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LEGISLAÇÃO

instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e fi-


SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): PRINCÍPIOS, DIRE- nanceiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder
TRIZES, ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO; POLÍTICAS DE legalmente constituído em cada esfera do governo.
SAÚDE. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DAS INS- Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros,
TITUIÇÕES E SUAS RELAÇÕES COM OS SERVIÇOS DE que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movi-
SAÚDE mentos representativos de usuários; 25% de entidades representa-
tivas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação
O que é o Sistema Único de Saúde (SUS)? de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais com- sem fins lucrativos.
plexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o
simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio Comissão Intergestores Tripartite (CIT)
da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo aces- Foro de negociação e pactuação entre gestores federal, esta-
so integral, universal e gratuito para toda a população do país. Com dual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS
a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema
público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e Comissão Intergestores Bipartite (CIB)
não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de Foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e mu-
todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco nicipais, quanto aos aspectos operacionais do SUS
na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção
da saúde. Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass)
A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e Entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Fe-
participativa entre os três entes da Federação: a União, os Estados deral na CIT para tratar de matérias referentes à saúde
e os municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tan-
to ações quanto os serviços de saúde. Engloba a atenção primária, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Co-
média e alta complexidades, os serviços urgência e emergência, a nasems)
atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemioló- Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tra-
gica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica. tar de matérias referentes à saúde

AVANÇO: Conforme a Constituição Federal de 1988 (CF-88), a Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems)
“Saúde é direito de todos e dever do Estado”. No período anterior a São reconhecidos como entidades que representam os entes
CF-88, o sistema público de saúde prestava assistência apenas aos municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes
trabalhadores vinculados à Previdência Social, aproximadamente à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na
30 milhões de pessoas com acesso aos serviços hospitalares, caben- forma que dispuserem seus estatutos.
do o atendimento aos demais cidadãos às entidades filantrópicas.
Responsabilidades dos entes que compõem o SUS
Estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS)
O Sistema Único de Saúde (SUS) é composto pelo Ministério da União
Saúde, Estados e Municípios, conforme determina a Constituição A gestão federal da saúde é realizada por meio do Ministério
Federal. Cada ente tem suas co-responsabilidades. da Saúde. O governo federal é o principal financiador da rede públi-
ca de saúde. Historicamente, o Ministério da Saúde aplica metade
Ministério da Saúde de todos os recursos gastos no país em saúde pública em todo o
Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora Brasil, e estados e municípios, em geral, contribuem com a outra
e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacio- metade dos recursos. O Ministério da Saúde formula políticas na-
nal de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite cionais de saúde, mas não realiza as ações. Para a realização dos
(CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estru- projetos, depende de seus parceiros (estados, municípios, ONGs,
tura: Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hos- fundações, empresas, etc.). Também tem a função de planejar, ela-
pitais federais. birar normas, avaliar e utilizar instrumentos para o controle do SUS.

Secretaria Estadual de Saúde (SES) Estados e Distrito Federal


Participa da formulação das políticas e ações de saúde, pres- Os estados possuem secretarias específicas para a gestão de
ta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e saúde. O gestor estadual deve aplicar recursos próprios, inclusive
participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e nos municípios, e os repassados pela União. Além de ser um dos
implementar o plano estadual de saúde. parceiros para a aplicação de políticas nacionais de saúde, o estado
formula suas próprias políticas de saúde. Ele coordena e planeja o
Secretaria Municipal de Saúde (SMS) SUS em nível estadual, respeitando a normatização federal. Os ges-
Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços tores estaduais são responsáveis pela organização do atendimento
de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera esta- à saúde em seu território.
dual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde.
Municípios
Conselhos de Saúde São responsáveis pela execução das ações e serviços de saúde
O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, Esta- no âmbito do seu território. O gestor municipal deve aplicar recur-
dual ou Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão sos próprios e os repassados pela União e pelo estado. O município
colegiado composto por representantes do governo, prestadores formula suas próprias políticas de saúde e também é um dos par-
de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação ceiros para a aplicação de políticas nacionais e estaduais de saúde.
de estratégias e no controle da execução da política de saúde na Ele coordena e planeja o SUS em nível municipal, respeitando a

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normatização federal. Pode estabelecer parcerias com outros mu- Princípios do SUS
nicípios para garantir o atendimento pleno de sua população, para São conceitos que orientam o SUS, previstos no artigo 198 da
procedimentos de complexidade que estejam acima daqueles que Constituição Federal de 1988 e no artigo 7º do Capítulo II da Lei n.º
pode oferecer. 8.080/1990. Os principais são:
Universalidade: significa que o SUS deve atender a todos, sem
História do sistema único de saúde (SUS) distinções ou restrições, oferecendo toda a atenção necessária,
As duas últimas décadas foram marcadas por intensas transfor- sem qualquer custo;
mações no sistema de saúde brasileiro, intimamente relacionadas Integralidade: o SUS deve oferecer a atenção necessária à
com as mudanças ocorridas no âmbito político-institucional. Simul- saúde da população, promovendo ações contínuas de prevenção e
taneamente ao processo de redemocratização iniciado nos anos tratamento aos indivíduos e às comunidades, em quaisquer níveis
80, o país passou por grave crise na área econômico-financeira. de complexidade;
No início da década de 80, procurou-se consolidar o processo Equidade: o SUS deve disponibilizar recursos e serviços com
de expansão da cobertura assistencial iniciado na segunda metade justiça, de acordo com as necessidades de cada um, canalizando
dos anos 70, em atendimento às proposições formuladas pela OMS maior atenção aos que mais necessitam;
na Conferência de Alma-Ata (1978), que preconizava “Saúde para Participação social: é um direito e um dever da sociedade par-
Todos no Ano 2000”, principalmente por meio da Atenção Primária ticipar das gestões públicas em geral e da saúde pública em par-
à Saúde. ticular; é dever do Poder Público garantir as condições para essa
Nessa mesma época, começa o Movimento da Reforma Sa- participação, assegurando a gestão comunitária do SUS; e
nitária Brasileira, constituído inicialmente por uma parcela da in- Descentralização: é o processo de transferência de responsa-
telectualidade universitária e dos profissionais da área da saúde. bilidades de gestão para os municípios, atendendo às determina-
Posteriormente, incorporaram-se ao movimento outros segmentos ções constitucionais e legais que embasam o SUS, definidor de atri-
da sociedade, como centrais sindicais, movimentos populares de buições comuns e competências específicas à União, aos estados,
saúde e alguns parlamentares. ao Distrito Federal e aos municípios.
As proposições desse movimento, iniciado em pleno regime
autoritário da ditadura militar, eram dirigidas basicamente à cons- Principais leis
trução de uma nova política de saúde efetivamente democráti- Constituição Federal de 1988: Estabelece que “a saúde é direi-
ca, considerando a descentralização, universalização e unificação to de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
como elementos essenciais para a reforma do setor. e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
Várias foram às propostas de implantação de uma rede de serviços agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
voltada para a atenção primária à saúde, com hierarquização, descentra- para sua promoção, proteção e recuperação”. Determina ao Poder
lização e universalização, iniciando-se já a partir do Programa de Interio- Público sua “regulamentação, fiscalização e controle”, que as ações
rização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), em 1976. e os serviços da saúde “integram uma rede regionalizada e hierar-
Em 1980, foi criado o Programa Nacional de Serviços Básicos quizada e constituem um sistema único”; define suas diretrizes,
de Saúde (PREV-SAÚDE) - que, na realidade, nunca saiu do papel -, atribuições, fontes de financiamento e, ainda, como deve se dar a
logo seguida pelo plano do Conselho Nacional de Administração da participação da iniciativa privada.
Saúde Previdenciária (CONASP), em 1982 a partir do qual foi imple-
mentada a política de Ações Integradas de Saúde (AIS), em 1983. Lei Orgânica da Saúde (LOS), Lei n.º 8.080/1990: Regulamen-
Essas constituíram uma estratégia de extrema importância para o ta, em todo o território nacional, as ações do SUS, estabelece as
processo de descentralização da saúde. diretrizes para seu gerenciamento e descentralização e detalha as
A 8ª Conferência Nacional da Saúde, realizada em março de competências de cada esfera governamental. Enfatiza a descentra-
1986, considerada um marco histórico, consagra os princípios pre- lização político-administrativa, por meio da municipalização dos
conizados pelo Movimento da Reforma Sanitária. serviços e das ações de saúde, com redistribuição de poder, com-
Em 1987 é implementado o Sistema Unificado e Descentrali- petências e recursos, em direção aos municípios. Determina como
zado de Saúde (SUDS), como uma consolidação das Ações Integra- competência do SUS a definição de critérios, valores e qualidade
das de Saúde (AIS), que adota como diretrizes a universalização e dos serviços. Trata da gestão financeira; define o Plano Municipal
a equidade no acesso aos serviços, à integralidade dos cuidados, a de Saúde como base das atividades e da programação de cada nível
regionalização dos serviços de saúde e implementação de distritos de direção do SUS e garante a gratuidade das ações e dos serviços
sanitários, a descentralização das ações de saúde, o desenvolvi- nos atendimentos públicos e privados contratados e conveniados.
mento de instituições colegiadas gestoras e o desenvolvimento de
uma política de recursos humanos. Lei n.º 8.142/1990: Dispõe sobre o papel e a participação das
O capítulo dedicado à saúde na nova Constituição Federal, pro- comunidades na gestão do SUS, sobre as transferências de recursos
mulgada em outubro de 1988, retrata o resultado de todo o proces- financeiros entre União, estados, Distrito Federal e municípios na
so desenvolvido ao longo dessas duas décadas, criando o Sistema área da saúde e dá outras providências.
Único de Saúde (SUS) e determinando que “a saúde é direito de Institui as instâncias colegiadas e os instrumentos de participa-
todos e dever do Estado” (art. 196). ção social em cada esfera de governo.
Entre outros, a Constituição prevê o acesso universal e igua-
litário às ações e serviços de saúde, com regionalização e hierar- Responsabilização Sanitária
quização, descentralização com direção única em cada esfera de Desenvolver responsabilização sanitária é estabelecer clara-
governo, participação da comunidade e atendimento integral, com mente as atribuições de cada uma das esferas de gestão da saú-
prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos servi- de pública, assim como dos serviços e das equipes que compõem
ços assistenciais. o SUS, possibilitando melhor planejamento, acompanhamento e
A Lei nº 8.080, promulgada em 1990, operacionaliza as disposi- complementaridade das ações e dos serviços. Os prefeitos, ao as-
ções constitucionais. São atribuições do SUS em seus três níveis de sumir suas responsabilidades, devem estimular a responsabilização
governo, além de outras, “ordenar a formação de recursos huma- junto aos gerentes e equipes, no âmbito municipal, e participar do
nos na área de saúde” (CF, art. 200, inciso III). processo de pactuação, no âmbito regional.

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Responsabilização Macrossanitária Espaços regionais: A implementação de espaços regionais de
O gestor municipal, para assegurar o direito à saúde de seus pactuação, envolvendo os gestores municipais e estaduais, é uma
munícipes, deve assumir a responsabilidade pelos resultados, bus- necessidade para o aperfeiçoamento do SUS. Os espaços regionais
cando reduzir os riscos, a mortalidade e as doenças evitáveis, a devem-se organizar a partir das necessidades e das afinidades es-
exemplo da mortalidade materna e infantil, da hanseníase e da tu- pecíficas em saúde existentes nas regiões.
berculose. Para isso, tem de se responsabilizar pela oferta de ações
e serviços que promovam e protejam a saúde das pessoas, previ- Descentralização
nam as doenças e os agravos e recuperem os doentes. A atenção O princípio de descentralização que norteia o SUS se dá, es-
básica à saúde, por reunir esses três componentes, coloca-se como pecialmente, pela transferência de responsabilidades e recursos
responsabilidade primeira e intransferível a todos os gestores. O para a esfera municipal, estimulando novas competências e capa-
cumprimento dessas responsabilidades exige que assumam as atri- cidades político-institucionais dos gestores locais, além de meios
buições de gestão, incluindo: adequados à gestão de redes assistenciais de caráter regional e ma-
- execução dos serviços públicos de responsabilidade munici- crorregional, permitindo o acesso, a integralidade da atenção e a
pal; racionalização de recursos. Os estados e a União devem contribuir
- destinação de recursos do orçamento municipal e utilização para a descentralização do SUS, fornecendo cooperação técnica e
do conjunto de recursos da saúde, com base em prioridades defini- financeira para o processo de municipalização.
das no Plano Municipal de Saúde;
- planejamento, organização, coordenação, controle e avalia- Regionalização: consensos e estratégias - As ações e os ser-
ção das ações e dos serviços de saúde sob gestão municipal; e viços de saúde não podem ser estruturados apenas na escala dos
- participação no processo de integração ao SUS, em âmbito municípios. Existem no Brasil milhares de pequenas municipalida-
regional e estadual, para assegurar a seus cidadãos o acesso a ser- des que não possuem em seus territórios condições de oferecer
viços de maior complexidade, não disponíveis no município. serviços de alta e média complexidade; por outro lado, existem
municípios que apresentam serviços de referência, tornando-se
Responsabilização Microssanitária polos regionais que garantem o atendimento da sua população e
É determinante que cada serviço de saúde conheça o território de municípios vizinhos. Em áreas de divisas interestaduais, são fre-
sob sua responsabilidade. Para isso, as unidades da rede básica de- quentes os intercâmbios de serviços entre cidades próximas, mas
vem estabelecer uma relação de compromisso com a população a de estados diferentes. Por isso mesmo, a construção de consensos
ela adstrita e cada equipe de referência deve ter sólidos vínculos te- e estratégias regionais é uma solução fundamental, que permitirá
rapêuticos com os pacientes e seus familiares, proporcionando-lhes ao SUS superar as restrições de acesso, ampliando a capacidade de
abordagem integral e mobilização dos recursos e apoios necessá- atendimento e o processo de descentralização.
rios à recuperação de cada pessoa. A alta só deve ocorrer quando
da transferência do paciente a outra equipe (da rede básica ou de O Sistema Hierarquizado e Descentralizado: As ações e servi-
outra área especializada) e o tempo de espera para essa transfe- ços de saúde de menor grau de complexidade são colocadas à dis-
rência não pode representar uma interrupção do atendimento: a posição do usuário em unidades de saúde localizadas próximas de
equipe de referência deve prosseguir com o projeto terapêutico, seu domicílio. As ações especializadas ou de maior grau de comple-
interferindo, inclusive, nos critérios de acesso. xidade são alcançadas por meio de mecanismos de referência, or-
ganizados pelos gestores nas três esferas de governo. Por exemplo:
Instâncias de Pactuação O usuário é atendido de forma descentralizada, no âmbito do mu-
São espaços intergovernamentais, políticos e técnicos onde nicípio ou bairro em que reside. Na hipótese de precisar ser atendi-
ocorrem o planejamento, a negociação e a implementação das po- do com um problema de saúde mais complexo, ele é referenciado,
líticas de saúde pública. As decisões se dão por consenso (e não isto é, encaminhado para o atendimento em uma instância do SUS
por votação), estimulando o debate e a negociação entre as partes. mais elevada, especializada. Quando o problema é mais simples, o
cidadão pode ser contrarreferenciado, isto é, conduzido para um
Comissão Intergestores Tripartite (CIT): Atua na direção nacio- atendimento em um nível mais primário.
nal do SUS, formada por composição paritária de 15 membros, sen-
do cinco indicados pelo Ministério da Saúde, cinco pelo Conselho Plano de saúde fixa diretriz e metas à saúde municipal
Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e cinco pelo É responsabilidade do gestor municipal desenvolver o proces-
Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems). so de planejamento, programação e avaliação da saúde local, de
A representação de estados e municípios nessa Comissão é, por- modo a atender as necessidades da população de seu município
tanto regional: um representante para cada uma das cinco regiões com eficiência e efetividade. O Plano Municipal de Saúde (PMS)
existentes no País. deve orientar as ações na área, incluindo o orçamento para a sua
execução. Um instrumento fundamental para nortear a elaboração
Comissões Intergestores Bipartites (CIB): São constituídas pa- do PMS é o Plano Nacional de Saúde. Cabe ao Conselho Municipal
ritariamente por representantes do governo estadual, indicados de Saúde estabelecer as diretrizes para a formulação do PMS, em
pelo Secretário de Estado da Saúde, e dos secretários municipais função da análise da realidade e dos problemas de saúde locais,
de saúde, indicados pelo órgão de representação do conjunto dos assim como dos recursos disponíveis. No PMS, devem ser descritos
municípios do Estado, em geral denominado Conselho de Secretá- os principais problemas da saúde pública local, suas causas, con-
rios Municipais de Saúde (Cosems). Os secretários municipais de sequências e pontos críticos. Além disso, devem ser definidos os
objetivos e metas a serem atingidos, as atividades a serem execu-
Saúde costumam debater entre si os temas estratégicos antes de
tadas, os cronogramas, as sistemáticas de acompanhamento e de
apresentarem suas posições na CIB. Os Cosems são também ins-
avaliação dos resultados.
tâncias de articulação política entre gestores municipais de saúde,
sendo de extrema importância a participação dos gestores locais
Sistemas de informações ajudam a planejar a saúde: O SUS
nesse espaço
opera e/ou disponibiliza um conjunto de sistemas de informações
estratégicas para que os gestores avaliem e fundamentem o pla-

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nejamento e a tomada de decisões, abrangendo: indicadores de resultado também das condições sociais, ambientais e econômicas
saúde; informações de assistência à saúde no SUS (internações em que vive. Os profissionais é que devem ir até suas casas, porque
hospitalares, produção ambulatorial, imunização e atenção básica); o objetivo principal da Saúde da Família é justamente aproximar as
rede assistencial (hospitalar e ambulatorial); morbidade por local equipes das comunidades e estabelecer entre elas vínculos sólidos.
de internação e residência dos atendidos pelo SUS; estatísticas
vitais (mortalidade e nascidos vivos); recursos financeiros, infor- A saúde municipal precisa ser integral. O município é respon-
mações demográficas, epidemiológicas e socioeconômicas. Cami- sável pela saúde de sua população integralmente, ou seja, deve
nha-se rumo à integração dos diversos sistemas informatizados de garantir que ela tenha acessos à atenção básica e aos serviços es-
base nacional, que podem ser acessados no site do Datasus. Nesse pecializados (de média e alta complexidade), mesmo quando locali-
processo, a implantação do Cartão Nacional de Saúde tem papel zados fora de seu território, controlando, racionalizando e avalian-
central. Cabe aos prefeitos conhecer e monitorar esse conjunto de do os resultados obtidos.
informações essenciais à gestão da saúde do seu município. Só assim estará promovendo saúde integral, como determina a
legislação. É preciso que isso fique claro, porque muitas vezes o gestor
Níveis de atenção à saúde: O SUS ordena o cuidado com a municipal entende que sua responsabilidade acaba na atenção básica
saúde em níveis de atenção, que são de básica, média e alta com- em saúde e que as ações e os serviços de maior complexidade são res-
plexidade. Essa estruturação visa à melhor programação e planeja- ponsabilidade do Estado ou da União – o que não é verdade.
mento das ações e dos serviços do sistema de saúde. Não se deve, A promoção da saúde é uma estratégia por meio da qual os
porém, desconsiderar algum desses níveis de atenção, porque a desafios colocados para a saúde e as ações sanitárias são pensados
atenção à saúde deve ser integral. em articulação com as demais políticas e práticas sanitárias e com
A atenção básica em saúde constitui o primeiro nível de aten- as políticas e práticas dos outros setores, ampliando as possibilidades
ção à saúde adotada pelo SUS. É um conjunto de ações que engloba de comunicação e intervenção entre os atores sociais envolvidos (su-
promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. De- jeitos, instituições e movimentos sociais). A promoção da saúde deve
senvolve-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democrá- considerar as diferenças culturais e regionais, entendendo os sujeitos
ticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas e as comunidades na singularidade de suas histórias, necessidades,
a populações de territórios delimitados, pelos quais assumem res- desejos, formas de pertencer e se relacionar com o espaço em que vi-
ponsabilidade. vem. Significa comprometer-se com os sujeitos e as coletividades para
Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densida- que possuam, cada vez mais, autonomia e capacidade para manejar
de, objetivando solucionar os problemas de saúde de maior fre- os limites e riscos impostos pela doença, pela constituição genética e
quência e relevância das populações. É o contato preferencial dos por seu contexto social, político, econômico e cultural. A promoção da
usuários com o sistema de saúde. Deve considerar o sujeito em sua saúde coloca, ainda, o desafio da intersetorialidade, com a convoca-
singularidade, complexidade, inteireza e inserção sociocultural, ção de outros setores sociais e governamentais para que considerem
além de buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamen- parâmetros sanitários, ao construir suas políticas públicas específicas,
to de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam possibilitando a realização de ações conjuntas.
comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável.
As Unidades Básicas são prioridades porque, quando as Unida- Vigilância em saúde: expande seus objetivos. Em um país com
des Básicas de Saúde funcionam adequadamente, a comunidade as dimensões do Brasil, com realidades regionais bastante diver-
consegue resolver com qualidade a maioria dos seus problemas de sificadas, a vigilância em saúde é um grande desafio. Apesar dos
saúde. É comum que a primeira preocupação de muitos prefeitos avanços obtidos, como a erradicação da poliomielite, desde 1989,
se volte para a reforma ou mesmo a construção de hospitais. Para o e com a interrupção da transmissão de sarampo, desde 2000, con-
SUS, todos os níveis de atenção são igualmente importantes, mas a vivemos com doenças transmissíveis que persistem ou apresentam
prática comprova que a atenção básica deve ser sempre prioritária, incremento na incidência, como a AIDS, as hepatites virais, as me-
porque possibilita melhor organização e funcionamento também ningites, a malária na região amazônica, a dengue, a tuberculose
dos serviços de média e alta complexidade. e a hanseníase. Observamos, ainda, aumento da mortalidade por
causas externas, como acidentes de trânsito, conflitos, homicídios
Estando bem estruturada, ela reduzirá as filas nos prontos so- e suicídios, atingindo, principalmente, jovens e população em idade
corros e hospitais, o consumo abusivo de medicamentos e o uso produtiva. Nesse contexto, o Ministério da Saúde com o objetivo
indiscriminado de equipamentos de alta tecnologia. Isso porque de integração, fortalecimento da capacidade de gestão e redução
os problemas de saúde mais comuns passam a ser resolvidos nas da morbimortalidade, bem como dos fatores de risco associados
Unidades Básicas de Saúde, deixando os ambulatórios de especiali- à saúde, expande o objeto da vigilância em saúde pública, abran-
dades e hospitais cumprirem seus verdadeiros papéis, o que resul- gendo as áreas de vigilância das doenças transmissíveis, agravos e
ta em maior satisfação dos usuários e utilização mais racional dos doenças não transmissíveis e seus fatores de riscos; a vigilância am-
recursos existentes. biental em saúde e a análise de situação de saúde.

Saúde da Família: é a saúde mais perto do cidadão. É parte Competências municipais na vigilância em saúde
da estratégia de estruturação eleita pelo Ministério da Saúde para Compete aos gestores municipais, entre outras atribuições, as
reorganização da atenção básica no País, com recursos financeiros atividades de notificação e busca ativa de doenças compulsórias,
específicos para o seu custeio. Cada equipe é composta por um surtos e agravos inusitados; investigação de casos notificados em
conjunto de profissionais (médico, enfermeiro, auxiliares de enfer- seu território; busca ativa de declaração de óbitos e de nascidos vi-
magem e agentes comunitários de saúde, podendo agora contar vos; garantia a exames laboratoriais para o diagnóstico de doenças
com profissional de saúde bucal) que se responsabiliza pela situa- de notificação compulsória; monitoramento da qualidade da água
ção de saúde de determinada área, cuja população deve ser de no para o consumo humano; coordenação e execução das ações de
mínimo 2.400 e no máximo 4.500 pessoas. Essa população deve vacinação de rotina e especiais (campanhas e vacinações de blo-
ser cadastrada e acompanhada, tornando-se responsabilidade das queio); vigilância epidemiológica; monitoramento da mortalidade
equipes atendê-la, entendendo suas necessidades de saúde como infantil e materna; execução das ações básicas de vigilância sanitá-

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ria; gestão e/ou gerência dos sistemas de informação epidemioló- Esfera Estadual - Gestor: Secretaria Estadual de Saúde - For-
gica, no âmbito municipal; coordenação, execução e divulgação das mulação da política municipal de saúde e a provisão das ações e
atividades de informação, educação e comunicação de abrangência serviços de saúde, financiados com recursos próprios ou transferi-
municipal; participação no financiamento das ações de vigilância dos pelo gestor federal e/ou estadual do SUS.
em saúde e capacitação de recursos. Esfera Municipal - Gestor: Secretaria Municipal de Saúde - For-
mulação de políticas nacionais de saúde, planejamento, normaliza-
Desafios públicos, responsabilidades compartilhadas: A legis- ção, avaliação e controle do SUS em nível nacional. Financiamento
lação brasileira – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e legislação das ações e serviços de saúde por meio da aplicação/distribuição de
sanitária, incluindo as Leis n.º 8.080/1990 e 8.142/1990 – estabe- recursos públicos arrecadados.
lece prerrogativas, deveres e obrigações a todos os governantes. A
Constituição Federal define os gastos mínimos em saúde, por es- SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
fera de governo, e a legislação sanitária, os critérios para as trans- Pela dicção dos arts. 196 e 198 da CF, podemos afirmar que
ferências intergovernamentais e alocação de recursos financeiros. somente da segunda parte do art. 196 se ocupa o Sistema Único de
Essa vinculação das receitas objetiva preservar condições mínimas Saúde, de forma mais concreta e direta, sob pena de a saúde, como
e necessárias ao cumprimento das responsabilidades sanitárias e setor, como uma área da Administração Pública, se ver obrigada a
garantir transparência na utilização dos recursos disponíveis. A res- cuidar de tudo aquilo que possa ser considerado como fatores que
ponsabilização fiscal e sanitária de cada gestor e servidor público condicionam e interferem com a saúde individual e coletiva. Isso
seria um arrematado absurdo e deveríamos ter um super Minis-
deve ser compartilhada por todos os entes e esferas governamen-
tério e super Secretarias da Saúde responsáveis por toda política
tais, resguardando suas características, atribuições e competências.
social e econômica protetivas da saúde.
O desafio primordial dos governos, sobretudo na esfera municipal,
Se a Constituição tratou a saúde sob grande amplitude, isso
é avançar na transformação dos preceitos constitucionais e legais
não significa dizer que tudo o que está ali inserido corresponde a
que constituem o SUS em serviços e ações que assegurem o direito
área de atuação do Sistema Único de Saúde.
à saúde, como uma conquista que se realiza cotidianamente em
Repassando, brevemente, aquela seção do capítulo da Seguri-
cada estabelecimento, equipe e prática sanitária. É preciso inovar
dade Social, temos que: -- o art. 196, de maneira ampla, cuida do
e buscar, coletiva e criativamente, soluções novas para os velhos
direito à saúde; -- o art. 197 trata da relevância pública das ações
problemas do nosso sistema de saúde. A construção de espaços de
e serviços de saúde, públicos e privados, conferindo ao Estado o
gestão que permitam a discussão e a crítica, em ambiente demo-
direito e o dever de regulamentar, fiscalizar e controlar o setor (pú-
crático e plural, é condição essencial para que o SUS seja, cada vez
blico e privado); -- o art. 198 dispõe sobre as ações e os serviços
mais, um projeto que defenda e promova a vida.
públicos de saúde que devem ser garantidos a todos cidadãos para
Muitos municípios operam suas ações e serviços de saúde em
a sua promoção, proteção e recuperação, ou seja, dispõe sobre o
condições desfavoráveis, dispondo de recursos financeiros e equi-
Sistema Único de Saúde; -- o art. 199, trata da liberdade da inicia-
pes insuficientes para atender às demandas dos usuários, seja em
tiva privada, suas restrições (não pode explorar o sangue, por ser
volume, seja em complexidade – resultado de uma conjuntura so-
bem fora do comércio; deve submeter-se à lei quanto à remoção de
cial de extrema desigualdade. Nessas situações, a gestão pública
órgãos e tecidos e partes do corpo humano; não pode contar com
em saúde deve adotar condução técnica e administrativa compa-
a participação do capital estrangeiro na saúde privada; não pode
tível com os recursos existentes e criativa em sua utilização. Deve
receber auxílios e subvenções, se for entidade de fins econômicos
estabelecer critérios para a priorização dos gastos, orientados por
etc.) e a possibilidade de o setor participar, complementarmente,
análises sistemáticas das necessidades em saúde, verificadas junto
do setor público; -- e o art. 200, das atribuições dos órgãos e enti-
à população. É um desafio que exige vontade política, propostas
dades que compõem o sistema público de saúde. O SUS é mencio-
inventivas e capacidade de governo.
nado somente nos arts. 198 e 200.
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios compar-
A leitura do art. 198 deve sempre ser feita em consonância
tilham as responsabilidades de promover a articulação e a intera-
com a segunda parte do art. 196 e com o art. 200. O art. 198 estatui
ção dentro do Sistema Único de Saúde – SUS, assegurando o acesso
que todas as ações e serviços públicos de saúde constituem um úni-
universal e igualitário às ações e serviços de saúde.
co sistema. Aqui temos o SUS. E esse sistema tem como atribuição
O SUS é um sistema de saúde, regionalizado e hierarquizado,
garantir ao cidadão o acesso às ações e serviços públicos de saúde
que integra o conjunto das ações de saúde da União, Estados, Dis-
(segunda parte do art. 196), conforme campo demarcado pelo art.
trito Federal e Municípios, onde cada parte cumpre funções e com-
200 e leis específicas.
petências específicas, porém articuladas entre si, o que caracteriza
O art. 200 define em que campo deve o SUS atuar. As atribui-
os níveis de gestão do SUS nas três esferas governamentais.
ções ali relacionadas não são taxativas ou exaustivas. Outras po-
Criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado
derão existir, na forma da lei. E as atribuições ali elencadas depen-
pela Lei nº 8.080/90, conhecida como a Lei Orgânica da Saúde, e
dem, também, de lei para a sua exequibilidade.
pela Lei nº 8.142/90, que trata da participação da comunidade na
Em 1990, foi editada a Lei n. 8.080/90 que, em seus arts. 5º e
gestão do Sistema e das transferências intergovernamentais de re-
cursos financeiros, o SUS tem normas e regulamentos que discipli- 6º, cuidou dos objetivos e das atribuições do SUS, tentando melhor
nam as políticas e ações em cada Subsistema. explicitar o art. 200 da CF (ainda que, em alguns casos, tenha repe-
A Sociedade, nos termos da Legislação, participa do planeja- tido os incisos daquele artigo, tão somente).
mento e controle da execução das ações e serviços de saúde. Essa São objetivos do SUS:
participação se dá por intermédio dos Conselhos de Saúde, presen- a) a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e de-
tes na União, nos Estados e Municípios. terminantes da saúde;
b) a formulação de políticas de saúde destinadas a promover,
Níveis de Gestão do SUS nos campos econômico e social, a redução de riscos de doenças e
Esfera Federal - Gestor: Ministério da Saúde - Formulação da outros agravos; e
política estadual de saúde, coordenação e planejamento do SUS em c) execução de ações de promoção, proteção e recuperação
nível Estadual. Financiamento das ações e serviços de saúde por da saúde, integrando as ações assistenciais com as preventivas, de
meio da aplicação/distribuição de recursos públicos arrecadados. modo a garantir às pessoas a assistência integral à sua saúde.

