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ANA NÉRI - Pioneira da Enfermagem Brasileira

Por Dr. Lauro Arruda Câmara Filho - cardiologista

Ana Justina Ferreira Néri nasceu no dia 13 de dezembro de 1814, na vila de


Cachoeira do Paraguaçu, Bahia. Casou-se aos 23 anos com o capitão-de-fragata Isidoro
Antônio Néri, com quem teve três filhos: Justiniano, Isidoro Antônio e Antônio Pedro.
Devido à ausência do marido, em constantes viagens, Ana desde cedo assumiu as
responsabilidade da família e educação dos filhos. Poucos anos depois do casamento,
seu marido veio a falecer a bordo do navio Três de Maio na costa do Maranhão. Viúva
aos 29 anos dedicou-se na formação de seus filhos. Isidoro Néri Filho tornou-se militar
e Antônio Pedro e Justiniano formaram-se médicos.
Ao eclodir a guerra do Paraguai em 1864, seus três filhos se incorporaram como
voluntários às fileiras do exército. Com a partida de seus filhos para a região do
conflito, Ana escreve ao governador da Bahia, oferecendo-se para ajudar em qualquer
hospital do Rio Grande do Sul: “Eu me chamo Ana Justina Ferreira Néri. Sou mãe de
três rapazes que acabaram de partir para a guerra. Eles eram tudo o que tinha, pois o pai
morreu quando eu estava com 29 anos. Não podendo resistir à saudade deles, suplico-
lhe que me deixe acompanhá-los. Prometo que trabalharei como enfermeira em
qualquer hospital e em defesa de todos aqueles que sacrificarem sua vida pela honra
nacional e a integridade do Império” Sem esperar a resposta de seu pedido, embarcou
junto com o exército de voluntários no dia 13 de agosto se 1865.
No sul do país aprendeu noções de enfermagem e dedicou-se à tarefa de cuidar
dos feridos de guerra. Apesar das grandes dificuldades que enfrentava para
desempenhar suas atividades, tais como a falta de condições de trabalho, de higiene e de
materiais, além do grande número de soldados necessitados de atendimento médico,
destacou-se como enfermeira prestativa, carinhosa e cuidadosa em todos os lugares por
onde passou como Salto, Corrientes, Humaitá e Assunção. Na capital do Paraguai,
sitiada pelo exército brasileiro, Ana Néri montou uma enfermaria modelo utilizando-se
de recursos financeiros pessoais herdados da família. Ao receber a notícia da morte em
combate de seu filho Justiniano, abençoou-o pelo idealismo e dever cumprido. Quando
o exército brasileiro conquistou a capital paraguaia, Ana foi ali recebida triunfalmente
pelos militares brasileiros que a chamaram de “mãe dos brasileiros”
Ao final da guerra, após cinco anos de abnegação aos enfermos, Ana retorna ao
Brasil. Em sua passagem pelo Rio de Janeiro, recebeu calorosa manifestação de afeição,
uma chuva de pétalas de rosas e várias homenagens, tais como uma coroa de ouro
cravejada de diamantes de uma comissão de senhoras baianas residentes na então capital
do país onde estava gravado “À heroína da caridade, as baianas agradecidas”. Esta
coroa encontra-se hoje no museu do Estado de Bahia. Recebeu também um álbum com
a dedicatória “Tributo de admiração à caridosa baiana por damas patriotas” e o
consagrado Vitor Meireles pintou seu retrato em tamanho natural, o qual foi exposto na
sede da Cruz Vermelha Brasileira.
Na volta ao Brasil, Ana Néri trouxe três pequenos órfãos - filhos de soldados
desaparecidos nos combates- os quais passou a educar como se fossem seus filhos
legítimos. Sensibilizado com este fato, D. Pedro II lhe concedeu a Medalha Humanitária
e a Medalha da Campanha do Paraguai, além de uma pensão vitalícia para ajudá-la na
criação das crianças que adotara. Em sua homenagem foi denominada, em 1923, Anna
Nery, a primeira escola oficial de enfermagem de alto padrão fundado por Carlos
Chagas.
Em 1938, o presidente Getúlio Vargas assinou o decreto n° 2.956, que instituiu o
“Dia do Enfermeiro” a ser celebrado a 12 de maio, devendo esta data ser prestada as
homenagens especiais à memória de Ana Néri, em todos os hospitais e escolas de
enfermagem do país.
Dentre outras manifestações recebidas pela heroína, cabe ressaltar que a rua da
Matriz, local onde ela nasceu, passou a se chamar rua Ana Néri. E que foi criado em
Salvador, no Pelourinho, o Museu Ana Néri, para divulgar os aspectos mais
significativos da vida da ilustre baiana, e resgatar, ao mesmo tempo, a história da
enfermagem brasileira do século XIX até a atualidade. Ana Néri faleceu no Rio de
Janeiro em 20 de maio de 1880, aos 66 anos.

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