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Rio de Janeiro
2016
C2016 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação
que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É
permitido a transcrição parcial de textos
do trabalho, ou mencioná-los, para
comentários e citações, desde que sem
propósitos comerciais e que seja feita a
referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho
são de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação
institucional da ESG.
_________________________________
Cristina Maria Favacho Amoras
57 f.: il.
1
Hino do Amapá, composto pelo poema denominado “Canção do Amapá”, cuja autoria é de Joaquim
Gomes Diniz e música e arranjos do maestro Oscar Santos.
RESUMO
The implementation of a tax exemption area - with the creation of the Free Trade
Area of Macapá and Santana - has the objective of promoting the development of
regions located in the northernmost part of Brazil, and integrating them economically
to the rest of the country. This paper intended to address the aspects related to the
creation of a Free Trade Area in Macapá and Santana, in the state of Amapá, as an
instrument for development, by granting tax exemptions as tax benefits, in particular
the tax exemption on the movement of goods, analyzing aspects that demonstrate
whether development of the federal entity was also achieved. The effectiveness of
granting tax benefits within states is questioned in that the waiver does not bring the
economic and financial return guaranteed by the payers of unencumbered tax, and
does not follow a fiscal policy that ensures the achievement of goals, guidelines and
government plans for the achievement of social rights constitutionally guaranteed to
citizens. These benefits are awarded with the intent of attracting companies to the
region, as well as achieving social-economic development of the state. Such reflects
when is analyzed the incidence of Value-Added Tax over sales toward the Free
Trade Area of Macapá and Santana, if its goal is really been achieved, and the need
of rethinking and/or enhance the goal of developing border areas by using tax waiver,
which has not been achieved in the Amapá’s case study.
Key-words: 1. Public Policy. 2. Fiscal policy. 3. Tax benefits. 4. Development.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 59
10
1 INTRODUÇÃO
2
CF/88 (BRASIL, 1988): art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
11
Neste capítulo será realizada uma breve revisão das principais referências e
conceitos sobre Desenvolvimento Econômico e crescimento, assim como o papel do
Fundo de Participação dos Estados na economia das regiões menos desenvolvidas.
Em seguida serão apresentados os conceitos e definições que envolvem os
princípios constitucionais tributários e os benefícios fiscais e será abordada a política
tributária sob o enfoque da concessão de benefícios fiscais. Ao final, serão
analisados aspectos das áreas de exceção fiscal: Zona Franca de Manaus e áreas
de livre comércio, além da evolução do Estado do Amapá e a criação da Área de
Livre Comércio de Macapá e Santana.
É correto afirmar que apenas por meio das políticas públicas o Estado
poderá, de forma sistemática e abrangente, realizar os objetivos constitucionais
previstos no art. 3º da CF/88 (BRASIL, 1988), sobretudo no que diz respeito à
promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação, bem como garantir os direitos que
dependam de ações para a sua fruição, com vistas a atingir o Bem Comum, tal qual
delineado na CF/88 (BRASIL, 1988, art. 6º):
4
CF/88 (BRASIL, 1988): art. 165 [...] §6º O projeto de lei orçamentária será acompanhado de
demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções,
anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia.
§ 7º Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste artigo, compatibilizados com o plano plurianual,
terão entre suas funções a de reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critério populacional.
5
CF/88 (BRASIL, 1988): art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o
desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes
que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares
que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.
17
A CF/88 (BRASIL, 1988), uma carta política que reflete os interesses das
mais diversas camadas da sociedade brasileira, expressa uma gama de direitos
fundamentais, de cunho liberal e social, tendo como grande desafio a sua
implementação, sobretudo quanto aos direitos sociais, que exigem a atuação direta
e efetiva do Poder Público.
O Estado tem um importante papel a desempenhar em prol da coletividade,
sendo que toda e qualquer ação estatal envolve gasto de dinheiro público e tais
recursos são limitados, o que leva à necessidade de se estabelecer prioridades e se
escolher em quais projetos gastá-los. Nesse contexto, a concessão de incentivos
6
ADIs nº 875, de 13/05/93; nº 1.987, de 30/03/99; nº 2.787, de 05/08/02; nº 3.243, de 24/06/04.
