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inventiva
Cognitivas e formação
Virginia Kastrup
Pós-Graduaçäão
em Psicologia da
Programa
de
o m o professora do Îui orientadora de
de Janeiro (UFR]),
Universidade Federal do Rio o tema
convidou a pensar que me
me
doutorado da Rosi e foi ela que
a Rosi e grande parceira,
uma
Atualmente
de hoje.
traz ao encontro
52
dizagem inventiva é aquele que vai mais diretamente desembocar
na ideia dá formação inveniva Seguindo a abordagem da cogniçao
inventiva a aprendizagem não é apenas um processo de soluçao de
54 inventiva
de protes
ormação
com o tato
com o
que vocs percebem com tais
um sentidos. Tentem ler
pequeno texto em braile e
vejam o que uma pessoa cega conse-
gue perceber com a
ponta dos dedos. Observem o
escutar se que ele consegue
deslocando na rua, atravessando uma
atraves d0 ruido dos rua, por exempo
carros. Voce iria concluir
é deficiente. E que a nossa
cogrnigau
da
deficiente em termos da discriminação auditva
discriminação tátil. Por que? Porque a nossa visão e, para
Videntes, um sentido
dominante nos
que sobrecodifica, achata e recalca
nossas outras
virtualidades cognitivas. Então
trabalhar com
deficiencia visual, eu comecei
quando eu comecei a
tizar essa história dos justamente a problema-
80%. Cormo assim 80%? Eo que
de 100%? Eo sera o mundo
mundo que vejo? Eu sei que
eu
é
completamente diferente da percepção, por aminha percepçao
quimo que e capaz de exemplo,
de um es-
perceber quarenta tons de branco. Existemn
pesquisas em percepção que dizem
que o esquimó reconhece varias
tonalidades de branco,
só conhece o
praticamente inexistente para nós. A gente
branco-branco, branco sujo, o branco encardido.
o
discriminamos uns dois ou très tons de S
branco, enquanto ele per-
cebem quarenta tons. Então
nós, do ponto de vista de um esquimo,
somos deficientes
visuais quanto a
O mundo do percepção de cores.
esquimó comporta muitas tonalidades de branco.
De modo
semelhante, o mundo cognitivo do cego comporta uma
variedade tatil e auditiva muito
maior que a da maioria dos videntes.
Então não tem sentido o modelo
da representação, não existe um
único mundo que vai ser
captado 8o% pela visão e os outros 2o%
pelos sentidos que sobram, os sentidos inferiores,
menos nobres que
a visão. Muitas vezes
se diz isso. Tenho
defendido que o campo da
deficiência visual d um testemunho muito forte em
favor da con-
6 Kastrup, Carijó e
cepção inventiva do conhecimento. Porque ele atesta que é através
Almeida, 2009
de pråticas cognitivas concretas e efetivas que subjetividades são
constituidas, sujeitos cognitivos são produzidos, mundos são tam-
bém constituidos, tudo em um movimento de
Existe um dominio cognitivo
coengendramento.
que e próprio de certas praticas, prá-
ticas de percepção tátil, praticas de desenvolvimento
tàtil. E outros
mundos que são desenvolvidos através de
práticas de percepção vi-
sual. Então nào existe um mundo so, nem existe so um
sistema cog-
nitivo e nem uma
representaço
melhor do que a outra do mundo,
mais proxima da realidade. Existem diferentes
percepçoes e diferen-
tes mundos. O estudo da deticiencia visual
problematiza a noção de
representação. Foi o que Maturana e Varela fizeram no campo das
ciencias da cogniçào no final da decada de 1970. Ate hoje o trabalho
56 inventiva
de prores
Formação
representação, mas pessoas que encarnam o modelo da representa-
cão. Elas funcionam segundo o modelo da representação. O modelo
da
representação as constitui.Se a representação dormisse nos IiVTOS
Seria mais facil, porque assim eu
podia dizer "não, eu não vou es-
tudar no livro do
modelo de representação, vou estudar no livto do
modelo da invenção." E
nesse caso tudo fica certo e
oproblema é mais garantido. las
complexo, pois a representação e a invençao o
a cogniçao representacional e a cogniçào inventiva são duas manel
ras de estar mundo e isso acarreta
no
em
consequencias concretas
para o trabalho do professor. Se eu
considero que o mundo e dado
com uma
politica da representação, penso da
realidade é muito dificil, seguinte maneira: a
hoje em dia é impossivel trabalhar." E im-
possivel ensinar porque os alunos não tèm interesse. Eu
para estudei
isso. Eu trago
conhecimentos para oferecer para eles, mas eles não
querem, não aceitam, nem me ouvem. Eles nào
Deve prestam atenção.
