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CADERNO DE EXPERIÊNCIAS MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO

EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA


MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE
CADERNO DE EXPERIÊNCIAS MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO

EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA


MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE
2021
Olá, Educador,

A série Caderno de Experiências se configura O desafio foi prontamente aceito pela equipe do de educação e cultura e para a abordagem de tantos 1
Bacharela em Comunicação das Artes
como um conjunto de materiais de apoio às práticas educativo, que entende que a formação junto a outros temas sensíveis. do Corpo com habilitação em teatro e
de Educação em Direitos Humanos organizados a multiplicadores, professores, educadores e estudantes performance pela PUC de São Paulo,
pós-graduada em Direção Teatral pela
partir das vivências e conhecimentos adquiridos universitários é fundamental para o desenvolvimento Esperamos que este material possa servir de
Faculdade Paulista de Artes. Diretora das
pelo Programa de Ação Educativa do Memorial da de projetos interdisciplinares, visando à ampla inspiração para sua prática, colaborando com o Cias. Teatro de Trincheira e Mamulengo de
Resistência de São Paulo, no âmbito da educação discussão sobre as temáticas tratadas pelo Memorial. Educar para Nunca Mais e materializando o direito Si Mesmo, foi educadora no Memorial da
em museus. Com essa série, cujo tema são as ações da criança à memória e à verdade. Vamos juntos, Resistência de São Paulo de 2014 a 2017,
educativas que podem ser aplicadas e/ou adaptadas Assim, o Caderno de Experiências “Educar, Contar pelas próximas páginas, educar, contar e brincar ministrando oficinas no curso Educar,
a outros espaços de educação formal e não formal, o e Brincar para Resistir: a Ditadura Militar e o Direito para resistir! Contar e Brincar para Resistir nas edições
Memorial desenvolve mais uma importante iniciativa da Criança à Memória e à Verdade” foi organizado de 2016, 2017 e 2021.

voltada a potencializar a construção do diálogo em a partir de um processo dialógico entre o Memorial Ana Pato | Coordenadora do Memorial da
nossa sociedade. e o seu público. O presente material funciona como Resistência de São Paulo
registro do trabalho desenvolvido. Os conteúdos
O Memorial da Resistência compreende que o apontados e as propostas de atividades elencadas Aureli Alves de Alcantara | Coordenadora do
processo educativo é uma construção compartilhada estão embasadas no conteúdo programático das Programa de Ação Educativa do Memorial da
com o seu público com vistas à cidadania ativa, cinco edições do curso, a última delas (realizada em Resistência de SãoPaulo
à valorização da democracia e ao respeito aos ambiente virtual em virtude da pandemia do Covid-19)
direitos humanos, e é esse olhar que fundamenta o ministrada pela educadora Hannah Ferreira1, a
desenvolvimento de suas atividades e os materiais de quem gostaríamos de agradecer, pois foi também a
apoio ao educador. Tem como um de seus objetivos responsável pela redação do material.
responder às expectativas, angústias e interesses dos
profissionais que atuam na área da educação e da Nas páginas a seguir, você encontrará reflexões sobre
cultura, enfrentando os desafios postos pelo trabalho a Educação em Direitos Humanos e as formas como a
com temáticas sensíveis. instituição aplica ferramentas lúdicas para aproximar
o público infantil da temática da ditadura civil-militar
Nesse sentido, a vocação educativa de uma instituição e dos direitos humanos, com destaque especial
museológica instalada em um lugar de memória que para as ilustrações de Cibele Lucena, desenvolvidas
abrigou, entre 1940 e 1983, o Departamento Estadual especialmente para o caderno; apontamentos sobre
de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP), as obras de literatura infanto-juvenil que trabalham
órgão repressivo que atuou de maneira sistemática na com ambas as temáticas; um arrazoado sobre
violação de direitos humanos – sobretudo durante a a experiência do curso Educar, Contar e Brincar
ditadura civil-militar (1964-1985) –, tem seu caminho para Resistir; e, por fim, sugestões de atividades a
pautado principalmente pelas duas dimensões da serem aplicadas e adaptadas a partir de técnicas de
Educação em Direitos Humanos: o Educar para Nunca contação de histórias para segmentos da educação
Mais e o Direito à Memória e à Verdade. formal e não formal, ampliando as possibilidades de
discussão sobre direitos humanos.
O curso "Educar, Contar e Brincar para Resistir: a
Ditadura Militar e o Direito da Criança à Memória Cabe aqui ressaltar a importância da interface
e à Verdade" nasceu a partir do desafio posto pelo entre a educação em museus e o ensino formal e
professor universitário Cleber Santos Vieira (ver nota não formal para a produção de conhecimento e o
6 - página 31) que conhecia as atividades lúdico- desenvolvimento de soluções capazes de facilitar
pedagógicas com jogos e contação de histórias a tarefa do professor/educador nos processos
desenvolvidas pelo Memorial e destinadas a crianças de ensino-aprendizagem a partir do acervo, do
de 6 a 10 anos. A proposta era desenvolver um patrimônio (edificado ou não), das exposições e
curso de extensão destinado aos alunos do curso da expertise de educadores que trabalham com
de licenciatura em história, com vistas a apresentar diferentes ferramentas pedagógicas nas instituições
alternativas lúdicas para o trabalho com temas museológicas. Aqui, a ênfase recai sobre a potência
relacionados à ditadura militar, com o ensino de dos processos educativos com contação de histórias,
história e com os direitos humanos a partir do recorte que podem ser adaptados para quaisquer espaços
ao direito da criança à memória e à verdade.

4
SUMÁRIO

Fundamentos introdutórios da 8 Propostas de atividades para 36


Educação em Direitos Humanos professores e educadores
não-formais
O trabalho lúdico em espaço de 12
memória: o caso do Memorial 1. Contação de histórias 38
da Resistência de São Paulo Educação Infantil

A educação em Direitos 18 2. Maleta de histórias 44


Humanos e a literatura Ensino Fundamental I
infanto-juvenil
3. Deixa que eu conto...! 50
Inventariando corpo e cultura: a 22 Ensino Fundamental II
sabedoria popular brasileira na
sala de aula 4. O eu contador e criador 56
Ensino Médio
Educar, Contar e Brincar para 28
Resistir – O Curso 5. Contar e brincar para resistir 60
Educação não-formal

Bibliografia 64
FUNDAMENTOS INTRODUTÓRIOS DA EDUCAÇÃO
EM DIREITOS HUMANOS
FUNDAMENTOS INTRODUTÓRIOS DA EDUCAÇÃO
EM DIREITOS HUMANOS

Quando o homem compreende


a sua realidade, pode levantar
hipóteses sobre o desafio dessa
realidade, e procurar soluções.
Assim pode transformá-la, e
com seu trabalho, pode criar
um mundo próprio: seu eu e
suas circunstâncias.

