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A biografia do vírus chinês

Steven Mosher1

A história da pandemia global do vírus chinês tem, em termos gerais,


características de uma produção hollywoodiana. O debate sobre sua origem começou
como uma historinha chinesa sobre animais exóticos e nos presenteou alguns episódios
do que parece ser um romance policial. A princípio, se especulou com várias hipóteses
sobre a origem natural deste vírus e se pôs em questionamento se a causa foram serpentes,
civetas, pangolins ou morcegos. Pouco a pouco o panorama se tornou mais claro, para
tranquilidade destes pobres animais, salvo os últimos que “pagaram o pato” quando as
autoridades comunistas chinesas construíram um relato baseado em duas afirmações
ostensivamente falsas. A primeira é que o “chinavírus”, chamado inicialmente SARS-
Cov-22, era um coronavírus natural que se encontra nas patas do morcego-ferradura. A
segunda é que o vírus saltou de seu hospedeiro natural para os seres humanos no Mercado
de Frutos do Mar de Huanan, onde havia comércio de animais exóticos e comidas
preparadas com base neles. Foi assim que muitos creram que tudo começou com uma
sopa de morcego...
Eu já havia escrito vários artigos questionando a tese da origem natural do surto
epidêmico em Wuhan, mas o artigo por mim publicado no New York Post, em 22 de
fevereiro de 2020, desatou uma tremenda guerra midiática. Isto porque o título da matéria
não poderia ser mais provocativo: não comprem o relato da China, o vírus foi
fabricado em laboratório.
Em dois dias, o Facebook bloqueou minha postagem com o artigo usando a
desculpa de que seus checadores independentes o haviam classificado como Fake News.
Três semanas depois uma repórter descobriu que Danielle Anderson, uma das
“checadoras independentes”, tinha relações estreitas com o Instituto de Virologia de
Wuhan.3 E deste modo ficou claro – mais uma vez! – que os verdadeiros propagadores
de notícias falsas trabalham para o Facebook. A rede social retirou a censura, mas o fez
sem dar explicações nem pedir desculpas.
Tanto no artigo do New York Post, como em numerosas entrevistas concedidas a
redes de televisão, rádio e jornal, apresentei abundantes provas que apontam para duas
direções: a improbabilidade da história chinesa sobre morcegos e um vazamento do
laboratório de Wuhan como explicação mais consistente sobre a origem do vírus chinês.
Comecemos com os morcegos. Como expliquei no programa Watters World da
Fox, se o mercado de Huanan tivesse sido mesmo o ponto zero da pandemia, as
autoridades chinesas teriam destruído toda a construção até o cimento. Ao contrário,
agora, inclusive, ele foi reaberto4. Acrescento um segredo a vocês: neste mercado nunca

1
Steven Mosher é presidente do Population Research Institute e um dos especialistas sobre a China mais
reconhecidos a nível mundial.
2
SARS – Síndrome Respiratória Aguda Grave.
3
Facebook 'fact checkers' foul again after censoring Post story (nypost.com)
4
Após 4 meses, mercados de Wuhan começam a reabrir | CNN Brasil
se comercializou morcegos nem se vendeu sopas. Isto disse uma equipe de cientistas de
Wuhan no final de fevereiro.
Outros dois intelectuais de nome Xiao reportaram num estudo que, na verdade,
havia sim morcegos em Wuhan, milhares deles, porém, em cativeiros a fins de
investigação, tanto no Centro de Controle e Prevenção de Enfermidades da China (CCPE)
como no Instituto de Virologia de Wuhan (IVW), ambos situados não tão longe do
mercado.
O CCPE tem um encarregado-chefe da casa de morcegos na China. Se chama Tian
5
Junhua . Seu trabalho desde 2012 consiste em reunir vírus de morcegos vivos, assim
como amostras de urinas e fezes, para fins de investigações, em cavernas localizadas a
mais de 900 quilômetros de distância de Wuhan. Como assinalaram ironicamente os dois
Doutores Xiao, “a probabilidade de que os morcegos tenham chegado voando ao mercado
de Wuhan era muito baixa”. Os pequenos mamíferos obviamente não chegaram a esta
cidade por meios próprios, mas foram presos e transportados ao CCPE e ao IVW pelo
peculiar Sr. Tian.
Assim como este fatos derrubam por terra a explicação da origem natural e
transmissão direta de morcegos a seres humanos, outros fatos ainda mais contundentes
respaldam a ideia de que o vírus vazou de um laboratório. Como resultado dos esforços
do Sr. Tian e outros, a China se ensoberbece de haver “tomado a iniciativa” na
investigação mundial descobrindo mais de 2000 novos vírus desde a epidemia de SARS
em 2003. Para se ter uma ideia da magnitude deste empreendimento, o número total de
vírus descobertos nos 200 anos anteriores era de 2.284. Evidentemente, são muitos
patógenos potencialmente prejudiciais para se acompanhar e um enorme estoque de
coronavírus sobre os quais se podem extrair partes quando alguém deseja desenvolver um
vírus muito mais letal, e parece ser exatamente este o objetivo, até o fim de 2019, de um
grupo de investigadores do IVW dirigidos por uma mulher chamada Shi Zhengli. Se o Sr.
Tian é o “Batman” da China, a Dra. Shi certamente é a “Batwoman”6!
Shi Zhengli obteve seu mestrado no IVW em 1990. Fez um doutorado na França
e retornou ao IVW para dirigir o projeto de investigação de coronavírus em morcegos.
Alguns dos artigos publicados pela Dra. Shi e sua equipe de virologistas descrevem a
presença natural de SARS Cov similares ao SARS original de 2003 que, igual a este,
poderiam infectar diretamente aos seres humanos.
E não se limitaram a estudar os coronavírus existentes. Também fizeram
engenharia genética para modificar os existentes e criar novos vírus. Em um artigo
publicado em 2008 no Journal of Virology descreveram como estavam modificando
geneticamente vírus similares ao SARS de morcegos-ferradura para dar-lhes capacidade
de utilizar a enzina convertedora de angiotensina 2 (ACE2) para que pudessem penetrar
nas células humanas.

