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Conheça o sistema de Segurança Pública

dos Estados Unidos


AS POLÍCIAS NORTE-AMERICANAS

George Felipe de Lima Dantas

1.INTRODUÇÃO

É bastante significativo o número de instituições e indivíduos atuando em prol da


manutenção da lei e da ordem nos Estados Unidos da América (EUA). Em todos os
níveis de organização política norte-americana (município, condado, estado e
federação), existem organizações de natureza policial, afora os departamentos
autônomos e que atuam em áreas específicas da segurança pública (conjuntos
residenciais, ferrovias, sistemas metropolitanos, aeroportos, etc…).

Existem nos EUA mais de 17.000 agências policiais, servidas por um contingente de
recursos humanos superior a 900 mil indivíduos. A operação total desse "sistema"
importa num gasto superior a 44 bilhões de dólares anuais. Nos últimos 20 anos, as
despesas com a segurança pública norte-americana, em todos níveis, quadruplicaram.

O fato da segurança pública dos EUA ser provida por múltiplos serviços policiais torna
essa atividade extremamente complexa e dispendiosa. Tal modelo difere bastante do
praticado em outros países do mundo, em muitos dos quais existe uma única polícia
(Dinamarca, Finlândia, Grécia, Japão, Suécia, etc…).

Fora dos EUA muitos acreditam, equivocadamente, que o "Federal Bureau of


Investigation" [Bureau Federal de Investigação (FBI)] seja a "polícia única norte-
americana". Na verdade, O FBI é apenas uma "agência federal de investigação" com
certos poderes policiais e não uma "polícia" propriamente dita.

2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS E MODELO ATUAL

Historicamente, o princípio político que dá sustentação à segurança pública norte-


americana vem sendo o de "controles locais" (municípios e condados), através do uso
formal e informal de mecanismos de prevenção e repressão de desvios de conduta.

A origem do modelo norte-americano de "controles locais" remonta a "infância" do


país, época em que a nação norte-americana começou a demonstrar sua peculiar
"idiossincrasia" em relação a instituições públicas federais de grande porte e poder
centralizador (peculiaridade essa refletida no próprio texto constitucional).

Existem nos EUA 1.600 agências policiais federais e autônomas, 12.300


departamentos de polícia municipal e de condado e 3.100 xerifados.

Os xerifados são um tipo específico de polícia de condado ou município, via de regra


prestando serviços de apoio direto ao judiciário local (seus prepostos executam tarefas
semelhantes às dos "oficiais de justiça" brasileiros), compartilhando o restante de suas
atribuições policiais com as polícias do município e/ou do condado respectivo.

3. AS POLÍCIAS LOCAIS

3.1. Introdução

As polícias locais, aí incluídas as organizações municipais, de condado e xerifados, são


a "espinha dorsal" do sistema de segurança pública dos EUA (mais de 15.400
organizações). No entendimento do cidadão comum norte-americano, a expressão
"polícia" está identificada com a organização policial que serve o seu município ou
condado de residência.

Existem mais polícias locais de pequeno porte (efetivo variando de um até 100
policiais) do que de grande estrutura e efetivo (caso de cidades como Nova Iorque,
Houston, Los Angeles,etc…). A maioria absoluta dos departamentos locais de polícia
(91% do total deles) possui menos de 50 policiais e 90% dessas instituições servem
comunidades de população inferior a 25.000 habitantes.

Em grandes municípios e condados, os efetivos policiais podem variar de 100 até


vários milhares de agentes, caso de "polícias grandes" como as de Nova Iorque (36.650
policiais), Chicago (13.282), Filadélfia (6.400) e Houston (5.000).

As polícias locais são o "ponto focal" para aqueles que buscam compreender os
diferentes aspectos da organização e operação policial norte-americana. Nos
departamentos locais (municipais e de condado) estão visíveis os problemas clássicos
da segurança pública dos EUA, materializados em questões com as quais a maioria das
polícias norte-americanas, independente do seu tamanho, terão de lidar em maior ou
menor grau de intensidade.

Entre os principais problemas enfrentados pelos departamentos de polícia, três grandes


áreas temáticas concentram a maioria deles: administração, operações e questões
político-sociais.

Entre os problemas administrativos, sobressaem as questões relativas a orçamento e


despesa.

Na área de operações é notório o empenho geral das polícias norte-americanas no


sentido de realizar um controle efetivo da criminalidade, visando com isso preservar a
"qualidade de vida" da população. Isso induz as organizações policiais a engajar num
processo permanente de criação e implementação de novos programas de
policiamento, buscando assim dar resposta às inovações no modus operandi da
delinqüência e atualizar-se em relação ao próprio processo evolutivo da sociedade.