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LEGISLAÇÃO
O art. 6º, estabelece como competência do Sistema a execução O Governo do Estado do Rio de Janeiro, pela Lei n. 4.179/03,
de ações e serviços de saúde descritos em seus 11 incisos. instituiu o Programa Estadual de Acesso à Alimentação – PEAA,
O SUS deve atuar em campo demarcado pela lei, em razão do determinando que suas atividades correrão à conta do orçamento
disposto no art. 200 da CF e porque o enunciado constitucional de do Fundo Estadual da Saúde, vinculado à Secretaria de Estado da
que saúde é direito de todos e dever do Estado, não tem o condão Saúde. O PSDB, entendendo ser a lei inconstitucional por utilizar
de abranger as condicionantes econômico-sociais da saúde, tam- recursos da saúde para uma ação que não é de responsabilidade
pouco compreender, de forma ampla e irrestrita, todas as possíveis da área da saúde, moveu ação direta de inconstitucionalidade, com
e imagináveis ações e serviços de saúde, até mesmo porque haverá pedido de cautelar.
sempre um limite orçamentário e um ilimitado avanço tecnológico O Sr. Procurador da República (Parecer n. 5147/CF), opinou
a criar necessidades infindáveis e até mesmo questionáveis sob o pela improcedência da ação por entender que o acesso à alimenta-
ponto de vista ético, clínico, familiar, terapêutico, psicológico. ção é indissociável do acesso à saúde, assim como os medicamen-
Será a lei que deverá impor as proporções, sem, contudo, é tos o são e que as pessoas de baixa renda devem ter atendidas a
obvio, cercear o direito à promoção, proteção e recuperação da necessidade básica de alimentar-se.
saúde. E aqui o elemento delimitador da lei deverá ser o da digni- Infelizmente, mais uma vez confundiu-se “saúde” com “assis-
dade humana. tência social”, áreas da Seguridade Social, mas distintas entre si.
Lembramos, por oportuno que, o Projeto de Lei Complementar A alimentação é um fator que condiciona a saúde tanto quanto o
n. 01/2003 -- que se encontra no Congresso Nacional para regu- saneamento básico, o meio ambiente degradado, a falta de renda
lamentar os critérios de rateio de transferências dos recursos da e lazer, a falta de moradia, dentre tantos outros fatores condicio-
União para Estados e Municípios – busca disciplinar, de forma mais nantes e determinantes, tal qual mencionado no art. 3º da Lei n.
clara e definitiva, o que são ações e serviços de saúde e estabe- 8.080/90.
lecer o que pode e o que não pode ser financiado com recursos A Lei n. 8.080/90 ao dispor sobre o campo de atuação do SUS
dos fundos de saúde. Esses parâmetros também servirão para cir- incluiu a vigilância nutricional e a orientação alimentar, atividades
cunscrever o que deve ser colocado à disposição da população, no complexas que não tem a ver com o fornecimento, puro e simples,
âmbito do SUS, ainda que o art. 200 da CF e o art. 6º da LOS tenham de bolsa-alimentação, vale-alimentação ou qualquer outra forma
definido o campo de atuação do SUS, fazendo pressupor o que são de garantia de mínimos existenciais e sociais, de atribuição da assis-
ações e serviços públicos de saúde, conforme dissemos acima. (O tência social ou de outras áreas da Administração Pública voltadas
Conselho Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde também dis- para corrigir as desigualdades sociais. A vigilância nutricional deve
ciplinaram o que são ações e serviços de saúde em resoluções e ser realizada pelo SUS em articulação com outros órgãos e setores
portarias). governamentais em razão de sua interface com a saúde. São ativi-
dades que interessam a saúde, mas as quais, a saúde como setor,
O QUE FINANCIAR COM OS RECURSOS DA SAÚDE? não as executa. Por isso a necessidade das comissões intersetoriais
De plano, excetuam-se da área da saúde, para efeito de finan- previstas na Lei n. 8.080/90.
ciamento, (ainda que absolutamente relevantes como indicadores A própria Lei n. 10.683/2003, que organiza a Presidência da
epidemiológicos da saúde) as condicionantes econômico-sociais. República, estatuiu em seu art. 27, XX ser atribuição do Ministério
Os órgãos e entidades do SUS devem conhecer e informar à socie- da Saúde:
dade e ao governo os fatos que interferem na saúde da população a) política nacional de saúde;
com vistas à adoção de políticas públicas, sem, contudo, estarem b) coordenação e fiscalização do Sistema Único de Saúde;
obrigados a utilizar recursos do fundo de saúde para intervir nessas c) saúde ambiental e ações de promoção, proteção e recupe-
causas. ração da saúde individual e coletiva, inclusive a dos trabalhadores
Quem tem o dever de adotar políticas sociais e econômicas e dos índios;
que visem evitar o risco da doença é o Governo como um todo (po- d) informações em saúde;
líticas de governo), e não a saúde, como setor (políticas setoriais). e) insumos críticos para a saúde;
A ela, saúde, compete atuar nos campos demarcados pelos art. 200 f) ação preventiva em geral, vigilância e controle sanitário de
da CF e art. 6º da Lei n. 8.080/90 e em outras leis específicas. fronteiras e de portos marítimos, fluviais e aéreos;
Como exemplo, podemos citar os servidores da saúde que de- g) vigilância em saúde, especialmente quanto às drogas, medi-
vem ser pagos com recursos da saúde, mas o seu inativo, não; não camentos e alimentos;
porque os inativos devem ser pagos com recursos da Previdência h) pesquisa científica e tecnológica na área da saúde.
Social. Idem quanto as ações da assistência social, como bolsa-a-
limentação, bolsa-família, vale-gás, renda mínima, fome zero, que Ao Ministério da Saúde compete a vigilância sobre alimentos
devem ser financiadas com recursos da assistência social, setor ao (registro, fiscalização, controle de qualidade) e não a prestação de
qual incumbe promover e prover as necessidades das pessoas ca- serviços que visem fornecer alimentos às pessoas de baixa renda.
rentes visando diminuir as desigualdades sociais e suprir suas ca- O fornecimento de cesta básica, merenda escolar, alimentação
rências básicas imediatas. Isso tudo interfere com a saúde, mas não a crianças em idade escolar, idosos, trabalhadores rurais temporá-
pode ser administrada nem financiada pelo setor saúde. rios, portadores de moléstias graves, conforme previsto na Lei do
O saneamento básico é outro bom exemplo. A Lei n. 8.080/90, Estado do Rio de Janeiro, são situações de carência que necessitam
em seu art. 6º, II, dispõe que o SUS deve participar na formulação de apoio do Poder Público, sem sombra de dúvida, mas no âmbito
da política e na execução de ações de saneamento básico. Por sua da assistência social ou de outro setor da Administração Pública e
vez, o § 3º do art. 32, reza que as ações de saneamento básico que com recursos que não os do fundo de saúde. Não podemos mais
venham a ser executadas supletivamente pelo SUS serão financia- confundir assistência social com saúde. A alimentação interessa à
das por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados, saúde, mas não está em seu âmbito de atuação.
DF e Municípios e não com os recursos dos fundos de saúde. Tanto isso é fato que a Lei n. 8.080/90, em seu art. 12, estabe-
Nesse ponto gostaríamos de abrir um parêntese para comen- leceu que “serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacio-
tar o Parecer do Sr. Procurador Geral da República, na ADIn n. nal, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos
3087-6/600-RJ, aqui mencionado. Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas

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LEGISLAÇÃO
da sociedade civil”, dispondo seu parágrafo único que “as comis- decisões unilaterais das autoridades dirigentes da saúde, quando
sões intersetoriais terão a finalidade de articular políticas e progra- a regra que perpassa todo o sistema é a da cooperação e da conju-
mas de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não gação de recursos financeiros, tecnológicos, materiais, humanos da
compreendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde”. Já o seu União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em redes
art. 13, destaca, algumas dessas atividades, mencionando em seu regionalizadas de serviços, nos termos dos incisos IX, b e XI do art.
inciso I a “alimentação e nutrição”. 7º e art. 8º da Lei n. 8.080/90.
O parâmetro para o financiamento da saúde deve ser as atri- Por isso, o plano de saúde deve ser o instrumento de fixação
buições que foram dadas ao SUS pela Constituição e por leis espe- de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas quanto
cíficas e não a 1º parte do art. 196 da CF, uma vez que os fatores à integralidade da assistência, uma vez que ela não se esgota, na
que condicionam a saúde são os mais variados e estão inseridos maioria das vezes, na instância de governo-sede do cidadão. Ressal-
nas mais diversas áreas da Administração Pública, não podendo ser te-se, ainda, que o plano de saúde é a expressão viva dos interesses
considerados como competência dos órgãos e entidades que com- da população, uma vez que, elaborado pelos órgãos competentes
põe o Sistema Único de Saúde. governamentais, deve ser submetido ao conselho de saúde, repre-
sentante da comunidade no SUS, a quem compete, discutir, apro-
DA INTEGRALIDADE DA ASSISTÊNCIA var e acompanhar a sua execução, em todos os seus aspectos.
Vencida esta etapa, adentramos em outra, no interior do setor Lembramos, ainda, que o planejamento sendo ascendente, ini-
saúde - SUS, que trata da integralidade da assistência à saúde. O ciando-se da base local até a federal, reforça o sentido de que a in-
art. 198 da CF determina que o Sistema Único de Saúde deve ser or- tegralidade da assistência só se completa com o conjunto articulado
ganizado de acordo com três diretrizes, dentre elas, o atendimento de serviços, de responsabilidade dos diversos entes governamentais.
integral que pressupõe a junção das atividades preventivas, que de- Resumindo, podemos afirmar que, nos termos do art. 198, II,
vem ser priorizadas, com as atividades assistenciais, que também da CF, c/c os arts. 7º, II e VII, 36 e 37, da Lei n. 8.080/90, a integra-
não podem ser prejudicadas. lidade da assistência não é um direito a ser satisfeito de maneira
A Lei n. 8.080/90, em seu art. 7º (que dispõe sobre os princí- aleatória, conforme exigências individuais do cidadão ou de acordo
pios e diretrizes do SUS), define a integralidade da assistência como com a vontade do dirigente da saúde, mas sim o resultado do plano
“o conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos de saúde que, por sua vez, deve ser a consequência de um planeja-
e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em to- mento que leve em conta a epidemiologia e a organização de ser-
dos os níveis de complexidade do sistema”. viços e conjugue as necessidades da saúde com as disponibilidades
de recursos [20], além da necessária observação do que ficou de-
A integralidade da assistência exige que os serviços de saúde cidido nas comissões intergovernamentais trilaterais ou bilaterais,
sejam organizados de forma a garantir ao indivíduo e à coletividade que não contrariem a lei.
Na realidade, cada ente político deve ser eticamente respon-
a proteção, a promoção e a recuperação da saúde, de acordo com
sável pela saúde integral da pessoa que está sob atenção em seus
as necessidades de cada um em todos os níveis de complexidade
serviços, cabendo-lhe responder civil, penal e administrativamente
do sistema.
apenas pela omissão ou má execução dos serviços que estão sob
Vê-se, pois, que a assistência integral não se esgota nem se
seu encargo no seu plano de saúde que, por sua vez, deve guardar
completa num único nível de complexidade técnica do sistema,
consonância com os pactos da regionalização, consubstanciados
necessitando, em grande parte, da combinação ou conjugação de
em instrumentos jurídicos competentes .
serviços diferenciados, que nem sempre estão à disposição do cida-
Nesse ponto, temos ainda a considerar que, dentre as atribui-
dão no seu município de origem. Por isso a lei sabiamente definiu ções do SUS, uma das mais importantes -- objeto de reclamações
a integralidade da assistência como a satisfação de necessidades e ações judiciais -- é a assistência terapêutica integral. Por sua in-
individuais e coletivas que devem ser realizadas nos mais diversos dividualização, imediatismo, apelo emocional e ético, urgência e
patamares de complexidade dos serviços de saúde, articulados pe- emergência, a assistência terapêutica destaca-se dentre todas as
los entes federativos, responsáveis pela saúde da população. demais atividades da saúde como a de maior reivindicação indivi-
dual. Falemos dela no tópico seguinte.
A integralidade da assistência é interdependente; ela não se
completa nos serviços de saúde de um só ente da federação. Ela
só finaliza, muitas vezes, depois de o cidadão percorrer o caminho
traçado pela rede de serviços de saúde, em razão da complexidade NÍVEIS PROGRESSIVOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE
da assistência
E para a delimitação das responsabilidades de cada ente da fe- Para ofertar uma atenção em saúde mais específica e adequa-
deração quanto ao seu comprometimento com a integralidade da da à saúde foi descentralizada para melhor triar os casos e desafo-
assistência, foram criados instrumentos de gestão, como o plano de gar centros especializados de alta complexidade de casos de menor
saúde e as formas de gestão dos serviços de saúde. urgência ou de fácil resolução.
Desse modo, devemos centrar nossas atenções no plano de Dessa forma, a oferta de saúde passou a ser a nível Primário,
saúde, por ser ele a base de todas as atividades e programações da Secundário e Terciário, com alguns hospitais já se enquadrando
saúde, em cada nível de governo do Sistema Único de Saúde, o qual como de nível Quaternário.
deverá ser elaborado de acordo com diretrizes legais estabelecidas Classificam-se como de Nível Primário, as Unidades Básicas de
na Lei n. 8.080/90: epidemiologia e organização de serviços (arts. Saúde, ou Postos de Saúde, onde se configura a porta de entrada
7º VII e 37). O plano de saúde deve ser a referência para a demar- do Sistema Único de Saúde. Nesse nível de atenção são marcados
cação de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas dos exames e consultas além da realização de procedimentos básicos
entes políticos. como troca de curativos.
Sem planos de saúde -- elaborados de acordo com as diretri- Como Nível Secundário, estão as Clínicas e Unidades de Pronto
zes legais, associadas àquelas estabelecidas nas comissões intergo- Atendimento, bem como Hospitais Escolas. Nesses são realizados
vernamentais trilaterais, principalmente no que se refere à divisão procedimentos de intervenção bem como tratamentos a casos crô-
de responsabilidades -- o sistema ficará ao sabor de ideologias e nicos e agudos de doenças.

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LEGISLAÇÃO
Nos níveis Terciários, como os Hospitais de Grande Porte, se- É importante frisar que Município, Estado e Governo Federal
jam mantidos pelo estado seja pela rede privada, são realizadas têm suas respectivas responsabilidades para a gestão da saúde
manobras mais invasivas e de maior risco à vida, bem como são pública brasileira. Os percentuais de investimento financeiro dos
realizadas condutas de manutenção dos sinais vitais, como suporte de cada um são definidos, atualmente, pela Lei Complementar nº
básico à vida. Nesses hospitais, também podem funcionar serviços 141, de 13 de janeiro de 2012, resultante da sanção presidencial da
Quaternários, de transplante de tecidos, como Pulmão, Cora- Emenda Constitucional 29.
ção, Fígado, Rins, dentre outros. Por esta lei, Municípios e Distrito Federal devem aplicar anual-
Dessa maneira seccionada, pelo menos em tese, a garantia ao mente, no mínimo, 15% da arrecadação dos impostos em ações e
acesso em consonância com a gravidade e urgência ficam garanti- serviços públicos de saúde, cabendo aos estados 12%. No caso da
dos ao usuário. União, o montante aplicado deve corresponder ao valor empenha-
do no exercício financeiro anterior, acrescido do percentual relativo
O QUE É ATENÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA à variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano antecedente ao da
A Atenção Primária é constituída pelas Unidades Básicas de Lei Orçamentária Anual.
Saúde (UBS), pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), pela
Equipe de Saúde da Família (ESF) e pelo Núcleo de Apoio à Saúde Participação Social
da Família (NASF) enquanto o nível intermediário de atenção fica a O Controle Social é a participação do cidadão na gestão públi-
encargo do SAMU 192 (Serviço de Atendimento Móvel as Urgência), ca, na fiscalização, no monitoramento e no controle das ações do
das Unidades de Pronto Atendimento (UPA), e o atendimento de Poder Público. Trata-se de um importante mecanismo de fortaleci-
média e alta complexidade feito nos hospitais. mento da cidadania para a consolidação das políticas públicas que
envolvam o Sistema Único de Saúde (SUS). A Constituição Federal
A Atenção Secundária é formada pelos serviços especializados de 1988, por meio da Lei Orgânica da Saúde (Lei Nº 8142/90), criou
em nível ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica in- uma nova institucionalidade marcada por duas importantes inova-
termediária entre a atenção primária e a terciária, historicamente ções: a descentralização que propunha a transferência de decisões
interpretada como procedimentos de média complexidade. Esse ní- para Estados, Municípios e União, além da valorização da participa-
vel compreende serviços médicos especializados, de apoio diagnós- ção social no processo decisório das políticas públicas de saúde por
tico e terapêutico e atendimento de urgência e emergência. meio dos Conselhos. Para saber mais sobre como o cidadão pode
participar dos Conselhos de Saúde.
A Atenção Terciária ou alta complexidade designa o conjunto
de terapias e procedimentos de elevada especialização. Organiza Como se dá o financiamento do SUS?
também procedimentos que envolvem alta tecnologia e/ou alto De acordo com a Constituição Federal, os municípios são obri-
custo, como oncologia, cardiologia, oftalmologia, transplantes, par- gados a destinar 15% do que arrecadam em ações de saúde. Para os
to de alto risco, traumato-ortopedia, neurocirurgia, diálise (para pa- governos estaduais, esse percentual é de 12%. Já o Governo Federal
cientes com doença renal crônica), otologia (para o tratamento de tem um cálculo um pouco mais complexo: tem que contabilizar o
doenças no aparelho auditivo). que foi gasto no ano anterior, mais a variação nominal do Produto
Interno Bruto (PIB). Então essa variação é somada ao que se gastou
Envolve ainda a assistência em cirurgia reparadora (de muti- no ano anterior para se definir qual o valor da aplicação mínima
lações, traumas ou queimaduras graves), cirurgia bariátrica (para naquele ano.
os casos de obesidade mórbida), cirurgia reprodutiva, reprodução
assistida, genética clínica, terapia nutricional, distrofia muscular Quem pode usar o SUS?
progressiva, osteogênese imperfeita (doença genética que provoca Todos os brasileiros podem usar o SUS, porque todos nós con-
a fragilidade dos ossos) e fibrose cística (doença genética que aco- tribuímos com os nossos impostos para que ele funcione. O SUS é
mete vários órgãos do corpo causando deficiências progressivas). integral, igualitário e universal, ou seja, não faz, e nem deve fazer
qualquer distinção entre os usuários. Inclusive, estrangeiros que es-
Entre os procedimentos ambulatoriais de alta complexidade tiverem no Brasil e por algum motivo precisarem de alguma assis-
estão a quimioterapia, a radioterapia, a hemoterapia, a ressonância tência de saúde, podem utilizar de toda rede do SUS gratuitamente.
magnética e a medicina nuclear, além do fornecimento de medi-
camentos excepcionais, tais como próteses ósseas, marca-passos, Se eu pago consulta médica particular ou tenho plano de saú-
stendt cardíaco, etc. de, uso o SUS?
Sim, usa. Todos os brasileiros utilizam o Sistema Único de Saúde
(SUS) de alguma forma, pois o Sistema não se resume a atendimen-
to clínico e/ou hospitalar. No entanto, a Agência Nacional de Saúde
POLÍTICAS PÚBLICAS DO SUS PARA GESTÃO DE RE- Suplementar (ANS), fiscaliza, regulamenta, qualifica e habilita os
CURSOS FÍSICOS, FINANCEIROS, MATERIAIS E HUMA- planos de saúde brasileiros. A ANS é uma autarquia do Ministério
NOS da Saúde. É importante lembrar que o Ministério da Saúde, por sua
vez, realiza a gestão descentralizada e tripartite do SUS ao lado das
O modelo de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é descen- Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Caso queira fazer algu-
tralizado. Ou seja, Governo Federal (União), Estados e Municípios ma manifestação, acesse: www.ans.gov.br/central-de-atendimento
dividem a responsabilidade de forma integrada, garantindo o aten-
dimento de saúde gratuito a qualquer cidadão através da parceria Quais outras ações de saúde pública são de responsabilidade
entre os três poderes. Em locais onde há falta de serviços públicos, do SUS?
o SUS realiza a contratação de serviços de hospitais ou laboratórios As ações do Sistema Único de Saúde (SUS) são diversas e en-
particulares para que não falte assistência às pessoas. Desse modo, globam, por exemplo, o controle de qualidade da água potável que
estes locais também se integram à rede SUS, tendo que seguir seus chega à sua casa, na fiscalização de alimentos pela da Vigilância
princípios e diretrizes. Sanitária nos supermercados, lanchonetes e restaurantes que você

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LEGISLAÇÃO
utiliza diariamente, na assiduidade dos aeroportos e rodoviárias, e mento odontológico, encaminhamentos para outras especialidades
inclusive, nas regras de vendas de medicamentos genéricos ou nas clínicas e fornecimento de medicação básica. As Unidades Básicas
campanhas de vacinação, de doação de sangue ou leite materno de Saúde (UBS) fazem parte da Política Nacional de Urgência e
que acontecem durante todo o ano. Muitos procedimentos mé- Emergência, lançada pelo Ministério da Saúde em 2003, estrutu-
dicos de média e alta complexidade, por exemplo, são feitos pelo rando e organizando a rede de urgência e emergência no país, para
SUS, como doação de sangue, doação de leite humano (por meio de integrar a atenção às urgências.
Bancos de Leite Humano), quimioterapia e transplante de órgãos,
entre outros. O que é uma UPA?
A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) são estruturas de
Quando utilizo os serviços de um hospital filantrópico tam- complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde
bém estou utilizando o SUS? (UBS) e as portas de urgência hospitalares, onde em conjunto com
Sim, está. No que se refere às Santas Casas e hospitais filan- estas compõe uma rede organizada de Atenção às Urgências. Com isso
trópicos, o Ministério da Saúde transfere os recursos para o gestor ajudam a diminuir as filas nos prontos-socorros dos hospitais. A UPA
responsável (Estado ou município) por meio de contrato, para que oferece estrutura simplificada, com raio-X, eletrocardiografia, pedia-
efetue os repasses aos estabelecimentos de saúde ligados ao Siste- tria, laboratório de exames e leitos de observação. Nas localidades que
ma Único de Saúde (SUS). O recurso federal transferido é composto contam com UPA, 97% dos casos são solucionados na própria unidade.
pela produção de serviços, que tem a tabela do SUS como referên-
cia, e por incentivos diversos que aumentam substancialmente o Quando devo procurar uma UPA?
volume de transferências. Atualmente, 50% dos valores transferi- Somente em casos de urgência e emergência traumáticas e não
dos para Estados e municípios já não é mais pela tabela SUS, mas traumáticas. Além disso, é a opção de assistência de saúde nos fe-
por incentivos e outras modalidades que priorizam a qualidade. riados e finais de semana quando a UBS está fechada. Há também
a situação em que o usuário pode ser encaminhado da UBS para
Qual é a porta de entrada do usuário no SUS? a UPA, dependendo da gravidade ou da necessidade de um pron-
A porta de entrada do usuário no SUS é na Unidade Básica de to atendimento ou qualquer situação de emergência. A UPA tem
Saúde (UBS), popularmente conhecida como Posto de Saúde. A UBS consultórios de clínica médica, pediatria e odontologia, serviços de
é de responsabilidade de gerenciamento do município, ou seja, de laboratório e raio-x. Também conta com leitos de observação para
cada Prefeitura brasileira. Para facilitar o acesso do usuário, o mu- adultos e crianças, salas de medicação, nebulização, ortopedia e
nicípio mapeia a área de atuação de cada UBS por bairro ou região. uma “sala de emergência” para estabilizar os pacientes mais graves
Por isso, o cidadão deve procurar a unidade mais próxima da sua que, após o atendimento necessário para a estabilização do quadro
casa, munido de documentos e de comprovante de residência (con- clínico, este paciente possa ser removido para um hospital.
ta de água, luz ou telefone).
Então, qual é o papel dos hospitais na rede do SUS?
Como acontece o acolhimento do usuário do SUS na UBS? O papel dos hospitais é oferecer ao usuário do SUS atendimen-
Ao ir a uma UBS pela primeira vez, o usuário fará um Cartão to de saúde especializado de média e alta complexidade, como ci-
do SUS receberá um número e/ou uma cor que irá identificar de rurgias eletivas (realizada em uma data adequada de acordo com a
qual equipe da Estratégia da Saúde da Família (ESF) ele fará parte. saúde do paciente) tratamentos clínicos de acordo com cada espe-
Regularmente, a ESF acompanha a saúde do usuário, sendo o elo cialidade. Para chegar ao hospital, geralmente o usuário é encami-
de informação da população com os profissionais de saúde da Uni- nhado depois de ser atendido por uma UBS ou UPA, dependendo
dade. É por meio da coleta de informações das equipes de ESF que de cada caso. Tudo isso acontece devido ao processo de troca de
é possível pensar em ações de saúde pública de forma regional e informações entre as redes de atenção à saúde no SUS.
personalizada. De acordo com a Política Nacional de Atenção Hospitalar
(PNHOSP), no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), “os hospi-
O que é o Cartão do SUS? tais são instituição complexas, com densidade tecnológica especifi-
O Cartão do SUS ou Cartão Nacional de Saúde é um documento ca, de caráter multiprofissional e interdisciplinar, responsável pela
gratuito que reúne dados sobre quando e onde o usuário foi aten- assistência aos usuários com condições agudas ou crônicas, que
dido em toda rede de saúde pública. Se você ainda não tem um car- apresentem potencial de instabilização e de complicações de seu
tão, faça já o seu em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS, também estado de saúde (...)”.
conhecida como Posto de Saúde). Por meio do cartão, os profissionais
da equipe de saúde podem ter acesso ao histórico de atendimento do Se na minha cidade não tem unidade de saúde de referência,
usuário no SUS. Ainda, o usuário pode acessar o Portal de Saúde do Ci- como serei atendido?
dadão para ter acesso ao seu histórico de registros das ações e serviços Você será atendido na Unidade de Saúde de Referência da sua
de saúde no SUS. Além disso, o Cartão do SUS é feito de forma gratuita região, graças aos Consórcios Intermunicipais de Saúde.São ações
em hospitais ou locais definidos pela secretaria municipal de saúde, entre municípios próximos para a organização regional de ações e
mediante a apresentação de RG, CPF, certidão de nascimento ou ca- serviços de saúde, previstos na lei orgânica do SUS (Lei 8.080/1990)
samento. O uso do cartão facilita a marcação de consultas e exames e e que garantam atendimento integral à população dos municípios
garante o acesso a medicamentos gratuitos. associados. Desse modo, para atender melhor a população, os mu-
nicípios cooperam entre si para que o atendimento possa ser uni-
Quais são os serviços de saúde que irei encontrar em uma versalizado e igualitário a todos os usuários.
UBS?
Na UBS, o usuário do SUS irá receber atendimentos básicos e Evolução Histórica da Saúde Pública e das políticas de saúde
gratuitos em Pediatria, Ginecologia, Clínica Geral, Enfermagem e no Brasil
Odontologia, de segunda a sexta-feira, de 08h às 17h. Os principais As políticas públicas de saúde no Brasil têm sofrido modifica-
serviços oferecidos pelas UBS são consultas médicas, inalações, ções ao longo dos anos, e tais mudanças historicamente têm sido
injeções, curativos, vacinas, coleta de exames laboratoriais, trata- pelo menos aparentemente para adequarem-se aos contextos polí-

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LEGISLAÇÃO
ticos, econômicos e sociais. Somente com a chegada da família real, rências intergovernamentais de recursos através do Fundo Nacional
em 1808, é que algumas normas sanitárias foram impostas para de Saúde, que faria o repasse de forma regular e automática para
os portos, numa tentativa de impedir a entrada de doenças con- cada esfera.
tagiosas que pudessem colocar em risco a integridade da saúde da As Normas Operacionais Básicas (NOB’s) foram instituídas para
realeza. Em 1822, com a Independência do Brasil, algumas políticas nortear a operacionalização do sistema, sendo a mais importante a
débeis de saúde foram implantadas, tais políticas eram referentes NOB\SUS 01-96, pois a partir dela o município tornou-se o principal
ao controle dos portos e atribuía às províncias quaisquer decisões responsável por atender às necessidades do cidadão com requisitos
sobre tais questões. de Gestão Plena da Atenção Básica e Gestão Plena do Sistema Mu-
Somente com a Proclamação da República, em 1889, é que as nicipal, onde o Município passou a ser responsável, dentre outras,
práticas de saúde em nível nacional tiveram início. Oswaldo Cruz e pela elaboração da programação municipal dos serviços básicos de
Carlos Chagas que estiveram à frente da Diretoria Geral de Saúde saúde bem como pelos serviços de referência ambulatorial especia-
pública (DGSP), implementaram um modelo sanitarista visando er- lizada e hospitalar; executar ações básicas de vigilância sanitária e
radicar epidemias urbanas e a criação de um novo Código de Saúde epidemiológica, de média e alta complexidade; manter os sistemas
Pública, tornando-se responsável pelos serviços sanitários e de pro- de cadastros atualizados e avaliar o impacto das ações do sistema
filaxia no país, respectivamente. sobre as condições de saúde da população e do meio ambiente.
O Estado brasileiro teve sua primeira intervenção em 1923, com A União passou a normalizar e financiar e os Municípios a exe-
a Lei Elói Chaves, através da criação das Caixas de Aposentadoria cutar as ações. Criou a Programação Pactuada e Integrada (PPI),
e Pensão (CAPs), que asseguravam aos trabalhadores e empresas que tinha como objetivo alocar recursos de assistência à saúde nos
assistência médica, medicamentos, aposentadorias e pensões. Fo- estados e municípios, como forma de universalizar o acesso da po-
ram substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) pulação a todo tipo de assistência nos três níveis de complexidade.
passando a abranger uma quantidade maior de trabalhadores(3). Também foi criado o Piso de Atenção Básica (PAB), que alterou o fi-
Conforme refere Figueiredo; Tonini (2007), ao extinguir os IAPs, em nanciamento das ações básicas, tornando necessário uma avaliação
1967, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) foi implan- da aplicação dos recursos e impactos.
tado, atendendo, também, trabalhadores rurais por meio do Fundo A NOAS – SUS 01\2001 transformou o modelo vigente de
de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL) e trabalhadores gestão em Gestão Plena da Atenção Básica – Ampliada (GPAB-A),
com carteira assinada através do Instituto Nacional de Assistência ampliando o debate sobre a municipalização egionalização e insti-
Médica da Previdência Social (INAMPS). Somente no final da déca- tuindo o Plano Diretor de Regionalização (PDR), que estabeleceu as
da de 80 deixou de exigir carteira de trabalho para atendimentos diretrizes para uma assistência regionalizada, organizada, de forma
em hospitais, tornando a saúde menos excludente e mais universal. que o território estadual foi dividido em regiões e microrregiões
Na década de 70 surgiu o Movimento da Reforma Sanitária que de saúde tendo como base critérios sanitários, epidemiológicos,
tinha como objetivo conquistar a democracia para mudar o siste- geográficos, sociais, a oferta de serviços e a acessibilidade que a
ma de saúde. O conceito saúde – doença bem como o processo de população tem aos mesmos, bem como o diagnóstico dos proble-
trabalho e a determinação social da doença foram rediscutidos(4). mas de saúde mais frequentes e das prioridades de intervenção. E
No final da década de 80 o quadro social e político no país era dife- o Plano Diretor de Investimentos (PDI), que define as prioridades
rente, onde o movimento de redemocratização expandia-se pelos e estabelece as estratégias no que se refere a investimentos dos
estados brasileiros e a oposição ganhava força no Congresso Na- recursos de modo que seja prestada assistência em todos os níveis
cional. Dentro desse contexto ocorria, em 1986, a VIII Conferência de complexidade.
Nacional de Saúde (CNS) que tinha como presidente Sérgio Arouca Em 2006 com o Pacto pela Saúde, foram extintas essas formas
e que, pela primeira vez, foi verdadeiramente popular refletindo o de habilitação, através da Portaria Nº 399\2006 passando a vigorar
momento pelo qual o país passava. O grande marco da VIII Confe- o Termo de Compromisso e Gestão (TCG) que contemplava atribui-
rência Nacional de Saúde foi a criação do Sistema Único Descen- ções dos entes federados bem como os indicadores de monitora-
tralizado de Saúde (SUDS), que posteriormente tornou-se Sistema mento e avaliação dos Pactos. Nas suas três dimensões, Pacto pela
Único de Saúde (SUS) além de ter consolidado as ideias da Reforma Vida, em Defesa do SUS e Gestão do SUS, foram estabelecidas no
Sanitária. primeiro seis prioridades representando o compromisso entre os
A saúde ganhou espaço a partir de então com a Constituição gestores do SUS em torno de prioridades que apresentem impacto
Federal de 1988 (CF\88) que criou o SUS rompendo, dessa forma, sobre a situação de saúde da população brasileira, que são: Saúde
do Idoso; Controle do câncer de colo do útero e da mama; Redução
com o antigo modelo de saúde que era dominado pelo sistema
da mortalidade infantil e materna; Fortalecimento da capacidade
previdenciário. A saúde passou a ser direito de todos e dever do
de resposta às doenças emergentes e endêmicas, com ênfase na
Estado. Os princípios e diretrizes estabelecidos foram: descentrali-
dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; Promoção da
zação, integralidade, participação da comunidade, regionalização e
Saúde; Fortalecimento da Atenção Básica.
hierarquização.
Em 2008 a Portaria do MS Nº 325\08 criou mais cinco priori-
O SUS foi regulamentado em 1990, com a Lei Orgânica de Saú-
dades no Pacto pela Vida passando a totalizar onze prioridades. As
de (LOS), a Lei Nº 8.080 e a Lei Nº 8.142 onde se deu destaque
cinco prioridades estabelecidas foram: Saúde do Trabalhador; Saú-
para a construção de um modelo de atenção fundamentado na epi-
de Mental; Fortalecimento da capacidade de resposta do sistema
demiologia, controle social, descentralização e regionalização com de saúde às pessoas com deficiência; Atenção integral às pessoas
base municipal. A primeira LOS regulamenta o SUS em todo o país em situação ou risco de violência; Saúde do Homem. O Pacto em
definindo seus princípios e diretrizes, que contemplam a universa- Defesa do SUS expressa os compromissos entre os gestores com a
lidade, a integralidade da assistência, equidade, descentralização e consolidação do processo da Reforma Sanitária Brasileira e o Pacto
a participação da comunidade. Estabelece condições para o nortea- de Gestão do SUS estabelece as responsabilidades dos entes fede-
mento do gerenciamento e sobre as condições para a promoção, rados para o fortalecimento da gestão em seus eixos de ação.
proteção, recuperação da saúde, organização e funcionamento dos Já em 2011 com o Decreto Nº 7.508\2011 o TCG foi substituído
serviços de saúde. A segunda regulamenta a participação da socie- pelo Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (COAP) tendo
dade na formulação das políticas de saúde, dispõe sobre as transfe- como objetivo a organização e a integração das ações e serviços de

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LEGISLAÇÃO
saúde, sob responsabilidade dos entes federativos com a finalidade Apontamentos sobre a trajetória da política de Atenção Bási-
de garantir a integralidade das ações e serviços de saúde a partir da ca no Brasil
definição de responsabilidades, indicadores e metas de saúde, de- Em 1994, a criação do Programa Saúde da Família (PSF) permi-
sempenho, recursos financeiros. Reconhece a atenção básica como tiu ampliar a cobertura em saúde, em um movimento inicialmente
porta de entrada do sistema e como eixo principal das Redes de voltado apenas para a parte da população brasileira em situação
Atenção a Saúde (RAS) que constitui um conjunto de ações e servi- social mais vulnerável. Configurou-se um modo de compor a equipe
ços de saúde articulados em níveis de complexidade crescente com e de organizar o processo de trabalho, com base territorial e res-
o intuito de garantir a integralidade tendo como porta de entrada ponsabilidade sanitária, referências sustentadas pelas sucessivas
para tais ações a atenção primária; urgência e emergência; atenção políticas.
psicossocial e serviços especiais de acesso aberto e a partir destes Com a Norma Operacional Básica do SUS de 1996 (NOB/96),
partem as referências para serviços de atenção ambulatorial e hos- o PSF assumiu a condição de estratégia de reorientação da APS,
pitalar especializado. em substituição às modalidades tradicionais. A NOB/96 instituiu os
Por fim, o SUS representa o maior projeto de inclusão social no componentes fixo e variável do Piso da Atenção Básica (PAB) e es-
Brasil, proporcionando aos que antes eram excluídos pelo sistema tabeleceu incentivos financeiros aos municípios que adotassem o
garantia de assistência à saúde. Entretanto a despeito da mesma im- Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs) e o PSF, tornan-
ponência do projeto gigantescas dificuldades são encontradas em do automática e regular a transferência de recursos federais para o
sua implementação relacionadas ao financiamento, regulação inci- financiamento desses programas.
piente, precárias condições de trabalho falhas na descentralização. Essa priorização teve repercussões concretas, e, em 1998, foi
Necessitando de um fortalecimento no que se refere à regulação da estabelecido o primeiro Pacto de Indicadores da Atenção Básica,
assistência a saúde no país que apesar dos avanços obtidos com a processo que se renovou periodicamente por meio da negociação
descentralização explicita problemas como leitos insuficientes para intergestores de metas para a avaliação e o monitoramento da AB
atender a demanda da população que necessita de atendimentos, no SUS. Desdobrou-se, também, em outros dispositivos de forta-
principalmente de média e alta complexidade, que em sua maioria lecimento da AB, como, por exemplo, a criação do Sistema de In-
estão sob o poder do setor privado complementar e filantrópico formação da Atenção Básica (Siab), também em 1998, substituindo
o Sistema de Informação do Programa de Agente Comunitário de
Política Nacional de Atenção Básica Saúde (Sipacs).
Transcorridos 27 anos desde a promulgação das Leis nº 8.080 Ainda visando à reorientação do modelo de atenção, foi criado,
e nº 8.142, de 1990, é possível dizer que, mesmo com dificuldades em 2002, o Projeto de Expansão e Consolidação do Saúde da Famí-
e lacunas, foram as políticas direcionadas para o fortalecimento da lia (Proesf), voltado para os municípios com mais de 100 mil habi-
Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil que mais favoreceram a tantes, explicitando a compreensão da saúde da família como uma
implantação dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde estratégia viável não apenas nas pequenas cidades e no meio rural,
(SUS). onde se implantou originalmente. No âmbito do Proesf, foi criada, em
Expressas por meio de documentos específicos, as Políticas Na- 2005, a Avaliação para a Melhoria da Qualidade (AMQ), que instituiu
cionais de Atenção Básica (PNAB) tiveram papel fundamental nesse uma metodologia de avaliação em diversos níveis: gestores, coordena-
processo, permitindo inflexões importantes, principalmente no mo- dores, unidades de saúde e Equipes da Saúde da Família (EqSF), com o
delo de atenção e na gestão do trabalho em saúde nos municípios. propósito de qualificação da AB por meio da avaliação.
Isso ocorreu de modo articulado à introdução dos mecanismos de A agenda política de fortalecimento da APS por meio da ESF
financiamento que desempenharam papel indutor na sua adoção consolidou-se gradativamente e, em 2006, tornou-se uma das di-
como eixo estruturante da organização das ações e serviços de saú- mensões prioritárias do Pacto pela Vida. Naquele mesmo ano, foi
de. publicada a PNAB, revisada em 2011, buscando preservar a centra-
Em setembro de 2017, foi publicada uma nova PNAB3, que sus- lidade da ESF para consolidar uma APS forte, ou seja, capaz de es-
citou a crítica de organizações historicamente vinculadas à defesa tender a cobertura, prover cuidados integrais e desenvolver a pro-
do SUS, como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), moção da saúde, configurando-se como porta de entrada principal
o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e a Escola Nacio- do usuário no SUS e eixo de coordenação do cuidado e de ordena-
nal de Saúde Pública (Ensp). Em nota conjunta, as três instituições ção da Rede de Atenção à Saúde (RAS). Esse processo envolveu um
denunciaram, entre outras coisas, a revogação da prioridade dada amplo escopo de ações, mobilizando instituições e sujeitos sociais
à Estratégia Saúde da Família (ESF) na organização do SUS com a para responder aos desafios colocados para a formação de traba-
provável perda de recursos para outras configurações da Atenção lhadores, a organização do processo de trabalho, as interações com
Básica (AB), em um contexto de retração do financiamento da a comunidade, a compreensão do território e as relações entre os
saúde. Demonstraram preocupação com retrocessos em relação à entes federados.
construção de uma APS integral, que vinha direcionando o modelo Segundo Magalhães Júnior e Pinto, há, pelo menos, dois indica-
de AB baseado na ESF dores importantes da centralidade dada à PNAB no âmbito federal
Este artigo teve como objetivo analisar as alterações nas dire- das políticas de saúde. São eles: o aumento superior a 100% dos
trizes da AB promovidas no texto da PNAB 2017, tomando como recursos repassados aos municípios para o financiamento da AB,
parâmetros a PNAB 2011 e os princípios da universalidade e da in- entre 2010 e 2014; e a aplicação de recursos para a qualificação
tegralidade da atenção à saúde, na perspectiva de uma APS forte e e a ampliação da estrutura das unidades, por meio de um projeto
de uma rede integrada de atenção à saúde no SUS. Os temas anali- específico, o Requalifica SUS, lançado em 2011.
sados foram: a cobertura; a posição relativa da ESF; a configuração Também em 2011, foi instituído o Programa Nacional de Me-
das equipes; e a organização dos serviços. lhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), que
Inicialmente, foram identificados alguns marcos instituintes da incorporou elementos da AMQ e ampliou as vertentes de avaliação,
AB no Brasil e suas contribuições para a configuração do SUS. Na tendo como finalidade a certificação das EqSF. Esse Programa per-
sequência, procurou-se situar o contexto de formulação dessa nova mitiu vincular formas de transferência de recursos do PAB variável
política e discutir prováveis riscos e retrocessos das alterações pro- aos resultados provenientes da avaliação, constituindo-se em um
postas para o SUS. mecanismo de indução de novas práticas.