5
Encontramos diversos trabalhos publicados por Tian Jun-Hua, associado ao CCPE no link Jun-Hua
Tian's research works | Wuhan Centers for Disease Prevention and Control, Wuhan and other places
(researchgate.net) (nota-se que muitos deles são bem anteriores a dezembro de 2019).
6
Em resumo, Shi já levava mais de 10 anos ultrapassando os limites éticos com o
objetivo de criar novos e potencialmente ainda mais letais tipos de coronavírus, mas para
isso, necessitavam uma nova e mais avançada técnica recombinante e esta pode ser a
pesquisa sobre “clones infecciosos” da Universidade da Carolina do Norte, dirigida pelo
professor Ralph S. Baric. A Dra. Shi Zhengli colaborou com Baric em algumas das
investigações como consta em um artigo de 2015 da revista Nature Medicine em que se
analisava se os coronavírus oriundos de morcegos eram potencialmente capazes de
infectar seres humanos.
Entretanto, o propósito de Baric era totalmente oposto e se explicava assim: “Em
2013, os SARS com potencial emergente (de contágio em seres humanos) como o
coronavírus foram descobertos em morcegos-ferradura e se concluiu que estavam a ponto
de entrar em seres humanos [...] os coronavírus com este potencial emergente (Cov)
constituem uma ameaça mundial que requer uma intervenção imediata. Intervenção
imediata significa ter a capacidade de gerar, cultivar e manipular geneticamente COV
infecciosos para avaliar rapidamente os mecanismos patógenos, a permissibilidade do
hospedeiro e do tecido e postular formas eficazes de terapias antivirais”.
Ainda que Baric tenha se limitado a ver como estes vírus infectavam e matavam
camundongos, o Dr. Anthony Fauci, diretor do National Institutes of Health (NIH), dos
Estados Unidos, ordenou que se interrompesse o projeto no final de 2014. Em uma carta
anexa do escritório de Emergência de Saúde Pública do Human Health Services
observou-se uma possível violação de uma nova moratória sobre os estudos de virologia
de risco envolvendo gripe, MERS e SARS. Em concreto, se referiam ao conceito de
“Ganho de Função” em coronavírus tipo SARS que definem como “investigação que
melhora a capacidade de um patógeno para causar enfermidades [...] conferindo atributos
a SARS de maneira que o vírus resultante tenha aumentado a patogenicidade e/ou a
transmissibilidade em mamíferos que podem implicar riscos de bio segurança”.
Recentemente em 29 de dezembro de 2017, o NIH suspendeu a interrupção para
se realizar uma forte auditoria sobre o potencial para criar ou utilizar um patógeno com
maior potencial pandêmico. Em outras palavras, enquanto as autoridades dos Estados
Unidos decidiram que os riscos associados com estas investigações não compensavam os
benefícios, a Dra. Shi seguiu adiante sem pausa e sem supervisão efetiva pois a China
comunista não liga muito para a vida humana.
Um vírus tão infeccioso como o SARS-Cov-2 havia requerido um estrito
cumprimento de rigorosos protocolos de segurança para laboratórios de alta contenção
(BSL-4). Porém as práticas do IVW eram tão laxas que inclusive a OMS se negou a
certificá-lo. O laboratório era um convite para que ocorresse um acidente como
finalmente ocorreu no final de 2019. Um trabalhador de laboratório pode ter sido
infectado ao manipular o coronavírus ou um animal infectado.
Se estamos precisamente tratando dos mesmos tipos de coronavírus mortais e
infecciosos que a Dra. Shi e sua equipe passaram manipulando durante os últimos 10
anos, por acaso é descabido pensar que o vírus foi fabricado? Salvo algumas opiniões,
tudo aponta para a hipótese de que a Dra. Shi fabricou um vírus com ganho de
função baseado nas pesquisas de Baric, muito mais infeccioso e muito mais letal. De
todo modo, ainda que o vazamento possa ter sido um acidente, o ganho de função
certamente foi deliberado.
No final de dezembro de 2019, o desespero por encobrir os fatos fez com que a
Dra. Shi cometesse um grave erro que a deixou em maior evidência. Neste momento, a
pandemia já se havia propagado por todo o mundo e desde 2013 não haviam registrado o
genoma do coronavírus de morcegos no Centro Nacional de Informação Biotecnológica
(NCBI) dos NIH dos Estados Unidos, depósito habitual para este tipo de informação.
Por medo de ser descobertos, recém o fizeram em 27 de janeiro de 2020 sob o
nome de RaTG-13, 7 anos depois. Porém o fizeram acrescentando alguns erros de