Na área político-social, os departamentos de polícia norte-americanos enfrentam


variadas situações de alto impacto na segurança pública: mudanças no perfil
demográfico, mendicância ativa e agressiva, desemprego, tráfico e uso de drogas,
alcoolismo, abuso de menores e violência familiar, entre outros fenômenos da
contemporaneidade, com implicações diretas na segurança pública e defesa social.
Os departamentos sediados em zonas rurais lidam com fenômenos diferenciados da
delinqüência norte-americana. A exemplo, enquanto nas grandes metrópoles dos EUA
vem ocorrendo uma verdadeira "epidemia de uso de crack", nas zonas rurais
predominam as anfetaminas como droga ilegal de maior prevalência. Em 1996 foram
fechados mais de 300 laboratórios clandestinos de produção de anfetaminas, numa
operação conjunta dirigida pela "Drug Enforcement Agency" [Agencia de Combate as
Drogas (DEA)] e contando com a participação de pequenas polícias locais dos estados
de Missouri, Kansas, Iowa, Nebraska, South Dakota e Illinois. No mesmo período,
entretanto, não foi localizada nenhuma instalação desse tipo na megalópole nova-
iorquina.

Como no Brasil, é através do telefone de emergência da polícia que a cidadania norte-


americana busca todo tipo de socorro. O "190 gringo", "911", é usado muitas vezes
para questões emergenciais da área de competência de outros órgãos. Independente
disso, as polícias acionadas terminam tendo que buscar solução para todo tipo de
problema trazido ao seu conhecimento através do serviço telefônico de atendimento de
emergências.

3.2. Formação Profissional e Condições de Trabalho

Em muitos departamentos de polícia norte-americanos, diferente do Brasil, o acesso à


carreira policial está restrito aos residentes daquela unidade política respectiva. Como
regra geral, a maioria das polícias municipais e de condado exigem que o futuro
policial já venha residindo naquele local por algum tempo, e portanto conheça a área
de jurisdição onde irá atuar. Tal princípio administrativo, transgredido nas polícias
estaduais, é mais estritamente observado em pequenos municípios e condados, levando
em conta, também, a intenção de preservar o mercado de trabalho para os residentes
locais.

O salário médio mensal de um policial local varia de US$ 1.600,00 a US$1.800,00.


Quase todos os departamentos exigem como nível mínimo de escolaridade o segundo
grau completo e, em alguns deles, educação parcial de nível superior (mínimo de 60
créditos) ou mesmo completa. A carga horária média de treinamento do policial local
de nível inicial é de 640 horas/aula (16 semanas ou aproximadamente 4 meses em
tempo integral).

Na visão norte-americana, a qualidade dos recursos humanos da área policial deve ser
tal que o profissional possa executar com efetividade todas as "tarefas gerais" do
policiamento ostensivo. A especificidade do serviço, dentro desse entendimento, exige
que o candidato a policial possua boa capacidade de comunicação, conhecimento
técnico na área de justiça criminal, compreensão em relação ao próximo e forte dose de
maturidade.

Existem descrições bastante detalhadas das tarefas ocupacionais do policial local. Elas
constam dos "dicionários de atividades ocupacionais" regularmente publicados pelo
poder público. As próprias polícias locais possuem descrições exaustivas das tarefas
ocupacionais, elaboradas através das "POST Comissions" [Police Officer Standards
and Training (Comissões de Padronização e de Treinamento Policial)]. Todos os
processos de avaliação institucional e individual começam pela identificação e
descrição pormenorizada das tarefas ocupacionais de cada posto ou função policial.

A pistola 9 mm, pela freqüência com que é utilizada, pode ser considerada atualmente
como a arma básica do policial norte-americano. É crescente a tendência ao uso
obrigatório do colete à prova de bala.

3.3. Emprego do Efetivo Policial

Os efetivos das polícias locais norte-americanas, diferente do Brasil, refletem de


maneira bastante mais real o número de policiais empenhados na "atividade fim." Isso
tem impacto maior ainda, se for considerado que as "guarnições" policiais nos EUA
raramente estão constituídas por mais de dois elementos (caso da "perigosa" Nova
Iorque). Aos norte-americanos parece anacrônico e antieconômico privilegiar a
quantidade de policiais, em detrimento da qualidade do recurso humano e do
equipamento utilizado.

3.4. Estrutura e Organização

Mais de 3 mil unidades políticas locais dos EUA são policiadas por um departamento
local de polícia e/ou um "xerifado". A expressão "xerife" ("sheriff") deriva da
aglutinação das palavras inglesas "shire" e "reeve", "shire" sendo um tipo unidade
política britânica e "reeve" o representante da coroa no local. Os "xerifes" norte-
americanos são eleitos pelo voto popular da comunidade. Os policiais que trabalham
nos xerifados são chamados de "deputy-sheriffs" (sub-xerifes), atuando como
prepostos legais do xerife perante a comunidade.

O papel original do xerife era apoiar os juizes britânicos na administração das


atividades judiciais da colônia, bem como fazer cumprir as penas determinadas por
aquelas autoridades. Durante a ocupação do oeste norte-americano, e até o
estabelecimento dos executivos municipais, competia ao xerife executar a maioria das
tarefas daquele Poder, algumas vezes com jurisdição sobre enormes extensões
geográficas.