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LEGISLAÇÃO
Em termos de cobertura, dados disponibilizados pelo Ministé- aprovada em 30 de agosto de 2017, pouco mais de um mês após
rio da Saúde (MS) indicam que a ESF alcançava 58% da população, tornar-se oficialmente pública. Uma característica marcante do tex-
em outubro de 2017, e sabe-se que essa cobertura chegou a atin- to da nova PNAB é a explicitação de alternativas para a configuração
gir 100% em alguns municípios. Tudo isso mediante novos serviços, e implementação da AB, traduzindo-se em uma pretensa flexibilida-
modalidades e arranjos de equipes multiprofissionais, com desta- de, sustentada pelo argumento da necessidade de atender especi-
que para as equipes ampliadas pela saúde bucal e pelos Núcleos ficidades locorregionais.
de Apoio à Saúde da Família (Nasf). Mesmo reconhecendo a per- Supostamente, amplia-se a liberdade de escolha dos gestores
sistência de problemas no acesso, na qualidade e na continuida- do SUS, o que poderia ser visto como positivo por responder às de-
de da atenção, diversos estudos sugerem avanços decorrentes das mandas de um processo de descentralização mais efetivo. Entretan-
políticas de APS na redução de internações evitáveis e dos gastos to, esse processo só se completaria com a transferência de recur-
hospitalares, e para a melhoria das condições de vida e saúde da sos necessários à autonomia de gestão pelos municípios, e com os
população brasileira mecanismos de controle social e participação popular. A presente
análise não valida o raciocínio otimista, justamente porque é fruto
Notas sobre a conjuntura e o texto da Política Nacional de de uma leitura informada pela atual conjuntura, que indica limites
Atenção Básica 2017 rigorosos, a partir dos quais essa política e suas possibilidades se
Presenciou-se, recentemente, a reorganização das forças políti- realizarão.
cas conservadoras no Brasil, o que resultou no impedimento de Dil- Pode-se dizer que o discurso da PNAB se constrói de modo am-
ma Rousseff e na condução do seu vice Michel Temer à Presidência. bivalente, incorporando verbos como sugerir e recomendar, que
Ao mesmo tempo, observa-se o rápido fortalecimento de uma pau- retiram o caráter indutor e propositivo da política e expressam a
ta antidemocrática e autoritária, orientada para o aprofundamento desconstrução de um compromisso com a expansão da saúde da fa-
da mercantilização dos direitos sociais brasileiros. mília e do sistema público. Entende-se, ainda, que essa estrutura de
Seguiu-se a aprovação de medidas ditas ‘racionalizantes’, sob a texto tem o propósito de blindá-lo à crítica, tornando suas propo-
justificativa da necessidade de enfrentar o desequilíbrio fiscal, atri- sições de mais fácil assimilação, afinal, a partir do que está escrito,
buído ao descontrole das contas públicas decorrentes de ‘políticas diversas opções seriam possíveis. Esta ambivalência é um recurso
paternalistas’, que teriam agravado a crise econômica. A orientação que permite omitir escolhas prévias (ideológicas), que parecem de-
é modificar a destinação dos recursos do fundo público, limitando terminar o processo de revisão da PNAB no momento político atual.
as políticas sociais, promovendo a redução da dimensão pública Tais escolhas remetem a uma concepção de Estado afinada com a
do Estado e ampliando a participação do setor privado. Do mesmo racionalidade neoliberal, que aponta para o sentido inverso a uma
modo, opera-se uma ofensiva contra a classe trabalhadora, atingin- maior presença do Estado, requerida para a continuidade do SUS
do conquistas fundamentais, como os direitos trabalhistas e previ- como projeto e da AB como estratégia principal para a garantia da
denciários. Trata-se de um conjunto de reformas supressoras de di- saúde como direito universal.
reitos sociais, em uma represália sem proporções ainda calculadas, Feitas essas considerações mais gerais, apresenta-se a discus-
do capital contra o trabalho. são de elementos específicos presentes na nova PNAB, inventarian-
Entre as alterações legislativas que viabilizam esse processo, do os riscos potenciais detectados para o SUS e seus princípios.
destaca-se a promulgação da Emenda Constitucional nº 95/2016,
conhecida como a emenda do ‘Teto dos Gastos’, que congela por 20 Relativização da cobertura
anos a destinação de recursos públicos e produz efeitos nas diver- Como ressaltado, a universalidade é um princípio estruturante
sas políticas, especificamente no financiamento do SUS. da atenção à saúde no âmbito do SUS, que, aliada à integralida-
Essas medidas incidem sobre uma relação frágil entre o SUS e de, tem distinguido a PNAB de conformações simplificadas e foca-
a sociedade brasileira, e caminham em paralelo ao fortalecimen- lizantes de APS. Baseadas nesses princípios, as PNAB 2006 e 2011
to ideológico do setor privado como alternativa de qualidade para vinham projetando a expansão da ESF, nas duas últimas décadas.
o atendimento das necessidades de saúde. Conforma-se, assim, o Considerando este movimento, o tema da cobertura da AB desta-
terreno propício para dar prosseguimento à desconstrução do SUS, ca-se como um importante indicador da intencionalidade da PNAB
cujo financiamento jamais alcançou um patamar de suficiência e es- 2017.
tabilidade, ao passo que as empresas privadas de planos de saúde Retrospectivamente, percebe-se que, entre os itens necessá-
sempre foram objeto de fortalecimento, por meio da destinação de rios à implantação da ESF nas PNAB 2006 e 2011, encontrava-se
incentivos financeiros contínuos. uma única referência à cobertura universal. Ela se construiu de for-
Nessa conjuntura, as tendências que orientavam a revisão da ma mediada, representada pela relação entre o número previsto de
PNAB 2011 já vinham sendo anunciadas, pelo menos, desde outu- Agentes Comunitários de Saúde (ACS) por equipe e a cobertura de
bro de 2016, quando foi realizado o VII Fórum Nacional de Gestão 100% da população cadastrada. Nessas PNAB, constava que, para a
da Atenção Básica, cujos indicativos para tal revisão foram publi- implantação de EqSF, seria necessário um número de ACS suficien-
cados em um documento-síntese. Ali, já se apresentava uma pers- te para cobrir 100% da população cadastrada, com um máximo de
pectiva regressiva, especialmente preocupante, considerando-se a 750 pessoas por ACS e de 12 ACS por EqSF. A PNAB 2011 acrescen-
correlação de forças muito desfavorável aos que defendem a saúde tou o alerta de que não se deveria ultrapassar o limite máximo de
como um direito universal. moradores vinculados a cada equipe, evidenciando a preocupação
Desde então, as notícias sobre a revisão da PNAB foram se in- com as condições que poderiam diretamente afetar a qualidade da
tensificando, mas sua produção foi pouco divulgada oficialmente e atenção.
sua discussão manteve-se em espaços restritos, como a Comissão No texto da PNAB 2017, anterior à consulta pública, não há ne-
Intergestores Tripartite (CIT) e as reuniões entre os técnicos do MS. nhuma referência à cobertura universal. A referência a 100% de co-
Em 27 de julho de 2017, o texto preliminar foi apresentado na CIT bertura é retomada no texto publicado, porém restrita a certas áreas:
e encaminhado para consulta pública por dez dias. Apesar do cur- Em áreas de risco e vulnerabilidade social, incluindo de gran-
to prazo, a consulta recebeu mais de 6 mil contribuições, sem que de dispersão territorial, o número de ACS deve ser suficiente para
tenham gerado, entretanto, mudanças expressivas no texto origi- cobrir 100% da população, com um máximo de 750 pessoas por
nal ou tenham sido divulgados os seus resultados. A nova PNAB foi agente, considerando critérios epidemiológicos e socioeconômicos.

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LEGISLAÇÃO
A flexibilização da cobertura populacional está relacionada Os padrões ampliados correspondem a ações e procedimentos
também aos parâmetros da relação equipe/população apresen- considerados estratégicos para se avançar e alcançar padrões eleva-
tados no item ‘Funcionamento’. Ali se lê que a população adscrita dos de acesso e qualidade na AB, considerando as especificidades
recomendada por equipe de AB e EqSF é de 2 mil a 3,5 mil pessoas. locais e decisão da gestão.
Entretanto, neste mesmo item, de acordo com as especificidades Entretanto, tais padrões são apenas recomendados. A PNAB
do território, prevê-se também a possibilidade de “outros arranjos projeta um compromisso que se limita aos padrões essenciais, que,
de adscrição”3(70), com parâmetros populacionais diferentes, que como já advertido, tendem a se configurar em torno de cuidados
podem ter alcance “maior ou menor do que o parâmetro recomen- mínimos, recuperando a concepção de APS seletiva.
dado” 3(70). A decisão a esse respeito fica a cargo do gestor munici- Não há nenhum conteúdo especificado que possibilite conhe-
pal, em conjunto com a equipe de AB e o Conselho Municipal ou cer e analisar a que corresponderiam tais padrões. Não se sabe
Local de Saúde, com a ressalva de que fica assegurada a qualidade quais procedimentos e ações integram o padrão básico e, portanto,
do cuidado. mantém-se a incerteza sobre a capacidade de esse padrão atender
Na PNAB 2011 havia a seguinte indicação: “quanto maior o as necessidades de saúde que deveriam ser contempladas na APS.
grau de vulnerabilidade, menor deverá ser a quantidade de pes- Em relação ao padrão ampliado, cabe questionar: existem ações e
soas por equipe”2(55). Segundo essa redação, o critério de flexibiliza- cuidados que integram a AB hoje, e que podem ser negligenciados
ção de parâmetros populacionais apontava claramente a intenção de a ponto de constituírem um padrão opcional, ou seja, apenas re-
favorecer aqueles que apresentassem maior necessidade de atenção. comendável? A análise empreendida conclui o inverso. Este é um
O mesmo não pode ser dito em relação à nova PNAB, que, mais uma modo de consentir com o aprofundamento das desigualdades e a
vez, se descompromete a adotar parâmetros que favoreçam um pro- segmentação do acesso e do cuidado que marcam a APS em diver-
cesso de atenção progressivamente mais qualificado. Ao desconsiderar sos países da América Latina, como apontam Giovanella et al.
a relação entre quantidade e qualidade, a afirmação de que deve ser O risco colocado, pela diferenciação entre os serviços ‘essen-
assegurada a qualidade do cuidado torna-se mera retórica. ciais’ e ‘ampliados’, é de que se retome a lógica da seletividade
A cobertura é igualmente relativizada por meio da indefinição com diretrizes que reforcem a segmentação e a fragmentação dos
do número de ACS, uma vez que a PNAB 2017 indica que o número serviços e das ações de saúde no SUS, a partir da APS. Segundo
de ACS por equipe deverá ser definido de acordo com base popu- Conill, Fausto e Giovanella, a segmentação e a fragmentação são
lacional (critérios demográficos, epidemiológicos e socioeconômi- categorias fundamentais para a compreensão dos problemas dos
cos), conforme legislação vigente. sistemas de saúde. Estão relacionadas à garantia dos direitos sociais
Deste modo, pode-se compor equipes com apenas um ACS. e são muito sensíveis aos problemas de financiamento público, com
Quando uma política, simultaneamente, torna indefinido o número efeitos restritivos às possibilidades de acesso aos demais níveis de
de ACS por equipes e flexibiliza os parâmetros de cobertura, refor- atenção e à constituição de redes integradas de atenção à saúde.
ça-se o risco de serem recompostas barreiras ao acesso à saúde de A segmentação propugnada pela PNAB deve ser examinada de
parte da população. Lembre-se, aqui, que o ACS é um trabalhador modo articulado à racionalidade, aos interesses e à perspectiva de
que deveria ser o ‘elo’ entre os serviços de saúde e a população, sistema de saúde enunciada pelo atual ministro da saúde, Ricardo
contribuindo para facilitar o acesso e proporcionar uma relação Barros, segundo a qual seria desejável compreender os setores pú-
estável e contínua entre a população e os serviços de APS. Tal for- blico e privado suplementar como partes de um todo único. Neste
mulação compromete, também, um conjunto de processos já insti- sentido, ampliam-se as condições para que a saúde suplementar
tuídos na ESF, que se estruturam por meio da presença constante passe a integrar o sistema de serviços de saúde, desta vez direta-
de um trabalhador da saúde no território. Entre esses processos, mente impulsionado pelo desenho das políticas públicas.
destacam-se a escuta e a percepção de problemas e necessidades A base argumentativa para a segmentação do cuidado, na nova
que poderiam ser invisíveis aos serviços, bem como a identificação PNAB, deturpa a ideia de especificidades territoriais que antes jus-
e a criação de possibilidades de intervenção, dadas a partir de seus tificavam e davam consistência ao princípio da equidade, este que
conhecimentos sobre a dinâmica da vida no território. remete à obrigação ético-política de se estabelecerem parâmetros
Essas alterações articuladas abrem um precedente inédito na e processos visando à superação de desigualdades historicamen-
história da PNAB, que desestabiliza o compromisso da política com te produzidas na sociedade brasileira, de modo a revelar e inter-
a universalidade da atenção à saúde no SUS. ferir sobre as condições que as produzem. Contrariamente, esta
segmentação do cuidado traz as bases para o desenvolvimento de
A segmentação do cuidado: padrões essenciais e ampliados um SUS seletivo, que universaliza mínimos e estratifica padrões de
de serviços atenção, justificados por situações precárias, cuja superação não
Pode-se dizer que, além da universalidade, outro princípio com está no horizonte de compromissos das políticas públicas projeta-
o qual a PNAB 2017 se descompromete é o da integralidade. Isto se das no atual contexto. São sentidos opostos de utilização de uma
dá, principalmente, por meio da definição de padrões diferenciados noção - o território - que se fortaleceu no processo de consolidação
de ações e cuidados para a AB, novamente, sob o argumento das da saúde da família como estratégia de ordenamento da AB no Bra-
condições ou especificidades locais. Estes padrões distinguem-se sil. Daí, o seu apelo positivo. Mais uma vez, trata-se da apropriação
entre ‘essenciais’ e ‘ampliados’. e ressignificação negativa de uma ideia-chave para os defensores da
Os padrões essenciais são ‘as ações e os procedimentos bá- APS forte, que contribui para confundir o leitor quanto às intenções
sicos’, que deveriam ser garantidos pelas equipes em todo o País. da nova PNAB.
Embora sejam apresentados como condições básicas de acesso à Entretanto, a desconstrução do compromisso com a univer-
atenção à saúde, e de qualidade do cuidado oferecido, a própria salidade e com a integralidade parece fazer parte de um quadro
segmentação os remete à ideia de mínimos. Assim, o termo ‘básico’ mais amplo, que não nos permite ilusões. O horizonte imediato do
se esvazia do sentido que é tão caro a alguns autores da literatura setor da saúde, na perspectiva das forças políticas hegemônicas, re-
sobre APS no Brasil, isto é, como distintivo do compromisso da AB, vela-se em uma fala proferida pelo ministro Barros sobre o tema
de ser o primeiro nível de acesso a um sistema universal, que abran- ‘Gestão transformadora para a saúde pública’, em um encontro com
ge uma rede integral e complementar de atenção à saúde, capaz de líderes empresariais ocorrido em 2016:
resolver 80% dos problemas de saúde da população.

13
LEGISLAÇÃO
Queremos mais recursos para a saúde e, como estamos nessa de promoção da saúde, pautadas pela concepção da determinação
crise fiscal, se tivermos planos acessíveis com modelos de que a social do processo saúde-doença e da clínica ampliada, que confi-
sociedade deseje participar, teremos R$ 20 [bilhões] ou R$ 30 bi- guram bases importantes para a reestruturação do modelo de aten-
lhões a mais de recursos, que serão colocados para atendimento ção à saúde.
de saúde. Isso vai aliviar nosso sistema, que está congestionado20(1). Em relação à carga horária, determina-se o retorno da obriga-
Com o intuito de viabilizar esse propósito, o MS criou um Gru- toriedade de 40 horas para todos os profissionais da ESF, inclusi-
po de Trabalho (GT) para elaborar um projeto que possibilite a ofer- ve os médicos, cuja carga horária havia sido flexibilizada na PNAB
ta de planos de saúde com número de serviços inferior ao definido 2011. Esta alteração retoma condições estabelecidas desde a im-
como cobertura mínima pela Agência Nacional de Saúde Suplemen- plantação do PSF, que são consideradas positivas para favorecer o
tar (ANS). A adesão a esses planos ‘populares’ de saúde - entendi- vínculo entre profissional e usuário, e potencializar a responsabili-
dos aqui como simplificados - seria voluntária. dade sanitária das equipes e a continuidade do cuidado. Entretanto,
Como se gera a ‘adesão voluntária’ ao setor privado? A res- sabe-se que a flexibilização da carga horária dos médicos de 40 para
posta que esta reflexão busca oferecer pode parecer óbvia ou re- 20 horas buscava equacionar a dificuldade de fixação desse profis-
dundante: se produz adesão ao setor privado por exclusão do setor sional nas equipes, um problema que persiste.
público. Entretanto, não é óbvio compreender que a exclusão do Diferentemente do que é previsto para a ESF, a carga horária
setor público deve ser ativamente produzida e se faz por meio da projetada para as equipes de AB (médico, enfermeiro, auxiliar ou
restrição ao acesso, associada à baixa qualidade dos serviços. É esta técnico de enfermagem) deve atender às seguintes orientações: a
combinação que acarreta a evasão de parte das classes populares soma da carga horária, por categoria, deve ser, no mínimo, de 40
ou a não adesão da classe média ao SUS. horas; a carga horária mínima de cada profissional deve ser de 10
Compreende-se que estão em curso três eixos de ação: a) defi- horas; o número máximo de profissionais por categoria deve ser
nir padrões mínimos e ampliados para a AB; b) estabelecer uma “re- três.
gulação que permita menos cobertura e menos custo; e c) colocar Operacionalmente, são inúmeros os arranjos possíveis para a
no mercado planos baseados na oferta de um rol mínimo do míni- composição das equipes de AB. Para fins de ilustração, uma equi-
mo de serviços. Articuladas, estas ações integram um processo que, pe pode ser composta por três médicos, dos quais dois devam ter
pela exclusão do SUS, pode gerar clientela para os planos privados cargas horárias de 20 horas e um de 10 horas; três enfermeiros,
e viabilizar planos incapazes de atender às necessidades de saúde. com 40 horas cada; um auxiliar ou técnico de enfermagem, com 40
Neste cenário, a nova PNAB tende a servir como plataforma para o horas; e nenhum ACS. Isto significa que, pelo menos, três fatores
avanço de políticas que aprofundem tais possibilidades. tornam mais atraente a composição de equipes no modelo de AB
A naturalização da ingerência do setor privado no SUS, expressa tradicional: contam com menos profissionais do que a ESF e, por-
por pensamentos tais como ‘isso já acontece’, contribui para ofus- tanto, podem ter um custo mais baixo; são mais fáceis de organizar,
car o fato de que a AB vinha se constituindo como um contraponto em função da flexibilidade da carga horária; e, agora, são também
a essa realidade. Uma vez sustentado o movimento de expansão financeiramente apoiadas. É importante relembrar que a referência
e qualificação da ESF, a AB tenderia a concretizar, a médio e lon- de população coberta também foi flexibilizada.
go prazo, a experiência do acesso à atenção à saúde, efetivamente Embora essas alterações possam ser lidas como meros instru-
pública. Esta é a aposta que está sendo suspensa ou interrompida. mentos de gestão, visando à redução de custos, cabe questionar,
ainda, os seus possíveis efeitos sobre o modelo de atenção à saúde.
O reposicionamento da Estratégia Saúde da Família e a reto- Tal formatação de equipes tende a fortalecer a presença de profis-
mada da Atenção Básica tradicional sionais cuja formação permanece fortemente orientada pelo mo-
Em relação ao papel da ESF, o texto da PNAB 2017 apresenta delo biomédico, curativo e de controle de riscos individuais. Neste
uma posição, no mínimo, ambígua. Ao mesmo tempo em que man- sentido, antes mesmo que a ESF tenha avançado significativamente
tém a ESF como prioritária no discurso, admite e incentiva outras na transformação do modelo de atenção, a PNAB 2017 representa
estratégias de organização da AB, nos diferentes territórios: uma regressão em relação a esse propósito, criando as condições
Art. 4º - A PNAB tem na saúde da família sua estratégia prioritá- para a expansão da AB tradicional e fortalecendo o binômio quei-
ria para expansão e consolidação da Atenção Básica. Contudo, reco- xa-conduta.
nhece outras estratégias de organização da Atenção Básica nos ter-
ritórios, que devem seguir os princípios, fundamentos e diretrizes Integração das atribuições ou fusão dos Agentes Comunitá-
da Atenção Básica e do SUS descritos nesta portaria, configurando rios de Saúde e dos Agentes de Combate às Endemias?
um processo progressivo e singular que considera e inclui as espe- Desde a realização do já mencionado VII Fórum de Gestão da
cificidades locorregionais, ressaltando a dinamicidade do território. Atenção Básica, em outubro de 2016, pelo MS, com o propósito de
Essa ambiguidade torna-se mais visível quando se analisam, produzir subsídios para a revisão da PNAB, tem circulado a ideia de
em conjunto, certos elementos dessa política. Destacam-se, prin- fundir as atribuições dos ACS e dos Agentes de Combate às Ende-
cipalmente, alterações nas regras de composição profissional e de mias (ACE), tornando-os um único tipo de profissional.
distribuição da carga horária dos trabalhadores nas equipes de AB. A PNAB 2017 desenvolve a materialização dessa ideia e afirma
A presença dos ACS não é requerida na composição mínima das que “as atividades específicas dos agentes de saúde (ACS e ACE)
equipes de AB, diferentemente do que acontece na ESF. Conside- devem ser integradas sob o argumento da necessidade de união
rando as recentes conquistas desses trabalhadores, em relação aos entre a AB e a vigilância em saúde, visando ao sucesso das ações
vínculos empregatícios e à definição do piso salarial da categoria, desenvolvidas nos territórios. Em seguida, define as atribuições que
entende-se que esta é uma possibilidade que desonera financeira- devem ser comuns a ambos os agentes e as atribuições específicas
mente a gestão municipal, tornando-se extremamente atraente no de cada um.
contexto de redução de recursos já vivenciado, e cujo agravamento Nessa distribuição, percebem-se três movimentos. O primeiro
é previsto. é a inclusão, na lista de atribuições comuns aos ACS e aos ACE, das
A presença desse trabalhador e a continuidade, com regulari- atividades historicamente destinadas aos ACS, tais como: o desen-
dade, das ações por ele desempenhadas nunca estiveram tão em volvimento de ações de promoção da saúde e prevenção de agravos
risco. O prejuízo recai principalmente sobre as ações educativas e e riscos; a realização de visitas domiciliares periódicas para o mo-

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LEGISLAÇÃO
nitoramento da situação de saúde das pessoas; a identificação e o de valorização diferenciada da ESF em relação às chamadas equipes
registro de situações de risco à saúde; e a orientação, a informação de AB, para as quais, anteriormente, não eram destinados esses re-
e a mobilização da comunidade. O segundo movimento é a predo- cursos.
minância, na lista das atribuições específicas dos ACS, de atividades O fato é que passa a ser facultada à gestão municipal a possibi-
de produção e registro de uma série de dados e informações pelas lidade de compor equipes de AB, de acordo com as características
quais somente este trabalhador é responsável. O terceiro corres- e as necessidades do município. Mais uma vez, aparece o recur-
ponde à manutenção do trabalho atualmente já desenvolvido pelos so às especificidades locais como justificativa para a flexibilização
ACE na lista das atribuições específicas desse trabalhador. do modelo de AB. No discurso dos gestores, a abertura de ‘novas’
Em síntese, o ACE preserva a responsabilidade sobre práticas possibilidades de financiamento e organização da AB tem sido va-
tradicionalmente associadas ao seu trabalho, mas sofre um acrés- lorizada quase como um reparo às supostas ‘injustiças’ cometidas
cimo em suas tarefas ao incorporar as atividades hoje atribuídas contra as formas tradicionais de configuração da AB. O MS justifica
aos ACS. Estes, por sua vez, sofrem uma descaracterização do seu as mudanças alegando que as regras praticadas nas PNAB anterio-
trabalho, que já vem sendo esvaziado das ações de educação em res acarretaram um desfinanciamento de parte dos serviços de AB
saúde, em virtude da priorização de atividades associadas às ‘linhas existentes no País.
de cuidado’, que têm assumido um foco na prevenção de doenças, Entretanto, esses argumentos mostram-se falaciosos na medi-
assim destinando a esses trabalhadores ações mais pontuais. da em que suprimem do debate as análises que mostram os impac-
É preciso também considerar o quanto a integração entre esses tos positivos da adoção e expansão da ESF nas condições de vida
profissionais estaria mais a serviço do corte de custos, pela diminui- e saúde da população. Também não levam em consideração que
ção de postos de trabalho, do que do aprimoramento do proces- as especificidades locorregionais já eram objeto das PNAB anterio-
so de trabalho e do aumento da eficiência das EqSF. Um resultado res e de incentivos financeiros vigentes, sendo possível observar a
provável para esta relação será uma intensificação ainda maior do adoção de adaptações ao modelo preconizado pela ESF em vários
trabalho dos agentes que restarem nas equipes. municípios do País. Além disto, tais mudanças acabam por favore-
Ainda que se concorde com a necessidade de aproximação e cer as capitais e os centros urbanos metropolitanos, que aderiram
de articulação entre os campos da vigilância e da atenção à saúde, à ESF de modo tardio e apresentam menor cobertura. Isso poderá
isto não se resume à fusão de seus agentes. Enquanto ainda não se acarretar um redirecionamento de recursos para regiões mais de-
efetivaram esforços suficientes para se alcançar a integração dos senvolvidas e com maior capacidade de arrecadação de tributos,
ACE nas EqSF, conforme estabelecido pela PNAB de 20112, projeta- comprometendo os avanços alocativos do setor.
-se um processo de trabalho que desconsidera as especificidades Por fim, mais uma vez, chama a atenção a ausência de uma
dessas áreas técnicas e suas respectivas políticas. Além disto, não análise contextualizada sobre o impacto das mudanças que estão
se desenvolvem pontos de integração no planejamento do trabalho sendo propostas na PNAB 2017, e que serão implementadas nos
e da formação, nem projetos de ação conjunta entre esses trabalha- próximos anos. A liberdade e a maior autonomia requeridas pelos
dores, nos territórios e nas unidades de saúde. gestores locais se inserem em uma conjuntura de ameaças aos di-
reitos sociais, e de forte restrição fiscal e orçamentária, com agra-
Fragilização da coordenação nacional no pacto federativo da vamento da situação de subfinanciamento do SUS. Esse contexto
saúde condicionará as escolhas políticas, ampliando as dificuldades locor-
O SUS possui caráter nacional e universal, e integra um con- regionais para a manutenção de serviços de AB frente aos custos
junto amplo de ações que devem ser organizadas em uma rede elevados da atenção de média e alta complexidade no SUS. A escas-
descentralizada, regionalizada e hierarquizada de serviços. Vários sez de recursos públicos disponíveis para a saúde também tenderá
aspectos influenciam a implantação deste modelo, entre eles, as a aumentar as disputas redistributivas, favorecendo a influência de
características da federação brasileira, que se distingue pelo re- interesses particulares nas decisões alocativas do setor, a implan-
conhecimento dos municípios como entes autônomos a partir da tação de planos privados de cobertura restrita e de modelos alter-
Constituição de 1988. Tais municípios (5.570, no total) são muito nativos à ESF, com resultados duvidosos para a organização da AB.
desiguais entre si e, em sua maioria (cerca de 90%), possuem pe-
queno ou médio porte populacional e limitadas condições político- Desde o início dos anos 1990, para grande parte da população
-institucionais para assumirem as responsabilidades sobre a gestão brasileira, a AB tem sido a face mais notável de um sistema de saú-
das políticas de saúde que lhes são atribuídas. de orientado por princípios de universalidade, integralidade e equi-
Diversos foram os esforços empreendidos na trajetória de im- dade. Confrontada com tendências que priorizam programas foca-
plantação do SUS para lidar com as tensões do federalismo brasi- lizantes e compensatórios, mais afeitos à racionalidade neoliberal
leiro. As políticas direcionadas para o fortalecimento da ESF per- hegemônica, a ESF tem se configurado como meio de expansão do
mitiram a consolidação do papel coordenador da União no pacto acesso e de realização do direito à saúde.
federativo da saúde. Normas e incentivos financeiros federais fa- Alçada à condição de estratégia de reorientação do modelo de
voreceram a implantação das políticas pelos municípios, com des- atenção à saúde, tem ainda um longo caminho a percorrer e obstá-
concentração de serviços no território e consolidação da ESF como culos a ultrapassar, antes que seja alcançado o objetivo de efetivar
referência nacional para organização da AB no SUS. Essas políticas uma clínica ampliada, que articule diferentes saberes, trabalhado-
também possibilitaram uma redistribuição não desprezível de re- res e setores da política pública, de modo a compreender e enfren-
cursos financeiros, com privilegiamento de municípios situados em tar os determinantes sociais do processo saúde-doença.
regiões mais carentes, mesmo em um contexto de dificuldades de Há muito a ser reorganizado e modificado em função dos re-
financiamento da saúde. sultados das pesquisas e das avaliações realizadas sobre a AB. A
A nova PNAB, ao flexibilizar o modelo de atenção e do uso dos qualificação de trabalhadores de todos os níveis de formação que
compõem as EqSF, visando ao trabalho baseado no território; a in-
recursos transferidos por meio do PAB variável, fragiliza o poder de
tegração entre prevenção, atenção e promoção da saúde; a organi-
regulação e indução nacional exercido pelo MS, responsável por
zação de processos de trabalho mais democráticos e participativos,
avanços significativos no processo de descentralização do SUS. No
nos quais os trabalhadores tenham papel importante no planeja-
que tange ao financiamento, ressalta-se a ausência de mecanismos
mento das ações, na definição e discussão das metas e prioridades

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LEGISLAÇÃO
das equipes; a gestão pública do trabalho e dos serviços de AB; e a SUS e seu financiamento será previsto na respectiva proposta or-
regularização dos vínculos contratuais são questões que precisam çamentária” (BRASIL, 1990a). Já o segundo veta a “transferência de
ser priorizadas. recursos para o financiamento de ações não previstas nos planos
Entretanto, as modificações introduzidas na PNAB 2017 apon- de saúde” (BRASIL, 1990a), salvo em situações emergenciais ou de
tam para outra direção. Em um breve inventário, destacam-se al- calamidade pública de saúde. No Art. 37, a Lei atribui ao Conse-
guns mecanismos da nova política que promovem a relativização da lho Nacional de Saúde a responsabilidade pelo estabelecimento de
cobertura universal, a definição de padrões distintos de serviços, a diretrizes para a elaboração dos planos de saúde, “em função das
recomposição das equipes e a reorganização do características epidemiológicas e da organização dos serviços em
cada jurisdição administrativa” (BRASIL, 1990a).
Já a Lei Nº 8.142/90 (BRASIL, 1990b), no seu Art. 4º, entre os
requisitos para o recebimento dos recursos provenientes do Fundo
SISTEMA DE PLANEJAMENTO DO SUS: ESTRATÉGICO E Nacional de Saúde, fixa que os municípios, estados e o Distrito Fe-
NORMATIVO deral devem contar com plano de saúde e relatório de gestão “que
permitam o controle de que trata o §4º do artigo 33 da Lei Nº 8.080,
Os gestores do SUS vêm se empenhando continuamente em de 19 de setembro de 1990” (esse parágrafo refere-se ao acom-
planejar, monitorar e avaliar as ações e serviços de saúde. Tais es- panhamento, pelo Ministério da Saúde, da aplicação de recursos
forços têm contribuído, certamente, para os importantes avanços repassados na conformidade da programação aprovada, a ser reali-
registrados pelo SUS nestes 20 anos de sua criação. É importante zado por meio de seu sistema de auditoria).
reconhecer, contudo, que os desafios atuais e o estágio alcançado É importante destacar igualmente as Portarias Nº 399, de 22
exigem um novo posicionamento do planejamento no âmbito do de fevereiro de 2006, e de Nº 699, de 30 de março subsequente,
SUS, capaz de favorecer a aplicação de toda a sua potencialidade, editadas pelo Ministério da Saúde: a primeira “divulga o Pacto pela
corroborando de forma plena e efetiva para a consolidação deste Saúde 2006 - Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacio-
Sistema. nais do referido pacto” (BRASIL, 2006a) e, a outra, “regulamenta as
Nesse sentido, é necessário elaborar instrumentos que contri- Diretrizes Operacionais dos Pactos pela Vida e de Gestão” (BRASIL,
buam para um melhor aproveitamento das oportunidades e para 2006b). O Pacto pela Saúde envolve três componentes: o Pacto pela
a superação de desafios, entre os quais aqueles que possibilitem o Vida, o Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão.
desenvolvimento de rotinas de monitoramento e avaliação nas três No Pacto de Gestão, os eixos são a descentralização, a regio-
esferas de governo. Entre os desafios presentes, cabe destacar a nalização, o financiamento, a programação pactuada e integrada,
importância do financiamento pleno do SUS, o que envolve a regu- a regulação, a participação e o controle social, o planejamento, a
lamentação e o cumprimento da Emenda Constitucional 29, assim gestão do trabalho e a educação na saúde.
como a manutenção de processo contínuo de planejamento. O Sistema de Planejamento do SUS é objeto do item 4 do ane-
O Sistema de Planejamento do SUS – PlanejaSUS – busca apro- xo da Portaria Nº 399/2006, estando nele contidos o seu conceito,
priar-se da experiência acumulada pela área nas três esferas de ges- princípios e objetivos principais, na conformidade do presente do-
tão que, no tocante à direção nacional, tem como exemplo impor- cumento. Destaque, também, que o Pacto estabelece cinco pontos
tante a formulação do Plano Nacional de Saúde – PNS 2004- 2007 –, prioritários de pactuação para o planejamento, que são:
cujo processo evidenciou a necessidade de uma ação permanente- i) a adoção das necessidades de saúde da população como cri-
mente articulada, nos moldes de uma atuação sistêmica. tério para o processo de planejamento no âmbito do SUS;
O planejamento – e instrumentos resultantes de seu processo, ii) a integração dos instrumentos de planejamento, tanto no
como planos e relatórios – é objeto de grande parte do arcabouço contexto de cada esfera de gestão, quanto do SUS como um todo;
legal do SUS, quer indicando processos e métodos de formulação, iii) a institucionalização e o fortalecimento do PlanejaSUS, com
quer como requisitos para fins de repasse de recursos e de contro- adoção do processo de planejamento, neste incluído o monitora-
le e auditoria. Em relação ao planejamento e a instrumentos que mento e a avaliação, como instrumento estratégico de gestão do
lhe dão expressão concreta, destacam-se, inicialmente, as Leis Nº SUS;
8.080/1990 e Nº 8.142/1990 (Leis Orgânicas da Saúde). A primeira iv) a revisão e a adoção de um elenco de instrumentos de pla-
– Lei Nº 8.080/90 – atribui à direção nacional do SUS a responsabi- nejamento – tais como planos, relatórios e programações – a serem
lidade de “elaborar o planejamento estratégico nacional no âmbito adotados pelas três esferas de gestão, com adequação dos instru-
do SUS em cooperação com os estados, municípios e o Distrito Fe- mentos legais do SUS no tocante a este processo e instrumentos
deral” (BRASIL, 1990a). dele resultantes; e
A referida Lei dedica o seu Capítulo III ao planejamento e orça- v) a cooperação entre as três esferas de gestão para o fortaleci-
mento. No primeiro artigo desse Capítulo, é estabelecido o proces- mento e a equidade do processo de planejamento no SUS. (BRASIL,
so de planejamento e orçamento do SUS, que “será ascendente, do 2006a).
nível local até o federal, ouvidos seus órgãos deliberativos, compa-
tibilizando-se as necessidades da política de saúde com a disponibi- Em relação ao financiamento, introduz e estabelece blocos
lidade de recursos em planos de saúde dos municípios, dos estados, específicos: atenção básica; atenção de média e alta complexida-
do Distrito Federal e da União” (BRASIL, 1990a). Essa lógica de for- de; vigilância em saúde; assistência farmacêutica e gestão do SUS.
mulação ascendente é um dos mecanismos relevantes na observân- Configuram-se eixos prioritários para a aplicação de recursos (in-
cia do princípio de unicidade do SUS. O seu cumprimento é desafio vestimentos): o estímulo à regionalização e os investimentos para
importante, tendo em conta as peculiaridades e necessidades pró- a atenção básica.
prias de cada município, estado e região do País, o que dificulta a No contexto da regionalização, define que os principais instru-
adoção de um modelo único aplicável a todas as instâncias mentos de planejamento para tanto são o PDR (Plano Diretor de
Nos parágrafos 1º e 2º do Art. 36, são definidos a aplicabilidade Regionalização), o PDI (Plano Diretor de Investimento) e a PPI (Pro-
dos planos de saúde e o financiamento das ações dele resultantes. grama Pactuada e Integrada), a qual “deve estar inserida no pro-
O primeiro parágrafo estabelece que “os planos de saúde serão a cesso de planejamento e deve considerar as prioridades definidas
base das atividades e programações de cada nível de direção do nos planos de saúde em cada esfera de gestão” (BRASIL, 2006a).