7
A ementa da Lei Complementar Federal nº 143/13 (BRASIL, 2013) assim dispõe: Altera a Lei
Complementar nº 62, de 28 de dezembro de 1989, a Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966
(Código Tributário Nacional), e a Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992 (Lei Orgânica do Tribunal de
Contas da União), para dispor sobre os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados e
do Distrito Federal (FPE); e revoga dispositivos da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966.
20
fiscais é a forma que o Estado encontrou para instigar a iniciativa privada a colaborar
na realização dos direitos fundamentais, de maneira concreta.
Assim, como bem afirma Barcellos (2008, p. 117), “as escolhas em matéria
de gastos públicos não constituem um tema integralmente reservado à deliberação
política; ao contrário, há prevalência da incidência de normas constitucionais”. A
Constituição, portanto, vincula as escolhas em matéria de políticas públicas e de
dispêndio de recursos públicos. No entanto, a CF/88 (BRASIL, 1988) concebe
renúncia de receitas como instrumento para que o Estado viabilize as políticas
governamentais e tributárias, haja vista os incentivos fiscais estarem no campo da
extrafiscalidade.
O Professor Carrazza (1999, p. 514, 515) ensina que:
2.3.1 Extrafiscalidade
d) da anterioridade (art. 150, III, “b”), que veda a aplicação de uma lei que
tenha criado ou aumentado tributo, no mesmo exercício financeiro de sua
publicação, ou seja, não se trata de vigência, mas de cobrança ou eficácia;
e) da anterioridade nonagesimal (art. 150, III, “c”), corolário do princípio da
anterioridade. Tal princípio impõe que a cobrança do tributo só poderá ser
feita 90 (noventa) dias após a data de sua publicação;
f) da não confiscatoriedade (art. 150, IV), como sendo a vedação a ente
público da cobrança de tributo em valor exorbitante, em favor do Estado;
g) da capacidade contributiva (art. 145, § 1º), que se refere ao fato de que
cada cidadão deverá contribuir aos cofres públicos de acordo com sua
riqueza;
h) da progressividade, como subprincípio da capacidade contributiva (art.
153, § 2º, I), que caracteriza o tributo que deve ser cobrado com alíquotas
maiores quando se verificar que sua base de cálculo também aumentou;
i) da generalidade, como subprincípio da igualdade (art. 153, § 2º), que
caracteriza a aplicação da regra de pagar tributos a todos os indivíduos da
sociedade, como forma de inclusão social;
j) da uniformidade geográfica (art. 151), que estabelece que a União não
pode criar tributo que não seja uniforme em todo o território nacional,
admitindo-se exceções para a concessões de benefício fiscais;
k) da vedação a diferenciação (art. 152), que se caracteriza por dispor que os
estados não podem estabelecer diferenças tributárias em função da
procedência ou destino do bem ou serviço;
l) da seletividade (art. 153, § 3º, I e art. 155, § 2º, III), que se refere à
essencialidade do produto ou serviço, isto é, quanto mais essencial,
caberá menor tributação, quanto mais supérfluo, maior será a tributação.
Tal princípio caracteriza impostos incidentes sobre o consumo, como IPI e
ICMS; e
m) da não-cumulatividade (art. 153, § 3º, II; art. 154, I; art. 155, § 2º, I e
art.195, § 4º), que proíbe a cobrança de tributos em várias etapas,
incidindo mais de uma vez na cadeia de produção ou circulação. Esse
princípio caracteriza as contribuições sociais (PIS/COFINS) e impostos,
como IPI e ICMS.
23
A CF/88 (BRASIL, 1988, art. 151, I), ao estabelecer o princípio que trata da
uniformidade geográfica da tributação, admite a concessão de incentivos fiscais
destinados a “promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as
diferentes regiões do país.”
Ao se referir à capacidade tributária, Bresser-Pereira (2006, p. 6) afirma que:
fiscal. A remissão está prevista no CTN (BRASIL, 1966, art. 172) e só ocorrerá se
atender aos requisitos definidos no referido dispositivo. Sua característica principal é
que, conforme Madeira (2014, p. 366, 367), “ocorre o lançamento, mas o crédito é
dispensado. [A remissão é] o favor fiscal que perdoa a dívida tributária e somente
poderá ser concedida por lei.”
No que se refere à exclusão do crédito tributário, o CTN (BRASIL, 1966, art.