Na atualidade, é variável o número de áreas de atuação do xerifado, podendo atuar


predominantemente numa determinada área de atividade ou combinação delas (em
coordenação com a polícia municipal e/ou a polícia do condado e/ou a policia
estadual). As áreas de atuação referidas incluem os seguintes temas da atividade
policial: perícia, orientação e cobrança de impostos, carceragem municipal, tarefas
técnico-burocráticas de polícia judiciária (realizando, inclusive, atividades
correspondentes às executadas pelos "oficiais de justiça" no Brasil), bem como o
policiamento ostensivo propriamente dito (patrulhamento geral).

Via de regra, toda estrutura organizacional de um departamento de polícia está dividida


em três (nas polícias pequenas, de até 100 policiais) ou quatro partes (nas polícias
grandes, com milhares de agentes).

Nas pequenas polícias, a estrutura organizacional tem e seguinte configuração: (i)


operações, (ii) investigações e (iii) comunicações. No caso das organizações ditas
"grandes" existe um quarto "braço", a divisão de assuntos administrativos.
Nos grandes departamentos a área de operações está subdividida nas seguintes seções:
(i) patrulhamento geral, (ii) patrulhamento de trânsito, (iii) polícia comunitária e (iv)
patrulhamento aéreo. A divisão de investigações comporta as seções de (i) homicídios,
(ii) roubos e furtos, (iii) narcóticos e (iv) inteligência policial.

A divisão de comunicações engloba seções de (i) despacho de viaturas, (ii)


computação e (iii) registros policiais.

O departamento administrativo (quando existe) inclui três seções: (i) pessoal e


treinamento, (ii) assuntos internos e (iii) planejamento e desenvolvimento.

Nos departamentos bastante pequenos, toda sua estrutura fica reduzida a três pequenas
seções: (i) policiais em patrulhamento, (ii) detetives e (iii) despachantes.

Serviços administrativos tais como saúde e manutenção de material (viaturas,


inclusive), via de regra estão terceirizados. As estruturas administrativas
rotineiramente são ocupadas por civis, funcionários efetivos dos departamentos. O
departamento de polícia da cidade de Nova Iorque (NYPD) por exemplo, conta com
mais de 36 mil policiais e 9 mil funcionários civis (relação de 4 para 1).

No Departamento de Policia de "Dade County" (Condado de Dade), cidade de Miami,


pode-se observar que todo o serviço de "despacho de viaturas" e atendimento
telefônico de emergência é realizado por funcionários civis. É intenso o uso de
"tecnologias de ponta" nesta área de atividade. As viaturas, após despachadas, passam
a estar sob a responsabilidade exclusiva do patrulheiro chefe da guarnição (se não for
ele mesmo o único membro dela...).

Em lugar da aplicação do princípio tático da "massa" em relação ao efetivo por viatura


(como geralmente é praticado no Brasil), os departamentos norte-americanos aplicam o
princípio da "massa/manobra" em relação ao número de patrulheiros/viaturas. Isso
acontece através do uso de múltiplas viaturas (massa de equipamento), guarnecidas
com um único patrulheiro cada, sendo deslocadas de várias direções em locais
próximos (manobra). Terminada a necessidade de reforço tático, por uma necessidade
específica e eventual, todas as viaturas que foram empenhadas retornam ao
patrulhamento normal na área de articulação que lhes cabe individualmente.

Considerando o efetivo total das polícias locais norte-americanas, a maior parte dele
está distribuído em regiões de pouco densidade populacional (muitas polícias de
pequeno efetivo…).

Uma outra parte do efetivo total de policiais norte-americanos (poucas polícias, mas de
grande efetivo institucional), serve regiões urbanas de alta densidade populacional, nas
chamadas áreas metropolitanas. É nessas regiões que estão localizados os maiores
departamentos de polícia dos EUA: Nova Iorque (Estado de Nova Iorque), Los
Angeles (Califórnia), Chicago (Illinois), Houston (Texas), Filadélfia (Pensilvânia) e
Detroit (Michigan).

Em dois dos estados onde estão “polícias grandes”, Nova Iorque e Texas,
coincidentemente também estão localizadas as instituições de ensino superior de maior
prestígio na área policial, o "John Jay College of Criminal Justice" da "City University
of New York" (bacharelado, mestrado e doutorado em justiça criminal) e o "College of
Criminal Justice" da "Sam Houston State University" (bacharelado, mestrado e
doutorado). Nos EUA existe um total de 61 grandes universidades oferecendo cursos
na área de justiça criminal.

Os seis maiores departamentos metropolitanos de polícia norte-americanos são


extremamente demandados, face a desproporção entre o percentual da população geral
do pais concentrada nessas áreas--7%, e o respectivo índice nacional de ocorrência de
crimes violentos--23%. Nesse índice geral estão "embutidos" 22% de todos os
homicídios e 34% de todas as ocorrências nacionais de roubos e furtos.