FREIRE, 1979, p. 30-31

Como resultado das lutas sociais e do pensamento mostras de que sabe se organizar e direitos que dela derivam, sendo integral – cognitiva, efetivação – desafios dos quais alguns têm relação
da humanidade, os Direitos Humanos, ressignificados lutar por seus direitos. As mulheres afetiva e voltada para a ação – e orientada para que com a formação continuada dos professores e a
e ampliados ao longo do tempo, se consagraram não vão voltar para o fogão, os negros os educandos se reconheçam e se comportem como concepção ideológica das instituições de ensino.
através de acordo na Assembleia Geral das Nações e negras que completaram o ensino verdadeiros sujeitos de direitos, exercendo ativamente
Unidas em 1948, que promulgou o primeiro grande superior e hoje se encontram em a cidadania, a convivência democrática e uma cultura Considerando ainda a diversidade dos processos
instrumento de valores fundamentais, como a lugares de liderança não recuarão de de inclusão e paz. formativos vivenciados em contextos plurais de
equidade e a dignidade da vida humana, protegendo suas posições, a população LGBTTQ socialização, destaca-se o papel dos espaços não
os cidadãos contra violações até mesmo por parte vai continuar a andar de braço dado A EDH é, portanto, uma prática de mediação entre formais de educação, como bibliotecas, museus,
dos Estados. No Brasil, a Constituição Cidadã de 1988 pelas ruas, os indígenas lutarão e as normas de DH e sua vigência na vida social. É um centros de recreação, parques e outros. Família
promulgou esses direitos replicando a Declaração farão valer seus direitos às terras instrumento concreto para prevenir violações a esses e sociedade civil atuam, nesse sentido, como
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) em seus hoje invadidas, líderes de religiões de direitos e busca ser um motor de transformações fomentadores na construção de propostas voltadas à
artigos, consolidando a nova fase democrática matriz muçulmana e afro-brasileira entre os indivíduos e a sociedade. EDH, contribuindo para o reconhecimento, a defesa e
com o compromisso com a justiça social, como cultuarão seus deuses abertamente. o fortalecimento dos Direitos Humanos.
afirma Bobbio (1992): “hoje, o próprio conceito de (SCHWARCTZ, 2019, p. 193). Nesse sentido, as Diretrizes Nacionais apontam para
democracia é inseparável do conceito de direitos a importância do ambiente escolar “como tempo e
do homem”. Dentro da conjuntura contemporânea, em espaço potenciais para a vivência e promoção dos
que sofremos golpes, violações de direitos e a Direitos Humanos e da prática da Educação em
Em um quadro histórico em que constam séculos fragmentação dos modelos democráticos, é a Direitos Humanos” (BRASIL, CNE/MEC, 2012). Ainda
de escravização, política oligárquica, complacência educação que privilegia o espaço de análise e de acordo com o mesmo documento, a inserção
com as elites, violência e extermínio direcionados à debate da realidade. Entendendo o movimento dos conhecimentos concernentes à Educação em
população pobre, preta, periférica e indígena, sistemas dialético, é necessário, segundo Saviani (1991, Direitos Humanos na organização dos currículos da
de perpetração do machismo, patriarcado, lgbtfobia p.41), “tornar o homem cada vez mais capaz de Educação Básica e da Educação Superior poderá
e ataques às religiões de matrizes afro-brasileiras, conhecer os elementos de sua situação para intervir ocorrer pela transversalidade (considerando também
além de ditaduras que consolidaram o poderio militar, nela, transformando-a no sentido de ampliação da a interdisciplinaridade), como um conteúdo específico
na perseguição e no controle da população, se faz liberdade, da comunicação e da colaboração entre de disciplina já existente no currículo escolar ou de
necessária a luta constante pela defesa, manutenção os homens”. forma híbrida (transversalidade e disciplinaridade).
e ampliação dos Direitos Humanos (DH) no Brasil, de Assim sendo, a EDH deverá ser destacada na
acordo com a historiadora Lilia Schwarcz: Prevista na Declaração Universal dos Direitos elaboração dos Projetos Político-Pedagógicos
Humanos (artigo 26º), no Plano Nacional de Educação (PPP); dos Regimentos Escolares, dos Planos de
Direitos conquistados nunca foram em Direitos Humanos do Brasil (BRASIL, PNEDH, Desenvolvimento Institucionais (PDI) e dos materiais
direitos dados, e os novos tempos SEDH, 2003) e nas Diretrizes Nacionais para a pedagógicos e didáticos, entre outros.
pedem, de todos nós, vigilância, atitude Educação em Direitos Humanos (BRASIL, CNE/MEC,
cidadã e muita esperança também. 2012), a Educação em Direitos Humanos (EDH) é uma Ocorre que a implementação da EDH no espaço
A sociedade civil brasileira tem dado formação sustentada na dignidade das pessoas e nos formal de educação encontra desafios para sua

10 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 11
O TRABALHO LÚDICO EM ESPAÇO DE MEMÓRIA: O
CASO DO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO
O TRABALHO LÚDICO EM ESPAÇO DE MEMÓRIA:
O CASO DO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO

Memórias”, em que os jogos, para além do público 2


Ação da Secretaria Municipal de Educação
agendado, são dispostos ao longo da exposição e de São Paulo que, desde 2001, visa
oferecer o acesso ao repertório cultural
disponibilizados aos visitantes espontâneos. Realizada
e recreativo da cidade de São Paulo a
um sábado por mês, a atividade atrai o público infantil crianças e jovens de 4 a 14 anos durante o
com suas famílias em eventual passeio pelos museus recesso e as férias escolares.
da cidade para refletir sobre a temática.
3
Jogo de adivinhação de desenhos online via
Destaca-se também o programa Memorial ParaTodos, computador, para múltiplos jogadores.
que inclui as pessoas com deficiência na experiência 4
Painel de feltro em que são afixados
do espaço de memória e discussão das temáticas
recortes do mesmo material, funcionando
tratadas pela instituição, através de formação como uma exposição visual com
continuada da equipe, acessibilidade do museu e possibilidade de alternância e reutilização
materiais de apoio em Braille, Libras, audiodescrição de recortes na composição de um cenário.
e objetos multissensoriais, além de roteiros que
privilegiam o pareamento para pessoas com 5
Os Ceccos são unidades não assistenciais
deficiência intelectual, tendo conquistado, até 2021, do serviço de saúde da cidade de São
Paulo que têm como objetivo promover
três prêmios nacionais de acessibilidade em museus.
a convivência e a integração para toda
a população, sobretudo às pessoas que
No âmbito da exploração da ludicidade, já em 2013 a apresentam transtornos mentais, as
Ação Educativa do MRSP disponibilizou a contação pessoas com deficiência física, os idosos e
de histórias baseada no livro Era uma Vez um Tirano, as crianças e adolescentes em situação de
de Ana Maria Machado, a fim de potencializar a risco social e pessoal.
experiência das visitas do público infantil. Munidos
de objetos percussivos, figurino, objetos e um
flanelógrafo4, os educadores narravam a história
da ditadura reimaginada nas metáforas da autora,
convidando os ouvintes a se tornarem protagonistas,
Situado no antigo Departamento Estadual de Ordem A partir desse trabalho em EDH, A Ação Educativa do com participação ativa na expulsão do Tirano.
Política e Social (DEOPS) de São Paulo, o Memorial da MRSP iniciou, em 2012, a adaptação de atividades
Resistência de São Paulo, fundado em 2019 a partir para o público infantil e infanto-juvenil, tendo em A experiência de contação de histórias no espaço
da mobilização do Fórum Permanente de ex-Presos vista a entrada no Programa Recreio nas Férias2. expositivo resultou numa parceria entre o projeto
e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo, Por se tratar de um lugar de memória, foram Memorial ParaTodos e o Centro de Convivência e
tem como missão a valorização e preservação das desenvolvidos recursos educativos em formato Cooperativa (Cecco) Bacuri5 nos anos de 2014 e
memórias da repressão e da resistência políticas de jogos com a temática trabalhada na exposição, 2015, em que os usuários da instituição participaram
no Brasil republicano, com ênfase no período da a fim de serem aplicados pelos educadores em do processo de investigação, criação e contação da
Ditadura Civil-Militar. mediação com o espaço museal, dialogando com os história de Eduardo Leite, apelidado de “Bacuri”, um
contextos históricos. militante contra a Ditadura Civil-Militar que ficou preso
Administrado pela Associação Pinacoteca Arte e no Deops/SP, sendo que o Cecco recebeu seu nome
Cultura, o museu dispõe de exposição de longa Elaborado para aplicação com diferentes faixas para homenageá-lo. Sobre o uso de recursos lúdicos
duração situada no antigo espaço carcerário e etárias, o acervo de materiais conta com jogo da na parceria, dizem os educadores do MRSP:
exposições temporárias com temas relativos à memória, quebra-cabeças gigante, jogo de tabuleiro
instituição. Além de sua programação de exposições, e caça ao tesouro, entre outros, além de adaptações Como explicar para alguém que não
o Memorial da Resistência de São Paulo (MRSP), para a mediação durante a pandemia, como o uso sabe o que é um celular quais são
através de sua equipe de educadores, oferece da plataforma online “Gartic”3 para desenho de suas possibilidades de uso? O seu
gratuitamente ao público atividades formativas e de conteúdos relacionados à repressão, à resistência, funcionamento? Recorreremos a
mediação da temática, expandindo e acessibilizando à memória da Ditadura Civil-Militar e aos DH. recursos lúdicos, e não se trata de
as discussões para públicos de diferentes faixas infantilizar a linguagem: é através de
etárias, formações e atuações profissionais, além de Considerando o direito das crianças e pessoas com metáforas e mergulho no imaginário
pessoas com deficiência. deficiência à memória e à verdade, o MRSP instituiu que conseguimos refletir, ler e até
em sua programação regular a atividade “Tarde de mesmo ressignificar a vida. (DA SILVA, Figura 1 – Jogo da memória com manchetes
GONZALES e FERREIRA, 2017, p. 231). de revistas com circulação na ditadura civil-
militar. Acervo MRSP.

14 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 15
O TRABALHO LÚDICO EM ESPAÇO DE MEMÓRIA,
O CASO DO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO

Também foram oferecidas, a partir de 2016, formações Figura 2 – Jogo da memória com manchetes
para educadores oriundas da contação da história Era de revistas publicadas na época da Ditadura
uma Vez um Tirano: o curso “Educar, Contar e Brincar Civil-Militar. Acervo MRSP.

para Resistir: a Ditadura Militar e o Direito da Criança


Figura 3 e 4 – “Memorial ParaTodos”.
à Memória e à Verdade” e as oficinas “Contando Acervo MRSP.
Histórias e Compartilhando Memórias”, sendo esta
última em parceria com Sistema Estadual de Museus Figura 5 – "Contação de História – Era Uma
(Sisem-SP). Vez Um Tirano”. Acervo MRSP.