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LEGISLAÇÃO
Segundo o Anexo II da Portaria, o planejamento regional expressará terminações legais, o Sistema requer também o acompanhamento,
as responsabilidades dos gestores para com a saúde da população o monitoramento, a atualização e a avaliação das ações. Mesmo re-
do território e o conjunto de objetivos e ações, cujas prioridades – conhecendo os avanços na alocação dos recursos públicos – basea-
estabelecidas regionalmente – deverão estar refletidas no plano de dos em objetivos de médio e longo prazos, com melhor associação
saúde de cada município e do estado. Cria também o Colegiado de às necessidades de saúde –, é importante considerar que deman-
Gestão Regional com a função de “instituir um processo dinâmico das contingenciais de curto prazo ainda prejudicam o processo de
de planejamento regional”. (BRASIL, 2006a). estruturação e consolidação do SUS.
No item 3 do capítulo relativo à responsabilidade sanitária, es- Embora responda às necessidades internas e externas, até en-
tão estabelecidos os compromissos de cada esfera no que concerne tão o sistema de planejamento no MS não dispunha de medidas
ao planejamento e programação. Destacam-se como responsabili- que viabilizem o aperfeiçoamento do trabalho e que possibilitas-
dades comuns aos entes federados: sem a oportuna e efetiva melhoria da gestão do Sistema, da aten-
i) formular, gerenciar, implementar e avaliar o processo perma- ção e da vigilância em saúde, inclusive no tocante à reorientação
nente de planejamento participativo e integrado, de base local e das ações. Tratava-se, na realidade, da insuficiência de um processo
ascendente, orientado por problemas e necessidades em saúde ..., de planejamento do Sistema Único de Saúde, em seu sentido amplo
construindo nesse processo o plano de saúde e submetendo-o à – neste compreendido o monitoramento e a avaliação –, que con-
aprovação do Conselho de Saúde correspondente; tribuísse para a sua consolidação que, conforme assinalado, é uma
ii) formular, no plano de saúde, a política de atenção em saúde, competência legal do gestor federal, em cooperação com as demais
incluindo ações intersetoriais voltadas para a promoção da saúde; instâncias de direção do Sistema.
iii) elaborar relatório de gestão anual, a ser apresentado e sub- O Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais de Saúde re-
metido à aprovação do Conselho de Saúde correspondente. (BRA- cebem frequentemente, da parte de gestores e técnicos do SUS,
SIL, 2006b). solicitação de orientações e cooperação técnica para a elaboração
de instrumentos de planejamento, em especial planos de saúde
Cabe destacar também as portarias que norteiam a organiza- e relatórios de gestão. Observa-se, por outro lado, que estados e
ção e a implementação do Sistema de Planejamento do SUS – pac- municípios têm se esforçado para formulá-los, quer para fins de
tuadas na CIT –, a saber: habilitação em uma condição de gestão – e, após o Pacto pela Saú-
• Portaria Nº 3.085, de 1º de dezembro de 2006, que regu- de, para a formalização do Termo de Compromisso de Gestão –,
lamenta esse Sistema; quer para subsidiar auditorias e controles, a cargo das instâncias
• Portaria Nº 3.332, do dia 28 subsequente, que aprova incumbidas destas atividades. Como um instrumento essencial de
orientações gerais relativas aos instrumentos do PlanejaSUS e re- gestão, cabe ao planejamento contribuir para que o SUS responda,
voga a Portaria N.º 548/2001 (”Orientações Federais para a Ela- com qualidade, às demandas e necessidades de saúde, avançando
boração e Aplicação da Agenda de Saúde, do Plano de Saúde, dos de forma ágil rumo a sua consolidação.
Quadros de Metas e do Relatório de Gestão como Instrumentos de O processo ascendente de planejamento definido pela Lei Or-
Gestão do SUS”); gânica da Saúde configura-se relevante desafio para os responsá-
• Portaria Nº 1.229, de 24 de maio de 2007, que aprova veis por sua condução, em especial aqueles das esferas estadual
orientações gerais para o fluxo do Relatório Anual de Gestão do e nacional, tendo em conta a complexidade do perfil epidemioló-
SUS. gico brasileiro, aliada à quantidade e diversidade dos municípios,
além da grande desigualdade em saúde ainda prevalente, tanto em
Registrem-se ainda as Portarias: Nº 376, de 16 de fevereiro de relação ao acesso, quanto à integralidade e à qualidade da aten-
2007; Nº 1.510, de 25 de junho de 2007; e Nº 1.885, de 9 de setem- ção prestada. Em relação à gestão, é importante levar em conta o
bro de 2008, que institui incentivo financeiro para o PlanejaSUS; fato de que cerca de 90% dos municípios têm menos de 50 mil ha-
que desvincula o seu repasse da adesão ao Pacto pela Saúde; e que bitantes e que 48% menos de 10 mil (INSTITUTO BRASILEIRO DE
estabelece o incentivo de 2008, respectivamente. A íntegra dessas GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004). Particularmente no tocante ao
portarias específicas do Sistema de Planejamento do SUS consta do planejamento, a organização das ações ainda é bastante precária,
item Portarias relativas ao Sistema de Planejamento do SUS, página principalmente nos municípios de médio e pequeno portes, o que
34. dificulta o exercício eficiente e efetivo de seu papel fundamental na
conformação do SUS neste nível.
Planejamento no SUS Cabe ressaltar que, apesar dos esforços empreendidos desde
No âmbito do Ministério da Saúde, até o final de 2005 – quan- a criação do SUS e os avanços logrados, a área de planejamento do
do tomou a iniciativa de propor a construção do PlanejaSUS, como Sistema ainda carece, nas três esferas de gestão, de recursos hu-
mencionado na apresentação –, o planejamento pautava as suas manos em quantidade e qualidade. Observa-se que falta, não raro,
ações principalmente no atendimento às demandas interna e ex- infraestrutura e atualização contínua nas técnicas e métodos do
terna, esta última oriunda da coordenação do correspondente planejamento em si – sobretudo em se tratando de monitoramento
sistema federal, exercida pelo Ministério do Planejamento, Orça- e avaliação, no seu sentido mais amplo –, assim como o domínio ne-
mento e Gestão (MP). Ao MP cabe, assim, conduzir o planejamento cessário das características e peculiaridades que cercam o próprio
estratégico do governo federal. As demandas internas referem-se SUS e do quadro epidemiológico do território em que atuam. Tais
sobretudo a informações para o atendimento de necessidades téc- condições são estratégicas para a coordenação do processo de pla-
nico-políticas. nejamento e, portanto, para o funcionamento harmônico do Plane-
O Sistema Federal de Planejamento tem uma agenda estabe- jaSUS. É oportuno reiterar, nesse particular, os pontos essenciais de
lecida, mediante a qual responde também às exigências constitu- pactuação para o Sistema de Planejamento do SUS – PlanejaSUS –,
cionais e legais, entre as quais figuram a elaboração do Plano Plu- definidos no Pacto pela Saúde 2006, em especial a institucionaliza-
rianual – a cada quatro anos – e as suas revisões, das propostas ção e o fortalecimento deste Sistema, “com adoção do processo de
anuais de diretrizes orçamentárias e do orçamento, que balizam a planejamento, neste incluído o monitoramento e a avaliação, como
aprovação das respectivas leis – LDO e LOA –, do Balanço Geral da instrumento estratégico de gestão do SUS”. (BRASIL, 2006a).
União e da Mensagem do Executivo ao Legislativo. Além dessas de-

17
LEGISLAÇÃO
Conceito e caracterização Outra condição importante é a adesão institucional mediante a
Define-se como Sistema de Planejamento do Sistema Único de observância da regulamentação do PlanejaSUS, expressa nas referi-
Saúde – PlanejaSUS – a atuação contínua, articulada, integrada e das Portarias Nº 3.085/2006 e Nº 3.332/2006, e outras decorrentes
solidária das áreas de planejamento das três esferas de gestão do de pactuação tripartite, de que são exemplos processos de moni-
SUS. Tal forma de atuação deve possibilitar a consolidação da cultu- toramento e de avaliação dos instrumentos básicos, consoante às
ra de planejamento de forma transversal às demais ações desenvol- definições contidas nas Leis Orgânicas da Saúde. Constituem igual-
vidas no Sistema Único de Saúde. Nesse sentido, o PlanejaSUS deve mente condições essenciais para a institucionalização do Planeja-
ser entendido como estratégia relevante à efetivação do SUS. Para o SUS nas três esferas de gestão: a capacitação de recursos humanos
seu funcionamento, são claramente definidos os objetivos e as res- para o processo de planejamento do SUS; a geração de informações
ponsabilidades das áreas de planejamento de cada uma das esferas gerenciais para a tomada de decisão; a adequação do arcabouço
de gestão, de modo a conferir efetiva direcionalidade ao processo legal relativo ao planejamento; a cooperação técnica e financeira
de planejamento que, vale reiterar, compreende o monitoramento para o planejamento no SUS; e o provimento de estrutura e infra-
e a avaliação. -estrutura para o desenvolvimento da atividade de planejamento.
Na condição de sistema, e consoante à diretriz relativa à dire-
ção única do SUS em cada esfera de gestão, o PlanejaSUS não envol- Objetivo geral
ve nenhuma forma de subordinação entre as respectivas áreas de O PlanejaSUS tem por objetivo geral coordenar o processo de
planejamento. Nesse sentido, a sua organização e operacionaliza- planejamento no âmbito do SUS, tendo em conta as diversidades
ção baseiam-se em processos que permitam o seu funcionamento existentes nas três esferas de governo, de modo a contribuir – opor-
harmônico entre todas as esferas do SUS. Para tanto, tais processos tuna e efetivamente – para a sua consolidação e, consequentemen-
deverão ser objeto de pactos objetivamente definidos, com estri- te, para a resolubilidade e qualidade da gestão e da atenção à saú-
ta observância dos papéis específicos de cada um, assim como das de.
respectivas peculiaridades, necessidades e realidades sanitárias. O
desenvolvimento de papéis específicos visa, principalmente, poten- Objetivos específicos
cializar e conferir celeridade e resolubilidade ao PlanejaSUS, tanto São objetivos específicos do Sistema de Planejamento do SUS:
na sua implantação, quanto no seu funcionamento, monitoramento a) formular propostas e pactuar diretrizes gerais para o proces-
e avaliação contínuos. so de planejamento no âmbito do SUS e seu contínuo aperfeiçoa-
Como parte integrante do ciclo de gestão, o PlanejaSUS deve mento;
estar próximo dos níveis de decisão do SUS, buscando permanen- b) propor metodologias e modelos de instrumentos básicos
temente, de forma tripartite, a pactuação de bases funcionais de do processo de planejamento, englobando o monitoramento e a
planejamento, monitoramento e avaliação do SUS, bem como pro- avaliação, que traduzam as diretrizes do SUS, com capacidade de
movendo a participação social e a integração intra e intersetorial, adaptação às particularidades de cada esfera administrativa;
considerando os determinantes e condicionantes de saúde. Essa c) apoiar a implementação de instrumentos permanentes de
integração deve buscar o envolvimento de todos os profissionais. planejamento para as três esferas de gestão do SUS, que sirvam de
Tal entendimento explicita o caráter transversal dessa função e, por parâmetro mínimo para o processo de monitoramento, avaliação e
conseguinte, o papel das áreas de planejamento nas três esferas regulação do SUS;
que, em síntese, é de: d) apoiar a implementação de processo permanente e siste-
• coordenar os processos de formulação, monitoramento e mático de planejamento nas três esferas de gestão do SUS, neste
avaliação dos instrumentos básicos do PlanejaSUS; e compreendido o planejamento propriamente dito, o monitoramen-
• prover as demais áreas técnicas de mecanismos - como to e a avaliação;
métodos e processos - para que possam formular, monitorar e ava- e) promover a institucionalização, fortalecendo e reconhecen-
liar os seus respectivos instrumentos, segundo as suas especificida- do as áreas de planejamento no âmbito do SUS, nas três esferas de
des e necessidades. governo, como instrumento estratégico de gestão do SUS;
f) apoiar e participar da avaliação periódica relativa à situação
Para o alcance do êxito esperado com o PlanejaSUS, estão iden- de saúde da população e ao funcionamento do SUS, provendo os
tificadas algumas condições e medidas importantes. Tais condições gestores de informações que permitam o seu aperfeiçoamento e/
e medidas – ou eixos norteadores – podem gerar duplo benefício. ou redirecionamento;
De um lado, dariam celeridade ao atendimento de necessidades g) implementar e difundir uma cultura de planejamento que in-
importantes da gestão do SUS, de que são exemplos a formulação
tegre e qualifique as ações do SUS nas três esferas de governo, com
ou a revisão de planos, programações e relatórios gerenciais. De
vistas a subsidiar a tomada de decisão por parte de seus gestores;
outro, viabilizariam a conformação ágil do PlanejaSUS, tendo em
h) promover a educação permanente em planejamento para os
vista o caráter concreto de algumas medidas indicadas no presente
profissionais que atuam neste âmbito no SUS;
documento.
i) promover a eficiência dos processos compartilhados de pla-
Entre as condições necessárias, estão o apoio ao PlanejaSUS,
nejamento e a eficácia dos resultados;
sobretudo por parte dos gestores e representantes do controle so-
j) incentivar a participação social como elemento essencial dos
cial, incorporando o planejamento como instrumento estratégico
para a gestão do SUS. Esse apoio deverá ser buscado principalmen- processos de planejamento;
te junto aos Colegiados de Gestão Regionais, às Comissões Inter- k) promover a análise e a formulação de propostas destinadas
gestores (CIB e CIT), aos Conselhos Nacionais de Secretários Esta- a adequar o arcabouço legal no tocante ao planejamento no SUS;
duais e Municipais de Saúde (Conass e Conasems) e aos Conselhos l) implementar uma rede de cooperação entre os três entes fe-
de Secretários Municipais de Saúde (Cosems). Trata-se de tarefa a derados, que permita amplo compartilhamento de informações e
ser assumida, inicialmente, por todos os profissionais que atuam experiências;
em planejamento no SUS, para o que deve também ser buscada a m)identificar, sistematizar e divulgar informações e resultados
contribuição, por exemplo, de organismos internacionais – como as decorrentes das experiências em planejamento, sobretudo no âm-
Organizações Pan-Americana e Mundial da Saúde –, de instituições bito das três esferas de gestão do SUS, assim como da produção
de ensino, de pesquisa e entidades afins. científica;

18
LEGISLAÇÃO
n) fomentar e promover a intersetorialidade no processo de n) assessoria aos estados na definição de estratégias voltadas
planejamento do SUS; ao fortalecimento e à organização do processo de planejamento es-
o) promover a integração do ciclo de planejamento e gestão no tadual.
âmbito do SUS, nas três esferas de governo;
p) monitorar, avaliar e manter atualizado o processo de pla- No âmbito estadual
nejamento e as ações implementadas, divulgando os resultados a) Organização e coordenação do PlanejaSUS no âmbito esta-
alcançados, de modo a fortalecer o PlanejaSUS e a contribuir para a dual e apoio a este processo nos municípios;
transparência do processo de gestão do SUS; b) apoio ao MS na implementação e aperfeiçoamento do Pla-
q) promover a adequação, a integração e a compatibilização nejaSUS em âmbito nacional;
entre os instrumentos de planejamento do SUS e os de governo; c) implementação das diretrizes, metodologias, processos e
r) promover a discussão visando o estabelecimento de política instrumentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS;
de informação em saúde; e d) assessoria aos municípios na definição de estratégias volta-
s) promover a discussão e a inclusão do planejamento na pro- das ao fortalecimento e organização do processo de planejamento
posta de planos de carreira, cargo e salários do SUS. local e regional;
e) utilização de Planos Regionais/Municipais de Saúde como
Responsabilidades subsídio prioritário na formulação do Plano Estadual de Saúde, ob-
As áreas e profissionais que atuam em planejamento nas três servada a Política de Saúde respectiva;
esferas de gestão do SUS assumirão compromissos e responsabi- f) coordenação do processo de planejamento regional de forma
lidades voltadas à implantação, implementação, aperfeiçoamento articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adaptação –
e consolidação do PlanejaSUS. A seguir, são descritas as responsa- às realidades locais – das metodologias, processos e instrumentos
bilidades nos âmbitos federal, estadual e municipal, identificadas pactuados no âmbito do PlanejaSUS;
pelos profissionais participantes das oficinas macrorregionais e dos g) apoio à organização e funcionamento dos Colegiados de
encontros do Sistema de Planejamento do SUS. Gestão Regionais;
h) estímulo à criação e/ou apoio a câmaras específicas e grupos
No âmbito federal de trabalho dos CGR e CIB em questões relativas ao planejamento
a) Coordenação do processo nacional de planejamento do SUS, no âmbito do SUS;
em cooperação com os estados e municípios; i) fortalecimento das áreas de planejamento do estado e apoio
b) organização, implantação e implementação do PlanejaSUS às referidas áreas municipais;
em âmbito nacional; j) monitoramento e avaliação das ações de planejamento no
c) cooperação técnica e financeira na implantação e implemen- âmbito estadual e apoio aos municípios para o desenvolvimento
tação do Planejasus em cada esfera de governo, bem como para a deste processo;
formulação, monitoramento e avaliação dos instrumentos básicos k) estímulo ao estabelecimento de políticas públicas de saúde
definidos para este Sistema; de forma articulada e intersetorial;
d) implementação de rede, no âmbito do planejamento, volta- l) desenvolvimento da cooperação técnica e financeira aos mu-
da à articulação e integração das três esferas de gestão do SUS e à nicípios no âmbito do PlanejaSUS;
divulgação de informações e experiências de interesse do Planeja- m)promoção e apoio à educação permanente em planejamen-
SUS, bem como à disseminação do conhecimento técnicocientífico to para os profissionais que atuam no contexto do planejamento no
na área; SUS, em parceria com o MS e municípios;
e) promoção da educação permanente em planejamento para n) participação na implementação de rede, no âmbito do pla-
os profissionais que atuam em planejamento no SUS; nejamento, voltada à articulação e integração das três esferas de
f) participação no Grupo de Planejamento da Secretaria Técnica gestão do SUS e à divulgação de informações e experiências de in-
da Comissão Intergestores Tripartite (CIT); teresse do PlanejaSUS, bem como à disseminação do conhecimento
g) formulação e apresentação, para análise e deliberação da técnico-científico na área;
CIT, de propostas relativas ao funcionamento e aperfeiçoamento do o) apresentação, para análise e deliberação da Comissão Inter-
PlanejaSUS e dos seus instrumentos básicos; gestores Bipartite – CIB –, de propostas relativas ao funcionamento
h) mobilização e coordenação do grupo de colaboradores, e aperfeiçoamento do PlanejaSUS no respectivo âmbito;
composto por especialistas e profissionais que atuam nas áreas de p) apoio às câmaras e grupos de trabalho da CIB em questões
planejamento do SUS, no processo de planejamento e orçamento relativas ao planejamento no âmbito do SUS;
na esfera federal e em instituições de ensino e pesquisa, com vistas q) sensibilização dos gestores para incorporação do planeja-
a apoiar o MS no cumprimento de suas responsabilidades junto ao mento como instrumento estratégico de gestão do SUS.
PlanejaSUS;
i) apoio aos grupos de trabalho e demais fóruns da CIT em No âmbito municipal
questões relativas ao planejamento no âmbito do SUS; a) Coordenação, execução e avaliação do processo de planeja-
j) organização de sistema informatizado que agregue informa- mento do SUS no âmbito municipal, consoante aos pactos estabe-
ções gerenciais em saúde de interesse do planejamento, valendo-se lecidos no âmbito do PlanejaSUS;
dos sistemas já existentes; b) apoio ao estado e ao MS na implementação e aperfeiçoa-
k) implantação, monitoramento e avaliação sistemática do pro- mento do PlanejaSUS;
cesso de planejamento do SUS no âmbito federal e apoio a este c) implementação das diretrizes, metodologias, processos e
processo nos estados e municípios; instrumentos definidos de forma pactuada no âmbito do Planeja-
l) utilização dos Planos Estaduais e Municipais de Saúde como SUS;
subsídio prioritário na formulação do Plano Nacional de Saúde, ob- d) sensibilização dos gestores e gerentes locais para incorpora-
servada a Política Nacional de Saúde; ção do planejamento como instrumento estratégico de gestão do
m)sensibilização dos gestores para incorporação do planeja- SUS;
mento como instrumento estratégico de gestão do SUS;

19
LEGISLAÇÃO
e) elaboração dos instrumentos básicos de planejamento de em saúde. As atividades regulatórias, sejam por meio de auditoria
forma articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adap- de processos ou de resultados, são afetadas por tais definições de
tação – às realidades locais – das metodologias, processos e instru- objetivos e de metas.
mentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS; Este capítulo abordará noções estabelecidas entre especialis-
f) participação na implementação de rede, no âmbito do pla- tas, sem a preocupação de cobrir todo o debate. Mais adiante serão
nejamento, voltada à articulação e integração das três esferas de referenciados alguns autores e textos que podem ser consultados
gestão do SUS e à divulgação de informações e experiências de in- para aprofundamento no tema e para conhecer o modo como são
teresse do PlanejaSUS, bem como à disseminação do conhecimento operadas no cotidiano do planejamento as diferentes técnicas aqui
técnico-científico na área; discutidas.
g) participação e promoção de capacitação em planejamento, Em termos atuais, muito do que se discute sobre planejamen-
monitoramento e avaliação, na perspectiva da política da educação to e técnicas de programação está associado à noção de contrato.
permanente; O estabelecimento de contratos de entes públicos entre si e com
h) promoção de mecanismos de articulação entre as diversas agentes privados tem se tornado uma realidade cada vez mais for-
áreas da SMS e com outros setores do município; te no SUS, seguindo uma tendência internacional. Isto tem trazido
i) estímulo ao estabelecimento de políticas públicas de saúde para as arenas decisórias os interesses de atores, com ou sem fins
de forma articulada e intersetorial; lucrativos.
j) implementação do planejamento local com monitoramento Buscando desconstruir a ideia usual de contrato de mercado
e avaliação das ações propostas, bem como divulgação dos resulta- strictu sensu, tem-se trabalhado esta interação de atores públicos e
dos alcançados; privados, muitas vezes de forma controversa, como um dos aspec-
k) coordenação de ações participativas visando a identificação tos da governança. Antes de tratar do planejamento e da programa-
de necessidades da população, tendo em vista a melhoria das ações ção como parte dos diferentes mecanismos de governança presen-
e serviços de saúde; tes na política de saúde será apresentado o modo como se instituiu
l) operacionalização, monitoramento e avaliação dos instru- no setor saúde o tema do planejamento para o desenvolvimento
mentos de gestão do SUS e retroalimentação de informações ne- social. Em seguida, serão discutidos aspectos da programação em
cessárias às três esferas; saúde e o modo como essa se consolidou no Brasil. Há uma longa
m)promoção da estruturação, institucionalização e fortaleci- história do planejamento em saúde na experiência internacional e,
mento do PlanejaSUS no município, com vistas a legitimá-lo como especialmente, na América Latina. Um grande número de autores
instrumento estratégico de gestão do SUS; tratou deste tema orientado à construção de sistemas públicos de
n) participação no processo de planejamento regional de forma saúde e às reformas sanitárias.
articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adaptação – Assim, foi criada uma sólida tradição em associar o planeja-
às realidades locais – das metodologias, processos e instrumentos mento às políticas de saúde. Em diversos casos, a produção dos au-
pactuados no âmbito do PlanejaSUS; tores principais foi aceita e praticada por agências de cooperação
o) apoio à organização e funcionamento dos Colegiados de internacional na América Latina e, em particular, no Brasil. A seguir,
Gestão Regionais. uma resumida apresentação de algumas das principais abordagens
sobre o assunto, sem a preocupação de abranger todo o tema.
A noção de planejamento é aplicada, fundamentalmente, em
diferentes áreas do conhecimento como Administração, Economia Método CENDES/OPAS
e Política. Um dos pontos essenciais do planejamento é sua natu- Uma das mais antigas estratégias de planejamento em saúde
reza estratégica, muito influenciada pelo uso nas ações militares. na América Latina foi o desenho do método conhecido como CEN-
Na geopolítica, o planejamento estratégico pertence à própria DES/ OPAS, que surge em um ambiente favorável à intervenção do
natureza da diplomacia e das relações internacionais. No senso co- Estado na economia como forma de reduzir ou compensar as crises
mum, a ideia costuma estar associada a organizar atividades, buscar econômicas por meio do planejamento e do estabelecimento de
melhores resultados, reduzir conflitos e incertezas. Neste sentido, incentivos específicos. Fundamentalmente a partir da década de
programação guarda semelhança com o planejamento, embora 1920, a noção do planejamento foi entendida na América Latina
seja uma expressão associada a objetivos delimitados e pontuais. como uma ferramenta do Estado para a promoção do desenvolvi-
Planejar ações políticas, definir estratégias econômicas, esquemas mento social e econômico. Na Comissão Econômica para a América
regulatórios, modelos de administração de empresas e negócios Latina (CEPAL), por exemplo, um setor da Organização das Nações
em geral fazem parte do cotidiano da ordem política e social. Como Unidas (ONU) criado em 1948, o planejamento econômico é vis-
especialidade em seus diferentes ramos, o tema do planejamento to como uma atividade governamental orientada a romper com a
é tratado por especialistas renomados em vasta literatura especiali- dependência dos países latino-americanos frente às economias de-
zada das disciplinas aqui assinaladas. senvolvidas e estimular o crescimento econômico. As relações entre
Pode-se afirmar que planejar é reduzir incertezas. Logo, implica o pensamento cepalino, suas conexões com as técnicas de planeja-
em algum grau de intervenção na economia, associa-se a práticas mento e a emergência do planejamento estratégico no contexto da
regulatórias, orienta investimentos e está diretamente vinculado à América Latina foram tratadas por muitos especialistas. Giovanella
alocação eficiente de recursos. No setor saúde, as práticas de pla- (1991) apresenta uma análise minuciosa de todo o processo e de
nejamento estão presentes em todo o processo que é conhecido suas lacunas, a qual inclui a descrição da formação e dos conteúdos
como Gestão do SUS. do método CENDES/OPAS e a emergência do planejamento estraté-
Para esses objetivos, tratar-se-á planejamento e programação gico sob a influência de formuladores relevantes para a cultura téc-
nica da saúde pública no Brasil, como Mario Testa e Carlos Matus.
como áreas de conhecimento e atividades referidas ao setor saú-
Como analisado por Giovanella (1991), esse método aplica os
de, no qual o tema tem ampla utilização e grande diversidade de
fundamentos do planejamento da CEPAL no setor saúde para otimi-
abordagens entre pesquisadores e dirigentes nas áreas pública e
zar ganhos econômicos e diminuir custos, sendo a escolha de prio-
privada. Definir metas, estabelecer objetivos e planejar ou progra-
ridades feita a partir da relação custo/benefício.
mar ações representam o dia-a-dia dos gestores do setor público

20
LEGISLAÇÃO
O objetivo era orientar investimentos em programas com me- análise de viabilidade das ações e a construção de sua viabilidade
nores custos para mortes evitadas em um modelo de planejamento quando consideradas essenciais. Tático-operacional: implementa-
de caráter normativo. ção do plano.
Esse método foi muito difundido no Brasil e ensinado nas esco- O enfoque estratégico foi adotado, como dito, de modo direto
las de saúde, em cursos acadêmicos e em treinamento de gestores. ou adaptado para a cultura técnica do setor saúde no Brasil. Uma
A estrutura era em forma de planilha, onde informações de recur- grande variedade de livros, artigos e teses foi produzida, assim
sos utilizados, custos por absorção e agravos evitados eram cruza- como relatórios e consultorias a governos municipais, estaduais e
das com o objetivo de orientar as decisões alocativas ou analisar ao Ministério da Saúde, desde o fim da década de 1980 e ao longo
o desempenho de sistemas e programas. A dificuldade estava na da implantação do SUS, nos anos 1990.
obtenção de informações consistentes e, principalmente, em esta- Embora haja uma ênfase em atores políticos, as matrizes fun-
belecer os benefícios esperados. dadoras e as diversas correntes políticas que animaram o debate
Embora seja difícil especificar quando e onde o planejamen- entre correntes de planejamento situacional e estratégico na Amé-
to central tenha começado no setor saúde, certamente o Método rica Latina se fundamentavam na concepção marxista de estruturas
CENDES/OPAS representou o modelo institucional e oficial de busca de classes sociais (GIORDANI, 1979).
de racionalidade burocrática no âmbito de estruturas administrati- A emergência dessa concepção de planejamento converge his-
vas (ministérios, institutos e secretarias de saúde) que operavam de toricamente com a construção do movimento de reforma da saúde
modo predominante por meio de hierarquias, comando e contro- pública nos países latinos e a luta pela redemocratização dos países
le. Ao longo de décadas, estruturas híbridas de cooperação entre que estavam sobre regimes ditatoriais.
Estado e mercado, que hoje podem ser trabalhadas no âmbito da O pensamento marxista era muito presente na construção das
governança, não estiveram presentes na agenda política do sistema políticas de saúde e de seus mecanismos estratégicos de desenvolvi-
público de saúde. mento. Vale assinalar que a importância e relevância destes enfoques
Uma série de soluções de planejamento em saúde se desen- do planejamento, que acabam por ampliar a sua base cognitiva e que
volveu enquanto o método patrocinado pela Organização Pan-A- se tornaram influentes nas instituições de saúde na América Latina e
mericana de Saúde (OPAS) perdia importância. A perda de relevân- Brasil, em particular, ocorrem simultaneamente a enfoques bastante
cia pode ser atribuída a um conjunto de fatores, dentre os quais distintos já em curso em outros países. Na década de 1980, começa a
a dificuldade na obtenção de informações adequadas e o foco na se desenvolver o modelo da Nova Gerência Pública, oriundo da cultura
produtividade e eficiência econômica em uma área especial, como técnica britânica que se dissemina pela Comunidade Europeia. Além
a de saúde, contribuindo para a perda de consenso entre os espe- disso, com tradições fortemente arraigadas nos Estados Unidos, e de
cialistas, dirigentes e lideranças setoriais. desenvolvimento anterior, os modelos de Teoria dos Jogos tratam de
Em seu lugar, duas importantes estratégias se disseminaram problemas semelhantes aos dos conflitos de atores e instituições do
em nosso país no que diz respeito à difusão de ideias de especialis- planejamento estratégico, apesar de orientações políticas bem diferen-
tas em planejamento para os dirigentes setoriais. São elas as abor- tes e de modelos de análise fortemente matematizados.
dagens de planejamento estratégico-situacional e as diferentes prá- Essas orientações chegam com maior força política ao Brasil
ticas de programação em saúde. Tratar-se-á resumidamente destes apenas em meados da década de 1990 e por meio de instituições
dois temas antes de entrar no item hoje dominante em termos de fora do eixo da saúde pública.
planejamento e que se refere aos mecanismos de governança e à O planejamento estratégico no Brasil foi adotado em sua abor-
entrada em cena da Nova Gerência Pública. dagem técnico-política, influenciando o desenho dos distritos sa-
nitários e a organização dos serviços de saúde. Paim (1993) con-
Planejamento estratégico testa a adoção desse planejamento situacional para a organização
dos distritos, devido às limitações do método no que concerne à
O planejamento estratégico é uma concepção geral que implica
compreensão integral da realidade e dos sujeitos. Essa visão mais
em dar à dimensão política o centro da elaboração de modelos. As
abrangente preconizada por Paim, que considera os elementos da
relações entre atores políticos e instituições, tratadas como arenas,
promoção da saúde, da produção social da saúde e da visão de ter-
são analisadas e as orientações e estratégias são definidas a partir
ritório vivo de Milton Santos (1978), ficou hegemônica no que se
de conjunturas e equilíbrios de poder (MATUS, 1993). Muitos auto-
convencionou chamar movimento de Saúde Coletiva.
res e instituições de saúde no Brasil utilizaram, desde a década de
As reformas de saúde nos anos 1970 foram influenciadas por
1980, modelos diretamente definidos por Carlos Matus e por Mario
uma série de movimentos populares e políticos de redemocratiza-
Testa ou fizeram adaptações ou desenvolvimentos a partir de suas ção na América Latina, o que resultou numa outra forma de enten-
ideias (TEIXEIRA, 1993; RIVERA; HARTMANN, 2003; PAIM, TEIXEIRA, der e construir planejamento em saúde e contribuiu com a constru-
2006). Especificamente com relação às concepções de planejamen- ção – na academia –, do campo de Saúde Coletiva no Brasil.
to situacional, Giovanella (1991) afirma que o planejamento estra- Em consonância com a disseminação de abordagens do plane-
tégico situacional é uma evolução do pensamento crítico dos anos jamento em saúde a partir de enfoques estratégicos, outra tradição
sessenta em relação ao planejamento econômico. se formou no setor saúde brasileiro e se relaciona à programação
O Planejamento Estratégico Situacional (PES) se caracteriza em saúde, o que passaremos a tratar na seção seguinte.
por tentar conciliar a ação sobre uma realidade complexa, com um
olhar estratégico e situacional, considerando a visão de múltiplos A Legislação aplicável ao planejamento no SUS
atores e a utilização de ferramentas operacionais para o enfrenta- O planejamento no SUS é de responsabilidade conjunta das
mento de problemas. Pode ser considerado, conforme assinalado três esferas da federação, sendo que a União, os Estados, o Distrito
por Giovanella (1991), como uma vertente do planejamento estra- Federal e os Municípios devem desenvolver suas respectivas ativi-
tégico de saúde, pois o pensamento de Matus, pelo seu frequente dades de maneira funcional para conformar um sistema de Estado
trabalho como assessor da OPAS, tem sofrido adaptações para a que seja nacionalmente integrado. Assim, as atividades de planeja-
saúde. O PES se divide em quatro momentos, a saber: Explicativo: mento desenvolvidas de forma individual, em cada uma das esferas,
seleção e análise dos problemas relevantes para os atores chaves e em seus respectivos territórios, devem levar em conta as atividades
sobre os quais se deseja atuar. Normativo: construção do plano de das demais esferas, buscando gerar complementaridade e funcio-
intervenção, a situação objetivo que se deseja alcançar. Estratégico: nalidade.