Várias polícias metropolitanas atuam em suas áreas de jurisdição concorrentemente


com outras organizações policiais. Na cidade de Nova Iorque, por exemplo, durante a
abertura dos trabalhos da Secretaria Geral da Organizações das Nações Unidas (ONU),
é possível observar, atuando conjuntamente no centro de operações do departamento
local (NYPD): NYPD, Serviço Secreto dos EUA, FBI, Departamento de Segurança
das Nações Unidas, Polícia Estadual de Nova Iorque e Polícia de Parques.

Um outro dado interessante acerca da atuação de várias instituições policiais norte-


americanas na mesma área física de jurisdição é a existência de 25 delas na área
metropolitana de Washington, D.C.

4. AS POLÍCIAS ESTADUAIS

4.1. Introdução

49 dos 50 estados norte-americanos possuem departamentos de polícia estadual.


Dempsey (1999) observa que apenas o Havaí não possui uma polícia estadual, o que
pode surpreender os fãs da série de televisão Hawai 5-0, baseada numa polícia estadual
havaiana inteiramente fictícia.

As polícias estaduais têm sua origem histórica na necessidade de manutenção da lei e


da ordem em localidades surgidas durante a fase mais recente de expansão urbana do
país (final do Século XIX). Desse fenômeno resultou um aumento geral nos índices
nacionais de criminalidade. A malha rodoviária, estabelecida a partir do início deste
século, foi seguida de uma universalização do uso do automóvel. Isso acelerou ainda
mais o fenômeno da rápida urbanização norte-americana, na medida em que o
automóvel tornou possível um aumento significativo da mobilidade da população.

A criação das organizações policiais estaduais também foi inspirada na tentativa de


desvincular a segurança pública da política local dos municípios e condados, o que
muitos acreditam resultar em corrupção e falta de efetividade operacional das
organizações policiais locais.

4.2. Formação Profissional e Condições de Trabalho

O salário médio mensal de um policial estadual é de cerca de US$ 1.900,00.


Aproximadamente 18% dos departamentos estaduais exigem escolaridade mínima de
nível superior para admissão no nível inicial da carreira. A carga horária média de
treinamento do policial estadual de nível inicial é de 1.000 horas/aula (25 semanas ou
aproximadamente 6 meses em regime de tempo integral).

Tal como nas polícias locais, a arma básica do policial estadual é a pistola 9mm. O
colete à prova de balas é obrigatório em 12% desses departamentos.

4.3. Emprego do Efetivo Policial

O policial estadual é um "generalista" que faz o policiamento de manutenção da ordem


pública (policiamento ostensivo) de "ciclo completo" em toda área de jurisdição do
Estado. A polícia estadual coordena sua atuação com as polícias locais, de maneira a
complementar as atividades de segurança pública dos municípios e condados, sempre
que os recursos locais não sejam suficientes.

As polícias estaduais fazem o patrulhamento das rodovias estaduais, executam


atividades de policiamento ostensivo geral em pequenas localidades e funcionam
também como polícia judiciária de jurisdição exclusiva nos delitos tipificados na
legislação penal estadual. Executam várias atividades em prol das polícias municipais,
de condados e xerifados, inclusive apoiando-as nas áreas de formação e treinamento
(através das academias estaduais) e serviços de perícia criminal e identificação
(laboratórios centrais das policiais estaduais).

4.4. Estrutura e Organização

Algumas polícias estaduais seguem um "modelo organizacional descentralizado",


estando constituídas por duas divisões claramente distintas: uma de policiamento
ostensivo geral e/ou patrulhamento rodoviário e outra funcionando como "Bureau
Estadual de Investigação" (à semelhança do FBI).

No sistema de segurança pública estadual existem as seguintes funções (inclusive


constituindo carreiras próprias): (i) policial estadual, (ii) policial rodoviário, (iii)
policial escolar (restrito às instituições de ensino superior), (iv) policial ambiental e (v)
policial de parques.

5. AS POLÍCIAS FEDERAIS

A constituição norte-americana não estabelece nenhuma polícia nacional, muito


embora dê poderes ao governo central para exercer o poder de polícia em relação a
determinados delitos. De acordo com a tradição política dos EUA, compete
constitucionalmente aos estados realizar a maior parte das atividades de policiamento.
Os estados, por sua vez, transferem às comunidades locais (condados e municípios)
boa parte do poder de fiscalização policial, o qual termina por ser efetivamente
exercido pelas chamadas "polícias locais".

A atividade policial do governo federal aumentou bastante no passado recente, na


medida em que cresceu o número de delitos criminais tipificados em legislação federal.
Dados atuais dão conta da existência de 75 mil indivíduos empregados nas diferentes
agências policiais federais. Só em 1998, 19,3 bilhões de dólares foram alocados nessa
área, parte do esforço atual do governo central em expandir a qualidade e quantidade
dos recursos policiais, no sentido de conter delitos de natureza federal,
especificamente, tráfico de drogas, terrorismo e imigração ilegal.
Vários departamentos do governo federal norte-americano (equivalentes aos
ministérios brasileiros) possuem agências policiais, a saber: justiça, tesouro, interior,
defesa, administração e transportes.

