- de classes sociais (GIORDANI, 1979).
le. Ao longo de décadas, estruturas híbridas de cooperação entre A emergência dessa concepção de planejamento converge his-
Estado e mercado, que hoje podem ser trabalhadas no âmbito da toricamente com a construção do movimento de reforma da saúde
governança, não estiveram presentes na agenda política do sistema pública nos países latinos e a luta pela redemocratização dos países
público de saúde. Uma série de soluções de planejamento em saú- que estavam sobre regimes ditatoriais.
de se desenvolveu enquanto o método patrocinado pela Organiza- O pensamento marxista era muito presente na construção das
ção Pan-Americana de Saúde (OPAS) perdia importância. A perda políticas de saúde e de seus mecanismos estratégicos de desen-
de relevância pode ser atribuída a um conjunto de fatores, dentre volvimento. Vale assinalar que a importância e relevância destes
os quais a dificuldade na obtenção de informações adequadas e o enfoques do planejamento, que acabam por ampliar a sua base
foco na produtividade e eficiência econômica em uma área espe- cognitiva e que se tornaram influentes nas instituições de saúde na
cial, como a de saúde, contribuindo para a perda de consenso entre América Latina e Brasil, em particular, ocorrem simultaneamente a
os especialistas, dirigentes e lideranças setoriais. enfoques bastante distintos já em curso em outros países. Na déca-
Em seu lugar, duas importantes estratégias se disseminaram da de 1980, começa a se desenvolver o modelo da Nova Gerência
em nosso país no que diz respeito à difusão de ideias de especialis- Pública, oriundo da cultura técnica britânica que se dissemina pela
tas em planejamento para os dirigentes setoriais. São elas as abor- Comunidade Europeia.
dagens de planejamento estratégico-situacional e as diferentes prá-
ticas de programação em saúde. Tratar-se-á resumidamente destes

264
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Além disso, com tradições fortemente arraigadas nos Estados Unidos, e de desenvolvimento anterior, os modelos de Teoria dos Jogos
tratam de problemas semelhantes aos dos conflitos de atores e instituições do planejamento estratégico, apesar de orientações políticas
bem diferentes e de modelos de análise fortemente matematizados.
Essas orientações chegam com maior força política ao Brasil apenas em meados da década de 1990 e por meio de instituições fora do
eixo da saúde pública.
O planejamento estratégico no Brasil foi adotado em sua abordagem técnico-política, influenciando o desenho dos distritos sanitários
e a organização dos serviços de saúde. Paim (1993) contesta a adoção desse planejamento situacional para a organização dos distritos, de-
vido às limitações do método no que concerne à compreensão integral da realidade e dos sujeitos. Essa visão mais abrangente preconizada
por Paim, que considera os elementos da promoção da saúde, da produção social da saúde e da visão de território vivo de Milton Santos
(1978), ficou hegemônica no que se convencionou chamar movimento de Saúde Coletiva.
As reformas de saúde nos anos 1970 foram influenciadas por uma série de movimentos populares e políticos de redemocratização
na América Latina, o que resultou numa outra forma de entender e construir planejamento em saúde e contribuiu com a construção – na
academia –, do campo de Saúde Coletiva no Brasil.
Em consonância com a disseminação de abordagens do planejamento em saúde a partir de enfoques estratégicos, outra tradição se
formou no setor saúde brasileiro e se relaciona à programação em saúde, o que passaremos a tratar na seção seguinte.

A Legislação aplicável ao planejamento no SUS


O planejamento no SUS é de responsabilidade conjunta das três esferas da federação, sendo que a União, os Estados, o Distrito Fede-
ral e os Municípios devem desenvolver suas respectivas atividades de maneira funcional para conformar um sistema de Estado que seja
nacionalmente integrado. Assim, as atividades de planejamento desenvolvidas de forma individual, em cada uma das esferas, em seus
respectivos territórios, devem levar em conta as atividades das demais esferas, buscando gerar complementaridade e funcionalidade.
Essa articulação de tarefas entre as três esferas da Federação deve ser organizada a partir de uma distribuição de responsabilidades e
atribuições definidas pelas normas e acordos vigentes. O Ministério da Saúde, o CONASS e o CONASEMS, em consonância com o Conselho
Nacional de Saúde, definem as diretrizes gerais de elaboração do planejamento para todas as esferas de gestão, estabelecem as priorida-
des e os objetivos nacionais.
Os Municípios, a partir das necessidades locais, das diretrizes estabelecidas pelos conselhos municipais de saúde, das prioridades
estaduais e nacionais, elaboram, implementam e avaliam o ciclo do planejamento municipal.
A partir das necessidades de saúde no âmbito estadual, das diretrizes estabelecidas pelos conselhos estaduais de saúde e observadas
as prioridades nacionais, os estados, em parceria com os COSEMS, coordenam o ciclo de elaboração, implementação e avaliação do plane-
jamento em seus territórios, buscando articulação de processos e instrumentos. O Distrito Federal, pelas suas peculiaridades, assume as
responsabilidades típicas das secretarias de estado e de município.
Na busca da equidade regional, o Estado e os Municípios — em conjunto com seus pares nas respectivas regiões de saúde —, definem
as prioridades regionais e estabelecem as responsabilidades sanitárias de cada ente na região. Os planos e metas regionais resultantes das
pactuações intermunicipais constituirão a base para os planos e metas estaduais, que promoverão a equidade inter-regional (§ 2°, art. 30,
LC n° 141, de 2012).
Além disso, o planejamento no SUS deve ter como base territorial as regiões de saúde, uma vez que essas são os espaços geográficos
fundamentais de garantia da integralidade das ações e serviços de saúde para a população no SUS. A Região de Saúde representa a uni-
dade de referência para a análise da dinâmica socioeconômica e da situação de saúde da população, o dimensionamento da capacidade
instalada de produção de serviços, o levantamento dos recursos fiscais, dos profissionais e equipamentos disponíveis e para a projeção de
uma imagem-objetivo da rede de atenção à saúde.
Assim, o planejamento no SUS se fundamenta em uma dinâmica federativa em que cada uma das esferas possui suas atribuições
específicas, que articuladas produzem um planejamento orientado para impulsionar estratégias de regionalização.

265
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Os princípios gerais para o planejamento no Estado Brasileiro, com foco no setor saúde, estão dispostos ao longo de um conjunto de
normas de diversas naturezas, editadas ao longo de quase três décadas9. A legislação a ser observada no campo da saúde é composta tan-
to por normas gerais aplicáveis ao planejamento governamental, quanto pelas normas específicas editadas no âmbito do SUS, conforme
pode ser visto nos Quadros.

Assim, o planejamento no SUS deve observar ambos os conjuntos de normas de forma a articular o planejamento setorial com o ciclo
geral de planejamento governamental da Federação.
As regras gerais de planejamento são orientações que devem ser seguidas por todas as áreas desenvolvedoras de políticas públicas e
estão expressas, em sua maior parte, nos art. 165 a 169 e 195, § 2°, da Constituição de 1988, e na Lei Complementar n° 101, de 2000, além
das normas de Direito Financeiro estabelecidas anteriormente pela Lei n° 4.320, de 1964.
O setor saúde deve se orientar primeiramente por essas regras e, subsidiariamente, pelas disposições constantes das regras setoriais
ou específicas que abrangem um conjunto mais amplo de normas, desde as Leis Orgânicas até as publicações infralegais, como portarias
e resoluções mais recentes, com pode ser visto no Quadro.

266
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Principais normas e disposições específicas sobre o planejamento governamental no SUS

267
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Princípios do planejamento governamental no SUS


As diretrizes estabelecidas por esse conjunto de normas podem ser elencadas em sete princípios gerais que orientam os gestores das
três esferas da Federação na organização de suas atividades de planejamento, com destaque para as disposições estabelecidas no Decreto
n° 7.508, de 2011, na LC n° 141, de 2012, e especialmente na Portaria n° 2.135, de 25 de setembro de 2013, que define de forma mais
explícita as diretrizes atuais para o planejamento no SUS. Esses princípios estão apresentados nas seções a seguir.

Princípio 1: o planejamento consiste em uma atividade obrigatória e contínua


O processo de planejamento em saúde é de responsabilidade de cada ente federado, a ser desenvolvido de forma contínua, articulada,
ascendente, integrada e solidária, entre as três esferas de governo, na medida em que visa dar direcionalidade à gestão pública da saúde.
Assim, os entes da Federação devem, obrigatoriamente, realizar atividades de planejamento. A elaboração dos instrumentos de pla-
nejamento estabelecidos pela legislação são obrigações condicionantes, inclusive, para o recebimento das transferências intergoverna-
mentais.
O planejamento regular permite dotar os gestores de informações que possibilitem uma ação mais efetiva sobre a realidade sanitária
e redirecionar as ações com vistas a melhorar as condições de saúde da população.
Entretanto, para que se consiga construir um planejamento que permita dar suporte ao SUS, a legislação estabelece que cada um dos
entes da Federação desempenhe seu papel específico, gerando complementaridade. Assim, o cumprimento das responsabilidades indivi-
duais em cada esfera da Federação é que irá permitir que as demais também possam realizar a contento suas atividades, o que exige que
o planejamento seja integrado. Essa integração, para ser efetiva, pressupõe que haja articulação funcional.
Assim, por exemplo, a União, a partir de construção tripartite, precisa estabelecer diretrizes, objetivos e metas nacionais e o calendário
nacional de elaboração para que os Estados possam definir as estratégias de coordenação do processo de planejamento em seu território
e os Municípios iniciem, com seus pares, suas atividades nas respectivas regiões de saúde.

Princípio 2: o planejamento no SUS deve ser integrado à Seguridade Social e ao planejamento governamental geral
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que as políticas de saúde, previdência e assistência devem estar articuladas no âmbito
da Seguridade Social, criando sincronia entre os programas e ações voltados para a inclusão social. Essa articulação, do ponto de vista
operacional, deve ocorrer nos processos de planejamento e orçamento, sendo necessário que os planos e os orçamentos do SUS estejam
integrados com os das áreas de previdência e assistência. O orçamento da Seguridade Social é o instrumento de planejamento e orçamen-
tação que articula e integra os programas dessas três áreas de política social e junto com o Orçamento Fiscal compõe o Orçamento Geral
de cada ente da Federação.

Além disso, os instrumentos de planejamento da saúde — o Plano de Saúde e suas respectivas Programações Anuais e o Relatório
de Gestão — devem orientar, no que se refere à política de saúde, a elaboração dos instrumentos de planejamento de governo — Plano
Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA), definidos a partir do art. 165 da CF.
A Constituição Federal de 1988 define a integração entre as funções de planejamento estatal e as de orçamentação como sendo o
fundamento do modelo orçamentário brasileiro, definido pela necessidade do estabelecimento de uma conexão coerente entre os respec-
tivos instrumentos adotados.

268
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Do mesmo modo, tal conexão institui uma relação intrínseca As instâncias permanentes de negociação e pactuação inter-
entre os planos de curto e médio prazo e as programações anuais de gestores são os espaços federativos de construção de consenso po-
gastos governamentais. Dada esta forma de estruturação orçamen- lítico e de desenvolvimento de estratégias intergovernamentais que
tária, o PPA consiste no ponto de partida que define as diretrizes possibilitam a ação conjunta e articulada do Ministério da Saúde e
gerais de ação do Estado nas três esferas de governo da Federação. das secretarias estaduais e municipais de saúde.
De acordo com o texto constitucional, cabe ao PPA a definição Assim, no processo de planejamento no SUS devem ser con-
das diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública relativas sideradas como essenciais as pactuações realizadas nas comissões
às despesas de capital e aos gastos correntes delas derivados, ou intergestores — CIR, CIB e CIT —, uma vez que esses espaços de go-
seja, o PPA sintetiza as estratégias de médio prazo e as operaciona- vernança têm a competência de discutir e pactuar de forma perma-
liza por meio dos programas que o constituem. nente a política de saúde e sua execução na construção da gestão
O PPA se estrutura em duas partes fundamentais que são a compartilhada do SUS.
base estratégica e os programas. A base estratégica consiste no Portanto, todo o processo de planejamento integrado segue a
conjunto de análises de cenário e de prospecção estratégica que lógica federativa clássica em que, apesar de cada uma das esferas
orientará o planejamento governamental. A base estratégica deve ter suas responsabilidades específicas, as principais decisões sobre
contemplar a análise da situação econômica e social, as diretrizes, o ciclo de planejamento são tomadas a partir de consensos. Essa
objetivos e metas estabelecidas pelo chefe do Poder Executivo, a dinâmica de trabalho coletivo é típica de ambientes federativos e
previsão dos recursos orçamentários e sua distribuição entre os tem como objetivo conferir legitimidade às decisões e estimular o
setores ou entre os programas e diretrizes, objetivos e metas dos trabalho conjunto entre a União, os Estados e os Municípios.
demais órgãos compatíveis com a orientação estratégica do chefe Como resultado, um amplo conjunto de questões relativas ao
do Poder Executivo. processo de planejamento no SUS passa por negociações interges-
Os programas consistem na sistematização das ações que se- tores nos fóruns federativos do SUS.
rão implementadas de acordo com as orientações definidas na base Assim, as pactuações tripartites abrangem: as diretrizes gerais
estratégica. para a composição do conjunto de ações e serviços de saúde e de
O detalhamento anual dos gastos relativos a cada etapa das es- medicamentos essenciais a serem ofertados no SUS (Renases e Re-
tratégias adotadas é realizado pela LOA, cujo conteúdo deve guar- name); as etapas e os prazos do processo de planejamento no SUS;
dar plena compatibilidade com as diretrizes expressas nos progra- as diretrizes nacionais para a organização das regiões de saúde;
mas definidos no PPA. Enquanto o PPA compreende o planejamento os critérios para o planejamento no SUS nas regiões de saúde; as
governamental de médio prazo, para quatro anos, a LOA contém o normas de elaboração e fluxos do COAP; as regras de continuidade
detalhamento anual desse planejamento na forma das ações que do acesso para o atendimento da integralidade da assistência nas
deverão ser implementadas e dos recursos orçamentários que esta- regiões de saúde; as diretrizes, objetivos, metas e indicadores de
rão disponíveis para o financiamento das políticas. Assim sendo, a abrangência nacional, buscando orientar e integrar o planejamento
LOA consiste na expressão anual do planejamento governamental, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entre
quando são previstos com maior detalhamento o volume de recur- outras.
sos arrecadados e como esses serão alocados ao longo do conjunto No âmbito estadual, as pactuações a serem realizadas nas CIB,
de programas e projetos que serão executados no exercício fiscal entre os gestores estaduais e municipais, são relativas: às etapas
correspondente. e aos prazos do planejamento municipal em consonância com os
A integração entre o PPA e a LOA é função da LDO, consistin- planejamentos estadual e nacional; às diretrizes estaduais sobre re-
do no instrumento inovador instituído pela Constituição Federal giões de saúde e demais aspectos vinculados à integração das ações
de 1988 em matéria de organização orçamentária. Segundo esta e serviços de saúde dos entes federados; à conformação e à ava-
última, cabe à LDO estabelecer, para cada exercício fiscal, as me- liação do funcionamento das regiões de saúde em cada estado; à
tas e as prioridades da Administração Pública e os parâmetros de continuidade do acesso às ações e aos serviços de saúde da rede de
elaboração da LOA, além de dispor sobre um amplo conjunto de atenção à saúde, mediante referenciamento em regiões de saúde
questões adicionais consideradas essenciais para que o planeja- intraestaduais; à metodologia de alocação dos recursos estaduais; e
mento de médio prazo, expresso no PPA, possa se traduzir em ação à previsão anual de repasse de recursos aos Municípios (constantes
eficiente e eficaz de curto prazo. Esse conjunto abrange disposições dos planos estaduais de saúde), entre outras.
relativas a possíveis alterações na legislação tributária e na política Finalmente, no âmbito das CIR10, as principais pactuações
de pessoal da Administração Pública, a fixação de limites de gastos abrangem: o rol de ações e serviços e o elenco de medicamentos
para os três poderes, as condições para que o equilíbrio fiscal seja que serão ofertados na Região de Saúde (tomando como base a
obtido, o estabelecimento de critérios para limitação de empenho, Renases e a Rename); os critérios de acessibilidade e escala para
a definição de medidas a serem adotadas em caso de redução dos a conformação dos serviços; as diretrizes regionais sobre a organi-
montantes de endividamento, definição das condições e exigências zação das redes de atenção à saúde; a gestão institucional regional
específicas para transferências de recursos a entidades públicas e e a integração das ações e serviços dos entes federados na Região
privadas, entre outras. de Saúde11; as responsabilidades individuais e solidárias de cada
Princípio 3: o planejamento deve respeitar os resultados das ente federativo na Região de Saúde (a serem incluídas no COAP); e
pactuações entre os gestores nas comissões intergestores regio- a elaboração, a pactuação, o monitoramento e a avaliação de todo
nais, bipartite e tripartite o processo de planejamento regional integrado nas respectivas re-
giões de saúde, entre outras.

269
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Princípio 4: o planejamento deve estar articulado constante- Portanto, é essencial que o conjunto de diretrizes, objetivos,
mente com o monitoramento, a avaliação e a gestão do SUS metas e indicadores estabelecidos em âmbito nacional seja em-
O planejamento não consiste apenas em um simples exercício pregado pelas três esferas de governo para o desenho de seus ins-
de projeção de metas futuras, mas em uma ação estratégica da trumentos de planejamento, o que permitirá tanto criar uma ação
gestão pública que tem por objetivo reorientar os programas e os sincronizada da administração pública em torno das grandes prio-
projetos governamentais de forma a ampliar a eficiência, a eficácia ridades nacionais quanto uniformizar o formato e a linguagem do
e a efetividade da ação das políticas de saúde. Portanto, o planeja- planejamento em todo o País.
mento está intrinsecamente relacionado à gestão do SUS. A integração do planejamento no SUS requer também que as
Para que as ações de planejamento possam contribuir para o três esferas da Federação orientem suas atividades de maneira fun-
aperfeiçoamento da gestão do SUS, os entes federados devem com- cional entre si para que haja complementaridade e organicidade,
prometer-se a realizar o monitoramento e a avaliação, visando ana- evitando a duplicação de ações e projetos em algumas áreas e a
lisar os resultados alcançados e as estratégias empregadas para tal. ausência em outras.
O monitoramento e a avaliação devem ser processos periódi- Entretanto, o caráter integrado das atividades de planejamen-
cos, orientados pelas diretrizes, objetivos, metas e indicadores as- to no SUS valoriza a autonomia dos entes federados, uma vez que
sumidos em cada esfera de gestão. todo o processo deve ser conduzido de maneira ascendente desde
No âmbito do planejamento no SUS, o monitoramento e a ava- os Municípios até a esfera federal. Assim, os planos municipais de
liação devem ser executados de forma individual e conjunta entre saúde, elaborados a partir das definições estabelecidas nas confe-
os entes federados, tendo como referência as respectivas regiões rências municipais de saúde, são a base para o planejamento das
de saúde. regiões de saúde, que por sua vez, orientam o planejamento em
O monitoramento compreende o acompanhamento regular âmbito estadual. Da mesma forma, a esfera federal deve levar em
das metas e indicadores, que expressam as diretrizes e os objetivos consideração o escopo das atividades planejadas pelas unidades da
da política de saúde em um determinado período e o seu coteja- Federação.
mento com o planejado; enquanto a avaliação envolve a apreciação O Decreto n° 7.508, de 2011, introduz duas inovações essen-
dos resultados obtidos, considerando um conjunto amplo de fato- ciais para o aperfeiçoamento do planejamento no SUS e estabelece
res. A escolha desses fatores ou critérios que irão orientar a avalia- o planejamento regional em saúde como a base para a definição
ção depende do tipo de apreciação que se pretende realizar, uma das metas e indicadores do planejamento da política de saúde, vi-
vez que toda avaliação consiste na emissão de um juízo de valor sando conferir maior complementaridade entre as ações a serem
sobre as características, a dinâmica e o resultado de programas e desenvolvidas de forma integrada pelas três esferas de governo.
políticas. Essas inovações consistem em estabelecer o conceito de metas
Os tipos mais comuns e empregados na avaliação são os que regionais, que fazem interface com as metas municipais, estaduais
consideram: os efeitos sobre a saúde da população (avaliação de e federais e introduzir a necessidade de formalização dos compro-
impacto ou de efetividade); a obtenção das prioridades e os objeti- missos assumidos entre os gestores por meio de um instrumento
vos iniciais estabelecidos (avaliação dos objetivos ou da eficácia); a jurídico-executivo, o COAP.
racionalidade no uso dos recursos (avaliação da eficiência); as mu- Desta forma, a integração do planejamento no SUS se organiza
danças ocorridas no contexto econômico, político e social (avalia- em torno do planejamento realizado nas regiões de saúde, onde
ção de cenário); as disposições constantes da legislação (avaliação são estabelecidas as metas e as responsabilidades específicas de
de legalidade ou de conformidade); a qualidade da estratégia de cada uma das três esferas da Federação para que os resultados se-
implantação das políticas e programas (avaliação da implementa- jam obtidos. Assim, a integração do planejamento no SUS ocorre
ção); a análise e a apreciação de instâncias oficiais (avaliação ofi- por meio da ação complementar entre o trabalho dos gestores mu-
cial ou institucional); o aperfeiçoamento da capacidade de gestão nicipais, estaduais e federal em cada região de saúde.
dos quadros e das unidades da administração pública (avaliação de
aprendizagem), entre outros. Princípio 6: o planejamento deve contribuir para a transpa-
A legislação do SUS busca induzir os gestores das três esferas rência e a visibilidade da gestão da saúde
a privilegiar as atividades de monitoramento e de avaliação de im- Dentre outras normativas, a LC n° 141, de 2012, dá ênfase à
pacto ou de efetividade, combinando-as com algumas das outras transparência e à visibilidade da gestão da saúde, demandando que
modalidades de avaliação mencionadas acima. os gestores da saúde deem ampla divulgação, inclusive por meios
As principais normas relacionadas ao planejamento no SUS res- eletrônicos de acesso público, das prestações de contas periódi-
saltam que a avaliação deve apreciar em que medida as políticas, cas da saúde, para consulta e acesso da sociedade. Nesse sentido,
programas, ações e serviços de saúde implementados no período sugere que a transparência e a visibilidade sejam asseguradas no
considerado promoveram a melhoria das condições de saúde da processo de elaboração e discussão do Plano de Saúde, da Progra-
população. mação Anual de Saúde e do Relatório de Gestão, devendo ser sub-
metidos à apreciação do respectivo Conselho de Saúde e realização
Princípio 5: o planejamento deve ser ascendente e integrado de audiências públicas.
O planejamento ascendente e integrado na saúde, além de re- Portanto, o planejamento no SUS adquire também um caráter
quisito legal, é um dos mecanismos relevantes para assegurar a uni- de instrumento de ampliação da transparência das ações governa-
cidade e os princípios constitucionais do SUS. O planejamento ex- mentais, uma vez que a definição detalhada e clara das metas e
pressa as responsabilidades dos gestores de cada esfera de governo das respectivas responsabilidades de cada um dos entes federados
em relação à saúde da população do território quanto à integração possibilita que a sociedade acompanhe o processo de implantação
da organização sistêmica do SUS. e gestão das políticas e programas e discuta seus resultados com
os gestores.

270
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

A prerrogativa de conhecer os resultados das políticas e de mo- Programação em Saúde


nitoramento da aplicação dos recursos públicos consiste em direto A noção de Planejamento em Saúde como uma disciplina as-
de cidadania enfatizado pela Lei n° 12.527, de 18 de novembro de sociada à programação é antiga e sua tradição não se superpõe ao
2011, denominada de Lei de Acesso à Informação. Essa Lei dispõe, que foi tratado aqui como um campo de planejamento estratégico e
em seu art. 5°, que “É dever do Estado garantir o direito de acesso situacional, onde a mudança social ocupava o centro das preocupa-
à informação, que será franqueada, mediante procedimentos obje- ções de seus formuladores. Em certos aspectos, a programação em
tivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil saúde, exceto nos anos 1990, quando se associa mais diretamente
compreensão” (BRASIL, 2011b). Como consequência, o planeja- ao que se conheceu como Epidemiologia Social, tratou de objetivos,
mento governamental torna-se um instrumento ainda mais impor- processos e práticas bem distintas.
tante para que os cidadãos possam assegurar seus direitos. Uma referência clássica à programação da ação de serviços de
saúde foi o conhecido Relatório Dawson, de 1920. Este relatório de-
Princípio 7: o planejamento deve partir das necessidades de finiu, para as condições observadas na Grã-Bretanha no início do
saúde da população século passado, a organização espacial e hierárquica de serviços de
O planejamento no SUS parte do reconhecimento das dinâmi- saúde a partir de sua unidade mais simples que é o posto de saúde.
cas presentes no território que influenciam na saúde, bem como Neste sentido, foi precursor do que se conhece como uma estru-
das necessidades de saúde da população dos Municípios que tura de área organizada a partir de um posto ou centro de saúde
compõe a Região de Saúde. A análise e o dimensionamento das e serviços de referência em seu entorno. O modelo preconizou a
necessidades de saúde devem privilegiar um conceito mais amplo combinação entre a medicina preventiva e a curativa, sendo que as
de saúde, entendendo essa como uma condição que transcende a atividades dos serviços de saúde estariam articuladas ao trabalho
mera ausência de doença e se caracteriza pela garantia de bem es- comunitário e à atenção médica individualizada.
tar tanto físico e afetivo quanto social e econômico. Assim, a análi- Desta forma, um Centro de Saúde deveria agrupar diversos ser-
se da situação de saúde envolve primordialmente o conhecimento viços médicos, preventivos e curativos, na qualidade de primários
adequado e detalhado das condições de vida proporcionadas pelos (tecnologia leve) ou secundários (maior densidade tecnológica) de
diversos Municípios em cada região de saúde e das tendências de modo a formarem uma organização. Os serviços primários devem
curto, médio e longo prazo (CAMPOS, 2013). cuidar da atenção domiciliar e os centros complementares cuidam
São essas necessidades que orientam a construção das diretri- de determinadas condições clínicas ou epidemiológicas específicas.
zes, objetivos, metas e indicadores identificados como essenciais A lógica territorial representou uma importante marca deste mode-
para a ampliação da qualidade de vida dos cidadãos e para a garan- lo, que hoje pode ser reconhecida na forma de distritos ou regiões
tia plena de seus direitos de cidadania. A compreensão das realida- de saúde.
des locais em cada Região de Saúde abrange o levantamento de um A lógica da programação em saúde foi influenciada pelo conhe-
amplo conjunto de indicadores socioeconômicos, demográficos, cido modelo da história natural da doença, preconizado por Leavell
epidemiológicos, sanitários, de infraestrutura urbana, de educação, e Clark (1965). Neste caso, a atenção primária possui conotação
culturais, ocupacionais, entre outros. São esses indicadores que preventiva e orientada, na forma de prevenção primária, para ações
permitem compreender as necessidades de saúde e que, portan- de promoção da saúde e de proteção específica. As ferramentas
to, deverão ser tomados como ponto de partida para a tomada de para a organização dos serviços de saúde em termos de prevenção,
decisões pelos gestores. Assim, a definição de quais serão as inter- tratamento, redução de agravos e reabilitação incluem protocolos
venções prioritárias que irão orientar a implementação ou o aper- na forma de programas de saúde.
feiçoamento do conjunto de ações e serviços de saúde no território Os programas de saúde, especialmente na forma de Campa-
deve ser fundamentada em seu impacto na ampliação do bem estar nhas, constituíram a principal forma de ação do Ministério da Saúde
dos cidadãos. Em essência, a orientação do planejamento a partir no Brasil nas décadas anteriores à criação do SUS. As campanhas,
das necessidades de saúde busca ampliar a efetividade das políticas como no caso do combate à tuberculose e à hanseníase, eram orga-
públicas (OUVERNEY; NORONHA, 2013). nizadas a partir do Ministério da Saúde e sua estrutura vertical che-
gava aos Estados e Municípios, onde a execução se dava de modo
O Planejamento Normativo (DEVER, 1988) “é destinado a pro- cooperativo com as secretarias de saúde.
mover mudanças sociais deliberadas ou pretendidas projetadas Uma importante tradição se desenvolveu a partir da Sociologia
para o futuro. Como é possível perceber, nesse nível de planeja- da Saúde (DONNANGELO, 1976) e de seus nexos com a Epidemio-
mento será necessário lidar com os distintos interesses de diferen- logia Social (BREILH, 1991) para desenvolver soluções de ensino e
tes atores sociais e sua postura em relação ao plano, de oposição, de administração de serviços. Dessa forma, promoveu uma mudan-
indiferença ou adesão”. ça na própria concepção de programação em saúde. Embora com
Já o Planejamento Estratégico indica os caminhos a percorrer, diferentes orientações e tradições, esta área pode ser incluída no
detalhar as ações (TANCREDI, 1998). O Planejamento Estratégico campo da Saúde Coletiva, e se forma com base na crítica ao modelo
“refere-se ao desenvolvimento de ações (planos) que permitam or- biomédico e ao modelo campanhista.
ganizar a execução das estratégias planejadas em outro nível de pla- Uma expressão de tais concepções está muito bem estabele-
nejamento. Indica como ´colocar em prática´ as ações previstas. No cida por Mendes-Gonçalves (1990) na demarcação entre a clínica
setor saúde, utiliza-se esse tipo de planejamento na execução dos médica como base da organização dos serviços de saúde frente ao
programas de assistência à saúde, por exemplo, o programa para planejamento orientado pelas ações programáticas.
controle da hipertensão” Essas ações definem a ideia central de processos de saúde, con-
siderando o contrato social e territorial. As teses centrais da ação
programática não se resumem à simples padronização de condutas,
não geram uma nova burocracia, não visam administrar recursos

271
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

escassos para objetivos básicos e não se propõem a resolver, pelas — o nível 2 da determinação da combinação de atividades por
estratégias de planejamento e de programação, todos os problemas nível de complexidade a partir dos grupos populacionais e seus pro-
da atenção à saúde (SCHRAIBER, 1999). blemas de saúde;
Os conflitos latentes entre a lógica da prática médica e a pro- — o nível 3 da programação de atividades por unidade caracte-
gramação preconizada pelo planejamento foram objetos de algu- rística de cada nível de complexidade.
mas escolas em nosso País, por exemplo, em Schraiber (1999).
Consoante a tais enfoques, Nemes (1996) define a ação pro- Estes níveis compõem processos inter-relacionados de um
gramática como uma proposição de organizar o trabalho em saúde mesmo modelo teórico (apresentado), em que se resgata uma de-
fundamentada na integração sanitária e em tecnologias de base finição macro (fiel à definição do primeiro pressuposto), e, em que
epidemiológica. se incorpora, todavia, o requisito da sincronicidade entre programa-
A possibilidade e a necessidade de observar a clínica como ção regional e local.
um espaço de decisão compartilhada, tema recorrente da Filoso-
fia Aplicada à Medicina como na tradição fundada por clássicos A CRÍTICA DA PROGRAMAÇÃO LOCAL TRADICIONAL
como Canguilhem (2009), estimularam especialistas de diferentes A crítica da programação local está dirigida invariavelmente ao
enfoques a pensar práticas de planejamento das ações em saúde método CENDES/OPS (1965), por ser esse método talvez a única
na forma de métodos bem delineados. Assim como a ação progra- expressão acabada de um enfoque normativo da programação no
mática se firmou como uma tradição no setor saúde, outros autores setor saúde. No entanto, essa crítica deve ser aplicada a todas as
buscaram caminhos próprios com os mesmos objetivos de articular variantes que compartilham com o Método da visão normativa do
na clínica mecanismos de decisão cooperada com implicações para Planejamento, cujas características limitativas são enumeradas a
a organização de serviços de saúde. Um destes métodos foi pro- seguir.
posto por Campos, G. (2006) com o foco nos indivíduos (usuários, 1. O enfoque normativo reduz a programação à dimensão ex-
profissionais de saúde, dirigentes) e em sua capacidade de atuar clusiva de uma técnica de estimativa de recursos e de otimização
sobre as organizações. Este método (denominado paidéia) segue di- econômica. Este privilegiamento do critério de eficiência econômi-
versas tradições caracterizadas como de cogestão de organizações ca na utilização de recursos escassos (tal como acontece na fun-
e de projetos, embora com elementos discursivos e práticas bem damentação doutrinária do Método), aproxima a metodologia de
próprias e envoltas na noção de gestão compartilhada da clínica e programação local do campo dos enfoques programáticos basea-
da saúde coletiva. dos na mera oferta de recursos, em detrimento das necessidades
Métodos participativos de avaliação foram cada vez mais in- de saúde. Essa acepção da programação local implica o predomínio
tegrados à gestão dos programas e dos serviços de saúde. Diver- paradigmático do ideal do crescimento e da produtividade sobre a
sos manuais foram produzidos de modo a orientar a montagem de equidade, que se expressa, operacionalmente, na utilização de indi-
sistemas de monitoramento e diferentes escolasde planejamento cadores de pouca sensibilidade para captar as desigualdades entre
cooperativo se formaram na experiência internacional e com reper- grupos sociais. A relação de custo-benefício, que embasa as técni-
cussõesem experiências aqui no Brasil. As noções de participação cas de programação local de corte tradicional, comporta apenas in-
na gestão do sistema público no Brasil e a determinação de que dicadores sobre os custos econômicos e sobre os parâmetros de re-
órgãos colegiados tenham assento na tomada de decisões e no pla- solutividade tecnológica; no máximo, indicadores epidemiológicos
nejamentono SUS pertence à legislação constitucional e infracons- relacionados com a mortalidade por danos específicos e população
titucional e a atuação dos conselhos de saúde no planejamento de inespecífica. Por via de consequência, a metodologia de programa-
objetivos e procedimentos da política pública tem sido amplamente ção local não tem considerado devidamente as possibilidades redis-
estudada na literatura setorial (MOREIRA et al., 2009). tributivas da regulação sanitária.
Alguns dos métodos mais recentes e aqui também difundidos a 2. A programação local tem sido considerada como um nível
partir de experiências europeias convergem para abordagens parti- de menor agregação da função Planejamento, em que prevalece
cipativas de planejamento e de avaliação de resultados e de proces- quase que exclusivamente a factibilidade dos recursos. Colocada
sos. Uma série de modelos sucedeu as tradições do CENDES/OPAS em uma situação de posterioridade na seqüência temporal que ca-
e do PES, em tempos distintos. Vários deles foram aqui difundidos racteriza o Planejamento Tradicional (posterioridade que é definida
tais como o logframe, desde 1969, o ZOPP8, da década de 1980, e pela menor agregação e pela localização em um âmbito mais baixo
uma versão mais flexível conhecida como da organização institucional), à programação local é atribuída uma
Project Cycle Management – em comum, representam certa função predominantemente técnica, à que não cabe se importar
evolução para um conjunto diversificado de técnicas denominadas com a viabilidade política. O político é definido como um dado que
de metodologias rápidas de avaliação (BURSZTYN; RIBEIRO, 2005). antecede e se superpõe à programação, condicionando seus parâ-
Embora o Planejamento Estratégico Situacionaltenha sido apli- metros. Esse reducionismo tecnocrático da programação se pren-
cado em outros locais, em linhas gerais, as estratégias do PES são de ao uso rígido do conceito de etapa e de sequência, uso que no
orientadas para aplicação nos níveis centrais. Planejamento Tradicional equivale a visão de fases que acontecem
antes e depois, em um espaço temporal absoluto.
A Programação local deve ser entendida como um enfoque Do anterior se deduz que a programação, assim como se sepa-
metodológico que contém 3 níveis: ra do político, também se separa da gerência. Conclusivamente, a
— o nível 1 da determinação dos problemas, dos nós críticos programação tradicional assume como dados externos ao modelo
dos problemas, da responsabilidade institucional pelo enfrenta- programático os dados políticos, institucionais e tecnológicos (no
mento dos mesmos e das operações necessárias (desdobradas em sentido da armação tecnológica da rede e dos condicionamentos
ações); industriais), ou como referências preexistentes.

272
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

3. A programação local tradicional, quando tenta-se aproximar 9. A excessiva centralização técnica que acompanha as experi-
das necessidades, o faz a partir dos danos de saúde, negligencian- ências de programação é um sucedâneo das experiências políticas
do as condições de vida ou as condições de reprodução social das vividas, mas pode ser imputada também, a título parcial, à metodo-
mesmas, de forma que reduz as necessidades ao plano setorial ou logia ou ao enfoque programático, na medida em que os enfoques
das condições de saúde. Essa operação, que invalida a aproximação, tradicionais de planejamento/programação não incorporam a pro-
explica-se pela ausência de um modelo de determinação causal que blemática organizacional ou a incorporam na forma reprodutória de
permita a compreensão da realidade pela mediação de níveis de
departamentos de planejamento situados no ápice organizacional,
determinação essencial. A permanência no nível epifenomênico da
realidade permite apenas que se percebam fenômenos sanitários, ou seja, não se tem dado a necessária prioridade à criação de um
mas não permite conhecer ou explicar. sistema absolutamente descentralizado de programação, que pos-
4. A programação local, ao voltar-se sobre recursos abstratos sibilite a participação efetiva da população na geração da informa-
(a organização otimizada dos mesmos através da normatização ção e da linguagem dos programas.
instrumental), promove a descaracterização político-institucional 10. A própria linguagem elaborada no interior dos sistemas de
do atendimento. Esta visão histórica dos recursos contribui para planejamento, consentânea aos critérios de quantidade com que
uniformizar a priori as diferentes instâncias institucionais que con- trabalha, destaca-se pela ausência de informação qualitativa ou de
formam o sistema e dificulta a explicação do seu movimento e a afirmações de qualidade (que traduzam conceitos sobre o político e
atuação eficaz. o social), o que tende a empobrecê-la e a “viesá-la”. À centralização
5. Enquanto técnica de estimativa de recursos, a programação organizacional corresponde uma concentração do nível informacio-
local tem sido aplicada divorciada da “programação regional” (ou nal em espaços “ arquetípicos” exclusivamente preenchidos pela
da programação de rede), isto é, tem assumido preferencialmente tecnocracia. A maior qualificação da linguagem e sua simplificação
como objeto, as unidades locais de saúde, considerando, em se-
(o que subentende uma tarefa cultural) foram exigências escamote-
parado, os níveis de complexidade tecnológica que compõem um
sistema local ou regional. Esses níveis são assumidos, como já se adas pela técnica programática, na medida em que não havia uma
insinuou, como dados preexistentes, ou não são considerados abso- compreensão do planejamento enquanto um sistema comunicacio-
lutamente, o que pode resultar em uma asincronicidade estrutural nal (que abre ou fecha espaços de participação e de conhecimento/
da rede (dos diversos componentes) e em uma limitação séria da ação).
eficiência. A falta de integração e a duplicidade é a consequência
natural de uma falta de formulação simultânea dos âmbitos de rede Esta listagem de elementos de uma crítica da programação
e de unidade local. local, poderia ser ampliada; mas, ela representa, em uma aproxi-
6. A sistemática da programação falha ao concentrar-se na aná- mação a uma síntese, uma lista suficiente das limitações não só da
lise e instrumentalização de problemas sanitários exclusivamente programação quanto do planejamento normativo como um todo.
programáveis no âmbito setorial, isto é, em objetos parciais que são E que, em nenhuma circunstância, justifica-se a separação entre
passíveis de transmutar-se em ações sanitárias. O ponto de partida planejamento e programação, como em geral se patrocina, e, jus-
único da programação (ou a abertura programática) está represen- tamente é isso que tem-se procurado questionar aqui. A ideia de
tado pelos critérios de morbidade, composição populacional (por
uma sequência temporal rígida, junto com a noção de um nível su-
sexo e idade) ou pelas ações sanitárias (bastante desagregadas).
Esse ponto de vista esquece que os problemas atravessam os se- perior (apanágio da política) que predomina sobre um nível inferior
tores e que, portanto, o predomínio do conceito operacional de (apanágio do técnico), em uma escala hierárquico-organizacional,
programa setorial sobre o conceito amplo de problema abstrai um compõem algumas das “epistemes” mais controvertidas do discur-
espaço extenso de imbricações que fazem parte do conceito am- so normativo.
pliado de saúde.
7. A abstração do nível político se acompanha de uma com-
preensão “cientificista” do nível da programação, que se expressa PORTARIAS E LEIS DO SUS
no desconhecimento do papel dos atores sociais na formulação e
implementação de tal nível. Esse desconhecimento leva a uma for- Prezado candidato, o edital não especifica quais Portarias e
mulação rígida e egocêntrica dos programas de atuação, que limita Leis exigidas à respeito do SUS, portanto, disponibilizaremos tópi-
a viabilidade. A presunção de que um único ator programa e que cos relevantes, frequentemente abordados em certames públicos,
esse ator o faz apoiado na objetividade da ciência, o que provo- e pertinentes ao cargo em questão, além das leis já abordadas an-
ca um alheamento do ator da realidade que programa, tem como
teriormentes.
resultado uma abordagem do diagnóstico e das outras “fases” da
programação que se destaca pelo monolitismo e a inflexibilidade.
Esta rigidez normativa é a causa talvez mais importante do fracasso Lei 8142 de 28 de dezembro de 1990 – Participação da comuni-
dos documentos de programação. dade na gestão do SUS: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
8. A indefinição de uma intencionalidade que tenha como alvo l8142.htm
o sistema de serviços (justificada em grande parte pela falta de co-
municação entre o político e o técnico, ou pela colocação em sepa- Portaria 1.820 de 13 de agosto de 2009 – Direitos e deveres
rado de ambos os fatores), ou o emprego exclusivo e implícito de dos usuários da Saúde: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudele-
uma situação-objetivo no espaço das condições de saúde (como no gis/gm/2009/prt1820_13_08_2009.html
Método a prevenção do maior número de mortes ao menor preço),
colocam-se como obstáculos à definição e priorização dos proble- Decreto 7508 de 28 de junho de 2011- Regulamenta a Lei Or-
mas, de maneira que ocorre uma dificuldade prática para reconhe- gânica do SUS: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
cer os problemas relativos aos meios fundamentais e, por conse-
2014/2011/decreto/d7508.htm
guinte, para encaminhar uma mudança dos mesmos que venha a
ensejar melhores condições de saúde, enquanto critério de eficácia.

