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Em 10/08/2018 o Irmão Daniel Bitencourt Cadorin, Loja Ciência e Trabalho, nº 30, REAA, GOSC (COMAB), Oriente

de Tubarão, Estado de Santa Catarina, apresenta a seguinte questão:

PAINEL DA LOJA.

Estou fazendo um trabalho sobre o Painel do Aprendiz e fiquei com dúvidas, pois as imagens do painel de aprendiz
que identifiquei em minhas pesquisas, me deixaram na dúvida se cada rito, a imagem do painel é diferente. Os
símbolos existentes são os mesmos, mas a imagem é diferente. Por esta razão fiquei na dúvida de identificar qual é a
imagem correta a ser utilizada.

Por exemplo, o Painel de Aprendiz do REAA é diferente dos outros ritos? Você poderia me informar se existe algum
local onde eu encontro a informação confiável de qual painel é utilizado em cada rito?

CONSIDERAÇÕES:

Desde a implantação dos Painéis na Moderna Maçonaria (século XIX) uma imensa quantidade de gravuras a respeito
passou a habitar na simbologia maçônica. 

O Painel, ou Quadro da Loja, é composto conforme o Grau e a espinha dorsal


doutrinária do Rito – suas qualificações culturais principalmente.

O nome Painel é mais comum nos ritos de origem francesa, enquanto que o
título Tábua de Delinear é aplicado no Craft (Maçonaria anglo-saxônica). 

Sob essa óptica, em linhas gerais os Painéis, de Rito para Rito podem apresentar
diferenças, tanto de modo superficial ou mesmo profundamente. 

A questão maior está no conjunto simbólico que compõe a gravura que é


adotada pela Obediência, o que muitas vezes não está de acordo com a verdadeira tradição litúrgica do Rito. Isso
acontece, sobretudo pela quantidade de ilustrações que paulatinamente apareceram ao longo dos tempos.
Equivocadamente, alguns rituais misturam Painéis de origem francesa com os de origem inglesa e acabam adotando-
os em duplicidade dando-lhes com isso outro título para justificar o enxerto – veja o caso de alguns rituais que
adotam para o REAA, além do Painel da Loja (o original francês), também um inglês chamando esse último de painel
alegórico. Tudo em nome de justificar a invencionice.

A propósito, os ritos que são filhos espirituais da França deveriam adotar apenas e tão
somente um Painel, o da Loja, e nunca acrescentar mais um intruso dando-lhe o nome de
Painel Alegórico. É justamente essa a razão de que não raras vezes nos deparamos com
símbolos que são contraditórios em alguns ritos. Por exemplo, no REAA ouve-se falar em
Escada de Jacó, Estrela de Seis Pontas, etc. Note que esses símbolos são naturais da Tábua de
Delinear (inglesa) e não se encontram nos Painéis franceses de onde o escocesismo é filho
espiritual.

Em síntese, ritos teístas doutrinariamente se distinguem em muitos aspectos dos ritos deístas.
Indubitavelmente isso precisa ser levado em consideração.

No que diz respeito ao REAA∴, Adonhiramita e Brasileiro, por exemplo, os Painéis se


aproximam bastante no seu conteúdo alegórico, porém existe substancial diferença se o
compararmos às Tábuas de Delinear Inglesas. Já o Rito Moderno, ou Francês, mesmo que com
características particulares no tocante à metafísica divina, originariamente adota um Painel da
Loja muito parecido com o utilizado no Craft (teísta), isso porque por razões históricas, no florescimento da Moderna
Maçonaria francesa (século XVIII) a pratica mais conhecida em solo francês, além da jacobita, era a dos Modernos
Ingleses de 1717 (teístas por excelência).

Não há como esquecer ainda as próprias deturpações que apareceram nos Painéis por conta dos desenhistas que, ao
os copiarem, também acabaram por conta própria a inserir símbolos indevidos.

Era comum também no florescimento da Moderna Maçonaria que muitas Lojas adotassem seus próprios Painéis, o
que deu a essa alegoria inúmeros exemplares que se distinguiam entre si. Somente com a profusão dos Ritos, a partir
do século XVIII, é que os mesmos passaram a adotar um Painel próprio e condizente com a sua história e doutrina.

Sob efeito prático, e sem entrar do mérito de qual Painel é o realmente correto para o rito, há que se observar por
questões legais, aquele que se encontra adotado no ritual em vigência. 

Muitos comentários a respeito de Painéis poderão ser encontrados no livro de minha autoria intitulado Exegese
Simbólica para o Aprendiz Maçom – Tomo I. Nele eu abordo a constituição dos Painéis de origem inglesa e francesa.
Ainda no tocante a se saber qual é o Painel correto a ser utilizado, oriento-o a por primeiro
conhecer a história e a doutrina autêntica do Rito. Conhecer o berço do seu nascimento e
as suas condições culturais, sociais e políticas da época, é condição para se alcançar
alguma conclusão a respeito.

Destaque-se que o ideário simbólico de cada grau, e por rito praticado, é basicamente
distribuído nos limites internos do Painel. Ele é a mensagem alegórica que contém todos
os mistérios do grau. Em assim sendo, culturalmente cada um dos arcabouços
doutrinários arquiteta a sua liturgia maçônica, portanto todos eles têm antes que condizer
com a doutrina iniciática do Rito. 

Embora de objetivo único, a Moderna Maçonaria se compõe de vários ritos e rituais. Cada
qual possui características próprias no processo de aprimoramento. Engana-se aquele que
pensa que em Maçonaria, tudo é igual. Essas diferenças podem ser conferidas em se
analisando as espécies e disposição dos símbolos que se condensam no interior
emoldurado do Painel do Grau, ou da Tábua de Delinear.

Nunca é demais lembrar que os tapetes decorados deram origem aos Painéis. O Rito Schröder, por exemplo, mantém
a tradição de expor no piso o Tapete Decorado.

Por conta de tudo aqui comentado, cabe mencionar que o objetivo maçônico é sempre o de
aprimorar o homem, todavia em Maçonaria o método para se alcançar esse objetivo pode,
em alguns aspectos, se diferenciar. 

Assim, essa característica faz com que a Maçonaria, como instrumento de aperfeiçoamento
humano, adote às vezes manifestações culturais distintas (ecletismo). Isso precisamente
pode ser notado nas diferenças do conteúdo simbólico encontradas entre os Painéis,
sobretudo quando tratamos da individualidade e dos elementos doutrinários de origens
diversas que constituem a unidade sistemática e consciente dos ritos.

Concluindo, a questão não é simplesmente do Painel em si, porém o da mensagem


proposta no seu conteúdo e que somente é compreendida pelos verdadeiros iniciados. 

T.F.A.
PEDRO JUK 

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