5.1. Departamento de Justiça

A autoridade máxima deste órgão é o "U.S. Attorney General", a quem compete as


seguintes funções básicas: promotoria federal de delitos previstos na legislação da
União, representação dos interesses do Executivo diante do Judiciário e conduzir
investigações através de seus serviços policiais próprios (FBI, DEA, U.S.
Marshalls,etc…). O departamento possui diferentes divisões para cada área de
interesse específico: direitos civis, tributação e delitos comuns.

A divisão de direitos civis atua em casos envolvendo a violação de direitos civis


previstos na legislação federal, incluindo questões relativas a discriminação quanto a
moradia, educação e trabalho, raça, religião, origem étnica ou preferência sexual. A
divisão criminal trata de casos relativos a assaltos à banco, seqüestro, fraude postal,
transporte interestadual de veículos furtados e tráfico de drogas.

O Departamento de Justiça possui uma área específica de pesquisa, o Instituto


Nacional de Justiça. O Instituto possui serviços básicos de referência na área de justiça
criminal, com subdivisões para justiça e prevenção da delinqüência juvenil, estatística
judiciária, assistência judiciária e vitimização.

O Departamento de Justiça detém o controle administrativo das seguintes organizações


policiais federais: "Federal Bureau of Investigation" (FBI), U.S. Marshalls (USM),
"Drug Enforcement Administration" (DEA) e "Immigration and Naturalization
Service" (INS).

5.1.1. O "Federal Bureau of Investigation" (FBI)

O FBI é a maior e mais famosa das agências policiais norte-americanas da área federal,
tendo sido criado pelo presidente Theodore Roosevelt em 1908. Compete ao FBI fazer
valer a legislação federal, exclusive em matérias da competência de outros
departamentos do governo federal. Ele possui mais de 9 mil agentes especiais e 11 mil
funcionários civis nas atividades administrativas e de apoio forense, distribuídos entre
a sede da organização, em Washington D.C. e os escritórios regionais localizados em
outras grandes cidades norte-americanas. O diretor da organização é escolhido pelo
presidente da república, estando sujeita sua confirmação pelo senado federal.

A formação do agente especial é realizada na academia nacional do FBI, localizada em


Quântico, Virgínia. É necessário formação de nível superior em direito ou
contabilidade para admissão como "agente especial". O Brasil recebe vagas para
treinamento de agentes federais em Quântico.

Entre as atividades de rotina do FBI estão incluídas as investigações acerca do crime


organizado, corrupção, pornografia, assaltos a banco e crimes do colarinho branco,
incluindo falsificações e fraudes comerciais envolvendo ativos financeiros.
Afora as atividades de investigação, que por sua natureza sejam de atribuição federal, a
organização também dá suporte às polícias estaduais e locais. O FBI presta importantes
serviços ao restante da comunidade policial norte-americana nas áreas de identificação,
criminalística e informações sobre criminalidade nacional.

5.1.2. A "Drug Enforcement Administration" (DEA)

A Administração de Fiscalização de Drogas (DEA), hoje pertencente ao "Justice


Department", até 1973 fazia parte do Departamento do Tesouro ["Bureau of Narcotics"
(Bureau de Narcóticos)]. Entre suas atribuições estão incluídas a interceptação do
tráfico de drogas, operações de vigilância com essa finalidade, bem como a infiltração
de seus agentes nas organizações envolvidas. Adicionalmente, a DEA mantém
registros de indústrias e fornecedores de substâncias controladas e precursoras, atuando
também como instituição focal do programa nacional de erradicação da cannabis
sativa.

5.1.3. O "U.S. Marshals" (USM)

A expressão "marshall" corresponde à figura do funcionário administrativo de um


distrito judiciário federal norte-americano, ao qual competem tarefas similares às do
xerife no nível local. Os funcionários do USM têm a responsabilidade básica de
transportar presos federais entre as várias organizações penitenciárias norte-
americanas, bem como prover a segurança de instalações do judiciário federal (existem
94 distritos judiciários federais, com um “marshall” e seus vários auxiliares lotados em
cada um deles). Adicionalmente, também é da esfera de competência do marshall a
proteção de indivíduos que prestam testemunho em tribunais federais, prisão de
fugitivos federais, cumprimento de mandados de prisão expedidos por tribunais
federais e apreensão de bens e propriedades resultantes de atividades ilegais tipificadas
na legislação federal. Os 94 marshalls são nomeados pelo presidente da república,
sujeita sua nomeação à confirmação pelo senado federal.

