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“Mas o que devo confessar?” “Me diga qual é a verdade!”. Essas falas foram
retiradas respectivamente do livro “O nome da Rosa”, de Umberto Eco, e do filme “Sombras
de Goya”, produzido por Saul Zaentz. Ambas se conectam na medida em que possuem o mesmo
plano de fundo: o Sistema Inquisitorial e a sua busca pela mítica verdade real.
Diante desse cenário, o braço forte da Igreja Católica era a Inquisição, por meio do
qual se buscava a verdade em sua essência, conseguida com a confissão do acusado após um
longo tempo de tortura. Entretanto, esse modelo fadado ao fracasso, nem sempre conseguia
chegar ao seu objetivo final (a verdade real), pois muitos dos torturados confessavam crimes
ou heresias que não haviam cometido, apenas para cessar aquela aflição.
A citada Lei de dezembro de 2003 consistiu em uma das reformas do CPP propostas
por juristas e ministros brasileiros, frente a Constituição de 1988, que estabeleceu um Sistema
Acusatório, isto é, marcado pela separação clara entre as atividades de acusar e julgar, iniciativa
probatória das partes, juiz como terceiro imparcial e possibilidade de contraditório e ampla
defesa. Desse modo, se buscava instituir um Processo Penal como um instrumento de garantia
dos direitos fundamentais do indivíduo, o qual tem a sua inocência presumida, diferentemente
da Inquisição Eclesiástica-Estatal, onde vigorava a presunção de culpa do réu.
Não obstante a realização dessas reformas, o princípio inquisitivo ainda tem grande
influência no Direito Processual Brasileiro, por conta das mentalidades inquisitoriais dos
aplicadores do Direito. A Constituição Federal de 1988 estabelece em seu texto uma estrutura
acusatória, uma vez que dispõe que ao Ministério Público cabe a função de acusar, assegura ao
acusado o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, além de dispor
sobre a imparcialidade do julgador. Contudo, na prática, conforme Aury Lopes Junior (2022),
a mentalidade inquisitória faz com que se resista a essa estrutura acusatória, principalmente por
conta do mito da “busca da verdade real” e pelo anseio pelo juiz justiceiro, que faça justiça
mesmo que o acusador não produza provas suficientes.
Por essa razão, Aury Lopes Junior (2022) diz que é necessária uma mudança de
cultura pelos julgadores e por todos os atores do judiciário, abandonando o pensamento
inquisitório e assumindo uma postura acusatória.
REFERÊNCIAS
ECO, Umberto. O nome da Rosa. São Paulo: Record, 2019, pág. 407 – 427.
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal.19. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2022.
SOMBRAS de Goya. Direção: Miloš Forman. Produção: Saul Zaentz. Espanha: Kanzaman
S.A.l, 2006 (113 min), son., color.