273
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Portaria 1583 de 19 de julho de 2012 – Execução da LAI no


âmbito do MS e entidades vinculadas: https://bvsms.saude.gov.br/ POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
bvs/saudelegis/gm/2012/prt1583_19_07_2012.html
Evolução Histórica da Saúde Pública e das políticas de saúde
Decreto 8.936, de 19 de dezembro de 2016 – dispõe sobre a no Brasil
oferta dos serviços públicos digitais: http://www.planalto.gov.br/ As políticas públicas de saúde no Brasil têm sofrido modifica-
ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/D8936.htm ções ao longo dos anos, e tais mudanças historicamente têm sido
pelo menos aparentemente para adequarem-se aos contextos polí-
Decreto 9.094 de 17 de julho de 2017 – institui a Carta de Ser- ticos, econômicos e sociais. Somente com a chegada da família real,
viços ao Usuário: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- em 1808, é que algumas normas sanitárias foram impostas para
2018/2017/decreto/d9094.htm os portos, numa tentativa de impedir a entrada de doenças con-
tagiosas que pudessem colocar em risco a integridade da saúde da
Lei 13.460 de 26 de junho de 2017 – Código de defesa do usu-
realeza. Em 1822, com a Independência do Brasil, algumas políticas
ário do serviço público: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
débeis de saúde foram implantadas, tais políticas eram referentes
ato2015-2018/2017/lei/l13460.htm
ao controle dos portos e atribuía às províncias quaisquer decisões
Portaria de consolidação 1 de 28 09 2017 – Consolidação de sobre tais questões.
normas, organização e funcionamento do SUS [Diretrizes para Somente com a Proclamação da República, em 1889, é que as
organização e funcionamento dos serviços de ouvidoria do SUS- práticas de saúde em nível nacional tiveram início. Oswaldo Cruz e
-Art. 113: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/ Carlos Chagas que estiveram à frente da Diretoria Geral de Saúde
prc0001_03_10_2017.html pública (DGSP), implementaram um modelo sanitarista visando er-
radicar epidemias urbanas e a criação de um novo Código de Saúde
Portaria de consolidação 2 de 28 09 2017 - Consolidação das Pública, tornando-se responsável pelos serviços sanitários e de pro-
normas sobre as políticas nacionais de saúde do SUS - Participa- filaxia no país, respectivamente.
SUS - ANEXO XXXIV: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ O Estado brasileiro teve sua primeira intervenção em 1923, com
gm/2017/MatrizesConsolidacao/Matriz-2-Politicas.html a Lei Elói Chaves, através da criação das Caixas de Aposentadoria
e Pensão (CAPs), que asseguravam aos trabalhadores e empresas
Lei 13.709 de 14 de agosto de 2018 – Lei Geral de Proteção de assistência médica, medicamentos, aposentadorias e pensões. Fo-
Dados Pessoais: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- ram substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs)
2018/2018/lei/L13709compilado.htm passando a abranger uma quantidade maior de trabalhadores(3).
Conforme refere Figueiredo; Tonini (2007), ao extinguir os IAPs, em
Decreto 9492 de 5 de setembro de 2018 – Regulamenta a Lei 1967, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) foi implan-
13460 de 2017: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- tado, atendendo, também, trabalhadores rurais por meio do Fundo
2018/2018/decreto/D9492.htm#:~:text=1%C2%BA%20Este%20 de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL) e trabalhadores
Decreto%20regulamenta%20os,Ouvidoria%20do%20Poder%20 com carteira assinada através do Instituto Nacional de Assistência
Executivo%20federal Médica da Previdência Social (INAMPS). Somente no final da déca-
da de 80 deixou de exigir carteira de trabalho para atendimentos
Decreto 10153 de 7 de dezembro de 2019 - Salvaguarda de em hospitais, tornando a saúde menos excludente e mais universal.
proteção à identidade dos denunciantes: http://www.planalto.gov. Na década de 70 surgiu o Movimento da Reforma Sanitária que
br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D10153.htm#:~:text=- tinha como objetivo conquistar a democracia para mudar o siste-
D10153&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20as%20salvaguardas%20
ma de saúde. O conceito saúde – doença bem como o processo de
de,5%20de%20setembro%20de%202018
trabalho e a determinação social da doença foram rediscutidos(4).
No final da década de 80 o quadro social e político no país era dife-
Portaria 729 de 29 de dezembro de 2020 – Consolida-
ção de normas[Sistema OuvidorSUS – Título III: https://www. rente, onde o movimento de redemocratização expandia-se pelos
in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-729-de-29-de-dezembro- estados brasileiros e a oposição ganhava força no Congresso Na-
-de-2020-296886172 cional. Dentro desse contexto ocorria, em 1986, a VIII Conferência
Nacional de Saúde (CNS) que tinha como presidente Sérgio Arouca
Portaria 581 de 9 de março de 2021 – Orientações às unida- e que, pela primeira vez, foi verdadeiramente popular refletindo o
des do SisOuv: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n- momento pelo qual o país passava. O grande marco da VIII Confe-
-581-de-9-de-marco-de-2021-307510563 rência Nacional de Saúde foi a criação do Sistema Único Descen-
tralizado de Saúde (SUDS), que posteriormente tornou-se Sistema
Lei 14129 de 29 de março de 2021 – Regras e instrumentos Único de Saúde (SUS) além de ter consolidado as ideias da Reforma
para o Governo Digital: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/ Sanitária.
lei-n-14.129-de-29-de-marco-de-2021-311282132#:~:text=1%- A saúde ganhou espaço a partir de então com a Constituição
C2%BA%20Esta%20Lei%20disp%C3%B5e%20sobre,e%20da%20 Federal de 1988 (CF\88) que criou o SUS rompendo, dessa forma,
participa%C3%A7%C3%A3o%20do%20cidad%C3%A3o. com o antigo modelo de saúde que era dominado pelo sistema
previdenciário. A saúde passou a ser direito de todos e dever do
Decreto 11358 de 1 de janeiro de 2023 - Estrutura Regimental Estado. Os princípios e diretrizes estabelecidos foram: descentrali-
do Ministério da Saúde: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ zação, integralidade, participação da comunidade, regionalização e
Ato2023-2026/2023/Decreto/D11358.htm#art4 hierarquização.

274
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

O SUS foi regulamentado em 1990, com a Lei Orgânica de Saúde de resposta às doenças emergentes e endêmicas, com ênfase na
(LOS), a Lei Nº 8.080 e a Lei Nº 8.142 onde se deu destaque para dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; Promoção da
a construção de um modelo de atenção fundamentado na epide- Saúde; Fortalecimento da Atenção Básica.
miologia, controle social, descentralização e regionalização com Em 2008 a Portaria do MS Nº 325\08 criou mais cinco priori-
base municipal. A primeira LOS regulamenta o SUS em todo o país dades no Pacto pela Vida passando a totalizar onze prioridades. As
definindo seus princípios e diretrizes, que contemplam a universa- cinco prioridades estabelecidas foram: Saúde do Trabalhador; Saú-
lidade, a integralidade da assistência, equidade, descentralização e de Mental; Fortalecimento da capacidade de resposta do sistema
a participação da comunidade. Estabelece condições para o nortea- de saúde às pessoas com deficiência; Atenção integral às pessoas
mento do gerenciamento e sobre as condições para a promoção, em situação ou risco de violência; Saúde do Homem. O Pacto em
proteção, recuperação da saúde, organização e funcionamento dos Defesa do SUS expressa os compromissos entre os gestores com a
serviços de saúde. A segunda regulamenta a participação da socie- consolidação do processo da Reforma Sanitária Brasileira e o Pacto
dade na formulação das políticas de saúde, dispõe sobre as transfe- de Gestão do SUS estabelece as responsabilidades dos entes fede-
rências intergovernamentais de recursos através do Fundo Nacional rados para o fortalecimento da gestão em seus eixos de ação.
de Saúde, que faria o repasse de forma regular e automática para Já em 2011 com o Decreto Nº 7.508\2011 o TCG foi substituído
cada esfera. pelo Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (COAP) tendo
As Normas Operacionais Básicas (NOB’s) foram instituídas para como objetivo a organização e a integração das ações e serviços de
nortear a operacionalização do sistema, sendo a mais importante a saúde, sob responsabilidade dos entes federativos com a finalidade
NOB\SUS 01-96, pois a partir dela o município tornou-se o principal de garantir a integralidade das ações e serviços de saúde a partir da
responsável por atender às necessidades do cidadão com requisitos definição de responsabilidades, indicadores e metas de saúde, de-
de Gestão Plena da Atenção Básica e Gestão Plena do Sistema Mu- sempenho, recursos financeiros. Reconhece a atenção básica como
nicipal, onde o Município passou a ser responsável, dentre outras, porta de entrada do sistema e como eixo principal das Redes de
pela elaboração da programação municipal dos serviços básicos de Atenção a Saúde (RAS) que constitui um conjunto de ações e servi-
saúde bem como pelos serviços de referência ambulatorial especia- ços de saúde articulados em níveis de complexidade crescente com
lizada e hospitalar; executar ações básicas de vigilância sanitária e o intuito de garantir a integralidade tendo como porta de entrada
epidemiológica, de média e alta complexidade; manter os sistemas para tais ações a atenção primária; urgência e emergência; atenção
de cadastros atualizados e avaliar o impacto das ações do sistema psicossocial e serviços especiais de acesso aberto e a partir destes
sobre as condições de saúde da população e do meio ambiente. partem as referências para serviços de atenção ambulatorial e hos-
A União passou a normalizar e financiar e os Municípios a exe- pitalar especializado.
cutar as ações. Criou a Programação Pactuada e Integrada (PPI), Por fim, o SUS representa o maior projeto de inclusão social no
que tinha como objetivo alocar recursos de assistência à saúde nos Brasil, proporcionando aos que antes eram excluídos pelo sistema
estados e municípios, como forma de universalizar o acesso da po- garantia de assistência à saúde. Entretanto a despeito da mesma im-
pulação a todo tipo de assistência nos três níveis de complexidade. ponência do projeto gigantescas dificuldades são encontradas em
Também foi criado o Piso de Atenção Básica (PAB), que alterou o fi- sua implementação relacionadas ao financiamento, regulação inci-
nanciamento das ações básicas, tornando necessário uma avaliação piente, precárias condições de trabalho falhas na descentralização.
da aplicação dos recursos e impactos. Necessitando de um fortalecimento no que se refere à regulação da
A NOAS – SUS 01\2001 transformou o modelo vigente de gestão assistência a saúde no país que apesar dos avanços obtidos com a
em Gestão Plena da Atenção Básica – Ampliada (GPAB-A), amplian- descentralização explicita problemas como leitos insuficientes para
do o debate sobre a municipalização egionalização e instituindo o atender a demanda da população que necessita de atendimentos,
Plano Diretor de Regionalização (PDR), que estabeleceu as diretri- principalmente de média e alta complexidade, que em sua maioria
zes para uma assistência regionalizada, organizada, de forma que o estão sob o poder do setor privado complementar e filantrópico
território estadual foi dividido em regiões e microrregiões de saúde
tendo como base critérios sanitários, epidemiológicos, geográficos, Políticas de saúde no SUS
sociais, a oferta de serviços e a acessibilidade que a população tem
aos mesmos, bem como o diagnóstico dos problemas de saúde Política Nacional de Atenção Básica
mais frequentes e das prioridades de intervenção. E o Plano Diretor
de Investimentos (PDI), que define as prioridades e estabelece as Breve contextualização histórica
estratégias no que se refere a investimentos dos recursos de modo A Atenção Primária à Saúde (APS) tem sido pensada, interna-
que seja prestada assistência em todos os níveis de complexidade. cionalmente, desde o início do século XX, com destaque para o seu
Em 2006 com o Pacto pela Saúde, foram extintas essas formas desenho no relatório Dawson de 1922, materializando- -a na figura
de habilitação, através da Portaria Nº 399\2006 passando a vigorar do médico geral, no contexto de uma rede territorial de serviços nu-
o Termo de Compromisso e Gestão (TCG) que contemplava atribui- cleada a partir dos centros primários, com autoridade sanitária re-
ções dos entes federados bem como os indicadores de monitora- gional. Esta formulação serviu de base para a construção do Serviço
mento e avaliação dos Pactos. Nas suas três dimensões, Pacto pela Nacional de Saúde inglês, importante referência de sistema público
Vida, em Defesa do SUS e Gestão do SUS, foram estabelecidas no e universal de saúde.
primeiro seis prioridades representando o compromisso entre os A conferência internacional de Alma Ata, no final dos anos
gestores do SUS em torno de prioridades que apresentem impacto 1970, influenciada pelo cenário político econômico dos países e pe-
sobre a situação de saúde da população brasileira, que são: Saúde los custos do setor saúde, incorporou elementos dessas experiên-
do Idoso; Controle do câncer de colo do útero e da mama; Redução cias, propondo os cuidados primários em saúde como elemento
da mortalidade infantil e materna; Fortalecimento da capacidade central para mudanças no setor saúde e na vida social.

275
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Uma importante formulação concebeu a APS a partir da ideia trabalho em equipe multiprofissional, as ações individuais e coleti-
de atributos, destacando-se: o primeiro contato, a abordagem inte- vas e a retaguarda do apoio matricial. Salientam-se as característi-
gral, a continuidade e longitudinalidade, a coordenação, a aborda- cas de porta de entrada preferencial da APS, centro de comunicação
gem familiar e comunitária, referindo-se ao grau de busca da APS e base de ordenamento nas Redes de Atenção à Saúde (RAS).
pelas pessoas, ao grau de vinculação e relacionamento entre APS e
pessoas sob seus cuidados, à capacidade resolutiva e ao poder para Edições da PNAB e a revisão atual
coordenar casos e fluxos assistenciais. A primeira edição de uma Política Nacional de Atenção Básica
Diferentes países do mundo têm APS no seu sistema de saúde. (PNAB) oficial data de 2006, com a segunda edição em 2011 e a
O ideário de Alma Ata é frequentemente destacado como marco terceira em 2017. Em 2006, no contexto do Pacto pela Saúde, foi
fundamental para a APS, com traduções e incorporações hetero- publicada a primeira edição da PNAB. Esta ampliou o escopo e a
gêneas nos países, ora como APS seletiva, ora como APS ampliada, concepção da AB ao incorporar os atributos da atenção primária
com forte influência de organismos internacionais. à saúde abrangente, reconheceu a Saúde da Família como modelo
substitutivo e de reorganização da AB. Além disso, revisou as fun-
APS no Brasil ções das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e reconheceu a existên-
As primeiras experiências de APS no Brasil datam da primeira cia de diferentes modalidades segundo o modelo de organização
metade do século XX. Desde 1990, com base na nova ordem social predominante – UBS com ou sem ESF.
definida na Constituição de 1988, que assumiu a saúde como direi- Os anos 2000 estiveram fortemente marcados pela expansão
to de cidadania e criou o Sistema Único de Saúde (SUS), busca-se da ESF nos grandes centros urbanos, pela incorporação e ampliação
implementar os princípios e diretrizes formulados pelo movimento das Equipes de Saúde Bucal (ESB) e pela criação dos Núcleos de
da reforma sanitária. Nesse período, o esforço de construção de um Apoio à Saúde da Família (Nasf). A despeito disso, importantes nós
novo modelo assistencial se materializou, na APS, com a implan- críticos persistiram, tais como a infraestrutura inadequada, o sub-
tação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs), do financiamento, o modelo assistencial e a dificuldade de atração de
Programa de Saúde da Família (PSF), em um contexto e conjuntura profissionais médicos.
política e econômica desfavoráveis a políticas universalistas. A par- Em 2011, iniciou-se um movimento de mudança da PNAB, em
tir de 1996, o PSF passou a ser apresentado como estratégia de mu- boa parte baseado no enfrentamento desses nós críticos. De fato,
dança do modelo assistencial, superando o conceito de programa podemos reconhecer na PNAB de 2011, no Requalifica UBS (refor-
vinculado a uma noção de verticalidade e transitoriedade, sendo mas, ampliações, construções e informatização), no Programa de
a Estratégia Saúde da Família (ESF) uma certa fusão do Pacs com Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ) e no Programa Mais
o PSF. Inicialmente com caráter seletivo, as Equipes de Saúde da Médicos (PMM) expressões desse esforço. Nesse período também
Família (EqSF) tiveram crescimento marcante em cidades pequenas foi criado o e-SUS AB, incluindo a oferta de prontuário eletrônico
e em regiões mais pobres, expandindo-se com maior força para os gratuito para os municípios, e foram alteradas normativas visando à
grandes centros nos anos 2000. sua ampliação e ao aprimoramento. Destaca-se ainda a criação de
diferentes modalidades de equipes (consultórios na rua, ribeirinhas
A introdução dos Pisos de Atenção Básica (PAB) fixo e variável e fluviais, por exemplo). Suportando tais iniciativas, observou-se
na década de 1990, operados por meio de repasse financeiro fundo incremento no orçamento federal da AB, notadamente no PAB Va-
a fundo, facilitou a implantação da ESF e superou a lógica de finan- riável e em recursos de investimento. O PMM (no seu componen-
ciamento por convênio e produção (procedimentos), tendo caráter te provimento), por exemplo, possibilitou maior permanência dos
relativamente redistributivo e tipo de repasse mais global por meio médicos nas EqSF em áreas de maior vulnerabilização social, bem
do PAB Fixo (per capita) e do PAB-Variável (por adesão a componen- como o crescimento da cobertura da ESF, em um processo de dis-
tes da ESF). puta com a categoria médica e que provocou debates na sociedade,
Com evolução progressiva ao longo dos anos, em 2017, havia para além do SUS e da saúde coletiva. Em 2013, havia 34.724 EqSF
42.467 EqSF implantadas no Brasil, cobrindo uma população esti- implantadas no Brasil, passando a 40.162 EqSF em 2015, com esta
mada de 131.349.487 pessoas ou 63.73%. Há evidências de impac- velocidade de crescimento do número de equipes provavelmente
tos da APS no Brasil, com destaque para a mortalidade infantil.A se devendo ao PMM. Essas iniciativas, no entanto, não foram sufi-
APS no Brasil conta com a particularidade de ter em suas equipes o cientes para o enfrentamento do subfinanciamento, da precariza-
Agente Comunitário de Saúde (ACS) como membro de uma equipe ção das relações de trabalho, da formação profissional, da integra-
multiprofissional. Diversos estudos abordam a singularidade do ACS ção da AB com os demais componentes das redes de atenção, entre
na experiência brasileira e a importância do seu trabalho, sobretu- outros, em parte pelo tempo de sua implantação, em parte por seus
do em áreas mais pobres. limites.
No Brasil, além de formulações internacionais, também têm É sabido que houve aumento da carga de responsabilidade
sido agregados outras perspectivas, conceitos e diretrizes – a APS dos municípios no financiamento do SUS ao longo dos anos e, no
é também chamada de Atenção Básica (AB), como significante de caso da AB, a baixa participação do ente estadual. A isso se somam
resistência à APS seletiva. Neste artigo, tais termos serão utilizados reivindicações dos gestores municipais por mais autonomia, apoio
como equivalentes. Nas formulações do Pacs e do PSF, tanto a vigi- financeiro e provimento de médicos, em parte, contempladas, no
lância em saúde como as práticas de promoção à saúde (incluindo âmbito da AB, com as mudanças na PNAB a partir de 2011. Ainda
a intersetorialidade) e prevenção de doenças tiveram centralidade, assim, há evidências que apontam que a maior parte da responsa-
com pouca relevância dada às práticas clínicas, subsumidas por bilidade pelo custeio das EqSF tem se concentrado nos municípios.
ações programáticas em saúde com destacada normatividade. Des- Os anos 2014 e 2015, por sua vez, foram marcados pelo início
tacam-se no Brasil, também, as noções de acolhimento, vínculo e de grave crise política e econômica no País, com impacto sobre o
adscrição de clientela, territorialização e responsabilidade sanitária, SUS. No plano da AB, destaca-se também a aprovação, em 2014,

276
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

da lei federal com definição de piso salarial e obrigatoriedade de teve a primeira revisão (PT 2488), havia o objetivo de atender às
contratação apenas por vínculos diretos, para os ACS e Agentes representações dos municípios, principalmente do estado de São
de Combate às Endemias (ACE), recaindo mais fortemente sobre Paulo, para que o MS [Ministério da Saúde] financiasse outras mo-
os municípios, em virtude da responsabilidade pela contratação de dalidades, principalmente com outras conformações das especiali-
profissionais. Em 2016, ganha destaque na agenda nacional a revi- dades médicas e suas cargas horárias. Foram criadas mais de sete
são da PNAB, precedida por uma portaria que facultava a presença modalidades de financiamento distintas, sem nenhum efeito. Ou
de ACS nas equipes e incorporação de mais técnicos de enferma- seja, se mudou a proposta inicial da exigência da carga horária inte-
gem, em pouco tempo revogada diante das repercussões políticas. gral dos médicos e não houve crescimento no número de equipes
Houve também mudança nas regras do financiamento federal do nessas diferentes modalidades”, ponderou.
SUS em 2017, encaminhando-se para o fim dos seis blocos de finan- Em entrevista ao OAPS, Claunara explicou que a nova porta-
ciamento do SUS (um deles da AB) e para a adoção de dois grandes ria implicará no enfraquecimento da Estratégia de Saúde da Famí-
blocos, de custeio e investimento. Além disso, foi aprovada a Emen- lia (ESF) como modo de organização da Atenção Primária à Saúde
da Constitucional nº 9520 em 2016, congelando os gastos com saú- (APS) no Brasil. “Ao chegar perto de 40 mil equipes de Saúde da
de e educação por 20 anos, prevendo reajustes apenas com base na Família no país, o momento era de verificar a baixa resolutividade
inflação. Nesse período, o então ministro da saúde adotou o discur- dessas equipes por não fazerem parte da rede de atenção, esta-
so de eficiência econômica, defendeu a criação de planos privados rem isoladas e sem capacidade de integrar o cuidado da APS com o
populares de saúde, bem como a desregulação do setor de saúde restante da rede. Era o momento de avançar nos mecanismos que
suplementar. Em meio a esse cenário e diante de muitos protestos, garantissem a regulação do acesso ao SUS a partir das equipes de
foi pactuada na Comissão Intergestores Tripartite (CIT) do SUS, em ESF. Com a atual proposta, voltamos a não ter um modelo de APS
2017, uma mudança instituindo uma nova PNAB. para o Brasil”, criticou.
Entidades que atuam em defesa da saúde também criticaram
O que muda com a nova PNAB as alterações introduzidas pela reformulação da PNAB. Em nota
Até o processo de reformulação, a Atenção Básica (AB) era conjunta, Cebes, Abrasco e Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio
orientada pela política aprovada pela Portaria nº 2.488, de 21 de Arouca – ENSP/Fiocruz repudiaram o rompimento da centralidade
outubro de 2011, e publicada em 2012, tendo na Saúde da Família da ESF na organização do SUS, com a instituição de financiamento
sua estratégia prioritária para expansão e consolidação da AB. Para específico para outros modelos que não contemplam a composição
Ana Luiza Queiroz Vilasbôas (ISC/UFBA), coordenadora do eixo de de equipes multiprofissionais com a presença de agentes comunitá-
Estudos e Pesquisas em Atenção Primária e Promoção da Saúde do rios de saúde; “a implantação de modo simplificado, ou reducionis-
OAPS, a principal mudança com a nova portaria está justamente ta, de uma ‘relação nacional de ações e serviços essenciais e estra-
na possibilidade de financiamento federal de outras modalidades tégicos da AB’”; e a ameaça à presença do Agente Comunitário de
de atenção básica. “É contraditório com o próprio texto da nova Saúde como integrante e profissional da atenção básica.
portaria que afirma a ‘prioridade’ para a Estratégia Saúde da Fa- O Conselho Nacional de Saúde (CNS), a Sociedade Brasileira de
mília. Prioridade significa financiamento diferenciado para garantia Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) e o Cofen – Conselho
de equipe em tempo integral na unidade de saúde, o que facilita a Federal de Enfermagem, além de pesquisadores/as como Ligia Gio-
construção de vínculo entre profissionais e os usuários. Isso é muito vanella, Luiz Augusto Facchini e José Gomes Temporão também ex-
importante para médicos/as, enfermeiros/as e dentistas”, avalia. puseram, ao longo do processo de reformulação, os riscos dos no-
vos termos da PNAB. Em entrevista ao OAPS no mês de outubro, a
A pesquisadora apontou as principais fragilidades do novo tex- pesquisadora Rosana Aquino destacou que o modelo da ESF – para
to da política, que classificou como “ambíguo”. Entre os problemas ela, “uma das grandes inovações do SUS” – traz melhores indica-
identificados está a integração do trabalho dos Agentes Comunitá- dores de saúde, quando comparado a outros modelos de Atenção
rios de Saúde (ACS) com o dos Agentes de Endemias, que não são Básica, e os resultados positivos mostrados por diversas pesquisas
obrigatórios nas equipes de Saúde da Família, o que pode levar ao estão agora sob ameaça de uma redução ainda maior de financia-
aumento das atribuições dos ACS, sem redução da média de famí- mento. “Quando o ministro da Saúde diz que ‘é para financiar o
lias sob sua responsabilidade; a falta de determinação na portaria mundo real’, o mundo real dele provavelmente é o mundo da aten-
do número de ACS por equipe – “na crise de financiamento que vi- ção à saúde de menor qualidade e uma Atenção Primária focalizada
vemos, o mínimo tende a ser o máximo”; a definição de atribuições e seletiva, então estamos realmente bastante apreensivos”.
de “regulação” de filas para consultas e exames especializados de Já marcado por polêmicas, o cenário foi sacudido ainda pela
usuários/as da AB ao Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf); e ação movida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e acatada
ainda a não obrigatoriedade da presença de profissionais de saúde pelo juiz Renato Borelli, da 20ª Vara Federal de Brasília, que estabe-
bucal na composição das equipes de Atenção Básica. lece restrições à atuação de enfermeiros/as, impedindo a realização
“São necessárias mudanças na atual PNAB para fazer avançar a de consultas e solicitação de exames sem prévia autorização médi-
ampliação da cobertura e promover a melhoria da qualidade do cui- ca. Na avaliação do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e do
dado. Entretanto, a ‘nova’ PNAB parece ir na direção contrária, pois Ministério da Saúde, a liminar prejudica o trabalho de Atenção Bá-
não amplia a composição das equipes de atenção básica tradicional, sica, com impactos diretos no funcionamento das unidades básicas
pois o ACS não é obrigatório nesse formato. No caso das equipes de de saúde e na garantia do acesso da população. Por outro lado, o
Saúde da Família, também não há avanço, pois a equipe de saúde CFM argumenta que a decisão judicial não compromete o funciona-
bucal é opcional”, critica Ana Luiza. mento dos programas de saúde pública orientados pela PNAB por
Já a professora Claunara Schilling Mendonça, ex-diretora do não impedir a realização de práticas terapêuticas, procedimentos e
Departamento de Atenção Básica/Ministério da Saúde, acredita exames, desde que solicitados previamente por médicos/as.
que a portaria de 2011 prescindia de revisão. “Em 2011, quando

277
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

A PNAB completa está disponível em: anos, sendo que este limite etário pode ser alterado conforme as
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnab.pdf normas e rotinas do estabelecimento de saúde responsável pelo
atendimento.
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança
A PNAISC está estruturada em princípios, diretrizes e eixos Dos princípios:
estratégicos. Tem como objetivo promover e proteger a saúde da 1) Direito à vida e à saúde – Princípio fundamental garantido
criança e o aleitamento materno, mediante atenção e cuidados in- mediante o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
tegrais e integrados, da gestação aos nove anos de vida, com espe- para a promoção, proteção integral e recuperação da saúde, por
cial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnera- meio da efetivação de políticas públicas que permitam o nascimen-
bilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente to, crescimento e desenvolvimento sadios e harmoniosos, em con-
facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno de- dições dignas de existência, livre de qualquer forma de violência
senvolvimento. (BRASIL, 1988; 1990b).
Os princípios que orientam esta política afirmam a garantia do 2) Prioridade absoluta da criança – Princípio constitucional que
direito à vida e à saúde, o acesso universal de todas as crianças à compreende a primazia da criança de receber proteção e cuidado
saúde, a equidade, a integralidade do cuidado, a humanização da em quaisquer circunstâncias, ter precedência de atendimento nos
atenção e a gestão participativa. Propõe diretrizes norteadoras para serviços de saúde e preferência nas políticas sociais e em toda a
a elaboração de planos e projetos de saúde voltados às crianças, rede de cuidado e de proteção social existente no território, assim
como a gestão interfederativa, a organização de ações e os servi- como a destinação privilegiada de recursos em todas as políticas
ços de saúde ofertados pelos diversos níveis e redes temáticas de públicas (BRASIL, 1988; 1990b).
atenção à saúde; promoção da saúde, qualificação de gestores e 3) Acesso universal à saúde – Direito de toda criança receber
trabalhadores; fomento à autonomia do cuidado e corresponsabili- atenção e cuidado necessários e dever da política de saúde, por
zação de trabalhadores e familiares; intersetorialidade; pesquisa e meio dos equipamentos de saúde, de atender às demandas da
produção de conhecimento e monitoramento e avaliação das ações comunidade, propiciando o acolhimento, a escuta qualificada dos
implementadas. Os sete eixos estratégicos que compõem a políti- problemas e a avaliação com classificação de risco e vulnerabilida-
ca têm a finalidade de orientar gestores e trabalhadores sobre as des sociais, propondo o cuidado singularizado e o encaminhamento
ações e serviços de saúde da criança no território, a partir dos de- responsável, quando necessário, para a rede de atenção (BRASIL,
terminantes sociais e condicionantes para garantir o direito à vida e 2005a).
à saúde, visando à efetivação de medidas que permitam a integrali- 4) Integralidade do cuidado – Princípio do SUS que trata da
dade da atenção e o pleno desenvolvimento da criança e a redução atenção global da criança, contemplando todas as ações de promo-
de vulnerabilidades e riscos. Suas ações se organizam a partir das ção, de prevenção, de tratamento, de reabilitação e de cuidado, de
Redes de Atenção à Saúde (RAS), com ênfase para as redes temá- modo a prover resposta satisfatória na produção do cuidado, não
ticas, em especial à Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil se restringindo apenas às demandas apresentadas. Compreende,
e tendo a Atenção Básica (AB) como ordenadora e coordenadora ainda, a garantia de acesso a todos os níveis de atenção, mediante
das ações e do cuidado no território, e servirão de fio condutor do a integração dos serviços, da Rede de Atenção à Saúde, coordenada
cuidado, transversalizando a Rede de Atenção à Saúde, com ações e pela Atenção Básica, com o acompanhamento de toda a trajetória
estratégias voltadas à criança, na busca da integralidade, por meio da criança em uma rede de cuidados e proteção social, por meio de
de linhas de cuidado e metodologias de intervenção, o que pode estratégias como linhas de cuidado e outras, envolvendo a família e
se constituir em um grande diferencial a favor da saúde da criança. as políticas sociais básicas no território (BRASIL, 2005a).
A normativa busca integrar diversas ações já existentes para 5) Equidade em saúde – Igualdade da atenção à saúde, sem
atendimento a essa população. O objetivo é promover o aleitamen- privilégios ou preconceitos, mediante a definição de prioridades
to materno e a saúde da criança, a partir da gestação aos nove anos de ações e serviços de acordo com as demandas de cada um, com
de vida, com especial atenção à primeira infância (zero a cinco anos) maior alocação dos recursos onde e para aqueles com maior neces-
e às populações de maior vulnerabilidade, como crianças com defi- sidade. Dá-se por meio de mecanismo de indução de políticas ou
ciência, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, e em situação de rua. programas para populações vulneráveis, em condição de iniquida-
des em saúde, por meio do diálogo entre governo e sociedade ci-
Eixos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da vil, envolvendo integrantes dos diversos órgãos e setores da Saúde,
Criança pesquisadores e lideranças de movimentos sociais (BRASIL, 2005a;
Os sete eixos estratégicos da Política são: atenção humanizada BRASIL; CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE
e qualificada à gestação, parto, nascimento e recém-nascido; alei- SAÚDE, 2009).
tamento materno e alimentação complementar saudável; promo- 6) Ambiente facilitador à vida – Princípio que se refere ao es-
ção e acompanhamento do crescimento e desenvolvimento inte- tabelecimento e à qualidade do vínculo entre criança e sua mãe/fa-
gral; atenção a crianças com agravos prevalentes na infância e com mília/cuidadores e também destes com os profissionais que atuam
doenças crônicas; atenção à criança em situação de violências, pre- em diferentes espaços que a criança percorre em seus territórios
venção de acidentes e promoção da cultura de paz; atenção à saúde vivenciais para a conquista do desenvolvimento integral (PENEL-
de crianças com deficiência ou em situações específicas e de vulne- LO, 2013). Esse ambiente se constitui a partir da compreensão da
rabilidade; vigilância e prevenção do óbito infantil, fetal e materno. relação entre indivíduo e sociedade, interagindo por um desen-
A Política considera como criança a pessoa na faixa etária de volvimento permeado pelo cuidado essencial, abrangendo toda
zero a nove anos e a primeira infância, de zero a cinco anos. Para a comunidade em que vive. Este princípio é a nova mentalidade
atendimento em serviços de pediatria no Sistema Único de Saúde que aporta, sustenta e dá suporte à ação de todos os implicados na
(SUS), são contempladas crianças e adolescentes menores de 16 Atenção Integral à Saúde da Criança.

