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PROFS.

DANIELA MODELOS DE ATENÇÃO À


MURTA / CELSO
VERGNE
SAÚDE, SUS E A PRÁTICA
MULTIPROFISSIONAL
Saúde, sempre é bom lembrar....
A Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1946 define saúde
como um estado completo de bem-estar físico, mental e social
e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. Esta
definição (mantida inalterada até à atualidade) pressupõe que
a condição de saúde de um indivíduo é um conceito complexo,
multidimensional e dinâmico.
Saúde e Doença
Conceito ampliado de saúde - Enfoque para além da doença sendo o processo
saúde-doença compreendido também como um processo histórico, social e
territorializado.

Determinantes sociais da saúde.

Garantia à saúde passa a ultrapassar a esfera das atividades clínico-assistenciais.

Necessidade de um novo paradigma que dê conta da abrangência do processo


saúde-doença.
Simplificando...

Os determinantes da saúde podem ser definidos


como os fatores que influenciam, afetam e/ou
determinam a saúde dos povos e cidadãos
(Carvalho, 2012; George, 2011).
Determinantes sociais da saúde
modelo de DAHLGREN e WHITEHEAD
No centro do modelo os indivíduos (com as
características individuais de idade, género e
fatores genéticos).

No primeiro nível encontram-se os fatores


relacionados com os estilos de vida (com
potencial para serem alterados por ações
baseadas em informação).

No seguinte estão as redes de apoio sociais e


comunitárias, indispensáveis para a saúde da
sociedade.

No nível mais distal estão representados os


determinantes em nível macro
(macrodeterminantes), relacionados com
aspetos económicos, ambientais,
culturais da sociedade em geral. Estes possuem
grande capacidade de influenciar os fatores dos
níveis subjacentes
Para o cuidado é necessário:
• Considerar questões pertinentes ao vínculo saúde-doença-
adoecimento-sociedade;
• As condições de vida impostas e os estilos de vida escolhidos pelos
próprios indivíduos;
• A autonomia (escolha individual desde que não prejudique o
coletivo).
• Compreender o indivíduo de modo integral, não apenas olhar para
as doenças;
• Compreender que o adoecimento é carregado de valores e
significados subjetivos, únicos, capazes de interferir na qualidade do
cuidado prestado.
Sistema Único de Saúde
Princípios Doutrinários
UNIVERSALIDADE: a saúde é um direito de cidadania de todas as pessoas e cabe ao Estado assegurar
este direito, sendo que o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as pessoas,
independentemente de sexo, raça, ocupação, ou outras características sociais ou pessoais.
EQUIDADE: o objetivo desse princípio é diminuir desigualdades. Apesar de todas as pessoas possuírem
direito aos serviços, as pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades distintas. Em outras
palavras, equidade significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior.
INTEGRALIDADE: este princípio considera as pessoas como um todo, atendendo a todas as suas
necessidades. Para isso, é importante a integração de ações, incluindo a promoção da saúde, a
prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. Juntamente, o principio de integralidade
pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, para assegurar uma atuação
intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e qualidade de vida dos
indivíduos.
Sistema Único de Saúde
Princípios Organizativos
REGIONALIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO: os serviços devem ser organizados em níveis crescentes de
complexidade, circunscritos a um determinado território. A regionalização é um processo de articulação
entre os serviços que já existem, visando o comando unificado dos mesmos; e a hierarquização é a
divisão de níveis de atenção a fim de garantir formas de acesso aos serviços que façam parte da
complexidade requerida pelo caso.
DESCENTRALIZAÇÃO E COMANDO ÚNICO: descentralizar é redistribuir poder e responsabilidade entre
os três níveis de governo a fim de prestar serviços com maior qualidade e garantir o controle e a
fiscalização por parte dos cidadãos. No SUS, a responsabilidade pela saúde deve ser descentralizada até o
município e cada esfera de governo é autônoma nas suas decisões e atividades, respeitando os princípios
gerais e a participação da sociedade.
PARTICIPAÇÃO POPULAR: a sociedade deve participar no dia-a-dia do sistema. Para isto, devem ser
criados os Conselhos e as Conferências de Saúde, que visam formular estratégias, controlar e avaliar a
execução da política de saúde.
Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011
A integralidade da assistência à saúde se inicia e se completa na Rede de Atenção à Saúde, mediante
referenciamento do usuário na rede regional e interestadual.