Um dado interessante da realidade atual é a participação do USM nas investigações


recentemente reabertas acerca da correção das ações tomadas pelo FBI durante a crise
em Waco, Texas, da qual resultaram mais de 80 mortos pertencentes à seita dos
"dravidianos". Uma organização polícia federal investigando outra, ambas sob a
autoridade do mesmo Departamento de Justiça…

5.1.4. O "Immigration and Naturalization Service" (INS)

Compete ao Serviço de Imigração e Naturalização (INS) as atividades de policiamento


ostensivo das fronteiras terrestres, utilizando para tanto sua "Border Patrol" (Patrulha
de Fronteira). Sua responsabilidade básica é impedir a entrada de imigrantes ilegais
nos EUA. Para tanto, o INS investiga quadrilhas operando com essa finalidade,
principalmente na fronteira dos EUA com o México. Também compete ao INS as
atividades administrativas relacionadas à concessão de vistos permanentes e cidadania
norte-americana.

5.2. U.S. Treasury Department (Departmento do Tesouro)

O Departamento do Tesouro detém o controle administrativo de quatro importantes


agências policiais federais norte-americanas: o "Bureau of Alcohol, Tobacco, and Fire
Arms (ATF) (Bureau de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo), o "Internal Revenue
Service" (IRS) (Serviço de Rendas Internas), o "U.S. Customs Service" (USCS)
(Serviço Aduaneiro dos EUA) e o "U.S. Secret Service" (SS) (Serviço Secreto dos
EUA).

5.2.1. "Bureau of Alcohol, Tobacco, and Fire Arms (ATF)

Compete ao Bureau de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo (ATF) fazer valer a legislação
federal no que tange aqueles produtos. No tocante às armas, compete ao ATF fiscalizar
a observância da legislação federal com respeito a manufatura, venda e posse de armas
e explosivos. Com respeito às bebidas alcóolicas e tabaco, cabe ao ATF suprimir seu
comércio ilegal e evasão fiscal disso resultante.

5.2.2. "Internal Revenue Service" (IRS)

O Serviço de Rendas Internas dos EUA corresponde à "Receita Federal" do Brasil e


tem seu "braço policial" na "Criminal Investigation Division" [Divisão de
Investigações Criminais CID)]. Cabe à CID as atividades de investigação de fraudes
fiscais, inclusive omissões nas declarações de renda e de bens. A organização participa
ativamente das atividades policiais federais articuladas contra o tráfico de drogas e
demais manifestações do crime organizado, atuando especificamente no que diz
respeito aos ganhos financeiros com atividades criminosas.

5.2.3. O "U.S. Customs Service" (USCS)

Os agentes do Serviço Aduaneiro dos EUA (USCS) realizam inspeções e coletam


impostos de importação nos mais de trezentos portos de entrada em território norte-
americano. Paralelamente, os agentes do USCS interceptam e apreendem drogas,
mercadorias falsificadas e contrabandeadas por viajantes internacionais. De capital
importância é a missão específica do USCS de impedir a saída do país de materiais
relacionados às tecnologias estratégicas. Ele também é o depositário legal dos meios de
transporte (barcos, aviões e veículos em geral) apreendidos por terem sido utilizados
para o transporte ilegal de drogas para os EUA.

5.2.4. O "U.S. Secret Service" (USSS)

Ainda que existam vários "serviços de natureza secreta", em diversos níveis do


governo federal norte-americano, apenas um tem esse nome como título institucional.
Cabe ao USSS a segurança pessoal do presidente da república, vice-presidente, outros
membros do governo federal, dignitários estrangeiros em visita ao país, bem como ex-
presidentes, presidentes eleitos ainda não empossados e respectivas famílias. O USSS,
de maneira bastante peculiar, tem uma "Divisão Uniformizada", a qual realiza
atividades de policiamento ostensivo fardado na "Casa Branca" e representações
diplomáticas estrangeiras com sede na capital norte-americana.

Dada a sua subordinação direta ao Departamento do Tesouro (desde 1865), as


atribuições mais antigas do USSS dizem respeito à manutenção da integridade do
estoque de papel moeda (inclusive repressão de falsificações) e dos outros produtos do
equivalente à "casa da moeda dos EUA", aí incluídos títulos do tesouro, selos, moedas,
etc…

5.3. O "Department of Interior" (DI)

O Departamento do Interior (DI) tem responsabilidades de natureza policial nas áreas


territoriais de jurisdição da União, contando para isso com o "Fish and Wildlife
Service" (Serviço de Peixes e Vida Silvestre) e o "National Park Service" (Serviço
Nacional de Parques). O primeiro deles tem uma finalidade mais restrita, basicamente
investigando e reprimindo o comércio ilegal das espécies protegidas que habitam as
áreas silvestres da União. Já os agentes policiais do Serviço Nacional de Parques
(popularmente conhecidos como "Rangers"), fazem todas as atividades de
policiamento ostensivo fardado nos parques federais, incluindo policiamento de
trânsito, controle de incêndios e operações de busca e salvamento. Os “rangers”
cobrem uma área física total de 12 milhões de hectares, espalhada por todo o território
norte-americano.