278
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

7) Humanização da atenção – Princípio que busca qualificar as 5) Qualificação da força de trabalho – Qualificação da força de
práticas do cuidado, mediante soluções concretas para os proble- trabalho para a prática de cuidado, da cogestão e da participação
mas reais vividos no processo de produção de saúde, de forma cria- nos espaços de controle social, do trabalho em equipe e da arti-
tiva e inclusiva, com acolhimento, gestão participativa e cogestão, culação dos diversos saberes e intervenções dos profissionais, efe-
clínica ampliada, valorização do trabalhador, defesa dos direitos dos tivando-se o trabalho solidário e compartilhado para produção de
usuários e ambiência, estabelecimento de vínculos solidários entre resposta qualificada às necessidades em saúde da família.
humanos, valorização dos diferentes sujeitos implicados, desde eta- 6) Planejamento no desenvolvimento de ações – Aperfeiçoa-
pas iniciais da vida, buscando a corresponsabilidade entre usuários, mento das estratégias de planejamento na execução das ações da
trabalhadores e gestores neste processo, a construção de redes de Pnaisc, a partir das evidências epidemiológicas, definição de indi-
cooperação e a participação coletiva, fomentando a transversalida- cadores e metas, com articulação necessária entre as diversas po-
de e a grupalidade, assumindo a relação indissociável entre atenção líticas sociais, iniciativas de setores e da comunidade, de forma a
e gestão no cuidado em saúde (BRASIL, 2006a). tornar mais efetivas as intervenções no território, que extrapolem
8) Gestão participativa e controle social – Preceito constitucio- as questões específicas de saúde.
nal e um princípio do SUS, com o papel de fomentar a democracia 7) Incentivo à pesquisa e à produção de conhecimento – In-
representativa e criar as condições para o desenvolvimento da cida- centivo à pesquisa e à produção de conhecimento para o desen-
dania ativa. São canais institucionais, de diálogo social, as audiên- volvimento de conhecimento com apoio à pesquisa, à inovação
cias públicas, as conferências e os conselhos de saúde em todas as e à tecnologia no campo da Atenção Integral à Saúde da Criança,
esferas de governo que conferem à gestão do SUS realismo, trans- possibilitando a geração de evidências e instrumentos necessários
parência, comprometimento coletivo e efetividade dos resultados. para a implementação da Pnaisc, sempre respeitando a diversida-
No caso da saúde da criança, o Brasil possui um extenso leque de de étnico-cultural, aplicada ao processo de formulação de políticas
entidades da sociedade civil que militam pela causa da infância e do públicas.
aleitamento materno e que podem potencializar a implementação 8) Monitoramento e avaliação – Fortalecimento do monitora-
deste princípio (BRASIL; CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS mento e avaliação das ações e das estratégias da Pnaisc, com apri-
MUNICIPAIS DE SAÚDE, 2009; MARTINS, 2010). moramento permanente dos sistemas de informação e instrumen-
tos de gestão, que garantam a verificação a qualquer tempo, em
Das Diretrizes: que medida os objetivos estão sendo alcançados, a que custo, quais
1) Gestão interfederativa das ações de saúde da criança – Fo- os processos ou efeitos (previstos ou não, desejáveis ou não), indi-
mento à gestão para implementação da Pnaisc, por meio da viabili- cando novos rumos, mais efetividade e satisfação.
zação de parcerias e articulação interfederativa, com instrumentos 9) Intersetorialidade – Promoção de ações intersetoriais para a
necessários para fortalecer a convergência dela com os planos de superação da fragmentação das políticas sociais no território, me-
saúde e os planos intersetoriais e específicos que dizem respeito à diante a articulação entre agentes, setores e instituições para am-
criança. pliar a interação, favorecendo espaços compartilhados de decisões,
2) Organização das ações e dos serviços em Redes de Atenção que gerem efeitos positivos na produção de saúde e de cidadania.
à Saúde – Fomento e apoio à organização de ações e aos serviços
da Rede de Atenção à Saúde, com a articulação de profissionais e Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
serviços de saúde, mediante estratégias como o estabelecimento Atualmente o aumento da população idosa constitui tema de
de linhas de cuidado, a troca de informações e saberes, a tomada debate entre pesquisadores, gestores sociais e políticos de vários
horizontal de decisões, baseada na solidariedade e na colaboração, países do mundo. Como evidenciado por diversos estudos, a popu-
garantindo a continuidade do cuidado com a criança e a completa lação brasileira, também, vem envelhecendo de forma rápida. Essa
resolução dos problemas colocados, de forma a contribuir para a mudança na estrutura da população é caracterizada pela transição
integralidade da atenção e a proteção da criança. demográfica, ou seja, o processo de alteração de uma situação com
3) Promoção da Saúde – Reconhecimento da Promoção da altas taxas de fecundidade e mortalidade para outra com baixas
Saúde como conjunto de estratégias e forma de produzir saúde na taxas desses indicadores. Outro fator a interferir na estrutura da
busca da equidade, da melhoria da qualidade de vida e saúde, com população é o migratório, sobretudo com a entrada de estrangei-
ações intrassetoriais e intersetoriais, voltadas para o desenvolvi- ros, no final dos séculos XIX e XX, no Brasil. Nesta nova realidade,
mento da pessoa humana, do ambiente e hábitos de vida saudáveis a redução das taxas de fecundidade e a diminuição da mortalidade
e o enfrentamento da morbimortalidade por doenças crônicas não geram maior expectativa de vida, e levam a nova configuração da
transmissíveis, envolvendo o trabalho em rede em todos os espaços população no país. Surge, assim, a transição epidemiológica, defi-
de produção de saberes e práticas do cuidado nas dimensões indivi- nida pelo declínio das doenças infecto-parasitárias e aumento das
duais, coletivas e sociais (BRASIL, 2014h). doenças crônicas não-transmissíveis.
4) Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família – Neste sentido, os dados demográficos mostram a necessidade
Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família, princípio urgente dos gestores e políticos brasileiros observarem o panorama
constitucional, que deve ser estimulado e apoiado pelo poder pú- dessa transição, e, em conjunto com a sociedade, num breve espa-
blico, com informações qualificadas sobre os principais problemas ço de tempo, discutirem as políticas públicas de atenção ao idoso.
de saúde e orientações sobre o processo de educação dos filhos, Urge serem estas implementadas em todas as esferas sociais, por
o estabelecimento de limites educacionais sem violência e os cui- técnicos e profissionais que atendem essa parcela populacional,
dados com a criança, com especial foco nas etapas iniciais da vida, particularmente os da área de enfermagem.O processo de enve-
para a efetivação de seus direitos. lhecimento populacional tem sido discutido e acompanhado por
medidas, destinadas a proteger os idosos, como cidadãos cada vez
mais presentes nas sociedades mundiais. Até a década de 70, do

279
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

século XX, no Brasil, os idosos recebiam, principalmente, atenção das transformações indicadas por essa política. E, por fim, cabe aos
de cunho caritativo de instituições não-governamentais, tais como poderes públicos e à sociedade em geral a aplicação dessa lei, con-
entidades religiosas e filantrópicas. No aspecto legislativo, os idosos siderando as diferenças econômicas, sociais, além das regionais.
foram mencionados em alguns artigos, decretos-leis, leis, portarias, De acordo com o estabelecido, a mencionada lei determinou
entre outras. Sobressaem artigos do Código Civil (1916),4 do Código a articulação e integração de setores ministeriais e uma secretaria
Penal (1940),4 do Código Eleitoral (1965), além da Lei Nº 6.179 de para a elaboração de um Plano de Ação Governamental para a In-
1974,4 que criou a Renda Mensal Vitalícia, e de outros decretos-leis tegração da Política Nacional do Idoso (PNI). Esse Plano de Ação foi
e portarias relacionadas, particularmente, com as questões da apo- composto por nove órgãos: Ministério da Previdência e Assistência
sentadoria. Porém, a primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhe- Social; Educação e Desporto; Justiça; Cultura; Trabalho e Emprego;
cimento, da Organização das Nações Unidas (ONU), pode ser citada Saúde; Esporte e Turismo; Planejamento, Orçamento e Gestão e Se-
como o marco mundial que iniciou as discussões direcionadas aos cretaria de Desenvolvimento Urbano.
idosos. Este fórum ocorreu em Viena - Áustria, no período de 26 de Para colocar em prática as ações preconizadas pela PNI, foi ela-
julho a 6 de agosto de 1982, com representação de 124 países de borado o Plano de Ação Conjunta, que trata de ações preventivas,
todo o mundo, incluindo o Brasil. Neste fórum foi estabelecido um curativas e promocionais, com vistas à melhor qualidade de vida
Plano de Ação para o Envelhecimento, posteriormente publicado do idoso.
em Nova Iorque, em 1983. O referido Plano de Ação norteia ações integradas de forma a
O Plano de Ação para o Envelhecimento foi considerado um viabilizar a implementação da PNI. Neste sentido, define ações e
importante documento de estratégias e recomendações prioritá- estratégias para cada órgão setorial, negocia recursos financeiros
rias nos aspectos econômicos, sociais e culturais do processo de entre as três esferas de governo e acompanha, controla e avalia as
envelhecimento de uma população, e deveria ser baseado na De- ações. Para isto, foram traçadas as seguintes diretrizes:
claração Universal dos Direitos Humanos. Estabeleceram-se, então, - Viabilizar formas alternativas de participação, ocupação e con-
alguns princípios para a implementação de políticas para o envelhe- vívio do idoso, proporcionando-lhe integração às demais gerações;
cimento sob responsabilidade de cada país. Destes princípios, des- - Promover a participação e a integração do idoso, por inter-
tacam-se os seguintes: a estipulação da família, nas suas diversas médio de suas organizações representativas na formulação, imple-
formas e estruturas, como a unidade fundamental mantenedora mentação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a
e protetora dos idosos; cabe ainda às políticas sociais prepararem serem desenvolvidos;
as populações para os estágios mais tardios da vida, assegurando - Priorizar o atendimento ao idoso por intermédio de suas pró-
assistência integral de ordem física, psicológica, cultural, religiosa/ prias famílias, em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos
espiritual, econômica, de saúde, entre outros aspectos. Ainda como idosos que não possuam condições de garantir sua sobrevivência;
estabelecido, aos idosos deve ser proporcionada a oportunidade de - Descentralizar as ações político-administrativas;
contribuição para o desenvolvimento dos seus países, bem como a - Capacitar e reciclar os recursos humanos nas áreas de geria-
participação ativa na formulação e implementação de políticas, in- tria e gerontologia;
cluindo aquelas a eles direcionadas; os órgãos governamentais, não - Implementar o sistema de informações com vistas à divulga-
governamentais e todos que têm responsabilidades com os idosos ção da política, dos serviços oferecidos, dos planos e programas em
devem dispensar atenção especial aos grupos vulneráveis, particu- cada nível de governo;
larmente aos mais pobres, mulheres e residentes em áreas rurais. - Estabelecer mecanismos que favoreçam a divulgação de infor-
Este Plano de Ação almejou sensibilizar os governos e socie- mações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do
dades para a necessidade de direcionar políticas públicas voltadas envelhecimento;
para os idosos, bem como alertar para o desenvolvimento de estu- - Priorizar o atendimento ao idoso em órgãos públicos e priva-
dos futuros sobre os aspectos do envelhecimento. dos prestadores de serviço;
Em reconhecimento à importância do envelhecimento popu- - Apoiar estudos e pesquisas sobre as questões do envelheci-
lacional no Brasil, em 4 de janeiro de 1994 foi aprovada a Lei Nº mento.
8.842/1994, que estabelece a Política Nacional do Idoso, posterior-
mente regulamentada pelo Decreto Nº 1.948/96.6 Esta Lei tem por De acordo com o Plano de Ação, os órgãos setoriais, usando
finalidade assegurar direitos sociais que garantam a promoção da de suas atribuições e baseados na PNI, realizam as ações conforme
autonomia, integração e participação efetiva do idoso na socieda- as demandas da população de idosos. Na busca da implementação
de, de modo a exercer sua cidadania. Como previsto nesta lei, esti- desta política, têm ocorrido vários fóruns, formais e informais, de
pula-se o limite de 60 anos e mais, de idade, para uma pessoa ser discussão a respeito dos direitos dos idosos de forma a efetivá-la e
considerada idosa. ampliá-la.
Como parte de suas estratégias, referida política estabelece, Como observado, a referida política apresenta ações inovado-
entre suas diretrizes, a descentralização de suas ações por intermé- ras usadas como referência na abordagem do idoso. Entretanto, a
dio dos órgãos setoriais nos estados e municípios, em parceria com garantia dos direitos sociais para este ator não tem se concretizado
entidades governamentais e não-governamentais. efetivamente, pois esta vem sendo implementada no Brasil de for-
A Lei em discussão rege-se por determinados princípios, tais ma lenta e gradativa. Diante desta situação, cabe, pois aos idosos,
como: assegurar ao idoso todos os direitos de cidadania, sendo a às famílias e à sociedade em geral a conscientização e participação
família, a sociedade e o Estado os responsáveis em garantir sua par- política na busca da justiça social para a garantia plena dos direitos
ticipação na comunidade, defender sua dignidade, bem-estar e di- teoricamente assegurados.
reito à vida. O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade Inserida neste contexto, a enfermagem tem atuado efetiva-
de forma geral e o idoso não deve sofrer discriminação de nenhuma mente para mudar esta realidade, sobretudo no referido à saúde
natureza, bem como deve ser o principal agente e o destinatário e educação. Na área da saúde, a enfermagem tem contribuído na

280
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

abordagem do cuidado em aspectos do processo de envelhecimen- As mulheres em idade reprodutiva, ou seja, de 10 a 49 anos,
to (capacidade funcional, independência e autonomia, fragilidade, representam 65% da população feminina brasileira. Apesar dessa
avaliação cognitiva, engajamento social, qualidade de vida, promo- predominância ainda são observadas importantes diferenças de gê-
ção de saúde, prevenção de doenças, entre outros); e da senilidade nero. As diferenças se traduzem nas discrepâncias salariais entre os
(condições crônicas de saúde, situações de urgências e emergên- sexos, na maior ocupação de cargos de chefias pelo sexo masculino
cias, atenção domiciliar, entre outros). e na violência contra a mulher, e se refletem, também, nas leis, po-
Também na área da educação, a enfermagem se destaca. Por líticas e práticas sociais que repercutem desigualdades de classe,
exemplo, em cumprimento à PNI, tem propiciado relevante contri- idade, dentre outras.
buição sobretudo em pesquisas científicas. Atualmente os cursos Nesse contexto, a necessidade da integralização da atenção é
de Graduação em Enfermagem abrangem temas sobre gerontologia percebida, sendo fortalecida com as discussões sobre a “promoção
e geriatria, com a finalidade de capacitar e qualificar enfermeiros da saúde”, como norte para as práticas, organização e gestão da
para atender/cuidar de idosos. Da mesma forma, cursos de Pós- saúde no Brasil. O termo promoção da saúde, definido em 1986,
-Graduação lato e stricto sensu têm sido direcionados para a área durante a I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em
de conhecimento na atenção ao idoso, bem como na realização de Ottawa, no Canadá, estava associado aos elementos da atenção pri-
pesquisas científicas cada vez mais ampliadas nos últimos anos. En- mária. A responsabilidade pela saúde era exclusivamente desse se-
fim, a enfermagem desempenha papel determinante na execução e tor e se baseava no modelo biomédico, voltado à atividade curativa,
cumprimento das leis direcionadas aos idosos, promovendo a inclu- de forma individualizada e, portanto, de baixo impacto. Mais tarde,
são social indiscriminada (sexo, cor, raça, religião, classe social) dos o termo Promoção da Saúde passou a ser associado à qualidade de
idosos, respeitando suas capacidades e limitações. Contudo, ainda vida e o sujeito passou a ter autonomia sobre seu estado de saúde.
há muito a conquistar nessa área de conhecimento. Assim, tornou-se urgente a necessidade de elaboração de polí-
Com base nestas considerações, o estudo ora elaborado busca ticas públicas que atendessem a mulher em todos os aspectos e não
descrever e avaliar a Política Nacional de Atenção ao Idoso no Brasil apenas no aspecto reprodutivo. Com a crescente consolidação das
e sua relação com a enfermagem. Para isto procedeu-se a uma re- ações de promoção da saúde, o cenário mundial vem sendo trans-
visão bibliográfica do tema, o que permitiu sua caracterização sob formado e uma ênfase é dada à visão integral dos indivíduos. Logo,
a forma de leis, decretos, textos e artigos em periódicos e livros. vislumbrando a influência desse tema nas políticas públicas nacio-
nais voltadas à saúde da mulher, decidiu-se pela realização deste
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Mulheres estudo que objetiva analisar, epistemologicamente, os pressupos-
A partir das primeiras décadas do século XX, a atenção à saúde tos da promoção da saúde na atual Política Nacional de Atenção
da mulher passou a fazer parte das políticas públicas de saúde no Integral à Saúde da Mulher (PNAISM).
Brasil. No entanto, nas décadas de 30, 40 e 50 a mulher era vista Trata-se de uma reflexão baseada nos princípios e diretrizes
basicamente como mãe e “dona de casa”. Na década de 60, diver- da PNAISM, lançada em 2004 e nos pressupostos da promoção da
sos países se voltaram para controlar a natalidade e destacou-se a saúde apresentados nas sete cartas resultantes das conferências
atenção do Estado às mulheres em idade fértil. Assim, os programas mundiais sobre promoção da saúde (cinco de caráter internacional:
de “controle da natalidade” ganharam destaque no final da década Ottawa, Adelaide, Sundsvall, Jakarta e México e uma de caráter de
de 70, negando atenção às reais necessidades ou preferências das caráter sub-regional: Bogotá). As referidas fontes foram identifi-
mulheres, que ficavam relegadas em segundo plano. cadas, lidas, fichadas e interpretadas pelas autoras no período de
Ainda na década de 60, o movimento feminista brasileiro des- maio a julho de 2007, que se utilizaram um raciocínio crítico, ba-
contente com as diferenças de gênero e com o enfoque reducio- seado em suas próprias experiências como profissionais de saúde
nista dado à mulher, reivindicou a não-hierarquização das especi- atuantes na área da saúde da mulher e como mulheres, bem como
ficidades de homens e mulheres, propondo igualdade social que adotando ideias de outros autores.
reconhecesse as diferenças, hoje expressa na ideia de “equidade
de gênero”. Assim, emergiu um novo conceito de saúde da mulher, Resgate histórico
rompendo com o paradigma vigente centrado na função controlista No início do século XX e até meados da década de 70, a mulher
da reprodução, pontuando a saúde sexual e reprodutiva como um era assistida de forma restrita, reducionista e fragmentada, com
direito. ações voltadas ao ciclo gravídico-puerperal. As ações eram verti-
Esse engajamento das mulheres na luta pelos seus direitos e calizadas e centralizadoras, o que distanciava as medidas adotadas
por melhores condições de vida impulsionou a adoção das primei- das reais necessidades dessa população-alvo. Nesse sentido, o mo-
ras medidas oficiais do Ministério da Saúde voltadas para a assis- vimento feminista iniciou uma série de reivindicações com o obje-
tência integral à saúde da mulher. Apesar das limitações impostas tivo de incorporar às políticas de saúde da mulher outras questões
pelo governo militar da época, o movimento feminista se reorgani- como gênero, trabalho, desigualdade, sexualidade, anticoncepção e
zou incitando debates que denunciavam a precariedade da saúde prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
da mulher brasileira. Na década de 70, foi então lançado o Programa de Saúde Ma-
Tal precariedade referia-se, principalmente, à redução de ações terno-Infantil, no qual o planejamento familiar figurava sob o enfo-
que contemplavam à mulher sob um único aspecto, relacionado que da paternidade responsável, objetivando reduzir as elevadas
ao seu estado gravídico-puerperal, tendo em vista que apenas em taxas de morbidade e de mortalidade infantil e materna. Em 1983,
meados da década de 80 é que foram incorporadas ações de caráter o governo brasileiro lançou o Programa de Assistência Integral
integral à saúde da mulher. Na atualidade, o conceito de saúde da à Saúde da Mulher (PAISM) que adotava, com dificuldade, políti-
mulher é amplo, contemplando os direitos humanos e a cidadania cas e medidas para permitir o acesso da população aos meios de
como necessidades de atenção. contracepção e buscava integralizar essa assistência, incorporando
medidas educativas, preventivas, de promoção, diagnóstico, trata-

281
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

mento e recuperação nos âmbitos da ginecologia; pré-natal, parto e Nota-se que as políticas de incentivo e apoio à saúde da mulher
puerpério; climatério; planejamento familiar; doenças sexualmente representaram temáticas importantes em várias das Conferências
transmissíveis e câncer de mama e colo de útero. de Saúde, apesar da valorização da fase reprodutiva observada nas
primeiras discussões.
O Movimento da Reforma Sanitária, iniciado na década de 80, in- Essa retrospectiva traz à tona o olhar reducionista do conceito
fluenciou a implementação do PAISM que se caracterizou pelas propos- de saúde baseado no modelo biomédico, como ausência de enfer-
tas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços. midades, e o conceito de doença como uma fatalidade. Assim, o
Uma análise das ações de atenção à saúde da mulher realizada advento da Promoção da Saúde propõe o surgimento de um novo
de 1998 a 2002 afirmou que apesar do discurso integralizador, ain- paradigma que objetiva romper com a visão fatalista da doença, ar-
da assim, as políticas públicas voltadas a essa área do cuidado, man- raigada culturalmente, e aprofundar o conceito de saúde sob uma
tiveram a ênfase na resolução de problemas de ordem reprodutiva. nova ótica.
Por outro lado, pôde ser observada a incorporação de um novo Esse novo paradigma rompe a visão curativa e centralizadora
tema, a redução da violência sexual, demonstrando a preocupação do modelo biomédico até então vigente, o que por atuar com en-
dessas políticas em atender a mulher em seus aspectos mais gerais. foque individualista, curativo e baseado na doença é de alto custo
Em 2004, o Ministério da Saúde elaborou o documento da Po- e baixo impacto. O novo paradigma proposto baseia-se na promo-
lítica Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Princípios ção da saúde e não na cura de doenças, tem caráter coletivo, de
e Diretrizes (PNAISM). Este reflete o compromisso com a imple- autonomia e corresponsabilidade dos sujeitos, e atua por meio de
mentação de ações em saúde da mulher, garantindo seus direitos parcerias com educação, ação social e trabalho.
e reduzindo agravos por causas preveníveis e evitáveis, enfocando,
principalmente, a atenção obstétrica, o planejamento familiar, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher ver-
atenção ao abortamento inseguro e o combate à violência domés- sus Promoção da Saúde
tica e sexual. Tendo em vista a necessidade de mudanças no cenário nacional
referente às políticas voltadas à saúde da mulher, que englobe os
A promoção da saúde no contexto da saúde da mulher pressupostos da promoção da saúde, foi formulada a PNAISM para
O modelo de Promoção da Saúde surgiu na década de 70 no nortear as ações de atenção à saúde da mulher de 2004 a 2007.
Canadá, baseando-se em quatro polos: a biologia humana; o siste- Os princípios e diretrizes dessa nova proposta foram discuti-
ma de organização dos serviços; o ambiente social, psicológico e fí- dos em parceria com diversos segmentos da sociedade, em especial
sico; e o estilo de vida, que está em amplo processo de construção. com o movimento de mulheres, o movimento negro e o de traba-
A Conferência de Alma-Ata, realizada em 1978, estabeleceu em lhadores rurais, sociedades científicas, pesquisadores e estudiosos
sua Declaração a atenção à assistência materno-infantil como prio- da área, organizações não-governamentais, gestores do SUS e agên-
ridade, com inclusão do planejamento familiar, relacionado não só cias de cooperação internacional. Esta foi uma iniciativa importante
a aspectos procriativos, mas abrangendo o conjunto das necessida- do Governo e que se baseia nos princípios da promoção, respei-
des de uma família, tais como: saúde, educação, moradia e lazer. A II tando a autonomia dos sujeitos em questão e tornando-os coauto-
Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em res de um processo decisório relevante para a categoria. Também
Adelaide em 1988, teve como tema central políticas públicas vol- demonstra a preocupação em adotar políticas consoantes às ne-
tadas para a saúde. Foram apresentadas quatro áreas prioritárias cessidades das mulheres brasileiras e, assim, reduzir os índices de
para promoção de ações, e o apoio à saúde da mulher foi considera- morbidade e de mortalidade por causas preveníveis e evitáveis, o
do como uma destas áreas, com destaque para a valorização da mu- que não aconteceu na gênese das políticas anteriores.
lher trabalhadora e a igualdade de direitos na divisão do trabalho. Além disso, este documento consolida avanços no campo dos
No entanto, somente em 1986 foi estabelecido o conceito de direitos sexuais e reprodutivos, com ênfase na melhoria da atenção
Promoção da Saúde, durante a Conferência de Ottawa, como sendo obstétrica, no planejamento familiar, na atenção ao abortamento
o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria inseguro e no combate à violência doméstica e sexual. Propõem-se
da qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no também a contemplar áreas como: prevenção e tratamento de mu-
controle desse processo. lheres vivendo com HIV/aids e as portadoras de doenças crônicas
A Conferência de Sundsvall (1991) que teve como tema central não transmissíveis e de câncer ginecológico.
a criação de Ambientes Saudáveis à Saúde, reconheceu a mulher Esta nova política foi formulada tendo por base a avaliação
como peça importante para a sua construção ao considerar o cresci- das políticas anteriores e, a partir de então, buscou preencher as
mento populacional uma ameaça ao desenvolvimento sustentável, lacunas deixadas, como: climatério/menopausa; queixas gineco-
tendo em vista a superpovoação de ambientes insalubres e o au- lógicas; infertilidade e reprodução assistida; saúde da mulher na
mento da pobreza, o que incrementou a discussão sobre políticas adolescência; doenças crônico-degenerativas; saúde ocupacional;
de saúde da mulher e sobre o planejamento familiar. saúde mental; doenças infectocontagiosas, bem como, a atenção
Com o objetivo de adaptar os princípios, estratégias e compro- às mulheres rurais, com deficiência, negras, indígenas, presidiárias
missos relacionados ao sucesso da saúde da população à realidade e lésbicas.
dos países latinos, aconteceu a Declaração de Bogotá (1992). Par- Embora tenham sido observados avanços em relação à imple-
tindo dos pressupostos já estabelecidos pelas conferências anterio- mentação dessas políticas, percebe-se ainda a exclusão de certos
res, este evento estabeleceu como compromisso para a promoção segmentos da sociedade, tendo em vista, que grupos como o das
da saúde, a eliminação dos efeitos diferenciais da iniquidade sobre prostitutas, que representa uma população extremamente vulne-
a mulher, considerando-a como um elo indispensável na promoção rável a vários agravos, como: doenças sexualmente transmissíveis,
da saúde na América Latina. violência sexual e a própria marginalização da sociedade, conti-
nuam alijados das propostas de atenção à saúde.

282
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

A PNAISM reforça a humanização da atenção em saúde, con- Dos Princípios:


cebendo que humanização e qualidade da atenção são aspectos in- 1. Universalidade e equidade nas ações e serviços de saúde vol-
dissociáveis. Nesse sentido, é imprescindível considerar que huma- tados para a população masculina, abrangendo a disponibilidade de
nizar é muito mais do que tratar bem, com delicadeza ou de forma insumos, equipamentos e materiais educativos;
amigável, devendo ser consideradas questões de acessibilidade ao 2. Articulação com as diversas áreas do governo, com o setor
serviço nos três níveis da assistência, provisão de insumos e tecno- privado e a sociedade, compondo redes de compromisso e corres-
logias necessárias, formalização de sistemas de referência e contra ponsabilidade quanto à saúde e a qualidade de vida da população
referência, disponibilidade de informações e orientação da clientela masculina;
e a sua participação na avaliação dos serviços. 3. Informações e orientação à população masculina, aos fami-
A mulher, a partir de então, é vista em sua integralidade, como liares e a comunidade sobre a promoção, prevenção, proteção, tra-
sujeito autônomo e participativo no processo de decisão para a for- tamento e recuperação dos agravos e das enfermidades do homem;
mulação de políticas públicas, tendo em vista que à medida que a 4. Captação precoce da população masculina nas atividades de
mulher é incluída nesse processo, há garantia do atendimento de prevenção primária relativa às doenças cardiovasculares e cânce-
suas reais necessidades aumentando a qualidade da assistência. res, entre outros agravos recorrentes;
5. Capacitação técnica dos profissionais de saúde para o aten-
A PNAISM completa está disponível em: dimento do homem;
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_atencao_mu- 6. Disponibilidade de insumos, equipamentos e materiais edu-
lher.pdf cativos;
7. Estabelecimento de mecanismos de monitoramento e ava-
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem liação continuada dos serviços e do desempenho dos profissionais
A Política Nacional de Atenção Integral da Saúde do Homem de saúde, com participação dos usuários; e
(PNAISH) tem como diretriz promover ações de saúde que contri- 8. Elaboração e análise dos indicadores que permitam aos ges-
buam significativamente para a compreensão da realidade singular tores monitorar as ações e serviços e avaliar seu impacto, redefinin-
masculina nos seus diversos contextos socioculturais e político-e- do as estratégias e/ou atividades que se fizerem necessárias.
conômicos, respeitando os diferentes níveis de desenvolvimento
e organização dos sistemas locais de saúde e tipos de gestão de Das Diretrizes:
Estados e Municípios. - Entender a Saúde do Homem como um conjunto de ações de
promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde, executa-
Para atingir o seu objetivo geral, que é ampliar e melhorar o do nos diferentes níveis de atenção. Deve-se priorizar a atenção bá-
acesso da população masculina adulta – 20 a 59 anos – do Brasil sica, com foco na Estratégia de Saúde da Família, porta de entrada
aos serviços de saúde, a Política Nacional de Saúde do Homem é do sistema de saúde integral, hierarquizado e regionalizado;
desenvolvida a partir de cinco (05) eixos temáticos: - Reforçar a responsabilidade dos três níveis de gestão e do
- Acesso e Acolhimento: objetiva reorganizar as ações de saú- controle social, de acordo com as competências de cada um, garan-
de, através de uma proposta inclusiva, na qual os homens consi- tindo condições para a execução da presente Política;
derem os serviços de saúde também como espaços masculinos e, - Nortear a prática de saúde pela humanização e a qualidade
por sua vez, os serviços reconheçam os homens como sujeitos que da assistência a ser prestada, princípios que devem permear todas
necessitam de cuidados. as ações;
- Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva: busca sensibilizar gesto- - Integrar a execução da Política Nacional de Atenção Integral
res(as), profissionais de saúde e a população em geral para reco- à Saúde do Homem às demais políticas, programas, estratégias e
nhecer os homens como sujeitos de direitos sexuais e reprodutivos, ações do Ministério da Saúde;
os envolvendo nas ações voltadas a esse fim e implementando es- - Promover a articulação interinstitucional, em especial com o
tratégias para aproximá-los desta temática. setor Educação, como promotor de novas formas de pensar e agir;
- Paternidade e Cuidado: objetiva sensibilizar gestores(as), pro- - Reorganizar as ações de saúde, através de uma proposta in-
fissionais de saúde e a população em geral sobre os benefícios do clusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde tam-
envolvimento ativo dos homens com em todas as fases da gestação bém como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços de saúde
e nas ações de cuidado com seus(uas) filhos(as), destacando como reconheçam os homens como sujeitos que necessitem de cuidados;
esta participação pode trazer saúde, bem-estar e fortalecimento - Integrar as entidades da sociedade organizada na correspon-
de vínculos saudáveis entre crianças, homens e suas (eus) parcei- sabilidade das ações governamentais pela convicção de que a saúde
ras(os). não é só um dever do Estado, mas uma prerrogativa da cidadania;
- Doenças prevalentes na população masculina: busca fortale- - Incluir na Educação permanente dos trabalhadores do SUS te-
cer a assistência básica no cuidado à saúde dos homens, facilitan- mas ligados a Atenção Integral à Saúde do Homem;
do e garantindo o acesso e a qualidade da atenção necessária ao - Aperfeiçoar os sistemas de informação de maneira a possibi-
enfrentamento dos fatores de risco das doenças e dos agravos à litar um melhor monitoramento que permita tomadas racionais de
saúde. decisão; e
- Prevenção de Violências e Acidentes: visa propor e/ou de- - Realizar estudos e pesquisas que contribuam para a melho-
senvolver ações que chamem atenção para a grave e contundente ria das ações da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do
relação entre a população masculina e as violências (em especial a Homem.
violência urbana) e acidentes, sensibilizando a população em geral
e os profissionais de saúde sobre o tema. O PNAISH completo está disponível em:
http://www.unfpa.org.br/Arquivos/saude_do_homem.pdf

283
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Política Nacional para a População em Situação de Rua V - desenvolver ações educativas permanentes que contribuam
Os direitos humanos tem sido um assunto cada vez mais re- para a formação de cultura de respeito, ética e solidariedade en-
corrente mundialmente, buscando-se formas de por em prática a tre a população em situação de rua e os demais grupos sociais, de
igualdade e assegurar os direitos coletivos e individuais de cada modo a resguardar a observância aos direitos humanos;
pessoa. Dentro desse assunto encontra-se a população em situação VI - incentivar a pesquisa, produção e divulgação de conheci-
de rua em situação de desamparo. Neste trabalho tentou-se anali- mentos sobre a população em situação de rua, contemplando a di-
sar a Política Pública para População de Rua e a elaboração de uma versidade humana em toda a sua amplitude étnico-racial, sexual, de
proposta de monitoramento da política na visão da SDH e outra na gênero e geracional, nas diversas áreas do conhecimento;
visão do Movimento Nacional da População em Situação de Rua. VII - implantar centros de defesa dos direitos humanos para a
Este relatório é resultado de uma pesquisa qualitativa segun- população em situação de rua;
do as observações participantes e pesquisa documental. O objetivo VIII - incentivar a criação, divulgação e disponibilização de ca-
desta análise é uma tentativa de desenho de um monitoramento nais de comunicação para o recebimento de denúncias de violência
adequado para a melhor implementação da PNPSR. contra a população em situação de rua, bem como de sugestões
Para a melhor formulação de monitoramento da política é ne- para o aperfeiçoamento e melhoria das políticas públicas voltadas
cessário primeiramente situar a política em contexto de inserção. para este segmento;
Esta política se encontra em âmbito nacional dentro da Secretaria IX - proporcionar o acesso das pessoas em situação de rua aos
de Direitos Humanos da Presidência da República, sendo a SDH a benefícios previdenciários e assistenciais e aos programas de trans-
sua formuladora, e nesse contexto o Poder Federativo pode firmar ferência de renda, na forma da legislação específica; .
convênios entre entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos X - criar meios de articulação entre o Sistema Único de Assis-
para alcançar os objetivos da política. Os ministérios colaboradores tência Social e o Sistema Único de Saúde para qualificar a oferta de
da PNPSR são: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à serviços;
Fome, Ministério da Justiça, Ministério das Cidades, Ministério da XI - adotar padrão básico de qualidade, segurança e conforto
Educação, Ministério da Cultura, Ministério do Trabalho e Emprego na estruturação e reestruturação dos serviços de acolhimento tem-
e Ministério da Saúde. porários, de acordo com o disposto no art. 8º;
A SDH/PR tem como principais funções: coordenar a Política XII - implementar centros de referência especializados para
Nacional de Direitos Humanos; prestar assessoria à Presidência da atendimento da população em situação de rua, no âmbito da pro-
Republica na formulação de Políticas Públicas para cidadania, crian- teção social especial do Sistema Único de Assistência Social;
ça, idoso, adolescente, minorias e da pessoa com deficiência; arti- XIII - implementar ações de segurança alimentar e nutricional
cular e promover projetos sobre direitos humanos e exerce função suficientes para proporcionar acesso permanente à alimentação
de ouvidoria da cidadania, criança, adolescente, idosos, minorias e pela população em situação de rua à alimentação, com qualidade; e
pessoa com deficiência. XIV - disponibilizar programas de qualificação profissional para
Já na PNPR a SDH/PR tem como função assegurar o cumpri- as pessoas em situação de rua, com o objetivo de propiciar o seu
mento das ações e alcance de objetivos da política, coordenar a im- acesso ao mercado de trabalho.
plementação das ações com os órgãos que participam da política, O programa ocorre entre a União, por meio da SDH/PR e os
elaborar plano de trabalho . detalhado e cronograma de execução demais entes federativos que decidirem aderir ao programa públi-
a ser seguido pela política, monitorar a política juntamente com o co. As funções dos estados são garantir sustentabilidade das ações,
Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacio- elaborar política distrital junto com o comitê para população em
nal para a População em Situação de Rua e o Comitê Gestor Inter- situação de rua, promover constituição e fortalecimento da rede
setorial e por fim dar publicidade às ações da Política Nacional para de atendimento à população em situação de rua em situação de
População em Situação de Rua. violência na área distrital, instituir comitê gestor intersetorial com
representantes desse segmento da população e implementar o pla-
A Política Nacional para População em Situação de Rua foi de- no de trabalho com detalhamento das ações políticas que devem
cretada no dia 23 de dezembro de 2009 por meio do decreto núme- ser implementadas de acordo com o cronograma de execução.
ro 7.053, encontrada na área de assistência social da federação. Os Segundo a Revista Direitos Humanos, o massacre de morado-
objetivos da Política são apontados no artigo 7º a seguir: res de rua na Praça da Sé, em São Paulo, foi o ponto de reflexão para
I - assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços o início da articulação e organização das pessoas em situação de
e programas que integram as políticas públicas de saúde, educação, rua em âmbito nacional. Ocorreram inúmeros casos de violência e
previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, espor- massacre de pessoas em situação de rua em todo o país, a partir daí
te, lazer, trabalho e renda; o Movimento Nacional da População em Situação de Rua começou
II - garantir a formação e capacitação permanente de profissio- a pressionar a Presidência da República para que fosse formulada
nais e gestores para atuação no desenvolvimento de políticas públi- uma política de assistência e proteção à população em situação de
cas intersetoriais, transversais e intergovernamentais direcionadas rua, então em 2009 surge a PNPSR. (REVISTA DIREITOS HUMANOS,
às pessoas em situação de rua; 2012).
III - instituir a contagem oficial da população em situação de A Política Nacional para População em Situação de Rua consi-
rua; dera pessoa em situação de rua quem estiver em nível de pobreza
IV - produzir, sistematizar e disseminar dados e indicadores so- extrema, vinculo familiares interrompidos ou fragilizados ou com
ciais, econômicos e culturais sobre a rede existente de cobertura de moradia convencional regular inexistente. Essa política é descentra-
serviços públicos à população em situação de rua; lizada e articulada entre a União e os entes federativos que aderi-
rem a política. Os entes federativos que aderirem a política devem
constituir comitês intersetoriais de acompanhamento e monito-

284
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

ramento para o acompanhamento da execução das ações estabe- A estruturação da rede de atenção às urgências tem se mos-
lecidas pela política e avaliação delas. O comitê intersetorial terá trado organizada, como previsto nas normas da PNAU, porém as
as seguintes atribuições: elaborar planos de ação para a política, unidades de urgência estão sobrecarregadas em suas atividades
acompanhar e monitorar a política, propor formas de divulgação da (Granja et al., 2013). A PNAU exige ação coordenada, pactuada e
política, acompanhar os Estados na implementação desta e avaliar com a presença de comissões intergestores. No entanto, alguns es-
a política. tudos vêm indicando as discrepâncias na condução da política entre
Deve-se construir também os chamados Centros Pop, ou seja, os estados que compõem as regiões brasileiras (Albuquerque; Sá;
Centros de Referência Especializado para População em Situação Araújo Júnior, 2016; Machado et al., 2014). Os estados do Norte e
de Rua. Esses constituem centros de atendimento à população em Nordeste do país foram apontados como os de menor capacidade
situação de rua, onde a população de rua tem oportunidade de to- de gestão.
mar banho, lavar roupas, fazer dois lanches diários e participar de Outros estudos têm mostrado que a abrangência e o alcance
oficinas manuais, como por exemplo, artesanato. Porém não po- do planejamento não coincidem necessariamente com os limites
dem pernoitar nos Centros Pop. No DF já existem dois Centros Pop do município (Albuquerque; Sá; Araújo Júnior, 2016; Duarte et al.,
em funcionamento. 2015), o que envolve questões de federalismo, cuja base é a coope-
Como a população em situação de rua não tem acesso à saúde, ração entre entes federados (Arretche, 2010).
cultura, lazer, educação e empregos, a política deseja alcançar esses No federalismo brasileiro, os municípios tiveram aumento de
pontos principais. suas funções a partir da Constituição de 1988 (Arretche, 2010). En-
A PNPSR é uma política de adesão, assim, nem todos os esta- tretanto, o que se manifestou foi uma eficiência técnica abaixo do
dos do país participam dela, somente os que assim desejarem. De- necessário para os novos papéis assumidos, tanto na gestão dos
vido a isso houve um grande período de tempo até que o primeiro serviços quanto na capacidade de financiamento, continuando de-
estado brasileiro percebesse a grande importância desta política e pendentes das transferências federais (Arretche; Marques, 2014).
a aderisse. A primeira adesão foi feita pela DF no dia 16 de Abril A PNAU foi criada de forma regionalizada em regime de coges-
de 2013, seguida por São Paulo, Alagoas e Pernambuco. Esses fo- tão (pacto entre os três entes da federação). A baixa capacidade de
ram os estados que aderiram até o momento em que a pesquisa gestão dos municípios e a pouca cooperação entre as três esferas
foi realizada, portanto a política é recente e está em fase inicial de de governo têm comprometido os resultados dessa política (Duarte
implementação. et al., 2015). Isto dificulta o alcance dos objetivos, que é atender aos
princípios da universalidade e da equidade.
O decreto que institui a Política Nacional para a População em A baixa capacidade técnica e financeira dos municípios tem
Situação de Rua está disponível em: gerado comportamentos de maximização de benefícios individuais
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/ (município), mesmo em arenas decisórias que discutem e decidem
d7053.htm sobre bens públicos e coletivos. Tal comportamento pode revelar
um modelo federalista com influência negativa nos resultados da
Política Nacional de Urgência e Emergência política pública. É um modelo que ao mesmo tempo em que trans-
Os sistemas públicos de caráter universalista têm como princi- fere responsabilidades aos entes subnacionais, com autonomia
pal função garantir direitos; a saúde é um destes sistemas. No Bra- para gestão de suas políticas, centraliza as principais decisões na
sil, consiste um dos grandes desafios aos formuladores e gestores esfera federal (Abrucio, 2005; Almeida, 2005; Arretche, 2010). Isso
das políticas públicas. A ineficiência dos serviços oferecidos dificulta pode apontar para a maior presença de conflitos do que de coope-
a garantia dos direitos previstos constitucionalmente, entre outros ração federativa nas relações entre os entes federados.
fatores, pelas grandes disparidades entre as regiões do país (econô- A PNAU é uma política baseada em serviços descentralizados,
micas, sociais e logísticas). em regime de gestão pactuada entre as três esferas de governo, ten-
No intuito de reduzir os vazios assistenciais e servir como in- do os municípios autonomia relativa (Granja et al., 2013; Uchimu-
terface entre a atenção básica e a média e alta complexidade, em ra et al., 2015). Nesse contexto, surge a questão que direcionou a
2003, foi criada a Política Nacional de Atenção às Urgências – PNAU pesquisa: quais as principais dificuldades de coordenação federati-
(Brasil, 2003b). Esta também busca atender outras necessidades, va na gestão da PNAU em municípios da Região Metropolitana de
como implantação dos sistemas de regulação e estruturação de Belém-PA?
uma rede regionalizada e hierarquizada. Tal regulamentação visa Parte da literatura que trata sobre política pública de saúde
garantir atendimento integral aos pacientes, desde atenção básica (Duarte et al., 2015; Gomes et al., 2014), especialmente sobre a
até serviços de maior complexidade e meios adicionais de atenção, PNAU, tem voltado atenção para seus principais entraves e descon-
como o atendimento domiciliar (Granja et al., 2013; Uchimura et sidera tanto a influência das decisões tomadas nas arenas políticas
al., 2015). quanto as perspectivas de gestores e executores desta política, nas
Trabalho recente sobre política de urgência comparou o que três esferas (Albuquerque; Sá; Arruda Junior, 2016). A relevância da
foi planejado e o que foi executado, as características estruturais, pesquisa é buscar revelar papéis e funções dos gestores, nas três
o planejamento das unidades de pronto atendimento, o perfil dos esferas responsáveis pela gestão da política, além das dificuldades
usuários, a demanda, a capacidade de atendimento e os tipos de do formato dessa gestão (pactuação) e os conflitos políticos em seu
encaminhamento para a retaguarda hospitalar (Uchimura et al., interior. Estes são fatores a que a literatura nacional ainda tem dado
2015). Os resultados indicaram que a falta de integração das Unida- pouca atenção.
des de Pronto Atendimento 24 horas (UPA) com a rede de urgência
estadual afeta diretamente a resolutividade das mesmas. O PNAU completo está disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_urgencias.
pdf