Contrarreferência
Atenção
terciária
hospitalar
Referência

Atenção
secundária

Atenção Básica
Níveis de Atenção
Atenção Primária à Saúde (APS)
- Com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde
e autonomia das pessoas e nos determinantes de saúde das coletividades, caracteriza-se
por um conjunto de ações de saúde, individuais e coletivas, que abrange:
✔ Promoção e proteção da saúde;
✔ Prevenção de agravos;
✔ Diagnóstico;
✔ Tratamento;
✔ Reabilitação;
✔ Redução de danos e a manutenção da saúde.
Níveis de Atenção
Atenção Primária à Saúde (APS)

A Atenção Primária - É o primeiro nível do sistema de saúde, com ações dirigidas a


populações de territórios definidos, pelas quais assume responsabilidade sanitária
(território adscrito), considerando as características deste espaço.

É desenvolvida através de trabalho em equipe multiprofissional e interdisciplinar


centrado no usuário, que amplia a capacidade de cuidado de toda a equipe.

Constitui o nível de atenção à saúde que se encontra mais próximo dos cidadãos e tem
suas ações desenvolvidas nas unidades básicas de saúde (UBS) com o desenvolvimento
de ações setoriais e intersetoriais a fim de assegurar a equidade do acesso ao cuidado.
Níveis de Atenção
Atenção Primária à Saúde (APS)
- Representa a principal porta de entrada (contato preferencial) e centro de comunicação com toda a RAS,
sendo a ordenadora do cuidado pautada nos seguintes princípios:
✔ da universalidade,
✔ da acessibilidade,
✔ do vínculo – o usuário é corresponsável pelo seu cuidado;
✔ da continuidade do cuidado – manejo de demandas;
✔ da integralidade da atenção - toda demanda, necessidade de saúde ou sofrimento devem ser acolhidos;
✔ da responsabilização,
✔ da humanização, da equidade;
✔ da participação social.
A APS DEVE SER RESOLUTIVA!
Níveis de Atenção
Programa Saúde da Família (PSF)/ Estratégia de Saúde da Família (ESF):
✔ Enfoque na família como unidade de ação para atender ao conceito ampliado de saúde na atenção
primária.
✔ Agrega profissionais de diversas áreas dada a necessidade de gerenciar e atender as diversas
demandas na saúde e suas particularidades.

Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF):


✔ Tem o objetivo de apoiar a inserção da ESF na rede de serviços, ampliar a abrangência e o escopo
das ações da Atenção Básica, e aumentar a resolutividade dela, reforçando os processos de
territorialização e regionalização.
✔ Compartilham com a ESF a responsabilidade sobre a revisão da prática do encaminhamento com
base nos processos de referência e contrarreferência, ampliando-a para um processo de
acompanhamento longitudinal e de coordenação do cuidado.
Níveis de Atenção
✔ São a referência para apoio multiprofissional, prioritariamente o matriciamento (retaguarda
especializada) que vai reforçar o poder de gestão da equipe interdisciplinar – A equipe não
encaminha, mas pede apoio e coordena o cuidado.
✔ O processo de trabalho utiliza como ferramentas:
Clínica Ampliada - Se direciona a todos os profissionais que fazem clínica, ajustando os recortes
teóricos de cada profissão às necessidades dos usuários, sendo a discussão em equipe um recurso
clínico e gerencial.
Projeto Terapêutico Singular (PTS) - Conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas para
um sujeito individual ou coletivo a partir de discussão coletiva da equipe interdisciplinar.
Projeto de Saúde no Território (PST) - Estratégia das equipes para desenvolver ações efetivas na
produção da saúde em um território a partir de articulações intersetoriais para qualidade de vida e
autonomia das comunidades.
Níveis de Atenção
✔ Fazem parte da ESF os Consultórios na Rua, a ESF para as Populações Ribeirinhas e foram criadas as
unidades fluviais.
✔ A reorganização das APS de acordo com os princípios da Saúde da Família, impulsionou o reordenamento
dos demais níveis de complexidade do sistema de saúde, mantendo o compromisso com a garantia do
acesso da população a todos os níveis de assistência.