5.4. O "Department of Defense" (DoD)

Cada uma das Forças Armadas norte-americanas [pertencentes ao Departamento de


Defesa (DoD)] tem sua própria agência policial militar, organizada à semelhança de
suas homologas civis, mas com a finalidade exclusiva de realizar o policiamento
ostensivo de instalações militares, procedendo as investigações criminais
correspondentes. O Exército possui sua "Criminal Investigation Division" (Divisão de
Investigação Criminal), os Fuzileiros Navais e a Marinha o "Naval Criminal
investigative Service" (Serviço Naval de Investigações Criminais) e a Força Aérea o
"U.S. Air Force Office of Special Investigations" (Escritório de Investigações
Especiais da Força Aérea dos Estados Unidos).

5.5. O "General Services Administration" (GSA)

A Administração de Serviços Gerais (GSA) é a agência de governo que trata do


gerenciamento dos bens imóveis do governo federal e da aquisição e distribuição de
suprimentos para seu funcionamento. Ela possui agentes federais de vigilância que
realizam atividades de patrulhamento e policiamento dos imóveis e demais instalações
do governo federal.

5.6. O "U.S. Postal Service" (USPS)

A Divisão de Inspeção Postal (PID) do Serviço Postal dos Estados Unidos (USPS) é
uma das agências policiais mais antigas do governo federal, tendo sido criada em 1836.
Seus agentes investigam ilícitos cometidos contra o USPS, incluindo aqueles ocorridos
em suas instalações físicas e/ou envolvendo funcionários no exercício da atividade
profissional. Suas atribuições incluem investigar e reprimir o uso dos correios para o
transporte ilícito de explosivos, drogas e armas de fogo.

5.7. O "Department of Transportation" (DT)

O Departamento de Transportes (DT) tem sua polícia na "U.S. Coast Guard" [Guarda
Costeira dos EUA USCG)]. A Guarda Costeira está subordinada administrativamente
ao DT e compete a ela as atividades de policiamento ostensivo na região da costa
norte-americana, inclusive patrulhamento marítimo, fluvial e lacustre das águas
territoriais do país. Ela tem um papel importantíssimo na "guerra contra as drogas",
realizando buscas e apreensões em embarcações.

Também de capital importância é a participação da USCG em operações de busca e


salvamento, fiscalização das normas de segurança marítima e repressão da poluição e
pesca predatória ilegais.

6. CONCLUSÃO

Uma visão geral da estrutura nacional de segurança pública dos EUA, tanto em suas
partes quanto no todo sistêmico, produz fortes impressões no observador brasileiro.
Tais impressões se tornam ainda mais marcantes para aqueles que conhecem o estado
atual da segurança pública no Brasil, país onde nos últimos anos o poder público fez
todo tipo de "malabarismo conjuntural" na área da lei e da ordem, mas preservou a
feição estrutural dos organismos policiais, a despeito de sua efetividade historicamente
questionável. A visão do modelo norte-americano serve o propósito de ampliar e
aprofundar o questionamento da estrutura e funcionamento dos órgãos policiais
brasileiros.

Vários são os aspectos marcantes para aquele que contempla a estrutura e


funcionamento dos organismos policiais norte-americanos com uma visão crítica
voltada para o modelo brasileiro: a formulação da política de segurança pública norte-
americana em seus fundamentos jurídico-constitucionais, a inserção e funcionamento
de suas polícias nas diversas unidades políticas e áreas temáticas de aplicação, a
definição precisa dos "espaços institucionais" e modus operandi das diferentes
organizações policiais existentes, a ênfase na qualidade dos recursos humanos
utilizados e, por último, nas próprias condições de execução do serviço policial nos
EUA.

A política de segurança pública norte-americana está fundamentada em postulados


jurídico-constitucionais que fazem com que a federação de fato funcione plenamente
em sua expressão minimalista -- a comunidade local. O corolário disso é a existência
de bem poucas áreas de jurisdição criminal da União, algumas de competência da
unidade federativa estadual e milhares do âmbito local. Esse "modelo federativo"
refletido na segurança pública, é replicado nacionalmente pelos sistemas locais de
manutenção da lei e da ordem, extremamente solidários e efetivos na relação
judiciário, promotoria pública, polícia e comunidade. A eleição das autoridades
judiciárias e policiais locais pelo voto popular serve para revigorar ainda mais a
legitimidade desse sistema.

O permanente contencioso interinstitucional que ocorre no Brasil (em detrimento da


Nação) entre as polícias ostensivas de manutenção da ordem pública (polícias
militares) e as polícias judiciárias (polícias civis estaduais) não existe nos EUA. Todas
as polícias norte-americanas fazem o chamado "ciclo completo". As forças armadas
estão vinculadas às guardas nacionais de cada estado, e não às polícias, com tal poder
cedido a militares apenas quando é grave a perturbação da ordem ou sua ameaça.

