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A série Caderno de Experiências se configura O desafio foi prontamente aceito pela equipe do de educação e cultura e para a abordagem de tantos 1
Bacharela em Comunicação das Artes
como um conjunto de materiais de apoio às práticas educativo, que entende que a formação junto a outros temas sensíveis. do Corpo com habilitação em teatro e
de Educação em Direitos Humanos organizados a multiplicadores, professores, educadores e estudantes performance pela PUC de São Paulo,
pós-graduada em Direção Teatral pela
partir das vivências e conhecimentos adquiridos universitários é fundamental para o desenvolvimento Esperamos que este material possa servir de
Faculdade Paulista de Artes. Diretora das
pelo Programa de Ação Educativa do Memorial da de projetos interdisciplinares, visando à ampla inspiração para sua prática, colaborando com o Cias. Teatro de Trincheira e Mamulengo de
Resistência de São Paulo, no âmbito da educação discussão sobre as temáticas tratadas pelo Memorial. Educar para Nunca Mais e materializando o direito Si Mesmo, foi educadora no Memorial da
em museus. Com essa série, cujo tema são as ações da criança à memória e à verdade. Vamos juntos, Resistência de São Paulo de 2014 a 2017,
educativas que podem ser aplicadas e/ou adaptadas Assim, o Caderno de Experiências “Educar, Contar pelas próximas páginas, educar, contar e brincar ministrando oficinas no curso Educar,
a outros espaços de educação formal e não formal, o e Brincar para Resistir: a Ditadura Militar e o Direito para resistir! Contar e Brincar para Resistir nas edições
Memorial desenvolve mais uma importante iniciativa da Criança à Memória e à Verdade” foi organizado de 2016, 2017 e 2021.
voltada a potencializar a construção do diálogo em a partir de um processo dialógico entre o Memorial Ana Pato | Coordenadora do Memorial da
nossa sociedade. e o seu público. O presente material funciona como Resistência de São Paulo
registro do trabalho desenvolvido. Os conteúdos
O Memorial da Resistência compreende que o apontados e as propostas de atividades elencadas Aureli Alves de Alcantara | Coordenadora do
processo educativo é uma construção compartilhada estão embasadas no conteúdo programático das Programa de Ação Educativa do Memorial da
com o seu público com vistas à cidadania ativa, cinco edições do curso, a última delas (realizada em Resistência de SãoPaulo
à valorização da democracia e ao respeito aos ambiente virtual em virtude da pandemia do Covid-19)
direitos humanos, e é esse olhar que fundamenta o ministrada pela educadora Hannah Ferreira1, a
desenvolvimento de suas atividades e os materiais de quem gostaríamos de agradecer, pois foi também a
apoio ao educador. Tem como um de seus objetivos responsável pela redação do material.
responder às expectativas, angústias e interesses dos
profissionais que atuam na área da educação e da Nas páginas a seguir, você encontrará reflexões sobre
cultura, enfrentando os desafios postos pelo trabalho a Educação em Direitos Humanos e as formas como a
com temáticas sensíveis. instituição aplica ferramentas lúdicas para aproximar
o público infantil da temática da ditadura civil-militar
Nesse sentido, a vocação educativa de uma instituição e dos direitos humanos, com destaque especial
museológica instalada em um lugar de memória que para as ilustrações de Cibele Lucena, desenvolvidas
abrigou, entre 1940 e 1983, o Departamento Estadual especialmente para o caderno; apontamentos sobre
de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP), as obras de literatura infanto-juvenil que trabalham
órgão repressivo que atuou de maneira sistemática na com ambas as temáticas; um arrazoado sobre
violação de direitos humanos – sobretudo durante a a experiência do curso Educar, Contar e Brincar
ditadura civil-militar (1964-1985) –, tem seu caminho para Resistir; e, por fim, sugestões de atividades a
pautado principalmente pelas duas dimensões da serem aplicadas e adaptadas a partir de técnicas de
Educação em Direitos Humanos: o Educar para Nunca contação de histórias para segmentos da educação
Mais e o Direito à Memória e à Verdade. formal e não formal, ampliando as possibilidades de
discussão sobre direitos humanos.
O curso "Educar, Contar e Brincar para Resistir: a
Ditadura Militar e o Direito da Criança à Memória Cabe aqui ressaltar a importância da interface
e à Verdade" nasceu a partir do desafio posto pelo entre a educação em museus e o ensino formal e
professor universitário Cleber Santos Vieira (ver nota não formal para a produção de conhecimento e o
6 - página 31) que conhecia as atividades lúdico- desenvolvimento de soluções capazes de facilitar
pedagógicas com jogos e contação de histórias a tarefa do professor/educador nos processos
desenvolvidas pelo Memorial e destinadas a crianças de ensino-aprendizagem a partir do acervo, do
de 6 a 10 anos. A proposta era desenvolver um patrimônio (edificado ou não), das exposições e
curso de extensão destinado aos alunos do curso da expertise de educadores que trabalham com
de licenciatura em história, com vistas a apresentar diferentes ferramentas pedagógicas nas instituições
alternativas lúdicas para o trabalho com temas museológicas. Aqui, a ênfase recai sobre a potência
relacionados à ditadura militar, com o ensino de dos processos educativos com contação de histórias,
história e com os direitos humanos a partir do recorte que podem ser adaptados para quaisquer espaços
ao direito da criança à memória e à verdade.