175)8 prevê duas hipóteses: a isenção e a anistia, institutos que atingem a origem do
crédito tributário.
Sobre a isenção, Madeira (2014, p. 407) afirma que “Há ocorrência do fato
gerador, há obrigação tributária, mas o lançamento deixa de ser feito, de forma
válida, inexistindo, assim, o crédito tributário.”, e completa que as hipóteses de
exclusão do crédito tributário:
são situações que não permitirão que o crédito tributário seja constituído [...]
Na isenção, a desoneração ocorre antes mesmo do fato gerador; na anistia
a atuação dar-se-á após o fato gerador. Assim caso ocorra a isenção ou a
anistia, o lançamento não será realizado.
8
CTN (BRASIL, 1966): art. 175. Excluem o crédito tributário: I - a isenção; II - a anistia.
Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento das obrigações
acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja excluído, ou dela consequente.
25
9
CF/88 (BRASIL, 1988): art. 150. [...] § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,
concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições,
só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule
exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem
prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.
26
2.4.1 Da isenção
2.4.2 Da anistia
10
O STF consolidou o conceito de isenção parcial no julgamento do RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Nº 635.688/RS: “3. Por atuar na estrutura da norma tributária, mutilando parcialmente o aspecto
quantitativo, a redução da base de cálculo equipara-se à figurada isenção parcial e acarreta a
anulação dos créditos de ICMS relativos às operações anteriores, nos termos do art. 155, § 2º, II, b,
da CF. RE nº 174.478 (RTJ 198/274). Reafirmação do entendimento consolidado na jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal”.
27
Para que os estados possam desenvolver sua política fiscal com base em
renúncia tributária envolvendo o ICMS, a CF/88 (BRASIL, 1988, art. 155, §2º, XII,
11
CF/88 (BRASIL, 1988): art. 155, §2º, II e IX c/c art. 2º da LC 87/96 (BRASIL, 1996).
12
CF/88 (BRASIL, 1988): art. 155, § 2º, IX, “a”.
28
13
CF/88 (BRASIL, 1988): art. 155, § 2º, XII, “g”: a CF/88 estabelece que concessão de quaisquer
benefícios fiscais concernentes ao ICMS pressupõe a prévia elaboração de convênio entre os
Estados e o Distrito Federal. A existência de prévia deliberação dos Estados membros e do Distrito
Federal é pressuposto de validade da concessão do benefício.
14
A LC nº 24/75 (BRASIL, 1975), recepcionada pela CF/88 (BRASIL, 1988), regulamentou a forma de
deliberação do CONFAZ, sendo necessária a unanimidade dos representados para a aprovação
das concessões e quatro quintos para a revogação: “A concessão de benefícios dependerá sempre
de decisão unânime dos Estados representados; a sua revogação total ou parcial dependerá de
aprovação de quatro quintos, pelo menos, dos representantes presentes. (BRASIL, 1975, art. 2º, §
2º).
15
Desonerações sobre bens de consumo da linha branca e automóveis, em relação aos tributos
federais como IPI, que compõe o FPE e afetam diretamente as finanças estaduais.
29
Cabe, mais uma vez, destacar que as políticas de benefícios fiscais são
distintas das adotadas, em períodos pretéritos, pelo Poder Central, as quais
buscavam o desenvolvimento das regiões menos favorecidas. Corroborando tal
vertente, Baratto (2005, p.151) afirma que “a guerra fiscal substitui, de certa maneira,
os instrumentos de política regional existentes nas décadas de 70 e 80.”
A CF/88 (BRASIL, 1988, art. 150, § 6º) exige que a isenção e a redução de
base de cálculo sejam concedidas por lei, ao determinar que:
16
LC nº 24/75 (BRASIL, 1975): art. 1º As isenções do imposto sobre operações relativas à circulação
de mercadorias serão concedidas ou revogadas nos termos de convênios celebrados e ratificados
pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta Lei.
31
17
LC nº 24/75 (BRASIL, 1975): art. 1º[...]Parágrafo único - O disposto neste artigo também se aplica:
[...] III - à concessão de créditos presumidos; [...]
18
Nada impede que o vendedor da mercadoria continue a utilizar a mesma forma de composição de
seu preço de venda (preço da mercadoria sem imposto de R$ 88,00 + ICMS a 12% de R$ 12,00 e
preço total de R$ 100,00). Somente este aspecto já tipifica o crédito presumido ou outorgado como
de qualidade inferior à isenção ou redução da base de cálculo.