Nos EUA também não existe estabelecida uma relação de pertinência exclusiva entre a
carreira policial e uma necessária formação acadêmica em direito. A especificidade
conceitual do serviço policial está lastrada no referencial teórico da "justiça criminal",
com os 50 estados norte-americanos possuindo cursos de nível superior nessa área
(curta duração, bacharelado, mestrado e doutorado). Tais currículos combinam
fundamentação jurídica, disciplinas específicas, matérias tecnológicas e das ciências
sociais (incluindo computação, psicologia, antropologia e sociologia), produzindo
profissionais de formação acadêmica peculiar para as atividades operacionais, de
gerenciamento, política de segurança pública e ensino e pesquisa.

Nas instituições policiais o desenvolvimento dos recursos humanos se atêm às


atividades de treinamento (com cargas horárias similares às praticadas no Brasil) e não
às de ensino (domínio da "academia" da sociedade civil). Com "feição própria" e livre
da influência do setores militar e do estamento de profissionais do direito (que
possuem sua própria "agenda corporativa"…), o universo policial norte-americano
produz profissionais e conhecimento técnico com a legitimidade necessária para dar
suporte à formulação e implementação de políticas democráticas e efetivas na área de
Segurança pública.

A eficiência institucional é uma tônica da segurança pública norte-americana. Milhares


de departamentos municipais e de condado, com efetivos inferiores a três dígitos,
buscam maximizar a eficiência institucional dando primazia à qualidade (recursos
humanos e aplicação técnica) em detrimento de aspectos quantitativos (número de
agentes). A formulação tática básica da projeção da força policial é "um único policial
por viatura"/"grande número de viaturas em patrulhamento".

Uma outra evidência forte da busca da eficiência como objetivo maior, é a atual
tendência ao recrutamento de indivíduos com escolaridade de nível superior,
preferencialmente portadores de titulação em justiça criminal. O tradicional pré-
requisito de residência prévia no município ou condado de jurisdição do departamento
policial (evidência de um conhecimento aprofundado acerca da área de atuação)
também contribui para isso. É universal o uso intensivo de tecnologias de ponta nos
aspectos técnicos da atividade (comunicações e automação de registros policiais), bem
como a utilização de armamentos e equipamentos compatíveis com a realidade atual
(pistola 9 mm e colete). Um outro dado importante, relativo à eficiência institucional
na atividade fim, é a concentração dos policiais nas questões essencialmente
operacionais, com participação e valorização da presença de técnicos civis (muitas
vezes 20% do total de pessoal) em importantes áreas de apoio.

A missão institucional de cada uma das policias norte-americanas está precisamente


definida. Às organizações policiais federais compete prevenir e reprimir atividades
criminais de articulação e ocorrência tipicamente em nível nacional (crime organizado,
contrabando, descaminho, etc.), ou cuja natureza tenha impacto no país como um todo
(tráfico de drogas, terrorismo, etc.). Vis-à-vis o modelo norte-americano, certamente
que no Brasil o Ministério do Interior teria uma instituição policial com jurisdição
sobre a imensa Amazônia, o Ministério dos Transportes possuiria uma guarda costeira
patrulhando nossos milhares de quilômetros de águas territoriais e o Ministério da
Justiça uma polícia federal de jurisdição específica no combate à epidemia de drogas
que atualmente assola o país.

As organizações policiais estaduais preenchem as áreas de transição entre os diferentes


condados e municípios (principalmente nas rodovias) e exercem o policiamento
ostensivo de rotina, suplementarmente às organizações locais, sempre que os recursos
destas últimas não são suficientes.

Ao contrário do Brasil, as instalações físicas das polícias norte-americanas são


"invisíveis" em termos práticos (não existem "quartéis") e a presença policial está
materializada na figura do patrulheiro/veículo de acionamento virtual (911). É dentro
desse quadro extremamente distinto da estrutura e funcionamento dos órgãos de
segurança pública norte-americanos e brasileiros que soam falsas e demagógicas as
iniciativas "conjunturais" praticadas no Brasil de copiar programas como o "Tolerância
Zero" do NYPD, desde que, absolutamente, não estão postas no Brasil as mesmas
condições "estruturais" verificadas nos EUA.

É emblemática a situação da existência do "Secret Service" fazendo a segurança e


patrulhamento ostensivo do interesse da segurança do presidente da república dos
EUA, enquanto exercendo funções correspondentes no Brasil existem militares de
carreira das Forças Armadas. Talvez isso ocorra no Brasil numa tentativa de valorizar
tal função pela importância política histórica da organização de origem de quem a
desempenha, e não pelo conhecimento e experiência específicos do executante. Afinal,
no Brasil a segurança pública não é tida como uma atividade técnico-profissional
própria.

Em suas instâncias de formulação de políticas públicas, chefia, comando e direção,


usualmente são empregados leigos, não-policiais. Os verdadeiros profissionais,
asfixiados por diferentes estamentos corporativistas, não têm a estrutura e função
institucional de suas organizações devidamente legitimadas pelos paradigmas do
conhecimento e da experiência. Até onde esse posicionamento do Estado brasileiro é
da conveniência da Nação, é tema ainda por ser devidamente explorado.

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