285
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares apoiar os Estados Membros no aproveitamento da potencial con-
A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares tribuição das Terapias e Medicinas Complementares (T&CM) para a
(PNPIC) foi criada no Brasil em 2006, após aprovação unânime pelo saúde, o bem-estar e os cuidados de saúde centrados nas pessoas
Conselho Nacional de Saúde. e promover o uso seguro e eficaz do T&CM através da regulamen-
Seu o objetivo é implementar tratamentos alternativos à me- tação de produtos, práticas e profissionais. Ainda segundo esta pro-
dicina baseada em evidências na rede de saúde pública do Brasil, posição, esses objetivos serão alcançados com a implementação de
através do Sistema Único de Saúde (SUS). A princípio contava com três objetivos estratégicos:
apenas 5 procedimentos. Mas em 2017 foram implementados 14 1) construção da base de conhecimento e formulação de polí-
tipos de procedimentos. Em 2018 houve uma nova expansão do ticas nacionais;
programa, quando foram incluídos 10 novos procedimentos. 2) fortalecimento da segurança, qualidade e eficácia através da
O campo das práticas integrativas e complementares contem- regulamentação; e,
pla os sistemas médicos complexos e os recursos terapêuticos, tam- 3) promoção da cobertura universal de saúde, integrando servi-
bém chamado de medicina tradicional e complementar/alternativa ços de T&CM e assistência à saúde em sistemas nacionais de saúde.
(MT/MCA) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As catego-
rias «medicina alternativa», «medicina tradicional» de certo modo O PNPIC completo está disponível em:
se sobrepõem. Considerando o processo histórico da formação da http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_prati-
medicina cosmopolita ocidental, a partir do momento que alguma cas_integrativas_complementares_2ed.pdf
conquista ou prática específica possui evidência comprovada, tende
a ser incorporada e passa a fazer parte da medicina hegemônica ou Política Nacional para Prevenção e Controle do Câncer
convencional, perdendo o status de «alternativa». Os historiadores O número de casos de câncer vem crescendo anualmente, re-
Lyons e Petrucelli (1997) assim descrevem o acontecido às diversas presentando a segunda causa de morte no Brasil e no mundo. “Res-
conquistas de cada povo ou etnias, tornado mais compreensíveis as ponde por 20% dos óbitos na Europa, com mais de três milhões de
razões de sua permanência ou extinção. novos casos e 1,7 milhões de óbitos por ano” (INCA, 2012, P. 15).
Os aspectos pseudocientíficos e as violações do código de ética O câncer constitui-se numa importante questão de saúde pública,
médica das práticas promovidas pela PNPIC foram duramente criti- tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvi-
cados pelo médico e popularizador da ciência Drauzio Varella, pelo mento, em virtude de seu crescente impacto sobre a rede de servi-
Conselho Federal de Medicina e pelo Conselho Regional de Medici- ços e sobre a agenda de ações que atendam à exigibilidade da aten-
na do Estado de São Paulo. ção. Diante de estimativas de redução da ocorrência de câncer em
Em 2017, 1,4 milhão de procedimentos individuais foram re- até 30% dos casos, por meio de medidas preventivas, evidencia-se
gistrados como práticas integrativas e complementares pelo SUS, a necessidade de políticas sanitárias mais abrangentes e robustas
sendo estimado que 5 milhões de procedimentos desse tipo são (FIOCRUZ, 2012). Inclusive, em algumas situações, o câncer pode
realizados anualmente se somados os atendimentos coletivos. A ser totalmente prevenível, caso do mesotelioma de origem ocupa-
acupuntura era o método mais empregado no SUS, com cerca de cional, conforme assinala o documento ‘Diretrizes para a vigilância
707 mil atendimentos em 2017. Além da ampla difusão dos mé- do câncer relacionado ao trabalho’ (INCA, 2012).
todos, cerca de 30 mil profissionais foram capacitados na área em Chama a atenção a desigualdade dessa situação, uma vez que
2017. mais de 70% de todas as mortes por câncer ocorrem nos países em
Ricardo Barros, ministro da saúde à época da ampliação do pro- vias de desenvolvimento. A carga do câncer continuará aumentan-
grama em 2018, declarou que o Brasil é o país que oferece mais su- do nos países em desenvolvimento e crescerá ainda mais em paí-
porte a essa modalidade: “Somos, agora, o país que oferece o maior ses desenvolvidos se medidas preventivas não forem amplamente
número de práticas integrativas disponíveis na atenção básica. O aplicadas. Nestes, os tipos de câncer mais frequentes na população
SUS financia esse trabalho com a transferência para os municípios, masculina são os de próstata, pulmão, cólon e reto; e mama, có-
e nós passamos então a caminhar um pouco na direção do fazer e lon e reto e pulmão entre as mulheres. Nos países em desenvolvi-
não cuidar da doença.” mento, os três cânceres mais frequentes em homens são pulmão,
A proposição de inclusão das práticas complementares de saú- estômago e fígado; e mama, colo do útero e pulmão nas mulheres
de derivadas, ou não, da medicina tradicional, no Brasil pode tomar (INCA, 2014).
como marco histórico as resoluções da VIII Conferência Nacional Segundo estimativas de incidência de câncer do projeto Globo-
de Saúde que deliberou em seu relatório final pela “introdução de can 2012, da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC
práticas alternativas de assistência à saúde no âmbito dos serviços – International Agency for Research on Cancer), da Organização
de saúde. Mundial da Saúde (OMS), houve 14,1 milhões de casos novos de
A Organização Mundial da Saúde - OMS considera que a medi- câncer e um total de 8,2 milhões de mortes por câncer em todo o
cina tradicional (TM) é o principal pilar da prestação de serviços de mundo, em 2012. A OMS estima, ainda, para o ano de 2030, 21,4
saúde ou serve como complemento. Como já visto aqui e expresso milhões de casos incidentes, 13,2 milhões de mortes e 75 milhões
em documentos da OMS, em alguns países, a medicina tradicional de pessoas vivas, anualmente, com câncer (INCA, 2014).
ou a medicina não convencional pode ser denominada medicina No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Go-
complementar (CM). A atual proposição desta instituição publica- mes da Silva (Inca), que é o responsável pela política nacional in-
da como recomendações na publicação «Estratégia de Medicina tegrada para o controle e a prevenção do câncer, estimou para o
Tradicional da OMS para 2014-2023» pretende informar e auxi- biênio de 2014/2015 a ocorrência de 576 mil casos novos. O câncer
liar os líderes da assistência à saúde a desenvolver soluções que de pele do tipo não melanoma (182 mil casos novos) é o mais inci-
contribuam para uma visão mais ampla da melhoria da saúde e da dente na população brasileira, seguido pelos tumores da próstata
autonomia do paciente. A estratégia tem dois objetivos principais: (69 mil), mama feminina (57 mil), cólon e reto (33 mil), pulmão (27

286
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

mil), estômago (20 mil) e colo do útero (15 mil), acompanhando o grupos vulneráveis, como os idosos e os de baixas escolaridade e
mesmo perfil da magnitude observada para a América Latina (INCA, renda. O plano tem como objetivo principal ações que visam ao for-
2014). Segundo o IBGE (2009), o aumento da expectativa de vida, talecimento da capacidade de resposta do Sistema Único de Saúde
o envelhecimento e a mudança do comportamento da densidade (SUS) e à ampliação das ações de cuidado integral para a prevenção
demográfica do Brasil projetam estimativas de que o grupo etário e o controle das DCNT (BRASIL, 2011).
de 60 anos ou mais, duplicará em termos absolutos no período de Com relação à questão específica do câncer, a atenção oncoló-
2000 a 2020, ao passar de 13,9 para 28,3 milhões, elevando-se, em gica no Brasil, de 2005 a 2013, foi norteada pela Portaria nº 2.439/
2050, para 64 milhões. GM, de 08/12/2005, que instituiu a Política Nacional de Atenção
O envelhecimento populacional constitui um dos maiores de- Oncológica. Para dar-lhe cumprimento, nesse período, o SUS es-
safios para a saúde pública contemporânea, especialmente em paí- truturou respostas para melhor organizar a atenção ao câncer, le-
ses em desenvolvimento, onde esse fenômeno ocorre em ambien- vando-se em conta as dimensões e as heterogeneidades cultural
tes de pobreza e grande desigualdade social. Em 2025, estima-se e socioeconômica do Brasil. Nesse sentido, o Ministério da Saúde
que, dos dez países do mundo com o maior número de idosos, cinco publicou, além da Portaria citada, a de nº 741, de 19/12/2005. En-
serão países em desenvolvimento, entre eles, o Brasil (LIMA-COSTA, quanto a primeira adotava os parâmetros da instituição da política:
2003). promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cui-
Em recente documento sobre a prospecção estratégica do dados paliativos, a ser implantada em todas as unidades federadas,
sistema de saúde brasileiro para 2030, elaborado pela Fundação respeitadas as competências das três esferas de gestão (BRASIL,
Oswaldo Cruz, em parceria com outras instituições brasileiras, é 2005A), a segunda determinava novas classificações e requisitos
assinalado que envelhecimento e doenças crônicas, em determi- para os estabelecimentos que tratam câncer (Centros e Unidades
nado momento, para uma determinada população, acionam todos de Alta Complexidade em Oncologia), além de propor parâmetros
os níveis de assistência, “e nenhum deles poderia ser chamado de para o planejamento e a avaliação da Rede de Alta Complexidade
‘resolutivo’ no sentido clássico associado à ideia de cura” (FIOCRUZ, em Oncologia e de estabelecer procedimentos para melhoria das
2012, P. 141). O fato requer a intervenção de distintas especialida- informações sobre a atenção ao câncer (Registro Hospitalar de Cân-
des do campo da saúde em todos os níveis. Além disso, especial- cer – RHC) (BRASIL, 2005B).
mente no nível primário, frequentemente, ultrapassam-se as fron- Coerente com a relevância da questão do câncer, na perspecti-
teiras dos serviços de saúde, abrangendo as áreas sociais e de apoio va da sua atenção integral foi instituída a Lei Presidencial nº 12.732
comunitário. O mesmo documento ainda observa que as demais (22/11/2012), que dispõe sobre o primeiro tratamento de paciente
formas de cuidados em saúde, muitas delas utilizadas em países com neoplasia maligna comprovada e estabelece prazo para seu iní-
desenvolvidos, “como assistência domiciliar, centros de cuidados cio. Para tentar diminuir o retardamento do diagnóstico do câncer,
prolongados e de cuidados paliativos, crescem em importância a lei estabelece prazo para o paciente ser tratado no SUS. Em seu
[...]”, e, apesar desse fato, “[...] sua utilização carece de avaliação e Art. 2º, assegura que o paciente com neoplasia maligna tem direito
planejamento no Brasil”(FIOCRUZ, 2012 P. 141). ao primeiro tratamento no SUS no prazo de até 60 dias, contados a
Atualmente, a doença crônica, progressiva e incurável é a prin- partir do dia em que for firmado o diagnóstico em laudo patológico
cipal causa de incapacidades funcionais, sofrimento e morte, como ou em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso,
é o caso do câncer, da Aids e de outras enfermidades que acome- registrada em prontuário único.
tem os diversos órgãos vitais. No caso específico do câncer, que tem E, em 2013, considerando sua importância epidemiológica e
seu crescimento progressivo em todas as faixas etárias e é desco- sua magnitude como problema de saúde pública e a necessidade
berto em estadiamento tardio, no Brasil, com taxas de incidência de redução da mortalidade e da incapacidade, foi editada a nova
crescentes e de incapacidades de toda ordem para os pacientes, Portaria, que trata da política nacional de atenção ao câncer. Guar-
há uma tendência a ocorrerem grandes demandas ao sistema de dando coerência com o eixo III do mencionado Plano de Ações Es-
saúde (FIOCRUZ, 2012; HENNEMANN-KRAUSE, 2012; LIMACOSTA, tratégicas para o Enfrentamento das DCNT, a Portaria nº 874, de
2003). 16/05/2013, (BRASIL, 2013, P. 129) “institui a Política Nacional para
Segundo dados do IBGE (2009), as mais recentes informações a Prevenção e Controle do Câncer na Rede de Atenção à Saúde das
da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) que tratam Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saú-
do tema mostram que, do total da população residente brasileira, de (SUS)” (PNPCC-RAS), sendo da responsabilidade do Ministério
31,3% afirmaram ter pelo menos uma doença crônica, correspon- da Saúde estabelecer diretrizes nacionais para a prevenção e o
dendo a 59,5 milhões de pessoas. O percentual de mulheres com controle do câncer, estimulando a atenção integral e articulando as
doenças crônicas (35,2%) é maior do que o de homens (27,2%), e diversas ações nos três níveis de gestão do SUS. O objetivo central
aumenta com a idade: 45% para a população de 40 a 49 anos de da política é contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos
idade e 79,1% na população de 65 anos ou mais de idade. A doen- usuários com câncer, por meio de ações de promoção, prevenção,
ça crônica mais frequentemente relatada foi a hipertensão arterial detecção precoce, tratamento oportuno e cuidados paliativos. 3
(14,1%), seguida de doenças da coluna (13,5%).
Recentemente, no Brasil, foi lançado o Plano de Ações Estra- A Portaria completa está disponível em:
tégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmis- http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/
síveis (DCNT), para o decênio 2011-2022, que as aponta como um prt0874_16_05_2013.html
problema de saúde de grande magnitude. São responsáveis por
72% das causas de morte, com destaque para doenças do aparelho 3 Fonte: www.scielo.br/*www.analisepoliticaemsaude.org/www.
circulatório (31,3%), câncer (16,3%), diabetes (5,2%) e doença res- portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/www.biblioteca.cofen.gov.br/www.
piratória crônica (5,8%), e atingem indivíduos de todas as camadas saude.pr.gov.br/www.scielo.br/www.fen.ufg.br/www.unfpa.org.br/
socioeconômicas e, de forma mais intensa, aqueles pertencentes a www.saude.gov.br/www.bdm.unb.br/www.pt.wikipedia.org

287
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Política Nacional de Atenção às Urgências é utilizada até os dias de hoje, e normatiza as ações em âmbito pré
As doenças vêm passando por transformações em seu perfil e intra-hospitalar, definindo e bem caracterizando as atividades de
epidemiológico, tanto em relação à clientela como a sua prevalên- regulação médica de urgência, tanto no aspecto técnico como ges-
cia, tendo-se hoje, no Brasil, o que Mendes denomina como tríplice tor, definindo papéis e pré-requisitos, assim como estabelecendo
carga de doenças. Por um lado temos ainda as doenças de países um treinamento mínimo para o exercício das atividades de regula-
subdesenvolvidos, tais como diarréias, desidratação, doenças tro- ção e de atendimento às situações de urgência e emergência.
picais como a dengue, entre outras, em segundo lugar temos um Em 2003, foi instituída a Política Nacional de Atenção às Ur-
aumento de casos crônicos, como as doenças cardiovasculares, gências, através da PORTARIA Nº 1863/GM e no mesmo dia de sua
predominantemente isquêmicas cardíacas e acidentes vasculares publicação outra portaria, a PORTARIA 1864/GM instituiu o com-
cerebrais, que acompanham ao incremento de expectativa de vida ponente pré-hospitalar móvel da Política Nacional de Atenção às
da população e em terceiro lugar vemos um aumento da violência Urgências, o SAMU – 192.
urbana, tanto interpessoal como de trânsito, com um aumento das Seguiu-se a estas duas portarias uma ampla discussão nacional
taxas de morbi mortalidade nas causas externas. com a estruturação de vários serviços de atendimento móvel de ur-
gência, SAMU-192, em todo o Brasil, com características na maioria
Com este perfil epidemiológico os casos/situações podem ser das vezes municipais, e alguns poucos estaduais, sendo que apenas
considerados (as) crônicos (as), crônicos (as) agudizados (as) e agu- no Estado de Santa Catarina foram implantados, em todo o Esta-
dos (as). Entretanto, embora as situações crônicas representem a do, sete SAMU-192 regionais, com cobertura de 100% do Estado e
maioria das situações, persiste ainda um direcionamento na maio- interligados, através de uma pactuação de investimento e custeio
ria das vezes à resposta aos casos agudos principalmente na rede tripartite.
hospitalar. Coube à atenção básica trabalhar as condições crôni- Entretanto o modelo municipal adotado na Portaria 1863 e
cas, tanto por um enfoque promocional assim como assistencial. 1864 não atendia às necessidades de organização, escala e rede-
Entretanto, na agudização dos casos crônicos acompanhados pela finição de fluxos que se davam na maioria das vezes por pactos
mesma ou nos casos agudos que chegam à atenção básica, outra regionalizados ou estadualizados, traduzidos no Plano Diretor de
esfera deve responder à demanda, desarticulada de todo o trabalho Regionalização e no Plano Pactuado e Integrado. Além disto, as ex-
anteriormente realizado pela estratégia de saúde da família e da periências exitosas de regionalização do SAMU em Santa Catarina
atenção básica. e do Sistema Regional de Atenção às Urgências no Norte de Minas
Embora se creia que a atenção básica, como afirmada na Tese Gerais, racionalizando custos e aumentando a eficiência da respos-
do CONASEMS 2010-2011 tenha a capacidade de ordenação do res- ta às situações de urgência, reforçavam a necessidade de uma legis-
tante do sistema de saúde, dirigida por valores de dignidade huma- lação própria que amparasse as ações regionais.
na, equidade, solidariedade e ética profissional, os casos agudos ou Seguindo-se às discussões em todo o país e os exemplos exi-
agudizações de casos crônicos levam a um ordenamento por outra tosos, em dezembro de 2008, foi publicada a PORTARIA 2.970, que
rede, a rede de atenção às urgências, distinta da primeira, de cará- instituiu diretrizes técnicas e financeiras de fomento à regionaliza-
ter regional, que deve dar respostas ágeis e num tempo muito curto ção da Rede Nacional SAMU 192.
e que deve estar articulada com a rede de atenção básica para sua Até aquele momento, a atenção pré-hospitalar fixa havia ficado
qualidade de resposta. Nesta rede, o ordenamento se faz a partir à margem do avanço da atenção móvel, levando a uma confronta-
de centrais de regulação de urgência regionais que devem executar ção diária entre as organizações móveis que haviam se estruturado
idealmente linhas guia previamente pactuadas e fornecer a respos- e a atenção fixa, desarticulada e sem incentivos para sua estrutu-
ta mais adaptada possível às necessidades agudas. ração.
Assim, dentro da discussão de redes de atenção identifica-se Neste caminho, em 13 de maio de 2009, através da Portaria
que a estruturação paralela de dois eixos (redes) são componentes GM 1020, foram estabelecidas diretrizes para a implantação do
estruturantes para que se atinjam os objetivos de integralidade e componente pré-hospitalar fixo para a organização de redes loco
equidade propostos no SUS: as redes de atenção básica e as redes regionais de atenção integral às urgências em conformidade com a
de atenção às urgências. Política Nacional de Atenção às Urgências.
Faremos aqui uma reflexão do desenvolvimento da Política Na- Entretanto, até o momento não temos ainda no país uma legis-
cional de Atenção às Urgências e Emergências, com seus avanços, lação específica e de amparo tanto legal como financeiro para que a
fragilidades e desafios assim como discorreremos sobre a estrutu- rede hospitalar tenha, além do papel definido e importante na rede
ração da rede de urgência. de atenção às urgências, um fomento a sua organização e melhoria
através de redefinição de papéis e incentivo à educação permanen-
Estruturação legal da Atenção às Urgências te, sendo integrada à rede de atenção às urgências.
A atenção às urgências vem, ao longo dos últimos anos, pas- De maneira semelhante não temos ainda definido uma legisla-
sando por reformulações e sendo estruturada a partir de discussões ção que ampare as ações pós-hospitalares, em relação às urgências,
governamentais e não governamentais, por entidades de classe, re- como as de reabilitação e reinserção social.
presentações sociais, associações focadas nas urgências, emergên- Por último, trabalhando dentro de uma visão de atenção inte-
cias e traumas. gral, o amparo legal para a articulação entre as redes de atenção
A partir de 1998 iniciou-se no Brasil a estruturação de níveis de básica e de urgência ainda carece de debates e legislação própria.
complexidade hospitalares, que incluíam as urgências, na tentativa
inicial de se ter uma resposta aos casos complexos.
No ano de 2002, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº
2048, instituindo o regulamento técnico dos Sistemas deUrgência e
Emergência. Esta portaria, ampla em seu conteúdo e abrangência,

288
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Dentro da atual Política Nacional de Atenção às Urgências te- nem uma definição de estruturas administrativas regionais como
mos: modelo de gestão e financiamento assim como uma legislação pró-
- Componente pré – hospitalar pria para repasses de investimento e custeio regionalizados.
-FIXO funções definidas pela 2048/02 Por último, um mecanismo de governança regional, ligado às
-UBS (ESF) e outros: acolhimento, capacitação, estruturação fí- esferas regionais do SUS se fazem necessários.
sica e grade de referência Principais fragilidades na Política Nacional de Atenção às Ur-
-UPA: estrutura intermediária gências
-MÓVEL: SAMU 192 Podemos agora discorrer um pouco sobre as principais fragili-
-Regulação médica dades na Política Nacional de Atenção às Urgências
-APH
-Transporte e transferência de pacientes graves 1) Quanto à Governança
-Componente Hospitalar a. Se necessitarmos incrementar estruturas regionais que
-Constituído das portas de entradas hospitalares definidos no deem resposta efetiva às urgências igualmente necessitamos de
regulamento técnico uma estruturação de instrumentos de governança regionais que se
-Componente Pós-Hospitalar ocupem do acompanhamento e monitoramento da rede regional,
-Modalidades de Atenção Domiciliar da avaliação, proposição de mudanças e repactuações assim como
-Hospitais-Dia que possam auditar regularmente a rede. As estruturas colegiadas
-Projetos de Reabilitação Integral com componente de reabili- regionais tem papel importante nesta função, mas uma estrutura
tação de base comunitária ligada a mesma, o Comitê Gestor Regional de Urgências, necessa-
riamente funcionando como câmara técnica de uma CIB macrorre-
A rede de atenção gional ou na inexistência da mesma, da CIB estadual, fornece espe-
Vemos que para a concretização das redes de urgência persis- cificidade técnica e gestora, autoridade e facilita o monitoramento
te a necessidade de fortalecimento da atenção básica a partir de e todo o trabalho a ser realizado em relação à rede de urgências.
um melhor financiamento que permita o cumprimento das funções b.Cabe às regulações de urgência do SAMU e, quando existir,
previstas na 2048/02: acolhimento, estruturação física e técnica, ca- a regulação de leitos, ser corresponsável na governança e fornecer
pacitação, integração na rede hierarquizada. dados precisos do funcionamento da rede de forma cotidiana.

Além disto deve-se garantir que as UPAS e SE exerçam o seu 2)Quanto aos pontos de atenção
papel na integração da política de urgência e emergência através de a. Atenção Básica:
uma efetiva regulação médica, evitando-se assim a competição com
o acesso a rede de atenção básica e que estejam conectadas ou I.Deficiências no acolhimento
interligadas a um componente hospitalar da rede, garantindo assim As deficiências no acolhimento se devem a não inserção dos
sua retaguarda nos casos em que se fizerem necessários. Na rede casos agudos ou de agudização dos casos crônicos dentro de uma
de urgência e emergência os hospitais definidos como de apoio de- perspectiva de acolhimento e tratamento pela atenção básica. A
veriam ter salas de estabilização estruturadas e funcionais. atenção básica vem-se pautando por ações promocionais, essen-
O componente pós-hospitalar, ainda pouco desenvolvido e des- ciais para a melhoria de qualidade de saúde e vida da população,
conectado da rede de urgência, deve ser fortalecido e estar incluído desconsiderando muitas vezes que sua população necessita de uma
dentro de uma concepção de rede integral às urgências, favorecen- resposta próxima e pouco complexa aos casos agudos ou agudiza-
do tanto a diminuição de leitos hospitalares como promovendo o ções de casos crônicos.
retorno o mais breve possível do paciente/vítima ao convívio dos
familiares e da sociedade. II. Unidades básicas sem a devida estruturação física e capaci-
O financiamento tripartite da urgência e emergência, com dade técnica para o acolhimento das urgências
aporte de recursos para os pronto-atendimentos, unidades de ur- Existe despreparo para realização de acolhimento e classifica-
gência/emergência, hospitais de pequeno porte e sala de estabiliza- ção de risco da clientela atendida assim como inexistência, na maior
ção, com participação e pactuação dos três entes federativos deve parte das vezes, de estrutura para prestar o primeiro atendimento
ser sempre perseguido, primeiramente evitando-se de autorizar assim como resolver casos de menor complexidade.
abertura de novos componentes sem uma efetiva política estadual
de implementação das redes, estimulando o papel do estado como III. Desintegração das Unidades básicas na rede de urgência e
locomotiva propulsora, tanto em nível de gestão como de financia- emergência
mento, das redes de atenção em cada estado. Tanto no planejamento da rede de urgência como no cotidia-
Acrescente-se a isto a necessidade de uma política de co-finan- no, a atenção básica não tem, em sua maior parte, participado da
ciamento na estruturação da rede de urgência hospitalar fixa, e a discussão de papel e fluxos da rede de urgência, levando a uma per-
sua organização,(mudanças da portaria 478 e mudanças na forma sistência da não integralidade do atendimento, retardando acessos
de pagamento por procedimento). e dificultando tanto o referenciamento como o contra-referencia-
Por outro lado, a indefinição de territórios e populações de mento.
abrangência de uma rede levando-se em conta igualmente a escala
para a resposta a mesma, devem estabelecer que as regiões com IV.Falta de flexibilidade nos horários de funcionamento das
resposta nos três níveis de atenção devam ser as escolhidas, nor- Unidades
malmente de caráter macrorregional não se tendo até o momento

289
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

A atenção básica vêm-se mantendo com horários rígidos, não III..Rotatividade dos profissionais principalmente dos regulado-
compatíveis com trabalhadores assim como com as situações agu- res (vínculo e atividade fim)
das, que não escolhem hora para acontecer. Isto tem dificultado A atividade extenuante e altamente especializada do médico
que a população abrangida pela atenção básica tenha como refe- regulador requer um vínculo trabalhista regular e uma autorização
rência inicial para o atendimento as suas necessidades, situações legal com pré-requisitos avaliados, para a função de médico regu-
agudas ou situações crônicas, seja, atendidas. lador.
Na prática vínculos temporários e frágeis são estabelecidos
V. Exames de menor complexidade não agregados à atenção com médicos reguladores, sem estímulo ao seu trabalho, sem edu-
básica cação permanente e sem retaguarda institucional frequente, levan-
Até o momento ainda não existe claramente uma política de do a uma grande rotatividade destes profissionais.
distribuição e incentivo à instalação de exames de menor complexi- IV.Educação permanente ineficaz (NEU e NEP)
dade na atenção básica, retardando e dificultando diagnósticos sim- A educação permanente encontra-se ineficaz tanto pelo não
ples, de baixa complexidade, e levando com que a população veja comprimento do previsto nas portarias ministeriais, caracterizando
as unidades hospitalares como a porta de referência na qual poderá até o momento uma ação individual e não institucional. Os Núcleos
ser atendida, realizar exames e sair com o tratamento, mesmo em de Educação em Urgência e os Núcleos de Educação Permanente
situações de baixíssima complexidade, sobrecarregando a rede hos- carecem até o momento tanto de legislação específica como de in-
pitalar com esta conduta. centivo financeiro para a execução de suas tarefas.
V.Manutenção e renovação da frotas
b. SAMU O critério de renovação de frota com 300.000 km rodados tem
levado a um sucateamento de grande parte da frota e a gastos des-
I. Regulação ineficaz necessários de manutenção das unidades. Caso isto fosse reduzido
Ausência ou insuficiente treinamento dos reguladores e au- para 200.000 km rodados, poderíamos ter um custo menor, uma
sência de protocolos de regulação assim como de linhas guias pac- frota mais nova e uma segurança para as equipes maior.
tuadas na rede e disponíveis para serem executadas pelos médicos
reguladores. c. Componente Hospitalar:

II.Financiamento em desacordo com as portarias (1864/03 e I. Financiamento insuficiente e inexistentes para as Unidades
2970/08) de Urgência
O financiamento das atividades educativas até o momento não O pagamento por procedimento, realizado pelo SUS, leva a uma
foi liberado pelo Ministério da Saúde. Embora as Portarias estabe- cultura de quanto mais, melhor, estimula o reembolso dos procedi-
leçam que 50% do custeio cabe ao Ministério da Saúde, a base de mentos e é contraproducente para a organização de uma rede que
cálculo que definiu os valores é totalmente inadequada à realidade deve garantir a resposta aos casos realmente urgentes e emergen-
dos salários praticados no Brasil. Assim sendo, enquanto uma Cen- tes. Assim, tem-se de ter uma ampla discussão de incentivo finan-
tral de regulação mínima, tendo um médico regulador, um Técnico ceiro para as portas de entrada da rede de urgência, abolindo-se o
Auxiliar de Regulação Médica e um Radioperador e Operador de pagamento por procedimento mas garantindo a resposta às neces-
Frota, custa mensalmente em torno de R$ 110.000,00(cento e dez sidades regionais. Minas Gerais tem tido, a partir da Secretaria de
mil reais) a base de cálculo utilizada nas portarias é de um valor Estado da Saúde uma experiência exitosa neste sentido carecendo
mensal de R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais) cabendo ao Minis- até o momento de qualquer apoio federal para tal.
tério da Saúde um repasse de R$ 19.000,00 (dezenove mil reais) o
que em tese representaria os 50% do Ministério da Saúde mas na II.Dificuldade na contra referência
realidade corresponde a 17,2%. Em relação às unidades de suporte Se não temos referências bem delimitadas e que por muitas
avançado o mesmo se repete pois uma unidade móvel composta vezes impõem dificuldades para o acolhimento das urgências, ine-
por médico, enfermeiro e condutor-socorrista não custa menos de xiste, por outro lado, um contra-referenciamento discutido e pac-
R$ 100.000,00 (cem mil reais) mensais, incluindo salários, combus- tuado na maior parte do país. Isto leva a uma retenção maior dos
tível e manutenção. O Ministério da Saúde calculou que cada uni- clientes na rede hospitalar assim como uma descontinuidade de
dade de suporte avançado custaria mensalmente R$ 55.000,00(cin- tratamento posterior a uma internação.
quenta e cinco mil reais), repassando apenas R$ 27.500,00(vinte e
sete mil reais) mensalmente o que, na realidade representa ape- III.Leitos de retaguarda em número insuficiente e com comple-
nas 27,5% do custeio mensal e não 50% como previsto em porta- xidade de assistência incompatível com as necessidades dos pacien-
ria. Por último, em relação às unidades de suporte básico de vida, tes atendidos nas grandes emergências
o estimado de custo mensal previsto pela portaria ministerial de A rede de urgência não tem sido na maior parte das vezes dis-
R$ 25.000,00 se aproxima mais da realidade pois se tem um custo cutida e planejada, com seus pontos de atenção tendo papéis de-
real que normalmente gira em torno de 32.000,00(trinta e dois mil finidos, com fluxos pactuados além de leitos de retaguarda assim
reais) ao mês, sendo que com o repasse de R$ 12.500,00(doze mil como leitos de unidades semi-intensiva que poderiam desafogar
e quinhentos reais ao mês) repassados pelo Ministério da Saúde, os hospitais de referência não tem sido implantados. Isto mantém
tem-se um percentual de 39% ao mês. a situação de superlotação nestes hospitais e dificultando o refe-
Estas verbas subdimensionadas de custeio estão também sub- renciamento dos casos que necessitam do aporte especializado do
dimensionadas quando é repassado o percentual de investimento hospital de referência.
pelo ministério da Saúde, que representa apenas uma pequena par-
te do investimento a ser realizado.

290
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

IV.Necessidade de implantação de equipe para classificação de Uma das maiores dificuldades é definir-se a prioridade para
risco o atendimento e de que esta prioridade seja, dentro da rede de
Igualmente necessitamos, dentro da rede hospitalar assim atenção, vista e compreendida da mesma maneira, dentro de uma
como na atenção básica, de capacitação e estruturação para reali- mesma linguagem.
zação de classificação de risco objetiva, tal como a de Manchester,
para termos uma linguagem única na rede assim como podermos Sugestões de Pontos para Discussão e Aprimoramento
dar equidade e resolução à distribuição das situações nos pontos
de atenção. -Quanto a atenção básica
-O fortalecimento da atenção básica e de suas ações, como
d. Outras Fragilidades: diretriz apontada pela TESE do CONASEMS 2010/2011, vem sendo
realizada e deve ser aprofundada, sendo que em relação à estru-
I. Fragilidade no processo de acolhimento/humanização na alta turação das redes, os parâmetros legais a discussão sobre a instru-
hospitalar mentalização dos trabalhadores e das unidades de atenção básica,
Outra fragilidade da política de urgência que podemos apontar através de capacitação específica e estruturação mínima para o
é o processo de humanização na alta hospitalar, fazendo com que o atendimento às situações agudas deve ser perseguida.
paciente que egresse de uma unidade ter descontinuidade de seu
tratamento e não aderindo aos cuidados que deveriam ser preconi- -Quanto ao planejamento análise e aprovação de projetos
zados. Acrescente-se a isto a dificuldade até o momento, por falta -Sugere-se que para o planejamento das redes de urgências to-
de legislação própria, de internação domiciliar. dos os atores, sejam eles gestores nos diversos níveis e técnicos de
portas hospitalares e da atenção básica participem das discussões
II. Processo de regulação da urgência e emergência insuficiente e modelagem da rede, incluindo definição dos pontos de atenção,
tanto na referência quanto na contra referência fluxos e normas. Além disto, o planejamento deve sempre vislum-
Com já dito, sem um planejamento com pontos de atenção e brar uma gestão e financiamento tripartite, de sonde sugere-se que
papéis na rede definidos assim como fluxos pactuados, criando uma cabe ao Ministério da Saúde aprovar somente projetos com esta
linha guia de ação, cabe aos médicos reguladores, a partir de sua envergadura: tripartite, de caráter regional e com a aprovação dos
experiência e contatos pessoais, definir o fluxo e o ponto de aten- colegiados gestores (CIB e CES).
ção para o atendimento de uma necessidade.
-Quanto à governança
III.Baixo nível de organização e de resolutividade dos pronto -A governança deve ser discutida na ótica de estruturação re-
atendimentos em nível local presentativa tripartite, atribuindo-se aos Comitês Gestores de Ur-
Os pronto-atendimentos em nível local tem baixa resolutivida- gência um papel de câmara técnica seja das CIBs macrorregionais
de em parte podendo ser devida ao isolamento deste tipo de uni- ou estaduais com o acompanhamento de estruturas federais.
dade dentro de uma rede assim como o não apoio direto de uma -Para isto, além dos Comitês Gestores Regionais e Estaduais de
unidade hospitalar. Podemos dizer que o ideal seria que cada pron- Atenção às Urgências propõe-se a reativação do Reativação do Co-
to-atendimento deveria ser uma porta avançada de uma unidade mitê Gestor Nacional das urgências e Emergências
hospitalar, se possível com um corpo clínico que trabalhasse em
ambas, comprometendo-se com os resultados em cada uma das -Quanto à estrutura administrativa e financeira regional
unidades. -Sugere-se uma discussão para elaboração de arcabouço jurídi-
co que dê retaguarda à regionalização, autorizando assim a estru-
IV.Financiamento insuficiente e inexistentes para os Pronto So- turação e financiamento regional com repasse direto dos fundos
corros nacionais e estaduais para estas estruturas regionalizadas.
Não existe até o momento qualquer incentivo financeiro para -Além disto a participação dos entes gestores na composição
as portas hospitalares (unidades de urgência ou prontos-socorros), do ente administrativo regional, como por exemplo os consórcios
mantendo a mesma sem estrutura, perspectiva e servindo não públicos, é de importância indiscutível para o sucesso do processo.
para o trabalho dos mais experientes mas sim para o trabalho dos Cabe à gestão estadual conduzir, no âmbito regional, a rede (sempre
iniciantes, que tem a porta da emergência como possibilidade de regional) de atenção às urgências devendo, junto a representantes
entrada no hospital para seu trabalho atual e futuro. Além disto, de todos os municípios abrangidos e do nível federal, realizarem a
sem identidade, os próprios trabalhadores destas unidades não gestão e financiamento da rede/
se interessam em organizá-la como igualmente não buscam capa-
citação específica visto que sua atividade principal e foco é outra. -Quanto à implantação de um critério único de priorização
Acrescente-se a isto que o financiamento é feito por procedimento (classificação) dos casos e introdução de uma linguagem única na
o que estimula a produção, independente da necessidade real ou rede.
não de ser atendido em uma porta hospitalar, sobrecarregando as -Sugere-se a introdução de uma classificação de risco objetiva,
unidades de urgência e deixando muitas vezes para trás um caso tal como a preconizada por Manchester, que além da objetividade
realmente urgente. para priorizar os casos mais graves separando-os dos menos graves,
pode ser utilizado como um mecanismo de gestão importante pois
V.Ausência de linguagem única e distribuição dos pacientes de ao realizar a classificação temos uma “vitrine” precisa da demanda
acordo com a gravidade podendo assim estabelecer mecanismos para o atendimento desta
demanda de maneira racional equitativa e de acordo com a com-
plexidade e prioridade de cada caso. Além disto fornece à rede de

291
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

atenção às urgências uma linguagem única de comunicação dos ca- O reconhecimento de que os homens adentram o sistema de
sos, entre todos os pontos de atenção, sejam eles fixos e móveis, saúde por meio da atenção especializada tem como conseqüência o
facilitando assim o prosseguimento do atendimento de acordo com agravo da morbidade pelo retardamento na atenção e maior custo
as linhas guias pactuadas para o SUS. É necessário fortalecer e qualificar a atenção primária
garantindo, assim, a promoção da saúde e a prevenção aos agravos
-Quanto ao financiamento do SAMU evitáveis.
-Sugere-se uma readequação de valores de repasse tanto de in- Vários estudos comparativos, entre homens e mulheres, têm
vestimento como de custeio, levando-se em conta a média nacional comprovado o fato de que os homens são mais vulneráveis às doen-
de salários praticados no mercado e não estimados como o que se ças, sobretudo às enfermidades graves e crônicas, e que morrem
encontra na portaria 1864, em caráter de vínculo empregatício de mais precocemente que as mulheres (Nardi et all, 2007; Courtenay,
CLT e não vínculo precário. 2007; IDB, 2006 Laurenti et all, 2005; Luck et all, 2000). A despeito
da maior vulnerabilidade e das altas taxas de morbimortalidade, os
-Quanto ao financiamento da rede hospitalar homens não buscam, como as mulheres, os serviços de atenção bá-
-Sugere-se a discussão, seguindo o modelo adotado em Minas sica. (Figueiredo, 2005; Pinheiro et all, 2002).
Gerais, de um incentivo de custeio, sem pagamento por procedi- Muitos agravos poderiam ser evitados caso os homens reali-
mentos, para a implementação dos níveis hospitalares necessários zassem, com regularidade, as medidas de prevenção primária. A
para o êxito da rede de urgência. O controle dos contratos e repas- resistência masculina à atenção primária aumenta não somente a
ses realizados deve ser realizado em nível regional a partir do Comi- sobrecarga financeira da sociedade, mas também, e, sobretudo, o
tê Gestor Regional de Urgência e de dados provenientes do SAMU e sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família, na luta
da Central de Regulação de Leitos. pela conservação da saúde e da qualidade de vida dessas pessoas.
-Quanto aos indicadores de resultados e qualidade Tratamentos crônicos ou de longa duração têm, em geral, me-
-Propõe-se o estabelecimento de indicadores de produção, nor adesão, visto que os esquemas terapêuticos exigem um grande
resultados e qualidade homogêneos e implementados em todo o empenho do paciente que, em algumas circunstâncias, necessita
Brasil para a avaliação das redes de atenção as urgências modificar seus hábitos de vida para cumprir seu tratamento. Tal
afirmação também é válida para ações de promoção e prevenção à
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem saúde que requer, na maioria das vezes, mudanças comportamen-
O Ministério da Saúde, nos 20 anos do Sistema Único de Saú- tais.
de (SUS), apresenta uma das prioridades desse governo, a Política As pesquisas qualitativas apontam várias razões, mas, de um
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, desenvolvida em modo geral, podemos agrupar as causas da baixa adesão em dois
parceria entre gestores dos SUS, sociedades científicas, sociedade grupos principais de determinantes, que se estruturam como bar-
civil organizada, pesquisadores, acadêmicos e agências de coope- reiras entre o homem e os serviços e ações de saúde (Gomes, 2003;
ração internacional. A pluralidade das instituições envolvidas nessa Keijzer, 2003; Schraiber et all, 2000) a saber: barreiras sócioculturais
construção é um convite e um desafio à consideração da saúde do e barreiras institucionais.
homem brasileiro nas suas idiossincrasias e similaridades nos 5.561 Grande parte da não-adesão às medidas de atenção integral,
municípios, 26 estados e no Distrito Federal. Nesse sentido, a políti- por parte do homem, decorre das variáveis culturais. Os estereóti-
ca traduz um longo anseio da sociedade ao reconhecer que os agra- pos de gênero, enraizados há séculos em nossa cultura patriarcal,
vos do sexo masculino constituem verdadeiros problemas de saúde potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser
pública. Um dos principais objetivos desta Política é promover ações masculino. A doença é considerada como um sinal de fragilidade
de saúde que contribuam significativamente para a compreensão que os homens não reconhecem como inerentes à sua própria con-
da realidade singular masculina nos seus diversos contextos socio- dição biológica. O homem julga-se invulnerável, o que acaba por
culturais e político-econômicos; outro, é o respeito aos diferentes contribuir para que ele cuide menos de si mesmo e se exponha mais
níveis de desenvolvimento e organização dos sistemas locais de às situações de risco (Keijzer, 2003; Schraiber et 6 all, 2000; Sabo,
saúde e tipos de gestão. Este conjunto possibilita o aumento da ex- 2002; Bozon, 2004). A isto se acresce o fato de que o indivíduo tem
pectativa de vida e a redução dos índices de morbimortalidade por medo que o médico descubra que algo vai mal com a sua saúde, o
causas preveníveis e evitáveis nessa população. Para isso, a Política que põe em risco sua crença de invulnerabilidade.
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem está alinhada com Os homens têm dificuldade em reconhecer suas necessidades,
a Política Nacional de Atenção Básica – porta de entrada do Sistema cultivando o pensamento mágico que rejeita a possibilidade de
Único de Saúde - com as estratégias de humanização, e em con- adoecer. Além disso, os serviços e as estratégias de comunicação
sonância com os princípios do SUS, fortalecendo ações e serviços privilegiam as ações de saúde para a criança, o adolescente, a mu-
em redes e cuidados da saúde. O Ministério da Saúde vem cumprir lher e o idoso.
seu papel ao formular a Política que deve nortear as ações de aten- Uma questão apontada pelos homens para a não procura pelos
ção integral à saúde do homem, visando estimular o autocuidado serviços de saúde está ligada a sua posição de provedor. Alegam
e, sobretudo, o reconhecimento de que a saúde é um direito social que o horário do funcionamento dos serviços coincide com a carga
básico e de cidadania de todos os homens brasileiros. horária do trabalho. Não se pode negar que na preocupação mascu-
A proposição da Política Nacional de Atenção Integral à Saú- lina a atividade laboral tem um lugar destacado, sobretudo em pes-
de do Homem visa qualificar a saúde da população masculina na soas de baixa condição social o que reforça o papel historicamente
perspectiva de linhas de cuidado que resguardem a integralidade atribuído ao homem de ser responsável pelo sustento da família.
da atenção. Ainda que isso possa se constituir, em muitos casos, uma barreira
importante, há de se destacar que grande parte das mulheres, de

