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Walter De Mulder
Universidade de
Antuérpia Anne Carlier
Universidade de Valenciennes, EA 2446
Por analogia com o ciclo de negação (Meillet 1912, Jespersen 1917, 1971),
podemos admitir que existe um ciclo que leva do demonstrativo ao definitivo?
Tal hipótese não parece incongruente. Do demonstrativo do distanciamento
latino ille, o artigo definitivo li nasceu em francês antigo. Ao mesmo tempo, a
partir das formas reforçadas do ecce ille demonstrativo e do ecce iste do latim
tardio, as formas cil e cist se desenvolvem em francês antigo, assumindo a
função demonstrativa. Seu enfraquecimento leva ao aparecimento da forma
atônica ce 1. Este enfraquecimento está novamente correlacionado com o
desenvolvimento das formas reforçadas ce N-ci e ce N-là.
Esta hipótese de um ciclo que vai do demonstrativo ao definitivo levanta
duas questões:
– Em que estágio do ciclo é o determinante em francês moderno: ele ainda é
um demonstrativo por direito próprio ou está a caminho de se tornar um
artigo definitivo?
– E quanto ao artigo o: ainda é totalmente, em todos os seus usos, um
marcador de definibilidade?
Uma resposta clara a esta dupla pergunta é proposta por Harris (1977,
1980a/b).
– Segundo ele, o artigo definido em francês moderno não é mais um
marcador de definição, mas em alguns de seus usos tem o status de
determinante não marcado, aparecendo por padrão, quando o uso
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1. Para um estudo detalhado das mudanças morfo-sintáticas que afetam o sistema demonstrativo
durante o período da França antiga e média, ver Marchello-Nizia (1995: 115-181).
2. Entre os contextos onde o artigo definido é introduzido sem que seu uso seja motivado por seu
senso de definição, Harris (1977) menciona o genérico. Deve-se notar, entretanto, que o artigo
definido é usado em genéricos tão cedo quanto o francês antigo (Carlier & Goyens 1998). A
hipótese, defendida por Harris (1977), de que a extensão do artigo definido para o domínio do
genérico em francês se deve ao fato de que este artigo é usado para marcar gênero e número, ao
invés do sistema anterior de gênero sufixo e inflexão numérica, é invalidado por idiomas como o
e s p a n h o l e o italiano: Embora estes idiomas mantenham a inflexão de gênero e número
sufocados e ainda façam amplo uso do grau zero de determinação, eles ainda conceituam o
genérico em termos de definição.
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O demonstrativo em
francês
A fim de orientar melhor o trabalho interpretativo do orador, cada orador
utiliza ocasionalmente formas inovadoras, tirando proveito de inferências
pragmáticas. Tais usos de estilo pessoal podem se espalhar pela comunidade
linguística, de modo que passemos da fase de inovação para a fase de
mudança. A fase de mudança em si pode ser dividida em duas etapas
sucessivas, ou seja, uma etapa pragmática e uma etapa semântica. Na fase
pragmática, o novo uso do formulário ainda depende de seu texto de uso e
não implica ainda um divórcio do significado principal do formulário. Na
etapa semântica, este novo uso é emancipado do contexto de uso para que a
mudança seja inscrita no código linguístico. É em relação a este modelo de
mudança semântica que tentaremos situar o determinante cessa como ele
funciona em francês moderno.
Nosso estudo será dividido em quatro partes. Na primeira parte, dedicada
ao artigo le, mostraremos, seguindo Löbner (1985) e Himmelmann (1997), que
este artigo apresenta usos pragmaticamente definidos e usos semanticamente
definidos em francês moderno e que este último deve ser considerado como
os usos centrais. A relevância da distinção entre definição pragmática e
semântica será apoiada pelo fato de que ela corresponde em alguns idiomas
germânicos, incluindo o alemão Fering, a dois tipos diferentes d e artigos
definidos: um artigo definido
"Na primeira parte, analisaremos o determinante 'forte' ce, que é menos
gramaticalizado e usado em contextos pragmaticamente definidos, e o
determinante 'fraco' ce, que é mais gramaticalizado e usado em contextos
semanticamente definidos. Na segunda parte, que trata do determinante ce,
faremos uma comparação entre ce como funciona em francês moderno e o
artigo "forte" definido de Fering, o que nos levará a atribuir a ce o papel de um
marcador de d e f i n i ç ã o pragmático. Esta comparação com o caso de fering
levanta a questão de saber se este papel de marcador de definição pragmática
lhe confere o status d e artigo definido. Uma comparação com o surgimento
d o artigo definido em latim tardio mostrará que este papel ainda não implica
um divórcio do significado demonstrativo primitivo e, portanto, nenhuma
mudança categórica completa. Na terceira parte, vamos examinar quais
contextos de uso permitem a passagem da definição pragmática para a
definição semântica durante o processo de gramaticalização. Finalmente,
vamos examinar o estágio de evolução do ce em relação a este processo de
gramaticalização, desde a definição pragmática até a definição semântica, e
suas chances d e sucesso: o ce é um artigo definido (em elaboração)?