19
Exemplificando: numa operação interestadual, significará que o Estado de destino terá de honrar
um crédito de ICMS em valor superior ao efetivamente cobrado (R$ 10,92 de crédito destacado na
nota fiscal, menos R$ 2,73 de ICMS efetivamente cobrado = R$ 8,19 de crédito indevido). No caso,
esse crédito excedente não é admitido pela legislação, porque não foi efetivamente cobrado na
origem; o Fisco entende como benefício escritural que não é destacado na nota fiscal.
32
20
LC nº 24/75 (BRASIL, 1975): art. 1º [...] Parágrafo único: [...] IV - à quaisquer outros incentivos ou
favores fiscais ou financeiro-fiscais, concedidos com base no Imposto de Circulação de
Mercadorias, dos quais resulte redução ou eliminação, direta ou indireta, do respectivo ônus.
21
Famosos programas de recuperação fiscal, mais conhecidos como “REFIS”.
22
CF/88 (BRASIL, 1988): art. 155, § 2º, XII, “g”.
33
23
LC nº 24/75 (BRASIL, 1975): art. 5º Até 10 (dez) dias depois de findo o prazo de ratificação dos
convênios, promover-se-á, segundo o disposto em regimento, a publicação relativa à ratificação ou
à rejeição no Diário Oficial da União.
34
24
Horvath (2001), ao discutir sobre o tratamento que foi dado pela Lei de Responsabilidade Fiscal à
concessão de benefícios fiscais que importem em renúncia de receita.
35
Logo, como política pública está a política fiscal, a qual deve garantir a
execução financeira do orçamento público, o equilíbrio fiscal, a conservação da
biodiversidade, a geração de emprego e renda, bem como a definição da renúncia
fiscal, avaliando-se seus efeitos econômicos, financeiros, sociais e ambientais.
Torna-se necessário, pois, maior avaliação da efetividade dos benefícios
fiscais concedidos pelo Estado, na medida da renúncia fiscal frente ao retorno
econômico-financeiro a ser garantido pelos contribuintes beneficiados, assim como
sua representatividade em relação ao orçamento público, em especial quanto à
aferição das concessões outorgadas em caráter oneroso, o que exige uma estrutura
eficiente de controle e análise por parte da Administração Pública.
Assim, frente à concessão de benefícios fiscais e a sua possível ineficácia
no retorno social, no aumento da empregabilidade e na promoção do
desenvolvimento regional, pergunta-se: como um Governador vai reconduzir a
despesa ao equilíbrio? Há condições políticas e jurídicas de se fechar escolas e
postos de saúde e se exonerar servidores, com base na LRF (BRASIL, 2000a) ou
quando o orçamento não consegue cobrir a folha de pagamentos do setor público?
Questiona-se, ainda, se, para os gestores públicos que tiverem coragem de
seguir tal caminho (caso seja um caminho justo), tais decisões serão mantidas pelo
Poder Judiciário ou respeitadas pelo Ministério Público?
Esses questionamentos visam suscitar a reflexão sobre o movimento
tradicional da cultura brasileira, de procurar soluções para postergar um resultado,
na esperança de que a economia se recupere de alguma forma. Essas soluções
paliativas, em geral, são encontradas na concessão de benefícios ou na contratação
de empréstimos, o que não tem o condão de promover, de fato, o desenvolvimento
regional.
37
Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em
um mesmo complexo geoeconômico e social, visando a seu
desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais.
25
http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/aduaneira/regimes-e-controles-especiais/regimes-
aduaneiros-especiais.
26
A reformulação da Zona Franca de Manaus foi levada a termo em 1967 pelo Decreto-Lei nº 288, de
28.02.67.
40
“de tal forma que a região desse um salto de qualidade de vida de sua gente a fim
de preservá-la daquilo que mais os militares temiam: a internacionalização.”
(CORRÊA, 2002, p. 21).
A narrativa de Corrêa (2002, p. 24) sobre a criação da ZFM é rica em
detalhes:
27
Art. 504. A Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e de exportação e
de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um
centro industrial, comercial e agropecuário, dotado de condições econômicas que permitam seu
desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância a que se encontram os centros
consumidores de seus produtos (Decreto-Lei no 288, de 1967, art. 1º).