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SUMÁRIO
Bibliografia 64
FUNDAMENTOS INTRODUTÓRIOS DA EDUCAÇÃO
EM DIREITOS HUMANOS
FUNDAMENTOS INTRODUTÓRIOS DA EDUCAÇÃO
EM DIREITOS HUMANOS
Como resultado das lutas sociais e do pensamento mostras de que sabe se organizar e direitos que dela derivam, sendo integral – cognitiva, efetivação – desafios dos quais alguns têm relação
da humanidade, os Direitos Humanos, ressignificados lutar por seus direitos. As mulheres afetiva e voltada para a ação – e orientada para que com a formação continuada dos professores e a
e ampliados ao longo do tempo, se consagraram não vão voltar para o fogão, os negros os educandos se reconheçam e se comportem como concepção ideológica das instituições de ensino.
através de acordo na Assembleia Geral das Nações e negras que completaram o ensino verdadeiros sujeitos de direitos, exercendo ativamente
Unidas em 1948, que promulgou o primeiro grande superior e hoje se encontram em a cidadania, a convivência democrática e uma cultura Considerando ainda a diversidade dos processos
instrumento de valores fundamentais, como a lugares de liderança não recuarão de de inclusão e paz. formativos vivenciados em contextos plurais de
equidade e a dignidade da vida humana, protegendo suas posições, a população LGBTTQ socialização, destaca-se o papel dos espaços não
os cidadãos contra violações até mesmo por parte vai continuar a andar de braço dado A EDH é, portanto, uma prática de mediação entre formais de educação, como bibliotecas, museus,
dos Estados. No Brasil, a Constituição Cidadã de 1988 pelas ruas, os indígenas lutarão e as normas de DH e sua vigência na vida social. É um centros de recreação, parques e outros. Família
promulgou esses direitos replicando a Declaração farão valer seus direitos às terras instrumento concreto para prevenir violações a esses e sociedade civil atuam, nesse sentido, como
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) em seus hoje invadidas, líderes de religiões de direitos e busca ser um motor de transformações fomentadores na construção de propostas voltadas à
artigos, consolidando a nova fase democrática matriz muçulmana e afro-brasileira entre os indivíduos e a sociedade. EDH, contribuindo para o reconhecimento, a defesa e
com o compromisso com a justiça social, como cultuarão seus deuses abertamente. o fortalecimento dos Direitos Humanos.
afirma Bobbio (1992): “hoje, o próprio conceito de (SCHWARCTZ, 2019, p. 193). Nesse sentido, as Diretrizes Nacionais apontam para
democracia é inseparável do conceito de direitos a importância do ambiente escolar “como tempo e
do homem”. Dentro da conjuntura contemporânea, em espaço potenciais para a vivência e promoção dos
que sofremos golpes, violações de direitos e a Direitos Humanos e da prática da Educação em
Em um quadro histórico em que constam séculos fragmentação dos modelos democráticos, é a Direitos Humanos” (BRASIL, CNE/MEC, 2012). Ainda
de escravização, política oligárquica, complacência educação que privilegia o espaço de análise e de acordo com o mesmo documento, a inserção
com as elites, violência e extermínio direcionados à debate da realidade. Entendendo o movimento dos conhecimentos concernentes à Educação em
população pobre, preta, periférica e indígena, sistemas dialético, é necessário, segundo Saviani (1991, Direitos Humanos na organização dos currículos da
de perpetração do machismo, patriarcado, lgbtfobia p.41), “tornar o homem cada vez mais capaz de Educação Básica e da Educação Superior poderá
e ataques às religiões de matrizes afro-brasileiras, conhecer os elementos de sua situação para intervir ocorrer pela transversalidade (considerando também
além de ditaduras que consolidaram o poderio militar, nela, transformando-a no sentido de ampliação da a interdisciplinaridade), como um conteúdo específico
na perseguição e no controle da população, se faz liberdade, da comunicação e da colaboração entre de disciplina já existente no currículo escolar ou de
necessária a luta constante pela defesa, manutenção os homens”. forma híbrida (transversalidade e disciplinaridade).
e ampliação dos Direitos Humanos (DH) no Brasil, de Assim sendo, a EDH deverá ser destacada na
acordo com a historiadora Lilia Schwarcz: Prevista na Declaração Universal dos Direitos elaboração dos Projetos Político-Pedagógicos
Humanos (artigo 26º), no Plano Nacional de Educação (PPP); dos Regimentos Escolares, dos Planos de
Direitos conquistados nunca foram em Direitos Humanos do Brasil (BRASIL, PNEDH, Desenvolvimento Institucionais (PDI) e dos materiais
direitos dados, e os novos tempos SEDH, 2003) e nas Diretrizes Nacionais para a pedagógicos e didáticos, entre outros.
pedem, de todos nós, vigilância, atitude Educação em Direitos Humanos (BRASIL, CNE/MEC,
cidadã e muita esperança também. 2012), a Educação em Direitos Humanos (EDH) é uma Ocorre que a implementação da EDH no espaço
A sociedade civil brasileira tem dado formação sustentada na dignidade das pessoas e nos formal de educação encontra desafios para sua
10 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 11
O TRABALHO LÚDICO EM ESPAÇO DE MEMÓRIA: O
CASO DO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO
O TRABALHO LÚDICO EM ESPAÇO DE MEMÓRIA:
O CASO DO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO
14 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 15
O TRABALHO LÚDICO EM ESPAÇO DE MEMÓRIA,
O CASO DO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO
Também foram oferecidas, a partir de 2016, formações Figura 2 – Jogo da memória com manchetes
para educadores oriundas da contação da história Era de revistas publicadas na época da Ditadura
uma Vez um Tirano: o curso “Educar, Contar e Brincar Civil-Militar. Acervo MRSP.