3. Como Traugott e Dasher (2002) apontam, esta suposição pode ser rastreada até Meillet (1912),
que usa o termo expressividade.
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Do artigo demonstrativo ao artigo definitivo: o caso do ce em
francês moderno
1. O ARTIGO LE DEFINIDO: ENTRE A DEFINIÇÃO
SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA
4. Em Fraurud's (1990: 405) corpus sueco, 60,9% dos SNs introduzidos pelo artigo definido estão
sob definição semântica.
5. Vários idiomas regionais alemães, incluindo Mönchengladbach (Hartmann 1982), também têm
dois artigos definidos, que estão divididos em termos da oposição entre a definição semântica e a
pragmática. Como Hartmann (1982) e Löbner (1985) apontam, a posição entre os dois tipos de
definição também tem uma reflexão formal em alemão padrão: o artigo definido pode se
tornarclítico à preposição anterior quando marca a definição semântica (por exemplo, em das > ins),
mas permanece autônomo quando marca a definição pragmática.
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Do artigo demonstrativo ao artigo definitivo: o caso do ce em
francês moderno
– na situação imediata, para se referir a uma entidade no campo da
percepção. Como Ebert (1971: 104) aponta no exemplo a seguir, o uso do
artigo-D em (11) implica necessariamente que o orador está direcionando o
olhar para o referente em questão.
(11) Smatst' mi ans det / at pokluad auer ?
"Você vai jogar o lápis em mim?"
– para uma reafirmação anafórica de um referente introduzido no contexto
anterior na forma de um SN, não apenas no caso de uma anáfora fiel (12),
mas também quando o substantivo na reafirmação anafórica difere do
antecedente (13), em particular quando o referente é reclassificado de
acordo com um critério de avaliação (14).
(12) Peetje hee jister an kü slaachtet. Jo saai, det kü wiar äi sünj.
"Peetje abateu uma vaca ontem. Eles dizem que a vaca não era saudável".
(13) Matje hee al wäler an näi bridj. Di gast kön a nöös uk wel äi fol fu.
"Matje tem uma nova namorada novamente. Este jovem não consegue se fartar
dela".
(14) Heest dü wat faan Teetje hiard? Je, di idioot hee uunrupen an saad dat hi äi
kem wul ?
"Você já ouviu alguma coisa de Teetje? Sim, aquele idiota me telefonou para
dizer que não vem".
– para a repetição anafórica de uma proposta.
(15) Um jongen me manchou malmarter... Det spal käand ik noch
äi. As crianças estavam jogando mármore.... Eu não conhecia o
jogo.
– em uso catafórico, quando o substantivo principal ao qual o artigo
definido se refere é seguido por um parente estabelecendo a existência do
referente, situando-o no tempo e/ou no espaço.
(16) Rooluf hee det klook wechsleden, wat hi faan san uatlaatj fingen hee.
"Roluf perdeu o relógio que havia recebido de seu avô.
O artigo A, na forma a / at, expressa a definição semântica. De fato, toda a
gama de usos associados a ela pode ser identificada, incluindo o uso em
situação imediata onde o referente está associado a um quadro presente na
situação de enunciação (11/17), uso em situação ampla (18), uso genérico (19),
uso em combinação com substantivos de seres únicos (20) e a anáfora asso-
ciativa (21).
(17) Um hünj como auerkeerd würden.
"O cão foi morto na estrada". (o cão pertencente a um dos dois alto-falantes
ou associado ao local de emissão)
(18) A köning kaam tu bischük.
"O rei veio para visitar".