O trabalho com o lúdico no MRSP se faz alinhado à


perspectiva de EDH, entendendo que as memórias de
nosso passado de repressão e resistência podem e
merecem ser compartilhadas com todos os cidadãos,
inclusive as crianças, como sujeitos de direitos e
protagonistas dos movimentos de democracia do
presente. A utilização de ferramentas de estímulo
sonoro, visual e sensorial não só atraem, mas mediam
a experiência no apropriar-se da linguagem infantil,
sem desviar da seriedade de nossa história.

16 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 17
A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E A LITERATURA
INFANTO-JUVENIL
A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
E A LITERATURA INFANTO-JUVENIL

(ANDRUETTO et al., 2013), baseado em relatos esposa de Joel Rufino e mãe de seu filho, faz uma
de filhos de mortos e desaparecidos políticos na descrição da obra no prefácio:
época da ditadura. Para além da transmissão de
conhecimento, o livro denuncia os horrores da São cartas ternas, de um pai amoroso,
ditadura argentina, apontando para a necessidade cheias de histórias engraçadas, de
de preservar o direito à memória e à verdade e interesse pelo seu desenvolvimento, e
empreender a luta pela justiça. de muita saudade. Guardei-as todas,
as que chegaram – previamente lidas,
No Brasil, dentre as produções literárias que abordam censuradas e carimbadas – porque
a temática, destacamos o livro infantil O Reizinho eram uma parte da história de vida do
Mandão, escrito em 1978, às vésperas da extinção meu filho e do país em que vivemos.
do Ato Institucional nº 5, que conta a história de um (SANTOS, 2000. p. 7)
menino que assumiu o trono de um reino logo após a
morte de seu pai. O reizinho bradava constantemente Mediante o exposto, podemos perceber que nas
“Cala a boca!”, numa alusão ao silenciamento imposto últimas décadas do século XX e no início do XXI
pela repressão da ditadura. os países marcados pela repressão ditatorial de
seus Estados têm organizado publicações, ações,
Esse tipo de alusão à forma autoritária de governo musealizações e políticas públicas que promovam o
vivenciada no país também foi feita pela autora Ana direito à memória. As formas de lidar com o passado
Maria Machado, que, em 1982, publicou o livro Era traumático, contudo, estão ligadas ao processo de
uma Vez um Tirano, no qual a autoridade maior profere democratização de cada país. A Dra. Ana Paula Brito
as mais absurdas ordens ao seu povo, e acaba por estabelece essa comparação:
fugir quando, após anos de tirania, um grupo de
crianças mobiliza a população pela reconquista de Por exemplo, na Argentina, ainda
seus direitos. no processo de democratização, as
vítimas da ditadura puderam exigir
Em 2015, a editora Boitempo, por meio do selo infantil Justiça através dos Juicios a la Junta
Como e por que abordar experiências tão violentas Segundo o autor, a transformação dessas experiências Boitatá, lança a coleção “Livros para o Amanhã”, com Militar. Já no Brasil, com um contexto
quanto ditaduras para o público infantil? O educador em conteúdos acessíveis às crianças tem sido objeto publicações originárias da editora Gaya Ciencia, de de transição para a democracia
em direitos humanos é um mediador, oferecendo de diversos programas e projetos educacionais em Barcelona, que as disponibilizou três anos após o fim diferente, notadamente marcado pelo
ferramentas para que a criança possa construir suas diferentes países que, em suas especificidades, da ditadura franquista. Seus dois primeiros volumes estabelecimento da Lei de Anistia
próprias ideias e conceitos, enxergando o outro, o vivenciaram ditaduras, como Alemanha, Angola tratam respectivamente de democracia e ditadura. (Lei 6.683/79), que decretou um
mundo e ela mesma. Neste sentido, a obra literária e Argentina. silêncio institucionalizado no país e
funde os mundos real e fictício a partir dos dados No primeiro livro, A Democracia Pode Ser Assim, impossibilitou qualquer processo de
sociais, sendo objeto de uma consciência coletiva. Vieira menciona, como exemplo, o livro Aventuras de a discussão do conceito de democracia parte do justiça, a estratégia das vítimas foi
Cléber Santos Vieira, professor da Universidade Federal Ngunga (PEPETELA,1981), sobre os desdobramentos cotidiano das crianças (hora do recreio e jogo), desenvolver trabalhos de Memória e a
de São Paulo, em seu artigo “A criança e o direito à da ditadura salazarista em relação às colônias convidando o público a refletir sobre as eleições, a busca por Verdade. (BRITO, 2016. p. 2)
memória” (2016), discute a utilização dos testemunhos africanas. A narrativa trata da vida de Ngunga, menino importância do voto, o papel dos partidos políticos, a
de vítimas da Ditadura Civil-Militar brasileira para o de 12 anos que se inseriu na guerrilha do Movimento manutenção e a garantia dos direitos humanos. Já em É de suma importância, portanto, que a leitura
exercício da EDH: Popular de Libertação de Angola (MPLA), em luta A Ditadura é Assim, o convite para a reflexão sobre crítica da violência de Estado possa sair dos
contra Portugal. O livro passou a integrar o conteúdo os impactos de um regime autoritário é promovido nichos acadêmicos e alcançar toda a extensão da
Apresentar ao pequeno leitor curricular das escolas angolanas. por meio da narrativa do cotidiano de um ditador. Na população, permitindo a esta última descortinar a
histórias de infâncias marcadas edição brasileira deste segundo livro, foram incluídas verdade desde a infância, uma vez que a memória
pelo trauma do terror político e Já na Argentina, a consolidação do reconhecimento caricaturas de Ernesto Geisel para ilustrar o ditador. de nossa Ditadura Civil-Militar permanece em
violência praticada pela ditadura abre do direito à memória e à verdade e sua inserção constante disputa, como podemos observar pelos
caminho para uma proposição mais em conteúdos formais e não formais de educação Outra obra nacional que merece destaque é o livro seus saudosistas e perpetradores em cargos de
profunda e formativa, pois extraem ganharam força a partir de 1985, com a publicação Quando Voltei, Tive Uma Surpresa, de Joel Rufino dos exposição e decisão política. Recordar e educar são
da memória, do testemunho e dos do Informe de la Comissión Nacional sobre la Santos. O mesmo apresenta cartas escritas pelo autor, formas de resistência e permanecem cruciais para a
relatos de experiências vividas os Desapareción de Personas, intitulado Nunca Más. enquanto preso político no presídio do Hipódromo, consolidação democrática.
mais importantes elementos para a ao seu filho de 8 anos, com relatos reais sobre suas
Figura 6 –“Crianças em mobilização por
constituição da memória coletiva. Nesse sentido, dentre outras produções, enfatizamos atividades no cárcere; traz também narrativas literárias
direitos em episódio da atividade de
(VIEIRA, 2016. p. 93.) o livro infantil Quien Soy? Identidad, nietos y reecuentro sobre a história do Brasil. Teresa Garbayo dos Santos, contação de história”. Acervo MRSP.

20 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 21
INVENTARIANDO CORPO E CULTURA: A SABEDORIA POPULAR
BRASILEIRA NA SALA DE AULA
INVENTARIANDO CORPO E CULTURA: A SABEDORIA
POPULAR BRASILEIRA NA SALA DE AULA