16 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 17
A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E A LITERATURA
INFANTO-JUVENIL
A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
E A LITERATURA INFANTO-JUVENIL
(ANDRUETTO et al., 2013), baseado em relatos esposa de Joel Rufino e mãe de seu filho, faz uma
de filhos de mortos e desaparecidos políticos na descrição da obra no prefácio:
época da ditadura. Para além da transmissão de
conhecimento, o livro denuncia os horrores da São cartas ternas, de um pai amoroso,
ditadura argentina, apontando para a necessidade cheias de histórias engraçadas, de
de preservar o direito à memória e à verdade e interesse pelo seu desenvolvimento, e
empreender a luta pela justiça. de muita saudade. Guardei-as todas,
as que chegaram – previamente lidas,
No Brasil, dentre as produções literárias que abordam censuradas e carimbadas – porque
a temática, destacamos o livro infantil O Reizinho eram uma parte da história de vida do
Mandão, escrito em 1978, às vésperas da extinção meu filho e do país em que vivemos.
do Ato Institucional nº 5, que conta a história de um (SANTOS, 2000. p. 7)
menino que assumiu o trono de um reino logo após a
morte de seu pai. O reizinho bradava constantemente Mediante o exposto, podemos perceber que nas
“Cala a boca!”, numa alusão ao silenciamento imposto últimas décadas do século XX e no início do XXI
pela repressão da ditadura. os países marcados pela repressão ditatorial de
seus Estados têm organizado publicações, ações,
Esse tipo de alusão à forma autoritária de governo musealizações e políticas públicas que promovam o
vivenciada no país também foi feita pela autora Ana direito à memória. As formas de lidar com o passado
Maria Machado, que, em 1982, publicou o livro Era traumático, contudo, estão ligadas ao processo de
uma Vez um Tirano, no qual a autoridade maior profere democratização de cada país. A Dra. Ana Paula Brito
as mais absurdas ordens ao seu povo, e acaba por estabelece essa comparação:
fugir quando, após anos de tirania, um grupo de
crianças mobiliza a população pela reconquista de Por exemplo, na Argentina, ainda
seus direitos. no processo de democratização, as
vítimas da ditadura puderam exigir
Em 2015, a editora Boitempo, por meio do selo infantil Justiça através dos Juicios a la Junta
Como e por que abordar experiências tão violentas Segundo o autor, a transformação dessas experiências Boitatá, lança a coleção “Livros para o Amanhã”, com Militar. Já no Brasil, com um contexto
quanto ditaduras para o público infantil? O educador em conteúdos acessíveis às crianças tem sido objeto publicações originárias da editora Gaya Ciencia, de de transição para a democracia
em direitos humanos é um mediador, oferecendo de diversos programas e projetos educacionais em Barcelona, que as disponibilizou três anos após o fim diferente, notadamente marcado pelo
ferramentas para que a criança possa construir suas diferentes países que, em suas especificidades, da ditadura franquista. Seus dois primeiros volumes estabelecimento da Lei de Anistia
próprias ideias e conceitos, enxergando o outro, o vivenciaram ditaduras, como Alemanha, Angola tratam respectivamente de democracia e ditadura. (Lei 6.683/79), que decretou um
mundo e ela mesma. Neste sentido, a obra literária e Argentina. silêncio institucionalizado no país e
funde os mundos real e fictício a partir dos dados No primeiro livro, A Democracia Pode Ser Assim, impossibilitou qualquer processo de
sociais, sendo objeto de uma consciência coletiva. Vieira menciona, como exemplo, o livro Aventuras de a discussão do conceito de democracia parte do justiça, a estratégia das vítimas foi
Cléber Santos Vieira, professor da Universidade Federal Ngunga (PEPETELA,1981), sobre os desdobramentos cotidiano das crianças (hora do recreio e jogo), desenvolver trabalhos de Memória e a
de São Paulo, em seu artigo “A criança e o direito à da ditadura salazarista em relação às colônias convidando o público a refletir sobre as eleições, a busca por Verdade. (BRITO, 2016. p. 2)
memória” (2016), discute a utilização dos testemunhos africanas. A narrativa trata da vida de Ngunga, menino importância do voto, o papel dos partidos políticos, a
de vítimas da Ditadura Civil-Militar brasileira para o de 12 anos que se inseriu na guerrilha do Movimento manutenção e a garantia dos direitos humanos. Já em É de suma importância, portanto, que a leitura
exercício da EDH: Popular de Libertação de Angola (MPLA), em luta A Ditadura é Assim, o convite para a reflexão sobre crítica da violência de Estado possa sair dos
contra Portugal. O livro passou a integrar o conteúdo os impactos de um regime autoritário é promovido nichos acadêmicos e alcançar toda a extensão da
Apresentar ao pequeno leitor curricular das escolas angolanas. por meio da narrativa do cotidiano de um ditador. Na população, permitindo a esta última descortinar a
histórias de infâncias marcadas edição brasileira deste segundo livro, foram incluídas verdade desde a infância, uma vez que a memória
pelo trauma do terror político e Já na Argentina, a consolidação do reconhecimento caricaturas de Ernesto Geisel para ilustrar o ditador. de nossa Ditadura Civil-Militar permanece em
violência praticada pela ditadura abre do direito à memória e à verdade e sua inserção constante disputa, como podemos observar pelos
caminho para uma proposição mais em conteúdos formais e não formais de educação Outra obra nacional que merece destaque é o livro seus saudosistas e perpetradores em cargos de
profunda e formativa, pois extraem ganharam força a partir de 1985, com a publicação Quando Voltei, Tive Uma Surpresa, de Joel Rufino dos exposição e decisão política. Recordar e educar são
da memória, do testemunho e dos do Informe de la Comissión Nacional sobre la Santos. O mesmo apresenta cartas escritas pelo autor, formas de resistência e permanecem cruciais para a
relatos de experiências vividas os Desapareción de Personas, intitulado Nunca Más. enquanto preso político no presídio do Hipódromo, consolidação democrática.
