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Nos anos 60, outros debates plíticos estavam a frente da questão do meio ambiente.

O autor
comenta que somente em alguns países desenvolvidos do Ocidente é que essa pauta era
mais amplamente
comentada, principalmente pela classe média.
A classe média nas sociedades mais ricas,
após vinte anos de crescimento ininterrupto, durante os quais haviam
sido supridas as suas necessidades básicas nas áreas de saúde,
habitação, educação e alimentação, estava pronta a alterar suas
prioridades para abraçar novas idéias e comportamentos que alterassem
diretamente seu modo de vida (p.28)

SOBRE OS ESTUDOS DO CLUBE DE ROMA


Publicado com o título de The Limits to Growth, poucos meses
antes da abertura da Conferência de Estocolmo (março de 72), este
documento apresentava perspectiva quase apocalíptica das
conseqüências do “progresso” nas bases em que se estava
desenvolvendo. O livro refletia a visão de que a sociedade moderna se
encaminhava para a autodestruição, visão cada vez mais explorada
naquele momento, que fez que diversos autores devolvessem
popularidade às teorias de Thomas Malthus de que a população mundial
ultrapassaria a capacidade de produção de alimentos (p.29)

O ritmo acelerado desse processo de internacionalização da


questão do meio ambiente, porém, só fazia reproduzir a rapidez com a
qual havia evoluído a agenda ambiental doméstica dos principais países
desenvolvidos. O que havia começado com pequenas vitórias de grupos
organizados da sociedade civil com relação a problemas de poluição –
na maioria dos casos, de dimensão meramente local (lixo, fumaça e
outros) – transformou-se, gradualmente, em um tema de grande impacto
político e econômico, recebendo amplo apoio da opinião pública e
conquistando atenção no plano nacional. Em poucos anos,
principalmente nos EUA e em particular em alguns de seus Estados,
como a Califórnia, a legislação ambiental evoluiu de forma extraordinária,
tomando muitos setores econômicos de forma desprevenida (p.31)
ISTO OCORRE, APARENTEMENTE, NO INICIO DOS ANOS 70

indústria, agricultura e energia se opuseram de inicio a esse debate e legislações


ambientais,
se aproveitando em certos momentos de pautas ambientalistas e em outros tentando
enfraquecer
ou contornar tais legislações.

O tema, no entanto, ao ganhar crescente legitimidade


internacional, passou a ser discutido cada vez menos do ponto de vista
científico, e cada vez mais no contexto político e econômico (p.32)

As opiniões
entre os países em desenvolvimento variavam da premissa de que
os problemas relacionados ao meio ambiente eram preocupação
apenas para as nações altamente desenvolvidas [...] até a certeza
de que os países desenvolvidos estavam usando previsões
catastróficas como instrumento racista, para manter o terceiro
mundo não-branco em nível relativamente baixo de
desenvolvimento. As preocupações com o meio ambiente seriam
ótima desculpa para as nações industrializadas puxarem o tapete (p.34)

Segundo o Relatório de Founex, intitulado “Report on


Development and Environment”, enquanto a degradação do meio
ambiente nos países ricos derivava principalmente do modelo de
desenvolvimento, os problemas do meio ambiente dos países em
desenvolvimento eram conseqüência do subdesenvolvimento e da
pobreza. (p.38)
Esse relátorio de Founex e a chancela de Maurice Strong asseguraram a confiança dos
países em desenvolvimento em se juntar aos esforços de legislação ambientalistas.

O QUE O RELATÓRIO DE FOUNEX PROPUNHA?


o propunha princípios e ações que se tornaram
argumentos clássicos nas negociações de meio ambiente, como as referências aos
(principais ameaças que podem surgir para as exportações
de países em desenvolvimento em conseqüência das preocupações
ambientais dos países desenvolvidos), ou a necessidade de (monitorar a criação de
barreiras não-tarifárias baseadas em
preocupações ambientais) e de que serão
necessários fundos adicionais para subsidiar pesquisas sobre
problemas ambientais de países em desenvolvimento, para
compensar grandes deslocamentos de exportações de países em
desenvolvimento, para cobrir importantes aumentos no custo de
desenvolvimento de projetos devido a padrões ambientais mais
elevados e para financiar a reestruturação do investimento, da
produção ou do perfil das exportações, que se tornariam necessários
pelas preocupações ambientais dos países desenvolvidos (p.38 e 39)

Durante a XXVI Sessão da Assembléia Geral, foi aprovada a


Resolução 2849 sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, que, ao
incorporar importantes elementos de interesse dos países em
desenvolvimento, de certa maneira formalizou o espírito do Relatório
de Founex em um texto oficial que orientava os trabalhos de Estocolmo.
(p.42)

Nas questões de crescimento


demográfico e de soberania, os países em desenvolvimento
conseguiram conter as tentativas de inclusão da maioria dos conceitos
que lhes pareciam prejudiciais. Nas áreas de financiamento e
cooperação, os desenvolvidos também o conseguiram. (p.45)

Ainda assim, nesta conferencia, representantes de alguns países desenvolvidos


criticavam
o desenvolvimento de países perifericos, afirmando que traria enorme peso para o
equilibrio
ambiental mundial.

A maioria dos
autores considera que as principais conquistas da Conferência de
Estocolmo – independentemente dos êxitos ou derrotas de países
específicos ou de grupos negociadores – teriam sido as seguintes: a
entrada definitiva do tema ambiental na agenda multilateral e a
determinação das prioridades das futuras negociações sobre meio
ambiente; a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente – PNUMA (UNEP, pelas iniciais em inglês); o estímulo à
criação de órgãos nacionais dedicados à questão de meio ambiente
em dezenas de países que ainda não os tinham; o fortalecimento das
organizações não-governamentais e a maior participação da sociedade
civil nas questões ambientais. (p.48)
A necessidade de acompanhamento das questões ambientais
pelos próprios países e a perspectiva de canalização de recursos para
estudos e projetos ligados a problemas ambientais levaram grande
número de países a criar instituições adequadas e a estabelecer, ou
aperfeiçoar, programas nacionais de defesa do meio ambiente. No caso
brasileiro, logo após a Conferência, foi criada a Secretaria Especial de
Meio Ambiente, a SEMA, no âmbito do Ministério do Interior. (p.49)

Ao contrário dos ganhos que se podem


apontar de maneira mais objetiva e imparcial, é impossível identificar
críticas a Estocolmo que não estejam ligadas à sensação de derrota de
algumas delegações. Os países desenvolvidos acabaram sendo os mais
críticos, pois, certamente, não esperavam o tournant que tomaria a
Conferência, que acabou sendo possível – e favorável aos países em
desenvolvimento – pela divisão que havia entre os próprios
desenvolvidos, cujas prioridades não eram coincidentes em vários
pontos da agenda. (p.50)

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