Todo professor é um narrador O conceito de cultura é tema de análise das ciências A quem se dispõe ao contato com o lúdico para
em potencial, pois, assim como o humanas. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman prática de atividades em educação, portanto,
contador de estórias, ele também (2012), reconhecido pesquisador na área, em Ensaios recomenda-se que faça o inventário de suas origens,
é um portador da palavra, aquele sobre o conceito de cultura, ressalta o conflito de seu registro cultural, de sua ancestralidade. Quais
que leva a palavra até o que escuta. inerente a esse conceito, que apresenta um caráter são suas influências estéticas e por quê? Quais
Acredito que todas as pessoas tenham ao mesmo tempo conservacionista – ferramenta de registros imateriais lhe foram trazidos por sua família,
esse narrador em potencial dentro de perpetuidade – e mutável – representando o novo e pelos lugares em que viveu? Questionar-se sobre
si, pois o narrar é típico do humano, a criatividade. Para a educação, essa tensão é um a própria bagagem imaginária é trabalhar a quebra
mas o professor exercita com maior convite à reflexão sobre cultura popular, erudita, de preconceitos e paradigmas e se disponibilizar a
frequência esse expressar-se por globalizada e marginalizada. perceber também o outro, sem apor-lhe rótulos, mas
meio de palavras e gestos culturais vendo-o como um ser preenchido de potencialidades.
que ensinam; logo, penso que eles O recorte da “cultura brasileira” não é unificado, pois Reconhecer o outro nesta lógica pressupõe o
poderiam estar mais próximos desse volta o olhar para as mais diversas práticas, costumes, exercício ativo da alteridade, entendendo nessa
narrador ancestral que habita em artes e tradições. As expressões e estruturas de perspectiva que a esfera cultural é o lugar do
nós. (...) não há fórmulas nem receitas resistência e difusão social passam por um processo desdobramento da compreensão e ressignificação
infalíveis a serem seguidas: o que estético de higienização para agradar às elites e às da realidade e das contestações sobre as ideologias,
precisa, em geral, ser feito é acordar pautas midiáticas. Nesse sentido, o funk carioca, lócus de construção dos agentes no processo de
esse narrador ancestral que existe o contador de causos caiçara, a baiana do acarajé, modificação ou manutenção das relações e das
em nós (...). entre outros, são apropriados no interior de sua estruturas sociais.
reprodutibilidade para pertencer a um “refinamento”
(RUBIRA, 2006. p. 197) que vende mais, exporta mais e adota o conceito Da mesma forma, inventariar o corpo e a cultura dos
hierárquico de intelectualidade para tornar-se aprendizes abre possibilidades para a criação de
agradável aos moldes mercadológicos. Parafraseando material referencial, princípios dos quais se partir
Walter Benjamin (1994, p. 171-172), quando “o critério ou lugares a se chegar, de acordo com o trabalho
da autenticidade deixa de se aplicar à produção proposto. Pode-se levantar esse inventário a partir
artística, toda a função social da arte se transforma. de estímulos musicais, proposições de pesquisa
Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se de memória oral com familiares, danças em roda e
em outra práxis, a política”. outras dinâmicas corporais, de forma que o aprendiz
se reconheça no processo e possa, assim como o
Costumes, danças, músicas e tradições não são educador, se reconhecer também no registro cultural
apenas vendáveis. O valor da experiência de um povo do outro.
historicamente colonizado, marcado por um presente
e passado de violências, é também resistência. O Portanto, quando acionamos o ensino da cultura
olhar do educador para sua própria história pessoal popular, somos levados a perceber a indissociável
e social, reconhecendo e inventariando sua cultura, relação entre o processo de “homogeneização
abre possibilidades para a valorização também do cultural” voltado ao consumo e o contraponto das
outro, o ouvinte, o educando. A troca de saberes se vivências locais, ambos elementos definidores de
faz possível quando a experiência de cada indivíduo identidades no mundo contemporâneo. O educador,
é validada e ganha papel de protagonismo no ensino- enquanto mediador de certa camada deste processo,
aprendizagem. Sobre a descoberta constante do saber trabalha ativamente como artista na consolidação
do educador, diz Paulo Freire: do mosaico de resistências e reinterpretações,
na consolidação ou rompimento de estruturas no
O sonho viável exige de mim pensar processo de enculturação.
diariamente a minha prática, exige
de mim a descoberta, a descoberta
constante dos limites da minha própria
prática, que significa perceber e
demarcar a existência do que eu chamo
espaço livres a serem preenchidos.
(FREIRE in BRANDÃO, 1982, p.100).

24 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 25
INVENTARIANDO CORPO E CULTURA: A SABEDORIA
POPULAR BRASILEIRA NA SALA DE AULA

COMO FAZER SEU


INVENTÁRIO CULTURAL?

BUSQUE AQUELES QUE O CERCAM


Os melhores guardiões e mobilizadores da cultural
local são os seus habitantes e fazedores. Formule
perguntas e crie laboratórios de observação, bem
como espaços de convivência e ação conjunta.

SEJA ARQUEÓLOGO DE SUA HISTÓRIA


Somos o conjunto de vivências dos que viveram antes
de nós. Busque histórias, fotografias, objetos de seus
antepassados. Entreviste os mais antigos, documente
suas memórias, canções, receitas...

CONHEÇA SUAS INSTITUIÇÕES DE


SALVAGUARDA DA MEMÓRIA
Visite arquivos públicos, museus, parques, bibliotecas
(busque, sempre que possível, o mediador do espaço).
Registre suas experiências, assim como a relação
desses espaços com sua memória pessoal e social.

PRATIQUE A EDUCOMUNICAÇÃO
Estimule o protagonismo dos que vieram depois de
você, compartilhando as ferramentas de pesquisa e
inventário da cultura com as crianças e jovens – há
uma infinidade de produtos possíveis nessa prática,
como programas de rádio, podcasts, zines, cartilhas,
livros colaborativos...

EXPERIMENTE O NOVO
Nossos costumes são transformados historicamente
pela migração, globalização, capitalismo... Ouça Figura 7 – Dinâmica do candeeiro – Curso Figura 8 – Oficina de cultura popular.
músicas que não são de sua região ou registro de Educar, Contar e Brincar para Resistir, Educar, Contar e Brincar para Resistir,
memória, perceba as semelhanças da batida, melodia, edição 2016. Acervo MRSP. 1ª edição, 2016. Acervo MRSP.

instrumentos utilizados. Permita-se dançar e descobrir


quais memórias estavam escondidas em seu corpo.

26 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 27
EDUCAR, CONTAR E BRINCAR
PARA RESISTIR – O CURSO
EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR – O CURSO

6 Possui Graduação (1997) e Mestrado (2001)


em História pela UNESP/Franca; Doutorado
em Educação (2008) pela USP. Professor
Adjunto do Departamento de Educação
da Escola de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da UNIFESP. Docente do Programa
de Mestrado Profissional em Ensino de
História e do Programa de Pós-Graduação
em Educação e Saúde na Infância e na
Adolescência da UNIFESP. Membro do NEAB
– Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da
Unifesp. É presidente da ABPN. (Retirado da
plataforma Lattes – CNPq)

7 Além da parte teórico-prática diretamente


relacionada à contação de histórias, as
edições presenciais contaram com os
seguintes palestrantes: 1. Aureli Alves de
Alcantara (historiadora, especialista em
Museologia e Mestre em Arqueologia) que
coordena o Programa de Ação Educativa do
MRSP e abordou conteúdos relacionados ao
desenvolvimento de projetos interdisciplinares
e as possibilidades de interface entre o ensino
formal e as instituições museológicas. 2.
Renan Ribeiro Beltrame (historiador, cientista
social e Mestre em Educação) que trabalhou
com conteúdos relacionados à Ditadura
Civil-Militar. 3. Cleber Vieira dos Santos,
mencionado em nota anterior, refletiu sobre
a Ditadura Militar e o direito da criança à
Memória e à Verdade. 4. Dulce Muniz (atriz e
ex-presa política) que além das experiências
de vivência no período ditatorial trouxe
A atividade de contação de histórias de Era uma Vez histórias dos grupos de alunos a partir dos livros infanto- Educação em Direitos Humanos e encontram no informações sobre elementos da prática
teatral. A equipe de educadores do Memorial
um Tirano no Memorial da Resistência de São Paulo juvenis apresentados na grade, em um piquenique lúdico MRSP o escopo teórico e prático de que precisam
apoiou o desenvolvimento de várias ações
suscitou nova demanda para a instituição: uma atividade no último encontro. para iniciarem ou aprimorarem suas experiências com das oficinas, especialmente, Ana Carolina R.R.
de formação para educadores e professores que contação de histórias e trabalho pela formação cidadã, Ammon (Mestre em História) e Marcus V. F.
abordasse de maneira prática e teórica a contação de O curso foi replicado nos anos seguintes com pequenas como nos mostram as pesquisas realizadas em 2018 e Alves (historiador).
histórias a partir da perspectiva da Educação em Direitos alterações na grade e em seus ministrantes7, sendo 2021 com os participantes após os cursos. 8 Mestre em Museologia ((PPGMUS-USP em
Humanos e trabalhando com a temática da Ditadura conduzido presencialmente por Alessandra Santiago da 2021). Possui graduação em História pela
Civil-Militar para o público infantil. Silva8 em 2016, 2017, 2018 e 2019 no MRSP e com uma Universidade Nove de Julho (2011) e atuou
edição virtual em 20219, configurando cinco edições como educadora no Memorial da Resistência
de São Paulo até 2021. As atividades práticas e
A proposição de parceria partiu do Professor da até esta publicação – no ano de 2020, em decorrência
teóricas relacionadas à contação de histórias
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Cleber da pandemia de Covid-19, não houve curso. Além foram ministradas por ela em todas as edições
Vieira dos Santos6, após uma visita mediada ao MRSP disso, o curso inspirou a oficina “Contando Histórias e do curso citadas no texto.
com seus alunos de licenciatura, em 2016, ao serem Compartilhando Memórias”, em parceria com o Sistema
9
apresentados às ferramentas lúdicas utilizadas Estadual de Museus de São Paulo. Essa oficina se iniciou Com uma carga horária menor essa edição
focou nas oficinas práticas ministradas por
em visitas e à própria contação. No mesmo ano foi em 2016 e ainda se mantém. Realizada uma vez por ano, Hannah Ferreira que atuou nas primeiras
conduzida a primeira edição do curso Educar, Contar difunde os saberes do MRSP sobre contação de histórias edições presenciais do curso.
e Brincar para Resistir, certificado pela UNIFESP em e ferramentas lúdicas para a promoção de acesso
parceria com a Diretoria Regional de Ensino de Itaquera. do público infantil aos museus no interior do estado,
Figura 9 – Oficina de cultura popular. Educar,
propiciado pela Ação Educativa do Memorial. Contar e Brincar para Resistir, 1ª edição, 2016.
Com o Professor Cléber ministrando um dos encontros, Acervo MRSP.
além da própria Ação Educativa da instituição e Com aproximadamente 100 egressos Educar, Contar e
Figura 10 – “Apresentação da contação de
educador convidado, o curso presencial contou com Brincar para Resistir tem se mostrado uma ferramenta
história desenvolvida por alunas do curso
visita às exposições, roda de conversa com uma ex- formativa importante na abertura de diálogos com com base na adaptação do livro: O Reizinho
presa política, práticas em cultura popular e formações educadores de diferentes formações e vivências Mandão de Ruth Rocha”. Acervo MRSP.
teóricas, resultando na apresentação de contações de que buscam se instrumentalizar para as práticas de

30 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 31
EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR – O CURSO

A PROPOSTA DO CURSO CONTRIBUIU PARA SUA FORMAÇÃO CIDADÃ?