É essencial que a Atenção Primária seja capaz de se integrar com as


redes de atenção à saúde: ambulatorial especializada, hospitalar
secundária e terciária, rede de serviços de urgência e emergência
bem como rede de serviços de atenção à saúde mental.
Níveis de Atenção
Níveis secundário e terciário:
- Planejamento e a execução de ações de média e alta complexidades, desenvolvidas nos
ambulatórios de especialidades e em serviços hospitalares distribuídos de acordo com o
processo de territorialização
- Normalmente utilizados em casos que requeiram atenção de profissionais especializados,
recursos tecnológicos de maior densidade no apoio diagnóstico e terapêutico, não
disponíveis na APS – Diferenciam-se pela densidade tecnológica.
Nível secundário - Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), hospitais e ambulatórios
especializados ou de média complexidade, organizados com base em macro e microrregiões
de cada Estado, devendo apresentar tanto ambulatórios como hospitais.
Nível terciário - Hospitais de grande porte que atendem alta complexidade, a fim de
garantir que procedimentos para a manutenção dos sinais vitais sejam realizados, dando
suporte para a preservação da vida sempre que preciso (situações que não puderem ser
atendidas no nível secundário por serem casos mais raros ou complexos.
Reorganização da Atenção no SUS
Integralidade + APS como
Redirecionamento do
Hierarquização/ ordenadora do
modelo de atenção
Regionalização cuidado

Mudanças Equipe Multidisciplinar + Referência e


organizacionais Contrarreferência + Matriciamento
Sistema de referência/Contrarreferência:
a revisão do processo de
encaminhamento
Revisão da prática de encaminhamento:
- Necessidade de assegurar os princípios e diretrizes do SUS;
- A atenção à saúde no SUS se faz em rede (RAS) e os níveis de atenção são complementares
(integralidade da atenção);
- A APS é ordenadora do cuidado e responsável pelo acompanhamento longitudinal do usuário
independentemente do nível de atenção devendo ser garantida a continuidade do cuidado;
- O usuário não será encaminhado para outro serviço, ele é referenciado e contrarreferenciado.

A referência e contrarreferência é o mecanismo de encaminhamento


mútuo de pacientes entre os diferentes níveis de complexidade dos
serviços sendo o principal elemento de integração da rede.
UBS

Sistema de
Referência/ Demanda por
Contrarreferência maior grau de
Contrarreferência complexidade
: a revisão do
processo de
Continuidade
encaminhamento do tratamento
Referência para
sem
média e alta
necessidade de
complexidade
recursos mais
complexos
Sistema
Único de
Saúde
Sistema de referência/Contrarreferência:
a revisão do processo de encaminhamento
A efetividade do sistema de referência e contrarreferência e a integralidade do cuidado dependem
da articulação entre os pontos de atenção e de condições que viabilizem os fluxos entre as diversas
esferas que os compõem – Sistema logístico e comunicação efetiva entre os pontos de atenção.

CONDIÇÕES PARA O BOM FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA:


Regulação dos serviços - Planejamento da oferta de ações e serviços com base nas necessidades de
saúde da população (estabelecimento de responsabilidades e metas, monitoramento e avaliação dos
resultados alcançados para a correção dos processos de trabalho);
Sistema de referência/Contrarreferência:
a revisão do processo de encaminhamento
Processos de gestão clínica - Trabalho de coordenação de equipes multiprofissionais de cuidados
dos usuários para maior eficiência da atenção (educação permanente; regulação das filas de espera
para consultas, exames diagnósticos e internação; e supervisão ou apoio técnico para as equipes);
Condições de acesso aos serviços - Proximidade da população das unidades dos diferentes níveis de
complexidade, dimensionamento adequado da oferta em relação ao número de habitantes e suas
necessidades de saúde, informação sobre os serviços disponíveis (horários e as precondições
requeridas para o acesso aos procedimentos especializados).
Recursos humanos - Formação e a experiência profissional, condições de trabalho e mecanismos de
educação permanente para atualização.
Sistema de referência/Contrarreferência:
a revisão do processo de encaminhamento
Sistemas de informação e comunicação - Identificação dos pacientes; o acesso a prontuários
eletrônicos pelos profissionais das diferentes unidades; o controle da disponibilidade de leitos e vagas
para consultas e exames; além do monitoramento das ações desenvolvidas (interfere em todos os
outros processos).
Apoio logístico – Garantia do abastecimento regular de medicamentos e insumos (inclusive amostras
de exames e transporte de pacientes), manutenção dos equipamentos.