mais importantes elementos para a ao seu filho de 8 anos, com relatos reais sobre suas
Figura 6 –“Crianças em mobilização por
constituição da memória coletiva. Nesse sentido, dentre outras produções, enfatizamos atividades no cárcere; traz também narrativas literárias
direitos em episódio da atividade de
(VIEIRA, 2016. p. 93.) o livro infantil Quien Soy? Identidad, nietos y reecuentro sobre a história do Brasil. Teresa Garbayo dos Santos, contação de história”. Acervo MRSP.
20 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 21
INVENTARIANDO CORPO E CULTURA: A SABEDORIA POPULAR
BRASILEIRA NA SALA DE AULA
INVENTARIANDO CORPO E CULTURA: A SABEDORIA
POPULAR BRASILEIRA NA SALA DE AULA
Todo professor é um narrador O conceito de cultura é tema de análise das ciências A quem se dispõe ao contato com o lúdico para
em potencial, pois, assim como o humanas. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman prática de atividades em educação, portanto,
contador de estórias, ele também (2012), reconhecido pesquisador na área, em Ensaios recomenda-se que faça o inventário de suas origens,
é um portador da palavra, aquele sobre o conceito de cultura, ressalta o conflito de seu registro cultural, de sua ancestralidade. Quais
que leva a palavra até o que escuta. inerente a esse conceito, que apresenta um caráter são suas influências estéticas e por quê? Quais
Acredito que todas as pessoas tenham ao mesmo tempo conservacionista – ferramenta de registros imateriais lhe foram trazidos por sua família,
esse narrador em potencial dentro de perpetuidade – e mutável – representando o novo e pelos lugares em que viveu? Questionar-se sobre
si, pois o narrar é típico do humano, a criatividade. Para a educação, essa tensão é um a própria bagagem imaginária é trabalhar a quebra
mas o professor exercita com maior convite à reflexão sobre cultura popular, erudita, de preconceitos e paradigmas e se disponibilizar a
frequência esse expressar-se por globalizada e marginalizada. perceber também o outro, sem apor-lhe rótulos, mas
meio de palavras e gestos culturais vendo-o como um ser preenchido de potencialidades.
que ensinam; logo, penso que eles O recorte da “cultura brasileira” não é unificado, pois Reconhecer o outro nesta lógica pressupõe o
poderiam estar mais próximos desse volta o olhar para as mais diversas práticas, costumes, exercício ativo da alteridade, entendendo nessa
narrador ancestral que habita em artes e tradições. As expressões e estruturas de perspectiva que a esfera cultural é o lugar do
nós. (...) não há fórmulas nem receitas resistência e difusão social passam por um processo desdobramento da compreensão e ressignificação
infalíveis a serem seguidas: o que estético de higienização para agradar às elites e às da realidade e das contestações sobre as ideologias,
precisa, em geral, ser feito é acordar pautas midiáticas. Nesse sentido, o funk carioca, lócus de construção dos agentes no processo de
esse narrador ancestral que existe o contador de causos caiçara, a baiana do acarajé, modificação ou manutenção das relações e das
em nós (...). entre outros, são apropriados no interior de sua estruturas sociais.
reprodutibilidade para pertencer a um “refinamento”
(RUBIRA, 2006. p. 197) que vende mais, exporta mais e adota o conceito Da mesma forma, inventariar o corpo e a cultura dos
hierárquico de intelectualidade para tornar-se aprendizes abre possibilidades para a criação de
agradável aos moldes mercadológicos. Parafraseando material referencial, princípios dos quais se partir
Walter Benjamin (1994, p. 171-172), quando “o critério ou lugares a se chegar, de acordo com o trabalho
da autenticidade deixa de se aplicar à produção proposto. Pode-se levantar esse inventário a partir
artística, toda a função social da arte se transforma. de estímulos musicais, proposições de pesquisa
Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se de memória oral com familiares, danças em roda e
em outra práxis, a política”. outras dinâmicas corporais, de forma que o aprendiz
se reconheça no processo e possa, assim como o
Costumes, danças, músicas e tradições não são educador, se reconhecer também no registro cultural
apenas vendáveis. O valor da experiência de um povo do outro.