21
LEGISLAÇÃO
Essa articulação de tarefas entre as três esferas da Federação deve ser organizada a partir de uma distribuição de responsabilidades e
atribuições definidas pelas normas e acordos vigentes. O Ministério da Saúde, o CONASS e o CONASEMS, em consonância com o Conselho
Nacional de Saúde, definem as diretrizes gerais de elaboração do planejamento para todas as esferas de gestão, estabelecem as priorida-
des e os objetivos nacionais.
Os Municípios, a partir das necessidades locais, das diretrizes estabelecidas pelos conselhos municipais de saúde, das prioridades
estaduais e nacionais, elaboram, implementam e avaliam o ciclo do planejamento municipal.
A partir das necessidades de saúde no âmbito estadual, das diretrizes estabelecidas pelos conselhos estaduais de saúde e observadas
as prioridades nacionais, os estados, em parceria com os COSEMS, coordenam o ciclo de elaboração, implementação e avaliação do plane-
jamento em seus territórios, buscando articulação de processos e instrumentos. O Distrito Federal, pelas suas peculiaridades, assume as
responsabilidades típicas das secretarias de estado e de município.
Na busca da equidade regional, o Estado e os Municípios — em conjunto com seus pares nas respectivas regiões de saúde —, definem
as prioridades regionais e estabelecem as responsabilidades sanitárias de cada ente na região. Os planos e metas regionais resultantes das
pactuações intermunicipais constituirão a base para os planos e metas estaduais, que promoverão a equidade inter-regional (§ 2°, art. 30,
LC n° 141, de 2012).
Além disso, o planejamento no SUS deve ter como base territorial as regiões de saúde, uma vez que essas são os espaços geográficos
fundamentais de garantia da integralidade das ações e serviços de saúde para a população no SUS. A Região de Saúde representa a uni-
dade de referência para a análise da dinâmica socioeconômica e da situação de saúde da população, o dimensionamento da capacidade
instalada de produção de serviços, o levantamento dos recursos fiscais, dos profissionais e equipamentos disponíveis e para a projeção de
uma imagem-objetivo da rede de atenção à saúde.
Assim, o planejamento no SUS se fundamenta em uma dinâmica federativa em que cada uma das esferas possui suas atribuições es-
pecíficas, que articuladas produzem um planejamento orientado para impulsionar estratégias de regionalização.
Os princípios gerais para o planejamento no Estado Brasileiro, com foco no setor saúde, estão dispostos ao longo de um conjunto de
normas de diversas naturezas, editadas ao longo de quase três décadas9. A legislação a ser observada no campo da saúde é composta tan-
to por normas gerais aplicáveis ao planejamento governamental, quanto pelas normas específicas editadas no âmbito do SUS, conforme
pode ser visto nos Quadros.

Assim, o planejamento no SUS deve observar ambos os conjuntos de normas de forma a articular o planejamento setorial com o ciclo
geral de planejamento governamental da Federação. As regras gerais de planejamento são orientações que devem ser seguidas por todas
as áreas desenvolvedoras de políticas públicas e estão expressas, em sua maior parte, nos art. 165 a 169 e 195, § 2°, da Constituição de
1988, e na Lei Complementar n° 101, de 2000, além das normas de Direito Financeiro estabelecidas anteriormente pela Lei n° 4.320, de

22
LEGISLAÇÃO
1964. O setor saúde deve se orientar primeiramente por essas regras e, subsidiariamente, pelas disposições constantes das regras setoriais
ou específicas que abrangem um conjunto mais amplo de normas, desde as Leis Orgânicas até as publicações infralegais, como portarias e
resoluções mais recentes, com pode ser visto no Quadro.

Principais normas e disposições específicas sobre o planejamento governamental no SUS

23
LEGISLAÇÃO
Princípios do planejamento governamental no SUS Do mesmo modo, tal conexão institui uma relação intrínseca
As diretrizes estabelecidas por esse conjunto de normas po- entre os planos de curto e médio prazo e as programações anuais de
dem ser elencadas em sete princípios gerais que orientam os gesto- gastos governamentais. Dada esta forma de estruturação orçamen-
res das três esferas da Federação na organização de suas atividades tária, o PPA consiste no ponto de partida que define as diretrizes
de planejamento, com destaque para as disposições estabelecidas gerais de ação do Estado nas três esferas de governo da Federação.
no Decreto n° 7.508, de 2011, na LC n° 141, de 2012, e especial- De acordo com o texto constitucional, cabe ao PPA a definição
mente na Portaria n° 2.135, de 25 de setembro de 2013, que define das diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública relativas
de forma mais explícita as diretrizes atuais para o planejamento no às despesas de capital e aos gastos correntes delas derivados, ou
SUS. Esses princípios estão apresentados nas seções a seguir. seja, o PPA sintetiza as estratégias de médio prazo e as operaciona-
liza por meio dos programas que o constituem.
Princípio 1: o planejamento consiste em uma atividade obri- O PPA se estrutura em duas partes fundamentais que são a
gatória e contínua base estratégica e os programas. A base estratégica consiste no
O processo de planejamento em saúde é de responsabilida- conjunto de análises de cenário e de prospecção estratégica que
de de cada ente federado, a ser desenvolvido de forma contínua, orientará o planejamento governamental. A base estratégica deve
articulada, ascendente, integrada e solidária, entre as três esferas contemplar a análise da situação econômica e social, as diretrizes,
de governo, na medida em que visa dar direcionalidade à gestão objetivos e metas estabelecidas pelo chefe do Poder Executivo, a
pública da saúde. previsão dos recursos orçamentários e sua distribuição entre os
Assim, os entes da Federação devem, obrigatoriamente, reali- setores ou entre os programas e diretrizes, objetivos e metas dos
zar atividades de planejamento. A elaboração dos instrumentos de demais órgãos compatíveis com a orientação estratégica do chefe
planejamento estabelecidos pela legislação são obrigações condi- do Poder Executivo.
cionantes, inclusive, para o recebimento das transferências inter- Os programas consistem na sistematização das ações que se-
governamentais. rão implementadas de acordo com as orientações definidas na base
O planejamento regular permite dotar os gestores de informa- estratégica.
ções que possibilitem uma ação mais efetiva sobre a realidade sani- O detalhamento anual dos gastos relativos a cada etapa das es-
tária e redirecionar as ações com vistas a melhorar as condições de tratégias adotadas é realizado pela LOA, cujo conteúdo deve guar-
saúde da população. dar plena compatibilidade com as diretrizes expressas nos progra-
Entretanto, para que se consiga construir um planejamento mas definidos no PPA. Enquanto o PPA compreende o planejamento
que permita dar suporte ao SUS, a legislação estabelece que cada governamental de médio prazo, para quatro anos, a LOA contém o
um dos entes da Federação desempenhe seu papel específico, ge- detalhamento anual desse planejamento na forma das ações que
rando complementaridade. Assim, o cumprimento das responsabi- deverão ser implementadas e dos recursos orçamentários que esta-
lidades individuais em cada esfera da Federação é que irá permitir rão disponíveis para o financiamento das políticas. Assim sendo, a
que as demais também possam realizar a contento suas atividades, LOA consiste na expressão anual do planejamento governamental,
o que exige que o planejamento seja integrado. Essa integração, quando são previstos com maior detalhamento o volume de recur-
para ser efetiva, pressupõe que haja articulação funcional. sos arrecadados e como esses serão alocados ao longo do conjunto
Assim, por exemplo, a União, a partir de construção tripartite, de programas e projetos que serão executados no exercício fiscal
precisa estabelecer diretrizes, objetivos e metas nacionais e o ca- correspondente.
lendário nacional de elaboração para que os Estados possam defi- A integração entre o PPA e a LOA é função da LDO, consistin-
nir as estratégias de coordenação do processo de planejamento em do no instrumento inovador instituído pela Constituição Federal
seu território e os Municípios iniciem, com seus pares, suas ativida- de 1988 em matéria de organização orçamentária. Segundo esta
des nas respectivas regiões de saúde. última, cabe à LDO estabelecer, para cada exercício fiscal, as me-
tas e as prioridades da Administração Pública e os parâmetros de
Princípio 2: o planejamento no SUS deve ser integrado à elaboração da LOA, além de dispor sobre um amplo conjunto de
Seguridade Social e ao planejamento governamental geral questões adicionais consideradas essenciais para que o planeja-
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que as políticas de mento de médio prazo, expresso no PPA, possa se traduzir em ação
saúde, previdência e assistência devem estar articuladas no âmbito eficiente e eficaz de curto prazo. Esse conjunto abrange disposições
da Seguridade Social, criando sincronia entre os programas e ações relativas a possíveis alterações na legislação tributária e na política
voltados para a inclusão social. Essa articulação, do ponto de vista de pessoal da Administração Pública, a fixação de limites de gastos
operacional, deve ocorrer nos processos de planejamento e orça- para os três poderes, as condições para que o equilíbrio fiscal seja
mento, sendo necessário que os planos e os orçamentos do SUS obtido, o estabelecimento de critérios para limitação de empenho,
estejam integrados com os das áreas de previdência e assistência. a definição de medidas a serem adotadas em caso de redução dos
O orçamento da Seguridade Social é o instrumento de planejamen- montantes de endividamento, definição das condições e exigências
to e orçamentação que articula e integra os programas dessas três específicas para transferências de recursos a entidades públicas e
áreas de política social e junto com o Orçamento Fiscal compõe o privadas, entre outras.
Orçamento Geral de cada ente da Federação.
Além disso, os instrumentos de planejamento da saúde — o Princípio 3: o planejamento deve respeitar os resultados das
Plano de Saúde e suas respectivas Programações Anuais e o Rela- pactuações entre os gestores nas comissões intergestores regio-
tório de Gestão — devem orientar, no que se refere à política de nais, bipartite e tripartite
saúde, a elaboração dos instrumentos de planejamento de governo As instâncias permanentes de negociação e pactuação inter-
— Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e gestores são os espaços federativos de construção de consenso po-
Lei Orçamentária Anual (LOA), definidos a partir do art. 165 da CF. lítico e de desenvolvimento de estratégias intergovernamentais que
A Constituição Federal de 1988 define a integração entre as possibilitam a ação conjunta e articulada do Ministério da Saúde e
funções de planejamento estatal e as de orçamentação como sen- das secretarias estaduais e municipais de saúde.
do o fundamento do modelo orçamentário brasileiro, definido pela Assim, no processo de planejamento no SUS devem ser con-
necessidade do estabelecimento de uma conexão coerente entre os sideradas como essenciais as pactuações realizadas nas comissões
respectivos instrumentos adotados. intergestores — CIR, CIB e CIT —, uma vez que esses espaços de go-

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LEGISLAÇÃO
vernança têm a competência de discutir e pactuar de forma perma- No âmbito do planejamento no SUS, o monitoramento e a ava-
nente a política de saúde e sua execução na construção da gestão liação devem ser executados de forma individual e conjunta entre
compartilhada do SUS. os entes federados, tendo como referência as respectivas regiões
Portanto, todo o processo de planejamento integrado segue a de saúde.
lógica federativa clássica em que, apesar de cada uma das esferas O monitoramento compreende o acompanhamento regular
ter suas responsabilidades específicas, as principais decisões sobre das metas e indicadores, que expressam as diretrizes e os objetivos
o ciclo de planejamento são tomadas a partir de consensos. Essa da política de saúde em um determinado período e o seu coteja-
dinâmica de trabalho coletivo é típica de ambientes federativos e mento com o planejado; enquanto a avaliação envolve a apreciação
tem como objetivo conferir legitimidade às decisões e estimular o dos resultados obtidos, considerando um conjunto amplo de fato-
trabalho conjunto entre a União, os Estados e os Municípios. res. A escolha desses fatores ou critérios que irão orientar a avalia-
Como resultado, um amplo conjunto de questões relativas ao ção depende do tipo de apreciação que se pretende realizar, uma
processo de planejamento no SUS passa por negociações interges- vez que toda avaliação consiste na emissão de um juízo de valor
tores nos fóruns federativos do SUS. sobre as características, a dinâmica e o resultado de programas e
Assim, as pactuações tripartites abrangem: as diretrizes gerais
políticas.
para a composição do conjunto de ações e serviços de saúde e de
Os tipos mais comuns e empregados na avaliação são os que
medicamentos essenciais a serem ofertados no SUS (Renases e Re-
consideram: os efeitos sobre a saúde da população (avaliação de
name); as etapas e os prazos do processo de planejamento no SUS;
as diretrizes nacionais para a organização das regiões de saúde; os impacto ou de efetividade); a obtenção das prioridades e os objeti-
critérios para o planejamento no SUS nas regiões de saúde; as nor- vos iniciais estabelecidos (avaliação dos objetivos ou da eficácia); a
mas de elaboração e fluxos do COAP; as regras de continuidade do racionalidade no uso dos recursos (avaliação da eficiência); as mu-
acesso para o atendimento da integralidade da assistência nas regiões danças ocorridas no contexto econômico, político e social (avalia-
de saúde; as diretrizes, objetivos, metas e indicadores de abrangência ção de cenário); as disposições constantes da legislação (avaliação
nacional, buscando orientar e integrar o planejamento da União, dos de legalidade ou de conformidade); a qualidade da estratégia de
estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entre outras. implantação das políticas e programas (avaliação da implementa-
No âmbito estadual, as pactuações a serem realizadas nas CIB, ção); a análise e a apreciação de instâncias oficiais (avaliação ofi-
entre os gestores estaduais e municipais, são relativas: às etapas cial ou institucional); o aperfeiçoamento da capacidade de gestão
e aos prazos do planejamento municipal em consonância com os dos quadros e das unidades da administração pública (avaliação de
planejamentos estadual e nacional; às diretrizes estaduais sobre re- aprendizagem), entre outros.
giões de saúde e demais aspectos vinculados à integração das ações A legislação do SUS busca induzir os gestores das três esferas
e serviços de saúde dos entes federados; à conformação e à ava- a privilegiar as atividades de monitoramento e de avaliação de im-
liação do funcionamento das regiões de saúde em cada estado; à pacto ou de efetividade, combinando-as com algumas das outras
continuidade do acesso às ações e aos serviços de saúde da rede de modalidades de avaliação mencionadas acima.
atenção à saúde, mediante referenciamento em regiões de saúde As principais normas relacionadas ao planejamento no SUS res-
intraestaduais; à metodologia de alocação dos recursos estaduais; e saltam que a avaliação deve apreciar em que medida as políticas,
à previsão anual de repasse de recursos aos Municípios (constantes programas, ações e serviços de saúde implementados no período
dos planos estaduais de saúde), entre outras. considerado promoveram a melhoria das condições de saúde da
Finalmente, no âmbito das CIR10, as principais pactuações população.
abrangem: o rol de ações e serviços e o elenco de medicamentos
que serão ofertados na Região de Saúde (tomando como base a Princípio 5: o planejamento deve ser ascendente e integrado
Renases e a Rename); os critérios de acessibilidade e escala para O planejamento ascendente e integrado na saúde, além de re-
a conformação dos serviços; as diretrizes regionais sobre a organi- quisito legal, é um dos mecanismos relevantes para assegurar a uni-
zação das redes de atenção à saúde; a gestão institucional regional cidade e os princípios constitucionais do SUS. O planejamento ex-
e a integração das ações e serviços dos entes federados na Região pressa as responsabilidades dos gestores de cada esfera de governo
de Saúde11; as responsabilidades individuais e solidárias de cada em relação à saúde da população do território quanto à integração
ente federativo na Região de Saúde (a serem incluídas no COAP); e da organização sistêmica do SUS.
a elaboração, a pactuação, o monitoramento e a avaliação de todo Portanto, é essencial que o conjunto de diretrizes, objetivos,
o processo de planejamento regional integrado nas respectivas re- metas e indicadores estabelecidos em âmbito nacional seja em-
giões de saúde, entre outras. pregado pelas três esferas de governo para o desenho de seus ins-
trumentos de planejamento, o que permitirá tanto criar uma ação
Princípio 4: o planejamento deve estar articulado constante- sincronizada da administração pública em torno das grandes prio-
mente com o monitoramento, a avaliação e a gestão do SUS ridades nacionais quanto uniformizar o formato e a linguagem do
O planejamento não consiste apenas em um simples exercício planejamento em todo o País.
de projeção de metas futuras, mas em uma ação estratégica da A integração do planejamento no SUS requer também que as
gestão pública que tem por objetivo reorientar os programas e os três esferas da Federação orientem suas atividades de maneira fun-
projetos governamentais de forma a ampliar a eficiência, a eficácia cional entre si para que haja complementaridade e organicidade,
e a efetividade da ação das políticas de saúde. Portanto, o planeja- evitando a duplicação de ações e projetos em algumas áreas e a
mento está intrinsecamente relacionado à gestão do SUS. ausência em outras.
Para que as ações de planejamento possam contribuir para o Entretanto, o caráter integrado das atividades de planejamen-
aperfeiçoamento da gestão do SUS, os entes federados devem com- to no SUS valoriza a autonomia dos entes federados, uma vez que
prometer-se a realizar o monitoramento e a avaliação, visando ana- todo o processo deve ser conduzido de maneira ascendente desde
lisar os resultados alcançados e as estratégias empregadas para tal. os Municípios até a esfera federal. Assim, os planos municipais de
O monitoramento e a avaliação devem ser processos periódi-
saúde, elaborados a partir das definições estabelecidas nas confe-
cos, orientados pelas diretrizes, objetivos, metas e indicadores as-
rências municipais de saúde, são a base para o planejamento das
sumidos em cada esfera de gestão.
regiões de saúde, que por sua vez, orientam o planejamento em

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LEGISLAÇÃO
âmbito estadual. Da mesma forma, a esfera federal deve levar em São essas necessidades que orientam a construção das diretri-
consideração o escopo das atividades planejadas pelas unidades da zes, objetivos, metas e indicadores identificados como essenciais
Federação. para a ampliação da qualidade de vida dos cidadãos e para a garan-
O Decreto n° 7.508, de 2011, introduz duas inovações essen- tia plena de seus direitos de cidadania. A compreensão das realida-
ciais para o aperfeiçoamento do planejamento no SUS e estabelece des locais em cada Região de Saúde abrange o levantamento de um
o planejamento regional em saúde como a base para a definição amplo conjunto de indicadores socioeconômicos, demográficos,
das metas e indicadores do planejamento da política de saúde, vi- epidemiológicos, sanitários, de infraestrutura urbana, de educação,
sando conferir maior complementaridade entre as ações a serem culturais, ocupacionais, entre outros. São esses indicadores que
desenvolvidas de forma integrada pelas três esferas de governo. permitem compreender as necessidades de saúde e que, portan-
Essas inovações consistem em estabelecer o conceito de metas to, deverão ser tomados como ponto de partida para a tomada de
regionais, que fazem interface com as metas municipais, estaduais decisões pelos gestores. Assim, a definição de quais serão as inter-
e federais e introduzir a necessidade de formalização dos compro- venções prioritárias que irão orientar a implementação ou o aper-
missos assumidos entre os gestores por meio de um instrumento feiçoamento do conjunto de ações e serviços de saúde no território
jurídico-executivo, o COAP. deve ser fundamentada em seu impacto na ampliação do bem estar
Desta forma, a integração do planejamento no SUS se organiza dos cidadãos. Em essência, a orientação do planejamento a partir
em torno do planejamento realizado nas regiões de saúde, onde das necessidades de saúde busca ampliar a efetividade das políticas
são estabelecidas as metas e as responsabilidades específicas de públicas (OUVERNEY; NORONHA, 2013).
cada uma das três esferas da Federação para que os resultados se-
jam obtidos. Assim, a integração do planejamento no SUS ocorre O Planejamento Normativo (DEVER, 1988) “é destinado a pro-
por meio da ação complementar entre o trabalho dos gestores mu- mover mudanças sociais deliberadas ou pretendidas projetadas
nicipais, estaduais e federal em cada região de saúde. para o futuro. Como é possível perceber, nesse nível de planeja-
mento será necessário lidar com os distintos interesses de diferen-
Princípio 6: o planejamento deve contribuir para a transpa- tes atores sociais e sua postura em relação ao plano, de oposição,
rência e a visibilidade da gestão da saúde indiferença ou adesão”.
Dentre outras normativas, a LC n° 141, de 2012, dá ênfase à Já o Planejamento Estratégico indica os caminhos a percorrer,
transparência e à visibilidade da gestão da saúde, demandando que detalhar as ações (TANCREDI, 1998). O Planejamento Estratégico
os gestores da saúde deem ampla divulgação, inclusive por meios “refere-se ao desenvolvimento de ações (planos) que permitam or-
eletrônicos de acesso público, das prestações de contas periódi- ganizar a execução das estratégias planejadas em outro nível de pla-
cas da saúde, para consulta e acesso da sociedade. Nesse sentido, nejamento. Indica como ´colocar em prática´ as ações previstas. No
sugere que a transparência e a visibilidade sejam asseguradas no setor saúde, utiliza-se esse tipo de planejamento na execução dos
processo de elaboração e discussão do Plano de Saúde, da Progra- programas de assistência à saúde, por exemplo, o programa para
mação Anual de Saúde e do Relatório de Gestão, devendo ser sub- controle da hipertensão”
metidos à apreciação do respectivo Conselho de Saúde e realização
de audiências públicas.
Portanto, o planejamento no SUS adquire também um caráter
de instrumento de ampliação da transparência das ações governa- DIREITOS DOS USUÁRIOS DO SUS
mentais, uma vez que a definição detalhada e clara das metas e
das respectivas responsabilidades de cada um dos entes federados A carta que você tem nas mãos baseia-se em seis princípios
possibilita que a sociedade acompanhe o processo de implantação básicos de cidadania. Juntos, eles asseguram ao cidadão o direito
e gestão das políticas e programas e discuta seus resultados com os básico ao ingresso digno nos sistemas de saúde, sejam eles públicos
gestores. A prerrogativa de conhecer os resultados das políticas e ou privados. A carta é também uma importante ferramenta para
de monitoramento da aplicação dos recursos públicos consiste em que você conheça seus direitos e possa ajudar o Brasil a ter um sis-
direto de cidadania enfatizado pela Lei n° 12.527, de 18 de novem- tema de saúde com muito mais qualidade.
bro de 2011, denominada de Lei de Acesso à Informação. Essa Lei
dispõe, em seu art. 5°, que “É dever do Estado garantir o direito PRINCÍPIOS DESTA CARTA*
de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedi- 1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado
mentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em lingua- aos sistemas de saúde.
gem de fácil compreensão” (BRASIL, 2011b). Como consequência, o 2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo
planejamento governamental torna-se um instrumento ainda mais para seu problema.
importante para que os cidadãos possam assegurar seus direitos. 3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, aco-
lhedor e livre de qualquer discriminação.
Princípio 7: o planejamento deve partir das necessidades de
4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua
saúde da população
pessoa, seus valores e seus direitos.
O planejamento no SUS parte do reconhecimento das dinâmi-
5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu
cas presentes no território que influenciam na saúde, bem como
tratamento aconteça da forma adequada.
das necessidades de saúde da população dos Municípios que
6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores
compõe a Região de Saúde. A análise e o dimensionamento das
da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos.
necessidades de saúde devem privilegiar um conceito mais amplo
de saúde, entendendo essa como uma condição que transcende a
mera ausência de doença e se caracteriza pela garantia de bem es- Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde
tar tanto físico e afetivo quanto social e econômico. Assim, a análi- Considerando o art. 196 da Constituição Federal, que garante
se da situação de saúde envolve primordialmente o conhecimento o acesso universal e igualitário a ações e serviços para promoção,
adequado e detalhado das condições de vida proporcionadas pelos proteção e recuperação da saúde.
diversos Municípios em cada região de saúde e das tendências de
curto, médio e longo prazo (CAMPOS, 2013).

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LEGISLAÇÃO
Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que I. Atendimento com presteza, tecnologia apropriada e condi-
dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recupera- ções de trabalho adequadas para os profissionais da saúde.
ção da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços cor- II. Informações sobre o seu estado de saúde, extensivas aos
respondentes. seus familiares e/ou acompanhantes, de maneira clara, objetiva,
Considerando a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que respeitosa, compreensível e adaptada à condição cultural, respei-
dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema tados os limites éticos por parte da equipe de saúde sobre, entre
Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamen- outras:
tais de recursos financeiros na área da saúde. a) hipóteses diagnósticas;
Considerando a necessidade de promover mudanças de atitu- b) diagnósticos confirmados;
de em todas as práticas de atenção e gestão que fortaleçam a auto- c) exames solicitados;
nomia e o direito do cidadão. d) objetivos dos procedimentos diagnósticos, cirúrgicos, pre-
O Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Saúde e a Co- ventivos ou terapêuticos;
missão Intergestora Tripartite apresentam a Carta dos Direitos dos e) riscos, benefícios e inconvenientes das medidas diagnósticas
Usuários da Saúde e convidam todos os gestores, profissionais de e terapêuticas propostas;
saúde, organizações civis, instituições e pessoas interessadas para f) duração prevista do tratamento proposto;
que promovam o respeito destes direitos e assegurem seu reconhe- g) no caso de procedimentos diagnósticos e terapêuticos inva-
cimento efetivo e sua aplicação. sivos ou cirúrgicos, a necessidade ou não de anestesia e seu tipo
O PRIMEIRO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o acesso ordena- e duração, partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instru-
do e organizado aos sistemas de saúde, visando a um atendimento mental a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou consequências
mais justo e eficaz. indesejáveis, duração prevista dos procedimentos e tempo de re-
Todos os cidadãos têm direito ao acesso às ações e aos serviços cuperação;
de promoção, proteção e recuperação da saúde promovidos pelo h) finalidade dos materiais coletados para exames;
Sistema Único de Saúde: i) evolução provável do problema de saúde;
I. O acesso se dará prioritariamente pelos Serviços de Saúde da j) informações sobre o custo das intervenções das quais se be-
Atenção Básica próximos ao local de moradia. neficiou o usuário.
II. Nas situações de urgência/emergência, o atendimento se
dará de forma incondicional, em qualquer unidade do sistema. III. Registro em seu prontuário, entre outras, das seguintes in-
III. Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser assegu- formações, de modo legível e atualizado:
rada a remoção do usuário em condições seguras, que não implique a) motivo do atendimento e/ou internação, dados de observa-
maiores danos, para um estabelecimento de saúde com capacidade ção clínica, evolução clínica, prescrição terapêutica, avaliações da
para recebê-lo. equipe multiprofissional, procedimentos e cuidados de enferma-
IV. O encaminhamento à Atenção Especializada e Hospitalar gem e, quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos,
será estabelecido em função da necessidade de saúde e indicação odontológicos, resultados de exames complementares laboratoriais
clínica, levando-se em conta critérios de vulnerabilidade e risco com e radiológicos;
apoio de centrais de regulação ou outros mecanismos que facilitem b) registro da quantidade de sangue recebida e dados que per-
o acesso a serviços de retaguarda. mitam identificar sua origem, sorologias efetuadas e prazo de vali-
V. Quando houver limitação circunstancial na capacidade de dade;
atendimento do serviço de saúde, fica sob responsabilidade do ges- c) identificação do responsável pelas anotações.
tor local a pronta resolução das condições para o acolhimento e
devido encaminhamento do usuário do SUS, devendo ser prestadas IV. O acesso à anestesia em todas as situações em que for indi-
informações claras ao usuário sobre os critérios de priorização do cada, bem como a medicações e procedimentos que possam aliviar
acesso na localidade por ora indisponível. A prioridade deve ser ba- a dor e o sofrimento.
seada em critérios de vulnerabilidade clínica e social, sem qualquer
tipo de discriminação ou privilégio. V. O recebimento das receitas e prescrições terapêuticas, que
VI. As informações sobre os serviços de saúde contendo crité- devem conter:
rios de acesso, endereços, telefones, horários de funcionamento, a) o nome genérico das substâncias prescritas;
nome e horário de trabalho dos profissionais das equipes assisten- b) clara indicação da posologia e dosagem;
ciais devem estar disponíveis aos cidadãos nos locais onde a assis- c) escrita impressa, datilografadas ou digitadas, ou em caligra-
tência é prestada e nos espaços de controle social. fia legível;
VII. O acesso de que trata o caput inclui as ações de proteção e d) textos sem códigos ou abreviaturas;
prevenção relativas a riscos e agravos à saúde e ao meio ambiente, e) o nome legível do profissional e seu número de registro no
as devidas informações relativas às ações de vigilância sanitária e órgão de controle e regulamentação da profissão;
epidemiológica e os determinantes da saúde individual e coletiva. f) a assinatura do profissional e data.
VIII. A garantia à acessibilidade implica o fim das barreiras ar-
quitetônicas e de comunicabilidade, oferecendo condições de aten- VI. O acesso à continuidade da atenção com o apoio domiciliar,
dimento adequadas, especialmente a pessoas que vivem com defi- quando pertinente, treinamento em autocuidado que maximize sua
ciências, idosos e gestantes. autonomia ou acompanhamento em centros de reabilitação psicos-
social ou em serviços de menor ou maior complexidade assistencial.
O SEGUNDO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o tratamento ade- VII. Encaminhamentos para outras unidades de saúde, obser-
quado e efetivo para seu problema, visando à melhoria da qualida- vando:
de dos serviços prestados. a) caligrafia legível ou datilografados/digitados ou por meio
É direito dos cidadãos ter atendimento resolutivo com qualida- eletrônico;
de, em função da natureza do agravo, com garantia de continuidade b) resumo da história clínica, hipóteses diagnósticas, tratamen-
da atenção, sempre que necessário, tendo garantidos: to realizado, evolução e o motivo do encaminhamento;

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LEGISLAÇÃO
c) a não utilização de códigos ou abreviaturas; II. O sigilo e a confidencialidade de todas as informações pes-
d) nome legível do profissional e seu número de registro no ór- soais, mesmo após a morte, salvo quando houver expressa autori-
gão de controle e regulamentação da profissão, assinado e datado; zação do usuário ou em caso de imposição legal, como situações de
e) identificação da unidade de referência e da unidade refe- risco à saúde pública.
renciada. III. Acesso a qualquer momento, do paciente ou terceiro por
ele autorizado, a seu prontuário e aos dados nele registrados, bem
O TERCEIRO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o atendimento como ter garantido o encaminhamento de cópia a outra unidade de
acolhedor e livre de discriminação, visando à igualdade de trata- saúde, em caso de transferência.
mento e a uma relação mais pessoal e saudável. IV. Recebimento de laudo médico, quando solicitar.
É direito dos cidadãos atendimento acolhedor na rede de ser- V. Consentimento ou recusa de forma livre, voluntária e es-
viços de saúde de forma humanizada, livre de qualquer discrimi- clarecida, depois de adequada informação, a quaisquer procedi-
nação, restrição ou negação em função de idade, raça, cor, etnia, mentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo se isso
orientação sexual, identidade de gênero, características genéticas, acarretar risco à saúde pública. O consentimento ou a recusa da-
condições econômicas ou sociais, estado de saúde, ser portador de dos anteriormente poderão ser revogados a qualquer instante, por
patologia ou pessoa vivendo com deficiência, garantindo-lhes: decisão livre e esclarecida, sem que lhe sejam imputadas sanções
I. A identificação pelo nome e sobrenome, devendo existir em morais, administrativas ou legais.
todo documento de identificação do usuário um campo para se re- VI. Não ser submetido a nenhum exame, sem conhecimento
gistrar o nome pelo qual prefere ser chamado, independentemente e consentimento, nos locais de trabalho (pré-admissionais ou pe-
do registro civil, não podendo ser tratado por número, nome da riódicos), nos estabelecimentos prisionais e de ensino, públicos ou
doença, códigos, de modo genérico, desrespeitoso ou preconcei- privados.
tuoso. VII. A indicação de um representante legal de sua livre escolha,
II. Profissionais que se responsabilizem por sua atenção, iden- a quem confiará a tomada de decisões para a eventualidade de tor-
tificados por meio de crachás visíveis, legíveis ou por outras formas nar-se incapaz de exercer sua autonomia.
de identificação de fácil percepção. VIII. Receber ou recusar assistência religiosa, psicológica e so-
III. Nas consultas, procedimentos diagnósticos, preventivos, ci- cial.
rúrgicos, terapêuticos e internações, o respeito a: IX. Ter liberdade de procurar segunda opinião ou parecer de
a) integridade física; outro profissional ou serviço sobre seu estado de saúde ou sobre
b) privacidade e conforto; procedimentos recomendados, em qualquer fase do tratamento.
c) individualidade; X. Ser prévia e expressamente informado quando o tratamento
d) seus valores éticos, culturais e religiosos; proposto for experimental ou fizer parte de pesquisa, decidindo de
e) confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal forma livre e esclarecida, sobre sua participação.
f) segurança do procedimento; XI. Saber o nome dos profissionais que trabalham nas unidades
g) bem-estar psíquico e emocional. de saúde, bem como dos gerentes e/ou diretores e gestor respon-
sável pelo serviço.
IV. O direito ao acompanhamento por pessoa de sua livre esco- XII. Ter acesso aos mecanismos de escuta para apresentar su-
lha nas consultas, exames e internações, no momento do pré-parto, gestões, reclamações e denúncias aos gestores e às gerências das
parto e pós-parto e em todas as situações previstas em lei (criança, unidades prestadoras de serviços de saúde e às ouvidorias, sendo
adolescente, pessoas vivendo com deficiências ou idoso). Nas de- respeitada a privacidade, o sigilo e a confidencialidade.
mais situações, ter direito a acompanhante e/ou visita diária, não XIII. Participar dos processos de indicação e/ou eleição de seus
inferior a duas horas durante as internações, ressalvadas as situa- representantes nas conferências, nos conselhos nacional, estadual,
ções técnicas não indicadas. do Distrito Federal, municipal e regional ou distrital de saúde e con-
V. Se criança ou adolescente, em casos de internação, conti- selhos gestores de serviços.
nuidade das atividades escolares, bem como desfrutar de alguma
forma de recreação. O QUINTO PRINCÍPIO assegura as responsabilidades que o ci-
VI. A informação a respeito de diferentes possibilidades tera- dadão também deve ter para que seu tratamento aconteça de for-
pêuticas de acordo com sua condição clínica, considerando as evi- ma adequada.
dências científicas e a relação custo-benefício das alternativas de Todo cidadão deve se comprometer a:
tratamento, com direito à recusa, atestado na presença de teste- I. Prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas con-
munha. sultas e nas internações sobre queixas, enfermidades e hospitali-
VII. A opção pelo local de morte. zações anteriores, história de uso de medicamentos e/ou drogas,
VIII. O recebimento, quando internado, de visita de médico de reações alérgicas e demais indicadores de sua situação de saúde.
sua referência, que não pertença àquela unidade hospitalar, sendo II. Manifestar a compreensão sobre as informações e/ou orien-
facultado a esse profissional o acesso ao prontuário. tações recebidas e, caso subsistam dúvidas, solicitar esclarecimen-
tos sobre elas.
O QUARTO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o atendimento que III. Seguir o plano de tratamento recomendado pelo profissio-
respeite os valores e direitos do paciente, visando a preservar sua nal e pela equipe de saúde responsável pelo seu cuidado, se com-
cidadania durante o tratamento. preendido e aceito, participando ativamente do projeto terapêuti-
O respeito à cidadania no Sistema de Saúde deve ainda obser- co.
var os seguintes direitos: IV. Informar ao profissional de saúde e/ou à equipe responsável
I. Escolher o tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, de sobre qualquer mudança inesperada de sua condição de saúde.
acordo com as exigências mínimas constantes na legislação, e ter V. Assumir responsabilidades pela recusa a procedimentos ou
sido informado pela operadora da existência e disponibilidade do tratamentos recomendados e pela inobservância das orientações
plano referência. fornecidas pela equipe de saúde.