(19) Um klesi kaater.
"Arranhão de gatos".
(20) Um presunto dräit eard dräit a san.
"A terra gira em torno do sol.
(21) Üüs wi bi det hüs uunkam, wiar diar ab seedel bi-d-a döör.
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Do artigo demonstrativo ao artigo definitivo: o caso do ce em
francês moderno
Em Fering, como nas outras línguas germânicas mencionadas (ver nota 5),
o artigo definido expressando uma definição pragmática instrui para
estabelecer a identidade do referente a partir da situação particular ou do
contexto do enunciado. A definição semântica definitiva do artigo, por outro
lado, assume que o referente pode ser identificado apenas a partir do
conteúdo descritivo do SN, dadas as associações estereotipadas que ele tem
com um cenário ou cenário a ser apresentado. Esta diferença leva Lyons (1999:
163) a concluir que o artigo de definição semântica é menos substantivo em seu
significado do que o artigo de definição pragmática, na medida em que não
"cria" a definição em si, mas apenas aponta que o conteúdo descritivo do SN é
suficiente para estabelecer esta definição. Ao mesmo tempo, o artigo de
definição semântica também é menos substancial que o artigo de definição
pragmática do ponto de vista fonológico: segundo Löfstedt (1964: 182), o artigo
A desenvolvido a partir do artigo D por aférese do dígito consonantal, que
ocorre inicialmente em contextos onde segue uma palavra terminada em uma
consoante6. Segundo Meillet (1912: 139) e Lehmann (1995: 126), esta perda
6. Esta mesma erosão fonológica, característica de uma progressão da gramaticalização, pode ser
observada nos dialetos alemães. Nos dialetos baixos alemães, o artigo "fraco" deriva do artigo
"forte", amuzindo a vogal; ver Heinrich (1954: 87-89) para um exame detalhado da etimologia do
artigo "fraco" e sua relação histórica com o artigo "forte". No alemão padrão, o artigo que marca
a definição semântica também tem a tendência de se tornar enclítico em relação à preposição
anterior (por exemplo, um dem > am), perdendo assim sua autonomia sobre o eixo sintagmático.
De acordo com Lehmann (1995: 148), tal clientelização também marca uma progressão na
gramatinização.
7. O determinante tende até a prevalecer sobre le em dois contextos pragmaticamente definidos,
ou seja, na situação imediata para evocar um referente que está no campo da percepção e para a
recuperação anáfora de um referente introduzido no contexto anterior, quer este referente seja
evocado por meio de um SN ou corresponda a uma proposição. O uso do artigo le nestas mesmas
configurações tende a ativar uma estrutura relacional contra a qual o referente pode ser
localizado univocamente, por um conjunto de instrumentos de escrita em (i) ou uma fazenda em
(ii).
(i) Você vai jogar o lápis/este lápis em mim (ver, por exemplo, (11))
(ii) Paul foi para um estábulo. O estábulo / Este estábulo cheirava a feno (Kleiber 1987b: 107) (=
ex. (3))
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Do artigo demonstrativo ao artigo definitivo: o caso do ce em
francês moderno
definitivo. Ambas as línguas germânicas desenvolveram um artigo definido
distinto do demonstrativo, que foi mantido em sua integridade em usos
pragmaticamente definidos, mas que teria sofrido erosão semântica e
fonológica em usos semanticamente definidos, resultando em uma
diferenciação entre uma forma forte e uma forma fraca do artigo definido. O
francês, por outro lado, recrutou uma forma existente que originalmente tinha
a função de um determinante demonstrativo, para marcar uma definição
pragmática. A freqüência de uso do ce com este significado enfraquecido é
parcialmente condicionada pelo estilo do autor, observa Jonasson (1998),
revelando uma convenção imperfeita. Além disso, este novo senso
enfraquecido de ce está fortemente enraizado no contexto do discurso. Nessas
condições, podemos admitir que o cessar como um marcador de definição
pragmática já adquiriu o status de artigo definido? Tentaremos lançar alguma
luz sobre esta questão, mostrando o paralelismo com o surgimento do artigo
definitivo em latim tardio.
8. Frédégaire, Chronique des temps mérovingiens (Livre IV et Continuations), texto de acordo com a
ed. de J.M. Wallace-Hadrill, trans. de Olivier Devilliers e Jean Meyers, Turnhout, Brepols, 2001.