Como promover um processo de referência e


contrarreferência eficiente para além das gestão
operacional e concreta?
Tecnologias em Saúde
Emerson Merhy (1997)

Tecnologia leve Produz-se no trabalho vivo, em um processo de relações, isto é,


no encontro entre o trabalhador em saúde e o usuário/paciente
quando falas, escutas, criam cumplicidades, relações de vínculo,
aceitação e produz-se a responsabilidade em torno do problema
que vai ser enfrentado
Tecnologia leve-dura Refere-se aos saberes profissionais, bem estruturados como a clínica,
a epidemiologia e os de demais profissionais que compõem a equipe,
estando inscrita na maneira de organizar sua atuação no processo de
trabalho.
Tecnologia dura Refere-se ao instrumental complexo em seu conjunto, englobando
todos os equipamentos para tratamentos, exames e a organização de
informações.
Comunicação no processo de
referência e contrarreferência:
- A perda de informações por falha na comunicação dificultam o
seguimento do tratamento pelo paciente.
- A comunicação entre as equipes de saúde deve ser clara e concisa
(contato telefônico ou orientações escritas), formal e documentada, e
encarada como responsabilidade compartilhada dos atores da rede de
atenção.
- Os serviços devem estabelecer uma interação para discutir os
resultados obtidos e planejar novas estratégias de cuidado que
contemplem o paciente (não basta orientar e indicar ao paciente um
atendimento mais complexo) - Diálogo intersetorial permanente.
- A coordenação dos cuidados se dá por intercâmbio de informações
entre as unidades e os profissionais diretamente envolvidos.
Cuidado integral no processo de
referência e contrarreferência:
- A efetividade do cuidado integral depende de uma combinação de ações
colaborativas, articuladas e contínuas – Utilização de tecnologias leves e leve-
duras.
- Se constitui quando os diversos conhecimentos são considerados e convergem
para uma mesma ação, atendendo à demanda apresentada.
- As necessidades dos usuários têm maior entendimento e as ações intersetoriais
são mais incrementadas (conceito ampliado de saúde).
- Fortalecer a formação e atuação de profissionais para serem capazes de
compartilhar saberes e decisões, ampliando e potencializando sua capacidade
crítica e de intervenção na realidade e de enxergar o indivíduo como um todo.

Na perspectiva do cuidado integral e da clínica ampliada todos os profissionais


estão implicados em todas as dimensões e demandas de cuidado, sendo os
projetos terapêuticos singulares de cada usuários compartilhados.
A prática da integralidade
- A prática da integralidade pressupõe que tanto a equipe devem prestar escuta qualificada das
demandas apresentadas pelas pessoas e responder da melhor maneira possível por elas.
- As práticas precisam ser intersubjetivas nas quais os profissionais de saúde se relacionam com sujeitos
e não objetos sendo necessário o desenvolvimento de novas habilidade profissionais.

Capacidade de escuta
Capacidade de Diálogo
Percepção para agir e ofertar cuidado alinhada ao encontro entre o profissional e usuário.
Potências e desafios da
interdisciplinaridade:
- As disciplinas envolvidas na abordagem interdisciplinar serão definidas
pelo “objeto” (necessidades do sujeito) e sua complexidade (sujeito).
- Ao fissurar as rígidas fronteiras de competências exclusivas dos campos
de conhecimento, potencializa os mecanismos grupais e institucionais e
democratiza a gestão dos serviços e na produção do cuidado.
- Promove a abertura em direção de um fazer coletivo - As equipe são
multiprofissionais e interdisciplinares.