codificação de modo intencional. Desta maneira, poderiam negar com razoabilidade que
seu vírus era a coluna vertebral do vírus SARS-Cov-2. Essa é a razão pela qual a Dra.
Shi, depois de desaparecer todo o registro de investigação original, pode dizer que não
havia sequências genômicas em seu laboratório que coincida com o novo SARS-Cov-2 e
que seu laboratório não teve nada a ver com a origem da pandemia de coronavírus, porém,
a esta altura, quem poderia acreditar?
Cada vez é menor o número dos que creem na história da sopa de morcegos, assim
como ninguém crê no relato de uma condução impecável da pandemia pela China. A
realidade é muito distinta do que contam o governo chinês e a Organização Mundial da
Saúde (OMS).
A OMS não poupou elogios ao sistema de saúde da China, escolhido como modelo
para o mundo. O “aprendam com a China” que tanto nos repetiu a OMS ultimamente não
começou com a atual pandemia, mas tem sido seu slogan preferido faz algum tempo.
Com uma crise de insegurança global, a China pretende se tornar a grande
potência hegemônica mundial. A propaganda de sua condução da pandemia não é apenas
técnica, mas significa superioridade moral. A China quer ser a potência hegemônica
mundial em todos os sentidos e seu presidente Xi Jinping encarnou este sonho como
explico com detalhes no meu livro Bully of Asia: Why China’s dream is the New Threat
to Wold Order.
Porém para a má sorte da China, a inoperância da OMS frente a emergência real
da pandemia pôs em evidência a demagogia de ambos. É necessário encarar com muito
ceticismo os números que a China oferece pois sempre se apresentam com um objetivo
em mente: fazer com que o Partido Comunista e seus líderes se destaquem.
Segundo os dados oficiais, em Wuhan houve 2535 vítimas do coronavírus. Muitos
dados indicavam uma subnotificação como a reportagem da agência de notícias chinesa
Caxin sobre a distribuição de uma grande quantidade de urnas funerárias, assim como
aviso diários com estranhos pedidos de pessoas e equipamento extra para as funerárias
entre os dias 23 de janeiro de 23 de março de 2020.
Assim que comecei a buscar informações que me dariam um número real de
mortos pelo chinavírus, encontrei uma pista nos fornos dos sete crematórios de Wuhan,
pois por lei todos os falecidos são cremados na China. Segundo meus cálculos baseados
no uso total da capacidade para cremar corpos em Wuhan, os números verdadeiros são
20 vezes maior, ou seja, o número real de mortos somente em Wuhan giraria em torno de
50.000 mortos.
Até hoje a China segue escondendo a verdade sobre a pandemia dentro das suas
próprias fronteiras e publicando dados falsos, e não são mentirinhas, mas mentiras
assassinas. Os líderes do Partido Comunista Chinês têm a obrigação de dar muitas
explicações à população mundial. Já é hora da China começar a ser honesta.
Para determinar a verdadeira origem da pandemia só precisamos de uma coisa:
que a China libere imediatamente os registros de investigação de coronavírus do IVW e
do CCEP. Em particular, gostaríamos de ver de perto as pesquisas da Dra. Shi, que numa
entrevista muito emocionante jurou por sua própria vida que seu instituto não deixou o
vírus escapar.
Enquanto muitos países puseram seus cientistas para trabalhar, a fim de encontrar
uma vacina, a China se negou a dar informações que poderiam conceder tempo precioso
aos pesquisadores. Pelo contrário, a China se dedicou a destruir a cena do crime. Médicos
e outras pessoas que advertiram sobre a verdade da origem da pandemia desapareceram
sem deixar rastros.
Milhares de pessoas morreram desnecessariamente porque as autoridades
comunistas chinesas não advertiram sobre a gravidade da epidemia em Wuhan e não
compartilharam informações que estavam copilando sobre a propagação e o tratamento
da doença. Outras dezenas de milhões de pessoas sofreram por causa da recessão
econômica mundial que custará muitas vidas, quiçá mais do que a própria doença.
Se o regime de Pequim não tem nada a esconder, então deveriam tornar públicos
os registros que limpariam seus nomes de qualquer suspeita. Se Xi Jinping se nega, deve
considerar-se como culpado. Então teremos razão para seguir chamando o vírus que saiu
de Wuhan como made in China, ou, se preferir, como vírus chinês.

Distância entre o Mercado de Huanan e o Instituto de Virologia de Wuhan

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