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Com Maria já instalada na Rua de S.

Francisco, terminara aí o jantar, e Ega insistia com


Carlos para irem ao sarau de beneficência que se realizava no Teatro da Trindade, a favor das
vítimas das cheias.
Carlos, relutantemente a principio, rendeu-se à ideia de ir, já que o Cruges era um dos
atuantes. Juntamente com Ega, suportou estoicamente o discurso de um parlamentar arrebatado,
ouviu a atuação do Cruges, tocando ao piano a Sonata Patética de Bethoven, e assistiu ao triunfo
do Alencar, que recitou um poema da sua autoria, dedicado à Democracia, tudo intercalado com
idas ao botequim e conversas de corredor com os conhecidos.
No botequim, por intermédio de Alencar, Ega travou conhecimento com o Sr.
Guimarães, o tio de Dâmaso, que vivia em Paris. O senhor Guimarães tinha mostrado vontade
de falar com Ega, porque se sentia atingido pelas declarações do sobrinho, na carta que o Ega
redigira e o fizera assinar, fazendo-o confessar que tinha uma tendência hereditária para se
entregar à bebida.
Dâmaso alegara que assinara a carta sob coação. Mas, sabendo-o mentiroso, o Sr.
Guimarães (em Paris no Rappel onde trabalhava, era conhecido por monsieur Guimaran) apenas
desejava que o Sr. Ega declarasse que não o considerava um bêbedo – coisa que Ega fez sem
dificuldades, pois, além do mais, simpatizara com aquele patriarca anarquista e republicano.
Carlos, tendo visto Eusebiozinho a sair do sarau, foi atrás dele e cobrou-lhe com uma
tareia a intervenção que tivera no caso do Jornal da Corneta. Mas, quando se tratou de
regressarem a casa, os dois amigos, Carlos e Ega, desencontraram-se, e Ega caminhava com o
Cruges pela Rua Nova da Trindade, quando ouviu o Sr. Guimarães a chamá-lo.
O caso é que o Sr. Guimarães sabia que o Sr. Ega era íntimo do Sr. Carlos da Maia. E
ele, Sr. Guimarães, fora muito amigo, em Paris, da mãe de Carlos, que lhe confiara, antes de
morrer, um cofre onde estariam, segundo ele, papéis importantes. Como estava de partida, pedia
ao Sr. Ega que entregasse o cofre ou ao Sr. Carlos ou à irmã. E, perante a estupefação do Ega, o
Sr. Guimarães revela candidamente ao Ega que Maria Eduarda era irmã de Carlos – aliás, o Sr.
Ega devia estar ao corrente…Ega não estava ao corrente, mas, sem se dar por achado, arranca
do Sr. Guimarães a história que, em tudo e por tudo, condiz com a que Maria Eduarda contara a
Carlos. E, de posse do cofre, correndo para o Ramalhete, Ega realiza, atordoado, a enormidade
da situação: Carlos era amante da sua própria irmã. Indeciso, primeiro, toma depois a resolução
de não pactuar com essa situação hedionda e de contar tudo ao Vilaça, o procurador dos Maias,
para que seja este a dar a notícia a Carlos.

Com a revelação de que Carlos e Mª Eduarda são irmãos, percebe-se que a ação se aproxima do
desenlace trágico. Alguns leitores ficarão talvez dececionados com o desfecho inesperado desta
história de amores sublimes entre duas criaturas dotadas de grandeza, mas, de acordo com as
regras de tragédia, os finais funestos dão-se, precisamente, com personagens de caráter e de
condição nobre.

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