53% SIM
Pelo fato de o curso Educar, Contar e Brincar 10 Os nomes dos participantes foram abreviados
para Resistir (ECBR) se configurar de modo para privacidade.

interdisciplinar e transdisciplinar – com propostas


práticas de contação de histórias, criação de projeto,
Gráficos 1 e 2 – Respostas dos formulários
preenchimento de plano e orientação que atende às de avaliação da 3ª e 5ª edição do Curso
especificidades de cada participante –, ele conseguiu Educar, Contar e Brincar para Resistir, 2018
multiplicar as propostas de ações do MRSP em e 2021. Fonte: MRSP.

18% MUITO
ambiente diverso de atuação dos educadores,
cultivando a cultura da oralidade, promovendo leituras
em DH e expandindo os saberes para que novas
proposições de trabalho possam surgir, como vemos
no gráfico a seguir.

24% À CONJUNTURA
SIM, DEVIDO

6% POUCO QUAL SEU AMBIENTE DE ATUAÇÃO/TRABALHO?

42,9% EDUCAÇÃO
O primeiro gráfico, elaborado a partir de uma Percebemos, assim, a necessidade da formação
síntese de respostas abertas, nos mostra que, dos contínua de educadores em e para Direitos
participantes que responderam à avaliação, a maioria Humanos, lembrando de Schwarcz (2019): “Direitos
considerou que a proposta do curso contribuiu muito
para sua formação cidadã, principalmente em face da
conjuntura de 2018. Citamos uma das respostas:
conquistados nunca foram direitos dados, e os novos
tempos pedem, de todos nós, vigilância, atitude cidadã
e muita esperança também.” Além disso, podemos
FORMAL
apreender que a relevância da aprendizagem de novas

57,2% FORMAL
NÃO
Perfeitamente. Nos tempos atuais de metodologias de expansão da abordagem do direito à
recrudescimento do conservadorismo memória e à verdade extrapola o ambiente presencial,
a oportunidade de capacitar-se para como podemos ver no seguinte comentário de
a contação de histórias alicerça avaliação do curso aplicado em ambiente virtual,
minha formação e possibilita de 2021:
a luta pela ampliação de meus

14,3% OUTROS
ESTUDANTE
direitos de cidadania, mas não só: o Como pesquiso cursos virtuais de
conhecimento adquirido extrapola Direitos Humanos, com enfoque no
minha individualidade e pode ter Direito à Memória e à Verdade, já fiz
impacto social na formação de crianças, inúmeros cursos online. Para mim, os
adolescentes, jovens e adultos, pessoas cursos do Memorial da Resistência
comuns e colegas de trabalho, de são os melhores porque trouxeram
militância e membros de minha família o conhecimento e metodologia dos
e de minha comunidade. (Participante cursos presenciais para o ambiente
ECBR, 2018. Fonte: MRSP) virtual. (T.Y.S.10, 2021. Fonte: MRSP)

32 33
EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR – O CURSO

VOCÊ PRETENDE UTILIZAR AS FERRAMENTAS DESSE


CURSO PARA O PÚBLICO COM DEFICIÊNCIA?

A quinta edição do curso, em 2021, contou com preparar planos de aula – mesmo que Gráficos 3 e 4 – Respostas dos formulários
a participação de alunos egressos de outros não tivessem relação com a contação de avaliação da 3ª e 5ª edição do Curso
anos, além de novos educadores em busca de de histórias em si. Ainda, o curso foi a Educar, Contar e Brincar para Resistir, 2018
e 2021. Fonte: MRSP.
formação. Destacamos dois relatos de aplicação minha porta de entrada para o universo
dos conhecimentos adquiridos em 2018. O primeiro, da contação de histórias, de modo
de A.V., resultou no desenvolvimento de atividades que após a edição de 2018 procurei
em educação formal, enquanto J.C.F., estudante participar de mais cursos sobre esse
universitária, desfrutou do conteúdo teórico: tema. (J.C.F., 2021. Fonte: MRSP)

Fiz com uma turma de 8º ano, foi como


um desafio para eles, tiveram que
realizar uma contação sobre o livro O
O potencial multiplicador dessa formação em
EDH voltada à infância pode ter relação com a sua
estrutura organizada em tópicos correlatos, mas
100% SIM
Monstro das Cores para a turma do não dependentes entre si. Assim, como demonstra
fundamental 1. (A.V., 2021. Fonte: MRSP) o terceiro gráfico, os participantes avaliaram quais
abordagens lhes pareciam mais pertinentes às
Não tive a oportunidade de aplicar suas atuações profissionais. Os eixos “Ditadura
o que aprendi no curso. No entanto, Civil-Militar”, “ludicidade”, “educação e direitos
a bibliografia de apoio que foi humanos” e “contação de histórias” foram os de
apresentada foi muito enriquecedora, maior porcentagem, evidenciando sua pertinência em
de forma que a revisitei inúmeras vezes diferentes contextos de atuação e trabalho.
para fazer trabalhos da faculdade e

QUAIS ASPECTOS ABORDADOS PELO CURSO FORAM MAIS


RELEVANTES PARA SUA ATUAÇÃO PROFISSIONAIS?

47,1% RODA DE CONVERSA COM EX-PRESO POLÍTICO


O último gráfico demonstra a preocupação dos iniciativas como essa, promovidas por instituições
participantes em promover a EDH para todos os públicas e com amplo acesso da população, de forma
públicos, acessibilizando suas práticas ao incluir as a garantir que as memórias políticas e sociais sejam

88,2% DITADURA CIVIL MILITAR


pessoas com deficiência. Neste sentido, a formação adquiridas desde a infância, colaborando para a
do Educar, Contar e Brincar para Resistir procura expansão democrática e prevenindo a perpetração
compartilhar as experiências do Memorial ParaTodos, das violências de Estado.

76,5% EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS


considerando as dificuldades que a desigualdade
e exclusão impõem às condições objetivas de vida
das pessoas. A Ação Educativa do MRSP considera,

35,3% ORALIDADE
portanto, formas efetivas e condições reais de convívio
democrático, trabalhando também pela busca da
garantia e ampliação de direitos.

23,5% INFÂNCIA E DESENVOLVIMENTO Com base numa avaliação qualitativa, as respostas


aqui apresentadas são dadas como casos ilustrativos

35,3% CULTURA POPULAR


das diferentes possibilidades de aplicação das
experiências do curso Educar, Contar e Brincar para
Resistir, promovido pelo MRSP. Cada educador

70,6% CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS


que já passou pelo curso pôde compartilhar suas
vivências e adaptar os conhecimentos adquiridos
em seus ambientes de trabalho e atuação, atingindo

76,5% LUDICIDADE
ramificações de público que o museu, sozinho, não
poderia. Ressaltamos aqui a importância de mais

34 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 35
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES
E EDUCADORES NÃO-FORMAIS
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
EDUCAÇÃO INFANTIL
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES
E EDUCADORES NÃO-FORMAIS

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS 1.1 1.2 NOSSAS


EDUCAÇÃO INFANTIL QUAL HISTÓRIA VOU CONTAR? ONDE EU CONTO? SUGESTÕES

O exercício da imaginação é priorizado nas atividades Nesta fase da aprendizagem, o professor assume A transposição do cotidiano do ensino-aprendizagem O Mundo no Black Power de
com crianças de 0 a 6 anos, uma vez que possibilita o papel de leitor, narrador e mediador do conteúdo. para o universo lúdico da contação de histórias deve Tayó, de Kiusam de Oliveira
a expressão e a interação, além de auxiliar no Para tanto, é necessário selecionar a literatura de motivar a reflexão sobre a experiência do educador e ilustração de Taísa Borges
desenvolvimento da oralidade e da percepção. acordo com a faixa etária, não só em sua substância e dos educandos. Quando há possibilidade de sair (Peirópolis, 2013);
Dessa forma, a sugestão de trabalho é a contação teórica, mas em quantidade de páginas e ilustrações, da sala e utilizar o ambiente externo, como o jardim,
de histórias com a utilização de literatura voltada à avaliando o tempo para aplicação de uma contação de por exemplo, cria-se a dilatação da vivência, abrindo Quem Manda Aqui?, de Larissa
Educação em Direitos Humanos, estimulando os histórias pontual ou um projeto estendido. a percepção dos participantes não só para o que é Ribeiro, André Rodrigues, Paula
pequenos ouvintes a participar em atividades lúdicas. contado, mas também para os estímulos visuais, táteis Desgualdo e Pedro Markun
e outros presentes no local escolhido. Desta forma, (Companhia das Letrinhas, 2015);
aguça-se a curiosidade e provoca-se a presença; o que
acontece e onde acontece tornam-se focos de atenção Pássaro Amarelo, de Olga de
e posterior memorização, análise e aprendizado. Díos (Boitatá, 2016);

Assim, mesmo que o uso de outro espaço para a Pode pegar!, de Janaina Tokitaka
atividade seja impossibilitado, é recomendável a (Boitatá, 2017);
preparação de um ambiente voltado à contação
de histórias, sendo possível seu preparo com Amoras, de Emicida
luzes, cenário, objetos, almofadas e outros (Companhia das Letrinhas, 2018);
materiais disponíveis.
Lute como uma Princesa, de
Vita Murrow (Boitatá, 2019).