ser porque a maioria familia
desestruturada, então
tem uma
não condições de aprendizagem. Quando um professor vem
tem
com um discurso
desse tipo, ele encarna o modelo da
Ora, muitas vezes o modelo da representação.
representação nos habita de modo
clandestino. Muitas vezes nós teorizamos assumindo a
perspecuva
da cognição inventüva, mas somos
cotidiana. E às vezes é o contrário
representacionais
na nossa
pratica
que ocorre. As vezes nos encarna-
mos o
ponto de vista da cognição inventiva muito antes de ter lido
qualquer livro sobre cognição inventiva. Encarnamos o filósofo da
diferença na nossa vida práica, sem saber. Então
quando nos lemos
certos textos que muitas vezes são
novos, às vezes dificeis, uma irase
ou outra começa a
ressoar, a começa fazer sentido. Que interessante
aquilo que o autor falou! Não tem a ver com aquela situação que a
gente viveu ontem? E ai vai sendo construido um
plano de sentido.
Porque na verdade, as discussöes teóricas também são
8 Foucault, 1979 práticas,
como afirma Foucault." Pråticas
discursivas vào se conectar com
pråticas não discursivas. E com as práticas que j estão encarnadas
em nos, tornando-se subjetividade. Entào essa
questão e interes
sante, porque o estudo e uma
pratica dentre outras, ou seja, eu
posso estudar direiünho um livro sobre
produção de subjetividade.
sobre
cognição invendiva, estudar a cartilha de Deleuze, Guattari e
Foucaulte aquilo no entrar, não fazer liga. Então eu conunuo na
minha prática cotidiana trabalhando exatamente comomodel da
representação. E outras vezes, ao contrario, encontramos professores
que inventam o tempo todo no cotidiano de sala de aula.
Quantas
pessoas preciosas a gente encontra por ai que nào tem propriamente
inventivas
direção e såo
nessa problematiza.
formação arriscam, zam
uma praticas, e se
inventam
criam todo dia.
e
Buscam poros de respiração,
Iinhas de fuga.
Ideias prontas,
criam
serem
ultrapassados. N
Nesse sentido a ques-
limiares para
descobrem damental éa das politicas da cognição.
fundam
parece
formação
de professores.
estamos no meio universitário, as práticas
que
damentais. Para
nos
58 inventiva de prolessU
OTmaça0
fenomenologia chama de atitude natural, é representacional. Na
verdade nào é uma atitude natural, é uma atitude habitual, e uma ati-
tude produzida historicamente. Mas ela parece natural. E muito facil
resvalar e cair
no modelo da
representação. E muito facil.Qualqucr
cochilo pode nos fazer
cair de novo no modelo da representaçao.
éomodelo mais fácil. Por isso a construção de uma politica invenuva
é um trabalho árduo. E um
trabalho de desse desmontagem
hegemónico, dessa politica cognitiva hegemônica, que é a politica da
modelo
representação. E ao mesmo tempo em que ocorre a suspensao dessa
politica ou a invenço de pråticas de desconstrução dessa posição,
ou de deslocamento dessa posição, é preciso colocar outras praucas
no lugar. Produzir outras atitudes através de outras açòes. Isso não
e simples, mas é um esforço e uma aposta. Nós temos que trabalhar
nessa direção, mesmo que se saiba que a qualquer momento e pos-
sivel resvalar e recair ao modelo da representação. E um modelo que
nos puxa sempre e a resistência tem que ser constantemente reite-
rada. O caminho tem que ser feito dia a dia, como um desaho perma-
nente. Por isso a formação inventiva vai se fazendoo tempo todo, sem
complementa assim:
fazem de sua
por toda parte no livVTO, que
e
se encontram
que
são as a r m a -
tradução um verdadeiro e violento esforço. Mas não
seduzir oo
dilhas familiares da retórica, aquelas que procuram
acabam por
consciente da manipulação, e
leitor sem que ele esteja
autores contra sua
vontade. As armadi-
ganha-lo para a causa dos
do humor: tantos convites para
se
has de O anti-Edipo são aquelas
do texto batendo a porta. O livro
deixar expulsar, para despedir-se
frequentemente, que so humor e jogo, onde, contudo,
da a pensar,
coisa que é da maior
essencial se passa, alguma
alguma coisa de
inventiva
59
e formaçào
Conversando sobre politicas
cognitivas
seriedade:o cerco de todas as formas de fascismo, desde aquelas.
O fascismd ao qual
Foucault s e refere tnao e o lascismo do Mussolin:
lfoucault, tg
n i o c ofascIs110 da macropoitica, mas o Tascismo que nos habita
Reterenaas b1blograhcas
i c s Teleuze. CTVTa,is, Rio de Janeiro Editora
iuTd1gnes , s.d
Formaçâo
inventiva de protes