292
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

todas as categorias sócio-econômicas, faz hoje parte da força pro- outros bens destinados às atividades de assistência à saúde da FU-
dutiva, inseridas no mercado de trabalho, e nem por isso deixam de NAI para a FUNASA, e pela Lei nº 9.836/99, de 23 de setembro de
procurar os serviços de saúde. 1999, que estabelece o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no
Outro ponto igualmente assinalado é a dificuldade de aces- âmbito do SUS.
so aos serviços assistenciais, alegando-se que, para marcação de A implementação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos
consultas, há de se enfrentar filas intermináveis que, muitas vezes, Povos Indígenas requer a adoção de um modelo complementar e
causam a “perda” de um dia inteiro de trabalho, sem que necessa- diferenciado de organização dos serviços – voltados para a prote-
riamente tenham suas demandas resolvidas em uma única consulta ção, promoção e recuperação da saúde -, que garanta aos índios o
(Gomes et all, 2007; Kalckmann et all, 2005; Schraiber, 2005). exercício desua cidadania nesse campo. Para sua efetivação, deve-
Ainda que o conceito de masculinidade venha sendo atualmen- rá ser criada uma rede de serviços nas terras indígenas, de forma
te contestado e tenha perdido seu rigor original na dinâmica do pro- a superar as deficiências de cobertura, acesso e aceitabilidade do
cesso cultural (Welzer-Lang, 2001), a concepção ainda prevalente Sistema Único de Saúde para essa população. É indispensável, por-
de uma masculinidade hegemônica é o eixo estruturante pela não tanto, a adoção de medidas que viabilizem o aperfeiçoamento do
procura aos serviços de saúde. Em nossa sociedade, o “cuidado” é funcionamento e a adequação da capacidade do Sistema, tornan-
papel considerado como sendo feminino e as mulheres são educa- do factível e eficaz a aplicação dos princípios e diretrizes da des-
das, desde muito cedo, para desempenhar e se responsabilizar por centralização, universalidade, eqüidade, participação comunitária
este papel (WelzerLang, 2004; Lyra-da-Fonseca et all, 2003; Tellería, e controle social. Para que esses princípios possam ser efetivados,
2003; Hardy e Jimenez, 2000; Medrado et all, 2005). é necessário que a atenção à saúde se dê de forma diferenciada,
A compreensão das barreiras sócio-culturais e institucionais é levando-se em consideração as especificidades culturais, epidemio-
importante para a proposição estratégica de medidas que venham lógicas e operacionais desses povos. Assim, dever-se-á desenvolver
a promover o acesso dos homens aos serviços de atenção primária, e fazer uso de tecnologias apropriadas por meio da adequação das
a fim de resguardar a prevenção e a promoção como eixos necessá- formas ocidentais convencionais de organização de serviços.
rios e fundamentais de intervenção. Com base nesses preceitos, foi formulada a Política Nacional de
A Política de Atenção Integral à Saúde do Homem deve con- Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, cuja elaboração contou com
siderar a heterogeneidade das possibilidades de ser homem. As a participação de representantes dos órgãos responsáveis pelas po-
masculinidades são construídas historicamente e sócio-cultural- líticas de saúde e pela política e ação indigenista do governo, bem
mente, sendo a significação da masculinidade um processo em per- como de organizações da sociedade civil com trajetória reconhecida
manente construção e transformação. O ser homem, assim como no campo da atenção e da formação de recursos humanos para a
o ser mulher é 7 constituído tanto a partir do masculino como do saúde dos povos indígenas. Com o propósito de garantir participa-
feminino. Masculino e feminino são modelos culturais de gênero ção indígena em todas as etapas de formulação, implantação, ava-
que convivem no imaginário dos homens e das mulheres. Essa con- liação e aperfeiçoamento da Política, a elaboração desta proposta
sideração é fundamental para a promoção da equidade na atenção contou com a participação de representante das organizações indí-
a essa população, que deve ser considerada em suas diferenças por genas, com experiência de execução de projetos no campo da aten-
idade, condição sócioeconômica, étnico-racial, por local de moradia ção à saúde junto a seu povo.
urbano ou rural, pela situação carcerária, pela deficiência física e/
ou mental e pelas orientações sexuais e identidades de gênero não Antecedentes
hegemônicas. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do No Brasil, a população indígena, estimada em cerca de 5 mi-
Homem, portanto, além de evidenciar os principais fatores de mor- lhões de pessoas no início do século XVI, comparável à da Euro-
bimortalidade explicita o reconhecimento de determinantes so- pa nesta mesma época, foi dizimada pelas expedições punitivas às
ciais que resultam na vulnerabilidade da população masculina aos suas manifestações religiosas e aos seus movimentos de resistên-
agravos à saúde, considerando que representações sociais sobre a cia, mas, principalmente, pelas epidemias de doenças infecciosas,
masculinidade vigente comprometem o acesso à atenção integral, cujo impacto era favorecido pelas mudanças no seu modo de vida
bem como repercutem de modo crítico na vulnerabilidade dessa impostas pela colonização e cristianização (como escravidão, traba-
população à situações de violência e de risco para a saúde. lho forçado, maus tratos, confinamento e sedentarização compul-
Mobilizar a população masculina brasileira pela luta e garantia sória em aldeamentos e internatos).
de seu direito social à saúde é um dos desafios dessa política. Ela A perda da auto-estima, a desestruturação social, econômica e
pretende tornar os homens protagonistas de suas demandas, con- dos valores coletivos (muitas vezes da própria língua, cujo uso che-
solidando seus direitos de cidadania. gava a ser punido com a morte) também tiveram um papel impor-
tante na diminuição da população indígena. Até hoje há situações
Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas regionais de conflito, em que se expõe toda a trama de interesses
A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas econômicos e sociais que configuram as relações entre os povos in-
integra a Política Nacional de Saúde, compatibilizando as determi- dígenas e demais segmentos da sociedade nacional, especialmente
nações das Leis Orgânicas da Saúde com as da Constituição Federal, no que se refere à posse da terra, exploração de recursos naturais
que reconhecem aos povos indígenas suas especificidades étnicas e e implantação de grandes projetos de desenvolvimento. Desde o
culturais e seus direitos territoriais. início da colonização portuguesa, os povos indígenas foram assis-
Esta proposta foi regulamentada pelo Decreto n.º 3.156, de 27 tidos pelos missionários de forma integrada às políticas dos gover-
de agosto de 1999, que dispõe sobre as condições de assistência à nos. No início do século XX, a expansão das fronteiras econômicas
saúde dos povos indígenas, e pela Medida Provisória n.º 1.911-8, para o Centro-Oeste e a construção de linhas telegráficas e ferrovias
que trata da organização da Presidência da República e dos Minis- provocaram numerosos massacres de índios e elevados índices de
térios, onde está incluída a transferência de recursos humanos e mortalidade por doenças transmissíveis que levaram, em 1910, à

293
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

criação do Serviço de Proteção ao Índio e Trabalhadores Nacionais riormente regulamentados pela Lei 8.080/90, e estabeleceu que a
(SPI). O órgão, vinculado ao Ministério da Agricultura, destinava-se direção única e a responsabilidade da gestão federal do Sistema são
à proteger os índios, procurando o seu enquadramento progressivo do Ministério da Saúde.
e o de suas terras no sistema produtivo nacional. Para debater a saúde indígena, especificamente, foram realiza-
Uma política indigenista começou a se esboçar com inspiração das, em 1986 e 1993, a I Conferência Nacional de Proteção à Saúde
positivista, em que os índios, considerados num estágio infantil da do Índio e a II Conferência Nacional de Saúde para os Povos Indí-
humanidade, passaram a ser vistos como passíveis de “evolução” e genas, por indicação da VIII e IX Conferências Nacionais de Saúde,
integração na sociedade nacional por meio de projetos educacio- respectivamente. Essas duas Conferências propuseram a estrutura-
nais e agrícolas. A assistência à saúde dos povos indígenas, no en- ção de um modelo de atenção diferenciada, baseado na estratégia
tanto, continuou desorganizada e esporádica. Mesmo após a cria- de Distritos Sanitários Especiais Indígenas, como forma de garantir
ção do SPI, não se instituiu qualquer forma de prestação de serviços aos povos indígenas o direito ao acesso universal e integral à saúde,
sistemática, restringindo-se a ações emergenciais ou inseridas em atendendo às necessidades percebidas pelas comunidades e en-
processos de “pacificação”. volvendo a população indígena em todas as etapas do processo de
Na década de 50, foi criado o Serviço de Unidades Sanitárias planejamento, execução e avaliação das ações.
Aéreas (SUSA), no Ministério da Saúde, com o objetivo de levar Em fevereiro de 1991, o Decreto Presidencial nº 23 transferiu
ações básicas de saúde às populações indígena e rural em áreas de para o Ministério da Saúde a responsabilidade pela coordenação
difícil acesso. Essas ações eram essencialmente voltadas para a va- das ações de saúde destinadas aos povos indígenas, estabelecen-
cinação, atendimento odontológico, controle de tuberculose e ou- do os Distritos Sanitários Especiais Indígenas como base da orga-
tras doenças transmissíveis. nização dos serviços de saúde. Foi então criada, no Ministério da
Em 1967, com a extinção do SPI, foi criada a Fundação Nacio- Saúde, a Coordenação de Saúde do Índio - COSAI, subordinada ao
nal do Índio (FUNAI), que, baseando-se no modelo de atenção do Departamento de Operações - DEOPE - da Fundação Nacional de
SUSA, criou as Equipes Volantes de Saúde (EVS). Essas equipes reali- Saúde, com a atribuição de implementar o novo modelo de atenção
zavam atendimentos esporádicos às comunidades indígenas de sua à saúde indígena.
área de atuação, prestando assistência médica, aplicando vacinas e No mesmo ano, a Resolução 11, de 13 de outubro de 1991, do
supervisionando o trabalho do pessoal de saúde local, geralmente Conselho Nacional de Saúde (CNS), criou a Comissão Intersetorial
auxiliares ou atendentes de enfermagem. de Saúde do Índio (CISI), tendo como principal atribuição assessorar
A FUNAI, após a crise financeira do Estado brasileiro pós-mi- o CNS na elaboração de princípios e diretrizes de políticas gover-
lagre econômico da década de 70, teve dificuldades de diversas namentais no campo da saúde indígena. Inicialmente sem repre-
ordens para a organização de serviços de atenção à saúde que con- sentação indígena, os próprios membros da CISI reformularam sua
templassem a grande diversidade e dispersão geográfica das comu- composição e, com a saída espontânea de representantes do CNS,
nidades: carência de suprimentos e capacidade administrativa de da Secretaria de Meio Ambiente, dentre outros, abriu-se 4 das 11
recursos financeiros, precariedade da estrutura básica de saúde, vagas para representantes de organizações indígenas.
falta de planejamento das ações e organização de um sistema de Em sentido oposto ao processo de construção da política de
informações em saúde adequado, além da falta de investimento na atenção à saúde indígena no âmbito do SUS, em 19 de maio de
qualificação de seus funcionários para atuarem junto a comunida- 1994 o Decreto Presidencial n° 1.141/94 constitui uma Comissão
des culturalmente diferenciadas. Intersetorial de Saúde - CIS, com a participação de vários Ministé-
Com o passar do tempo, os profissionais das EVS foram se fi- rios relacionados com a questão indígena, sob a coordenação da
xando nos centros urbanos, nas sedes das administrações regionais, FUNAI. O decreto devolve, na prática, a coordenação das ações de
e a sua presença nas aldeias se tornava cada vez mais esporádica, saúde à FUNAI. A CIS aprovou, por intermédio da Resolução n° 2,
até não mais ocorrer. Alguns deles, em geral pouco qualificados, de outubro de 1994, o “Modelo de Atenção Integral à Saúde do
ficaram lotados em postos indígenas, executando ações assisten- Índio”, que atribuía a um órgão do Ministério da Justiça, a FUNAI, a
ciais curativas e emergenciais sem qualquer acompanhamento. Era responsabilidade sobre a recuperação da saúde dos índios doentes,
freqüente funcionários sem qualificação alguma na área da saúde e a prevenção, ao Ministério da Saúde, que seria responsável pelas
prestar atendimentos de primeiros socorros ou até de maior com- ações de imunização, saneamento, formação de recursos humanos
plexidade, devido à situação de isolamento no campo. e controle de endemias.
As iniciativas de atenção à saúde indígena geralmente ignora- Desde então, a FUNASA e a FUNAI dividiram a responsabilidade
vam os sistemas de representações, valores e práticas relativas ao sobre a atenção à saúde indígena, passando a executar, cada uma,
adoecer e buscar tratamento dos povos indígenas, bem como seus parte das ações, de forma fragmentada e conflituosa. Ambas já ti-
próprios especialistas. Estes sistemas tradicionais de saúde se apre- nham estabelecido parcerias com municípios, organizações indíge-
sentam numa grande diversidade de formas, sempre considerando nas e não-governamentais, universidades, instituições de pesquisa
as pessoas integradas ao contexto de suas relações sociais e com o e missões religiosas. Os convênios celebrados, no entanto, tinham
ambiente natural, consistindo ainda num recurso precioso para a pouca definição de objetivos e metas a serem alcançados e de indi-
preservação ou recuperação de sua saúde. cadores de impacto sobre a saúde da população indígena.
Em 1988, a Constituição Federal estipulou o reconhecimento e
respeito das organizações socioculturais dos povos indígenas, asse-
gurando-lhes a capacidade civil plena - tornando obsoleta a institui-
ção da tutela - e estabeleceu a competência privativa da União para
legislar e tratar sobre a questão indígena. A Constituição também
definiu os princípios gerais do Sistema Único de Saúde (SUS), poste-

294
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Política Nacional de atenção à saúde dos povos indígenas Existem diferentes problemas encontrados na saúde do ho-
O propósito desta política é garantir aos povos indígenas o mem quando leva-se em conta o ambiente rural e o ambiente ur-
acesso à atenção integral à saúde, de acordo com os princípios e bano.
diretrizes do Sistema Único de Saúde, contemplando a diversidade No ambiente rural um dos grandes problemas atuais é o uso
social, cultural, geográfica, histórica e política de modo a favorecer de agrotóxicos , também denominados produtos de uso agrícolas
a superação dos fatores que tornam essa população mais vulnerá- e pesticidas que visam eliminar “pragas” que diminuem a produ-
vel aos agravos à saúde de maior magnitude e transcendência entre ção de alimentos, mesmo com o estudo de produtos que tem um
os brasileiros, reconhecendo a eficácia de sua medicina e o direito impacto menor ao meio o uso de forma inadequada destes produ-
desses povos à sua cultura. tos vem causando um grande impacto sobre a fauna, flora , água e
solo e consequentemente sendo um risco para a saúde dos seres
Diretrizes humanos, uma outra problemática é o grande número de suicídios
Para o alcance desse propósito são estabelecidas as seguintes ocorridos entre trabalhadores do campo.
diretrizes, que devem orientar a definição de instrumentos de pla- No ambiente urbano uma das questões mais estudadas é a po-
nejamento, implementação, avaliação e controle das ações de aten- luição do ar que causa milhares de internações e óbitos a cada ano,
ção à saúde dos povos indígenas: estando principalmente relacionadas com doenças respiratórias,
• organização dos serviços de atenção à saúde dos povos in- cardíacas e vários tipos de câncer.
dígenas na forma de Distritos Sanitários Especiais e Pólos-Base, no Ainda persistem no ambiente rural e urbano problemas de
nível local, onde a atenção primária e os serviços de referência se doenças relacionadas ao não tratamento da água consumida pela
situam; população, pois a água não tratada é um ambiente adequado para
•preparação de recursos humanos para atuação em contexto vida de parasitas, vírus e bactérias além da presença de minerais e
intercultural; vários elementos químico.
•monitoramento das ações de saúde dirigidas aos povos indí-
genas; Fonte: https://ambientedomeio.com
•articulação dos sistemas tradicionais indígenas de saúde;
•promoção do uso adequado e racional de medicamentos; Um fator importante na questão da Saúde ambiental é a sua
•promoção de ações específicas em situações especiais; relação com as mudanças do clima que resultam em um ambiente
•promoção da ética na pesquisa e nas ações de atenção à saú- com temperaturas elevadas e baixa umidade do ar.
de envolvendo comunidades indígenas; Temperaturas elevadas segundo pesquisas causam impacto na
•promoção de ambientes saudáveis e proteção da saúde indí- saúde humana influenciando em problemas Psicológicos, ocasio-
gena; nando alterações do sistema imune, sobrecarga renal e problemas
•controle social cardíacos dentre outros.
Em um ambiente urbano a causa de males a saúde humana
Saúde Ambiental; ainda é decorrente de crimes ambientais realizados por indústrias
“Saúde ambiental são todos aqueles aspectos da saúde hu- que causam impacto no solo por meio de descarte inadequado de
mana, incluindo a qualidade de vida, que estão determinados por resíduos, no ar quando não ocorre a devida utilização de filtros em
fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e psicológicos no meio chaminés e na água quando produtos são lançados em esgotos,
ambiente. Também se refere teoria e prática de valorar, corrigir, córregos e rios sem o devido tratamento.
controlar e evitar aqueles fatores do meio ambiente que, poten- Medidas importantes devem ser tomadas, portanto pelos go-
cialmente, possam prejudicar a saúde de gerações atuais e futuras vernos de todos os países, como o fortalecimento de pessoas trei-
“; ainda segundo a OMS: “Saúde ambiental abrange os fatores fí- nadas para o estudo e a realização de ações minimizadoras destes
sicos, químicos e biológicos externos às pessoas, e os fatores que impactos, bem como a elaborações de Políticas Públicas e Leis que
impactam seus comportamentos. Ela engloba a avaliação e o con- insiram e definam melhor as questões de saúde ambiental.
trole daqueles fatores ambientais que podem afetar a saúde. Ela
é direcionada à prevenção de doenças e melhoria da saúde nos Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
ambientes. Esta definição exclui comportamentos não relacionados
com o ambiente, bem como o comportamento relacionado com o O que são as Práticas Integrativas e Complementares (PICS)?
ambiente social e cultural, e genético”. As Práticas Integrativas e Complementares (PICS) são trata-
mentos que utilizam recursos terapêuticos baseados em conheci-
De acordo com a Organização Pan-americana de Saúde: mentos tradicionais, voltados para prevenir diversas doenças como
“Os problemas de saúde ambiental da América Latina e Caribe depressão e hipertensão. Em alguns casos, também podem ser usa-
estão dominados tanto por necessidades não atendidas, enquanto das como tratamentos paliativos em algumas doenças crônicas.
saneamento ambiental tradicional, como por necessidades cres- Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, de for-
centes de proteção ambiental, que têm se tornado mais graves de- ma integral e gratuita, 29 procedimentos de Práticas Integrativas
vido à urbanização intensiva em um entorno caracterizado por um e Complementares (PICS) à população. Os atendimentos começam
desenvolvimento econômico lento” na Atenção Básica, principal porta de entrada para o SUS.
Evidências científicas têm mostrado os benefícios do tratamen-
A Saúde Ambiental de uma forma geral, portanto é relacionada to integrado entre medicina convencional e práticas integrativas e
com o Meio Ambiente habitado pelo homem sendo totalmente de- complementares. Além disso, há crescente número de profissionais
pendente da interação do homem e este meio. capacitados e habilitados e maior valorização dos conhecimentos
tradicionais de onde se originam grande parte dessas práticas.

295
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Onde tem Práticas Integrativas e Complementares (PICS)? • 14 práticas incluídas em 2017: Ayurveda, Arteterapia, Bio-
Considerando a atenção básica e os serviços de média e alta dança, Meditação, Dança Circular, Musicoterapia, Naturopatia, Os-
complexidade, existem atualmente 9.350 estabelecimentos de saú- teopatia, Reiki, Yoga, Quiropraxia, Reflexologia, Shantala e Terapia
de no país ofertando 56% dos atendimentos individuais e coletivos Comunitária Integrativa.
em Práticas Integrativas e Complementares nos municípios brasi- • 10 práticas incluídas em 2018: Aromaterapia, Apiterapia,
leiros, compondo 8.239 (19%) estabelecimentos na Atenção Básica Constelação Familiar, Cromoterapia, Geoterapia, Ozonioterapia, Im-
que ofertam PICS, distribuídos em 3.173 municípios. posição de Mãos, Terapia de Florais, Hipnoterapia e Bioenergética.
As Práticas Integrativas e Complementares estão presentes em
quase 54% dos municípios brasileiros, distribuídos pelos 27 estados Como implantar as Práticas Integrativas e Complementares?
e Distrito Federal e todas as capitais brasileiras. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC), publicada em 2006, instituiu no SUS abordagens de cuida-
Brasil é referência mundial do integral à população por meio de outras práticas que envolvem
O Brasil é referência mundial na área de práticas integrativas e recursos terapêuticos diversos. Desde a implantação, o acesso dos
complementares na atenção básica. É uma modalidade que invete usuários tem crescido.
em prevenção e promoção à saúde com o objetivo de evitar que as A política traz diretrizes gerais para a incorporação das práticas
pessoas fiquem doentes. nos serviços e compete ao gestor municipal elaborar normas para
Além disso, quando necessário, as PICS também podem ser inserção da PNPIC na rede municipal de saúde. Os recursos para as
usadas para aliviar sintomas e tratar pessoas que já estão com al- PICS integram o Piso da Atenção Básica (PAB) de cada município,
gum tipo de enfermidade. podendo o gestor local aplicá-los de acordo com sua prioridade.
Alguns tratamentos específicos, como acupuntura recebem outro
Histórico - Práticas Integrativas e Complementares tipo de financiamento, que compõe o bloco de média e alta comple-
No Brasil, o debate sobre as práticas integrativas e complemen- xidade. Estados e municípios também podem instituir sua própria
tares começou a despontar no final de década de 70, após a decla- política, considerando suas necessidades locais, sua rede e proces-
ração de Alma Ata e validada, principalmente, em meados dos anos sos de trabalho.
As práticas integrativas e complementares são ações de cuida-
80 com a 8ª Conferência Nacional de Saúde, um espaço legítimo de
do transversais, podendo ser realizadas na atenção básica, na mé-
visibilidade das demandas e necessidades da população por uma
dia e alta complexidade. Não existe uma adesão à PNPIC: a política
nova cultura de saúde que questionasse o ainda latente modelo he-
traz diretrizes gerais para a incorporação das práticas nos diversos
gemônico de ofertar cuidado, que excluía outras formas de produzir
serviços.
e legitimar saberes e práticas.
Com esse cenário, tanto sociedade civil quanto governo federal
Compete ao gestor municipal elaborar normas técnicas para
iniciaram um movimento, até então tímido, por busca e oferta de
inserção da PNPIC na rede municipal de Saúde e definir recursos
outros jeitos de praticar o cuidado e o autocuidado, considerando orçamentários e financeiros para a implementação das práticas in-
o bem-estar físico, mental e social, como fatores determinantes e tegrativas. Dessa maneira, é de competência exclusiva do município
condicionantes da saúde. a contratação dos profissionais e a definição das práticas a serem
Em vista disso, ao Governo Federal, garantir a atenção integral ofertadas.
à saúde através das práticas integrativas e complementares impli- Mesmo com todo avanço da PNPIC na última década, continua
cou pensar - em conjunto com gestores de saúde, entidades de clas- sendo condição fundamental para sua efetiva implantação, estimu-
se, conselhos, academia e usuários do SUS - uma política pública lar, nos territórios, espaços de fortalecimento do debate sobre as
permanente que considerasse não só os mecanismos naturais de práticas e trocar experiências com gestores de outros municípios/
prevenção de agravos e recuperação da saúde, mas a abordagem estados que tenham as PICS ofertadas pelo SUS.
ampliada do processo saúde-doença e a promoção global do cui- Na Atenção Básica, o pagamento é realizado pelo piso da aten-
dado humano. ção básica (PAB) fixo (per capita), ou por PAB variável, que corres-
A partir de então, à medida que os debates se aprofundavam ponde ao pagamento por equipes de saúde da família, agentes
acerca das dificuldades impostas à efetiva implementação desse comunitários e núcleos de saúde da família, ou ainda o programa
novo modelo de produzir saúde, o Departamento de Atenção Bási- de melhoria do acesso e da qualidade (PMAQ). Dessa forma, os pro-
ca elaborava um documento normatizador para institucionalizar as cedimentos ofertados através da Portaria nº145/2017 estão dentro
experiências com essas práticas na rede pública e induzir políticas, do financiamento do PAB e não geram recursos por produção. Al-
programas e legislação nas três instâncias de governo. guns outros, específicos, são financiados pelo bloco da Média e Alta
Assim, sob um olhar atento e consensual e respaldado pelas Complexidade
diretrizes da OMS , o Ministério da Saúde aprova, então, através da
Portaria GM/MS no 971, de 3 de maio de 2006, a Política Nacional Cooperação Brasil e México
de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC). A institucionalização das Práticas Integrativas e Complementa-
res no SUS pela Política Nacional de Práticas Integrativas (PNPIC)
Quais são as Práticas Integrativas e Complementares? ampliou o acesso a serviços e produtos antes restritos à área priva-
Abaixo estão listadas as 29 Práticas Integrativas e Complemen- da, assim como trouxe o desafio de integrar saberes e práticas nas
tares oferecidas, de forma integral e gratuita, por meio do Sistema diversas áreas do conhecimento para desenvolvimento de projetos
Único de Saúde (SUS). Para ler a descrição de cada uma delas, basta humanizados, integrais e transdisciplinares. Neste aspecto, a PNPIC
clicar sobre o nome. contempla, entre suas diretrizes, a promoção de cooperação nacio-
• 5 práticas incluídas em 2006: Acupuntura, Termalismo, Antro- nal e internacional para troca de experiências nos campos da aten-
posofia, Fitoterapia e Homeopatia. ção, da educação permanente e da pesquisa em saúde.

296
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Assim, firmou-se, em 2009, o projeto de cooperação Brasil/ 3. Divulgação e informação dos conhecimentos básicos da PIC
México para intercâmbio de experiências sobre PICs e competên- para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS, consideran-
cia intercultural na oferta de serviços de saúde. Entre as atividades do as metodologias participativas e o saber popular e tradicional.
realizadas destacam-se a missão técnica brasileira ao México para 4. Estímulo às ações intersetoriais, buscando parcerias que pro-
troca de experiências, o curso à distância sobre “Competência In- piciem o desenvolvimento integral das ações.
tercultural na oferta de serviços de saúde”, além do seminário de 5. Fortalecimento da participação social.
capacitação presencial sobre competência intercultural, promovido 6. Provimento do acesso a medicamentos homeopáticos e fi-
pelo DAB, com a presença dos representantes mexicanos. toterápicos na perspectiva da ampliação da produção pública, as-
Na consolidação da cooperação, levantou-se a necessidade de segurando as especificidades da assistência farmacêutica nestes
aprofundamento e intercâmbio junto às áreas de Saúde da Mulher, âmbitos na regulamentação sanitária.
Humanização, Alimentação e Nutrição e Saúde do Homem além de 7. Garantia do acesso aos demais insumos estratégicos da
conhecer mais profundamente as experiências locais, municipais PNPIC, com qualidade e segurança das ações.
ou estaduais, sobre a inserção e ofertas das PICs no SUS. Diante dis- 8. Incentivo à pesquisa em PIC com vistas ao aprimoramento da
so, em 2011 teve início a pactuação de novo termo de cooperação atenção à saúde, avaliando eficiência, eficácia, efetividade e segu-
incluindo as áreas demandadas. rança dos cuidados prestados.
9. Desenvolvimento de ações de acompanhamento e avaliação
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares da PIC, para instrumentalização de processos de gestão.
Em virtude da crescente demanda da população brasileira, por 10. Promoção de cooperação nacional e internacional das ex-
meio das Conferências Nacionais de Saúde e das recomendações da periências da PIC nos campos da atenção, da educação permanente
Organização Mundial da Saúde (OMS) aos Estados membros para e da pesquisa em saúde.
formulação de políticas visando a integração de sistemas médicos 11. Garantia do monitoramento da qualidade dos fitoterápicos
complexos e recursos terapêuticos (também chamados de Medi- pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária.
cina Tradicional e Complementar/Alternativa MT/MCA ou Práticas
Integrativas e Complementares) aos Sistemas Oficiais de Saúde,
PACTO PELA SAÚDE
além da necessidade de normatização das experiências existentes
no SUS, o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Práti-
cas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, contemplando PORTARIA Nº 399, DE 22 DE FEVEREIRO DE 2006
as áreas de homeopatia, plantas medicinais e fitoterapia, medicina
tradicional chinesa/acupuntura, medicina antroposófica e termalis- Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e apro-
mo social – crenoterapia, promovendo a institucionalização destas va as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto.
práticas no Sistema Único de Saúde (SUS). O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, INTERINO, no uso de suas
atribuições, e
Objetivos Considerando o disposto no art. 198 da Constituição Federal
de 1988, que estabelece as ações e serviços públicos que integram
A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem o Sistema
tem como objetivos: Único de Saúde - SUS;
1. Incorporar e implementar as Práticas Integrativas e Com- Considerando o art. 7º da Lei nº 8080/90 dos princípios e dire-
plementares no SUS, na perspectiva da prevenção de agravos e da trizes do SUS de universalidade do acesso, integralidade da atenção
promoção e recuperação da saúde, com ênfase na atenção básica, e descentralização político-administrativa com direção única em
voltada ao cuidado continuado, humanizado e integral em saúde. cada esfera de governo;
2. Contribuir ao aumento da resolubilidade do Sistema e am- Considerando a necessidade de qualificar e implementar o
pliação do acesso à PNPIC, garantindo qualidade, eficácia, eficiência processo de descentralização, organização e gestão do SUS à luz da
e segurança no uso. evolução do processo de pactuação intergestores;
3. Promover a racionalização das ações de saúde, estimulando Considerando a necessidade do aprimoramento do processo
alternativas inovadoras e socialmente contributivas ao desenvolvi- de pactuação intergestores objetivando a qualificação, o aperfeiço-
mento sustentável de comunidades. amento e a definição das responsabilidades sanitárias e de gestão
4. Estimular as ações referentes ao controle/participação so- entre os entes federados no âmbito do SUS;
cial, promovendo o envolvimento responsável e continuado dos Considerando a necessidade de definição de compromisso en-
usuários, gestores e trabalhadores nas diferentes instâncias de efe- tre os gestores do SUS em torno de prioridades que apresentem
tivação das políticas de saúde. impacto sobre a situação de saúde da população brasileira;
Considerando o compromisso com a consolidação e o avanço
Diretrizes do processo de Reforma Sanitária Brasileira, explicitada na defesa
dos princípios do SUS;
Entre suas diretrizes, destacam-se: Considerando a aprovação das Diretrizes Operacionais do Pac-
1. Estruturação e fortalecimento da atenção em PIC no SUS. to pela Saúde em 2006 – Consolidação do SUS na reunião da Comis-
2. Desenvolvimento de estratégias de qualificação em PIC para são Intergestores Tripartite realizada no dia 26 de janeiro de 2006; e
profissionais o SUS, em conformidade com os princípios e diretrizes Considerando a aprovação das Diretrizes Operacionais do Pac-
estabelecidos para educação permanente. to pela Saúde em 2006 – Consolidação do SUS, na reunião do Con-
selho Nacional de Saúde realizada no dia 9 de fevereiro de 2006,
resolve:

297
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Art. 1º - Dar divulgação ao Pacto pela Saúde 2006 – Consolida- I – O PACTO PELA VIDA:
ção do SUS, na forma do Anexo I a esta portaria. O Pacto pela Vida está constituído por um conjunto de compro-
Art 2º - Aprovar as Diretrizes Operacionais do Pacto pela Saúde missos sanitários, expressos em objetivos de processos e resultados
em 2006 – Consolidação do SUS com seus três componentes: Pac- e derivados da análise da situação de saúde do País e das priorida-
tos Pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão, na forma do Anexo II des definidas pelos governos federal, estaduais e municipais.
a esta Portaria. Significa uma ação prioritária no campo da saúde que deverá
Art. 3º - Ficam mantidas, até a assinatura do Termo de Com- ser executada com foco em resultados e com a explicitação inequí-
promisso de Gestão constante nas Diretrizes Operacionais do Pacto voca dos compromissos orçamentários e financeiros para o alcance
pela Saúde 2006, as mesmas prerrogativas e responsabilidades dos desses resultados.
municípios e estados que estão habilitados em Gestão Plena do Sis-
tema, conforme estabelecido na Norma Operacional Básica - NOB As prioridades do PACTO PELA VIDA e seus objetivos para
SUS 01/96 e na Norma Operacional da Assistência à Saúde - NOAS 2006 são:
SUS 2002.
Art. 4º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. SAÚDE DO IDOSO:
JOSÉ AGENOR ÁLVARES DA SILVA Implantar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, bus-
cando a atenção integral.
ANEXO I
PACTO PELA SAÚDE 2006 CÂNCER DE COLO DE ÚTERO E DE MAMA:
CONSOLIDAÇÃO DO SUS Contribuir para a redução da mortalidade por câncer de colo
do útero e de mama.
O Sistema Único de Saúde - SUS é uma política pública que aca-
ba de completar uma década e meia de existência. Nesses poucos MORTALIDADE INFANTIL E MATERNA:
anos, foi construído no Brasil, um sólido sistema de saúde que pres- Reduzir a mortalidade materna, infantil neonatal, infantil por
ta bons serviços à população brasileira. doença diarréica e por pneumonias.
O SUS tem uma rede de mais de 63 mil unidades ambulato-
riais e de cerca de 6 mil unidades hospitalares, com mais de 440 DOENÇAS EMERGENTES E ENDEMIAS, COM ÊNFASE NA DEN-
mil leitos. Sua produção anual é aproximadamente de 12 milhões GUE, HANSENÍASE, TUBERCULOSE, MALÁRIA E INFLUENZA
de internações hospitalares; 1 bilhão de procedimentos de atenção Fortalecer a capacidade de resposta do sistema de saúde às
primária à saúde; 150 milhões de consultas médicas; 2 milhões de doenças emergentes e endemias.
partos; 300 milhões de exames laboratoriais; 132 milhões de aten-
dimentos de alta complexidade e 14 mil transplantes de órgãos. PROMOÇÃO DA SAÚDE:
Além de ser o segundo país do mundo em número de transplan- Elaborar e implantar a Política Nacional de Promoção da Saúde,
tes, o Brasil é reconhecido internacionalmente pelo seu progresso com ênfase na adoção de hábitos saudáveis por parte da população
no atendimento universal às Doenças Sexualmente Transmissíveis/ brasileira, de forma a internalizar a responsabilidade individual da
AIDS, na implementação do Programa Nacional de Imunização e no prática de atividade física regula,r alimentação saudável e combate
atendimento relativo à Atenção Básica. O SUS é avaliado positiva- ao tabagismo.
mente pelos que o utilizam rotineiramente e está presente em todo ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE
território nacional. Consolidar e qualificar a estratégia da Saúde da Família como
Ao longo de sua história houve muitos avanços e também desa- modelo de atenção básica à saúde e como centro ordenador das
fios permanentes a superar. Isso tem exigido, dos gestores do SUS, redes de atenção à saúde do SUS.
um movimento constante de mudanças, pela via das reformas in-
crementais. Contudo, esse modelo parece ter se esgotado, de um II – O PACTO EM DEFESA DO SUS:
lado, pela dificuldade de imporem-se normas gerais a um país tão O Pacto em Defesa do SUS envolve ações concretas e articula-
grande e desigual; de outro, pela sua fixação em conteúdos norma- das pelas três instâncias federativas no sentido de reforçar o SUS
tivos de caráter técnico-processual, tratados, em geral, com deta- como política de Estado mais do que política de governos; e de de-
lhamento excessivo e enorme complexidade. fender, vigorosamente, os princípios basilares dessa política públi-
Na perspectiva de superar as dificuldades apontadas, os gesto- ca, inscritos na Constituição Federal.
res do SUS assumem o compromisso público da construção do PAC- A concretização desse Pacto passa por um movimento de re-
TO PELA SAÚDE 2006, que será anualmente revisado, com base nos politização da saúde, com uma clara estratégia de mobilização so-
princípios constitucionais do SUS, ênfase nas necessidades de saú- cial envolvendo o conjunto da sociedade brasileira, extrapolando
de da população e que implicará o exercício simultâneo de defini- os limites do setor e vinculada ao processo de instituição da saúde
ção de prioridades articuladas e integradas nos três componentes: como direito de cidadania, tendo o financiamento público da saúde
Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gestão do SUS. como um dos pontos centrais.
Estas prioridades são expressas em objetivos e metas no Termo
de Compromisso de Gestão e estão detalhadas no documento Dire-
trizes Operacionais do Pacto pela Saúde 2006

298
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

As prioridades do Pacto em Defesa do SUS são: ANEXO II


DIRETRIZES OPERACIONAIS DO PACTO PELA SAÚDE EM
IMPLEMENTAR UM PROJETO PERMANENTE DE MOBILIZAÇÃO 2006 – CONSOLIDAÇÃO DO SUS
SOCIAL COM A FINALIDADE DE:
Mostrar a saúde como direito de cidadania e o SUS como siste- Transcorridas quase duas décadas do processo de instituciona-
ma público universal garantidor desses direitos; lização do Sistema Único de Saúde, a sua implantação e implemen-
Alcançar, no curto prazo, a regulamentação da Emenda Consti- tação evoluíram muito, especialmente em relação aos processos de
tucional nº 29, pelo Congresso Nacional; descentralização e municipalização das ações e serviços de saúde.
Garantir, no longo prazo, o incremento dos recursos orçamen- O processo de descentralização ampliou o contato do Sistema com
tários e financeiros para a saúde. a realidade social, política e administrativa do país e com suas es-
Aprovar o orçamento do SUS, composto pelos orçamentos das pecificidades regionais, tornando-se mais complexo e colocando os
três esferas de gestão, explicitando o compromisso de cada uma gestores a frente de desafios que busquem superar a fragmentação
delas. das políticas e programas de saúde através da organização de uma
ELABORAR E DIVULGAR A CARTA DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS rede regionalizada e hierarquizada de ações e serviços e da qualifi-
DO SUS cação da gestão.
Frente a esta necessidade, o Ministério da Saúde, o Conselho
III – O PACTO DE GESTÃO DO SUS Nacional de Secretários de Saúde - CONASS e o Conselho Nacional
O Pacto de Gestão estabelece as responsabilidades claras de de Secretários Municipais de Saúde - CONASEMS, pactuaram res-
cada ente federado de forma a diminuir as competências concor- ponsabilidades entre os três gestores do SUS, no campo da gestão
rentes e a tornar mais claro quem deve fazer o quê, contribuindo, do Sistema e da atenção à saúde. O documento a seguir contem-
assim, para o fortalecimento da gestão compartilhada e solidária pla o pacto firmado entre os três gestores do SUS a partir de uma
do SUS. unidade de princípios que, guardando coerência com a diversidade
Esse Pacto parte de uma constatação indiscutível: o Brasil é um
operativa, respeita as diferenças loco-regionais, agrega os pactos
país continental e com muitas diferenças e iniqüidades regionais.
anteriormente existentes, reforça a organização das regiões sanitá-
Mais do que definir diretrizes nacionais é necessário avançar na re-
rias instituindo mecanismos de co-gestão e planejamento regional,
gionalização e descentralização do SUS, a partir de uma unidade de
fortalece os espaços e mecanismos de controle social, qualifica o
princípios e uma diversidade operativa que respeite as singularida-
acesso da população a atenção integral à saúde, redefine os ins-
des regionais.
trumentos de regulação, programação e avaliação, valoriza a macro
Esse Pacto radicaliza a descentralização de atribuições do Mi-
função de cooperação técnica entre os gestores e propõe um finan-
nistério da Saúde para os estados, e para os municípios, promo-
vendo um choque de descentralização, acompanhado da desburo- ciamento tripartite que estimula critérios de equidade nas transfe-
cratização dos processos normativos. Reforça a territorialização da rências fundo a fundo.
saúde como base para organização dos sistemas, estruturando as A implantação desse Pacto, nas suas três dimensões - Pacto
regiões sanitárias e instituindo colegiados de gestão regional. pela Vida, Pacto de Gestão e Pacto em Defesa do SUS - possibilita a
Reitera a importância da participação e do controle social com efetivação de acordos entre as três esferas de gestão do SUS para
o compromisso de apoio à sua qualificação. a reforma de aspectos institucionais vigentes, promovendo inova-
Explicita as diretrizes para o sistema de financiamento público ções nos processos e instrumentos de gestão que visam alcançar
tripartite: busca critérios de alocação eqüitativa dos recursos; refor- maior efetividade, eficiência e qualidade de suas respostas e ao
ça os mecanismos de transferência fundo a fundo entre gestores; mesmo tempo, redefine responsabilidades coletivas por resultados
integra em grandes blocos o financiamento federal e estabelece re- sanitários em função das necessidades de saúde da população e na
lações contratuais entre os entes federativos. busca da equidade social.
As prioridades do Pacto de Gestão são:
I – PACTO PELA VIDA
DEFINIR DE FORMA INEQUÍVOCA A RESPONSABILIDADE SANI- O Pacto pela Vida é o compromisso entre os gestores do SUS
TÁRIA DE CADA INSTÂNCIA GESTORA DO SUS: federal, estadual e em torno de prioridades que apresentam impacto sobre a situação
municipal, superando o atual processo de habilitação. de saúde da população brasileira.
ESTABELECER AS DIRETRIZES PARA A GESTÃO DO SUS, com ên- A definição de prioridades deve ser estabelecida através de
fase na Descentralização; Regionalização; Financiamento; Progra- metas nacionais, estaduais, regionais ou municipais. Prioridades es-
mação Pactuada e Integrada; Regulação; Participação e Controle taduais ou regionais podem ser agregadas às prioridades nacionais,
Social; Planejamento; Gestão do Trabalho e Educação na Saúde. conforme pactuação local.
Este PACTO PELA SAÚDE 2006 aprovado pelos gestores do SUS Os estados/região/município devem pactuar as ações necessá-
na reunião da Comissão Intergestores Tripartite do dia 26 de janeiro rias para o alcance das metas e dos objetivos propostos.
de 2006, é abaixo assinado pelo Ministro da Saúde, o Presidente do São seis as prioridades pactuadas:
Conselho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS e o Presidente Saúde do idoso;
do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde - CONA- Controle do câncer de colo de útero e de mama;
SEMS e será operacionalizado por meio do documento de Diretrizes Redução da mortalidade infantil e materna;
Operacionais do Pacto pela Saúde 2006. Fortalecimento da capacidade de respostas às doenças emer-
Ministério da Saúde gentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculo-
Conselho Nacional de Secretários de Saúde-CONASS se, malária e influenza;
Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde-CONA- Promoção da Saúde;
SEMS Fortalecimento da Atenção Básica.