40 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 41
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES
E EDUCADORES NÃO-FORMAIS

1.3 1.4
COMO CONTAR? E DEPOIS?

As ferramentas para a contação de histórias vão NARRAÇÃO FIGURINO Crianças na educação infantil, dependendo de sua
depender do acervo (pessoal ou do espaço) e do Alteração dos tons de voz para destaque de palavras, Caso o educador utilize um uniforme de trabalho, é idade, desenvolvimento ou interesse, podem pedir que
repertório do educador. Em seu inventário cultural, personagens ou situações. Caso mais de um educador interessante vestir um figurino para o momento da a história seja contada mais uma vez. Nesta hipótese,
tratado anteriormente, é possível selecionar canções, se disponha à atividade, dividir personagens ou contação, auxiliando na transposição para o universo a sugestão é que se dê prioridade à roda de conversa
instrumentos, objetos e até formas de contar, vindas momentos da história. lúdico. A vestimenta pode fazer referência ao que será sobre a história para só então recontar, caso exista
da memória, da observação e de práticas anteriores. contado ou servir apenas para caracterizar o contador, tempo, ou recontar em outro dia. Da mesma forma,
Seguem pontos para levar em consideração: ACESSIBILIDADE mas deve ser trabalhada com cautela para que o outras atividades podem ser desenvolvidas antes
Dispor de intérprete de Libras / educador surdo para exagero não chame mais atenção do que o que é ou depois, desde desenhos das personagens até
atingir público maior. contado. Há também a possibilidade de que o figurino desenvolvimento de murais sobre a história, a depender
seja o próprio cenário, através de avental/vestido/saia do tempo destinado ao projeto.
EXPRESSÃO CORPORAL que interaja com os objetos utilizados na contação,
O rosto é importante para a compreensão do que se com a utilização de broches ou múltiplos bolsos,
diz, mas o restante do corpo não deve ser ignorado. por exemplo.
Mãos, tronco e pés podem enfatizar, discordar e
criar sugestões. SONORIDADE
Instrumentos melódicos e/ou percussivos para
RITMO incursões musicais e efeitos sonoros. Podem ser
Algumas literaturas trazem rimas e brincadeiras com utilizados instrumentos de material reciclado, assim
palavras, sendo estímulos sonoros e desafios ao leitor. como objetos cotidianos (chapas de raio X, sinos,
Da mesma maneira, outros textos podem ganhar caixas de fósforos...).
ênfase com atenção ao ritmo.
INTERAÇÃO
RECURSOS VISUAIS Abrir momentos para participação e protagonismo
Fantoches, objetos que representem os personagens dos ouvintes, sugerindo tarefas (“quando aparecer
(podendo ser, inclusive, iconográficos, como óculos o pássaro vocês fazem o som”), dinâmicas (“vamos
representando a professora), placas, sombras, fazer nossa própria manifestação?”) e/ou inserindo
flanelógrafos, desenhos. perguntas que capturem o ponto de vista deles (“você
conhece mais alguém com cabelo black power?”).

42 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 43
MALETA DE HISTÓRIAS
ENSINO FUNDAMENTAL I
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E
EDUCADORES NÃO-FORMAIS

NOSSAS
SUGESTÕES

MALETA DE HISTÓRIAS O Mundo no Black Power de


Tayó, de Kiusam de Oliveira
ENSINO FUNDAMENTAL I e ilustração de Taísa Borges
(Peirópolis, 2013);

Quem Manda Aqui?, de Larissa


Ribeiro, André Rodrigues, Paula
Desgualdo e Pedro Markun
(Companhia das Letrinhas, 2015);
Crianças no primeiro ciclo do ensino fundamental, (os educandos podem decorar também), cestas, baús, Em seguida, realiza-se o sorteio dos outros livros
de 06 a 10 anos, tem como focos do ensino, dentre caixotes etc. O conteúdo será preenchido por livros com a turma. Sugerimos aqui que os trabalhos sejam
Monstro Rosa e Em Família, de
outros, a alfabetização, a escrita e a criação de pré-selecionados para esta atividade. feitos em grupos de pelo menos dois alunos, para que
Olga de Díos
hábitos de leitura. O trabalho em conjunto com a leitura e a realização da contação de histórias, ao
(Boitatá, 2016 e 2018);
o educador visa à divisão do papel do narrador, Da mesma maneira que a contação de histórias invés de se tornarem desafios desgastantes, possam
estimulando a apropriação das histórias e das requer o preparo de um ambiente, é incentivado que proporcionar diversão e estímulo, com um aluno
Coleção Antiprincesas e Anti-
ferramentas de oralidade e escrita. Assim, foi o local da maleta no seu espaço de trabalho/atuação fazendo companhia ao outro. Os livros podem ser
heróis (Chirimbote, 2015);
proposta a atividade “Maleta de histórias”, que pode seja de destaque, convidativo para os sentidos das escolhidos pelo título e capa, assim como sorteados
ser adaptada a todo o ciclo, tanto no processo de crianças. O material pode ser apresentado durante ou apresentados como surpresa, envoltos em papel de
O inimigo, de Davide Cali e Serge
alfabetização quanto no letramento. sua construção, caso os educandos participem presente. A dinâmica da escolha vai depender do crivo
Bloch (Cosac Naify, 2007);
do processo, ou através da primeira contação do educador junto à sua sala.
Esta atividade visa à integração entre os educandos de histórias.
Era uma Vez um Tirano, de Ana
e suas famílias, na apropriação do conteúdo e na Após a divisão dos grupos com os respectivos livros,
Maria Machado
participação no ensino-aprendizagem. Baseada na A primeira contação de histórias da maleta é feita cria-se um cronograma para o projeto, organizado
(Salamandra, 2003);
ferramenta da contação de histórias, vê o educador pelo educador. Utilizando os recursos já citados, é de acordo com a carga de aulas direcionada para as
como narrador e mediador do contato dos alunos importante ressaltar, em roda de conversa, quais foram atividades, compostas pelas fases de: leitura, livro em
Abaixo a Ditadura, de Cláudio
com o universo lúdico e com a temática trazida utilizados para essa contação e quais outros poderiam casa, preparação, ensaio, apresentações e pós-projeto.
Martins (Paulus, 2004);
pela literatura. Neste sentido, a contação pode ser. Nesta fase, estimulam-se os ouvintes a entender
ser revisitada na proposta anterior e adaptada a também o processo da narração, apresentando-se
Coleção Livros para o Amanhã
esse ciclo. fórmulas como “era uma vez”, “o que vocês acham
(Boitatá);
que aconteceu?” e ouvindo sugestões de outras. A
O preparo inicial pede um objeto que se destaque no apresentação do livro, das ilustrações e das palavras
O Reizinho Mandão, de Ruth
ambiente educativo. Pode ser uma maleta, como o escritas (com a possibilidade de releitura de trechos)
Rocha (Salamandra, 2013).
nome sugere, ou o que mais estiver à disposição e ao se faz necessária para a apreensão do lúdico em
alcance da imaginação: caixas de papelão decoradas consonância com a alfabetização e o estímulo à leitura.

46 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 47
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E
EDUCADORES NÃO-FORMAIS

1.1 1.4
LEITURA ENSAIO
A primeira leitura é feita pelo educador para toda Os grupos experimentam maneiras de contar suas
a sala, utilizando o conhecimento dos educandos histórias, utilizando seus adereços e trocando de
para separação de sílabas, destaque de palavras narrador/personagem até encontrarem a forma que
desconhecidas e debate temático. Em um segundo lhes traz mais alegria e segurança.
momento, entrega-se cada livro aos respectivos
grupos para que se familiarizem com a escrita, a
organização e as ilustrações.