A preconização da interdisciplinaridade no SUS é uma


estratégia de ruptura com a intensa tendência de
especialização e fragmentação presente na saúde.
RESISTÊNCIAS
- Em alguns espaços ainda há a resistência a interdisciplinaridade e
tendência de profissionais a manter o conhecimento compartimentalizado.
- O campo da Saúde Pública é um campo de correlação de forças no qual se
apresenta uma disputa de poder – O poder na saúde está relacionado ao
controle dos corpos (Foucault, 2001).
- No campo da saúde ainda existe a aplicação impositiva da
interdisciplinaridade para juntar pessoas e acomodar interesses de
determinados grupos de ocupações em detrimento da ideia da Saúde
Coletiva como um campo interdisciplinar.
- Exemplo: Ato médico – Posição contrária à interdisciplinaridade, que
defende a restrição da atuação de outros profissionais em atividades que
fazem fronteira com a área médica para manutenção do controle sobre os
corpos, sem risco de perdê-los para as outras profissões da saúde.
Sistema de Diferentes Integrações
Multidisciplinaridade Disciplinas propostas simultaneamente, mas sem denotar as
relações que podem existir entre elas. Não ha nenhuma
cooperação entre as disciplinas

Interdisciplinaridade Disciplinas conexas, que mantém um nível de interação e


reciprocidade, enriquecendo uma a outra de forma recíproca,
mas assegurando a cada uma sua especificidade.

Transdisciplinaridade Coordenação de todas as disciplinas em um sistema total, tendo


um objetivo comum.
Sistema de Caminhos Possíveis
Como romper com as resistências à interdisciplinaridade e potencializar um processo de referência e
contrarreferência eficiente?
• Levar em consideração a natureza multidimensional do ser humano que requer práticas
profissionais que adotem uma perspectiva mais ampla e complexa a fim de promover a
integralidade da atenção conforme prevê o SUS.
• Substituição do modelo biomédico hegemônico (centrado no diagnóstico e na cura) pelo foco no
sujeito e na valorização dos diversos saberes e práticas, na integralidade e na intersetorialidade.
• Adoção de um posicionamento ético e político que exige diálogo e negociação para definição
das competências necessárias para a resolução dos problemas enfrentados.

Compreensão da interdisciplinaridade como processo de


construção de conhecimento e ação, a partir de finalidades
compartilhadas por coletivos de trabalho.
Processos necessários:
Reconhecimento da complexidade do processo e da multiplicidade de
recursos necessários para a sua efetivação (saberes das mais diversas
origens, ambiente favorável, projeto compartilhado e atitude dos sujeitos).
Amadurecimento no trabalho em equipe e um espaço institucional que
possibilite a construção de novas normas e formas de realização do
trabalho.
Negociações em relação a tensões no direcionamento do trabalho e em
relação a vivência individual de cada profissional acerca da
interdisciplinaridade.
Compreender a complexidade dos problemas, do contexto e da atenção à
saúde como mobilizador para o pensar e o agir interdisciplinar.
Engajamento do profissional, exercitar a capacidade de escuta,
compromisso ético e a visão integral do sujeito do cuidado – Engajamento
com o mundo, com os outros e consigo mesmo..
Integralidade X Fragmentação do Cuidado
A instrumentalização da equipe multiprofissional de saúde sobre o processo de referência e
contrarreferência é de extrema importância para atender o princípio da integralidade e aprender a
trabalhar em redes longitudinais fortalecendo os princípios universais do sistema SUS.
Garantir a integralidade do atendimento é de responsabilidade de todos os níveis de atenção e
profissionais da área da saúde, e não uma batalha individual de cada paciente.
As equipes de saúde atuantes nas instituições hospitalares podem contribuir para que o sistema de saúde
alcance a integralidade do cuidado.