historicamente colonizado, marcado por um presente
e passado de violências, é também resistência. O Portanto, quando acionamos o ensino da cultura
olhar do educador para sua própria história pessoal popular, somos levados a perceber a indissociável
e social, reconhecendo e inventariando sua cultura, relação entre o processo de “homogeneização
abre possibilidades para a valorização também do cultural” voltado ao consumo e o contraponto das
outro, o ouvinte, o educando. A troca de saberes se vivências locais, ambos elementos definidores de
faz possível quando a experiência de cada indivíduo identidades no mundo contemporâneo. O educador,
é validada e ganha papel de protagonismo no ensino- enquanto mediador de certa camada deste processo,
aprendizagem. Sobre a descoberta constante do saber trabalha ativamente como artista na consolidação
do educador, diz Paulo Freire: do mosaico de resistências e reinterpretações,
na consolidação ou rompimento de estruturas no
O sonho viável exige de mim pensar processo de enculturação.
diariamente a minha prática, exige
de mim a descoberta, a descoberta
constante dos limites da minha própria
prática, que significa perceber e
demarcar a existência do que eu chamo
espaço livres a serem preenchidos.
(FREIRE in BRANDÃO, 1982, p.100).
24 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 25
INVENTARIANDO CORPO E CULTURA: A SABEDORIA
POPULAR BRASILEIRA NA SALA DE AULA
PRATIQUE A EDUCOMUNICAÇÃO
Estimule o protagonismo dos que vieram depois de
você, compartilhando as ferramentas de pesquisa e
inventário da cultura com as crianças e jovens – há
uma infinidade de produtos possíveis nessa prática,
como programas de rádio, podcasts, zines, cartilhas,
livros colaborativos...
EXPERIMENTE O NOVO
Nossos costumes são transformados historicamente
pela migração, globalização, capitalismo... Ouça Figura 7 – Dinâmica do candeeiro – Curso Figura 8 – Oficina de cultura popular.
músicas que não são de sua região ou registro de Educar, Contar e Brincar para Resistir, Educar, Contar e Brincar para Resistir,
memória, perceba as semelhanças da batida, melodia, edição 2016. Acervo MRSP. 1ª edição, 2016. Acervo MRSP.
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EDUCAR, CONTAR E BRINCAR
PARA RESISTIR – O CURSO
EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR – O CURSO
30 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 31
EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR – O CURSO
53% SIM
Pelo fato de o curso Educar, Contar e Brincar 10 Os nomes dos participantes foram abreviados
para Resistir (ECBR) se configurar de modo para privacidade.
18% MUITO
ambiente diverso de atuação dos educadores,
cultivando a cultura da oralidade, promovendo leituras
em DH e expandindo os saberes para que novas
proposições de trabalho possam surgir, como vemos
no gráfico a seguir.
24% À CONJUNTURA
SIM, DEVIDO
42,9% EDUCAÇÃO
O primeiro gráfico, elaborado a partir de uma Percebemos, assim, a necessidade da formação
síntese de respostas abertas, nos mostra que, dos contínua de educadores em e para Direitos
participantes que responderam à avaliação, a maioria Humanos, lembrando de Schwarcz (2019): “Direitos
considerou que a proposta do curso contribuiu muito
para sua formação cidadã, principalmente em face da
conjuntura de 2018. Citamos uma das respostas:
conquistados nunca foram direitos dados, e os novos
tempos pedem, de todos nós, vigilância, atitude cidadã
e muita esperança também.” Além disso, podemos
FORMAL
apreender que a relevância da aprendizagem de novas
57,2% FORMAL
NÃO
Perfeitamente. Nos tempos atuais de metodologias de expansão da abordagem do direito à
recrudescimento do conservadorismo memória e à verdade extrapola o ambiente presencial,
a oportunidade de capacitar-se para como podemos ver no seguinte comentário de
a contação de histórias alicerça avaliação do curso aplicado em ambiente virtual,
minha formação e possibilita de 2021:
a luta pela ampliação de meus
14,3% OUTROS
ESTUDANTE
direitos de cidadania, mas não só: o Como pesquiso cursos virtuais de
conhecimento adquirido extrapola Direitos Humanos, com enfoque no
minha individualidade e pode ter Direito à Memória e à Verdade, já fiz
impacto social na formação de crianças, inúmeros cursos online. Para mim, os
adolescentes, jovens e adultos, pessoas cursos do Memorial da Resistência
comuns e colegas de trabalho, de são os melhores porque trouxeram
militância e membros de minha família o conhecimento e metodologia dos
e de minha comunidade. (Participante cursos presenciais para o ambiente
ECBR, 2018. Fonte: MRSP) virtual. (T.Y.S.10, 2021. Fonte: MRSP)
32 33
EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR – O CURSO
A quinta edição do curso, em 2021, contou com preparar planos de aula – mesmo que Gráficos 3 e 4 – Respostas dos formulários
a participação de alunos egressos de outros não tivessem relação com a contação de avaliação da 3ª e 5ª edição do Curso
anos, além de novos educadores em busca de de histórias em si. Ainda, o curso foi a Educar, Contar e Brincar para Resistir, 2018
e 2021. Fonte: MRSP.
formação. Destacamos dois relatos de aplicação minha porta de entrada para o universo
dos conhecimentos adquiridos em 2018. O primeiro, da contação de histórias, de modo
de A.V., resultou no desenvolvimento de atividades que após a edição de 2018 procurei
em educação formal, enquanto J.C.F., estudante participar de mais cursos sobre esse
universitária, desfrutou do conteúdo teórico: tema. (J.C.F., 2021. Fonte: MRSP)
35,3% ORALIDADE
portanto, formas efetivas e condições reais de convívio
democrático, trabalhando também pela busca da
garantia e ampliação de direitos.