1.2 1.5
LIVRO EM CASA APRESENTAÇÕES
Os grupos levam o livro para casa a fim de Seguindo o cronograma, as apresentações podem
compartilhá-lo com seus pais e responsáveis, de acontecer em dias diferentes ou todas juntas,
acordo com cronograma. Nesta fase, os educandos num evento para outras salas e/ou as famílias. O
recebem orientação de atividades com a família, educador se mantém no apoio, sendo o protagonismo
destacando não apenas a leitura, mas momentos de das crianças.
conversa sobre o tema, além do preenchimento da
ficha de leitura elaborada pelo educador de acordo
com o nível de aprendizagem da turma (“quais são os
personagens?”, “do que fala a história?”).
1.6
PÓS-PROJETO
1.3 E depois? As apresentações podem ser gravadas e
PREPARAÇÃO exibidas a critério da instituição; as turmas podem
fazer uma roda de conversa sobre seus livros favoritos;
os temas que despertaram mais atenção podem
Em grupos, os educandos comparam suas fichas de
ser trabalhados em novos projetos; murais podem
leitura e trocam as experiências que tiveram em casa.
ser desenvolvidos com ilustrações dos educandos;
Preparam, então, sua própria contação de histórias
uma exposição de leitura pode apresentar as fichas
com o auxílio do educador. Nesta fase, estimula-se
e os adereços de cada grupo... A depender do
a busca e/ou a criação de adereços e objetos para
tempo disponível para o projeto, não há limites para
a apresentação.
seus desdobramentos. De toda maneira, os livros
utilizados voltam à maleta, que pode ser inserida em
novas atividades.

48 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 49
DEIXA QUE EU CONTO...!
ENSINO FUNDAMENTAL II
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E
EDUCADORES NÃO-FORMAIS

ÁREA DO QUANDO VOLTEI, ELEIÇÃO COMPETÊNCIAS


CONHECIMENTO TIVE UMA SURPRESA DOS BICHOS (BNCC, 2017)
Ciências humanas • Ditadura civil-militar; • Sistema político- Compreender processos e
• Prisões políticas; eleitoral brasileiro; mecanismos de transformação
• Movimentos • Grêmios estudantis; e manutenção das estruturas
de resistência • Democracia. sociais e políticas; analisar,
afro-brasileiros. posicionar-se e intervir no
mundo contemporâneo.

Linguagens • Gênero textual; • Gênero textual; Conhecer e explorar diversas


• Ilustrações; • Ilustrações; práticas de linguagem;
• Censura. • Propagandas ampliar suas possibilidades
eleitorais. de participação na vida social
e colaborar para a construção
de uma sociedade mais justa,
democrática e inclusiva, atuando
criticamente frente às questões
DEIXA QUE EU CONTO...! do mundo contemporâneo.
ENSINO FUNDAMENTAL II
Ciências da Natureza • Desmatamento da • Impactos possíveis da Avaliar aplicações e implicações
Amazônia na década reforma agrária; políticas, socioambientais
de 70; • Fauna brasileira; e culturais da ciência e da
• Impactos da Ditadura • Impactos das tecnologia e propor alternativas
Civil-Militar no queimadas na vida aos desafios do mundo
meio ambiente. silvestre e no clima. contemporâneo, construindo
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular A primeira frase de implementação se dará pela leitura argumentos com base em dados
(BNCC, 2017), a divisão das áreas do conhecimento compartilhada do livro escolhido com a turma. No que respeitem e promovam a
em disciplinas com educadores distintos no segundo caso do livro de Joel Rufino dos Santos, o educador faz consciência socioambiental.
ciclo do ensino fundamental dá escopo para que uma pré-seleção de quais cartas serão trabalhadas.
o trabalho de Educação em Direitos Humanos Após a apreensão dos textos, sugere-se a pesquisa
possa ser aplicado de forma interdisciplinar ou em torno das temáticas apresentadas, de acordo com
transdisciplinar. A escolha da forma de aplicação o quadro ao lado:
Matemática • Salário mínimo e poder • Salário mínimo e o Fazer observações sistemáticas
do projeto de atividades aqui proposto dependerá,
de compra na Ditadura poder de compra de aspectos qualitativos e
portanto, do Plano Político-Pedagógico da instituição
Civil-Militar; nos governos quantitativos para avaliá-los
de ensino, assim como de seu planejamento anual e
• Gráficos e tabelas democráticos pós criticamente; utilizar processos
do engajamento do corpo docente.
analisando a sociedade ditadura; e ferramentas matemáticas para
brasileira na Ditadura • Funcionamento da modelar e resolver problemas
Para o desenvolvimento dessa atividade, sugerimos o
Civil-Militar (violências, urna eletrônica e o sociais, validando estratégias
uso do livro Eleição dos Bichos, de André Rodrigues,
desigualdades...). voto impresso. e resultados.
Larissa Ribeiro, Paula Desgualdo e Pedro Markun
(Companhia das Letrinhas, 2018), para o 6º e o 7º ano,
ou de Quando Eu Voltei, Tive uma Surpresa, de Joel
Rufino dos Santos (Rocco, 2000), para os anos finais.
Outros títulos também podem ser eleitos a critério da
escola/educador e adaptados ao projeto.

52 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 53
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E
EDUCADORES NÃO-FORMAIS

Da mesma maneira que os livros, outras temáticas A apresentação final do projeto pode constar no
podem ser trabalhadas dentro das áreas do calendário escolar dentro de feiras e exposições
conhecimento, a critério dos educadores. De forma abertas para as famílias e a comunidade, sendo as
interdisciplinar, o educando fica responsável pelo pesquisas realizadas nas diversas disciplinas expostas
alinhamento de sua pesquisa com base nos estudos em ambientes temáticos com a mediação dos
trazidos pelas disciplinas, podendo, para isso, usar próprios alunos e o auxílio dos educadores envolvidos.
um caderno ou bloco especial. Caso o projeto seja A contação de histórias pode acontecer em horário
aplicado de maneira transdisciplinar, um educador determinado ou ser exibida através de gravações, e
ou um conjunto deles podem ser eleitos como cópias das cartas desenvolvidas podem ser enviadas a
orientadores de projeto, acompanhando a turma em seus destinatários.
cada etapa das atividades e no desenvolvimento final.

A proposta “Deixa que eu conto...!” sugere o


protagonismo dos alunos na criação de produto
de sua autoria. Em relação à Eleição dos Bichos,
sugerimos uma contação de história com adaptação
contemporânea e/ou de acordo com as pesquisas.
Já nos anos iniciais sugere-se a elaboração de cartas
para representantes eleitos do setor público e da
sociedade civil, como conselheiros, vereadores e
deputados, com registros do cotidiano e propostas
políticas e/ou socioambientais.

54 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 55
O EU CONTADOR E CRIADOR
ENSINO MÉDIO
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E Componente curricular transversal presente
11
no itinerário formativo inserido na reforma do

EDUCADORES NÃO-FORMAIS Ensino Médio com vigor nacional a partir de


2022 (Lei nº 13.415/2017).

O EU CONTADOR E CRIADOR NOSSAS


ENSINO MÉDIO SUGESTÕES

Os alunos do último ciclo da educação básica aplicação do projeto levam em conta as opções da ÁREA DO CONHECIMENTO / Quando eu Voltei, Tive uma
já estão inseridos no mercado de trabalho e nas escola, do grupo de educadores (se por disciplina, COMPONENTE CURRICULAR PROJETO Surpresa, de Joel Rufino dos
formações técnicas, ou estão a ponto de se inserir área do conhecimento ou de maneira transdisciplinar) Santos (Rocco, 2000);
Linguagens • Peça teatral;
neles. Nesse sentido, o trabalho com a contação de e do próprio educando de acordo com seu Projeto
• Vídeo de contação de histórias;
histórias voltado à EDH busca ir além da experiência de Vida11. K. Relato de uma Busca, de
• Websérie;
do educando enquanto espectador, estimulando a Bernardo Kucinski (Companhia
• Crônicas, cordéis e exploração de
produção de reflexões e a consciência crítica através As leituras estariam, deste modo, a cargo de um aluno das Letras, 2012);
gêneros literários;
do estímulo à sua própria contação e/ou à criação de ou grupo de alunos que se disponibilizassem para o
• Performances e instalações.
novos materiais baseados na literatura escolhida, com projeto, sendo acompanhadas por ficha de leitura com Azul Corvo, de Adriana Lisboa
aprofundamento por área de conhecimento. a orientação de um educador. Para o desenvolvimento (Alfaguara, 2010);
Tecnologia e inovação • Desenvolvimento de games;
do material, sugere-se planejamento dentro dos
• Criação de plataformas de acesso
A juventude pode não se interessar em assistir a uma componentes curriculares, conforme tabela ao lado: Quarto de Despejo, de Carolina
às pesquisas;
contação de histórias, mas gostará de ser ela mesma Maria de Jesus (Francisco
• Animações.
a contadora. Neste caso, as atividades voltadas aos A apresentação final do projeto pode constar no Alves, 1960);
outros ciclos de ensino podem ser adaptadas para calendário escolar dentro de feiras e exposições
Ciências humanas • Ciclos de seminários e debates;
que o jovem aplique a contação em evento para a abertas para as famílias e a comunidade, sendo as Infância Roubada - Crianças
• Resgate de memória na
comunidade ou instituição parceira, com o uso dos pesquisas realizadas nas diversas disciplinas expostas Atingidas pela Ditadura Militar
comunidade;
livros recomendados a cada faixa etária e público alvo. em ambientes temáticos com a mediação dos próprios no Brasil, da Comissão da Verda
• Projetos de pesquisa;
alunos. Já a contação de histórias, caso aconteça em do Estado de SP (ALESP, 2014);
• Organização de propostas
Outra opção para o Ensino Médio é o estímulo ao outra instituição, pode ter sua gravação projetada ou
político-sociais.
“eu criador” para que desenvolva seus pontos de exposta em fotografias. Brasil: Ditadura Militar. Um
vista e crie aplicações com base na literatura voltada Livro para os que Nasceram
à memória, à verdade e à justiça. Diante disso, a Bem Depois, de Joana D'Arc
escolha dos livros e a postura metodológica de Fernandez Ferraz, Elaine de
Almeida Bortone e Diane Helene
(FERRAZ et al., 2012);