A falta de integração entre os serviços de saúde reflete uma


fragmentação do cuidado e gera descompasso no processo de
preparo da alta hospitalar.
Processo de referência e
contrarreferência no contexto hospitalar:
- Tem o objetivo de contribuir na continuidade do tratamento ao paciente proporcionando-lhe, por
meio do cuidado após a alta, menor probabilidade de reinternação hospitalar e, por consequência,
melhor qualidade de vida.
- Tanto o paciente como sua família são unidades de cuidado, devendo ambos ser escutados, acolhidos,
informados e incluídos na construção do plano de cuidado e no processo de contrarreferência.
- Quando o usuário é contrarreferenciado para APS deve ser realizado contato prévio com a unidade,
orientações detalhadas sobre sua situação e necessidades protocoladas, com cópia para o usuário, a
coordenadora da equipe e para a equipe de referência –Alguns pacientes demandam maior cautela e
detalhamento no processo de contrarreferência.
- A APS deve se comprometer a dar sequência ao tratamento, na unidade ou em domicílio, podendo ser
acompanhada pela equipe multidisciplinar hospitalar no caso de necessidades especiais.
Parâmetros éticos sobre sigilo e
armazenamento de
informações.
Na atualidade, além de realizado por diversos profissionais, o cuidado
incorpora em sua prática além do conhecimento tecnocientífico,
valores humanos que orientam a ética do trabalho privilegiando a
humanização do cuidado e a autonomia do paciente.

Ética no ambiente organizacional:


- Refere-se às pessoas que compõe a organização e que são responsáveis
pelo seu sucesso ou fracasso.
- Ainda que no cotidiano organizacional as atividades possam ser
desenvolvidas de forma individualizada, os objetivos são comuns e
alcançar as metas depende da convergência da atuação de cada um no
sentido técnico e ético (sistemas de crenças e valores individuais
diversos).
- Uma organização será ética se seus gestores e colaboradores assim o
forem e para isso são necessárias ações que fomentem estas atitudes.
Organização ética:

- É fundamental que os funcionários e gestores estejam inteirados da missão e dos valores


corporativos e os incorporem em sua prática.
- Um conjunto de valores éticos bem definidos pela organização é uma importante ferramenta para
que os profissionais e gestores tomem decisões coerentes com as metas e convicções desta.
- Através de treinamentos e ações permanentes para aprimoramento ético a organização deve tornar
pública suas normas e princípios ou mesmo elabore um código de ética a fim de formalizar o
entendimento da organização nos seus relacionamentos.
- Isso se aplica no serviço público e privado, visto que em ambos os casos é depositado no
profissional a expectativa de que ele exerça sua função seguindo os padrões éticos determinados.
Responsabilidade Social:
- Nas organizações de saúde a responsabilidade social envolve as ações relacionadas com o limite da
vida, com a amenização do sofrimento e a garantia da qualidade de vida.
- Em um contexto de valorização do cuidado humanizado, do respeito à autonomia do paciente e de
atenção as sua condições de vulnerabilidade, está associada a um posicionamento dos profissionais
que extrapola o objetivo da cura sendo necessário, em sua prática, a atenção a aspectos relacionados
à atuação em equipe, a promoção da saúde e as relações com a comunidade dentro e fora do
ambiente hospitalar.

Na atuação do psicólogo no hospital, questões relacionadas a ética e a


responsabilidade social estão presentes de forma muito concretas no
cotidiano do trabalho deste profissional seja pela conjuntura em que
ele acontece ou pelas relações que necessariamente se estabelecem.
Parâmetros éticos sobre sigilo e
armazenamento de informações.
Contexto clínico Ambiente hospitalar
- Ambiente privado no qual o paciente busca- O psicólogo oferece sua escuta ao paciente;
por atendimento; - O atendimento é realizado muitas vezes em
- Pouca ou nenhuma relação com seus espaços comuns onde transitam outras
familiares; pessoas;
- Os conteúdos do atendimento não são - A prestação de serviço estende-se aos
compartilhados com outros profissionais. familiares;
- É necessário discutir e/ ou mediar o caso
com outros profissionais bem como registrá-
lo em prontuário.
Ao mesmo tempo em que o psicólogo está inserido em uma equipe multi/interdisciplinar que exige um
manejo do caso no contexto institucional deve realizar seu trabalho centrado no paciente ou no familiar
visando a qualidade da assistência; Como ficam as questões éticas vinculadas à psicologia nesse campo
de atuação?
Princípios Éticos
Independentemente do ambiente onde o atendimento é realizado os princípios éticos da profissão
devem ser seguidos:
- Respeito à diferença, à autonomia e à confidencialidade devem ser preservados assim como o
conhecimento;
- Respeito ao método clínico a ser utilizado no trabalho terapêutico.