28
Após longa pesquisa, não foi encontrada nova Decisão CMC prorrogando a Decisão
MERCOSUL/CMC/DEC 8/94.
41
Deve-se ressaltar que, quanto à área de Bonfim e Boa Vista, a lei de sua
criação foi a Lei nº 8.256/91 (BRASIL, 1991b), cuja ementa foi alterada pela Lei nº
11.732/08 (BRASIL, 2008) para incluir a ALC de Boa Vista, em Roraima.
29
Entrevista, por telefone, da autora do presente trabalho com Mauro Oiticica Laviola, Presidente da
Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) que prestou informações acerca da tramitação
dos prazos no MERCOSUL, em 18.07.2016.
42
30
Art. 524. Constituem áreas de livre comércio de importação e de exportação as que, sob regime
fiscal especial, são estabelecidas com a finalidade de promover o desenvolvimento de áreas
fronteiriças específicas da Região Norte do País e de incrementar as relações bilaterais com os
o
países vizinhos, segundo a política de integração latino-americana (Lei n 7.965, de 22 de dezembro
o o o o
de 1989, art. 1 ; Lei n 8.210, de 19 de julho de 1991, art. 1 ; Lei n 8.256, de 25 de novembro de
o o o o
1991, art. 1 , com a redação dada pela Lei n 11.732, de 2008, art. 5 ; Lei n 8.387, de 1991, art. 11,
o o
caput; e Lei n 8.857, de 8 de março de 1994, art. 1 ).
Parágrafo único. As áreas de livre comércio são configuradas por limites que envolvem, inclusive, os
perímetros urbanos dos municípios de Tabatinga (AM), Guajará-Mirim (RO), Boa Vista e Bonfim
(RR), Macapá e Santana (AP) e Brasiléia, com extensão para o município de Epitaciolândia, e
o o o o
Cruzeiro do Sul (AC) (Lei n 7.965, de 1989, art. 2 , caput; Lei n 8.210, de 1991, art. 2 , caput; Lei
o o o
n 8.256, de 1991, art. 2 , caput e parágrafo único, com a redação dada pela Lei n 11.732, de 2008,
o o o o o
art. 5 ; Lei n 8.387, de 1991, art. 11, § 1 ; e Lei n 8.857, de 1994, art. 2 , caput)
43
feito com o Senador José Sarney para incluir uma área de livre comércio em Macapá
e Santana, chegou-se à Lei nº 8.387/91.”
A ALCMS foi criada pelo art. 11, da Lei nº 8.387/91 (BRASIL, 1991c)31 e
regulamentada pelo Decreto Federal nº 517/92 (BRASIL, 1992, art. 11), 32 o qual
disciplina que:
31
Em função da temporariedade dos regimes aduaneiros especiais, o prazo para extinção das ALCs
foi prorrogado para 2050, conforme a Lei Federal nº 13.023, de 8 agosto de 2014, que altera a Lei
dos Produtos de Informática: “Art. 3º As isenções e os benefícios das Áreas de Livre Comércio
criadas até a data de publicação desta Lei ficam prorrogadas até 31 de dezembro de 2050”.
32
Art. 2º. A Área de Livre Comércio de Macapá e Santana - ALCMS, no Estado do Amapá,
objetivando coincidir os perímetros municipais com as poligonais das áreas incentivadas, fica
configurada pelos seguintes limites: I - a área do Município de Macapá, de 6.562,4 km2, limitando-
se ao Norte com os Municípios de Ferreira Gomes, Cutias do Araguari e Itaubal do Piririm, ao Sul
com o Município de Santana, a Oeste com o Município de Porto Grande e a Leste com o Rio
2
Amazonas; e II - a área do Município de Santana, de 1.599,7 km , limitando-se ao Norte com os
Municípios de Macapá e Porto Grande, ao Sul e a Oeste com o Município de Mazagão e a Leste
com o Rio Amazonas.
33
O §3º do art. 2º da Lei Federal nº 10.996/04, estabelece alíquota “0”.
44
34
CTE/AP (AMAPÁ, 1997): Art. 9º. As isenções, incentivos e benefícios fiscais do imposto serão
concedidos ou revogados mediante Convênio celebrado nos termos da Lei Complementar nº 24, de
7 de janeiro de 1975, pelo Ministro de Estado da Fazenda e os Secretários de Estado da Fazenda,
Finanças ou Tributação dos Estados e do Distrito Federal e ratificado pelo Poder Executivo.