A Noite da Espera, de Milton


Hatoum (Companhia das
Letras, 2017).

58 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 59
CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR
EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL
PROPOSTAS DE ATIVIDADES PARA PROFESSORES E
EDUCADORES NÃO-FORMAIS
EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR
A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA
À MEMÓRIA E À VERDADE

PLANO DE PROJETO
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
QUE HISTÓRIA VOU CONTAR? POR QUE ESSA HISTÓRIA?
Acrescente editora e edição O que nela me inspira?

CONTAR E BRINCAR
PARA RESISTIR
EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL

Os educadores que atuam fora do ambiente escolar NÃO ANDE SÓ


QUAIS SÃO MINHAS INFLUÊNCIAS? QUAL O MEU PÚBLICO ALVO?
estão expostos a diferentes públicos, faixas etárias Os contadores de histórias não precisam,
Artistas, contadores, cordelistas, minha avó... Faixa etária, instituição...
e cronogramas para aplicar seus projetos: seja de necessariamente, de duplas ou grupos para suas
forma pontual, com a apresentação de contação narrações, mas a parceria pode ser enriquecedora
de histórias em bibliotecas, por exemplo, seja em para a musicalização de suas histórias, a divisão das
trabalhos continuados em ONGs, casas de acolhida, personagens, a manipulação de bonecos ou objetos
programas educativos e tantos outros. Para esses e, especialmente, para a tradução e interpretação
profissionais, recomendamos a leitura e adaptação em Libras;
das atividades para professores já apresentadas neste
material. Separamos, também, algumas sugestões de DIVIRTA-SE
aprofundamento do trabalho: O desafio da alteridade passa pela dilatação da
presença do educador. Estar presente e seguro
LEMBRE-SE QUE A BRINCADEIRA É ESSENCIAL de sua prática abrirá caminho para a escuta e
É através das atividades lúdicas que a criança compartilhamento com seu público. COMO QUERO CONTAR? MATERIAIS NECESSÁRIOS
descobre olhares para o mundo, com a possibilidade Sua metodologia: narração, Algum instrumento musical?
de resolução de problemas e desenvolvimento de sua Por fim, organize sempre seu projeto de contação de interpretação, musicalização...
imaginação. Por mais verdadeiros e sérios que sejam histórias e acompanhe suas transformações a cada
os temas trabalhados na EDH, assuma o desafio do aplicação. Na próxima página, disponibilizamos um
lúdico como linguagem; modelo que pode ser impresso ou servir de inspiração
para a criação do seu próprio plano de projeto.
BUSQUE ATIVIDADES COMPLEMENTARES À
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
Caso o cronograma permita, alinhe a apresentação com
outros jogos lúdicos. Utilizando os exemplos trazidos
pelo Memorial da Resistência de São Paulo, crie seu
próprio repertório com base nas literaturas e temáticas;
NOTAS

62 EDUCAR, CONTAR E BRINCAR PARA RESISTIR: A DITADURA MILITAR E O DIREITO DA CRIANÇA À MEMÓRIA E À VERDADE 63
BIBLIOGRAFIA

BAUMAN, Zygmunt. Ensaios sobre o conceito de BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade
cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo,
Nacionais, 1997. 2006.
BEDRAN, Bia. A Arte de Cantar e Contar Histórias
Narrativas Orais e Processos Criativos. São Paulo: ______. Base Nacional Comum Curricular. SANTOS, Joel Rufino dos. Quando voltei, tive uma
Editora Nova Nacional, 2012. Brasília, 2018. surpresa: cartas a Nelson. Rio de Janeiro, RJ: Rocco,
2000.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua BRITO, Ana Paula. A Recuperação dos Lugares
reprodutibilidade técnica. Obras escolhidas: de Memória da Ditadura no Cone Sul: Um Estudo SAVIANI, D. Educação: do senso comum à
Magia e técnica, arte e política. 6. ed. São Paulo: De Caso. In: Simpósio Internacional Pensar e consciência filosófica. 10. ed. Campinas/SP: Autores
Brasiliense, 1994. Repensar a América Latina, 2. 2016, Associados, 1991.
São Paulo. Anais.
______. Obras Escolhidas. São Paulo: Editora SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o Autoritarismo
Brasilense, 2012. FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 15. ed. Rio Brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
de Janeiro: Paz e terra, 1979.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de VIEIRA, Cleber Santos. A criança e o direito à
Janeiro: Campus, 1992. LEAL, T.F e BRANDÃO, A.C.P. (org.). Produção de memória. In: Revista Interdisciplinar de Direitos
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BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência Fundamental. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
e o saber de experiência. Revista Brasileira de
Educação, Rio de Janeiro, ANPEd, n. 19, p. 20-28, LEAL, T.F e LUZ, P.S. Produção de textos narrativos
abr. 2002. em pares: reflexões sobre o processo de interação.
In: Educação e pesquisa, n. 27, 2001, p. 27-45.
BRANDÃO, Carlos R. (org.). O educador: vida e
morte – escritos sobre uma espécie em perigo. RUBIRA, Fabiana de Pontes. Contar e ouvir
São Paulo: Brasiliense, 1982. estórias: um diálogo de coração para coração
acordando imagens. 2006.

64 65
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO CADERNO DE EXPERIÊNCIAS Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha Catalográfica feita pelo autor
Coordenação Editorial
RODRIGO GARCIA Coordenadora Aureli Alves de Alcantara Memorial da Resistência de São Paulo.
Governador do Estado de São Paulo Ana Pato Educar, contar e brincar para resistir : a Ditadura
Militar e o direito da criança à Memória e à Verdade [recurso
Projeto Gráfico eletrônico] / coordenação editorial Aureli Alves de Alcantara ;
SÉRGIO SÁ LEITÃO Coordenadora da Ação Educativa Tamara Lichtenstein  apresentação Ana Pato e Aureli Alves de Alcantara ; textos
Secretário do Estado de Cultura e Economia Aureli Alves de Alcantara Yugo Borges (assistente) Hanna Carolina Silva Ferreira -- São Paulo : Memorial da
Criativa Resistência de São Paulo, 2021.

Educadores Ilustração 65 p. : il. - (Caderno de Experiências ; 1)
CLÁUDIA PEDROZO Alexia Sayuri Hino, Ana Carolina Ramella Rey Ammon, Cibele Lucena
Secretária Executiva do Estado de Cultura e Daniel Augusto Bertho Gonzales, Guilherme Bertolino ISBN 978-65-89070-17-7
Economia Criativa Nunes, Marcus Vinicius Freitas Alves Textos
1. Educação em direitos humanos. 2. Democracia.
Hannah Carolina Silva Ferreira 3. Direito à memória e à verdade. 4. Contação de histórias.
FREDERICO MASCARENHAS Centro de Referência I. Memorial da Resistência de São Paulo. II. Coordenação
Chefe de Gabinete do Estado de Cultura e Caio Vargas Jatene e Julia Cerqueira Gumieri Revisão editorial. III. Apresentação. IV. Textos.
Economia Criativa Marcelo Cipolla
Ação Cultural
Conselho de Orientação Cultural do Memorial Carolina Faustini Junqueira CDD 370.71
da Resistência de São Paulo
Carla Gibertoni Carneiro, Lauro Pereira Ávila, Comunicação
Paulo Vannuchi, Renan Honório Quinalha Bruna Caetano de Deus, Daniela Campos (estagiária)

ASSOCIAÇÃO PINACOTECA ARTE E CULTURA

Diretor Geral
Jochen Volz

Diretor Administrativo e Financeiro


Marcelo Costa Dantas

Diretor de Relações Institucionais


Paulo Romani Vicelli
CADERNO DE EXPERIÊNCIAS MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO

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