Art. 7º do Código de Ética - O psicólogo poderá intervir na prestação de serviços psicológicos que
estejam sendo efetuados por outro profissional desde que:
- Tenha sido solicitado pelo profissional responsável pelo serviço;
- Em caso de emergência ou risco ao beneficiário ou usuário do serviço sendo obrigatório dar ciência
imediata ao profissional;
- Quando informado expressamente, por qualquer uma das partes, da interrupção voluntária e definitiva
do serviço;
- Quando se tratar de trabalho multiprofissional e a intervenção fizer parte da metodologia adotada.
Sigilo no ambiente
hospitalar:
- Em um contexto institucional e de trabalho inter ou multidisciplinar
merece atenção especial, pois pode suscitar questionamentos sobre
sua preservação e limites.
- Em muitos casos a linha entre manter e quebrar o sigilo com o
propósito de proteger o paciente e assegurar sua dignidade é muito
tênue e, por vezes, a decisão sobre isso constitui-se um dilema ético
que exige profunda reflexão com base nas normas éticas do psicólogo.
- É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger,
por meio de confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos e
organizações.
- Em situações de conflito entre o dever de preservar o sigilo e o que é
preconizado nos princípios fundamentais é possível optar pela quebra
de sigilo ainda que o código não especifique as circunstancias exatas
nas quais isso possa ser feito (o caso precisa ser analisado de forma
singular e consideradas as consequências).
Diferentes Registros
Prontuário: Documento único e individual, constituído de um conjunto de informações
geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a
assistência a ele prestada. Tem caráter legal e sigiloso, possibilitando o a comunicação entre
os integrantes da equipe e o registro de suas considerações técnicas. É preenchido e
compartilhado por todos os técnicos da instituição.
Evolução: São as considerações técnicas de cada profissional, sob sua ótica específica, dos
resultados do processo terapêutico a que submete o paciente. É parte integrante do
prontuário.
Registro: São as anotações referentes aos fatos de relevância que envolvam o paciente,
ocorridos no decorrer do atendimento.
Relato de sessão: São as anotações feitas pelo psicólogo, relativo a detalhes do atendimento
prestado e/ou dados coletados em atendimento psicológico. Não são compartilhados com os
demais membros da equipe e não fazem parte do prontuário. É responsabilidade única do
psicólogo a sua guarda, podendo estar incorrendo em infração ética se revelar seu conteúdo.
Elaboração de documentos pelo
- psicólogo
Referências
http://www.sobragen.org.br/trabalhos_enenge/Trabalho%20099.pdf
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/Sistema_de_referencia_contrarreferencia.pdf
https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/2337/1509
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/108528/000750675.pdf?sequence=1
http://redehumanizasus.net/63643-a-importancia-da-contra-referencia/
https://www.scielosp.org/article/sdeb/2013.v37n98/400-415/
https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-81232010000900033&script=sci_arttext&tlng=es
https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0104-12902011000400013&script=sci_arttext
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/96410
REFERÊNCIA E CONTRA REFERÊNCIA: CONTRIBUIÇÃO PARA A INTEGRALIDADE EM SAÚDE
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/4201
Em Busca da Interdisciplinaridade: o trabalho multiprofissional na gestão pública em saúde para a construção do Sistema Único de Saúde
https://www.scielosp.org/article/csc/2013.v18n11/3203-3212/
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932009000100014
http://www.scielo.br/pdf/%0D/pe/v11n2/v11n2a10.pdf
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Resolu%C3%A7%C3%A3o-CFP-n-06-2019-comentada.pdf

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