76,5% LUDICIDADE
ramificações de público que o museu, sozinho, não
poderia. Ressaltamos aqui a importância de mais
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PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES
E EDUCADORES NÃO-FORMAIS
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
EDUCAÇÃO INFANTIL
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES
E EDUCADORES NÃO-FORMAIS
O exercício da imaginação é priorizado nas atividades Nesta fase da aprendizagem, o professor assume A transposição do cotidiano do ensino-aprendizagem O Mundo no Black Power de
com crianças de 0 a 6 anos, uma vez que possibilita o papel de leitor, narrador e mediador do conteúdo. para o universo lúdico da contação de histórias deve Tayó, de Kiusam de Oliveira
a expressão e a interação, além de auxiliar no Para tanto, é necessário selecionar a literatura de motivar a reflexão sobre a experiência do educador e ilustração de Taísa Borges
desenvolvimento da oralidade e da percepção. acordo com a faixa etária, não só em sua substância e dos educandos. Quando há possibilidade de sair (Peirópolis, 2013);
Dessa forma, a sugestão de trabalho é a contação teórica, mas em quantidade de páginas e ilustrações, da sala e utilizar o ambiente externo, como o jardim,
de histórias com a utilização de literatura voltada à avaliando o tempo para aplicação de uma contação de por exemplo, cria-se a dilatação da vivência, abrindo Quem Manda Aqui?, de Larissa
Educação em Direitos Humanos, estimulando os histórias pontual ou um projeto estendido. a percepção dos participantes não só para o que é Ribeiro, André Rodrigues, Paula
pequenos ouvintes a participar em atividades lúdicas. contado, mas também para os estímulos visuais, táteis Desgualdo e Pedro Markun
e outros presentes no local escolhido. Desta forma, (Companhia das Letrinhas, 2015);
aguça-se a curiosidade e provoca-se a presença; o que
acontece e onde acontece tornam-se focos de atenção Pássaro Amarelo, de Olga de
e posterior memorização, análise e aprendizado. Díos (Boitatá, 2016);
Assim, mesmo que o uso de outro espaço para a Pode pegar!, de Janaina Tokitaka
atividade seja impossibilitado, é recomendável a (Boitatá, 2017);
preparação de um ambiente voltado à contação
de histórias, sendo possível seu preparo com Amoras, de Emicida
luzes, cenário, objetos, almofadas e outros (Companhia das Letrinhas, 2018);
materiais disponíveis.
Lute como uma Princesa, de
Vita Murrow (Boitatá, 2019).
40 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 41
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES
E EDUCADORES NÃO-FORMAIS
1.3 1.4
COMO CONTAR? E DEPOIS?
As ferramentas para a contação de histórias vão NARRAÇÃO FIGURINO Crianças na educação infantil, dependendo de sua
depender do acervo (pessoal ou do espaço) e do Alteração dos tons de voz para destaque de palavras, Caso o educador utilize um uniforme de trabalho, é idade, desenvolvimento ou interesse, podem pedir que
repertório do educador. Em seu inventário cultural, personagens ou situações. Caso mais de um educador interessante vestir um figurino para o momento da a história seja contada mais uma vez. Nesta hipótese,
tratado anteriormente, é possível selecionar canções, se disponha à atividade, dividir personagens ou contação, auxiliando na transposição para o universo a sugestão é que se dê prioridade à roda de conversa
instrumentos, objetos e até formas de contar, vindas momentos da história. lúdico. A vestimenta pode fazer referência ao que será sobre a história para só então recontar, caso exista
da memória, da observação e de práticas anteriores. contado ou servir apenas para caracterizar o contador, tempo, ou recontar em outro dia. Da mesma forma,
Seguem pontos para levar em consideração: ACESSIBILIDADE mas deve ser trabalhada com cautela para que o outras atividades podem ser desenvolvidas antes
Dispor de intérprete de Libras / educador surdo para exagero não chame mais atenção do que o que é ou depois, desde desenhos das personagens até
atingir público maior. contado. Há também a possibilidade de que o figurino desenvolvimento de murais sobre a história, a depender
seja o próprio cenário, através de avental/vestido/saia do tempo destinado ao projeto.
EXPRESSÃO CORPORAL que interaja com os objetos utilizados na contação,
O rosto é importante para a compreensão do que se com a utilização de broches ou múltiplos bolsos,
diz, mas o restante do corpo não deve ser ignorado. por exemplo.
Mãos, tronco e pés podem enfatizar, discordar e
criar sugestões. SONORIDADE
Instrumentos melódicos e/ou percussivos para
RITMO incursões musicais e efeitos sonoros. Podem ser
Algumas literaturas trazem rimas e brincadeiras com utilizados instrumentos de material reciclado, assim
palavras, sendo estímulos sonoros e desafios ao leitor. como objetos cotidianos (chapas de raio X, sinos,
Da mesma maneira, outros textos podem ganhar caixas de fósforos...).