9. Para uma apresentação mais detalhada desta pesquisa, veja Carlier & De Mulder (em breve).
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Do artigo demonstrativo ao artigo definitivo: o caso do ce em
francês moderno
"O já mencionado Remistiano fez um inimigo do já mencionado rei e dos
Francos, bem como das guarnições que o mesmo rei havia deixado nas
cidades, e devastou tanto o Bago quanto o Limousin, que o mesmo rei havia
conquistado, pilhando tanto que nenhum camponês se atreveu a cultivar a
terra, nem nos campos nem nas vinhas.
Embora o processo de gramaticalização que levará ao estágio do artigo
definido já tenha começado, o fato é que o funcionamento do ille e do ipse
neste uso "articular" não implica uma ruptura com seu significado primitivo,
mas é, ao contrário, condicionado por este significado primitivo 10. Além
disso, este funcionamento "articulatório" depende do contexto de utilização.
De fato, nenhum determinante é usado nos contextos de uso característicos da
definição semântica, quando a identificação do referente não envolve
diretamente o contexto de uso. Este funcionamento "articulatório" de ille e ipse
como aparece no corpus dos séculos VII e VIII não nos parece ser uma inovação
no sistema gramatical do latim tardio, o que justifica o termo "arti- cloids"
cunhado por Aebischer (1948) para designar estes artigos emergentes.
10. Para uma demonstração empírica com base no Merovingian Chronicle of Frédégaire, veja
Carlier & De Mulder (em breve).
11. Na Crônica de Frederick e suas Continuações, o demonstrativo de proximidade hic tem uma
freqüência relativamente alta em uso anafórico.
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Do artigo demonstrativo ao artigo definitivo: o caso do ce em
francês moderno
Seguindo Himmelman (1997), argumentaremos que o uso "memorial" do
demonstrativo, ilustrado acima por (27), (28) e (35), poderia ser o caminho
para a definição semântica característica do artigo definido. Este uso memorial
compartilha com definição semântica o fato de que o referente é suposto estar
disponível no universo do discurso, sem ter que ser mencionado no contexto
anterior ou estar presente na situação imediata. Entretanto, o que distingue o
uso memorial do cessar demonstrativo da definição semântica que pode ser
expressa pelo artigo definido é que o conhecimento que permite que o
referente seja identificado univocamente não é um conhecimento geral, mas se
refere a uma experiência compartilhada pelo orador e pelo destinatário, às
vezes resultando em um efeito de conivência (Himmelmann 1997: 60-61,
Diessel 1999: 106-107). Esta diferença desta memorialização da definição
semântica é ilustrada por Gary-Prieur (2001: 232) com os seguintes exemplos,
onde os SNs demonstrativos com um parente só são aceitáveis se este parente
puder ser interpretado como evocando uma experiência pessoal
compartilhada por ambos os palestrantes:
(37) Gosto daqueles longos charutos italianos que Clint Eastwood fuma em
spaghetti wes- terns.
(38) Eu gosto daqueles charutos que Clint Eastwood fuma.
(39) Eu gosto destes charutos que são enrolados à mão em algumas vilas cubanas.
(40) *Eu gosto destes charutos que são italianos.
(41) *Gosto destes charutos que são pequenos.
(42) Eu gosto daqueles charutos que são grandes demais para serem colocados
no bolso de um casaco.
Não é, portanto, surpreendente que os pró-nomes tu / nós / vous / on apareçam
freqüentemente em tais parentes:
(43) Você conhece aqueles pequenos bolinhos de morango que você amava? (E.
Zola, La Curée, Frantext)
(44) Também a tradição constante em todos os países, que ensina que os mortos
se mostram à noite, pela lua e neblina, ou no mato das florestas, está muito
mais próxima da verdade do que esta ficção teológica que nos separa dos
mortos e os relega a um lugar remoto. (Alain, Proposta, Frantext)
Ao utilizar o "memorial" demonstrativo, o orador pode sinalizar ao
destinatário que o conteúdo descritivo do SN não é suficiente para identificar
univocamente o referente (Auer 1980, 1981, 1984) e convida-o a mobilizar
outros conhecimentos. É nesta perspectiva que podemos entender a
ocorrência frequente de incisos como tu sais, tu te souviens, dont'ai parlé etc.
ativando a memória (Himmelman 1997: 59-61, 81, Gary-Prieur 2001: 233).
(45) Você se lembra dessas bolas de lã de todas as cores, e foi você quem segurou
a meada (C.-F. Ramuz, Aimé Pache - Peintre vaudois, Frantext)
(46) Albertine, você sabe aquela garota bonita de quem você me falou, que jogou
golfe tão bem (M. Proust, À la recherche du temps perdu, Frantext)
(47) - Aquela pessoa, sabe, a Srta. E... de quem lhe falei, com quem eu deveria
tomar chá em quinze dias no Madame Chesneau's que a conhece, bem,
soube ontem que ela tem um amante, um grande banqueiro em Paris, que
não quer se casar com ela. (Villiers de L'Isle-Adam, Correspondance générale,
Frantext)
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Do artigo demonstrativo ao artigo definitivo: o caso do ce em
francês moderno
4. CE: UM ARTIGO DEFINIDO (EM ELABORAÇÃO)?
Onde o determinante deve estar situado, em francês moderno, na escala de
gramaticalização que leva do artigo demonstrativo ao definitivo? Já chegou ao
estágio do artigo definido, como Harris (1977: 258) afirma? Os fatos
observados neste estudo nos levam a adotar uma atitude mais matizada. Isto
de fato embarcou no processo de gramaticalização que leva ao artigo definido.
Além do fato de que, como demonstrativo, perdeu o componente deictic que
nos permite opor proximidade e distância 12, apropriou-se de contextos
pragmaticamente definidos, onde o referente é acessível porque está presente
no contexto de uso, o que nos levou a compará-lo ao forte artigo definido
atestado em algumas línguas germânicas. Também é usado em uso memorial,
que está no limite da definição pragmática, e pode assim garantir a transição
para a definição semântica. O fato de que o demonstrativo é usado em sentido
memorial pode ser visto como uma indicação de uma progressão no processo
de gramaticalização. O estudo bem documentado de Laury (1997: 186-187)
sobre o surgimento do artigo definido em finlandês mostra que o
demonstrativo de distância gramaticalizando é inicialmente usado para
enfatizar referências que são diretamente acessíveis por menção prévia e
somente em uma segunda etapa é estendido a referências que são acessíveis
pelo fato de serem conhecidas pelo destinatário sem serem mencionadas no
contexto anterior. Seria interessante examinar os primeiros usos do cez na
linguagem medieval a este respeito, a fim de verificar se são observadas as
mesmas etapas evolutivas no processo de gramaticalização.
A existência deste uso memorial do demonstrativo, mesmo que constitua
um progresso no processo de gramaticalização, não é suficiente para atribuir a
este artigo o status de artigo definido. Em primeiro lugar, este memorial
permanece ancorado em seu contexto de uso, mostrando assim sua filiação a
uma definição pragmática. Como Himmelman (1997) e Gary-Prieur (1998,
2001) apontam, o uso memorial de ce está mais freqüentemente ligado à
presença de um modificador adnominal na forma de um parente. Embora este
parente não estabeleça de forma unívoca a identidade do referente, ele
contribui para ativar o conhecimento que torna possível estabelecer a
identidade deste referente. Além disso, de acordo com as observações de
Jonasson (1998), este uso do demonstrativo, sem ser marginal, é de freqüência
variável de acordo com os autores e é marcado estilisticamente em
comparação com o uso do artigo definido le no mesmo contexto. Isto significa
que o demonstrativo ainda não perdeu seu valor primitivo neste uso
memorial: ao contrário do artigo definido, ele não pressupõe que o referente
seja univocamente idêntico, mas envolve a relação intersubjetiva entre as duas
inter
Referência
s
AEBISCHER, P. (1948), "Contribution à la protohistoire des articles ille et ipse dans les langues
romanes", Cultura neolatina 8, 181-203.
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Konstanz, Fachbereich Sprachwissenschaft.
AUER, J.C.P. (1981), "Zur indexikalitätsmarkierenden Funktion der demonstrativen Artikelform in
deutschen Konversationen", em Hindelang G. & W. Zillig, eds, Sprache: Verstehen und Handeln,
Tübingen, Niemeyer, 301-311.
AUER, J.C.P. (1984), "Referential problems in conversation", Journal of Pragmatics 8, 627-648.
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