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Ilustração de Sir John Tenniel’s, colorida
posteriormente, para o livro Alice no país das Norbert Wiener foi um dos primeiros acadêmicos a discutir
Maravilhas
e conceituar a cibernética, aqui focalizada a partir de seu
livro “Cibernética e Sociedade: o Uso Humano de Seres
Humanos”, editado no Brasil em 1954. Para o autor, “o propósito da cibernética é o de desenvolver uma
linguagem técnica que nos capacite, de fato, a haver-nos com o problema do controle e da
comunicação em geral” [1] (p. 17). A comunicação, em sua visão, só poderia ser compreendida a partir
dos meios (ou facilidades) de comunicação, bem como o estudo das mensagens que uma sociedade
dispõe. A partir das perspectivas teóricas propostas pelo matemático e filósofo citado, proponho uma
breve discussão em relação ao sistema e ao feedback (ou retroalimentação), tão caros para a
compreensão da cibernética e, por conseguinte, controle e linguagem.
informações e linguagens (verbal, química, elétrica etc.) que serão trocadas para que o sistema se
regule continuamente. Ou seja, o processo de ajuste às contingências do meio ambiente, sempre em
interação com a parte interna via feedback, faz com que o sistema, seja ele qual for, recobre seu
equilíbrio.
Nesta obra, em particular, Wiener pretende pensar sociedades como sistemas cibernéticos, nas quais o
reequilíbrio pode se dar por meio do esgotamento e a saturação de recursos naturais, como no caso
das sociedades européias de 1500 que buscavam novas terras. O autor faz analogia entre a forma de
exploração de recursos, que pareciam inexauríveis à época, à passagem do livro “Alice no país das
maravilhas” [2], quando o chá e o bolo do Chapeleiro Maluco e da Lebre de Março acabavam, eles
seguiam para o próximo lugar vazio. Quando Alice indaga ao Chapeleiro o que aconteceria quando eles
voltassem ao local inicial, já sem bolo ou chá, os personagens mudam de assunto sem dar qualquer
explicação. Desde a metade do século passado, quando o livro foi escrito [1], já se sabia da finitude de
nossos recursos, tornando o reequilíbrio de sociedades que se apoiam no domínio da natureza,
paradoxalmente, escravos a essa mesma natureza e do aperfeiçoamento técnico das nossas práticas e
formas de viver e ser no mundo.
Nesse sentido, Wiener também argumenta que o fato de um sistema de determinado tipo estar em
equilíbrio nem sempre implica que todos os sistemas daquela classe se organizam da mesma maneira.
Exemplo disso são, para o mesmo autor, os diferentes padrões de comunicação e organização social de
sociedades hierárquicas e engessantes, exemplificadas pelas estratificações por castas na Índia, em
contraste com formas mais horizontais de compartilhamento de poder, como nas comunidades inuítes
ou iupiques [sic], cuja base se sustenta no desejo de sobreviver (p. 50).
O autor contribuiu grandemente para conceituação da cibernética ˗ em sua primeira onda ˗ bem como
discussões filosóficas importantes para o pós-segunda guerra mundial e a utilização social pervasiva de
autômatos, sistemas e feedback; no entanto, no que tange às reflexões acerca da linguagem e
consciência, a obra de Wiener não traz questionamentos profundos, tão pouco ampliação ou
diferenciação entre organismos ou máquinas conscientes e não conscientes em relação às implicações
da consciência para linguagens, sistemas e feedbacks.
[1] WIENER, N. Cibernética e sociedade: o uso humano de seres humanos. São Paulo: Cultrix, 1970.
[2] Carroll, Lewis. Alice’s Adventures in Wonderland. New York: Macmillan, 1920
[3] VILAÇO, F. L.; GRANDE, G. C. Língua Inglesa na BNCC. In: CÁSSIO, F.; CATELLI JR., R. (Eds.). .
Educação é a base? 23 educadores discutem a BNCC. 1. ed. São Paulo, SP: Ação Educativa, 2019. p.
145–157.
[4] HAYLES, K. How we became posthuman: virtual bodies in cybernetics, literature, and informatics.
Chicago, Ill: University of Chicago Press, 1999.
[5] BUTLER, S. Erewhon Over the range. United Kingdom: Trubner, 1892.
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A concepção de linguagem em
Cibernética e Sociedade: o uso
humano dos seres humanos, de
Norbert Wiener – PARTE 2/3