ênfase com atenção ao ritmo.
INTERAÇÃO
RECURSOS VISUAIS Abrir momentos para participação e protagonismo
Fantoches, objetos que representem os personagens dos ouvintes, sugerindo tarefas (“quando aparecer
(podendo ser, inclusive, iconográficos, como óculos o pássaro vocês fazem o som”), dinâmicas (“vamos
representando a professora), placas, sombras, fazer nossa própria manifestação?”) e/ou inserindo
flanelógrafos, desenhos. perguntas que capturem o ponto de vista deles (“você
conhece mais alguém com cabelo black power?”).
42 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 43
MALETA DE HISTÓRIAS
ENSINO FUNDAMENTAL I
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E
EDUCADORES NÃO-FORMAIS
NOSSAS
SUGESTÕES
46 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 47
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E
EDUCADORES NÃO-FORMAIS
1.1 1.4
LEITURA ENSAIO
A primeira leitura é feita pelo educador para toda Os grupos experimentam maneiras de contar suas
a sala, utilizando o conhecimento dos educandos histórias, utilizando seus adereços e trocando de
para separação de sílabas, destaque de palavras narrador/personagem até encontrarem a forma que
desconhecidas e debate temático. Em um segundo lhes traz mais alegria e segurança.
momento, entrega-se cada livro aos respectivos
grupos para que se familiarizem com a escrita, a
organização e as ilustrações.
1.2 1.5
LIVRO EM CASA APRESENTAÇÕES
Os grupos levam o livro para casa a fim de Seguindo o cronograma, as apresentações podem
compartilhá-lo com seus pais e responsáveis, de acontecer em dias diferentes ou todas juntas,
acordo com cronograma. Nesta fase, os educandos num evento para outras salas e/ou as famílias. O
recebem orientação de atividades com a família, educador se mantém no apoio, sendo o protagonismo
destacando não apenas a leitura, mas momentos de das crianças.
conversa sobre o tema, além do preenchimento da
ficha de leitura elaborada pelo educador de acordo
com o nível de aprendizagem da turma (“quais são os
personagens?”, “do que fala a história?”).
1.6
PÓS-PROJETO
1.3 E depois? As apresentações podem ser gravadas e
PREPARAÇÃO exibidas a critério da instituição; as turmas podem
fazer uma roda de conversa sobre seus livros favoritos;
os temas que despertaram mais atenção podem
Em grupos, os educandos comparam suas fichas de
ser trabalhados em novos projetos; murais podem
leitura e trocam as experiências que tiveram em casa.
ser desenvolvidos com ilustrações dos educandos;
Preparam, então, sua própria contação de histórias
uma exposição de leitura pode apresentar as fichas
com o auxílio do educador. Nesta fase, estimula-se
e os adereços de cada grupo... A depender do
a busca e/ou a criação de adereços e objetos para
tempo disponível para o projeto, não há limites para
a apresentação.
seus desdobramentos. De toda maneira, os livros
utilizados voltam à maleta, que pode ser inserida em
novas atividades.
48 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 49
DEIXA QUE EU CONTO...!
ENSINO FUNDAMENTAL II
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E
EDUCADORES NÃO-FORMAIS
52 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 53
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E
EDUCADORES NÃO-FORMAIS
Da mesma maneira que os livros, outras temáticas A apresentação final do projeto pode constar no
podem ser trabalhadas dentro das áreas do calendário escolar dentro de feiras e exposições
conhecimento, a critério dos educadores. De forma abertas para as famílias e a comunidade, sendo as
interdisciplinar, o educando fica responsável pelo pesquisas realizadas nas diversas disciplinas expostas
alinhamento de sua pesquisa com base nos estudos em ambientes temáticos com a mediação dos
trazidos pelas disciplinas, podendo, para isso, usar próprios alunos e o auxílio dos educadores envolvidos.
um caderno ou bloco especial. Caso o projeto seja A contação de histórias pode acontecer em horário
aplicado de maneira transdisciplinar, um educador determinado ou ser exibida através de gravações, e
ou um conjunto deles podem ser eleitos como cópias das cartas desenvolvidas podem ser enviadas a
orientadores de projeto, acompanhando a turma em seus destinatários.
cada etapa das atividades e no desenvolvimento final.
54 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 55
O EU CONTADOR E CRIADOR
ENSINO MÉDIO
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E Componente curricular transversal presente
11
no itinerário formativo inserido na reforma do
Os alunos do último ciclo da educação básica aplicação do projeto levam em conta as opções da ÁREA DO CONHECIMENTO / Quando eu Voltei, Tive uma
já estão inseridos no mercado de trabalho e nas escola, do grupo de educadores (se por disciplina, COMPONENTE CURRICULAR PROJETO Surpresa, de Joel Rufino dos
formações técnicas, ou estão a ponto de se inserir área do conhecimento ou de maneira transdisciplinar) Santos (Rocco, 2000);
Linguagens • Peça teatral;
neles. Nesse sentido, o trabalho com a contação de e do próprio educando de acordo com seu Projeto
• Vídeo de contação de histórias;
histórias voltado à EDH busca ir além da experiência de Vida11. K. Relato de uma Busca, de
• Websérie;
do educando enquanto espectador, estimulando a Bernardo Kucinski (Companhia
• Crônicas, cordéis e exploração de
produção de reflexões e a consciência crítica através As leituras estariam, deste modo, a cargo de um aluno das Letras, 2012);
gêneros literários;
do estímulo à sua própria contação e/ou à criação de ou grupo de alunos que se disponibilizassem para o
• Performances e instalações.