299
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

A – SAÚDE DO IDOSO Ampliar para 60% a cobertura de mamografia, conforme pro-


Para efeitos desse Pacto será considerada idosa a pessoa com tocolo.
60 anos ou mais. Realizar a punção em 100% dos casos necessários, conforme
1 - O trabalho nesta área deve seguir as seguintes diretrizes: protocolo.
Promoção do envelhecimento ativo e saudável; C – REDUÇÃO DA MORTALIDADE MATERNA E INFANTIL:
Atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa; 1 - Objetivos e metas para a redução da mortalidade infantil
Estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da Reduzir a mortalidade neonatal em 5%, em 2006.
atenção; Reduzir em 50% os óbitos por doença diarréica e 20% por
A implantação de serviços de atenção domiciliar; pneumonia, em 2006.
O acolhimento preferencial em unidades de saúde, respeitado Apoiar a elaboração de propostas de intervenção para a quali-
o critério de risco; ficação da atenção as doenças prevalentes.
Provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da Criação de comitês de vigilância do óbito em 80% dos municí-
atenção à saúde da pessoa idosa; pios com população acima de 80.000 habitantes, em 2006.
Fortalecimento da participação social; 2 - Objetivos e metas para a redução da mortalidade materna
Formação e educação permanente dos profissionais de saúde Reduzir em 5% a razão de mortalidade materna, em 2006.
do SUS na área de saúde da pessoa idosa; Garantir insumos e medicamentos para tratamento das síndro-
Divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da mes hipertensivas no parto.
Pessoa Idosa para profissionais de saúde, gestores e usuários do Qualificar os pontos de distribuição de sangue para que aten-
SUS; dam as necessidades das maternidades e outros locais de parto.
Promoção de cooperação nacional e internacional das experi- D – FORTALECIMENTO DA CAPACIDADE DE RESPOSTAS ÀS DO-
ências na atenção à saúde da pessoa idosa; ENÇAS EMERGENTES E ENDEMIAS, COM ÊNFASE NA DENGUE, HAN-
Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas. SENIASE, TUBERCULOSE, MALARIA E INFLUENZA.
2 - Ações estratégicas:
Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa - Instrumento de cida- Objetivos e metas para o Controle da Dengue
dania com informações relevantes sobre a saúde da pessoa idosa, Plano de Contingência para atenção aos pacientes, elaborado e
possibilitando um melhor acompanhamento por parte dos profis- implantado nos municípios prioritários, em 2006;
sionais de saúde. Reduzir a menos de 1% a infestação predial por Aedes aegypti
Manual de Atenção Básica e Saúde para a Pessoa Idosa - Para em 30% dos municípios prioritários ate 2006;
indução de ações de saúde, tendo por referência as diretrizes conti- 2 - Meta para a Eliminação da Hanseníase:
das na Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Atingir o patamar de eliminação enquanto problema de saúde
Programa de Educação Permanente à Distância - Implementar pública, ou seja, menos de 1 caso por 10.000 habitantes em todos
programa de educação permanente na área do envelhecimento e os municípios prioritários, em 2006.
saúde do idoso, voltado para profissionais que trabalham na rede 3 - Metas para o Controle da Tuberculose:
de atenção básica em saúde, contemplando os conteúdos específi- Atingir pelo menos 85% de cura de casos novos de tuberculose
cos das repercussões do processo de envelhecimento populacional bacilífera diagnosticados a cada ano;
para a saúde individual e para a gestão dos serviços de saúde. 4- Meta para o Controle da Malária
Acolhimento - Reorganizar o processo de acolhimento à pessoa Reduzir em 15% a Incidência Parasitária Anual, na região da
idosa nas unidades de saúde, como uma das estratégias de enfren- Amazônia Legal, em 2006;
tamento das dificuldades atuais de acesso. 5 – Objetivo para o controle da Influenza
Assistência Farmacêutica - Desenvolver ações que visem quali- Implantar plano de contingência, unidades sentinelas e o siste-
ficar a dispensação e o acesso da população idosa. ma de informação - SIVEP-GRIPE, em 2006.
Atenção Diferenciada na Internação - Instituir avaliação geri- E – PROMOÇÃO DA SAÚDE
átrica global realizada por equipe multidisciplinar, a toda pessoa 1 - Objetivos:
idosa internada em hospital que tenha aderido ao Programa de Elaborar e implementar uma Política de Promoção da Saúde,
Atenção Domiciliar. de responsabilidade dos três gestores;
Atenção domiciliar – Instituir esta modalidade de prestação de Enfatizar a mudança de comportamento da população brasilei-
serviços ao idoso, valorizando o efeito favorável do ambiente fami- ra de forma a internalizar a responsabilidade individual da prática
liar no processo de recuperação de pacientes e os benefícios adicio- de atividade física regular, alimentação adequada e saudável e com-
nais para o cidadão e o sistema de saúde. bate ao tabagismo;
B– CONTROLE DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO E DE MAMA: Articular e promover os diversos programas de promoção de
1 - Objetivos e metas para o Controle do Câncer de Colo de atividade física já existentes e apoiar a criação de outros;
Útero: Promover medidas concretas pelo hábito da alimentação sau-
Cobertura de 80% para o exame preventivo do câncer do colo dável;
de útero, conforme protocolo, em 2006. Elaborar e pactuar a Política Nacional de Promoção da Saúde
Incentivo da realização da cirurgia de alta freqüência técnica que contemple as especificidades próprias dos estados e municí-
que utiliza um instrumental especial para a retirada de lesões ou pios devendo iniciar sua implementação em 2006;
parte do colo uterino comprometidas (com lesões intra-epiteliais F – FORTALECIMENTO DA ATENÇÃO BÁSICA
de alto grau) com menor dano possível, que pode ser realizada em 1 - Objetivos
ambulatório, com pagamento diferenciado, em 2006.
2 – Metas para o Controle do Câncer de mama:

300
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Assumir a estratégia de saúde da família como estratégia prio- Regulamentação da EC nº 29 pelo Congresso Nacional, com
ritária para o fortalecimento da atenção básica, devendo seu desen- aprovação do PL nº 01/03, já aprovado e aprimorado em três co-
volvimento considerar as diferenças loco-regionais. missões da Câmara dos Deputados;
Desenvolver ações de qualificação dos profissionais da atenção Aprovação do orçamento do SUS, composto pelos orçamen-
básica por meio de estratégias de educação permanente e de ofer- tos das três esferas de gestão, explicitando o compromisso de cada
ta de cursos de especialização e residência multiprofissional e em uma delas em ações e serviços de saúde de acordo com a Consti-
medicina da família. tuição Federal.
Consolidar e qualificar a estratégia de saúde da família nos pe-
quenos e médios municípios. III - PACTO DE GESTÃO
Ampliar e qualificar a estratégia de saúde da família nos gran- Estabelece Diretrizes para a gestão do sistema nos aspectos da
des centros urbanos. Descentralização; Regionalização; Financiamento; Planejamento;
Garantir a infra-estrutura necessária ao funcionamento das Programação Pactuada e Integrada – PPI; Regulação; Participação
Unidades Básicas de Saúde, dotando-as de recursos materiais, equi- Social e Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.
pamentos e insumos suficientes para o conjunto de ações propos-
tas para esses serviços. DIRETRIZES PARA A GESTÃO DO SUS
Garantir o financiamento da Atenção Básica como responsabi-
lidade das três esferas de gestão do SUS. Premissas da descentralização
Aprimorar a inserção dos profissionais da Atenção Básica nas Buscando aprofundar o processo de descentralização, com ên-
redes locais de saúde, por meio de vínculos de trabalho que favore- fase numa descentralização compartilhada, são fixadas as seguintes
çam o provimento e fixação dos profissionais. premissas, que devem orientar este processo:
Implantar o processo de monitoramento e avaliação da Aten- Cabe ao Ministério da Saúde a proposição de políticas, partici-
ção Básica nas três esferas de governo, com vistas à qualificação da pação no co-financiamento, cooperação técnica, avaliação, regula-
gestão descentralizada. ção, controle e fiscalização, além da mediação de conflitos;
Apoiar diferentes modos de organização e fortalecimento da Descentralização dos processos administrativos relativos à ges-
Atenção Básica que considere os princípios da estratégia de Saúde tão para as Comissões Intergestores Bipartite;
da Família, respeitando as especificidades loco-regionais. As Comissões Intergestores Bipartite são instâncias de pactua-
ção e deliberação para a realização dos pactos intraestaduais e a de-
II - PACTO EM DEFESA DO SUS finição de modelos organizacionais, a partir de diretrizes e normas
A – DIRETRIZES pactuadas na Comissão Intergestores Tripartite;
O trabalho dos gestores das três esferas de governo e dos ou- As deliberações das Comissões Intergestores Bipartite e Tripar-
tros atores envolvidos dentro deste Pacto deve considerar as se- tite devem ser por consenso;
guintes diretrizes: A Comissão Intergestores Tripartite e o Ministério da Saúde
Expressar os compromissos entre os gestores do SUS com a promoverão e apoiarão processo de qualificação permanente para
consolidação da Reforma Sanitária Brasileira, explicitada na defesa as Comissões Intergestores Bipartite;
dos princípios do Sistema Único de Saúde estabelecidos na Consti- O detalhamento deste processo, no que se refere à descentra-
tuição Federal. lização de ações realizadas hoje pelo Ministério da Saúde, será ob-
Desenvolver e articular ações, no seu âmbito de competência jeto de portaria específica.
e em conjunto com os demais gestores, que visem qualificar e asse-
gurar o Sistema Único de Saúde como política pública. Regionalização
2 - O Pacto em Defesa do SUS deve se firmar através de inicia- A Regionalização é uma diretriz do Sistema Único de Saúde e
tivas que busquem: um eixo estruturante do Pacto de Gestão e deve orientar a descen-
A repolitização da saúde, como um movimento que retoma a tralização das ações e serviços de saúde e os processos de negocia-
Reforma Sanitária Brasileira aproximando-a dos desafios atuais do ção e pactuação entre os gestores.
SUS; Os principais instrumentos de planejamento da Regionalização
A Promoção da Cidadania como estratégia de mobilização so- são o Plano Diretor de Regionalização – PDR, o Plano Diretor de In-
cial tendo a questão da saúde como um direito; vestimento – PDI e a Programação Pactuada e Integrada da Atenção
A garantia de financiamento de acordo com as necessidades em Saúde – PPI, detalhados no corpo deste documento.
do Sistema; O PDR deverá expressar o desenho final do processo de identi-
3 – Ações do Pacto em Defesa do SUS: ficação e reconhecimento das regiões de saúde, em suas diferentes
As ações do Pacto em Defesa do SUS devem contemplar: formas, em cada estado e no Distrito Federal, objetivando a garan-
Articulação e apoio à mobilização social pela promoção e de- tia do acesso, a promoção da equidade, a garantia da integralidade
senvolvimento da cidadania, tendo a questão da saúde como um da atenção, a qualificação do processo de descentralização e a ra-
direito; cionalização de gastos e otimização de recursos.
Estabelecimento de diálogo com a sociedade, além dos limites Para auxiliar na função de coordenação do processo de regio-
institucionais do SUS; nalização, o PDR deverá conter os desenhos das redes regionaliza-
Ampliação e fortalecimento das relações com os movimentos das de atenção à saúde, organizadas dentro dos territórios das re-
sociais, em especial os que lutam pelos direitos da saúde e cida- giões e macrorregiões de saúde, em articulação com o processo da
dania; Programação Pactuada Integrada.
Elaboração e publicação da Carta dos Direitos dos Usuários do
SUS;

301
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

O PDI deve expressar os recursos de investimentos para aten- Quando a suficiência em atenção básica e parte da média com-
der as necessidades pactuadas no processo de planejamento re- plexidade não forem alcançadas deverá ser considerada no planeja-
gional e estadual. No âmbito regional deve refletir as necessidades mento regional a estratégia para o seu estabelecimento, junto com
para se alcançar a suficiência na atenção básica e parte da média a definição dos investimentos, quando necessário;
complexidade da assistência, conforme desenho regional e na ma- O planejamento regional deve considerar os parâmetros de
crorregião no que se refere à alta complexidade. Deve contemplar incorporação tecnológica que compatibilizem economia de escala
também as necessidades da área da vigilância em saúde e ser de- com eqüidade no acesso;
senvolvido de forma articulada com o processo da PPI e do PDR. Para garantir a atenção na alta complexidade e em parte da
2.1- Objetivos da Regionalização: média, as Regiões devem pactuar entre si arranjos inter-regionais,
Garantir acesso, resolutividade e qualidade às ações e serviços com agregação de mais de uma Região em uma macrorregião;
de saúde cuja complexidade e contingente populacional transcenda O ponto de corte da média complexidade que deve estar na
a escala local/municipal; Região ou na macrorregião deve ser pactuado na CIB, a partir da re-
Garantir o direito à saúde, reduzir desigualdades sociais e ter- alidade de cada estado. Em alguns estados com mais adensamento
ritoriais e promover a eqüidade, ampliando a visão nacional dos tecnológico, a alta complexidade pode estar contemplada dentro
problemas, associada à capacidade de diagnóstico e decisão loco- de uma Região.
-regional, que possibilite os meios adequados para a redução das
desigualdades no acesso às ações e serviços de saúde existentes As regiões podem ter os seguintes formatos:
no país; Regiões intraestaduais, compostas por mais de um município,
Garantir a integralidade na atenção a saúde, ampliando o con- dentro de um mesmo estado;
ceito de cuidado à saúde no processo de reordenamento das ações Regiões Intramunicipais, organizadas dentro de um mesmo
de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação com garantia município de grande extensão territorial e densidade populacional;
de acesso a todos os níveis de complexidade do sistema; Regiões Interestaduais, conformadas a partir de municípios li-
Potencializar o processo de descentralização, fortalecendo es- mítrofes em diferentes estados;
tados e municípios para exercerem papel de gestores e para que Regiões Fronteiriças, conformadas a partir de municípios limí-
as demandas dos diferentes interesses loco-regionais possam ser trofes com países vizinhos.
organizadas e expressadas na região; Nos casos de regiões fronteiriças o Ministério da Saúde deve
Racionalizar os gastos e otimizar os recursos, possibilitando envidar esforços no sentido de promover articulação entre os paí-
ganho em escala nas ações e serviços de saúde de abrangência re- ses e órgãos envolvidos, na perspectiva de implementação do siste-
gional. ma de saúde e conseqüente organização da atenção nos municípios
fronteiriços, coordenando e fomentando a constituição dessas Re-
- Regiões de Saúde giões e participando do colegiado de gestão regional.
As Regiões de Saúde são recortes territoriais inseridos em um - Mecanismos de Gestão Regional
espaço geográfico contínuo, identificadas pelos gestores municipais Para qualificar o processo de regionalização, buscando a garan-
e estaduais a partir de identidades culturais, econômicas e sociais, tia e o aprimoramento dos princípios do SUS, os gestores de saúde
de redes de comunicação e infra-estrutura de transportes compar- da Região deverão constituir um espaço permanente de pactuação
tilhados do território; e co-gestão solidária e cooperativa através de um Colegiado de Ges-
A Região de Saúde deve organizar a rede de ações e serviços tão Regional. A denominação e o funcionamento do Colegiado de-
de saúde a fim de assegurar o cumprimento dos princípios consti- vem ser acordados na CIB;
tucionais de universalidade do acesso, eqüidade e integralidade do O Colegiado de Gestão Regional se constitui num espaço de de-
cuidado; cisão através da identificação, definição de prioridades e de pactu-
A organização da Região de Saúde deve favorecer a ação coo- ação de soluções para a organização de uma rede regional de ações
perativa e solidária entre os gestores e o fortalecimento do controle e serviços de atenção à saúde, integrada e resolutiva;
social; O Colegiado deve ser formado pelos gestores municipais de
Para a constituição de uma rede de atenção à saúde regionali- saúde do conjunto de municípios e por representantes do(s) ges-
zada em uma determinada região, é necessário a pactuação entre tor(es) estadual(ais), sendo as suas decisões sempre por consenso,
todos os gestores envolvidos, do conjunto de responsabilidades pressupondo o envolvimento e comprometimento do conjunto de
não compartilhadas e das ações complementares; gestores com os compromissos pactuados.
O conjunto de responsabilidades não compartilhadas se refere Nos casos onde as CIB regionais estão constituídas por repre-
à atenção básica e às ações básicas de vigilância em saúde, que de- sentação e não for possível a imediata incorporação de todos os
verão ser assumidas por cada município; municípios da Região de Saúde deve ser pactuado um cronograma
As ações complementares e os meios necessários para viabili- de adequação, no menor prazo possível, para a inclusão de todos os
zá-las deverão ser compartilhados e integrados a fim de garantir a municípios nos respectivos colegiados regionais.
resolutividade e a integralidade de acesso; O Colegiado deve instituir processo de planejamento regional,
Os estados e a união devem apoiar os municípios para que es- que defina as prioridades, as responsabilidades de cada ente, as ba-
tes assumam o conjunto de responsabilidades; ses para a programação pactuada integrada da atenção a saúde, o
O corte no nível assistencial para delimitação de uma Região de desenho do processo regulatório, as estratégias de qualificação do
Saúde deve estabelecer critérios que propiciem certo grau de reso- controle social, as linhas de investimento e o apoio para o processo
lutividade àquele território, como suficiência em atenção básica e de planejamento local.
parte da média complexidade;

302
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

O planejamento regional, mais que uma exigência formal, de- Estimular estratégias de qualificação do controle social
verá expressar as responsabilidades dos gestores com a saúde da Apoiar o processo de planejamento local
população do território e o conjunto de objetivos e ações que con- Constituir um processo dinâmico de avaliação e monitoramen-
tribuirão para a garantia do acesso e da integralidade da atenção, to regional
devendo as prioridades e responsabilidades definidas regionalmen- - Reconhecimento das Regiões
te estar refletidas no plano de saúde de cada município e do estado; As Regiões Intramunicipais deverão ser reconhecidas como tal,
Os colegiados de gestão regional deverão ser apoiados através não precisando ser homologadas pelas Comissões Intergestores.
de câmaras técnicas permanentes que subsidiarão com informa- As Regiões Intraestaduais deverão ser reconhecidas nas Comis-
ções e análises relevantes. sões Intergestores Bipartite e encaminhadas para conhecimento e
- Etapas do Processo de Construção da Regionalização acompanhamento do MS.
- Critérios para a composição da Região de Saúde, expressa no As Regiões Interestaduais deverão ser reconhecidas nas res-
PDR: pectivas Comissões Intergestores Bipartite e encaminhadas para
Contigüidade entre os municípios; homologação da Comissão Intergestores Tripartite.
Respeito à identidade expressa no cotidiano social, econômico As Regiões Fronteiriças deverão ser reconhecidas nas respecti-
e cultural; vas Comissões Intergestores Bipartite e encaminhadas para homo-
Existência de infra-estrutura de transportes e de redes de co- logação na Comissão Intergestores Tripartite.
municação, que permita o trânsito das pessoas entre os municípios; O desenho das Regiões intra e interestaduais deve ser subme-
Existência de fluxos assistenciais que devem ser alterados, se tida a aprovação pelos respectivos Conselhos Estaduais de Saúde.
necessário, para a organização da rede de atenção à saúde; Financiamento do Sistema Único de Saúde
Considerar a rede de ações e serviços de saúde, onde: 3.1 - São princípios gerais do financiamento para o Sistema Úni-
Todos os municípios se responsabilizam pela atenção básica e co de Saúde:
pelas ações básicas de vigilância em saúde; Responsabilidade das três esferas de gestão – União, Estados e
O desenho da região propicia relativo grau de resolutividade Municípios pelo financiamento do Sistema Único de Saúde;
àquele território, como a suficiência em Atenção Básica e parte da Redução das iniqüidades macrorregionais, estaduais e regio-
Média Complexidade. nais, a ser contemplada na metodologia de alocação de recursos,
A suficiência está estabelecida ou a estratégia para alcançá-la considerando também as dimensões étnico-racial e social;
está explicitada no planejamento regional, contendo, se necessário, Repasse fundo a fundo, definido como modalidade preferen-
a definição dos investimentos. cial de transferência de recursos entre os gestores;
O desenho considera os parâmetros de incorporação tecno- Financiamento de custeio com recursos federais constituído,
lógica que compatibilizem economia de escala com eqüidade no organizados e transferidos em blocos de recursos;
acesso. O uso dos recursos federais para o custeio fica restrito a cada
O desenho garante a integralidade da atenção e para isso as bloco, atendendo as especificidades previstas nos mesmos, confor-
Regiões devem pactuar entre si arranjos inter-regionais, se neces- me regulamentação específica;
sário com agregação de mais de uma região em uma macrorregião; As bases de cálculo que formam cada Bloco e os montantes fi-
o ponto de corte de média e alta-complexidade na região ou na nanceiros destinados para os Estados, Municípios e Distrito Federal
macroregião deve ser pactuado na CIB, a partir da realidade de cada devem compor memórias de cálculo, para fins de histórico e moni-
estado. toramento.
- Constituição, Organização e Funcionamento do Colegiado de - Os blocos de financiamento para o custeio são:
Gestão Regional: Atenção básica
A constituição do colegiado de gestão regional deve assegurar Atenção de média e alta complexidade
a presença de todos os gestores de saúde dos municípios que com- Vigilância em Saúde
põem a Região e da representação estadual. Assistência Farmacêutica
Nas CIB regionais constituídas por representação, quando não Gestão do SUS
for possível a imediata incorporação de todos os gestores de saúde
dos municípios da Região de saúde, deve ser pactuado um crono- Bloco de financiamento para a Atenção Básica
grama de adequação, com o menor prazo possível, para a inclusão O financiamento da Atenção Básica é de responsabilidade das
de todos os gestores nos respectivos colegiados de gestão regio- três esferas de gestão do SUS, sendo que os recursos federais com-
nais; porão o Bloco Financeiro da Atenção Básica dividido em dois com-
Constituir uma estrutura de apoio ao colegiado, através de câ- ponentes: Piso da Atenção Básica e Piso da Atenção Básica Variável
mara técnica e eventualmente, grupos de trabalho formados com e seus valores serão estabelecidos em Portaria específica, com me-
técnicos dos municípios e do estado; mórias de cálculo anexas.
Estabelecer uma agenda regular de reuniões; O Piso de Atenção Básica - PAB consiste em um montante de
O funcionamento do Colegiado deve ser organizado de modo a recursos financeiros, que agregam as estratégias destinadas ao cus-
exercer as funções de: teio de ações de atenção básica à saúde;
Instituir um processo dinâmico de planejamento regional Os recursos financeiros do PAB serão transferidos mensalmen-
Atualizar e acompanhar a programação pactuada integrada de te, de forma regular e automática, do Fundo Nacional de Saúde aos
atenção em saúde Fundos de Saúde dos Municípios e do Distrito Federal.
Desenhar o processo regulatório, com definição de fluxos e O Piso da Atenção Básica Variável - PAB Variável consiste em um
protocolos montante financeiro destinado ao custeio de estratégias específicas
Priorizar linhas de investimento desenvolvidas no âmbito da Atenção Básica em Saúde.

303
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

O PAB Variável passa a ser composto pelo financiamento das O Limite Financeiro de Vigilância em Saúde será transferido
seguintes estratégias: em parcelas mensais e o valor da transferência mensal para cada
Saúde da Família; um dos Estados, Municípios e Distrito Federal, bem como o Limite
Agentes Comunitários de Saúde; Financeiro respectivo será estabelecido em Portaria específica e de-
Saúde Bucal; talhará os diferentes componentes que o formam, com memórias
Compensação de especificidades regionais de cálculo anexas.
Fator de incentivo da Atenção Básica aos Povos Indígenas Comporão ainda, o bloco do financiamento da Vigilância em
Incentivo à Saúde no Sistema Penitenciário Saúde – Sub-bloco Vigilância Epidemiológica, os recursos que se
Os recursos do PAB Variável serão transferidos ao Município destinam às seguintes finalidades, com repasses específicos:
que aderir e implementar as estratégias específicas a que se destina Fortalecimento da Gestão da Vigilância em Saúde em Estados e
e a utilização desses recursos deve estar definida no Plano Munici- Municípios (VIGISUS II)
pal de Saúde; Campanhas de Vacinação
O PAB Variável da Assistência Farmacêutica e da Vigilância em Incentivo do Programa DST/AIDS
Saúde passam a compor os seus Blocos de Financiamento respec- Os recursos alocados tratados pela Portaria MS/GM nº
tivos. 1349/2002, deverão ser incorporados ao Limite Financeiro de Vigi-
Compensação de Especificidades Regionais é um montante fi- lância em Saúde do Município quando o mesmo comprovar a efeti-
nanceiro igual a 5% do valor mínimo do PAB fixo multiplicado pela va contratação dos agentes de campo.
população do Estado, para que as CIBs definam a utilização do re- No Componente da Vigilância Sanitária, os recursos do Termo
curso de acordo com as especificidades estaduais, podendo incluir de Ajuste e Metas – TAM, destinados e não transferidos aos estados
sazonalidade, migrações, dificuldade de fixação de profissionais, e municípios, nos casos de existência de saldo superior a 40% dos
IDH, indicadores de resultados. Os critérios definidos devem ser in- recursos repassados no período de um semestre, constituem um
formados ao plenário da CIT. Fundo de Compensação em VISA, administrado pela ANVISA e des-
b) Bloco de financiamento para a Atenção de Média e Alta tinado ao financiamento de gestão e descentralização da Vigilância
Complexidade Sanitária.
Os recursos correspondentes ao financiamento dos procedi- Em Estados onde o valor per cápita que compõe o TAM não
mentos relativos à média e alta complexidade em saúde compõem atinge o teto orçamentário mínimo daquele Estado, a União asse-
o Limite Financeiro da Média e Alta Complexidade Ambulatorial e gurará recurso financeiro para compor o Piso Estadual de Vigilância
Hospitalar do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios. Sanitária – PEVISA.
Os recursos destinados ao custeio dos procedimentos pagos d) Bloco de financiamento para a Assistência Farmacêutica
atualmente através do Fundo de Ações Estratégicas e Compensa- A Assistência Farmacêutica será financiada pelos três gestores
ção – FAEC serão incorporados ao Limite Financeiro de cada Esta- do SUS devendo agregar a aquisição de medicamentos e insumos e
do, Município e do Distrito Federal, conforme pactuação entre os a organização das ações de assistência farmacêutica necessárias, de
gestores. acordo com a organização de serviços de saúde.
O Fundo de Ações Estratégicas e Compensação – FAEC se des- O Bloco de financiamento da Assistência Farmacêutica se orga-
tina, assim, ao custeio de procedimentos, conforme detalhado a niza em três componentes: Básico, Estratégico e Medicamentos de
seguir: Dispensação Excepcional.
Procedimentos regulados pela CNRAC – Central Nacional de O Componente Básico da Assistência Farmacêutica consiste em
Regulação da Alta Complexidade; financiamento para ações de assistência farmacêutica na atenção
Transplantes; básica em saúde e para agravos e programas de saúde específicos,
Ações Estratégicas Emergenciais, de caráter temporário, imple- inseridos na rede de cuidados da atenção básica, sendo de respon-
mentadas com prazo pré-definido; sabilidade dos três gestores do SUS.
Novos procedimentos: cobertura financeira de aproximada- O Componente Básico é composto de uma Parte Fixa e de uma
mente seis meses, quando da inclusão de novos procedimentos, Parte Variável, sendo:
sem correlação à tabela vigente, até a formação de série histórica Parte Fixa: valor com base per capita para ações de assistência
para a devida agregação ao MAC. farmacêutica para a Atenção Básica, transferido Municípios, Distrito
c) Bloco de financiamento para a Vigilância em Saúde Federal e Estados, conforme pactuação nas CIB e com contrapartida
Os recursos financeiros correspondentes às ações de Vigilân- financeira dos estados e dos municípios.
cia em Saúde comporão o Limite Financeiro de Vigilância em Saú- Parte Variável: valor com base per capita para ações de assis-
de dos Estados, Municípios e do Distrito Federal e representam o tência farmacêutica dos Programas de Hipertensão e Diabetes, ex-
agrupamento das ações da Vigilância Epidemiológica, Ambiental e ceto insulina; Asma e Rinite; Saúde Mental; Saúde da Mulher; Ali-
Sanitária; mentação e Nutrição e Combate ao Tabagismo.
O Limite Financeiro da Vigilância em Saúde é composto por A parte variável do Componente Básico será transferida ao mu-
dois componentes: da Vigilância Epidemiológica e Ambiental em nicípio ou estado, conforme pactuação na CIB, à medida que este
Saúde e o componente da Vigilância Sanitária em Saúde; implementa e organiza os serviços previstos pelos Programas espe-
O financiamento para as ações de vigilância sanitária deve cíficos.
consolidar a reversão do modelo de pagamento por procedimen- O Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica con-
to, oferecendo cobertura para o custeio de ações coletivas visando siste em financiamento para ações de assistência farmacêutica de
garantir o controle de riscos sanitários inerentes ao objeto de ação, programas estratégicos.
avançando em ações de regulação, controle e avaliação de produtos
e serviços associados ao conjunto das atividades.

304
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

O financiamento e o fornecimento de medicamentos, produtos Os investimentos deverão priorizar a recuperação, a re-ade-


e insumos para os Programas Estratégicos são de responsabilidade quação e a expansão da rede física de saúde e a constituição dos
do Ministério da Saúde e reúne: espaços de regulação.
Controle de Endemias: Tuberculose, Hanseníase, Malária e Os projetos de investimento apresentados para o Ministério da
Leischmaniose, Chagas e outras doenças endêmicas de abrangên- Saúde deverão ser aprovados nos respectivos Conselhos de Saúde e
cia nacional ou regional; na CIB, devendo refletir uma prioridade regional.
Programa de DST/AIDS (anti-retrovirais); São eixos prioritários para aplicação de recursos de investimen-
Programa Nacional do Sangue e Hemoderivados; tos:
Imunobiológicos; Estímulo à Regionalização - Deverão ser priorizados projetos de
Insulina; investimentos que fortaleçam a regionalização do SUS, com base
O Componente Medicamentos de Dispensação Excepcional nas estratégicas nacionais e estaduais, considerando os PDI (Plano
consiste em financiamento para aquisição e distribuição de medica- de Desenvolvimento Integrado) atualizados, o mapeamento atuali-
mentos de dispensação excepcional, para tratamento de patologias zado da distribuição e oferta de serviços de saúde em cada espaço
que compõem o Grupo 36 – Medicamentos da Tabela Descritiva do regional e parâmetros de incorporação tecnológica que compati-
SIA/SUS. bilizem economia de escala e de escopo com eqüidade no acesso.
A responsabilidade pelo financiamento e aquisição dos medi- Investimentos para a Atenção Básica - recursos para investi-
camentos de dispensação excepcional é do Ministério da Saúde e mentos na rede básica de serviços, destinados conforme disponi-
dos Estados, conforme pactuação e a dispensação, responsabilida- bilidade orçamentária, transferidos fundo a fundo para municípios
de do Estado. que apresentarem projetos selecionados de acordo com critérios
O Ministério da Saúde repassará aos Estados, mensalmente, pactuados na Comissão Intergestores Tripartite.
valores financeiros apurados em encontro de contas trimestrais, 4 – Planejamento no SUS
de acordo com as informações encaminhadas pelos Estados, com 4.1 – O trabalho com o Planejamento no SUS deve seguir as
base nas emissões das Autorizações para Pagamento de Alto Custo seguintes diretrizes:
– APAC. O processo de planejamento no âmbito do SUS deve ser de-
O Componente de Medicamentos de Dispensação Excepcional senvolvido de forma articulada, integrada e solidária entre as três
será readequado através de pactuação entre os gestores do SUS, esferas de gestão. Essa forma de atuação representará o Sistema
das diretrizes para definição de política para medicamentos de dis- de Planejamento do Sistema Único de Saúde baseado nas respon-
pensação excepcional. sabilidades de cada esfera de gestão, com definição de objetivos e
As Diretrizes a serem pactuadas na CIT, deverão nortear-se pe- conferindo direcionalidade ao processo de gestão do SUS, compre-
las seguintes proposições: endendo nesse sistema o monitoramento e avaliação.
Definição de critérios para inclusão e exclusão de medicamen- Este sistema de planejamento pressupõe que cada esfera de
tos e CID na Tabela de Procedimentos, com base nos protocolos gestão realize o seu planejamento, articulando-se de forma a forta-
clínicos e nas diretrizes terapêuticas. lecer e consolidar os objetivos e diretrizes do SUS, contemplando as
Definição de percentual para o co-financiamento entre gestor peculiaridades, necessidades e realidades de saúde locorregionais.
federal e gestor estadual; Como parte integrante do ciclo de gestão, o sistema de planeja-
Revisão periódica de valores da tabela; mento buscará, de forma tripartite, a pactuação de bases funcionais
Forma de aquisição e execução financeira, considerando-se os do planejamento, monitoramento e avaliação do SUS, bem como
princípios da descentralização e economia de escala. promoverá a participação social e a integração intra e intersetorial,
e) Bloco de financiamento para a Gestão do Sistema Único de considerando os determinantes e condicionantes de saúde.
Saúde No cumprimento da responsabilidade de coordenar o processo
O financiamento para a gestão destina-se ao custeio de ações de planejamento se levará em conta as diversidades existentes nas
específicas relacionadas com a organização dos serviços de saúde, três esferas de governo, de modo a contribuir para a consolidação
acesso da população e aplicação dos recursos financeiros do SUS. do SUS e para a resolubilidade e qualidade, tanto da sua gestão,
O financiamento deverá apoiar iniciativas de fortalecimento da quanto das ações e serviços prestados à população brasileira.
gestão, sendo composto pelos seguintes sub-blocos: 4.2 - Objetivos do Sistema de Planejamento do SUS:
Regulação, controle, avaliação e auditoria Pactuar diretrizes gerais para o processo de planejamento no
Planejamento e Orçamento âmbito do SUS e o elenco dos instrumentos a serem adotados pelas
Programação três esferas de gestão;
Regionalização Formular metodologias e modelos básicos dos instrumentos de
Participação e Controle Social planejamento, monitoramento e avaliação que traduzam as diretri-
Gestão do Trabalho zes do SUS, com capacidade de adaptação às particularidades de
Educação em Saúde cada esfera administrativa;
Incentivo à Implementação de políticas específicas Promover a análise e a formulação de propostas destinadas a
Os recursos referentes a este Bloco serão transferidos fundo a adequar o arcabouço legal no tocante ao planejamento no SUS;
fundo e regulamentados por portaria específica. Implementar e difundir uma cultura de planejamento que inte-
- Financiamento para Investimentos gre e qualifique as ações do SUS entre as três esferas de governo e
Os recursos financeiros de investimento devem ser alocados subsidiar a tomada de decisão por parte de seus gestores;
com vistas á superação das desigualdades de acesso e à garantia da Desenvolver e implementar uma rede de cooperação entre os
integralidade da atenção à saúde. três entes federados, que permita um amplo compartilhamento de
informações e experiências;

305
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Promover a institucionalização e fortalecer as áreas de planeja- A tabela unificada de procedimentos deve orientar a progra-
mento no âmbito do SUS, nas três esferas de governo, com vistas a mação das ações que não estão organizadas por áreas de atuação,
legitimá-lo como instrumento estratégico de gestão do SUS; considerando seus níveis de agregação, para formar as aberturas
Apoiar e participar da avaliação periódica relativa à situação programáticas;
de saúde da população e ao funcionamento do SUS, provendo os A programação da assistência devera buscar a integração com
gestores de informações que permitam o seu aperfeiçoamento e a programação da vigilância em saúde;
ou redirecionamento; Os recursos financeiros das três esferas de governo devem ser
Promover a capacitação contínua dos profissionais que atuam visualizados na programação.
no contexto do planejamento no SUS; O processo de programação deve contribuir para a garantia de
Promover a eficiência dos processos compartilhados de pla- acesso aos serviços de saúde, subsidiando o processo regulatório
nejamento e a eficácia dos resultados, bem como da participação da assistência;
social nestes processos; A programação deve ser realizada a cada gestão, revisada pe-
Promover a integração do processo de planejamento e orça- riodicamente e sempre que necessário, em decorrência de altera-
mento no âmbito do SUS, bem como a sua intersetorialidade, de ções de fluxo no atendimento ao usuário; de oferta de serviços; na
forma articulada com as diversas etapas do ciclo de planejamento; tabela de procedimentos; e no teto financeiro, dentre outras.
Monitorar e avaliar o processo de planejamento, as ações im- A programação pactuada e integrada deve subsidiar a progra-
plementadas e os resultados alcançados, de modo a fortalecer o mação física financeira dos estabelecimentos de saúde.
planejamento e a contribuir para a transparência do processo de A programação pactuada e integrada deve guardar relação com
gestão do SUS. o desenho da regionalização naquele estado.
4.3 - Pontos de pactuação priorizados para o Planejamento Regulação da Atenção à Saúde e Regulação Assistencial
Considerando a conceituação, caracterização e objetivos pre- Para efeitos destas diretrizes, serão adotados os seguintes con-
conizados para o sistema de planejamento do SUS, configuram-se ceitos:
como pontos essenciais de pactuação: Regulação da Atenção à Saúde - tem como objeto a produção
Adoção das necessidades de saúde da população como critério de todas as ações diretas e finais de atenção à saúde, dirigida aos
para o processo de planejamento no âmbito do SUS; prestadores de serviços de saúde, públicos e privados. As ações
Integração dos instrumentos de planejamento, tanto no con- da Regulação da Atenção à Saúde compreendem a Contratação,
texto de cada esfera de gestão, quanto do SUS como um todo; a Regulação do Acesso à Assistência ou Regulação Assistencial, o
Institucionalização e fortalecimento do Sistema de Planeja- Controle Assistencial, a Avaliação da Atenção à Saúde, a Auditoria
mento do SUS, com adoção do processo planejamento, neste inclu- Assistencial e as regulamentações da Vigilância Epidemiológica e
ído o monitoramento e a avaliação, como instrumento estratégico Sanitária.
de gestão do SUS; Contratação - o conjunto de atos que envolvem desde a habi-
Revisão e adoção de um elenco de instrumentos de planeja- litação dos serviços/prestadores até a formalização do contrato na
mento – tais como planos, relatórios, programações – a serem ado- sua forma jurídica.
tados pelas três esferas de gestão, com adequação dos instrumen- Regulação do Acesso à Assistência ou Regulação Assistencial
tos legais do SUS no tocante a este processo e instrumentos dele - conjunto de relações, saberes, tecnologias e ações que interme-
resultantes; deiam a demanda dos usuários por serviços de saúde e o acesso a
Cooperação entre as três esferas de gestão para o fortaleci- estes.
mento e a eqüidade no processo de planejamento no SUS. Complexos Reguladores - uma das estratégias de Regulação
Programação Pactuada e Integrada da Atenção em Saúde – PPI Assistencial, consistindo na articulação e integração de Centrais de
A PPI é um processo que visa definir a programação das ações Atenção Pré-hospitalar e Urgências, Centrais de Internação, Centrais
de saúde em cada território e nortear a alocação dos recursos fi- de Consultas e Exames, Protocolos Assistenciais com a contratação,
nanceiros para saúde a partir de critérios e parâmetros pactuados controle assistencial e avaliação, assim como com outras funções
entre os gestores. da gestão como programação e regionalização. Os complexos re-
A PPI deve explicitar os pactos de referencia entre municípios, guladores podem ter abrangência intra-municipal, municipal, micro
gerando a parcela de recursos destinados à própria população e à ou macro regional, estadual ou nacional, devendo esta abrangência
população referenciada. e respectiva gestão, serem pactuadas em processo democrático e
As principais diretrizes norteadoras do processo de programa- solidário, entre as três esferas de gestão do SUS.
ção pactuada são: Auditoria Assistencial ou clínica – processo regular que visa afe-
A programação deve estar inserida no processo de planeja- rir e induzir qualidade do atendimento amparada em procedimen-
mento e deve considerar as prioridades definidas nos planos de tos, protocolos e instruções de trabalho normatizados e pactuados.
saúde em cada esfera de gestão; Deve acompanhar e analisar criticamente os históricos clínicos com
Os gestores estaduais e municipais possuem flexibilidade na vistas a verificar a execução dos procedimentos e realçar as não
definição de parâmetros e prioridades que irão orientar a progra- conformidades.
mação, ressalvados os parâmetros pactuados nacional e estadual- Como princípios orientadores do processo de regulação, fica
mente. estabelecido que:
A programação é realizada prioritariamente, por áreas de atua- Cada prestador responde apenas a um gestor;
ção a partir das ações básicas de saúde para compor o rol de ações A regulação dos prestadores de serviços deve ser preferencial-
de maior complexidade; mente do município conforme desenho da rede da assistência pac-
tuado na CIB, observado o Termo de Compromisso de Gestão do
Pacto e os seguintes princípios:

306
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

da descentralização, municipalização e comando único; O Ministério da Saúde deve formular diretrizes de cooperação
da busca da escala adequada e da qualidade; técnica para a gestão do trabalho no SUS;
considerar a complexidade da rede de serviços locais; Desenvolver, pelas três esferas de gestão, estudos quanto às
considerar a efetiva capacidade de regulação; estratégias e financiamento tripartite de política de reposição da
considerar o desenho da rede estadual da assistência; força de trabalho descentralizada;
a primazia do interesse e da satisfação do usuário do SUS. As Diretrizes para Planos de Cargos e Carreira do SUS devem
A regulação das referencias intermunicipais é responsabilidade ser um instrumento que visa regular as relações de trabalho e o
do gestor estadual, expressa na coordenação do processo de cons- desenvolvimento do trabalhador, bem como a consolidação da car-
trução da programação pactuada e integrada da atenção em saúde, reira como instrumento estratégico para a política de recursos hu-
do processo de regionalização, do desenho das redes; manos no Sistema;
A operação dos complexos reguladores no que se refere a refe- Promover relações de trabalho que obedeçam a exigências do
rencia intermunicipal deve ser pactuada na CIB, podendo ser ope- princípio de legalidade da ação do Estado e de proteção dos direitos
rada nos seguintes modos: associados ao trabalho;
Pelo gestor estadual que se relacionará com a central municipal Desenvolver ações voltadas para a adoção de vínculos de tra-
que faz a gestão do prestador. balho que garantam os direitos sociais e previdenciários dos traba-
Pelo gestor estadual que se relacionará diretamente com o lhadores de saúde, promovendo ações de adequação de vínculos,
prestador quando este estiver sob gestão estadual. onde for necessário, nas três esferas de governo, com o apoio téc-
Pelo gestor municipal com co-gestão do estado e representa- nico e financeiro aos Municípios, pelos Estados e União, conforme
ção dos municípios da região; legislação vigente;
Modelos que diferem do item ‘d’ acima devem ser pactuados Os atores sociais envolvidos no desejo de consolidação dos SUS
pela CIB e homologados na CIT. atuarão solidariamente na busca do cumprimento deste item, ob-
São metas para este Pacto, no prazo de um ano: servadas as responsabilidades legais de cada segmento;
Contratualização de todos os prestadores de serviço; Estimular processos de negociação entre gestores e trabalha-
Colocação de todos os leitos e serviços ambulatoriais contratu- dores através da instalação de Mesas de Negociação junto às esfe-
alizados sob regulação; ras de gestão estaduais e municipais do SUS;
Extinção do pagamento dos serviços dos profissionais médicos As Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde devem envidar
por meio do código 7. esforços para a criação ou fortalecimento de estruturas de Recur-
sos Humanos, objetivando cumprir um papel indutor de mudanças,
Participação e Controle Social tanto no campo da gestão do trabalho, quanto no campo da edu-
A participação social no SUS é um princípio doutrinário e está cação na saúde;
assegurado na Constituição e nas Leis Orgânicas da Saúde (8080/90 8.2 - Serão priorizados os seguintes componentes na estrutura-
e 8142/90), e é parte fundamental deste pacto. ção da Gestão do Trabalho no SUS:
7.1 - As ações que devem ser desenvolvidas para fortalecer o Estruturação da Gestão do Trabalho no SUS - Esse componente
processo de participação social, dentro deste pacto são: trata das necessidades exigidas para a estruturação da área de Ges-
Apoiar os conselhos de saúde, as conferências de saúde e os tão do Trabalho integrado pelos seguintes eixos: base jurídico-legal;
movimentos sociais que atuam no campo da saúde, com vistas ao atribuições específicas; estrutura e dimensionamento organizacio-
seu fortalecimento para que os mesmos possam exercer plenamen- nal e estrutura física e equipamentos. Serão priorizados para este
te os seus papéis; Componente, Estados, Capitais, Distrito Federal e nos Municípios
Apoiar o processo de formação dos conselheiros; com mais de 500 empregos públicos, desde que possuam ou ve-
Estimular a participação e avaliação dos cidadãos nos serviços nham a criar setores de Gestão do Trabalho e da Educação nas se-
de saúde; cretarias estaduais e municipais de saúde;
Apoiar os processos de educação popular em saúde, para am- Capacitação de Recursos Humanos para a Gestão do Trabalho
pliar e qualificar a participação social no SUS; no SUS - Esse componente trata da qualificação dos gestores e téc-
Apoiar a implantação e implementação de ouvidorias nos es- nicos na perspectiva do fortalecimento da gestão do trabalho em
tados e municípios, com vistas ao fortalecimento da gestão estra- saúde. Estão previstos, para seu desenvolvimento, a elaboração de
tégica do SUS; material didático e a realização de oficinas, cursos presenciais ou à
Apoiar o processo de mobilização social e institucional em de- distância, por meio das estruturas formadoras existentes;
fesa do SUS e na discussão do pacto; Sistema Gerencial de Informações - Esse componente propõe
proceder à análise de sistemas de informação existentes e desen-
Gestão do Trabalho volver componentes de otimização e implantação de sistema infor-
8.1 - As diretrizes para a Gestão do Trabalho no SUS são as se- matizado que subsidie a tomada de decisão na área de Gestão do T
guintes: rabalho.
A política de recursos humanos para o SUS é um eixo estrutu- Educação na Saúde
rante e deve buscar a valorização do trabalho e dos trabalhadores 9.1 – A - As diretrizes para o trabalho na Educação na Saúde
de saúde, o tratamento dos conflitos, a humanização das relações são:
de trabalho; Avançar na implementação da Política Nacional de Educação
Estados, Municípios e União são entes autônomos para suprir Permanente por meio da compreensão dos conceitos de formação
suas necessidades de manutenção e expansão dos seus próprios e educação permanente para adequá-los às distintas lógicas e es-
quadros de trabalhadores de saúde; pecificidades;

307
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Considerar a educação permanente parte essencial de uma promover a eqüidade na atenção à saúde, considerando as di-
política de formação e desenvolvimento dos trabalhadores para a ferenças individuais e de grupos populacionais, por meio da ade-
qualificação do SUS e que comporta a adoção de diferentes me- quação da oferta às necessidades como princípio de justiça social, e
todologias e técnicas de ensino-aprendizagem inovadoras, entre ampliação do acesso de populações em situação de desigualdade,
outras coisas; respeitadas as diversidades locais;
Considerar a Política Nacional de Educação Permanente em participar do financiamento tripartite do Sistema Único de Saú-
Saúde uma estratégia do SUS para a formação e o desenvolvimento de;
de trabalhadores para o setor, tendo como orientação os princípios assumir a gestão e executar as ações de atenção básica, incluin-
da educação permanente; do as ações de promoção e proteção, no seu território;
Assumir o compromisso de discutir e avaliar os processos e assumir integralmente a gerência de toda a rede pública de
desdobramentos da implementação da Política Nacional de Educa- serviços de atenção básica, englobando as unidades próprias e as
ção Permanente para ajustes necessários, atualizando-a conforme transferidas pelo estado ou pela união;
as experiências de implementação, assegurando a inserção dos mu- com apoio dos estados, identificar as necessidades da popu-
nicípios e estados neste processo; lação do seu território, fazer um reconhecimento das iniqüidades,
Buscar a revisão da normatização vigente que institui a Políti- oportunidades e recursos;
ca Nacional de Educação Permanente em Saúde, contemplando a desenvolver, a partir da identificação das necessidades, um
conseqüente e efetiva descentralização das atividades de planeja- processo de planejamento, regulação, programação pactuada e in-
mento, monitoramento, avaliação e execução orçamentária da Edu- tegrada da atenção à saúde, monitoramento e avaliação;
cação Permanente para o trabalho no SUS; formular e implementar políticas para áreas prioritárias, con-
Centrar, o planejamento, programação e acompanhamento forme definido nas diferentes instâncias de pactuação;
das atividades educativas e conseqüentes alocações de recursos na organizar o acesso a serviços de saúde resolutivos e de qualida-
lógica de fortalecimento e qualificação do SUS e atendimento das de na atenção básica, viabilizando o planejamento, a programação
necessidades sociais em saúde; pactuada e integrada da atenção à saúde e a atenção à saúde no
Considerar que a proposição de ações para formação e desen- seu território, explicitando a responsabilidade, o compromisso e o
volvimento dos profissionais de saúde para atender às necessida- vínculo do serviço e equipe de saúde com a população do seu terri-
des do SUS deve ser produto de cooperação técnica, articulação e tório, desenhando a rede de atenção e promovendo a humanização
diálogo entre os gestores das três esferas de governo, as institui- do atendimento;
ções de ensino, os serviços e controle social e podem contemplar organizar e pactuar o acesso a ações e serviços de atenção es-
ações no campo da formação e do trabalho. pecializada a partir das necessidades da atenção básica, configu-
B - RESPONSABILIDADE SANITÁRIA rando a rede de atenção, por meio dos processos de integração e
Este capítulo define as Responsabilidades Sanitárias e atribui- articulação dos serviços de atenção básica com os demais níveis do
ções do Município, do Distrito Federal, do Estado e da União. A ges- sistema, com base no processo da programação pactuada e integra-
tão do Sistema Único de Saúde é construída de forma solidária e da da atenção à saúde;
cooperada, com apoio mútuo através de compromissos assumidos pactuar e fazer o acompanhamento da referência da atenção
nas Comissões Intergestores Bipartite (CIB) e Tripartite (CIT). que ocorre fora do seu território, em cooperação com o estado,
Algumas responsabilidades atribuídas aos municípios devem Distrito Federal e com os demais municípios envolvidos no âmbito
ser assumidas por todos os municípios. As outras responsabilidades regional e estadual, conforme a programação pactuada e integrada
serão atribuídas de acordo com o pactuado e/ou com a complexida- da atenção à saúde;
de da rede de serviços localizada no território municipal. garantir estas referências de acordo com a programação pactu-
No que se refere às responsabilidades atribuídas aos estados ada e integrada da atenção à saúde, quando dispõe de serviços de
devem ser assumidas por todos eles. referência intermunicipal;
Com relação à gestão dos prestadores de serviço fica mantida a garantir a estrutura física necessária para a realização das ações
normatização estabelecida na NOAS SUS 01/2002. As referências na de atenção básica, de acordo com as normas técnicas vigentes;
NOAS SUS 01/2002 às condições de gestão de estados e municípios promover a estruturação da assistência farmacêutica e garan-
ficam substituídas pelas situações pactuadas no respectivo Termo tir, em conjunto com as demais esferas de governo, o acesso da
de Compromisso de Gestão. população aos medicamentos cuja dispensação esteja sob sua res-
ponsabilidade, promovendo seu uso racional, observadas as nor-
RESPONSABILIDADES GERAIS DA GESTÃO DO SUS mas vigentes e pactuações estabelecidas;
assumir a gestão e execução das ações de vigilância em saúde
– MUNICÍPIOS realizadas no âmbito local, compreendendo as ações de vigilância
Todo município é responsável pela integralidade da atenção à epidemiológica, sanitária e ambiental, de acordo com as normas vi-
saúde da sua população, exercendo essa responsabilidade de forma gentes e pactuações estabelecidas;
solidária com o estado e a união; elaborar, pactuar e implantar a política de promoção da saúde,
Todo município deve: considerando as diretrizes estabelecidas no âmbito nacional.
garantir a integralidade das ações de saúde prestadas de for-
ma interdisciplinar, por meio da abordagem integral e contínua do – ESTADOS
indivíduo no seu contexto familiar, social e do trabalho; engloban- Responder, solidariamente com municípios, Distrito Federal e
do atividades de promoção da saúde, prevenção de riscos, danos e união, pela integralidade da atenção à saúde da população;
agravos; ações de assistência, assegurando o acesso ao atendimen- Participar do financiamento tripartite do Sistema Único de Saú-
to às urgências; de;

308
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Formular e implementar políticas para áreas prioritárias, con- – DISTRITO FEDERAL


forme definido nas diferentes instâncias de pactuação; Responder, solidariamente com a união, pela integralidade da
Coordenar, acompanhar e avaliar, no âmbito estadual, a imple- atenção à saúde da população;
mentação dos Pactos Pela Vida e de Gestão e seu Termo de Com- Garantir a integralidade das ações de saúde prestadas de for-
promisso; ma interdisciplinar, por meio da abordagem integral e contínua do
Apoiar técnica e financeiramente os municípios, para que estes indivíduo no seu contexto familiar, social e do trabalho; engloban-
assumam integralmente sua responsabilidade de gestor da atenção do atividades de promoção da saúde, prevenção de riscos, danos e
à saúde dos seus munícipes; agravos; ações de assistência, assegurando o acesso ao atendimen-
Apoiar técnica, política e financeiramente a gestão da atenção to às urgências;
básica nos municípios, considerando os cenários epidemiológicos, Promover a eqüidade na atenção à saúde, considerando as di-
as necessidades de saúde e a articulação regional, fazendo um reco- ferenças individuais e de grupos populacionais, por meio da ade-
nhecimento das iniquidades, oportunidades e recursos; quação da oferta às necessidades como princípio de justiça social, e
Fazer reconhecimento das necessidades da população no âm- ampliação do acesso de populações em situação de desigualdade,
bito estadual e cooperar técnica e financeiramente com os municí- respeitadas as diversidades locais;
pios, para que possam fazer o mesmo nos seus territórios; Participar do financiamento tripartite do Sistema Único de Saú-
Desenvolver, a partir da identificação das necessidades, um de;
processo de planejamento, regulação, programação pactuada e in- Coordenar, acompanhar e avaliar, no âmbito estadual, a imple-
tegrada da atenção à saúde, monitoramento e avaliação; mentação dos Pactos Pela Vida e de Gestão e seu Termo de Com-
Coordenar o processo de configuração do desenho da rede de promisso de Gestão;
atenção, nas relações intermunicipais, com a participação dos mu- Assumir a gestão e executar as ações de atenção básica, in-
nicípios da região; cluindo as ações de promoção e proteção, no seu território;
Organizar e pactuar com os municípios, o processo de referên- Assumir integralmente a gerência de toda a rede pública de
cia intermunicipal das ações e serviços de média e alta complexida- serviços de atenção básica, englobando as unidades próprias e as
de a partir da atenção básica, de acordo com a programação pactu- transferidas pela união;
ada e integrada da atenção à saúde; Garantir a estrutura física necessária para a realização das
Realizar o acompanhamento e a avaliação da atenção básica no ações de atenção básica, de acordo com as normas técnicas vigen-
âmbito do território estadual; tes;
Apoiar técnica e financeiramente os municípios para que ga- Realizar o acompanhamento e a avaliação da atenção básica no
rantam a estrutura física necessária para a realização das ações de âmbito do seu território;
atenção básica; Identificar as necessidades da população do seu território, fa-
Promover a estruturação da assistência farmacêutica e garan- zer um reconhecimento das iniqüidades, oportunidades e recursos;
tir, em conjunto com as demais esferas de governo, o acesso da po- Desenvolver, a partir da identificação das necessidades, um
pulação aos medicamentos cuja dispensação esteja sob sua respon- processo de planejamento, regulação, programação pactuada e in-
sabilidade, fomentando seu uso racional e observando as normas tegrada da atenção à saúde, monitoramento e avaliação;
vigentes e pactuações estabelecidas; Formular e implementar políticas para áreas prioritárias, con-
Coordenar e executar e as ações de vigilância em saúde, com- forme definido nas instâncias de pactuação;
preendendo as ações de média e alta complexidade desta área, de Organizar o acesso a serviços de saúde resolutivos e de qualida-
acordo com as normas vigentes e pactuações estabelecidas; de na atenção básica, viabilizando o planejamento, a programação
Assumir transitoriamente, quando necessário, a execução das pactuada e integrada da atenção à saúde e a atenção à saúde no
ações de vigilância em saúde no município, comprometendo-se em seu território, explicitando a responsabilidade, o compromisso e o
cooperar para que o município assuma, no menor prazo possível, vínculo do serviço e equipe de saúde com a população do seu terri-
sua responsabilidade; tório, desenhando a rede de atenção e promovendo a humanização
Executar algumas ações de vigilância em saúde, em caráter do atendimento;
permanente, mediante acordo bipartite e conforme normatização Organizar e pactuar o acesso a ações e serviços de atenção es-
específica; pecializada a partir das necessidades da atenção básica, configu-
Supervisionar as ações de prevenção e controle da vigilância rando a rede de atenção, por meio dos processos de integração e
em saúde, coordenando aquelas que exigem ação articulada e si- articulação dos serviços de atenção básica com os demais níveis do
multânea entre os municípios; sistema, com base no processo da programação pactuada e integra-
Apoiar técnica e financeiramente os municípios para que exe- da da atenção à saúde;
cutem com qualidade as ações de vigilância em saúde, compreen- Pactuar e fazer o acompanhamento da referência da atenção
dendo as ações de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, que ocorre fora do seu território, em cooperação com os estados
de acordo com as normas vigentes e pactuações estabelecidas; envolvidos no âmbito regional, conforme a programação pactuada
Elaborar, pactuar e implantar a política de promoção da saúde, e integrada da atenção à saúde;
considerando as diretrizes estabelecidas no âmbito nacional; Promover a estruturação da assistência farmacêutica e garantir,
Coordenar, normatizar e gerir os laboratórios de saúde pública; em conjunto com a união, o acesso da população aos medicamen-
Assumir a gestão e a gerência de unidades públicas de hemo- tos cuja dispensação esteja sob sua responsabilidade, fomentando
núcleos / hemocentros e elaborar normas complementares para a seu uso racional e observando as normas vigentes e pactuações es-
organização e funcionamento desta rede de serviço. tabelecidas;
Garantir o acesso de serviços de referência de acordo com a
programação pactuada e integrada da atenção à saúde;

309
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Elaborar, pactuar e implantar a política de promoção da saúde, Apoiar e coordenar os laboratórios de saúde pública – Rede
considerando as diretrizes estabelecidas no âmbito nacional; Nacional de laboratórios de saúde Pública/RNLSP - nos aspectos re-
Assumir a gestão e execução das ações de vigilância em saúde lativos à vigilância em saúde;
realizadas no âmbito do seu território, compreendendo as ações de Assumir transitoriamente, quando necessário, a execução das
vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, de acordo com as ações de vigilância em saúde nos estados, Distrito Federal e mu-
normas vigentes e pactuações estabelecidas; nicípios, comprometendo-se em cooperar para que assumam, no
Executar e coordenar as ações de vigilância em saúde, com- menor prazo possível, suas responsabilidades;
preendendo as ações de média e alta complexidade desta área, de Apoiar técnica e financeiramente os estados, o Distrito Federal
acordo com as normas vigentes e pactuações estabelecidas; e os municípios para que executem com qualidade as ações de vigi-
Coordenar, normatizar e gerir os laboratórios de saúde pública; lância em saúde, compreendendo as ações de vigilância epidemio-
Assumir a gestão e a gerência de unidades públicas de hemo- lógica, sanitária e ambiental, de acordo com as normas vigentes e
núcleos / hemocentros e elaborar normas complementares para a pactuações estabelecidas;
organização e funcionamento desta rede de serviço. Elaborar, pactuar e implementar a política de promoção da saú-
de.
– UNIÃO
Responder, solidariamente com os municípios, o Distrito Fede- RESPONSABILIDADES NA REGIONALIZAÇÃO
ral e os estados, pela integralidade da atenção à saúde da popula-
ção; – MUNICÍPIOS
Participar do financiamento tripartite do Sistema Único de Saú- Todo município deve:
de; contribuir para a constituição e fortalecimento do processo de
Formular e implementar políticas para áreas prioritárias, con- regionalização solidária e cooperativa, assumindo os compromissos
forme definido nas diferentes instâncias de pactuação; pactuados;
Coordenar e acompanhar, no âmbito nacional, a pactuação participar da constituição da regionalização, disponibilizando
e avaliação do Pacto de Gestão e Pacto pela Vida e seu Termo de de forma cooperativa os recursos humanos, tecnológicos e finan-
Compromisso; ceiros, conforme pactuação estabelecida;
Apoiar o Distrito Federal, os estados e conjuntamente com es- participar dos colegiados de gestão regionais, cumprindo suas
tes, os municípios, para que assumam integralmente as suas res- obrigações técnicas e financeiras. Nas CIB regionais constituídas por
ponsabilidades de gestores da atenção à saúde; representação, quando não for possível a imediata incorporação de
Apoiar financeiramente o Distrito Federal e os municípios, em todos os gestores de saúde dos municípios da região de saúde, de-
conjunto com os estados, para que garantam a estrutura física ne- ve-se pactuar um cronograma de adequação, no menor prazo pos-
cessária para a realização das ações de atenção básica; sível, para a inclusão de todos os municípios nos respectivos cole-
Prestar cooperação técnica e financeira aos estados, ao Distrito giados de gestão regionais.
Federal e aos municípios para o aperfeiçoamento das suas atuações participar dos projetos prioritários das regiões de saúde, con-
institucionais na gestão da atenção básica; forme definido no plano municipal de saúde, no plano diretor de
Exercer de forma pactuada as funções de normatização e de regionalização, no planejamento regional e no plano regional de
coordenação no que se refere à gestão nacional da atenção básica investimento;
no SUS; A responsabilidade a seguir será atribuída de acordo com o
Identificar, em articulação com os estados, Distrito Federal e pactuado e/ou com a complexidade da rede de serviços localizada
municípios, as necessidades da população para o âmbito nacional, no território municipal
fazendo um reconhecimento das iniqüidades, oportunidades e re- Executar as ações de referência regional sob sua responsabili-
cursos; e cooperar técnica e financeiramente com os gestores, para dade em conformidade com a programação pactuada e integrada
que façam o mesmo nos seus territórios; da atenção à saúde acordada nos colegiados de gestão regionais.
Desenvolver, a partir da identificação de necessidades, um pro-
cesso de planejamento, regulação, programação pactuada e inte- – ESTADOS
grada da atenção à saúde, monitoramento e avaliação; Contribuir para a constituição e fortalecimento do processo de
Promover a estruturação da assistência farmacêutica e garan- regionalização solidária e cooperativa, assumindo os compromissos
tir, em conjunto com as demais esferas de governo, o acesso da pactuados;
população aos medicamentos que estejam sob sua responsabilida- Coordenar a regionalização em seu território, propondo e pac-
de, fomentando seu uso racional, observadas as normas vigentes e tuando diretrizes e normas gerais sobre a regionalização, observan-
pactuações estabelecidas; do as normas vigentes e pactuações na CIB;
Definir e pactuar as diretrizes para a organização das ações e Coordenar o processo de organização, reconhecimento e atu-
serviços de média e alta complexidade, a partir da atenção básica; alização das regiões de saúde, conformando o plano diretor de re-
Coordenar e executar as ações de vigilância em saúde, com- gionalização;
preendendo as ações de média e alta complexidade desta área, de Participar da constituição da regionalização, disponibilizando
acordo com as normas vigentes e pactuações estabelecidas; de forma cooperativa os recursos humanos, tecnológicos e finan-
Coordenar, nacionalmente, as ações de prevenção e controle ceiros, conforme pactuação estabelecida;
da vigilância em saúde que exijam ação articulada e simultânea en- Apoiar técnica e financeiramente as regiões de saúde, promo-
tre os estados, Distrito Federal e municípios; vendo a eqüidade inter-regional;
Proceder investigação complementar ou conjunta com os de- Participar dos colegiados de gestão regional, cumprindo suas
mais gestores do SUS em situação de risco sanitário; obrigações técnicas e financeiras;

310
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Participar dos projetos prioritários das regiões de saúde, con- operar os sistemas de informação referentes à atenção básica,
forme definido no plano estadual de saúde, no plano diretor de conforme normas do Ministério da Saúde, e alimentar regularmen-
regionalização, no planejamento regional e no plano regional de te os bancos de dados nacionais, assumindo a responsabilidade
investimento. pela gestão, no nível local, dos sistemas de informação: Sistema de
Informação sobre Agravos de Notificação – SINAN, Sistema de In-
– DISTRITO FEDERAL formação do Programa Nacional de Imunizações - SI-PNI, Sistema
Contribuir para a constituição e fortalecimento do processo de de Informação sobre Nascidos Vivos – SINASC, Sistema de Informa-
regionalização solidária e cooperativa, assumindo os compromissos ção Ambulatorial - SIA e Cadastro Nacional de Estabelecimentos e
pactuados; Profissionais de Saúde – CNES; e quando couber, os sistemas: Siste-
Coordenar o processo de organização, reconhecimento e atu- ma de Informação Hospitalar – SIH e Sistema de Informação sobre
alização das regiões de saúde, conformando o plano diretor de re- Mortalidade – SIM, bem como de outros sistemas que venham a
gionalização; ser introduzidos;
Apoiar técnica e financeiramente as regiões de saúde, promo- assumir a responsabilidade pela coordenação e execução das
vendo a eqüidade inter-regional; atividades de informação, educação e comunicação, no âmbito lo-
Participar dos colegiados de gestão regional, cumprindo suas cal;
obrigações técnicas e financeiras, conforme pactuação estabeleci- elaborar a programação da atenção à saúde, incluída a assis-
da; tência e vigilância em saúde, em conformidade com o plano muni-
Participar dos projetos prioritários das regiões de saúde, con- cipal de saúde, no âmbito da Programação Pactuada e Integrada da
forme definido no plano estadual de saúde, no plano diretor de Atenção à Saúde;
regionalização, no planejamento regional e no plano regional de A responsabilidade a seguir será atribuída de acordo com o
investimento; pactuado e/ou com a complexidade da rede de serviços localizada
Propor e pactuar diretrizes e normas gerais sobre a regionaliza- no território municipal
ção, observando as normas vigentes, participando da sua constitui- Gerir os sistemas de informação epidemiológica e sanitária,
ção, disponibilizando de forma cooperativa os recursos humanos, bem como assegurar a divulgação de informações e análises.
tecnológicos e financeiros, conforme pactuação estabelecida.
– ESTADOS
– UNIÃO Formular, gerenciar, implementar e avaliar o processo perma-
Contribuir para a constituição e fortalecimento do processo de nente de planejamento participativo e integrado, de base local e
regionalização solidária e cooperativa, assumindo os compromissos ascendente, orientado por problemas e necessidades em saúde,
pactuados; com a constituição de ações para a promoção, a proteção, a recu-
Coordenar o processo de regionalização no âmbito nacional, peração e a reabilitação em saúde, construindo nesse processo o
propondo e pactuando diretrizes e normas gerais sobre a regionali- plano estadual de saúde, submetendo-o à aprovação do Conselho
zação, observando as normas vigentes e pactuações na CIT; Estadual de Saúde;
Cooperar técnica e financeiramente com as regiões de saúde, Formular, no plano estadual de saúde, e pactuar no âmbito da
por meio dos estados e/ou municípios, priorizando as regiões mais Comissão Intergestores Bipartite - CIB, a política estadual de aten-
vulneráveis, promovendo a eqüidade inter-regional e interestadual; ção em saúde, incluindo ações intersetoriais voltadas para a pro-
Apoiar e participar da constituição da regionalização, disponi- moção da saúde;
bilizando de forma cooperativa os recursos humanos, tecnológicos Elaborar relatório de gestão anual, a ser apresentado e subme-
e financeiros, conforme pactuação estabelecida; tido à aprovação do Conselho Estadual de Saúde;
Fomentar a constituição das regiões de saúde fronteiriças, par- Coordenar, acompanhar e apoiar os municípios na elaboração
ticipando do funcionamento de seus colegiados de gestão regionais. da programação pactuada e integrada da atenção à saúde, no âm-
bito estadual, regional e interestadual;
RESPONSABILIDADES NO PLANEJAMENTO E PROGRAMAÇÃO Apoiar, acompanhar, consolidar e operar quando couber, no
âmbito estadual e regional, a alimentação dos sistemas de informa-
– MUNICÍPIOS ção, conforme normas do Ministério da Saúde;
Todo município deve: Operar os sistemas de informação epidemiológica e sanitária
formular, gerenciar, implementar e avaliar o processo perma- de sua competência, bem como assegurar a divulgação de informa-
nente de planejamento participativo e integrado, de base local e ções e análises e apoiar os municípios naqueles de responsabilida-
ascendente, orientado por problemas e necessidades em saúde, de municipal.
com a constituição de ações para a promoção, a proteção, a recu-
peração e a reabilitação em saúde, construindo nesse processo o – DISTRITO FEDERAL
plano de saúde e submetendo-o à aprovação do Conselho de Saúde Formular, gerenciar, implementar e avaliar o processo perma-
correspondente; nente de planejamento participativo e integrado, de base local e as-
formular, no plano municipal de saúde, a política municipal de cendente, orientado por problemas e necessidades em saúde, com
atenção em saúde, incluindo ações intersetoriais voltadas para a a constituição de ações para a promoção, a proteção, a recuperação
promoção da saúde; e a reabilitação em saúde, construindo nesse processo o plano es-
elaborar relatório de gestão anual, a ser apresentado e subme- tadual de saúde, submetendo-o à aprovação do Conselho de Saúde
tido à aprovação do Conselho de Saúde correspondente; do Distrito Federal;

311
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Formular, no plano estadual de saúde, a política estadual de RESPONSABILIDADES NA REGULAÇÃO, CONTROLE, AVALIA-
atenção em saúde, incluindo ações intersetoriais voltadas para a ÇÃO E AUDITORIA
promoção da saúde;
Elaborar relatório de gestão anual, a ser apresentado e subme- 4.1- MUNICÍPIOS
tido à aprovação do Conselho Estadual de Saúde; Todo município deve:
Operar os sistemas de informação epidemiológica e sanitária monitorar e fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros pro-
de sua competência, bem como assegurar a divulgação de informa- venientes de transferência regular e automática (fundo a fundo) e
ções e análises; por convênios;
Operar os sistemas de informação referentes à atenção básica, realizar a identificação dos usuários do SUS, com vistas à vincu-
conforme normas do Ministério da Saúde, e alimentar regularmen- lação de clientela e à sistematização da oferta dos serviços;
te os bancos de dados nacionais, assumindo a responsabilidade monitorar e avaliar as ações de vigilância em saúde, realizadas
pela gestão, no nível local, dos sistemas de informação: Sistema de em seu território, por intermédio de indicadores de desempenho,
Informação sobre Agravos de Notificação – SINAN, Sistema de Infor- envolvendo aspectos epidemiológicos e operacionais;
mação do Programa Nacional de Imunizações - SI-PNI, Sistema de manter atualizado o Sistema Nacional de Cadastro de Estabe-
Informação sobre Nascidos Vivos – SINASC, Sistema de Informação lecimentos e Profissionais de Saúde no seu território, segundo nor-
Ambulatorial - SIA e Cadastro Nacional de Estabelecimentos e Pro- mas do Ministério da Saúde;
fissionais de Saúde – CNES; Sistema de Informação Hospitalar – SIH adotar protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas, em conso-
e Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM, bem como de nância com os protocolos e diretrizes nacionais e estaduais;
outros sistemas que venham a ser introduzidos; adotar protocolos de regulação de acesso, em consonância
Assumir a responsabilidade pela coordenação e execução das com os protocolos e diretrizes nacionais, estaduais e regionais;
atividades de informação, educação e comunicação, no âmbito do controlar a referência a ser realizada em outros municípios,
seu território; de acordo com a programação pactuada e integrada da atenção à
Elaborar a programação da atenção à saúde, incluída a assis- saúde, procedendo à solicitação e/ou autorização prévia, quando
tência e vigilância em saúde, em conformidade com o plano esta- couber;
dual l de saúde, no âmbito da Programação Pactuada e Integrada As responsabilidades a seguir serão atribuídas de acordo com o
da Atenção à Saúde. pactuado e/ou com a complexidade da rede de serviços localizada
no território municipal
– UNIÃO Definir a programação físico-financeira por estabelecimento de
Formular, gerenciar, implementar e avaliar o processo perma- saúde; observar as normas vigentes de solicitação e autorização dos
nente de planejamento participativo e integrado, de base local e procedimentos hospitalares e ambulatoriais; processar a produção
ascendente, orientado por problemas e necessidades em saúde, dos estabelecimentos de saúde próprios e contratados e realizar o
com a constituição de ações para a promoção, a proteção, a recu- pagamento dos prestadores de serviços;
peração e a reabilitação em saúde, construindo nesse processo o Operar o complexo regulador dos serviços presentes no seu
plano nacional de saúde, submetendo-o à aprovação do Conselho território, de acordo com a pactuação estabelecida, realizando a
Nacional de Saúde; co-gestão com o Estado e outros Municípios, das referências inter-
Formular, no plano nacional de saúde, e pactuar no âmbito da municipais.
Comissão Intergestores Tripartite – CIT, a política nacional de aten- Executar o controle do acesso do seu munícipe aos leitos dis-
ção em saúde, incluindo ações intersetoriais voltadas para a pro- poníveis, às consultas, terapias e exames especializados, disponí-
moção da saúde; veis no seu território, que pode ser feito por meio de centrais de
Elaborar relatório de gestão anual, a ser apresentado e subme- regulação;
tido à aprovação do Conselho Nacional de Saúde; Planejar e executar a regulação médica da atenção pré-hospi-
Formular, pactuar no âmbito a CIT e aprovar no Conselho Na- talar às urgências, conforme normas vigentes e pactuações estabe-
cional de Saúde, a política nacional de atenção à saúde dos povos lecidas;
indígenas e executá-la, conforme pactuação com Estados e Municí- Elaborar contratos com os prestadores de acordo com a políti-
pios, por meio da Fundação Nacional de Saúde – FUNASA; ca nacional de contratação de serviços de saúde e em conformida-
Coordenar, acompanhar e apoiar os municípios, os estados e de com o planejamento e a programação pactuada e integrada da
Distrito Federal na elaboração da programação pactuada e integra- atenção à saúde;
da da atenção em saúde, no âmbito nacional; Monitorar e fiscalizar os contratos e convênios com prestado-
Gerenciar, manter, e elaborar quando necessário, no âmbito res contratados e conveniados, bem como das unidades públicas;
nacional, os sistemas de informação, conforme normas vigentes e Monitorar e fiscalizar a execução dos procedimentos realizados
pactuações estabelecidas, incluindo aqueles sistemas que garan- em cada estabelecimento por meio das ações de controle e avalia-
tam a solicitação e autorização de procedimentos, o processamento ção hospitalar e ambulatorial;
da produção e preparação para a realização de pagamentos; Monitorar e fiscalizar e o cumprimento dos critérios nacionais,
Desenvolver e gerenciar sistemas de informação epidemioló- estaduais e municipais de credenciamento de serviços;
gica e sanitária, bem como assegurar a divulgação de informações Implementar a avaliação das ações de saúde nos estabeleci-
e análises. mentos de saúde, por meio de análise de dados e indicadores e
verificação de padrões de conformidade;

312
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Implementar a auditoria sobre toda a produção de serviços de Credenciar os serviços de acordo com as normas vigentes e
saúde, públicos e privados, sob sua gestão, tomando como referên- com a regionalização e coordenar este processo em relação aos
cia as ações previstas no plano municipal de saúde e em articulação municípios;
com as ações de controle, avaliação e regulação assistencial; Fiscalizar e monitorar o cumprimento dos critérios estaduais e
Realizar auditoria assistencial da produção de serviços de saú- nacionais de credenciamento de serviços pelos prestadores;
de, públicos e privados, sob sua gestão; Monitorar o cumprimento, pelos municípios, das programa-
Elaborar normas técnicas, complementares às das esferas esta- ções físico-financeira definidas na programação pactuada e integra-
dual e federal, para o seu território. da da atenção à saúde;
Fiscalizar e monitorar o cumprimento, pelos municípios, das
– ESTADOS normas de solicitação e autorização das internações e dos procedi-
Elaborar as normas técnicas complementares à da esfera fede- mentos ambulatoriais especializados;
ral, para o seu território; Estabelecer e monitorar a programação físico-financeira dos
Monitorar a aplicação dos recursos financeiros recebidos por estabelecimentos de saúde sob sua gestão; observar as normas
meio de transferência regular e automática (fundo a fundo) e por vigentes de solicitação e autorização dos procedimentos hospita-
convênios; lares e ambulatoriais, monitorando e fiscalizando a sua execução
Monitorar e fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros por meio de ações de controle, avaliação e auditoria; processar a
transferidos aos fundos municipais; produção dos estabelecimentos de saúde próprios e contratados e
Monitorar o cumprimento pelos municípios: dos planos de saú- realizar o pagamento dos prestadores de serviços;
de, dos relatórios de gestão, da operação dos fundos de saúde, in- Monitorar e avaliar o funcionamento dos Consórcios Intermu-
dicadores e metas do pacto de gestão, da constituição dos serviços nicipais de Saúde;
de regulação, controle avaliação e auditoria e da participação na Monitorar e avaliar o desempenho das redes regionais hierar-
programação pactuada e integrada da atenção à saúde; quizadas estaduais;
Apoiar a identificação dos usuários do SUS no âmbito estadual, Implementar avaliação das ações de saúde nos estabelecimen-
com vistas à vinculação de clientela e à sistematização da oferta dos tos, por meio de análise de dados e indicadores e verificação de
serviços; padrões de conformidade;
Manter atualizado o cadastramento no Sistema Nacional de Monitorar e avaliar as ações de vigilância em saúde, realizadas
Cadastro de Estabelecimentos e Profissionais de Saúde, bem como pelos municípios e pelo gestor estadual;
coordenar e cooperar com os municípios nesta atividade; Supervisionar a rede de laboratórios públicos e privados que
Elaborar e pactuar protocolos clínicos e de regulação de acesso, realizam análises de interesse da saúde pública;
no âmbito estadual, em consonância com os protocolos e diretrizes Elaborar normas complementares para a avaliação tecnológica
nacionais, apoiando os Municípios na implementação dos mesmos; em saúde;
Controlar a referência a ser realizada em outros estados, de Avaliar e auditar os sistemas de saúde municipais de saúde;
acordo com a programação pactuada e integrada da atenção à Implementar auditoria sobre toda a produção de serviços de
saúde, procedendo a solicitação e/ou autorização prévia, quando saúde, pública e privada, sob sua gestão e em articulação com as
couber; ações de controle, avaliação e regulação assistencial;
Operar a central de regulação estadual, para as referências in- Realizar auditoria assistencial da produção de serviços de saú-
terestaduais pactuadas, em articulação com as centrais de regula- de, públicos e privados, sob sua gestão.
ção municipais;
Coordenar e apoiar a implementação da regulação da atenção – DISTRITO FEDERAL
pré-hospitalar às urgências de acordo com a regionalização e con- Elaborar as normas técnicas complementares à da esfera fede-
forme normas vigentes e pactuações estabelecidas; ral, para o seu território;
Estimular e apoiar a implantação dos complexos reguladores Monitorar a aplicação dos recursos financeiros recebidos por
municipais; meio de transferência regular e automática (fundo a fundo) e por
Participar da co-gestão dos complexos reguladores municipais, convênios;
no que se refere às referências intermunicipais; Realizar a identificação dos usuários do SUS no âmbito do Dis-
Operar os complexos reguladores no que se refere no que se trito Federal, com vistas à vinculação de clientela e à sistematização
refere à referencia intermunicipal, conforme pactuação; da oferta dos serviços;
Monitorar a implementação e operacionalização das centrais Manter atualizado o cadastramento no Sistema Nacional de
de regulação; Cadastro de Estabelecimentos e Profissionais de Saúde no seu terri-
Cooperar tecnicamente com os municípios para a qualificação tório, segundo normas do Ministério da Saúde;
das atividades de cadastramento, contratação, controle, avaliação, Monitorar e avaliar as ações de vigilância em saúde, realizadas
auditoria e pagamento aos prestadores dos serviços localizados no em seu território, por intermédio de indicadores de desempenho,
território municipal e vinculados ao SUS; envolvendo aspectos epidemiológicos e operacionais;
Monitorar e fiscalizar contratos e convênios com prestadores Elaborar e implantar protocolos clínicos, terapêuticos e de re-
contratados e conveniados, bem como das unidades públicas; gulação de acesso, no âmbito do Distrito Federal, em consonância
Elaborar contratos com os prestadores de acordo com a políti- com os protocolos e diretrizes nacionais;
ca nacional de contratação de serviços de saúde, em conformidade Controlar a referência a ser realizada em outros estados, de
com o planejamento e a programação da atenção; acordo com a programação pactuada e integrada da atenção à saú-
de, procedendo a solicitação e/ou autorização prévia;

313
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Operar a central de regulação do Distrito Federal, para as refe- Definir e pactuar a política nacional de contratação de serviços
rências interestaduais pactuadas, em articulação com as centrais de de saúde;
regulação estaduais e municipais; Propor e pactuar os critérios de credenciamento dos serviços
Implantar e operar o complexo regulador dos serviços presen- de saúde;
tes no seu território, de acordo com a pactuação estabelecida; Propor e pactuar as normas de solicitação e autorização das
Coordenar e apoiar a implementação da regulação da atenção internações e dos procedimentos ambulatoriais especializados, de
pré-hospitalar às urgências de acordo com a regionalização e con- acordo com as Políticas de Atenção Especializada;
forme normas vigentes e pactuações estabelecidas Elaborar, pactuar e manter as tabelas de procedimentos en-
Executar o controle do acesso do seu usuário aos leitos disponí- quanto padrão nacional de utilização dos mesmos e de seus preços;
veis, às consultas, terapias e exames especializados, disponíveis no Estruturar a política nacional de regulação da atenção à saúde,
seu território, que pode ser feito por meio de centrais de regulação; conforme pactuação na CIT, contemplando apoio financeiro, tecno-
Definir a programação físico-financeira por estabelecimento de lógico e de educação permanente;
saúde; observar as normas vigentes de solicitação e autorização dos Estimular e apoiar a implantação dos complexos reguladores;
procedimentos hospitalares e ambulatoriais; processar a produção Cooperar na implantação e implementação dos complexos re-
dos estabelecimentos de saúde próprios e contratados e realizar o guladores;
pagamento dos prestadores de serviços; Coordenar e monitorar a implementação e operacionalização
Monitorar e fiscalizar contratos e convênios com prestadores das centrais de regulação interestaduais, garantindo o acesso às re-
contratados e conveniados, bem como das unidades públicas; ferências pactuadas;
Elaborar contratos com os prestadores de acordo com a políti- Coordenar a construção de protocolos clínicos e de regulação
ca nacional de contratação de serviços de saúde, em conformidade de acesso nacionais, em parceria com os estados, o Distrito Federal
com o planejamento e a programação da atenção; e os municípios, apoiando–os na utilização dos mesmos;
Credenciar os serviços de acordo com as normas vigentes e Acompanhar, monitorar e avaliar a atenção básica, nas demais
com a regionalização; esferas de gestão, respeitadas as competências estaduais, munici-
Monitorar e avaliar o funcionamento dos Consórcios de Saúde; pais e do Distrito Federal;
Monitorar e avaliar o desempenho das redes regionais hierar- Monitorar e avaliar as ações de vigilância em saúde, realizadas
quizadas; pelos municípios, Distrito Federal, estados e pelo gestor federal,
Implementar avaliação das ações de saúde nos estabelecimen- incluindo a permanente avaliação dos sistemas de vigilância epide-
tos, por meio de análise de dados e indicadores e verificação de miológica e ambiental em saúde;
padrões de conformidade; Normatizar, definir fluxos técnico-operacionais e supervisionar
Monitorar e fiscalizar a execução dos procedimentos realizados a rede de laboratórios públicos e privados que realizam análises de
em cada estabelecimento por meio das ações de controle e avalia- interesse em saúde pública;
ção hospitalar e ambulatorial; Avaliar o desempenho das redes regionais e de referências in-
Supervisionar a rede de laboratórios públicos e privados que terestaduais;
realizam análises de interesse da saúde pública; Responsabilizar-se pela avaliação tecnológica em saúde;
Elaborar normas complementares para a avaliação tecnológica Avaliar e auditar os sistemas de saúde estaduais e municipais.
em saúde;
Implementar auditoria sobre toda a produção de serviços de 5 – RESPONSABILIDADES NA GESTÃO DO TRABALHO
saúde, pública e privada, em articulação com as ações de controle,
avaliação e regulação assistencial. 5.1 - MUNICÍPIOS
Todo município deve:
– UNIÃO promover e desenvolver políticas de gestão do trabalho, consi-
Cooperar tecnicamente com os estados, o Distrito Federal e os derando os princípios da humanização, da participação e da demo-
municípios para a qualificação das atividades de cadastramento, cratização das relações de trabalho;
contratação, regulação, controle, avaliação, auditoria e pagamento adotar vínculos de trabalho que garantam os direitos sociais e
aos prestadores dos serviços vinculados ao SUS; previdenciários dos trabalhadores de saúde na sua esfera de gestão
Monitorar e fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros e de serviços, promovendo ações de adequação de vínculos, onde
transferidos fundo a fundo e por convênio aos fundos de saúde dos for necessário, conforme legislação vigente;
estados, do Distrito Federal e dos municípios; As responsabilidades a seguir serão atribuídas de acordo com o
Monitorar o cumprimento pelos estados, Distrito Federal e mu- pactuado e/ou com a complexidade da rede de serviços localizada
nicípios dos planos de saúde, dos relatórios de gestão, da operação no território municipal
dos fundos de saúde, dos pactos de indicadores e metas, da cons- Estabelecer, sempre que possível, espaços de negociação per-
tituição dos serviços de regulação, controle avaliação e auditoria e manente entre trabalhadores e gestores;
da realização da programação pactuada e integrada da atenção à Desenvolver estudos e propor estratégias e financiamento tri-
saúde; partite com vistas à adoção de política referente aos recursos hu-
Coordenar, no âmbito nacional, a estratégia de identificação manos descentralizados;
dos usuários do SUS; Considerar as diretrizes nacionais para Planos de Carreiras,
Coordenar e cooperar com os estados, o Distrito Federal e os Cargos e Salários para o SUS – PCCS/SUS, quando da elaboração,
municípios no processo de cadastramento de Estabelecimentos e implementação e/ou reformulação de Planos de Cargos e Salários
Profissionais de Saúde; no âmbito da gestão local;

314
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

Implementar e pactuar diretrizes para políticas de educação e Adotar vínculos de trabalho que garantam os direitos sociais e
gestão do trabalho que favoreçam o provimento e a fixação de tra- previdenciários dos trabalhadores de saúde na sua esfera de gestão
balhadores de saúde, no âmbito municipal, notadamente em regi- e de serviços, promovendo ações de adequação de vínculos, onde
ões onde a restrição de oferta afeta diretamente a implantação de for necessário, conforme legislação vigente e apoiando técnica e fi-
ações estratégicas para a atenção básica. nanceiramente os estados e municípios na mesma direção;
5.2 – ESTADOS Formular, propor, pactuar e implementar as Diretrizes Nacio-
Promover e desenvolver políticas de gestão do trabalho, consi- nais para Planos de Carreiras, Cargos e Salários no âmbito do Siste-
derando os princípios da humanização, da participação e da demo- ma Único de Saúde – PCCS/SUS;
cratização das relações de trabalho; Propor e pactuar diretrizes para políticas de educação e de
Desenvolver estudos e propor estratégias e financiamento tri- gestão do trabalho que favoreçam o provimento e a fixação de tra-
partite com vistas à adoção de política referente aos recursos hu- balhadores de saúde, no âmbito nacional, notadamente em regi-
manos descentralizados; ões onde a restrição de oferta afeta diretamente a implantação de
Promover espaços de negociação permanente entre trabalha- ações estratégicas para a atenção básica.
dores e gestores, no âmbito estadual e regional;
Adotar vínculos de trabalho que garantam os direitos sociais e RESPONSABILIDADES NA EDUCAÇÃO NA SAÚDE
previdenciários dos trabalhadores de saúde na sua esfera de gestão
e de serviços, promovendo ações de adequação de vínculos, onde 6.1 - MUNICÍPIOS
for necessário, conforme legislação vigente e apoiando técnica e fi- Todo município deve:
nanceiramente os municípios na mesma direção; formular e promover a gestão da educação permanente em
Considerar as diretrizes nacionais para Planos de Carreiras, saúde e processos relativos à mesma, orientados pela integralidade
Cargos e Salários para o SUS – PCCS/SUS, quando da elaboração, da atenção à saúde, criando quando for o caso, estruturas de coor-
implementação e/ou reformulação de Planos de Cargos e Salários denação e de execução da política de formação e desenvolvimento,
no âmbito da gestão estadual; participando no seu financiamento;
Propor e pactuar diretrizes para políticas de educação e gestão promover diretamente ou em cooperação com o estado, com
do trabalho que favoreçam o provimento e a fixação de trabalhado- os municípios da sua região e com a união, processos conjuntos de
res de saúde, no âmbito estadual, notadamente em regiões onde a educação permanente em saúde;
restrição de oferta afeta diretamente a implantação de ações estra- apoiar e promover a aproximação dos movimentos de educa-
tégicas para a atenção básica. ção popular em saúde na formação dos profissionais de saúde, em
5.3 – DISTRITO FEDERAL consonância com as necessidades sociais em saúde;
Desenvolver estudos quanto às estratégias e financiamento incentivar junto à rede de ensino, no âmbito municipal, a reali-
tripartite de política de reposição da força de trabalho descentra- zação de ações educativas e de conhecimento do SUS;
lizada; As responsabilidades a seguir serão atribuídas de acordo com o
Implementar espaços de negociação permanente entre traba- pactuado e/ou com a complexidade da rede de serviços localizada
lhadores e gestores, no âmbito do Distrito Federal e regional; no território municipal
Adotar vínculos de trabalho que garantam os direitos sociais e Articular e cooperar com a construção e implementação de ini-
previdenciários dos trabalhadores de saúde na sua esfera de gestão ciativas políticas e práticas para a mudança na graduação das profis-
e de serviços, promovendo ações de adequação de vínculos, onde sões de saúde, de acordo com as diretrizes do SUS;
for necessário, conforme legislação vigente; Promover e articular junto às Escolas Técnicas de Saúde uma
Considerar as diretrizes nacionais para Planos de Carreiras, nova orientação para a formação de profissionais técnicos para o
Cargos e Salários para o SUS – PCCS/SUS, quando da elaboração, SUS, diversificando os campos de aprendizagem;
implementação e/ou reformulação de Planos de Cargos e Salários 6.2 – ESTADOS
no âmbito da gestão do Distrito Federal; Formular, promover e apoiar a gestão da educação permanen-
Propor e pactuar diretrizes para políticas de educação e de ges- te em saúde e processos relativos à mesma no âmbito estadual;
tão do trabalho que favoreçam o provimento e a fixação de traba- Promover a integração de todos os processos de capacitação e
lhadores de saúde, no âmbito do Distrito Federal, notadamente em desenvolvimento de recursos humanos à política de educação per-
regiões onde a restrição de oferta afeta diretamente a implantação manente, no âmbito da gestão estadual do SUS;
de ações estratégicas para a atenção básica. Apoiar e fortalecer a articulação com os municípios e entre os
5.4 – UNIÃO mesmos, para os processos de educação e desenvolvimento de tra-
Promover, desenvolver e pactuar políticas de gestão do traba- balhadores para o SUS;
lho considerando os princípios da humanização, da participação e Articular o processo de vinculação dos municípios às referên-
da democratização das relações de trabalho, apoiando os gestores cias para o seu processo de formação e desenvolvimento;
estaduais e municipais na implementação das mesmas; Articular e participar das políticas regulatórias e de indução de
Desenvolver estudos e propor estratégias e financiamento tri- mudanças no campo da graduação e da especialização das profis-
partite com vistas à adoção de políticas referentes à força de traba- sões de saúde;
lho descentralizada; Articular e pactuar com o Sistema Estadual de Educação, pro-
Fortalecer a Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS cessos de formação de acordo com as necessidades do SUS, coope-
como um espaço de negociação entre trabalhadores e gestores e rando com os demais gestores, para processos na mesma direção;
contribuir para o desenvolvimento de espaços de negociação no Desenvolver ações e estruturas formais de educação técnica
âmbito estadual, regional e/ou municipal; em saúde com capacidade de execução descentralizada no âmbito
estadual;

315
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

6.3 – DISTRITO FEDERAL Apoiar os processos de educação popular em saúde, com vistas
Formular e promover a gestão da educação permanente em ao fortalecimento da participação social do SUS;
saúde e processos relativos à mesma, orientados pela integralidade A responsabilidade a seguir será atribuída de acordo com o
da atenção à saúde, criando quando for o caso, estruturas de coor- pactuado e/ou com a complexidade da rede de serviços localizada
denação e de execução da política de formação e desenvolvimento, no território municipal
participando no seu financiamento; Implementar ouvidoria municipal com vistas ao fortalecimento
Promover a integração de todos os processos de capacitação e da gestão estratégica do SUS, conforme diretrizes nacionais.
desenvolvimento de recursos humanos à política de educação per- 7.2 – ESTADOS
manente; Apoiar o processo de mobilização social e institucional em de-
Articular e participar das políticas regulatórias e de indução de fesa do SUS;
mudanças no campo da graduação e da especialização das profis- Prover as condições materiais, técnicas e administrativas ne-
sões de saúde; cessárias ao funcionamento do Conselho Estadual de Saúde, que
Articular e cooperar com a construção e implementação de ini- deverá ser organizado em conformidade com a legislação vigente;
ciativas políticas e práticas para a mudança na graduação das profis- Organizar e prover as condições necessárias à realização de
sões de saúde, de acordo com as diretrizes do SUS; Conferências Estaduais de Saúde;
Articular e pactuar com o Sistema Estadual de Educação, pro- Estimular o processo de discussão e controle social no espaço
cessos de formação de acordo com as necessidades do SUS, coope- regional;
rando com os demais gestores, para processos na mesma direção; Apoiar o processo de formação dos conselheiros de saúde;
Desenvolver ações e estruturas formais de educação técnica Promover ações de informação e conhecimento acerca do SUS,
em saúde com capacidade de execução descentralizada no âmbito junto à população em geral;
do Distrito Federal; Apoiar os processos de educação popular em saúde, com vistas
Promover e articular junto às Escolas Técnicas de Saúde uma ao fortalecimento da participação social do SUS;
nova orientação para a formação de profissionais técnicos para o Implementar ouvidoria estadual, com vistas ao fortalecimento
SUS, diversificando os campos de aprendizagem; da gestão estratégica do SUS, conforme diretrizes nacionais.
Apoiar e promover a aproximação dos movimentos de educa- 7.3 – DISTRITO FEDERAL
ção popular em saúde da formação dos profissionais de saúde, em Apoiar o processo de mobilização social e institucional em de-
consonância com as necessidades sociais em saúde; fesa do SUS;
Incentivar, junto à rede de ensino, a realização de ações educa- Prover as condições materiais, técnicas e administrativas ne-
tivas e de conhecimento do SUS; cessárias ao funcionamento do Conselho Estadual de Saúde, que
6.4 – UNIÃO deverá ser organizado em conformidade com a legislação vigente;
Formular, promover e pactuar políticas de educação perma- Organizar e prover as condições necessárias à realização de
nente em saúde, apoiando técnica e financeiramente estados e Conferências Estaduais de Saúde;
municípios no desenvolvimento das mesmas; Estimular o processo de discussão e controle social no espaço
Promover a integração de todos os processos de capacitação e regional;
desenvolvimento de recursos humanos à política de educação per- Apoiar o processo de formação dos conselheiros de saúde;
manente, no âmbito da gestão nacional do SUS; Promover ações de informação e conhecimento acerca do SUS,
Propor e pactuar políticas regulatórias no campo da graduação junto à população em geral;
e da especialização das profissões de saúde; Apoiar os processos de educação popular em saúde, com vistas
Articular e propor políticas de indução de mudanças na gradu- ao fortalecimento da participação social do SUS;
ação das profissões de saúde; Implementar ouvidoria estadual, com vistas ao fortalecimento
Propor e pactuar com o sistema federal de educação, processos da gestão estratégica do SUS, conforme diretrizes nacionais
de formação de acordo com as necessidades do SUS, articulando os 7.4 - UNIÃO
demais gestores na mesma direção; Apoiar o processo de mobilização social e institucional em de-
fesa do SUS;
RESPONSABILIDADES NA PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL Prover as condições materiais, técnicas e administrativas ne-
cessárias ao funcionamento do Conselho Nacional de Saúde, que
7.1 - MUNICÍPIOS deverá ser organizado em conformidade com a legislação vigente;
Todo município deve: Organizar e prover as condições necessárias à realização de
apoiar o processo de mobilização social e institucional em de- Conferências Nacionais de Saúde;
fesa do SUS; Apoiar o processo de formação dos conselheiros de saúde;
prover as condições materiais, técnicas e administrativas ne- Promover ações de informação e conhecimento acerca do SUS,
cessárias ao funcionamento do Conselho Municipal de Saúde, que junto à população em geral;
deverá ser organizado em conformidade com a legislação vigente; Apoiar os processos de educação popular em saúde, com vistas
organizar e prover as condições necessárias à realização de ao fortalecimento da participação social do SUS;
Conferências Municipais de Saúde; Apoiar o fortalecimento dos movimentos sociais, aproximan-
estimular o processo de discussão e controle social no espaço do-os da organização das práticas da saúde e com as instâncias de
regional; controle social da saúde;
apoiar o processo de formação dos conselheiros de saúde; Formular e pactuar a política nacional de ouvidoria e imple-
promover ações de informação e conhecimento acerca do SUS, mentar o componente nacional, com vistas ao fortalecimento da
junto à população em geral; gestão estratégica do SUS.

316
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

V - IMPLANTAÇÃO E MONITORAMENTO DOS PACTOS PELA O processo de articulação entre os gestores, nos diferentes ní-
VIDA E DE GESTÃO veis do Sistema, ocorre, preferencialmente, em dois colegiados de
A - PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO negociação: a Comissão Intergestores Tripartite - CIT e a Comissão
Para a implantação destes Pactos ficam acordados os seguintes Intergestores Bipartite - CIB, que pactuarão sobre a organização, di-
pontos: reção e gestão da saúde.
A implantação dos Pactos pela Vida e de Gestão, enseja uma A CIT é composta, paritariamente, por representação do Mi-
revisão normativa em várias áreas que serão regulamentadas em nistério da Saúde, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde
portarias específicas, pactuadas na CIT. - CONASS e do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saú-
Fica definido o Termo de Compromisso de Gestão, Federal, Es- de – CONASEMS, sendo um espaço tripartite para a elaboração de
tadual, do DF e Municipal, como o documento de formalização des- propostas para a implantação e operacionalização do SUS.
te Pacto nas suas dimensões Pela Vida e de Gestão. A CIB, composta igualmente de forma paritária, é integrada por
O Termo de Compromisso de Gestão, a ser regulamentado em representação da Secretaria Estadual de Saúde (SES) e do Conse-
normatização específica, contém as metas e objetivos do Pacto pela lho Estadual de Secretários Municipais de Saúde (COSEMS) ou ór-
Vida, referidas no item I deste documento; as responsabilidades e gão equivalente é a instância privilegiada de negociação e decisão
atribuições de cada gestor, constantes do item III e os indicadores quanto aos aspectos operacionais do SUS. Um dos representantes
de monitoramento. dos municípios é, necessariamente, o Secretário de Saúde da Capi-
Os Termos de Compromisso de Gestão devem ser aprovados tal. Como parte do processo de constituição das regiões de saúde
nos respectivos Conselhos de Saúde. devem ser constituídos Colegiados de Gestão Regionais.
Nos Termos de Compromisso de Gestão Estadual e Municipal, A definição sobre o número de membros de cada CIB deve con-
podem ser acrescentadas as metas municipais, regionais e estadu- siderar as diferentes situações de cada estado, como número de
ais, conforme pactuação; municípios, número de regiões de saúde, buscando a maior repre-
Anualmente, no mês de março, devem ser revistas as metas, sentatividade possível.
os objetivos e os indicadores do Termo de Compromisso de Gestão. As decisões da CIB e CIT serão tomadas sempre por consenso.
O Termo de Compromisso de Gestão substitui o atual processo As conclusões das negociações pactuadas na CIT e na CIB serão
formalizadas em ato próprio do gestor respectivo.
de habilitação, conforme detalhamento em portaria específica.
As decisões das Comissões Intergestores que versarem sobre
Fica extinto o processo de habilitação para estados e municí-
matéria da esfera de competência dos Conselhos de Saúde deverão
pios, conforme estabelecido na NOB SUS 01/– 96 e na NOAS SUS
ser submetidas à apreciação do Conselho respectivo.
2002.
Ficam mantidas, até a assinatura do Termo de Compromisso de
Gestão constante nas Diretrizes Operacionais do Pacto pela Saúde QUESTÕES
2006, as mesmas prerrogativas e responsabilidades dos municípios
e estados que estão habilitados em Gestão Plena do Sistema, con- 1. Instituto Consulplan - 2020 - Prefeitura de Formiga - MG -
forme estabelecido na Norma Operacional Básica - NOB SUS 01/96 Auxiliar em Farmácia
e na Norma Operacional da Assistência à Saúde - NOAS SUS 2002.
B - PROCESSO DE MONITORAMENTO A Lei nº 8.080/90 e suas atualizações prevê os princípios do
O processo de monitoramento dos Pactos deve seguir as se- SUS em seu Art. 7º. NÃO constitui um princípio estabelecido
guintes diretrizes: por essa lei:
Ser um processo permanente, de cada ente com relação ao (A) Direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde.
seu próprio âmbito, dos estados com relação aos municípios do seu (B) Capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis
território, dos municípios com relação ao estado, dos municípios e de assistência.
estado com relação à União e da união com relação aos estados, (C) A iniciativa privada tem preferência pelo fornecimento de
municípios e Distrito Federal; serviços de saúde.
Ser orientado pelos indicadores, objetivos, metas e responsa- (D) Integração em nível executivo das ações de saúde, meio
bilidades que compõem o respectivo Termo de Compromisso de ambiente e saneamento básico.
Gestão;
Estabelecer um processo de monitoramento dos cronogramas 2. Instituto Consulplan - 2019 - Prefeitura de Pitangueiras - SP -
pactuados nas situações onde o município, estado e DF não tenham Técnico em Enfermagem
condições de assumir plenamente suas responsabilidades no mo-
mento da assinatura do Termo de Compromisso de Gestão; Em relação à Lei Orgânica da Saúde, Lei nº 8.080/90, é INCOR-
Desenvolver ações de apoio para a qualificação do processo de RETO afirmar que:
gestão. (A) A colaboração na proteção do meio ambiente faz parte do
A operacionalização do processo de monitoramento deve ser campo de atuação do SUS.
objeto de regulamentação específica em cada esfera de governo, (B) As execuções das ações de saúde do trabalhador são de res-
considerando as pactuações realizadas. ponsabilidade do Ministério do Trabalho.
VI - DIREÇÃO E ARTICULAÇÃO DO SUS (C) A internação domiciliar é estabelecida no âmbito do SUS,
A direção do SUS, em cada esfera de governo, é composta pelo incluindo, entre outros, os procedimentos psicológicos e de as-
órgão setorial do poder executivo e pelo respectivo Conselho de sistência social.
Saúde, nos termos das Leis Nº 8.080/90 e Nº 8.142/1990. (D) Os municípios podem constituir consórcios administrativos,
para que as ações e os serviços de saúde que lhes correspon-
dam possam ser desenvolvidos em conjunto.

317
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

3. Instituto Consulplan - 2019 - Prefeitura de Pitangueiras - SP A sequência está correta em


- Veterinário (A) 3, 2, 1.
O conceito de Vigilância Epidemiológica, segundo a Lei nº (B) 2, 3, 1.
8.080/90 é o “conjunto de ações que proporciona o conhecimen- (C) 1, 2, 3.
to, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores de- (D) 3, 1, 2.
terminantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com
a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e 6. Instituto Consulplan - 2022 - SEED-PR - Eixo Tecnológico: Am-
controle das doenças ou agravos”. São propósitos da Vigilância Epi- biente e Saúde
demiológica, EXCETO: Um dos princípios da Política Nacional de Humanização no SUS
(A) Ter somente atuação no âmbito local que esteja restrita à – Humanizasus, é a transversalidade que significa:
realização de coleta de dados e à sua transmissão a outros ní- (A) Estar presente e inserida em todas as políticas e programas
veis. do SUS.
(B) Fornecer orientação técnica permanente para os responsá- (B) Que as decisões da gestão interferem diretamente na aten-
veis pela decisão e execução de ações de controle de doenças ção à saúde.
e agravos. (C) A ampliação da autonomia e vontade das pessoas envolvi-
(C) Disponibilizar informações atualizadas sobre a ocorrência das, que compartilham responsabilidades.
dessas doenças ou agravos, bem como dos seus fatores condi- (D) Que o cuidado e a assistência em saúde não se restringem
cionantes, em uma área geográfica ou população determinada. às responsabilidades da equipe de saúde.
(D) Constituir-se, ainda, em importante instrumento para o pla-
nejamento, a organização e a operacionalização dos serviços 7. : Instituto Consulplan - 2022 - SEED-PR - Eixo Tecnológico:
de saúde, como também para a normatização de atividades Ambiente e Saúde
técnicas correlatas. Para que haja garantia de acesso da população aos serviços de
saúde de maneira integral, atendendo aos princípios e diretrizes do
4. Instituto Consulplan - 2019 - Prefeitura de Pitangueiras - SP Sistema Único de Saúde (SUS), os gestores da saúde efetuam pactos
- Médico ESF entre si, que acontecem em foros de negociação e pactuação. Tais
Um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir, ou prevenir foros ocorrem por meio de:
riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do (A) Comitês de decisão gerencial do SUS.
meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de (B) Comissões de gestão operacional do SUS.
serviços de interesse à saúde. (C) Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite.
(§1º, inciso XI, artigo 6º da Lei 8.080/90 – Lei Orgânica da Saú- (D) Comissões especiais para assuntos operacionais, financei-
de.) ros e administrativos da gestão compartilhada do SUS.
São áreas de atuação da Vigilância Sanitária, EXCETO:
(A) Imunobiológicos e suas substâncias ativas, sangue e hemo- 8.CONSULPLAN - 2022 - Prefeitura de Caeté - MG - Advogado
derivados. - CREAS
(B) Radioisótopos para uso diagnóstico in vivo, radiofármacos e Para organizar o Sistema Único de Saúde (SUS) a partir dos prin-
produtos radioativos utilizados em diagnóstico e terapia. cípios doutrinários, considerando-se a ideia de seguridade social e
(C) Saneantes destinados à higienização, desinfecção ou desin- relevância pública, há algumas diretrizes que orientam o processo
festação em ambientes domiciliares, hospitalares e coletivos. na forma de concretizar o SUS na prática. Sobre a participação dos
(D) Produtos alimentícios elaborados conforme Padrão de cidadãos, analise as afirmativas a seguir.
Identidade e Qualidade, usados como ingredientes alimenta-
res, destinados ao emprego na preparação de alimentos in- I. É a garantia constitucional de que a população, por meio de
dustrializados, em estabelecimentos devidamente licenciados, suas entidades representativas, participará do processo de formu-
desde que incluídos na legislação brasileira de alimentos. lação e avaliação das políticas de saúde e do controle da sua execu-
ção, em todos os níveis, desde o federal até o local.
5. Instituto Consulplan - 2022 - Prefeitura de Gonçalves - MG - II. Ocorre por meio dos conselhos de saúde que têm poder de-
Assistente Social liberativo, de caráter permanente, compostos com a representativi-
Integram o Sistema Único de Saúde (SUS) os serviços públi- dade de toda a sociedade.
cos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados, III. Outras formas de participação são as Conferências de Saú-
sendo executados de acordo com as diretrizes previstas na Lei nº de, que são fóruns com representação de vários segmentos sociais
8.080/90, Art. 7º, respeitando, assim, os princípios estabelecidos. que se reúnem para propor diretrizes, avaliar a situação da saúde e
Considerando as informações anteriores, relacione os princípios às ajudar na definição da política de saúde.
suas respectivas características. IV. Ocorrem, periodicamente, em duas esferas de governo,
1. Universalidade de acesso. 2. Integralidade de assistência. 3. constituindo as instâncias máximas de deliberação.
Igualdade. Está correto o que se afirma em
( ) A assistência à saúde deve ser de maneira independente de
estereótipos ou prerrogativas de qualquer espécie. ( ) O conjunto Alternativas
vinculado e constante das ações e serviços preventivos e curativos, (A) I, II, III e IV.
sejam eles individuais ou coletivos, devem abranger todos os níveis (B) I e II, apenas.
de complexidade do sistema de acordo com cada caso. ( ) Os servi- (C) III e IV, apenas.
ços de saúde devem atingir todos os níveis de assistência. (D) I, II e III, apenas.

318
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

9. CONSULPLAN - 2022 - Prefeitura de Caeté - MG - Advogado 12. Instituto Consulplan - 2022 - Prefeitura de Formiga - MG -
- CREAS Agente Comunitário de Saúde
O que é definido como único na Constituição é um conjunto A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de
de elementos doutrinários e de organização do Sistema Único de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a
Saúde (SUS), um núcleo comum (único) que concentra os princípios proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o trata-
doutrinários e uma forma de organização e operacionalização, os mento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde
princípios organizativos. São considerados princípios organizativos com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte
do SUS, somente: na situação de saúde e na autonomia das pessoas e nos determi-
(A) Equidade e Descentralização. nantes e condicionantes de saúde das coletividades. É desenvolvida
(B) Regionalização e Hierarquização. por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão, democráticas
(C) Descentralização e Universalidade. e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a popu-
(D) Participação Social a Integralidade. lações de territórios definidos, pelas quais assume a responsabili-
dade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território
10. CONSULPLAN - 2020 - Prefeitura de Capanema - PA - Agente em que vivem essas populações.
de Combate às Endemias
Epidemias e endemias têm como fatores determinantes e con- (Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br. Acesso em: 01/2023.)
dicionantes diversas situações econômicas, culturais, ecológicas,
psicossociais e biológicas. São considerados fatores econômicos: São consideradas atribuições específicas dos Agentes Comuni-
(A) Estresse, uso de drogas, ausência de atividades e locais para tários de Saúde na Atenção Básica, EXCETO:
lazer. (A) Realizar atividades programadas e de atenção à demanda
(B) Indivíduos suscetíveis, mutação do agente infeccioso, trans- espontânea.
missibilidade do agente. (B) Direcionar, quando necessário, usuários a outros pontos de
(C) Poluição atmosférica, condições climáticas e ambientais fa- atenção, respeitando fluxos locais, mantendo sua responsabili-
voráveis à proliferação de vetores. dade pelo acompanhamento do plano terapêutico do usuário
(D )Hábito de defecar próximo de mananciais, hábitos alimen- (C) Desenvolver ações que busquem a integração entre a equi-
tares de risco como ingestão de peixe cru ou ostras. pe de saúde e a população adscrita à Unidade Básica de Saúde
(E) Miséria, privações resultando em habitações precárias, falta (UBS), considerando as características e as finalidades do tra-
de saneamento básico e de água tratada e ocupação do territó- balho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou
rio de forma desordenada. coletividade.
(D) Estar em contato permanente com as famílias, desenvolven-
11. : Instituto Consulplan - 2023 - ISGH - Maqueiro do ações educativas, visando à promoção da saúde, prevenção
A Região de Saúde é instituída pelo Estado de forma articula- das doenças e acompanhamento das pessoas com problemas
da com o Município, resguardando as diretrizes gerais pactuadas de saúde, bem como ao acompanhamento das condicionalida-
na Comissão Intergestores Tripartite (CIT). Em relação às ações e des do Programa Bolsa Família, ou de qualquer outro programa
serviços mínimos exigidos para a constituição da Região de Saúde, similar de transferência de renda e enfrentamento de vulnera-
analise as alternativas a seguir. bilidades implantado pelo Governo Federal, estadual e munici-
I. Atenção Primária. pal, de acordo com o planejamento da equipe.
II. Urgência e emergência.
III. Atenção ambulatorial especializada e hospitalar. 13. Instituto Consulplan - 2022 - SEED-PR - Eixo Tecnológico:
IV. Vigilância em Saúde. Ambiente e Saúde
Dentre os diversos benefícios previstos aos idosos estão o direi-
Está correto o que se afirma em to à saúde e à habitação. Em relação ao transporte, marque V para
(A) I, II, III e IV. as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
(B) II, apenas. ( ) É assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos
(C) I e II, apenas. urbanos e semiurbanos para os maiores de sessenta anos.
(D) II e III, apenas. ( ) As empresas de transporte coletivo público urbanos e se-
miurbanos devem reservar 10% dos assentos para os idosos.
( ) As empresas de transporte coletivo interestadual devem re-
servar duas vagas gratuitas por veículo para os idosos com renda
igual ou inferior a dois salários mínimos.
( ) Para ter acesso à gratuidade, os idosos devem se cadastrar
nas empresas de transporte coletivo público urbanos e semiurba-
nos bastando, para isso, a apresentação de qualquer documento
pessoal que faça prova de sua idade.

A sequência está correta em


(A) F, V, V, F.
(B) F, F, V, V.
(C) V, V, F, F.
(D) V, F, F, V.

319
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA

14. Instituto Consulplan - 2022 - SEED-PR - Eixo Tecnológico:


Ambiente e Saúde GABARITO
A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o
Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
1 C
(Art. 2º da Lei nº 8.080/1990.)
2 B
Sobre tal legislação, assinale a afirmativa INCORRETA. 3 A
(A) A organização social e econômica do país é expressada tam-
bém pelo nível de saúde da sua população. 4 D
(B) O saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, 5 A
dentre outros, são determinantes e condicionantes da saúde.
6 A
(C) As ações e os serviços de saúde de que tratam a referida
legislação devem ser executados por instituições federais, esta- 7 C
duais e municipais de caráter unicamente público. 8 D
(D) O dever do Estado de prover as condições indispensáveis ao
pleno exercício da saúde não exclui o dever dos indivíduos, das 9 B
famílias, das empresas e da sociedade no processo de produ- 10 E
ção da saúde e de qualidade de vida.
11 A
15. : Instituto Consulplan - 2023 - SEGER-ES - Analista do Exe- 12 B
cutivo - Nutrição
13 A
No Brasil, a alimentação, assim como a saúde, é um direito
constitucional previsto na lei que cria o Sistema Único de Saúde 14 C
(SUS), Lei nº 8.080/1990. Tal normativa estabelece o caráter deter- 15 C
minante da alimentação e atribui ao Ministério da Saúde (MS) o pa-
pel de formular políticas de alimentação e nutrição. Nesse sentido,
a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), instituída em
1999, chega para dar concretude às ações de alimentação e nutri-
ANOTAÇÕES
ção no SUS. Ao completar dez anos de publicação da PNAN, deu-se
início ao processo de atualização e aprimoramento das suas bases ______________________________________________________
e diretrizes, de forma a consolidar-se como uma referência para os
novos desafios a serem enfrentados no campo da alimentação e ______________________________________________________
nutrição no SUS. Os gestores de saúde nas três esferas, de forma
articulada e dando cumprimento às suas atribuições comuns e es- ______________________________________________________
pecíficas, atuarão no sentido de viabilizar o alcance do propósito
desta política. Há as responsabilidades do Ministério da Saúde; das ______________________________________________________
Secretarias Estaduais de Saúde e do Distrito Federal; e, das Secreta-
______________________________________________________
rias Municipais de Saúde e do Distrito Federal. Trata-se de respon-
sabilidade das Secretarias Estaduais de Saúde e do Distrito Federal: ______________________________________________________
(A) Pactuar, monitorar e avaliar os indicadores de alimentação
e nutrição e alimentar os sistemas de informação da saúde, de ______________________________________________________
forma contínua, com dados produzidos no sistema local de saú-
de. ______________________________________________________
(B) Apoiar a organização de uma rede de Centros Colaborado-
res em Alimentação e Nutrição, fomentando o conhecimento e ______________________________________________________
a construção de evidências no campo da alimentação e nutri-
ção para o SUS. ______________________________________________________
(C) Prestar assessoria técnica e apoio institucional aos muni- ______________________________________________________
cípios e às regionais de saúde no processo de gestão, planeja-
mento, execução, monitoramento e avaliação de programas e ______________________________________________________
ações de alimentação e nutrição.
(D) Pactuar, na Comissão Intergestores Tripartite, prioridades, ______________________________________________________
objetivos, estratégias e metas para implementação de progra-
mas e ações de alimentação e nutrição na Rede de Atenção à ______________________________________________________
Saúde, mantidos os princípios e as diretrizes gerais da PNAN.
(E) Elaborar o plano de ação dentro dos instrumentos de plane- ______________________________________________________
jamento e gestão para implementação da PNAN, considerando
______________________________________________________
as questões prioritárias e as especificidades regionais de forma
contínua e articulada com o Plano Nacional de Saúde e instru- ______________________________________________________
mentos de planejamento e pactuação do SUS.

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