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LEGISLAÇÃO
VI. Contribuir para o bem-estar de todos que circulam no am- B. DOS GOVERNOS ESTADUAIS E DO DISTRITO FEDERAL:
biente de saúde, evitando principalmente ruídos, uso de fumo, de- 1 – Acompanhar, controlar e avaliar as redes assistenciais do
rivados do tabaco e bebidas alcoólicas, colaborando com a limpeza SUS.
do ambiente. 2 – Prestar apoio técnico e financeiro aos municípios.
VII. Adotar comportamento respeitoso e cordial com os demais 3 – Executar diretamente ações e serviços de saúde na rede
usuários e trabalhadores da saúde. própria.
VIII. Ter sempre disponíveis para apresentação seus documen- 4 – Gerir sistemas públicos de alta complexidade de referência
tos e resultados de exames que permanecem em seu poder. estadual e regional.
IX. Observar e cumprir o estatuto, o regimento geral ou outros 5 – Acompanhar, avaliar e divulgar os seus indicadores de mor-
regulamentos do espaço de saúde, desde que estejam em conso- bidade e mortalidade.
nância com esta carta. 6 – Participar do financiamento da assistência farmacêutica bá-
X. Atentar para situações da sua vida cotidiana em que sua saú- sica e adquirir e distribuir os medicamentos de alto custo em parce-
de esteja em risco e as possibilidades de redução da vulnerabilidade ria com o governo federal.
ao adoecimento. 7 – Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e
XI. Comunicar aos serviços de saúde ou à vigilância sanitária ir- serviços de vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, alimenta-
regularidades relacionadas ao uso e à oferta de produtos e serviços ção e nutrição e saúde do trabalhador.
que afetem a saúde em ambientes públicos e privados. 8 – Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes
XII. Participar de eventos de promoção de saúde e desenvolver e Derivados juntamente com a União e municípios.
hábitos e atitudes saudáveis que melhorem a qualidade de vida. 9 – Coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública
e hemocentros.
O SEXTO PRINCÍPIO assegura o comprometimento dos gestores
para que os princípios anteriores sejam cumpridos. C. DO GOVERNO FEDERAL:
Os gestores do SUS, das três esferas de governo, para obser- 1 – Prestar cooperação técnica e financeira aos estados, muni-
vância desses princípios, se comprometem a: cípios e Distrito Federal.
I. Promover o respeito e o cumprimento desses direitos e de- 2 – Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substân-
veres com a adoção de medidas progressivas para sua efetivação. cias de interesse para a saúde.
II. Adotar as providências necessárias para subsidiar a divulga- 3 – Formular, avaliar e apoiar políticas nacionais no campo da
ção desta carta, inserindo em suas ações as diretrizes relativas aos saúde.
direitos e deveres dos usuários, ora formalizada. 4 – Definir e coordenar os sistemas de redes integradas de alta
III. Incentivar e implementar formas de participação dos traba- complexidade de rede de laboratórios de saúde pública, de vigilân-
lhadores e usuários nas instâncias e nos órgãos de controle social cia sanitária e epidemiológica.
do SUS. 5 – Estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de por-
IV. Promover atualizações necessárias nos regimentos e estatu- tos, aeroportos e fronteiras em parceria com estados e municípios.
tos dos serviços de saúde, adequando-os a esta carta. 6 – Participar do financiamento da assistência farmacêutica bá-
V. Adotar formas para o cumprimento efetivo da legislação e sica e adquirir e distribuir para os estados os medicamentos de alto
normatizações do sistema de saúde. custo.
7 – Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes
Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde e Derivados juntamente com estados e municípios.
I – RESPONSABILIDADE PELA SAÚDE DO CIDADÃO 8 – Participar na implementação das políticas de controle das
Compete ao município “prestar, com a cooperação técnica e agressões ao meio ambiente, de saneamento básico e relativas às
financeira da União e do estado, serviços de atendimento à saúde condições e aos ambientes de trabalho.
da população” – Constituição da República Federativa do Brasil, art. 9 – Elaborar normas para regular as relações entre o SUS e os
30, item VII. serviços privados contratados de assistência à saúde.
II – RESPONSABILIDADES PELA GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE 10 – Auditar, acompanhar, controlar e avaliar as ações e os
SAÚDE – LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990 serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais e muni-
cipais.
A. DOS GOVERNOS MUNICIPAIS E DO DISTRITO FEDERAL:
1 – Gerenciar e executar os serviços públicos de saúde.
2 – Celebrar contratos com entidades prestadoras de serviços PORTARIA Nº 1.820, DE 13 DE AGOSTO DE 2009
privados de saúde, bem como avaliar sua execução.
3 – Participar do planejamento, programação e organização do Dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde.
SUS em articulação com o gestor estadual.
4 – Executar serviços de vigilância epidemiológica, sanitária, O Ministro de Estado da Saúde, no uso das atribuições prevista
de alimentação e nutrição, de saneamento básico e de saúde do no inciso II do parágrafo único do art. 87 da Constituição, e conside-
trabalhador. rando os arts. 6º e 196 da Constituição Federal;
5 – Gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros. Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que
6 – Celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras dispõe sobre as condições para a promoção, a proteção e a recu-
de serviços privados de saúde, assim como controlar e avaliar sua peração da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
execução. correspondentes;
7 – Participar do financiamento e garantir o fornecimento de Considerando a Política Nacional de Humanização da Atenção e
medicamentos básicos. da Gestão do SUS, de 2003, do Ministério da Saúde; e
Considerando a Política Nacional de Gestão Estratégica e Parti-
cipativa no SUS, de 2007, do Ministério da Saúde, resolve:

29
LEGISLAÇÃO
Art. 1º Dispor sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde f) quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos,
nos termos da legislação vigente. odontológicos, resultados de exames complementares laboratoriais
Art. 2º Toda pessoa tem direito ao acesso a bens e serviços e radiológicos;
ordenados e organizados para garantia da promoção, prevenção, g) a quantidade de sangue recebida e dados que garantam a
proteção, tratamento e recuperação da saúde. qualidade do sangue, como origem, sorologias efetuadas e prazo
§ 1º O acesso será preferencialmente nos serviços de Atenção de validade;
Básica integrados por centros de saúde, postos de saúde, unidades h) identificação do responsável pelas anotações;
de saúde da família e unidades básicas de saúde ou similares mais i) outras informações que se fizerem necessárias.
próximos de sua casa V – o acesso à anestesia em todas as situações em que for indi-
§ 2º Nas situações de urgência/emergência, qualquer serviço cada, bem como a medicações e procedimentos que possam aliviar
de saúde deve receber e cuidar da pessoa, bem como encaminhá-la a dor e o sofrimento;
para outro serviço em caso de necessidade. VI – o recebimento das receitas e as prescrições terapêuticas
§ 3º Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser as- devem conter:
segurada a remoção do usuário, em tempo hábil e em condições a) o nome genérico das substâncias prescritas;
seguras, para um serviço de saúde com capacidade para resolver b) clara indicação da dose e do modo de usar;
seu tipo de problema. c) escrita impressa, datilografada ou digitada, ou em caligrafia
§ 4º O encaminhamento às especialidades e aos hospitais, pela legível;
Atenção Básica, será estabelecido em função da necessidade de d) textos sem códigos ou abreviaturas;
saúde e indicação clínica, levando-se em conta a gravidade do pro- e) o nome legível do profissional e seu número de registro no
blema a ser analisado pelas centrais de regulação. conselho profissional;
§ 5º Quando houver alguma dificuldade temporária para aten- f) a assinatura do profissional e a data.
der às pessoas, é da responsabilidade da direção e da equipe do VII – recebimento, quando prescritos, dos medicamentos que
serviço acolher, dar informações claras e encaminhá-las sem discri- compõem a farmácia básica e, nos casos de necessidade de me-
minação e privilégios. dicamentos de alto custo, deve ser garantido o acesso conforme
Art. 3º Toda pessoa tem direito ao tratamento adequado e no protocolos e normas do Ministério da Saúde;
tempo certo para resolver o seu problema de saúde. VIII – o acesso à continuidade da atenção no domicílio, quando
Parágrafo único. É direito da pessoa ter atendimento adequa- pertinente, com estímulo e orientação ao autocuidado que fortale-
do, com qualidade, no tempo certo e com garantia de continuidade ça sua autonomia, e a garantia de acompanhamento em qualquer
do tratamento, e para isso deve ser assegurado: serviço que for necessário;
I – atendimento ágil, com tecnologia apropriada, por equipe IX – o encaminhamento para outros serviços de saúde deve ser
multiprofissional capacitada e em condições adequadas de atendi- por meio de um documento que contenha:
mento; a) caligrafia legível ou datilografada, ou digitada, ou por meio
II – informações sobre o seu estado de saúde, de maneira clara, eletrônico;
objetiva, respeitosa e compreensível quanto a: b) resumo da história clínica, possíveis diagnósticos, tratamen-
a) possíveis diagnósticos; to realizado, evolução e o motivo do encaminhamento;
b) diagnósticos confirmados; c) linguagem clara, evitando-se códigos ou abreviaturas;
c) tipos, justificativas e riscos dos exames solicitados; d) nome legível do profissional e seu número de registro no
d) resultados dos exames realizados; conselho profissional, assinado e datado;
e) objetivos, riscos e benefícios de procedimentos diagnósti- e) identificação da unidade de saúde que recebeu a pessoa,
cos, cirúrgicos, preventivos ou de tratamento; assim como da unidade para a qual está sendo encaminhada.
f) duração prevista do tratamento proposto; Art. 4º Toda pessoa tem direito ao atendimento humanizado
g) procedimentos diagnósticos e tratamentos invasivos ou ci- e acolhedor, realizado por profissionais qualificados, em ambiente
rúrgicos; limpo, confortável e acessível a todos.
h) necessidade ou não de anestesia e seu tipo e duração; Parágrafo único. É direito da pessoa, na rede de serviços de
i) partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instrumental saúde, ter atendimento humanizado, acolhedor, livre de qualquer
a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou consequências indese- discriminação, restrição ou negação em virtude de idade, raça, cor,
jáveis; etnia, religião, orientação sexual, identidade de gênero, condições
j) duração prevista dos procedimentos e tempo de recupera- econômicas ou sociais, estado de saúde, de anomalia, patologia ou
deficiência, garantindo-lhe:
ção;
I – identificação pelo nome e sobrenome civil, devendo existir,
k) evolução provável do problema de saúde;
em todo documento do usuário e usuária, um campo para se re-
l) informações sobre o custo das intervenções das quais a pes-
gistrar o nome social, independentemente do registro civil, sendo
soa se beneficiou;
assegurado o uso do nome de preferência, não podendo ser iden-
m) outras informações que forem necessárias.
tificado por número, nome ou código da doença, ou outras formas
III – toda pessoa tem o direito de decidir se seus familiares e
desrespeitosas, ou preconceituosas;
acompanhantes deverão ser informados sobre seu estado de saú-
II – a identificação dos profissionais, por crachás visíveis, legí-
de;
veis e/ou por outras formas de identificação de fácil percepção;
IV – registro atualizado e legível no prontuário das seguintes III – nas consultas, nos procedimentos diagnósticos, preventi-
informações: vos, cirúrgicos, terapêuticos e internações, o seguinte:
a) motivo do atendimento e/ou internação; a) à integridade física;
b) dados de observação e da evolução clínica; b) à privacidade e ao conforto;
c) prescrição terapêutica; c) à individualidade;
d) avaliações dos profissionais da equipe; d) aos seus valores éticos, culturais e religiosos;
e) procedimentos e cuidados de enfermagem; e) à confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal;

30
LEGISLAÇÃO
f) à segurança do procedimento; VIII – o recebimento ou a recusa à assistência religiosa, psico-
g) ao bem-estar psíquico e emocional. lógica e social;
IV – o atendimento agendado nos serviços de saúde, preferen- IX – a liberdade, em qualquer fase do tratamento, de procurar
cialmente com hora marcada; uma segunda opinião, ou o parecer de outro profissional ou serviço
V – o direito a acompanhante, pessoa de sua livre escolha, nas sobre seu estado de saúde, ou sobre procedimentos recomenda-
consultas e exames; dos;
VI – o direito a acompanhante, nos casos de internação, nos X – a não-participação em pesquisa que envolva, ou não, tra-
casos previstos em lei, assim como naqueles em que a autonomia tamento experimental sem que tenha garantias claras da sua liber-
da pessoa estiver comprometida; dade de escolha e, no caso de recusa em participar ou continuar
VII – o direito à visita diária, não inferior a duas horas, preferen- na pesquisa, não poderá sofrer constrangimentos, punições ou san-
cialmente aberta, em todas as unidades de internação, ressalvadas ções pelos serviços de saúde, sendo necessário, para isso:
as situações técnicas não indicadas; a) que o dirigente do serviço cuide dos aspectos éticos da pes-
VIII – a continuidade das atividades escolares, bem como o es- quisa e estabeleça mecanismos para garantir a decisão livre e escla-
tímulo à recreação, em casos de internação de criança ou adoles- recida da pessoa;
cente; b) que o pesquisador garanta, acompanhe e mantenha a inte-
IX – a informação a respeito de diferentes possibilidades tera- gridade da saúde dos participantes de sua pesquisa, assegurando-
pêuticas, de acordo com sua condição clínica, baseado nas evidên- -lhes os benefícios dos resultados encontrados;
cias científicas, e a relação custo-benefício das alternativas de trata- c) que a pessoa assine o termo de consentimento livre e escla-
mento, com direito à recusa, atestado na presença de testemunha; recido.
X – a escolha do local de morte; XI – o direito de se expressar e de ser ouvido nas suas quei-
XI – o direito à escolha de alternativa de tratamento, quando xas, denúncias, necessidades, sugestões e outras manifestações por
houver, e à consideração da recusa de tratamento proposto; meio das ouvidorias, urnas e qualquer outro mecanismo existente,
XII – o recebimento de visita, quando internado, de outros pro- sendo sempre respeitado na privacidade, no sigilo e na confiden-
fissionais de saúde que não pertençam àquela unidade hospitalar, cialidade;
XII – a participação nos processos de indicação e/ou eleição de
sendo facultado a esse profissional o acesso ao prontuário;
seus representantes nas conferências, nos conselhos de saúde e
XIII – a opção de marcação de atendimento por telefone para
nos conselhos gestores da rede SUS.
pessoas com dificuldade de locomoção;
Art. 6º Toda pessoa tem responsabilidade para que seu trata-
XIV – o recebimento de visita de religiosos de qualquer credo,
mento e recuperação sejam adequados e sem interrupção.
sem que isso acarrete mudança da rotina de tratamento e do es-
Parágrafo único. Para que seja cumprido o disposto no caput
tabelecimento e ameaça à segurança ou perturbações a si ou aos
deste artigo, as pessoas deverão:
outros;
I – prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas
XV – a não-limitação de acesso aos serviços de saúde por bar- consultas e nas internações sobre:
reiras físicas, tecnológicas e de comunicação; a) queixas;
XVI – a espera por atendimento em lugares protegidos, limpos b) enfermidades e hospitalizações anteriores;
e ventilados, tendo à sua disposição água potável e sanitários, e c) história de uso de medicamentos, drogas, reações alérgicas;
devendo os serviços de saúde se organizar de tal forma que seja d) demais informações sobre seu estado de saúde.
evitada a demora nas filas. II – expressar se compreendeu as informações e orientações
Art. 5º Toda pessoa deve ter seus valores, cultura e direitos res- recebidas e, caso ainda tenha dúvidas, solicitar esclarecimento so-
peitados na relação com os serviços de saúde, garantindo-lhe: bre elas;
I – a escolha do tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, III – seguir o plano de tratamento proposto pelo profissional ou
de acordo com as exigências mínimas constantes na legislação, e a pela equipe de saúde responsável pelo seu cuidado, que deve ser
informação, pela operadora, sobre a cobertura, custos e condições compreendido e aceito pela pessoa que também é responsável pelo
do plano que está adquirindo; seu tratamento;
II – o sigilo e a confidencialidade de todas as informações pes- IV – informar ao profissional de saúde ou à equipe responsável
soais, mesmo após a morte, salvo nos casos de risco à saúde públi- sobre qualquer fato que ocorra em relação a sua condição de saúde;
ca; V – assumir a responsabilidade pela recusa a procedimentos,
III – o acesso da pessoa ao conteúdo do seu prontuário ou de exames ou tratamentos recomendados e pelo descumprimento das
pessoa por ele autorizada e a garantia de envio e fornecimento de orientações do profissional ou da equipe de saúde;
cópia, em caso de encaminhamento a outro serviço ou mudança VI – contribuir para o bem-estar de todos nos serviços de saú-
de domicilio; de, evitando ruídos, uso de fumo e derivados do tabaco e bebidas
IV – a obtenção de laudo, relatório e atestado médico, sempre alcoólicas, colaborando com a segurança e a limpeza do ambiente;
que justificado por sua situação de saúde; VII – adotar comportamento respeitoso e cordial com as demais
V – o consentimento livre, voluntário e esclarecido a quaisquer pessoas que usam ou que trabalham no estabelecimento de saúde;
procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo nos VIII – ter em mão seus documentos e, quando solicitados, os
casos que acarretem risco à saúde pública, considerando que o con- resultados de exames que estejam em seu poder;
sentimento anteriormente dado poderá ser revogado a qualquer IX – cumprir as normas dos serviços de saúde, que devem res-
instante, por decisão livre e esclarecida, sem que sejam imputadas guardar todos os princípios desta Portaria;
à pessoa sanções morais, financeiras ou legais; X – ficar atento às situações de sua vida cotidiana que colo-
VI – a não-submissão a nenhum exame de saúde pré-admissio- quem em risco sua saúde e a da comunidade, e adotar medidas
nal, periódico ou demissional, sem conhecimento e consentimento, preventivas;
exceto nos casos de risco coletivo; XI – comunicar aos serviços de saúde, às ouvidorias ou à Vigi-
VII – a indicação, de sua livre escolha, a quem confiará a toma- lância Sanitária irregularidades relacionadas ao uso e à oferta de
da de decisões para a eventualidade de tornar-se incapaz de exer- produtos e serviços que afetem a saúde em ambientes públicos e
cer sua autonomia; privados;

31
LEGISLAÇÃO
XII – desenvolver hábitos, práticas e atividades que melhorem IV – promover as atualizações necessárias nos regimentos e es-
sua saúde e a qualidade de vida; tatutos dos serviços de saúde, adequando-os a esta Portaria;
XIII – comunicar à autoridade sanitária local a ocorrência de V – adotar estratégias para o cumprimento efetivo da legisla-
caso de doença transmissível, quando a situação requerer isola- ção e das normatizações do SUS;
mento ou quarentena da pessoa ou quando a doença constar da VI – promover melhorias contínuas na rede SUS, como a infor-
relação do Ministério da Saúde; matização, para implantar o Cartão SUS e o Prontuário eletrônico,
XIV – não dificultar a aplicação de medidas sanitárias, bem com os objetivos de:
como as ações de fiscalização sanitária. a) otimizar o financiamento;
Art. 7º Toda pessoa tem direito à informação sobre os serviços b) qualificar o atendimento aos serviços de saúde;
de saúde e aos diversos mecanismos de participação. c) melhorar as condições de trabalho;
§ 1º O direito previsto no caput deste artigo, inclui a informa- d) reduzir filas;
ção, com linguagem e meios de comunicação adequados, sobre: e) ampliar e facilitar o acesso nos diferentes serviços de saúde.
I – o direito à saúde, o funcionamento dos serviços de saúde Art. 9º Os direitos e deveres dispostos nesta Portaria consti-
e o SUS; tuem a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde.
II – os mecanismos de participação da sociedade na formula- Parágrafo único. A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde
ção, acompanhamento e fiscalização das políticas e da gestão do deverá ser disponibilizada a todas as pessoas, por meios físicos e na
SUS; internet, no seguinte endereço eletrônico: www.saude.gov.br.
III – as ações de vigilância à saúde coletiva, compreendendo a Art. 10. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental; Art. 11. Fica revogada a Portaria nº 675, de 30 de março de
IV – a interferência das relações e das condições sociais, eco- 2006, publicada no Diário Oficial da União nº 63, de 31 de março de
nômicas, culturais, e ambientais na situação da saúde das pessoas 2006, Seção 1, página 131..
e da coletividade.
§ 2º Os órgãos de saúde deverão informar às pessoas sobre
a rede SUS pelos diversos meios de comunicação, bem como nos PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL
serviços de saúde que compõem essa rede de participação popular
em relação a:
I – endereços; Participação e Controle Social no SUS
II – telefones; Os movimentos sociais ocorridos durante a década de 80 na
III – horários de funcionamento; busca por um Estado democrático aos serviços de saúde impulsio-
IV – ações e procedimentos disponíveis. naram a modificação do modelo vigente de controle social da época
§ 3º Em cada serviço de saúde deverá constar, em local visível que culminou com a criação do SUS a partir da Constituição Fede-
à população: rativa de 1988.
I – o nome do responsável pelo serviço; O objetivo deste texto é realizar uma análise deste modelo de
participação popular e controle social no SUS, bem como favorecer
II – os nomes dos profissionais;
reflexões aos atores envolvidos neste cenário, através de uma pes-
III – o horário de trabalho de cada membro da equipe, inclusive
quisa narrativa baseada em publicações relevantes produzidas no
do responsável pelo serviço;
Brasil nos últimos 11 anos.
IV – as ações e procedimentos disponíveis.
§ 4º As informações prestadas à população devem ser claras
É insuficiente o controle social estar apenas na lei, é preciso
para propiciar sua compreensão por toda e qualquer pessoa.
que este aconteça na prática. Entretanto, a sociedade civil, ainda
§ 5º Os conselhos de saúde deverão informar à população so-
não ocupa de forma efetiva esses espaços de participação.
bre: O processo de criação do SUS teve início a partir das defini-
I – formas de participação; ções legais estabelecidas pela nova Constituição Federal do Brasil
II – composição do conselho de saúde; de 1988, sendo consolidado e regulamentado com as Leis Orgânicas
III – regimento interno dos conselhos; da Saúde (LOA), n° 8080/90 e n° 8.142/90, sendo estabelecidas nes-
IV – conferências de saúde; tas as diretrizes e normas que direcionam o novo sistema de saúde,
V – data, local e pauta das reuniões; bem como aspectos relacionados a sua organização e funcionamen-
VI – deliberações e ações desencadeadas. to, critérios de repasses para os estados e municípios além de disci-
§ 6º O direito previsto no caput desse artigo inclui a participa- plinar o controle social no SUS em conformidade com as represen-
ção de conselhos e conferências de saúde e o direito de representar tações dos critérios estaduais e municipais de saúde (FINKELMAN,
e ser representado em todos os mecanismos de participação e de 2002; FARIA, 2003; SOUZA, 2003).
controle social do SUS. O SUS nos trouxe a ampliação da assistência à saúde para a
Art. 8º Toda pessoa tem direito a participar dos conselhos e coletividade, possibilitando, com isso, um novo olhar às ações, ser-
conferências de saúde e de exigir que os gestores cumpram os prin- viços e práticas assistenciais. Sendo estas norteadas pelos princí-
cípios anteriores. pios e diretrizes: Universalidade de acesso aos serviços de saúde;
Parágrafo único. Os gestores do SUS, nas três esferas de gover- Integralidade da assistência; Equidade; Descentralização Político-
no e para observância desses princípios, comprometem-se a: -administrativa; Participação da comunidade; regionalização e hie-
I – promover o respeito e o cumprimento desses direitos e de- rarquização (REIS, 2003). A participação popular e o controle social
veres, com a adoção de medidas progressivas para sua efetivação; em saúde, dentre os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS),
II – adotar as providências necessárias para subsidiar a divul- destacam-se como de grande relevância social e política, pois se
gação desta Portaria, inserindo em suas ações as diretrizes relativas constituem na garantia de que a população participará do processo
aos direitos e deveres das pessoas; de formulação e controle das políticas públicas de saúde.
III – incentivar e implementar formas de participação dos tra- No Brasil, o controle social se refere à participação da comu-
balhadores e usuários nas instâncias, e participação de controle so- nidade no processo decisório sobre políticas públicas e ao contro-
cial do SUS; le sobre a ação do Estado (ARANTES et al., 2007). Nesse contex-

32
LEGISLAÇÃO
to, enfatiza-se a institucionalização de espaços de participação da um controle da sociedade civil sobre o Estado, sendo incorporada
comunidade no cotidiano do serviço de saúde, através da garantia pela nova Constituição Federal de 1988 juntamente com a criação
da participação no planejamento do enfrentamento dos problemas do SUS (CONASS, 2003).
priorizados, execução e avaliação das ações, processo no qual a par- A participação popular na gestão da saúde é prevista pela Cons-
ticipação popular deve ser garantida e incentivada (BRASIL, 2006). tituição Federal de 1998, em seu artigo 198, que trata das diretrizes
do SUS: descentralização, integralidade e a participação da comuni-
Sendo o SUS a primeira política pública no Brasil a adotar cons- dade. Essas diretrizes orientam a organização e o funcionamento do
titucionalmente a participação popular como um de seus princí- sistema, com o intuito de torná-lo mais adequado a atender às ne-
pios, esta não somente reitera o exercício do controle social sob as cessidades da população brasileira (BRASIL, 2006; WENDHAUSEN;
práticas de saúde, mas também evidencia a possibilidade de seu BARBOSA; BORBA, 2006; OLIVEIRA, 2003).
exercício através de outros espaços institucionalizados em seu arca- A discussão com ênfase dada ao controle social na nova Cons-
bouço jurídico, além dos reconhecidos pela Lei Orgânica de saúde tituição se expressa em novas diretrizes para a efetivação deste por
de n° 8.142/90, os conselhos e as conferências de saúde. Destaca, meio de instrumentos normativos e da criação legal de espaços ins-
ainda, as audiências públicas e outros mecanismos de audiência da titucionais que garantem a participação da sociedade civil organiza-
sociedade, de usuários e de trabalhadores sociais (CONASS, 2003; da na fiscalização direta do executivo nas três esferas de governo.
BARBOSA, 2009; COSSETIN, 2010). Na atualidade, muitas expressões são utilizadas corriqueiramente
Ademais, a Lei Orgânica da Saúde n.º 8.080/1990 estabelece para caracterizar a participação popular na gestão pública de saú-
em seu art. 12 a criação de comissões intersetoriais subordinadas de, a que consta em nossa Carta Magna e o termo ‘participação da
ao Conselho Nacional de Saúde, com o objetivo de articular as comunidade na saúde’. Porém, iremos utilizar aqui o termo mais
políticas públicas relevantes para a saúde. Entretanto, é a Lei n.° comum em nosso meio: ‘controle social’. Sendo o controle social
8.142/1990 que dispõe sobre a participação social no SUS, definin- uma importante ferramenta de democratização das organizações,
do que a participação popular estará incluída em todas as esferas busca-se adotar uma série de práticas que efetivem a participação
de gestão do SUS. Legitimando assim os interesses da população no da sociedade na gestão (GUIZARDI et al ., 2004).
exercício do controle social (BRASIL, 2009).
Essa perspectiva é considerada uma das formas mais avança- Embora o termo controle social seja o mais utilizado, consi-
das de democracia, pois determina uma nova relação entre o Es- deramos que se trata de um reducionismo, uma vez que este não
tado e a sociedade, de maneira que as decisões sobre as ações na traduz a amplitude do direito assegurado pela nova Constituição
saúde deverão ser negociadas com os representantes da sociedade, Federal de 1988, que permite não só o controle e a fiscalização
uma vez que eles conhecem a realidade da saúde das comunidades. permanente da aplicação de recursos públicos. Este também se
Amiúde, as condições necessárias para que se promova a de- manifesta através da ação, onde cidadãos e políticos têm um papel
mocratização da gestão pública em saúde se debruça com a discus- social a desempenhar através da execução de suas funções, ou ain-
são em torno do controle social em saúde. da através da proposição, onde cidadãos participam da formulação
O presente estudo tem como objetivo realizar uma análise do de políticas, intervindo em decisões e orientando a Administração
modelo vigente de participação popular e controle social no SUS e Pública quanto às melhores medidas a serem adotadas com objeti-
ainda elucidar questões que permitirão entender melhor a partici- vo de atender aos legítimos interesses públicos (NOGUEIRA, 2004;
pação e o controle social, bem como favorecer algumas reflexões a BRASIL, 2011b; MENEZES, 2010).
todos os atores envolvidos no cenário do SUS.
Fonte: http://cebes.org.br/2013/05/participacao-popular-e-o-controle-
Participação e Controle Social -social-como-diretriz-do-sus-uma-revisao-narrativa/
Após um longo período no qual a população viveu sob um es-
tado ditatorial, com a centralização das decisões, o tecnicismo e Estratégias operacionais e metodológicas para o controle so-
o autoritarismo, durante a década de 1980 ocorreu uma abertura cial
democrática que reconhece a necessidade de revisão do modelo Recomenda-se que o processo de educação permanente para
de saúde vigente na época, com propostas discutidas em ampliar a o controle social no SUS ocorra de forma descentralizada, respei-
participação popular nas decisões e descentralizar a gestão pública tando as especifi cidades e condições locais a fim de que possa ter
em saúde, com vistas a aproximar as decisões do Estado ao cotidia- maior efetividade.
no dos cidadãos brasileiros (DALLARI, 2000; SCHNEIDER et al., 2009; Considerando que os membros do Conselho de Saúde reno-
VANDERLEI; ALMEIDA, 2007). vam-se periodicamente e outros sujeitos sociais alternam-se em
Nessa perspectiva, a dimensão histórica adquire relevância es- suas representações, e o fato de estarem sempre surgindo novas
sencial para a compreensão do controle social, o que pode provocar demandas oriundas das mudanças conjunturais, torna-se necessá-
reações contraditórias. De fato, o controle social foi historicamente rio que o processo de educação permanente para o controle social
exercido pelo Estado sobre a sociedade durante muitos anos, na esteja em constante construção e atualização.
época da ditadura militar. A operacionalização do processo de educação permanente
É oportuno destacar que a ênfase ao controle social que aqui para o controle social no SUS deve considerar a seleção, preparação
será dada refere-se às ações que os cidadãos exercem para moni- do material e a identifi cação de sujeitos sociais que tenham condi-
torar, fiscalizar, avaliar, interferir na gestão estatal e não o inverso. ções de transmitir informações e possam atuar como facilitadores
Pois, como vimos, também denominam-se controle social as ações e incentivadores das discussões sobre os temas a serem tratados.
do Estado para controlar a sociedade, que se dá por meio da legisla- Para isso é importante:
ção, do aparato institucional ou mesmo por meio da força. • identificar as parcerias a serem envolvidas, como: universida-
A organização e mobilização popular realizada na década de 80, des, núcleos de saúde, escolas de saúde pública, técnicos e especia-
do século XX, em prol de um Estado democrático e garantidor do listas autônomos ou ligados a instituições, entidades dos segmentos
acesso universal aos direitos a saúde, coloca em evidência a possibi- sociais representados nos Conselhos, Organização Pan-Americana
lidade de inversão do controle social. Surge, então, a perspectiva de da Saúde (Opas), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Uni-
cef), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e