35
Convênio ICMS 52/92 (BRASIL, CONFAZ, 1992), de 25.06.92, que estende às Áreas de Livre
Comércio a isenção às remessas de produtos industrializados prevista no Convênio ICM 65/88
(BRASIL, CONFAZ, 1988), de 06.12.88.
45
36
Decreto nº 517/92 (BRASIL, 1992), §4º do art. 5º.
37
Convênio ICMS 52/92 (BRASIL, CONFAZ, 1992): “Parágrafo único. Não será permitida a
manutenção dos créditos na origem”.
38
No Supremo Tribunal Federal existem hoje, mais de 30 Ações Diretas de Inconstitucionalidade
aguardando julgamento referente a benefícios fiscais em matéria de ICMS, concedidos sem a
46
observância do art. 155, II, § 2º, XII, “g” da CF/88 (BRASIL, 1988), isto é, sem a observância da Lei
Complementar nº 24/75 (BRASIL, 1975) que preconiza a concessão de benefícios no âmbito do
Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ. Hoje, tais benefícios são tidos por
inconstitucionais haja vista a sua concessão não observar aspectos formais que desautorizam tal
política.
47
Indústria 6,17 6,24 6,23 6,76 6,63 4,93 4,81 4,33 4,29 4,08 4,18 4,79
Serviços 56,91 57,93 57,87 58,59 57,00 58,41 57,11 58,42 57,60 57,97 57,82 57,41
Fonte: IBGE (apud SUFRAMA, 2014, p.17).
Indústria 5,14 4,95 4,54 4,08 4,63 3,92 3,75 2,29 3,01 2,62 2,45 3,06
Serviços 12,18 11,41 11,23 10,76 11,90 12,01 12,05 12,18 11,61 11,60 12,05 11,95
Fonte: IBGE (apud SUFRAMA, 2014, p.25).
39
Infraestrutura, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa,
2008/2013, http://www.priberam.pt/dlpo/infra-estrutura, acesso em 06-09-2016.
51
700,000
602,792
600,000
447,241
425,348
416,167
352,978
500,000
400,000
192,573
300,000
127,981
127,980
76,511
200,000
46,884
182,839
35,999
62,352
19,563
45,028
30,466
16,367
100,000
0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
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Art. 2º A Política de incentivos ao desenvolvimento industrial do Estado do Amapá dispõe sobre
benefícios e/ou incentivos às indústrias em geral que utilizam matéria - prima, insumos e
implementos, preferencialmente produzidos no Estado, e tem como diretrizes básicas estimular: I – a
interiorização da atividade industrial; II - a formação de entidades empresariais comunitárias
constituídas para a exploração das atividades industriais e outros empreendimentos industriais
abrangidos nos objetivos desta Lei
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Art. 26. Os produtos industrializados na área de livre comércio de importação e exportação de que
o o o
tratam as Leis n 7.965, de 22 de dezembro de 1989, n 8.210, de 19 de julho de 1991, n 8.387, de
o
30 de dezembro de 1991, e n 8.857, de 8 de março de 1994, ficam isentos do Imposto sobre
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quanto as leis já aprovadas têm por base o Convênio ICMS 42/16 (BRASIL,
CONFAZ, 2016), de 3 de maio de 2016, pelos estados, no âmbito do CONFAZ.
Na prática, se uma empresa recebeu benefícios por vários anos, por exemplo,
a contribuição não será cobrada sobre todo o período, mas apenas sobre os
incentivos dos quais a empresa usufruir a partir da aprovação da lei proposta.
Os governadores menos endividados aguardam o aval do Tesouro para fazer
novos empréstimos no mercado interno e externo, mas essas autorizações não
devem vir tão cedo. Na visão de André Horta43 (TOMAZELLI; FERNANDES, 2016),
“os empréstimos não vão resolver a crise, precisamos de ajuda financeira que venha
para o caixa”, sendo que boa parte dos pedidos de crédito têm como finalidade
investimentos em infraestrutura.
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André Horta é Secretário de Fazenda do Estado do Rio Grande do Norte e atual Presidente do
Comitê de Secretários de Fazenda (COMSEFAZ).
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS