Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1.INTRODUÇÃO
Existem nos EUA mais de 17.000 agências policiais, servidas por um contingente de recursos
humanos superior a 900 mil indivíduos. A operação total desse "sistema" importa num gasto
superior a 44 bilhões de dólares anuais. Nos últimos 20 anos, as despesas com a segurança pública
norte-americana, em todos níveis, quadruplicaram.
O fato da segurança pública dos EUA ser provida por múltiplos serviços policiais torna essa
atividade extremamente complexa e dispendiosa. Tal modelo difere bastante do praticado em outros
países do mundo, em muitos dos quais existe uma única polícia (Dinamarca, Finlândia, Grécia,
Japão, Suécia, etc…).
Fora dos EUA muitos acreditam, equivocadamente, que o "Federal Bureau of Investigation"
[Bureau Federal de Investigação (FBI)] seja a "polícia única norte-americana". Na verdade, O FBI é
apenas uma "agência federal de investigação" com certos poderes policiais e não uma "polícia"
propriamente dita.
Existem nos EUA 1.600 agências policiais federais e autônomas, 12.300 departamentos de polícia
municipal e de condado e 3.100 xerifados.
Os xerifados são um tipo específico de polícia de condado ou município, via de regra prestando
serviços de apoio direto ao judiciário local (seus prepostos executam tarefas semelhantes às dos
"oficiais de justiça" brasileiros), compartilhando o restante de suas atribuições policiais com as
polícias do município e/ou do condado respectivo.
3. AS POLÍCIAS LOCAIS
3.1. Introdução
Existem mais polícias locais de pequeno porte (efetivo variando de um até 100 policiais) do que de
grande estrutura e efetivo (caso de cidades como Nova Iorque, Houston, Los Angeles,etc…). A
maioria absoluta dos departamentos locais de polícia (91% do total deles) possui menos de 50
policiais e 90% dessas instituições servem comunidades de população inferior a 25.000 habitantes.
Em grandes municípios e condados, os efetivos policiais podem variar de 100 até vários milhares de
agentes, caso de "polícias grandes" como as de Nova Iorque (36.650 policiais), Chicago (13.282),
Filadélfia (6.400) e Houston (5.000).
As polícias locais são o "ponto focal" para aqueles que buscam compreender os diferentes aspectos
da organização e operação policial norte-americana. Nos departamentos locais (municipais e de
condado) estão visíveis os problemas clássicos da segurança pública dos EUA, materializados em
questões com as quais a maioria das polícias norte-americanas, independente do seu tamanho, terão
de lidar em maior ou menor grau de intensidade.
Entre os principais problemas enfrentados pelos departamentos de polícia, três grandes áreas
temáticas concentram a maioria deles: administração, operações e questões político-sociais.
O salário médio mensal de um policial local varia de US$ 1.600,00 a US$1.800,00. Quase todos os
departamentos exigem como nível mínimo de escolaridade o segundo grau completo e, em alguns
deles, educação parcial de nível superior (mínimo de 60 créditos) ou mesmo completa. A carga
horária média de treinamento do policial local de nível inicial é de 640 horas/aula (16 semanas ou
aproximadamente 4 meses em tempo integral).
Na visão norte-americana, a qualidade dos recursos humanos da área policial deve ser tal que o
profissional possa executar com efetividade todas as "tarefas gerais" do policiamento ostensivo. A
especificidade do serviço, dentro desse entendimento, exige que o candidato a policial possua boa
capacidade de comunicação, conhecimento técnico na área de justiça criminal, compreensão em
relação ao próximo e forte dose de maturidade.
Existem descrições bastante detalhadas das tarefas ocupacionais do policial local. Elas constam dos
"dicionários de atividades ocupacionais" regularmente publicados pelo poder público. As próprias
polícias locais possuem descrições exaustivas das tarefas ocupacionais, elaboradas através das
"POST Comissions" [Police Officer Standards and Training (Comissões de Padronização e de
Treinamento Policial)]. Todos os processos de avaliação institucional e individual começam pela
identificação e descrição pormenorizada das tarefas ocupacionais de cada posto ou função policial.
A pistola 9 mm, pela freqüência com que é utilizada, pode ser considerada atualmente como a arma
básica do policial norte-americano. É crescente a tendência ao uso obrigatório do colete à prova de
bala.
Os efetivos das polícias locais norte-americanas, diferente do Brasil, refletem de maneira bastante
mais real o número de policiais empenhados na "atividade fim." Isso tem impacto maior ainda, se
for considerado que as "guarnições" policiais nos EUA raramente estão constituídas por mais de
dois elementos (caso da "perigosa" Nova Iorque). Aos norte-americanos parece anacrônico e
antieconômico privilegiar a quantidade de policiais, em detrimento da qualidade do recurso
humano e do equipamento utilizado.
Mais de 3 mil unidades políticas locais dos EUA são policiadas por um departamento local de
polícia e/ou um "xerifado". A expressão "xerife" ("sheriff") deriva da aglutinação das palavras
inglesas "shire" e "reeve", "shire" sendo um tipo unidade política britânica e "reeve" o representante
da coroa no local. Os "xerifes" norte-americanos são eleitos pelo voto popular da comunidade. Os
policiais que trabalham nos xerifados são chamados de "deputy-sheriffs" (sub-xerifes), atuando
como prepostos legais do xerife perante a comunidade.
O papel original do xerife era apoiar os juizes britânicos na administração das atividades judiciais
da colônia, bem como fazer cumprir as penas determinadas por aquelas autoridades. Durante a
ocupação do oeste norte-americano, e até o estabelecimento dos executivos municipais, competia ao
xerife executar a maioria das tarefas daquele Poder, algumas vezes com jurisdição sobre enormes
extensões geográficas.
Via de regra, toda estrutura organizacional de um departamento de polícia está dividida em três (nas
polícias pequenas, de até 100 policiais) ou quatro partes (nas polícias grandes, com milhares de
agentes).
Nas pequenas polícias, a estrutura organizacional tem e seguinte configuração: (i) operações, (ii)
investigações e (iii) comunicações. No caso das organizações ditas "grandes" existe um quarto
"braço", a divisão de assuntos administrativos.
Nos grandes departamentos a área de operações está subdividida nas seguintes seções: (i)
patrulhamento geral, (ii) patrulhamento de trânsito, (iii) polícia comunitária e (iv) patrulhamento
aéreo. A divisão de investigações comporta as seções de (i) homicídios, (ii) roubos e furtos, (iii)
narcóticos e (iv) inteligência policial.
A divisão de comunicações engloba seções de (i) despacho de viaturas, (ii) computação e (iii)
registros policiais.
O departamento administrativo (quando existe) inclui três seções: (i) pessoal e treinamento, (ii)
assuntos internos e (iii) planejamento e desenvolvimento.
Nos departamentos bastante pequenos, toda sua estrutura fica reduzida a três pequenas seções: (i)
policiais em patrulhamento, (ii) detetives e (iii) despachantes.
Serviços administrativos tais como saúde e manutenção de material (viaturas, inclusive), via de
regra estão terceirizados. As estruturas administrativas rotineiramente são ocupadas por civis,
funcionários efetivos dos departamentos. O departamento de polícia da cidade de Nova Iorque
(NYPD) por exemplo, conta com mais de 36 mil policiais e 9 mil funcionários civis (relação de 4
para 1).
Em lugar da aplicação do princípio tático da "massa" em relação ao efetivo por viatura (como
geralmente é praticado no Brasil), os departamentos norte-americanos aplicam o princípio da
"massa/manobra" em relação ao número de patrulheiros/viaturas. Isso acontece através do uso de
múltiplas viaturas (massa de equipamento), guarnecidas com um único patrulheiro cada, sendo
deslocadas de várias direções em locais próximos (manobra). Terminada a necessidade de reforço
tático, por uma necessidade específica e eventual, todas as viaturas que foram empenhadas retornam
ao patrulhamento normal na área de articulação que lhes cabe individualmente.
Considerando o efetivo total das polícias locais norte-americanas, a maior parte dele está distribuído
em regiões de pouco densidade populacional (muitas polícias de pequeno efetivo…).
Uma outra parte do efetivo total de policiais norte-americanos (poucas polícias, mas de grande
efetivo institucional), serve regiões urbanas de alta densidade populacional, nas chamadas áreas
metropolitanas. É nessas regiões que estão localizados os maiores departamentos de polícia dos
EUA: Nova Iorque (Estado de Nova Iorque), Los Angeles (Califórnia), Chicago (Illinois), Houston
(Texas), Filadélfia (Pensilvânia) e Detroit (Michigan).
Em dois dos estados onde estão “polícias grandes”, Nova Iorque e Texas, coincidentemente também
estão localizadas as instituições de ensino superior de maior prestígio na área policial, o "John Jay
College of Criminal Justice" da "City University of New York" (bacharelado, mestrado e doutorado
em justiça criminal) e o "College of Criminal Justice" da "Sam Houston State University"
(bacharelado, mestrado e doutorado). Nos EUA existe um total de 61 grandes universidades
oferecendo cursos na área de justiça criminal.
Várias polícias metropolitanas atuam em suas áreas de jurisdição concorrentemente com outras
organizações policiais. Na cidade de Nova Iorque, por exemplo, durante a abertura dos trabalhos da
Secretaria Geral da Organizações das Nações Unidas (ONU), é possível observar, atuando
conjuntamente no centro de operações do departamento local (NYPD): NYPD, Serviço Secreto dos
EUA, FBI, Departamento de Segurança das Nações Unidas, Polícia Estadual de Nova Iorque e
Polícia de Parques.
4. AS POLÍCIAS ESTADUAIS
4.1. Introdução
49 dos 50 estados norte-americanos possuem departamentos de polícia estadual. Dempsey (1999)
observa que apenas o Havaí não possui uma polícia estadual, o que pode surpreender os fãs da série
de televisão Hawai 5-0, baseada numa polícia estadual havaiana inteiramente fictícia.
As polícias estaduais têm sua origem histórica na necessidade de manutenção da lei e da ordem em
localidades surgidas durante a fase mais recente de expansão urbana do país (final do Século XIX).
Desse fenômeno resultou um aumento geral nos índices nacionais de criminalidade. A malha
rodoviária, estabelecida a partir do início deste século, foi seguida de uma universalização do uso
do automóvel. Isso acelerou ainda mais o fenômeno da rápida urbanização norte-americana, na
medida em que o automóvel tornou possível um aumento significativo da mobilidade da população.
A criação das organizações policiais estaduais também foi inspirada na tentativa de desvincular a
segurança pública da política local dos municípios e condados, o que muitos acreditam resultar em
corrupção e falta de efetividade operacional das organizações policiais locais.
Tal como nas polícias locais, a arma básica do policial estadual é a pistola 9mm. O colete à prova de
balas é obrigatório em 12% desses departamentos.
5. AS POLÍCIAS FEDERAIS
A constituição norte-americana não estabelece nenhuma polícia nacional, muito embora dê poderes
ao governo central para exercer o poder de polícia em relação a determinados delitos. De acordo
com a tradição política dos EUA, compete constitucionalmente aos estados realizar a maior parte
das atividades de policiamento. Os estados, por sua vez, transferem às comunidades locais
(condados e municípios) boa parte do poder de fiscalização policial, o qual termina por ser
efetivamente exercido pelas chamadas "polícias locais".
A atividade policial do governo federal aumentou bastante no passado recente, na medida em que
cresceu o número de delitos criminais tipificados em legislação federal. Dados atuais dão conta da
existência de 75 mil indivíduos empregados nas diferentes agências policiais federais. Só em 1998,
19,3 bilhões de dólares foram alocados nessa área, parte do esforço atual do governo central em
expandir a qualidade e quantidade dos recursos policiais, no sentido de conter delitos de natureza
federal, especificamente, tráfico de drogas, terrorismo e imigração ilegal.
A autoridade máxima deste órgão é o "U.S. Attorney General", a quem compete as seguintes
funções básicas: promotoria federal de delitos previstos na legislação da União, representação dos
interesses do Executivo diante do Judiciário e conduzir investigações através de seus serviços
policiais próprios (FBI, DEA, U.S. Marshalls,etc…). O departamento possui diferentes divisões
para cada área de interesse específico: direitos civis, tributação e delitos comuns.
A divisão de direitos civis atua em casos envolvendo a violação de direitos civis previstos na
legislação federal, incluindo questões relativas a discriminação quanto a moradia, educação e
trabalho, raça, religião, origem étnica ou preferência sexual. A divisão criminal trata de casos
relativos a assaltos à banco, seqüestro, fraude postal, transporte interestadual de veículos furtados e
tráfico de drogas.
O Departamento de Justiça possui uma área específica de pesquisa, o Instituto Nacional de Justiça.
O Instituto possui serviços básicos de referência na área de justiça criminal, com subdivisões para
justiça e prevenção da delinqüência juvenil, estatística judiciária, assistência judiciária e
vitimização.
O FBI é a maior e mais famosa das agências policiais norte-americanas da área federal, tendo sido
criado pelo presidente Theodore Roosevelt em 1908. Compete ao FBI fazer valer a legislação
federal, exclusive em matérias da competência de outros departamentos do governo federal. Ele
possui mais de 9 mil agentes especiais e 11 mil funcionários civis nas atividades administrativas e
de apoio forense, distribuídos entre a sede da organização, em Washington D.C. e os escritórios
regionais localizados em outras grandes cidades norte-americanas. O diretor da organização é
escolhido pelo presidente da república, estando sujeita sua confirmação pelo senado federal.
Entre as atividades de rotina do FBI estão incluídas as investigações acerca do crime organizado,
corrupção, pornografia, assaltos a banco e crimes do colarinho branco, incluindo falsificações e
fraudes comerciais envolvendo ativos financeiros.
Afora as atividades de investigação, que por sua natureza sejam de atribuição federal, a organização
também dá suporte às polícias estaduais e locais. O FBI presta importantes serviços ao restante da
comunidade policial norte-americana nas áreas de identificação, criminalística e informações sobre
criminalidade nacional.
Compete ao Bureau de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo (ATF) fazer valer a legislação federal no
que tange aqueles produtos. No tocante às armas, compete ao ATF fiscalizar a observância da
legislação federal com respeito a manufatura, venda e posse de armas e explosivos. Com respeito às
bebidas alcóolicas e tabaco, cabe ao ATF suprimir seu comércio ilegal e evasão fiscal disso
resultante.
O Serviço de Rendas Internas dos EUA corresponde à "Receita Federal" do Brasil e tem seu "braço
policial" na "Criminal Investigation Division" [Divisão de Investigações Criminais CID)]. Cabe à
CID as atividades de investigação de fraudes fiscais, inclusive omissões nas declarações de renda e
de bens. A organização participa ativamente das atividades policiais federais articuladas contra o
tráfico de drogas e demais manifestações do crime organizado, atuando especificamente no que diz
respeito aos ganhos financeiros com atividades criminosas.
Os agentes do Serviço Aduaneiro dos EUA (USCS) realizam inspeções e coletam impostos de
importação nos mais de trezentos portos de entrada em território norte-americano. Paralelamente, os
agentes do USCS interceptam e apreendem drogas, mercadorias falsificadas e contrabandeadas por
viajantes internacionais. De capital importância é a missão específica do USCS de impedir a saída
do país de materiais relacionados às tecnologias estratégicas. Ele também é o depositário legal dos
meios de transporte (barcos, aviões e veículos em geral) apreendidos por terem sido utilizados para
o transporte ilegal de drogas para os EUA.
Ainda que existam vários "serviços de natureza secreta", em diversos níveis do governo federal
norte-americano, apenas um tem esse nome como título institucional. Cabe ao USSS a segurança
pessoal do presidente da república, vice-presidente, outros membros do governo federal, dignitários
estrangeiros em visita ao país, bem como ex-presidentes, presidentes eleitos ainda não empossados
e respectivas famílias. O USSS, de maneira bastante peculiar, tem uma "Divisão Uniformizada", a
qual realiza atividades de policiamento ostensivo fardado na "Casa Branca" e representações
diplomáticas estrangeiras com sede na capital norte-americana.
Dada a sua subordinação direta ao Departamento do Tesouro (desde 1865), as atribuições mais
antigas do USSS dizem respeito à manutenção da integridade do estoque de papel moeda (inclusive
repressão de falsificações) e dos outros produtos do equivalente à "casa da moeda dos EUA", aí
incluídos títulos do tesouro, selos, moedas, etc…
O Departamento do Interior (DI) tem responsabilidades de natureza policial nas áreas territoriais de
jurisdição da União, contando para isso com o "Fish and Wildlife Service" (Serviço de Peixes e
Vida Silvestre) e o "National Park Service" (Serviço Nacional de Parques). O primeiro deles tem
uma finalidade mais restrita, basicamente investigando e reprimindo o comércio ilegal das espécies
protegidas que habitam as áreas silvestres da União. Já os agentes policiais do Serviço Nacional de
Parques (popularmente conhecidos como "Rangers"), fazem todas as atividades de policiamento
ostensivo fardado nos parques federais, incluindo policiamento de trânsito, controle de incêndios e
operações de busca e salvamento. Os “rangers” cobrem uma área física total de 12 milhões de
hectares, espalhada por todo o território norte-americano.
Cada uma das Forças Armadas norte-americanas [pertencentes ao Departamento de Defesa (DoD)]
tem sua própria agência policial militar, organizada à semelhança de suas homologas civis, mas com
a finalidade exclusiva de realizar o policiamento ostensivo de instalações militares, procedendo as
investigações criminais correspondentes. O Exército possui sua "Criminal Investigation Division"
(Divisão de Investigação Criminal), os Fuzileiros Navais e a Marinha o "Naval Criminal
investigative Service" (Serviço Naval de Investigações Criminais) e a Força Aérea o "U.S. Air
Force Office of Special Investigations" (Escritório de Investigações Especiais da Força Aérea dos
Estados Unidos).