33
LEGISLAÇÃO
a Cultura (Unesco), Instituto Brasileiro de Administração Municipal • Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho (NOB/ RH
(Ibam), Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – SUS), 2005 (BRASIL, 2005), Diretrizes e Competências da Comis-
(Abrasco) e outras organizações da sociedade que atuem na área são Intergestora Tripartite (CIT), Comissões Intergestoras Bipartites
de saúde. Na identifi cação e articulações das parcerias, deve fi car (CIBs) e das Condições de Gestão dos Estados e Municípios;
clara a atribuição dos conselhos, conselheiros e parceiros; • Constituição do Estado e Leis Orgânicas do Estado, do Distrito
• realizar as atividades de educação permanente para os con- Federal e Município;
selheiros e os demais sujeitos sociais de acordo com a realidade • Seleção de Deliberações do Conselho Estadual de Saúde
local, garantindo uma carga horária que possibilite a participação e (CES), Conselho Municipal de Saúde (CMS) e pactuações das Comis-
a ampla discussão dos temas, democratização das informações e a sões Intergestoras Tripartite e Bipartite;
utilização de técnicas pedagógicas para o controle social que facili- • Resoluções e deliberações do Conselho de Saúde relaciona-
tem a construção dos conteúdos teóricos e, também, a interação do das à Gestão em Saúde: Plano de Saúde, Financiamento, Normas,
grupo. Sugere-se que as atividades de educação permanente para Direção e Execução, Planejamento – que compreende programa-
o controle social no SUS sejam enfocadas em dois níveis: um geral, ção, orçamento, acompanhamento e avaliação;
garantindo a representação de todos os segmentos, e outro específi • Resolução do Conselho Nacional de Saúde n.º 333/2003
co, que poderá ser estruturado e oferecido de acordo com o inte- (BRASIL, 2003c), Resolução n.º 322/2003 (BRASIL, 2003b), Resolu-
resse ou a necessidade dos segmentos que compõem os Conselhos ção n.º 196/96 (BRASIL, 1996) e outras correspondentes com mes-
de Saúde e os demais órgãos da sociedade. mo mérito, e deliberações no campo do controle social – formula-
ção de estratégias e controle da execução pelos Conselhos de Saúde
Para promover o alcance dos objetivos do processo de edu- e pela sociedade.
cação permanente para o controle social no SUS, recomenda-se a
utilização de metodologias que busquem a construção coletiva de A definição dos conteúdos básicos de educação permanente
conhecimentos, baseada na experiência do grupo, levando-se em para o controle social no SUS deve ser objeto de deliberação pelos
consideração o conhecimento como prática concreta e real dos su- plenários dos Conselhos de Saúde nas suas respectivas esferas go-
jeitos a partir de suas vivências e histórias. Metodologias essas que vernamentais.
ultrapassem as velhas formas autoritárias de lidar com a aprendiza- Recomenda-se que, para esse processo, seja prevista a criação
gem e muitas vezes utilizadas como, por exemplo, a da comunica- de instrumentos de acompanhamento e avaliação dos resultados
ção unilateral, que transforma o indivíduo num mero receptor de das atividades
teorias e conteúdos.
Recomenda-se, também, a utilização de dinâmicas que propi- Responsabilidades
ciem um ambiente de troca de experiências, de refl exões pertinen-
tes à atuação dos Conselheiros de Saúde e dos sujeitos sociais e de Esferas governamentais
técnicas que favoreçam a sua participação e integração, como, por Compete ao Estado, nas três esferas do governo:
exemplo, reuniões de grupo, plenárias, estudos dirigidos, seminá- a) Oferecer todas as condições necessárias para que o processo
rios, ofi cinas, todos envolvendo debates. de educação permanente para o controle social ocorra, garantindo
A 12.ª Conferência Nacional de Saúde (CONFERÊNCIA..., 2005) o pleno funcionamento dos Conselhos de Saúde e a realização das
recomendou a realização de ações para educação permanente e ações para a educação permanente e controle social dos demais
propôs que as atividades do Conselheiro de Saúde fossem consi- sujeitos sociais.
deradas de relevância pública. Essa proposição foi contemplada na b) Promover o apoio à produção de materiais didáticos desti-
Resolução n.º 333/2003 (BRASIL, 2003c), aprovada pelo Conselho nados às atividades de educação permanente para o controle social
Nacional de Saúde, que garante ao Conselheiro de Saúde a dis- no SUS, ao desenvolvimento e utilização de métodos, técnicas e fo-
pensa, sem prejuízo, do seu trabalho, para participar das reuniões, mento à pesquisa que contribuam para esse processo.
eventos, capacitações e ações específi cas do Conselho de Saúde.
Assim, o processo proposto, especialmente, no que diz respei- Ministério da Saúde
to aos Conselhos de Saúde deve dar conta da intensa renovação de a) Incentivar e apoiar, inclusive nos aspectos fi nanceiros e téc-
Conselheiros de Saúde, que ocorre em razão do final dos manda- nicos, as instâncias estaduais, municipais e do Distrito Federal para
tos, ou por decisão da instituição ou entidade de substituir o seu o processo de elaboração e execução da política de educação per-
representante. Isto requer, no mínimo, a oferta de material básico manente para o controle social no SUS;
informativo, uma capacitação inicial promovida pelo Conselho de b) Manter disponível e atualizado o acervo de referências sobre
Saúde e a garantia de mecanismos que disponibilizem informações saúde e oferecer material informativo básico e audiovisual que pro-
picie a veiculação de temas de interesse geral em saúde, tais como:
aos novos Conselheiros.
legislação, orçamento, direitos em saúde, modelo assistencial, mo-
delo de gestão e outros.
Sugestões de material de apoio:
• Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU);
• Declaração dos Direitos da Criança e Adolescente (Unicef);
• Declaração de Otawa, Declaração de Bogotá e outras; AÇÕES E PROGRAMAS DO SUS
• Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2003) – Capítulo da
Ordem Social;
Cartão Nacional de Saúde (CNS)
• Leis Federais: 8.080/90 (BRASIL, 1990a), 8.142/90 (BRASIL, O Cartão Nacional de Saúde (CNS) é o documento de identifi-
1990b), 8.689/93 (BRASIL, 1993), 9.656/98 (BRASIL, 1998) e respec- cação do usuário do SUS. Este contém as informações como dados
tivas Medidas Provisórias; pessoais, contatos, além de RG e CPF.
• Relatórios das Conferências Nacionais de Saúde;
• Normas Operacionais do SUS;

34
LEGISLAÇÃO
DigiSUS - Estratégia de Saúde Digital para o Brasil Programa Saúde na Escola
Estratégia de incorporação da saúde digital (e-Saúde) no SUS, O Programa Saúde na Escola (PSE) visa à integração e articula-
visando à melhoria da qualidade dos serviços, dos processos e da ção permanente da educação e da saúde, proporcionando melhoria
atenção à saúde, por meio da disponibilização e uso de informação da qualidade de vida da população brasileira. Como consolidar essa
abrangente, precisa e segura. atitude dentro das escolas? Essa é a questão que nos guiou para
elaboração da metodologia das Agendas de Educação e Saúde, a
Estratégia Saúde da Família (ESF) serem executadas como projetos didáticos nas Escolas.
O projeto propõe a reorganização da atenção básica no País, de O PSE tem como objetivo contribuir para a formação integral
acordo com os preceitos do SUS, a partir da expansão, qualificação dos estudantes por meio de ações de promoção, prevenção e aten-
e consolidação do atendimento prestado. ção à saúde, com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que
comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da
HumanizaSUS rede pública de ensino.
A Política Nacional de Humanização (PNH) existe desde 2003 O público beneficiário do PSE são os estudantes da Educação
para efetivar os princípios do SUS nas práticas de atenção e gestão, Básica, gestores e profissionais de educação e saúde, comunidade
qualificando a saúde pública no Brasil. escolar e, de forma mais amplificada, estudantes da Rede Federal
de Educação Profissional e Tecnológica e da Educação de Jovens e
Melhor em Casa - Serviço de Atenção Domiciliar Adultos (EJA).
Serviço presta atenção à saúde na moradia do paciente, ofere- As atividades de educação e saúde do PSE ocorrerão nos Terri-
cendo prevenção e tratamento de doenças e reabilitação, a fim de tórios definidos segundo a área de abrangência da Estratégia Saú-
garantir a continuidade do cuidado pelo SUS. de da Família (Ministério da Saúde), tornando possível o exercício
de criação de núcleos e ligações entre os equipamentos públicos
Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente) da saúde e da educação (escolas, centros de saúde, áreas de lazer
Política reúne uma série de medidas para garantir ações de como praças e ginásios esportivos, etc).
promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal dos brasileiros. No PSE a criação dos Territórios locais é elaborada a partir das
estratégias firmadas entre a escola, a partir de seu projeto político-
Programa Farmácia Popular do Brasil -pedagógico e a unidade básica de saúde. O planejamento destas
O Programa foi criado com o objetivo de oferecer o acesso da ações do PSE considera: o contexto escolar e social, o diagnóstico
população aos medicamentos considerados essenciais, como parte local em saúde do escolar e a capacidade operativa em saúde do
da Política Nacional de Assistência Farmacêutica. escolar.
A Escola é a área institucional privilegiada deste encontro da
Programa Nacional de Controle do Tabagismo educação e da saúde: espaço para a convivência social e para o es-
O Programa tem como objetivo reduzir a prevalência de fu- tabelecimento de relações favoráveis à promoção da saúde pelo
mantes e a consequente morbimortalidade relacionada ao consu- viés de uma Educação Integral.
mo de derivados do tabaco. Para o alcance dos objetivos e sucesso do PSE é de fundamental
importância compreender a Educação Integral como um conceito
Programa Mais Médicos que compreende a proteção, a atenção e o pleno desenvolvimento
O projeto propõe a melhoria do atendimento aos usuários do da comunidade escolar. Na esfera da saúde, as práticas das equipes
SUS, levando médicos para regiões onde há escassez ou ausência de Saúde da Família, incluem prevenção, promoção, recuperação e
desses profissionais. manutenção da saúde dos indivíduos e coletivos humanos.
Para alcançar estes propósitos o PSE foi constituído por cinco
Programa Nacional de Segurança do Paciente componentes:
O PNSP objetiva contribuir para a qualificação do cuidado em a) Avaliação das Condições de Saúde das crianças, adolescen-
saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacio- tes e jovens que estão na escola pública;
nal. b) Promoção da Saúde e de atividades de Prevenção;
Rede Cegonha c) Educação Permanente e Capacitação dos Profissionais da
Estratégia reúne um pacote de ações para garantir o atendi- Educação e da Saúde e de Jovens;
mento de qualidade, seguro e humanizado para mulheres, da gravi- d) Monitoramento e Avaliação da Saúde dos Estudantes;
dez até os dois primeiros anos de vida da criança. e) Monitoramento e Avaliação do Programa.

Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) Mais do que uma estratégia de integração das políticas seto-
Modelo propõe um novo modelo de atenção em saúde mental, riais, o PSE se propõe a ser um novo desenho da política de educa-
a partir do acesso e a promoção de direitos das pessoas, baseado na ção e saúde já que:
convivência dentro da sociedade. (1) trata a saúde e educação integrais como parte de uma for-
mação ampla para a cidadania e o usufruto pleno dos direitos hu-
SAMU 192 - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência manos;
Serviço disponibiliza atendimento pré-hospitalar a vítimas em (2) permite a progressiva ampliação das ações executadas pe-
situação de urgência ou emergência, que possam levar a sofrimen- los sistemas de saúde e educação com vistas à atenção integral à
to, a sequelas ou mesmo à morte. saúde de crianças e adolescentes; e
(3) promove a articulação de saberes, a participação de estu-
UPA 24h - Unidade de Pronto Atendimento dantes, pais, comunidade escolar e sociedade em geral na constru-
Serviço concentra atendimentos de saúde de complexidade in- ção e controle social da política pública.
termediária, compondo uma rede organizada em conjunto com a
Atenção Básica e a Atenção Hospitalar.

35
LEGISLAÇÃO
Nos quadros a seguir, estão expostos os tópicos principais do estadual e municipal gestoras do Sistema Único de Saúde, de acor-
Projeto Municipal, elaborado no processo de adesão ao PSE pelo do com as respectivas competências, critérios e demais disposições
Grupo de Trabalho Intersetorial (GTI) e, na seqüência, a proposta da das Leis n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, e 8. 142, de 28 de
Agenda de Educação e Saúde, como estratégia de implementação dezembro de 1990”.
nos territórios da escola. Ao se preservar o INAMPS, preservou-se também a sua lógica
de financiamento e de alocação de recursos financeiros. Dessa for-
ma, o SUS inicia a sua atuação na área da assistência à saúde com
caráter universal, utilizando-se de uma instituição que tinha sido
LEGISLAÇÃO BÁSICA DO SUS criada e organizada para prestar assistência a uma parcela limitada
da população.
Sistema Público Brasileiro Uma das consequências desta “preservação” foi o estabeleci-
Uma primeira e grande conquista do Movimento da Reforma mento de limites físicos e financeiros para as unidades federadas
Sanitária foi, em 1988, a definição na Constituição Federal (CF) re- na lógica do INAMPS, que garantiria a manutenção da situação até
lativa ao setor saúde. então vigente. Ou seja, o SUS não adotou uma lógica própria para
O Art. 196 da CF conceitua que “a saúde é direito de todos e de- financiar a assistência à saúde de toda a população o que signifi-
ver do Estado(...)”. Aqui se define de maneira clara a universalidade caria um grande remanejamento da alocação de recursos entre os
da cobertura do Sistema Único de Saúde. estados. Essa medida, sem dúvidas, geraria uma forte reação políti-
Já o parágrafo único do Art. 198 determina que: “o sistema ca dos estados mais desenvolvidos e que contavam com uma maior
único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com re- proporção de recursos.
cursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, A primeira alocação de recursos feita pelo Ministério da Saúde,
do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes”. Esta na condição de gestor federal do SUS, baseou-se, fundamentalmen-
questão é de extrema importância, pois, em todo debate sobre o te, na situação deixada pelo INAMPS, como resultado da capacida-
financiamento do SUS, a ênfase é na participação da União, como se de instalada dos serviços de saúde, construída ao longo do tempo
esta fosse a única responsável. Um dos fatores determinantes deste para atender à população previdenciária, e carregou consigo uma
entendimento foi, provavelmente, o papel do INAMPS no início do imensa desigualdade na divisão dos recursos entre os estados pois,
SUS, como veremos mais adiante. agora, a assistência passava a ter um caráter universal.
Um passo significativo na direção do cumprimento da deter- Porém, a manutenção do INAMPS e de sua lógica de financia-
minação constitucional de construção do Sistema Único de Saúde mento não evitou que, a partir de maio de 1993 e, portanto, pouco
foi a publicação do decreto n.º 99.060, de 7 de março de 1990, que antes da sua extinção (em 27 de julho de 1993), o Ministério da
transferiu o INAMPS do Ministério da Previdência para o Ministé- Previdência Social deixasse de repassar para o Ministério da Saú-
rio da Saúde. Esse fato, portanto, foi anterior à promulgação da Lei de recursos da previdência social criando uma enorme defasagem
8.080, que só veio a ocorrer em setembro do mesmo ano. entre a nova responsabilidade constitucional e a disponibilidade
A Lei 8.080 instituiu o Sistema Único de Saúde, com comando orçamentária.
único em cada esfera de governo e definiu o Ministério da Saúde Os anos de 1993 e de 1994 foram de grandes dificuldades para
como gestor no âmbito da União. A Lei, no seu Capítulo II – Dos o SUS, pela falta de uma fonte de financiamento que garantisse re-
Princípios e Diretrizes, Art. 7º, estabelece entre os princípios do SUS cursos para honrar os compromissos resultantes das definições da
a “universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os ní- Constituição Federal e da Lei Orgânica da Saúde.
veis de assistência”.
Isso se constituiu numa grande alteração da situação até então Dados Gerais sobre o SUS
vigente. O Brasil passou a contar com um sistema público de saúde O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo,
único e universal. sendo o único a garantir assistência integral e completamente gra-
tuita para a totalidade da população, inclusive aos pacientes porta-
O processo de implantação do SUS dores do HIV, sintomáticos ou não, aos pacientes renais crônicos e
Antes de tudo, é importante destacar que, como descrito an- aos pacientes com câncer. A Rede Ambulatorial do SUS é constituí-
teriormente, o Sistema Único de Saúde começou a ser implantado da por 56.642 unidades, sendo realizados, em média, 350 milhões
por meio de uma estratégia que buscou dar caráter universal à co- de atendimentos ao ano. Esta assistência estende-se da atenção bá-
bertura das ações de saúde, até então proporcionada pelo INAMPS sica até os atendimentos ambulatoriais de alta complexidade.
apenas para os seus beneficiários. No ano de 2001 foram realizadas aproximadamente 250 mi-
lhões de consultas, sendo 165 milhões em atenção básica (consul-
No final da década de 80, o setor público de assistência à saú- tas de pré-natal, puericultura, etc.) e 85 milhões de consultas es-
de mantinha uma estreita relação com o INAMPS, que a partir de pecializadas. Nesse mesmo ano foram realizados 200 milhões de
1990 passou a integrar a estrutura do Ministério da Saúde e que já exames laboratoriais, 6 milhões de exames ultrassonográficos, 79
vinha, nos anos anteriores, participando de modo significativo do milhões de atendimentos de alta complexidade, tais como: tomo-
seu financiamento. grafias, exames hemodinâmicos, ressonância magnética, sessões
Considerando-se essa relação e a continuidade da participação de hemodiálise, de quimioterapia e radioterapia.
do Ministério da Previdência no financiamento do INAMPS, este São 6.493 hospitais, públicos, filantrópicos e privados, com um
foi inicialmente preservado e se constituiu no instrumento para as- total de 487.058 leitos, onde são realizadas em média pouco mais
segurar a continuidade, agora em caráter universal, da assistência de 1 milhão de internações por mês, perfazendo um total de 12,5
médico-hospitalar a ser prestada à população. O INAMPS somente milhões de internações por ano. As internações realizadas vão da
foi extinto pela Lei n° 8.689, de 27 de julho de 1993, portanto quase menor complexidade, tais como internações de crianças com diar-
três anos após a promulgação da lei que instituiu o SUS. reia, até as mais complexas, como a realização de transplantes de
No parágrafo único do seu artigo primeiro, a lei que extinguiu órgãos, cirurgias cardíacas, entre outras que envolvem alta tecno-
o INAMPS estabelecia que: “As funções, competências, atividades logia e custo. Esta área, organizada num Sistema implantado em
e atribuições do INAMPS serão absorvidas pelas instâncias federal, 1990, denominado Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS),

36
LEGISLAÇÃO
constitui-se na maior casuística hospitalar existente no mundo paga Qual a importância da Legislação do SUS?
por um mesmo financiador. Para exemplificar, foram realizadas no A Legislação do SUS é o conjunto de regulamentos e leis que
ano 2000 2,4 milhões de partos, 72 mil cirurgias cardíacas, 420 mil determinam as formas de agir dos três segmentos ligados ao Siste-
internações psiquiátricas, 90 mil atendimentos de politraumatiza- ma Único de Saúde.
dos no sistema de urgência emergência, 7.234 transplantes de ór- Nessa legislação há desde a definição do SUS, suas diretrizes e
gãos, sendo que 2.549 de rim, 385 de fígado e 104 de coração. propósitos, até a estrutura de ação, forma de organização e condu-
São dispendidos, pelo MS recursos da ordem de R$ 10,5 bi- tas do Sistema.
lhões por ano para custeio dos atendimentos ambulatoriais de mé- Considerado como um dos maiores sistemas públicos de saúde
dia e alta complexidade e hospitalares, além de R$ 3 bilhões para a existentes, o SUS é descrito pelo Ministério da Saúde como “um
Atenção Básica. sistema ímpar no mundo, que garante acesso integral, universal e
Em 1995, o SUS realizou 13,2 milhões de internações hospitala- igualitário à população brasileira, do simples atendimento ambula-
res e, em 2001, 12,2 milhões, uma redução de 7,9%. Os gastos, mes- torial aos transplantes de órgãos”.
mo com a redução ocorrida no período, passaram de R$ 3,5 bilhões
em 1995 para R$ 5,1 bilhões em 2001, um crescimento de 43,1%. Constituição Federal - Artigos 196 a 200
No entanto, vale ressaltar que a redução no número de interna- Nos artigos 196, 197, 198, 199 e 200 da Constituição Federal de
ções não ocorreu em todas as Regiões. Enquanto no Sudeste ocor- 1988 encontraremos a obrigação do Estado em prover o acesso às
reu uma redução de 14,8% (mais de 800 mil internações por ano), ações e serviços de saúde, como o sistema deve ser organizado, as
no Centro-Oeste ocorreu um crescimento de 8,2% e no Norte um diretrizes, a participação complementar da rede privada e algumas
crescimento de 7,4%. Este crescimento decorreu, muito provavel- das atribuições do Sistema Único de Saúde. É a partir daqui que a
mente, de ampliação do acesso aos serviços hospitalares, como re- saúde passa a ser includente, ou seja, aqui nasce o SUS.
sultado do aumento significativo de recursos federais alocados nos
estados dessas regiões nos últimos anos. Lei Orgânica da Saúde - Lei 8.080/90
A redução da frequência de internações hospitalares nas Re- Esse é outro tema praticamente obrigatório para estudar pra
giões Nordeste, Sul e Sudeste têm motivos diversos. De um modo concursos! A lei 8080 de 19 de setembro de 1990 também é co-
geral, a evolução da medicina tem levado a que muitos procedi- nhecida como “Lei Orgânica da Saúde” e fala sobre as condições de
mentos que requeriam a internação do paciente passassem a ser promoção, proteção e recuperação da saúde, da organização e do
realizados em regime ambulatorial. No Nordeste, especificamente, funcionamento dos serviços.
a redução se deve, provavelmente, aos avanços obtidos com a Aten- “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o
ção Básica, em particular com a presença de um grande número de Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.”
Agentes Comunitários de Saúde, e dos investimentos realizados em (Lei 8080, Art. 2º)
saneamento básico. A Lei determina que todos têm direito à Saúde, por isso, o SUS
é universal. Para que o Estado garanta essa Saúde, ele precisa de-
LEGISLAÇÃO DO SUS - DIRETRIZES, FUNDAMENTOS E PRINCÍ- senvolver, formular e executar políticas econômicas e sociais que
PIOS DO SUS abranja a todos de modo justo.
A Lei também relaciona fatores Determinantes e Condicionan-
O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma referência mundial en- tes da Saúde, como: educação, lazer, moradia, saneamento, trans-
tre programas de saúde pública no mundo. porte e outros. Assim, a saúde passa a ser entendida não mais como
Criado em 22 de setembro de 1988, o SUS garante que todos ausência de doença, mas como uma série de fatores que, integra-
os brasileiros tenham acesso universal ao sistema público de saúde, dos, promovem o bem-estar.
existindo há mais de 30 anos.
Segundo a Constituição Federal de 88, o SUS é composto pelo: Decreto 7.508 de 2011
1. Ministério da Saúde, O Decreto 7.508 de 28 de Junho de 2011 é a legislação mais
2. Estados (Secretaria Estadual de Saúde – SES); nova do Sistema Único de Saúde que regulamenta a Lei 8.080/90.
3. Municípios (Secretaria Municipal de Saúde – SMS). Ele traz novos termos e resgata outros já existentes que precisam
ser fortalecidos.
Cada segmento desse tem suas próprias responsabilidades O decreto dispõe acerca de: região de saúde, contrato orga-
e são regidos por uma legislação bem definida. Devido a sua alta nizativo de ação pública, portas de entrada, comissões intergesto-
complexidade e importância, a Legislação do SUS é um dos assun- res, mapa da saúde, rede de atenção à saúde, serviços especiais de
tos mais cobrados tanto em provas de concursos e residências, acesso aberto, protocolo clínico e diretriz terapêutica, Relação Na-
quanto no cotidiano no profissional da saúde. cional de Ações e Serviços de Saúde (RENASES), e Relação Nacional
O SUS contrata seus funcionários do quadro efetivo de cada de Medicamentos Essenciais (RENAME).
um dos órgãos através da realização de concursos públicos. Além
disso, para suprir necessidades temporárias são realizados diversos Portarias de consolidação do Ministério da Saúde
processos seletivos. Em 28 de setembro de 2017, o Ministro da Saúde assinou seis
Além da estabilidade garantida, os salários oferecidos pelo SUS Portarias de Consolidação dos Atos Normativos do Ministério, divi-
constituem um dos principais atrativos dos concursos. A remunera- didas em eixos temáticos, que foram publicadas no Diário Oficial da
ção pode ultrapassar R$ 10 mil, para além do acréscimo de vários União nº 190-Suplemento, de 03 de outubro de 2017.
benefícios e gratificações. Segundo o Ministério da Saúde, as Portarias conformam um
Porém, para passar em qualquer concurso na área da Saúde, “código”, que resultou da análise de 17 mil portarias vigentes, onde
você precisará entender profundamente sobre a Legislação do Sis- menos de 5% continham normas ainda válidas. Essas normas foram
tema Único de Saúde. consolidadas no que tem sido denominado como Código do SUS,
lançado pelo Ministro da Saúde.

37
LEGISLAÇÃO
O Código deve facilitar a compreensão de gestores, órgãos de Segundo Benevides e Passos (2005), o conceito de humaniza-
controle e cidadãos; melhorar a gestão das políticas públicas; dar ção expressava, até então, as práticas de saúde fragmentadas li-
maior transparência às regras; e facilitar também a compreensão gadas ao voluntarismo, assistencialismo e paternalismo, com base
do cidadão e dos órgãos de controle na figura ideal do “bom humano”, metro-padrão, que não coincide
com nenhuma existência concreta.
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 01, DE 2017 - Conso-
lidação das normas sobre os direitos e deveres dos usuários da saú- Para os formuladores da PNH, humanização não se restringe
de, a organização e o funcionamento do Sistema Único de Saúde. a “ações humanitárias” e não é realizada por seres humanos im-
Disponível em: buídos de uma “bondade supra-humana” na feitura de “serviços
http://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Legisla- ideais”.
coes/Portaria_Consolidacao_1_28_SETEMBRO_2017.pdf Portanto, a Política assume o desafio de ressignificar o termo
humanização e, ao considerar os usos anteriores, identifica o que
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 02, DE 2017 - Conso- recusar e o que conservar. Segundo Campo (2003):
lidação das normas sobre as políticas nacionais de saúde do Sistema Todo pensamento comprometido com algum tipo de prática
Único de Saúde. (política, clínica, sanitária, profissional) está obrigado a reconstruir
Disponível em: depois de desconstruir. Criticar, desconstruir, sim; mas, que sejam
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/ explicitadas as sínteses. Sempre há alguma síntese nova, senão se-
prc0002_03_10_2017.html ria a repetição do mesmo.

PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 03, DE 2017 - Con- Daí, a necessidade de ressignificar a humanização em saúde
solidação das normas sobre as redes do Sistema Único de Saúde. através de novas práticas no modo de se fazer o trabalho em saúde
Disponível em: - levando-se em conta que: sujeitos engajados em práticas locais,
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/ quando mobilizados, são capazes de, coletivamente, transformar
prc0003_03_10_2017.html realidades transformando-se a si próprios neste mesmo processo.
Trata-se, então, de investir, a partir desta concepção de humano,
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 04, DE 2017 - Conso- na produção de outras formas de interação entre os sujeitos que
lidação das normas sobre os sistemas e os subsistemas do Sistema constituem os sistemas de saúde, deles usufruem e neles se trans-
Único de Saúde. formam. (BENEVIDES e PASSOS, 2005, p.390)
Avançando na perspectiva da transdisciplinaridade, a PNH pro-
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 05, DE 2017 - Conso- põe uma atuação que leve à “ampliação da garantia de direitos e o
lidação das normas sobre as ações e os serviços de saúde do Siste- aprimoramento da vida em sociedade”. Com isso, já deixa vislum-
ma Único de Saúde. brar a complexidade acerca do que se pode constituir como âmbito
Disponível em: de monitoramento e avaliação da humanização em saúde, desa-
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/ fiando para a necessidade de “inventar” indicadores capazes de
prc0005_03_10_2017.html#TITULOI dimensionar e expressar não somente mudanças nos quadros de
saúde-doença, mas provocar e buscar outros reflexos e repercus-
sões, em outros níveis de representações e realizações dos sujeitos
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 06, DE 2017 - Con-
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
solidação das normas sobre o financiamento e a transferência dos
recursos federais para as ações e os serviços de saúde do Sistema
A Política de Humanização parte de conceitos e dispositivos
Único de Saúde. 1
que visam à reorganização dos processos de trabalho em saúde,
Disponível em:
propondo centralmente transformações nas relações sociais, que
http://www.saude.sc.gov.br/index.php/documentos/infor-
envolvem trabalhadores e gestores em sua experiência cotidia-
macoes-gerais/atencao-basica/portarias-ab-aps/saude-mental-1/
na de organização e condução de serviços; e transformações nas
14637-portaria-de-consolidacao-n-6/file formas de produzir e prestar serviços à população. Pelo lado da
gestão, busca-se a implementação de instâncias colegiadas e hori-
zontalização das “linhas de mando”, valorizando a participação dos
POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO atores, o trabalho em equipe, a chamada “comunicação lateral”, e
democratizando os processos decisórios, com corresponsabilização
de gestores, trabalhadores e usuários.
A Política Nacional de Humanização (PNH) é outra proposta No campo da atenção, têm-se como diretrizes centrais a aces-
implantada pelo SUS que vem para contribuir para que se consiga sibilidade e integralidade da assistência, permeadas pela garantia
reorganizar o sistema a partir da sua consolidação e visa assegurar de vínculo entre os serviços/trabalhadores e população, e avançan-
a atenção integral à população como estratégia de ampliação do do para o que se tem nomeado como “clínica ampliada”, capaz de
direito e cidadania das pessoas. Formulada e lançada pelo Ministé- melhor lidar com as necessidades dos sujeitos.
rio da Saúde em 2003, apresentada ao Conselho Nacional de Saúde
(CNS) em 2004, protagoniza propostas de mudança dos modelos de Para propiciar essas mudanças, almejam-se também trans-
gestão e de atenção no cotidiano dos serviços de saúde, propondo- formações no campo da formação, com estratégias de educação
-os indissociáveis. permanente e de aumento da capacidade dos trabalhadores para
analisar e intervir em seus processos de trabalho (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004).

Ao considerar que humanização implica produzir sujeitos no


processo de trabalho, a PNH está alicerçada em quatro eixos estru-
1 Fonte: www.bvsms.saude.gov.br/www.editorasanar.com.br/www.ccs.saude.
turantes e intercessores: atenção, gestão, formação e comunica-
gov.br/www.sogi8.sogi.com.br

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LEGISLAÇÃO
ção, estes eixos concebidos no referencial teórico-político do Hu- Consultores - Tem a função de realizar apoio institucional
maniza SUS, apontam para marcas e objetivos centrais que deverão compreendido em: Divulgação e sensibilização para implantação
permear a atenção e a gestão em saúde. da PNH no SUS, realizando reuniões com Gestores Estaduais, das
Como exemplos dessas marcas desejadas para os serviços, macrorregiões e dos Municípios; Superintendentes/Diretores de
podem-se destacar: a responsabilização e vínculo efetivos dos pro- Hospitais (Federais, Estaduais e Municipais), Conselhos de Saúde,
fissionais para com o usuário; o seu acolhimento em tempo com- Movimentos Sociais e Instituições Formadoras, abertas à partici-
patível com a gravidade de seu quadro, reduzindo filas e tempo de pação dos trabalhadores e usuários do Sistema; Divulgação, sen-
espera para atendimento; a garantia dos direitos do código dos sibilização, formação e capacitação de trabalhadores, extensivas a
usuários do SUS; a garantia de gestão participativa aos trabalhado- gestores e usuários do SUS, para implementação das diretrizes e
res e usuários; estratégias de qualificação e valorização dos traba- dos dispositivos da PNH, com base no Plano de Ação; Participação
lhadores, incluindo educação permanente, entre outros. em Eventos do MS, da PNH ou outros públicos; Produção de Conhe-
cimento: elaboração teórico-metodológica na/da PNH; Construir
Como uma estratégia de qualificação da atenção e gestão do interfaces com outras áreas técnicas do MS; Participar de reuniões
trabalho, a humanização almeja o alcance dos usuários e também a pautando a divulgação da Política (MORI, 2009).
valorização dos trabalhadores; seus indicadores devem, portanto,
refletir as transformações no âmbito da produção dos serviços (mu- Núcleo Técnico - Tem a função de apoiar a implementação da
danças nos processos, organização, resolubilidade e qualidade) e PNH desenvolvendo ações técnico-político-administrativas intrami-
da produção de sujeitos, mobilização, crescimento, autonomia dos nisterial e interministeriais; articular a sociedade civil e assessorar a
trabalhadores e usuários (SANTOS, 2007) coordenação nacional e consultores.
No eixo da gestão buscam-se ações para articular a PNH com Concomitante à reconstrução dos pilares teórico-políticos e
áreas do Ministério da Saúde (MS) e com demais esferas do SUS. abertura de várias frentes de trabalho, a PNH reconhece a necessi-
Neste eixo destaca-se o apoio institucional, focado na gestão do dade de que todos incorporem “olhar avaliativo” nos processos de
processo de produção de saúde, base estruturante da PNH. Para trabalho em desenvolvimento e, portanto, acorda-se o desafio de
Campos (2003), apoiar é: que a avaliação se constitua como um dispositivo da Política (MORI,
Articular os objetivos institucionais aos saberes e interesses 2009).
dos trabalhadores e usuários. Indica uma pressão de fora, implica
trazer algo externo ao grupo que opera os processos de trabalho Além da clínica ampliada e implantação da PNH, o Programa
ou que recebem bens ou serviços. Quem apoia, sustenta e empurra de Saúde da Família (PSF), no contexto da política de saúde brasi-
o outro sendo, em decorrência, também sustentado e empurrado leira, também vem contribuindo para a construção e consolidação
pela equipe “objeto” da intervenção. Tudo misturado e ao mesmo do SUS. Tendo em sua base os pressupostos do SUS, a estratégia
tempo. (CAMPOS, 2003, p.87) do PSF traz no centro de sua proposta a expectativa relativa à reo-
rientação do modelo assistencial a partir da atenção básica (BRASIL,
Quanto à atenção propõe uma Política de Atenção à Saúde “in- 1997).
centivadora de ações integrais, promocionais e intersetoriais, ino-
vando nos processos de trabalho que buscam o compartilhamento Para entendermos o alcance e os limites desta proposta, é es-
dos cuidados, resultando em aumento de autonomia e protagonis- sencial entendermos o que traduz um modelo assistencial e, sobre-
mo dos sujeitos envolvidos” (BRASIL, 2006a, p.22). tudo, o que implica sua reorientação. Segundo Paim (2003, p.568),
o modelo de atenção ou modo assistencial:
A PNH investe em alguns parâmetros para orientar a implanta- ... é uma dada forma de combinar técnicas e tecnologias para
ção de algumas ações de humanização; oferta dispositivos/modos resolver problemas e atender necessidades de saúde individuais e
de fazer um “SUS que dá certo”, com apoio às equipes que atuam coletivas. É uma razão de ser, uma racionalidade, uma espécie de
na atenção básica, especializada, hospitalar, de urgência e emer- lógica que orienta a ação.
gência e alta complexidade.
Esta concepção de modelo assistencial fundamenta a consi-
No eixo da formação, propõe que a PNH passe a compor o con- deração de que o fenômeno isolado de expansão do número de
teúdo profissionalizante na graduação, pós-graduação e extensão equipes de saúde da família implementadas até então não garante
em saúde, vinculando-se aos processos de educação permanente e a construção de um novo modelo assistencial.
às instituições formadoras de trabalhadores de saúde. A expansão do PSF tem favorecido a equidade e universalidade
No eixo da informação/comunicação, prioriza incluir a PNH na da assistência, uma vez que as equipes têm sido implantadas priori-
agenda de debates da saúde, além da articulação de atividades de tariamente, em comunidades antes restritas, quanto ao acesso aos
caráter educativo e formativo com as de caráter informativo, de serviços de saúde.
divulgação e sensibilização para os conceitos e temas da humani- Para a reorganização da atenção básica, a que se propõe a es-
zação. tratégia do PSF, reconhece-se a necessidade de reorientação das
práticas de saúde, bem como de renovação dos vínculos de com-
Coordenação Nacional – Tem a função de promover a articu- promisso e de corresponsabilidade entre os serviços e a população
lação técnico-política da Secretaria Executiva/MS, objetivando a assistida.
transversalização da PNH nas demais políticas e programas do MS;
representar o MS na difusão e sensibilização da PNH nas várias Cordeiro (1996) avalia que o desenvolvimento de um novo
instâncias do SUS, Conselho Nacional de Secretarias Estaduais (CO- modelo assistencial baseado nos princípios do PSF não implica um
NASS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais (CONASEMS), retrocesso quanto à incorporação de tecnologias avançadas, con-
CNS, Instituições Formadoras de Saúde e Congresso Nacional; coor- forme a compreensão inicial de que o PSF corresponderia a uma
denar a construção das ações e o processo de implementação nas medicina simplificada destinada para os pobres; antes disso, tal
diversas instâncias do SUS (MORI, 2009). proposta demanda a reorganização dos conteúdos dos saberes e

