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Gottfried Polykrates
POLYKRATES, G. Segunda visita aos indígenas do rio Trombetas. R. Museu Arq. Etn. 37:
57-60, 2021.
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Segunda visita aos indígenas do rio Trombetas
R. Museu Arq. Etn., 37: 57-60, 2021.
Como era do desejo de Purá4 que tal os Kashuiénas puderam ver os movimentos
criança nascesse, a tribo recebeu-a com amor. de juhutpóimo e, um por um, atravessaram
Com o passar dos anos, a criança cresceu e a encosta enquanto o juhutpóimo rastejava
provou-se muito inteligente. Ela ajudava a todos para cima.
na tribo que necessitassem de ajuda. No dia seguinte, a caminhada seguiu através
Nessa época a fome grassava na tribo, da floresta, que era tão densa como um muro,
pois o rio raramente tinha peixes e faltavam de forma que só era possível caminhar por uma
animais na floresta. Eles ainda não conheciam trilha muito estreita.
a agricultura e as frutas da floresta não eram De repente, o índio que caminhava na
suficientes para alimentar todos. frente do grupo caiu morto. Sua cabeça estava
Os anciões da tribo se reuniram e destroçada. Os Kashuiénas ficaram paralisados
resolveram abandonar seu território para ir em em seus lugares e viram imediatamente um
direção ao rio e encontrar outro local, no qual bugio imenso, chamado Turímo, sentado sobre
eles esperavam ter mais sorte. a trilha entre os galhos de uma árvore imensa.
O caminho era, no entanto, difícil e repleto Toda vez que ele percebia algum movimento
de perigos. Eles rezaram para Purá, pediram na trilha, deixava seus excrementos, que eram
proteção e seguiram rio adiante. duros como pedras e enormes, caírem do
Como naquele tempo não havia grandes alto da árvore. Homens ou animais que eram
canoas (havia, segundo ele, apenas pequenas atingidos por seus excrementos morriam no
canoas feitas com casca de árvore), eles se mesmo instante.
puseram a caminhar ao longo da margem do Os sábios da tribo se reuniram novamente
rio. Ainda não haviam chegado muito longe para se aconselharem, mas não sabiam como
quando surgiu o primeiro obstáculo em seu se ajudar.
caminho a exigir um sacrifício. Na encosta Mais uma vez, Puetáretpo os salvou da
de uma montanha que eles precisavam situação bastante complicada. Ela organizou
atravessar, vivia um animal chamado juhutpóimo, todos os índios em uma fila, todos muito
constituído apenas por uma cabeça gigantesca, próximos uns aos outros, de maneira que
que era parecida com a humana. Essa cabeça as pessoas parecessem uma cobra gigante, se
rolava encosta abaixo e acima numa velocidade vistas de cima. Dessa forma, eles continuaram
constante, devorando tudo o que fosse vivo e a caminhar pela trilha. Turímo liberou seus
cruzasse seu caminho. excrementos apenas uma vez, já que ele
O sol já havia se posto e apenas poucos acreditou que a fila humana era constituída
Kashuiénas conseguiram chegar ao outro de um único animal. Assim, os Kashuiénas
lado. No entanto, como também era perigoso conseguiram passar por aquele trecho
para a tribo ficar separada devido aos animais com somente mais um sacrifício. Felizes e
selvagens, aqueles que ainda estavam para contentes com a inteligência de Puetáretpo, os
trás tentavam chegar ao outro lado apesar índios seguiram adiante em sua caminhada,
da escuridão, quando eles achavam que esquecendo-se da fome.
o juhutpóimo já tivesse passado por ali e Mas outros perigos ainda estavam à
estivesse novamente subindo a encosta. espreita. Em uma curva da trilha, os índios
No entanto, como estava escuro, eles se se viram apavorados diante de mais um
confundiram e acabaram sendo devorados enigmático obstáculo. A trilha fora bloqueada
pelo juhutpóimo. por duas rochas gigantes5 que se moviam uma
Puetáretpo, a menina esperta, sabia de em direção à outra e exigiam uma vítima.
uma solução. Ela entrou na floresta e voltou Aquele que tentasse passar entre elas seria
com o vagalume gigante Moreojúimo, que esmagado até a morte.
iluminou toda a escosta da montanha. Assim,
5 Nenhum dos curandeiros conseguiu se lembrar do
4 O mais significativo demiurgo dos Kashuiénas (N.A). nome das pedras (N.A).
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Segunda visita aos indígenas do rio Trombetas
R. Museu Arq. Etn., 37: 57-60, 2021.
POLYKRATES, G. Second visit to the people of the Trombetas river. R. Museu Arq.
Etn. 37: 57-60, 2021.
Abstract: During a new visit to the Katxuyana people, then called Kashuiéna,
this time in a village on the Trombetas riverbanks, Polykrates seeks to investigate
a particular aspect of the end of the Kurínguri festival – a collective bath
received by the guests with harujukúru (water and squeezed banana). Through
a mythical narrative on Puetáretpo collected during this visit, the author seeks
some explanation for the meaning of this practice. He also hypothesizes about
their migratory origins, assuming that they were inhabitants of the Amazon
riverbanks and mentioning the Orámiena, Tohiéna, Pauxys, and Waríkiana
people as possible ancestors.
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