A Administração de Serviços Gerais (GSA) é a agência de governo que trata do gerenciamento dos
bens imóveis do governo federal e da aquisição e distribuição de suprimentos para seu
funcionamento. Ela possui agentes federais de vigilância que realizam atividades de patrulhamento
e policiamento dos imóveis e demais instalações do governo federal.
A Divisão de Inspeção Postal (PID) do Serviço Postal dos Estados Unidos (USPS) é uma das
agências policiais mais antigas do governo federal, tendo sido criada em 1836. Seus agentes
investigam ilícitos cometidos contra o USPS, incluindo aqueles ocorridos em suas instalações
físicas e/ou envolvendo funcionários no exercício da atividade profissional. Suas atribuições
incluem investigar e reprimir o uso dos correios para o transporte ilícito de explosivos, drogas e
armas de fogo.
6. CONCLUSÃO
Uma visão geral da estrutura nacional de segurança pública dos EUA, tanto em suas partes quanto
no todo sistêmico, produz fortes impressões no observador brasileiro. Tais impressões se tornam
ainda mais marcantes para aqueles que conhecem o estado atual da segurança pública no Brasil,
país onde nos últimos anos o poder público fez todo tipo de "malabarismo conjuntural" na área da
lei e da ordem, mas preservou a feição estrutural dos organismos policiais, a despeito de sua
efetividade historicamente questionável. A visão do modelo norte-americano serve o propósito de
ampliar e aprofundar o questionamento da estrutura e funcionamento dos órgãos policiais
brasileiros.
Vários são os aspectos marcantes para aquele que contempla a estrutura e funcionamento dos
organismos policiais norte-americanos com uma visão crítica voltada para o modelo brasileiro: a
formulação da política de segurança pública norte-americana em seus fundamentos jurídico-
constitucionais, a inserção e funcionamento de suas polícias nas diversas unidades políticas e áreas
temáticas de aplicação, a definição precisa dos "espaços institucionais" e modus operandi das
diferentes organizações policiais existentes, a ênfase na qualidade dos recursos humanos utilizados
e, por último, nas próprias condições de execução do serviço policial nos EUA.
Nos EUA também não existe estabelecida uma relação de pertinência exclusiva entre a carreira
policial e uma necessária formação acadêmica em direito. A especificidade conceitual do serviço
policial está lastrada no referencial teórico da "justiça criminal", com os 50 estados norte-
americanos possuindo cursos de nível superior nessa área (curta duração, bacharelado, mestrado e
doutorado). Tais currículos combinam fundamentação jurídica, disciplinas específicas, matérias
tecnológicas e das ciências sociais (incluindo computação, psicologia, antropologia e sociologia),
produzindo profissionais de formação acadêmica peculiar para as atividades operacionais, de
gerenciamento, política de segurança pública e ensino e pesquisa.
Uma outra evidência forte da busca da eficiência como objetivo maior, é a atual tendência ao
recrutamento de indivíduos com escolaridade de nível superior, preferencialmente portadores de
titulação em justiça criminal. O tradicional pré-requisito de residência prévia no município ou
condado de jurisdição do departamento policial (evidência de um conhecimento aprofundado acerca
da área de atuação) também contribui para isso. É universal o uso intensivo de tecnologias de ponta
nos aspectos técnicos da atividade (comunicações e automação de registros policiais), bem como a
utilização de armamentos e equipamentos compatíveis com a realidade atual (pistola 9 mm e
colete). Um outro dado importante, relativo à eficiência institucional na atividade fim, é a
concentração dos policiais nas questões essencialmente operacionais, com participação e
valorização da presença de técnicos civis (muitas vezes 20% do total de pessoal) em importantes
áreas de apoio.
A missão institucional de cada uma das policias norte-americanas está precisamente definida. Às
organizações policiais federais compete prevenir e reprimir atividades criminais de articulação e
ocorrência tipicamente em nível nacional (crime organizado, contrabando, descaminho, etc.), ou
cuja natureza tenha impacto no país como um todo (tráfico de drogas, terrorismo, etc.). Vis-à-vis o
modelo norte-americano, certamente que no Brasil o Ministério do Interior teria uma instituição
policial com jurisdição sobre a imensa Amazônia, o Ministério dos Transportes possuiria uma
guarda costeira patrulhando nossos milhares de quilômetros de águas territoriais e o Ministério da
Justiça uma polícia federal de jurisdição específica no combate à epidemia de drogas que
atualmente assola o país.