39
LEGISLAÇÃO
práticas de saúde, de forma que estes reflitam os pressupostos do em sintonia com melhores condições de trabalho e de participa-
SUS no fazer cotidiano dos profissionais. Admite-se, nesta perspec- ção dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de
tiva, que o PSF “requer alta complexidade tecnológica nos campos saúde (princípio da indissociabilidade entre atenção e gestão). Este
do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades e de mu- voltar-se para as experiências concretas se dá por considerar o hu-
danças de atitudes (BRASIL, 1997, p.9). mano em sua capacidade criadora e singular inseparável, entretan-
Pensar no PSF como estratégia de reorganização do modelo to, dos movimentos coletivos que o constituem.
assistencial sinaliza a ruptura com práticas convencionais e hege- Orientada pelos princípios da transversalidade e da indisso-
mônicas de saúde, assim como a adoção de novas tecnologias de ciabilidade entre atenção e gestão, a ‘humanização’ se expressa a
trabalho. Uma compreensão ampliada do processo saúde-doença, partir de 2003 como Política Nacional de Humanização (PNH) (Bra-
assistência integral e continuada a famílias de uma área adscrita sil/Ministério da Saúde, 2004). Como tal, compromete-se com a
são algumas das inovações verificadas no PSF. construção de uma nova relação seja entre as demais políticas e
programas de saúde, seja entre as instâncias de efetuação do Siste-
Ayres (1996) observa que o reconhecimento de sujeitos está ma Único de Saúde (SUS), seja entre os diferentes atores que cons-
no centro de todas as propostas renovadoras identificadas no setor tituem o processo de trabalho em saúde. O aumento do grau de
saúde, dentre as quais se encontram a estratégia do PSF. comunicação em cada grupo e entre os grupos (princípio da trans-
Os objetivos do programa, entre outros, são: a humanização versalidade) e o aumento do grau de democracia institucional por
das práticas em saúde por meio do estabelecimento de vínculo en- meio de processos cogestivos da produção de saúde e do grau de
tre os profissionais e a população, a democratização do conheci- corresponsabilidade no cuidado são decisivos para a mudança que
mento do processo saúde-doença e da produção social da saúde, se pretende.
desenvolvimento da cidadania, levando a população a reconhecer Transformar práticas de saúde exige mudanças no processo de
a saúde como direito, estimulação da organização da comunidade construção dos sujeitos dessas práticas. Somente com trabalhado-
para o efetivo exercício do controle social (BRASIL, 1997). res e usuários protagonistas e co-responsáveis é possível efetivar a
aposta que o SUS faz na universalidade do acesso, na integralidade
Nota-se a partir destes objetivos, a valorização dos sujeitos e do cuidado e na equidade das ofertas em saúde. Por isso, falamos
de sua participação nas atividades desenvolvidas pelas unidades de da ‘humanização’ do SUS (HumanizaSUS) como processo de sub-
saúde da família, bem como na resolutividade dos problemas de jetivação que se efetiva com a alteração dos modelos de atenção
saúde identificados na comunidade. e de gestão em saúde, isto é, novos sujeitos implicados em novas
práticas de saúde. Pensar a saúde como experiência de criação de si
Quanto à reorientação das práticas de saúde, o PSF preten- e de modos de viver é tomar a vida em seu movimento de produção
de oferecer uma atuação centrada nos princípios da vigilância da de normas e não de assujeitamento a elas.
saúde, o que significa que a assistência prestada deve ser integral, Define-se, assim, a ‘humanização’ como a valorização dos pro-
abrangendo todos os momentos e dimensões do processo saúde- cessos de mudança dos sujeitos na produção de saúde.
-doença (MENDES, 1996).
Satisfação do usuário e do trabalhador
Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfer- A satisfação no trabalho é a atitude geral da pessoa face ao
magem/politica-nacional-de-humanizacao/43954 seu trabalho e depende de vários fatores psicossociais. Existem ain-
da outras conceituações que referem-se a satisfação no trabalho
como sinônimo de motivação ou como estado emocional positivo.
Acessibilidade Alguns consideram satisfação e insatisfação como fenômenos dis-
O Sistema Único de Saúde (SUS) é alicerçado em princípios tintos, opostos.
fundamentais para que o direito à saúde aconteça como direito de Influências na satisfação incluem ambiente, higiene, segurança
cidadania e dever do Estado. Há quase uma década, nas discussões no trabalho, o estilo de gestão e da cultura, o envolvimento dos
sobre organização e gestão da política de saúde, é imprescindível trabalhadores, capacitação e trabalho autônomo de grupos, entre
acrescentar às premissas básicas do SUS – universalidade, integrali- muitos outros.
dade, equidade e garantia de acesso -, a acessibilidade.
A acessibilidade deve ser explicitada como exigência e compro- Equidade
misso do SUS a ser respeitado pelos gestores de saúde nas três es- O objetivo da equidade é diminuir desigualdades. Mas isso não
feras de gestão. Isso é fundamental para que pessoas com deficiên- significa que a equidade seja sinônima de igualdade. Apesar de to-
cia não passem por constrangimentos, como ao serem atendidas dos terem direito aos serviços, as pessoas não são iguais e por isso
nos corredores por não puderem adentrar os consultórios em suas têm necessidades diferentes. Então, equidade é a garantia a todas
cadeiras de rodas. as pessoas, em igualdade de condições, ao acesso às ações e servi-
Mas acessibilidade é mais que a superação de barreiras arqui- ços dos diferentes níveis de complexidade do sistema.
tetônicas. É uma mudança de percepção que exige de nós, Estado e O que determinará as ações será a prioridade epidemiológica
sociedade, um novo olhar sobre as barreiras atitudinais, estas sim, e não o favorecimento, investindo mais onde a carência é maior.
de maior complexidade e mais difícil superação. Sendo assim, todos terão as mesmas condições de acesso, more o
cidadão onde morar, sem privilégios e sem barreiras. Todo cidadão
Humanização do cuidado é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades
No campo das políticas públicas de saúde ‘humanização’ diz até o limite do que o sistema pode oferecer para todos.
respeito à transformação dos modelos de atenção e de gestão nos
serviços e sistemas de saúde, indicando a necessária construção de Universalidade
novas relações entre usuários e trabalhadores e destes entre si. Universalidade: É a garantia de atenção à saúde, por parte do
A ‘humanização’ em saúde volta-se para as práticas concretas sistema, a todo e qualquer cidadão (“A saúde é direito de todos e
comprometidas com a produção de saúde e produção de sujeitos dever do Estado” – Art. 196 da Constituição Federal de 1988).
(Campos, 2000) de tal modo que atender melhor o usuário se dá

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LEGISLAÇÃO
Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso Como fazer?
a todos os serviços públicos de saúde, assim como aqueles contra- Com uma escuta qualificada oferecida pelos trabalhadores
tados pelo poder público de saúde, independente de sexo, raça, às necessidades do usuário, é possível garantir o acesso oportu-
renda, ocupação ou outras características sociais ou pessoais. Saú- no desses usuários a tecnologias adequadas às suas necessidades,
de é direito de cidadania e dever do Governo: Municipal, Estadual ampliando a efetividade das práticas de saúde. Isso assegura, por
e Federal. exemplo, que todos sejam atendidos com prioridades a partir da
avaliação de vulnerabilidade, gravidade e risco.
Como valorizar participação de usuário, profissionais e ges-
tores Gestão Participativa e cogestão
As rodas de conversa, o incentivo às redes e movimentos so-
ciais e a gestão dos conflitos gerados pela inclusão das diferenças O que é?
são ferramentas experimentadas nos serviços de saúde a partir das Cogestão expressa tanto a inclusão de novos sujeitos nos pro-
orientações da PNH que já apresentam resultados positivos. cessos de análise e decisão quanto a ampliação das tarefas da ges-
Incluir os trabalhadores na gestão é fundamental para que tão - que se transforma também em espaço de realização de análise
eles, no dia a dia, reinventem seus processos de trabalho e sejam dos contextos, da política em geral e da saúde em particular, em
agentes ativos das mudanças no serviço de saúde. Incluir usuários lugar de formulação e de pactuação de tarefas e de aprendizado
e suas redes sócio-familiares nos processos de cuidado é um pode- coletivo.
roso recurso para a ampliação da corresponsabilização no cuidado
de si. Como fazer?
A organização e experimentação de rodas é uma importante
O Humaniza SUS aposta em inovações em saúde orientação da cogestão. Rodas para colocar as diferenças em conta-
• Defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo bra- to de modo a produzir movimentos de desestabilização que favore-
sileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção çam mudanças nas práticas de gestão e de atenção. A PNH destaca
de idade, etnia, origem, gênero e orientação sexual; dois grupos de dispositivos de cogestão: aqueles que dizem respei-
• Estabelecimento de vínculos solidários e de participação co-
to à organização de um espaço coletivo de gestão que permita o
letiva no processo de gestão;
acordo entre necessidades e interesses de usuários, trabalhadores
• Mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas
e gestores; e aqueles que se referem aos mecanismos que garan-
e subjetivas de saúde;
tem a participação ativa de usuários e familiares no cotidiano das
• Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo
unidades de saúde.
de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores;
Colegiados gestores, Mesas de negociação, Contratos Internos
• Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e
de Gestão, Câmara Técnica de Humanização (CTH), Grupo de Tra-
dos coletivos;
balho de Humanização (GTH), Gerência de Porta Aberta, entre ou-
• Aumento do grau de corresponsabilidade na produção de
saúde e de sujeitos; tros, são arranjos de trabalho que permitem a experimentação da
• Mudança nos modelos de atenção e gestão em sua indisso- cogestão no cotidiano da saúde.
ciabilidade, tendo como foco as necessidades dos cidadãos, a pro-
dução de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde, valori- Ambiência
zando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho;
• Proposta de um trabalho coletivo para que o SUS seja mais O que é?
acolhedor, mais ágil e mais resolutivo; Criar espaços saudáveis, acolhedores e confortáveis, que res-
• Qualificação do ambiente, melhorando as condições de tra- peitem a privacidade, propiciem mudanças no processo de traba-
balho e de atendimento; lho e sejam lugares de encontro entre as pessoas.
• Articulação dos processos de formação com os serviços e prá-
ticas de saúde; Como fazer?
• Luta por um SUS mais humano, porque construído com a A discussão compartilhada do projeto arquitetônico, das refor-
participação de todos e comprometido com a qualidade dos seus mas e do uso dos espaços de acordo com as necessidades de usuá-
serviços e com a saúde integral para todos e qualquer um. rios e trabalhadores de cada serviço é uma orientação que pode
melhorar o trabalho em saúde.
DIRETRIZES DO HumanizaSUS
Clínica ampliada e compartilhada
Acolhimento
O que é?
O que é? A clínica ampliada é uma ferramenta teórica e prática cuja fi-
Acolher é reconhecer o que o outro traz como legítima e sin- nalidade é contribuir para uma abordagem clínica do adoecimento
gular necessidade de saúde. O acolhimento deve comparecer e e do sofrimento, que considere a singularidade do sujeito e a com-
sustentar a relação entre equipes/serviços e usuários/populações. plexidade do processo saúde/doença. Permite o enfrentamento da
Como valor das práticas de saúde, o acolhimento é construído de fragmentação do conhecimento e das ações de saúde e seus res-
forma coletiva, a partir da análise dos processos de trabalho e tem pectivos danos e ineficácia.
como objetivo a construção de relações de confiança, compromisso
e vínculo entre as equipes/serviços, trabalhador/equipes e usuário Como fazer?
com sua rede sócio-afetiva. Utilizando recursos que permitam enriquecimento dos diag-
nósticos (outras variáveis além do enfoque orgânico, inclusive a
percepção dos afetos produzidos nas relações clínicas) e a qualifica-
ção do diálogo (tanto entre os profissionais de saúde envolvidos no

41
LEGISLAÇÃO
tratamento quanto destes com o usuário), de modo a possibilitar danças acontecem com o reconhecimento do papel de cada um.
decisões compartilhadas e compromissadas com a autonomia e a Um SUS humanizado reconhece cada pessoa como legítima cidadã
saúde dos usuários do SUS. de direitos e valoriza e incentiva sua atuação na produção de saúde.

Valorização do Trabalhador Objetivos do HumanizaSUS

O que é? Propósitos da Política Nacional de Humanização da Atenção


É importante dar visibilidade à experiência dos trabalhadores e Gestão do SUS
e incluí-los na tomada de decisão, apostando na sua capacidade de - Contagiar trabalhadores, gestores e usuários do SUS com os
analisar, definir e qualificar os processos de trabalho. princípios e as diretrizes da humanização;
- Fortalecer iniciativas de humanização existentes;
Como fazer? - Desenvolver tecnologias relacionais e de compartilhamento
O Programa de Formação em Saúde e Trabalho e a Comunida- das práticas de gestão e de atenção;
de Ampliada de Pesquisa são possibilidades que tornam possível - Aprimorar, ofertar e divulgar estratégias e metodologias de
o diálogo, intervenção e análise do que gera sofrimento e adoeci- apoio a mudanças sustentáveis dos modelos de atenção e de ges-
mento, do que fortalece o grupo de trabalhadores e do que pro- tão;
picia os acordos de como agir no serviço de saúde. É importante - Implementar processos de acompanhamento e avaliação,
também assegurar a participação dos trabalhadores nos espaços ressaltando saberes gerados no SUS e experiências coletivas bem-
coletivos de gestão. -sucedidas.

Defesa dos Direitos dos Usuários Três macro-objetivos do HumanizaSUS


- Ampliar as ofertas da Política Nacional de Humanização aos
O que é? gestores e aos conselhos de saúde, priorizando a atenção básica/
Os usuários de saúde possuem direitos garantidos por lei e os fundamental e hospitalar, com ênfase nos hospitais de urgência e
serviços de saúde devem incentivar o conhecimento desses direitos universitários;
e assegurar que eles sejam cumpridos em todas as fases do cuida- - Incentivar a inserção da valorização dos trabalhadores do SUS
do, desde a recepção até a alta. na agenda dos gestores, dos conselhos de saúde e das organizações
da sociedade civil;
- Divulgar a Política Nacional de Humanização e ampliar os pro-
Como fazer?
cessos de formação e produção de conhecimento em articulação
Todo cidadão tem direito a uma equipe que cuide dele, de ser
com movimentos sociais e instituições.
informado sobre sua saúde e também de decidir sobre comparti-
lhar ou não sua dor e alegria com sua rede social.
Política Nacional de Humanização busca
- Redução de filas e do tempo de espera, com ampliação do
PRINCÍPIOS DO HumanizaSUS
acesso;
- Atendimento acolhedor e resolutivo baseado em critérios de
Transversalidade risco;
A Política Nacional de Humanização (PNH) deve se fazer pre- - Implantação de modelo de atenção com responsabilização e
sente e estar inserida em todas as políticas e programas do SUS. A vínculo;
PNH busca transformar as relações de trabalho a partir da amplia- - Garantia dos direitos dos usuários;
ção do grau de contato e da comunicação entre as pessoas e gru- - Valorização do trabalho na saúde;
pos, tirando-os do isolamento e das relações de poder hierarquiza- - Gestão participativa nos serviços.
das. Transversalizar é reconhecer que as diferentes especialidades
e práticas de saúde podem conversar com a experiência daquele FORMAÇÃO - INTERVENÇÃO
que é assistido. Juntos, esses saberes podem produzir saúde de for- Por meio de cursos e oficinas de formação/intervenção e a
ma mais corresponsável. partir da discussão dos processos de trabalho, as diretrizes e dis-
positivos da Política Nacional de Humanização (PNH) são vivencia-
Indissociabilidade entre atenção e gestão dos e reinventados no cotidiano dos serviços de saúde. Em todo
As decisões da gestão interferem diretamente na atenção à o Brasil, os trabalhadores são formados técnica e politicamente e
saúde. Por isso, trabalhadores e usuários devem buscar conhecer reconhecidos como multiplicadores e apoiadores da PNH, pois são
como funciona a gestão dos serviços e da rede de saúde, assim os construtores de novas realidades em saúde e poderão se tornar
como participar ativamente do processo de tomada de decisão nas os futuros formadores da PNH em suas localidades.
organizações de saúde e nas ações de saúde coletiva. Ao mesmo
tempo, o cuidado e a assistência em saúde não se restringem às REDE HumanizaSUS
responsabilidades da equipe de saúde. O usuário e sua rede sócio- A Rede HumanizaSUS é a rede social das pessoas interessa-
-familiar devem também se corresponsabilizar pelo cuidado de si das ou já envolvidas em processos de humanização da gestão e do
nos tratamentos, assumindo posição protagonista com relação a cuidado no SUS. A rede é um local de colaboração, que permite o
sua saúde e a daqueles que lhes são caros. encontro, a troca, a afetação recíproca, o afeto, o conhecimento, o
aprendizado, a expressão livre, a escuta sensível, a polifonia, a arte
Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos da composição, o acolhimento, a multiplicidade de visões, a arte da
e coletivos conversa, a participação de qualquer um.
Qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta se Trata-se de um ambiente virtual aberto para ampliar o diálo-
construída com a ampliação da autonomia e vontade das pessoas go em torno de seus princípios, métodos, diretrizes e dispositivos.
envolvidas, que compartilham responsabilidades. Os usuários não Uma aposta na inteligência coletiva e na constituição de coletivos
são só pacientes, os trabalhadores não só cumprem ordens: as mu- inteligentes.

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LEGISLAÇÃO
O Coletivo HumanizaSUS se constitui em torno desse imenso Em 18 de janeiro de 2013, foi inaugurado o terceiro hospital
acervo de conhecimento comum, que se produz sem cessar nas público de alta complexidade no interior, construído pelo Governo
interações desta Rede. A grande aposta é que essa experiência do Ceará. O Hospital Regional Norte, em Sobral, atende a população
colaborativa aumente o enfrentamento dos grandes e complexos dos 55 municípios da região. Em 2016, iniciou o funcionamento do
desafios da humanização no SUS. terceiro hospital terciário no interior. Em Quixeramobim, o Hospital
Regional Sertão Central atende a população de 631.037 habitantes
Fonte: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/projeto-lean-nas-e- dos 20 municípios desta região de saúde – rede de assistência.
mergencias/693-acoes-e-programas/40038-humanizasus Além de hospitais, a nova rede de assistência amplia e facilita
o acesso a consultas, exames e cirurgias de média complexidade.
Tudo isso nas policlínicas regionais. São 22 em diferentes regiões de
saúde do Estado. Nelas, a população realiza, com dia e horário mar-
ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE DO ESTADO cados, consultas para especialistas em até 13 áreas da medicina. Na
DO CEARÁ: METAS, PROGRAMAS E AÇÕES EM SAÚDE policlínica, a mulher faz a consulta com o mastologista e tem garan-
tido o exame de mamografia. Ou seja, o atendimento é integral. No
Secretaria caso do homem, é atendido pelo médico urologista e lá mesmo é
A Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) é um órgão encaminhado para exames e diagnóstico da próstata.
da administração direta do Governo Estadual. Gerencia no Estado o A ampliação da rede de assistência veio acompanhada de ino-
Sistema Único de Saúde (SUS). vações tecnológicas. Um dos maiores exemplos de modernidade
tecnológica está no Hospital Regional do Cariri. A população da re-
Propósito gião, incluindo os moradores das regionais de Juazeiro do Norte,
Contribuir para o bem-estar e felicidade das pessoas. Crato, Brejo Santo, Iguatu e Icó, não precisa se deslocar para a capi-
tal para ter acesso à ressonância magnética. A primeira ressonância
Missão magnética na rede pública do interior foi realizada no HRC no dia 6
Promover saúde individual e coletiva para a melhoria da quali- de junho de 2011. Até então, somente o Hospital Geral de Fortaleza,
dade de vida das pessoas. na capital, fazia esse tipo de exame.
Com a rede de assistência ampliada, novos modelos de gestão
Valores foram implantados, com destaque para os consórcios públicos de
a) Resultado centrado no cidadão; saúde. Para fortalecer a regionalização e descentralizar a gestão,
b) Humanização do atendimento; em 2007, a Sesa marcou a história da saúde pública. Os gestores
c) Valorização das pessoas; municipais foram mobilizados para conhecer a inédita estratégia de
d) Transparência; gestão, assumindo, junto com o Governo do Estado, a gestão e o
e) Conhecimento e inovação. custeio das novas unidades de saúde, entre elas as policlínicas e os
Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs regionais). E o que
Visão até 2023 era sonho para democratizar cada vez mais a saúde virou realidade:
Ser referência aos cidadãos como sistema de saúde acessível, a gestão das 20 policlínicas e dos 22 CEOs regionais é através de
sustentável e de equidade, gerador de conhecimento e inovação. consórcios públicos de saúde.

História Conselho Estadual de Saúde


No dia 27 de junho de 1961, o então governador do Ceará, Par- O Conselho Estadual de Saúde – CESAU, criado pelo art. 3º,
inciso VII, da Lei Estadual n º 5.427, de 27 de junho de 1961, con-
sifal Barroso, dividiu a Secretaria de Educação e Saúde em duas:
solidado pela Resolução 07/89 da Comissão Interinstitucional de
Secretaria de Educação e Cultura e Secretaria de Saúde e Assistên-
Saúde, de 1º de março de 1989 e pelo Decreto nº 22.710, de 16 de
cia. A lei que criou a Secretaria de Saúde e Assistência foi a 5.427,
agosto de 1993, redefinido pela Lei nº 12.787, de 29 de dezembro
publicada no Diário Oficial do Estado no dia 28 de junho de 1961.
de 1998, é um órgão colegiado de caráter permanente e delibera-
De lá para cá, a expansão da Sesa, reconhecendo o direito à
tivo, integrante da estrutura organizacional da Secretaria da Saúde
saúde e acompanhando as necessidades da população, é uma rea-
do Estado – SESA, com jurisdição em todo o território do Estado do
lidade. O número de hospitais e unidades que integram a rede es-
Ceará e participação na formulação de estratégias e no controle da
tadual é bem maior. De seis hospitais (Hospital Geral de Fortaleza, execução da política estadual de saúde, inclusive nos aspectos eco-
Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, Hospital nômicos e financeiros, onde lhe compete:
Geral Dr. César Cals, Hospital Infantil Albert Sabin, Hospital São José, I- atuar na formulação e controle da execução da política de
Hospital de Saúde Mental de Messejana), a rede cresceu para treze. saúde, em nível estadual, incluídos seus aspectos econômicos, fi-
A ampliação começou com o Hospital Geral Dr. Waldemar Alcânta- nanceiros, de gerência técnica e administrativa;
ra, que abriu as portas para a população em 2002. II- estabelecer diretrizes para elaboração do Plano Estadual de
No dia 8 de abril de 2011, um marco histórico para a saúde pú- Saúde considerando a realidade epidemiológica do Estado;
blica aconteceu: a inauguração do primeiro hospital público estadual III- estabelecer critérios gerais de controle e avaliação do Sis-
de alta complexidade no interior do Ceará, o Hospital Regional do tema Único de Saúde – SUS – Ceará, com base em parâmetros de
Cariri, em Juazeiro do Norte. Com 294 leitos, foi construído pelo Go- cobertura, cumprimento das metas estabelecidas e outros meca-
verno do Estado para atender 1 milhão e 400 mil habitantes das re- nismos, objetivando o atendimento pleno das atividades de saúde
giões do Cariri e Centro Sul. No mesmo ano, em 1º de junho, a rede da população;
estadual, com gestão direta pela Sesa, ganhou mais um hospital: o IV- propor critérios que definam os padrões de qualidade e de
Hospital Geral da Polícia Militar José Martiniano de Alencar saiu da resolutividade dos serviços de saúde verificando o processo de in-
Secretaria de Segurança e passou a ser da Secretaria da Saúde do Es- corporação dos avanços científicos e tecnológicos na área de saúde;
tado, ganhando estruturas novas com reforma e ampliação dos cen- V- propor critérios às programações e às execuções financeiras
tros de imagem e cirúrgico, além da maternidade. Através de decreto orçamentárias vinculadas aos Fundos de Saúde, acompanhando a
do governador, atualmente o hospital é gerenciado pela Sesa. movimentação e destinação dos recursos;

43
LEGISLAÇÃO
VI- apreciar e acompanhar a proposta orçamentária financeira IV – Intersetorialidade;
da Secretaria da Saúde do Estado do Fundo Estadual de Saúde – V – Promoção do Desenvolvimento Sustentável.
FUNDES e fiscalizar a sua aplicação;
VII- estabelecer diretrizes e critérios quanto à localização, cre- Atenção à Saúde
denciamento e ao tipo de unidade prestadora de serviços de saú- Centro de Educação Permanente em Atenção à Saúde
de, Público, Filantrópico e Privado no âmbito do Sistema Único de Em 2003, foram criadas as Áreas Programáticas de Atenção
Saúde – SUS; Primária à Saúde e Atenção Secundária e Terciária à Saúde, com
VIII- estabelecer critérios para elaboração de convênios, acor- o intuito de promover qualificação, capacitação e aperfeiçoamen-
dos e termos aditivos que se refiram ao SUS; to técnico para os profissionais vinculados à atenção básica e aos
IX- requisitar dados e informações de caráter administrativo, serviços de referência, respectivamente. Face ao novo enfoque em
técnico-financeiro, relativo ao SUS, de órgãos ou entidades públi- Saúde Pública, de reforço à integralidade da atenção à saúde, em
cas, privados e conveniados com o Sistema Único de Saúde; 2007, ocorreu a fusão dessas duas áreas programáticas, através da
X- aprovar critérios e valores complementares à tabela nacional criação da Coordenadoria de Pós-Graduação em Atenção à Saúde.
de remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura assisten- Por ordem do Decreto nº. 30.602, de 15 de julho de 2011, a Coorde-
cial quando necessário; nadoria passou a ser denominada Centro de Educação Permanente
XI- analisar e apurar denúncias, responder consultas sobre as- em Atenção à Saúde.
suntos pertinentes à saúde, bem como examinar recursos a respei-
to das deliberações dos colegiados municipais e outras instâncias Missão
deliberativas na área de saúde do Estado; Promover a melhoria da qualidade da atenção à saúde por
XII- elaborar, alterar e aprovar o Regimento Interno do Conse- meio do desenvolvimento de programas de educação permanente
lho Estadual de Saúde e suas normas de funcionamento; de profissionais de saúde, de projetos de extensão e de investiga-
XIII- aprovar ou homologar planos, projetos e convênios en- ções científicas relevantes.
caminhados pela Comissão Intergestores Bipartite – CIB ou outro
órgão , em assuntos relativos ao SUS e ao processo de descentrali- Foco da área
zação da gestão em saúde; Realização de cursos para capacitação e educação permanen-
XIV- estabelecer diretrizes, apreciar e aprovar trimestralmente te dos profissionais que exercem atividades na rede de atenção à
o plano de aplicação e prestação de contas, bem como supervisio- saúde, por meio de um programa educacional que inclui cursos de
nar e acompanhar a movimentação do Fundo Estadual de Saúde atualização, aperfeiçoamento e especialização para profissionais de
– FUNDES; nível superior, visando a atender demandas específicas e necessida-
XV- acompanhar e homologar a formação, desenvolvimento e des de saúde percebidas. O objetivo é fortalecer a organização do
funcionamento dos Conselhos Regionais e Municipais de Saúde; sistema de saúde, observando normas, leis e decretos oriundos das
XVI- estabelecer critérios para a realização de Conferências de instâncias estadual e federal para a concretização das diretrizes do
Saúde a nível estadual; Sistema Único de Saúde (SUS).
XVII- outras atribuições estabelecidas pelas Leis nº 8.080/90 e
Foco dos cursos
nº 8.142/90, como também atribuições definidas e asseguradas em
Desenvolver e aperfeiçoar competências profissionais para
atos complementares que se refiram à operacionalidade e a gestão
uma atuação efetiva na Atenção Primária, Secundária e Terciária
do Sistema Único de Saúde.
à Saúde, por meio da proposição de estratégias metodológicas
pautadas nos princípios da educação permanente em saúde, que
Membros do Conselho Estadual de Saúde
propiciem uma aprendizagem significativa e uma possibilidade de
Mesa diretora e estrutura organizacional do Cesau
transformação das práticas profissionais.
Comissão Intergestores Bipartite
A Comissão Intergestores Bipartite do Estado do Ceará (CIB-CE)
é um colegiado permanente de gestores da Saúde do Estado e dos
Municípios para discussão e negociação das questões operacionais EXERCÍCIOS
do Sistema Único de Saúde (SUS), instituída pelo Decreto N° 27.574
de 30/09/2004. 1. Segundo o Sistema Único de Saúde SUS, a diretriz da des-
centralização :
Plano Plurianual (PPA) (A) É coerente com a concepção de um Estado federativo obe-
Principal instrumento de planejamento governamental, o Pla- diente a princípios constitucionais que devem ser assegurados
no Plurianual (PPA) estabelece de forma regionalizada, as diretrizes, e exercidos em cada esfera de governo, corresponde à distri-
os objetivos e as metas da administração pública para um período buição de poder político, de responsabilidades e de recursos
de quatro anos. da esfera federal para a estadual e municipal.
A vigência do PPA conecta duas gestões governamentais, bus- (B) Diz respeito a uma organização do sistema que deve focar
cando garantir a continuidade das estratégias previamente dese- a noção de território, onde se determinam perfis populacio-
nhadas e servindo como uma diretiva inicial no primeiro ano de nais, indicadores epidemiológicos, condições de vida e supor-
gestão de um governante. te social, que devem nortear as ações e serviços de saúde de
uma região.
Premissas (C) Uma diretriz da forma de organização e operacionalização
O PPA tem suas bases estabelecidas em premissas essenciais do SUS em todas as suas esferas de gestão.
para a organização da atuação governamental e a implementação (D) Aproxima a gestão municipal dos problemas de saúde, das
das políticas públicas condições de vida e da cultura que estão presentes nos distri-
I – Gestão Pública para Resultados; tos ou regiões que compõem o município, deve ser norteada
II – Participação Cidadã; pela hierarquização dos níveis de complexidade requerida
III – Promoção do Desenvolvimento Territorial; pelas necessidades de saúde das pessoas.

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LEGISLAÇÃO
2. Segundo o Sistema Único de Saúde SUS, a diretriz da des- 7. Sobre a Política Nacional de Humanização, assinale o item
centralização : verdadeiro que versa sobre o princípio da transversalidade.
(A) É coerente com a concepção de um Estado federativo obe- (A) Deve se fazer presente e estar inserida em todas as po-
diente a princípios constitucionais que devem ser assegurados líticas e programas do SUS de maneira a reconhecer que as
e exercidos em cada esfera de governo, corresponde à distri- diferentes especialidades e práticas de saúde podem interagir
buição de poder político, de responsabilidades e de recursos na perspectiva da corresponsabilidade, ampliando o contato
da esfera federal para a estadual e municipal. e comunicação interpessoal e retirando-as do isolamento e
(B) Diz respeito a uma organização do sistema que deve focar fragmentação
a noção de território, onde se determinam perfis populacio- (B) Deve ser organizada em três níveis de atenção à saúde,
nais, indicadores epidemiológicos, condições de vida e supor- com foco na atenção secundária, sendo esta a ordenadora
te social, que devem nortear as ações e serviços de saúde de do cuidado em rede, partindo-se da criação de Linhas de
uma região. Produção do Cuidado horizontai, e diagonais que supram as
(C) Uma diretriz da forma de organização e operacionalização demandas clínicas dos usuários.
do SUS em todas as suas esferas de gestão. (C) Qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta
(D) Aproxima a gestão municipal dos problemas de saúde, das se construída com a ampliação da autonomia e vontade das
condições de vida e da cultura que estão presentes nos distri- pessoas envolvidas, que compartilham responsabilidades. Os
tos ou regiões que compõem o município, deve ser norteada usuários não são só pacientes, os trabalhadores não só cum-
pela hierarquização dos níveis de complexidade requerida prem ordens: as mudanças acontecem com o reconhecimento
pelas necessidades de saúde das pessoas. do papel de cada um.
(D) trabalhadores e usuários devem buscar conhecer como
3. O processo de transferência de responsabilidades de gestão funciona a gestão dos serviços e da rede de saúde, assim
de saúde para os municípios, atendendo às determinações consti- como participar ativamente do processo de tomada de deci-
tucionais e legais, é o que caracteriza um importante princípio do são nas organizações de saúde e nas ações de saúde coletiva.
SUS denominado
(A) Equidade. 8. Uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH) no
(B) Universalidade. SUS, que não tem local nem hora certa para acontecer, nem um
(C) Participação Social. profissional específico para fazê-lo e faz parte de todos os encon-
(D) Descentralização. tros do serviço de saúde, chama-se:
(E) Integralidade. (A) Acolhimento
(B) Recepcionamento
4. Assinale a alternativa correta a respeito dos Conselhos de (C) Requerimento
Saúde. (D) Cadastramento
(A) Atuam conjuntamente com os órgãos responsáveis pela
gestão e execução de serviços, compartilhando a prestação
dos serviços de saúde.
(B) Representam a sociedade, e sua composição conta com GABARITO
50% de representantes de usuários do SUS.
(C) Têm caráter permanente, e sua extinção só pode ser reali-
zada por meio de decreto do Executivo. 1 A
(D) São consultivos, e suas decisões são encaminhadas ao 2 A
poder público como recomendação.
3 D
(E) São subordinados ao Poder Executivo, tendo os Secretários
de Saúde como presidentes. 4 B
5 B
5. Todo cidadão, sem qualquer tipo de discriminação, incluindo
os estrangeiros e refugiados, tem acesso ao Sistema Único de Saú- 6 E
de. Trata de um princípio do SUS denominado 7 A
(A) Equidade.
(B) Universalidade. 8 A
(C) Integralidade.
(D) Participação Social.
(E) Solidariedade.

6. Na Política Nacional de Humanização (PNH), a ferramenta


teórica e prática cuja finalidade é contribuir para uma abordagem
clínica do adoecimento e do sofrimento, que considere a singula-
ridade do sujeito e a complexidade do processo saúde/doença é
denominada de:
(A) Autotutela.
(B) Ambiência.
(C) Acolhimento.
(D) Longitudinalidade.
(E) Clínica ampliada.

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