novos materiais baseados na literatura escolhida, com projeto, sendo acompanhadas por ficha de leitura com Azul Corvo, de Adriana Lisboa
aprofundamento por área de conhecimento. a orientação de um educador. Para o desenvolvimento (Alfaguara, 2010);
Tecnologia e inovação • Desenvolvimento de games;
do material, sugere-se planejamento dentro dos
• Criação de plataformas de acesso
A juventude pode não se interessar em assistir a uma componentes curriculares, conforme tabela ao lado: Quarto de Despejo, de Carolina
às pesquisas;
contação de histórias, mas gostará de ser ela mesma Maria de Jesus (Francisco
• Animações.
a contadora. Neste caso, as atividades voltadas aos A apresentação final do projeto pode constar no Alves, 1960);
outros ciclos de ensino podem ser adaptadas para calendário escolar dentro de feiras e exposições
Ciências humanas • Ciclos de seminários e debates;
que o jovem aplique a contação em evento para a abertas para as famílias e a comunidade, sendo as Infância Roubada - Crianças
• Resgate de memória na
comunidade ou instituição parceira, com o uso dos pesquisas realizadas nas diversas disciplinas expostas Atingidas pela Ditadura Militar
comunidade;
livros recomendados a cada faixa etária e público alvo. em ambientes temáticos com a mediação dos próprios no Brasil, da Comissão da Verda
• Projetos de pesquisa;
alunos. Já a contação de histórias, caso aconteça em do Estado de SP (ALESP, 2014);
• Organização de propostas
Outra opção para o Ensino Médio é o estímulo ao outra instituição, pode ter sua gravação projetada ou
político-sociais.
“eu criador” para que desenvolva seus pontos de exposta em fotografias. Brasil: Ditadura Militar. Um
vista e crie aplicações com base na literatura voltada Livro para os que Nasceram
à memória, à verdade e à justiça. Diante disso, a Bem Depois, de Joana D'Arc
escolha dos livros e a postura metodológica de Fernandez Ferraz, Elaine de
Almeida Bortone e Diane Helene
(FERRAZ et al., 2012);
58 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 59
CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR
EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E
EDUCADORES NÃO-FORMAIS
EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR
A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA
À MEMÓRIA E À VERDADE
PLANO DE PROJETO
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
QUE HISTÓRIA VOU CONTAR? POR QUE ESSA HISTÓRIA?
Acrescente editora e edição O que nela me inspira?
CONTAR E BRINCAR
PARA RESISTIR
EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL
62 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 63
BIBLIOGRAFIA
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64 65
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO CADERNO DE EXPERIÊNCIAS Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha Catalográfica feita pelo autor
Coordenação Editorial
RODRIGO GARCIA Coordenadora Aureli Alves de Alcantara Memorial da Resistência de São Paulo.
Governador do Estado de São Paulo Ana Pato Educar, contar e brincar para resistir : a Ditadura
Militar e o direito da criança à Memória e à Verdade [recurso
Projeto Gráfico eletrônico] / coordenação editorial Aureli Alves de Alcantara ;
SÉRGIO SÁ LEITÃO Coordenadora da Ação Educativa Tamara Lichtenstein apresentação Ana Pato e Aureli Alves de Alcantara ; textos
Secretário do Estado de Cultura e Economia Aureli Alves de Alcantara Yugo Borges (assistente) Hanna Carolina Silva Ferreira -- São Paulo : Memorial da
Criativa Resistência de São Paulo, 2021.
Educadores Ilustração 65 p. : il. - (Caderno de Experiências ; 1)
CLÁUDIA PEDROZO Alexia Sayuri Hino, Ana Carolina Ramella Rey Ammon, Cibele Lucena
Secretária Executiva do Estado de Cultura e Daniel Augusto Bertho Gonzales, Guilherme Bertolino ISBN 978-65-89070-17-7
Economia Criativa Nunes, Marcus Vinicius Freitas Alves Textos
1. Educação em direitos humanos. 2. Democracia.
Hannah Carolina Silva Ferreira 3. Direito à memória e à verdade. 4. Contação de histórias.
FREDERICO MASCARENHAS Centro de Referência I. Memorial da Resistência de São Paulo. II. Coordenação
Chefe de Gabinete do Estado de Cultura e Caio Vargas Jatene e Julia Cerqueira Gumieri Revisão editorial. III. Apresentação. IV. Textos.
Economia Criativa Marcelo Cipolla
Ação Cultural
Conselho de Orientação Cultural do Memorial Carolina Faustini Junqueira CDD 370.71
da Resistência de São Paulo
Carla Gibertoni Carneiro, Lauro Pereira Ávila, Comunicação
Paulo Vannuchi, Renan Honório Quinalha Bruna Caetano de Deus, Daniela Campos (estagiária)
Diretor Geral
Jochen Volz