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UFRGS CEDOP

Especialização em Medicina do Trabalho

CALOR - Sobrecarga Térmica


Avaliação, Controle e seus Efeitos à
Saúde dos Trabalhadores

Môsiris Roberto Giovanini Pereira


Médico do Trabalho
Mestre Epidemiologia - UFRGS
2015
Estresse Térmico ou
Sobrecarga Térmica por Calor

Estresse Térmico ou Sobrecarga Térmica:


carga de calor a que o trabalhador está exposto

Calor Metabólico ou Taxa do


Metabolismo da Atividade
Fatores Ambientais

Vestimenta de Trabalho
FATORES AMBIENTAIS
Temperatura do ar
Umidade
Velocidade do ar
Calor Radiante

IBUTG

IBUTG AJUSTADO
Equação do
Equilíbrio Homeotérmico

Como interpretar a equação ?

M + R + C = E
De onde vem o calor acumulado
pelo organismo?
! Calor é gerado internamente pelo
metabolismo celular e pelo trabalho
mecânico dos músculos esqueléticos

! Calor é ganho externamente pela radiação


do sol ou do forno, pelo contato com
objetos quentes e absorvido quando a
temperatura ambiente se eleva acima da
temperatura corporal
Como o organismo reage quando
está ganhando (acumulando) calor?
! Hipotálamo recebe informação externa da
temperatura da pele e da temperatura interna
(do núcleo do corpo)
! Hipotálamo libera impulsos nervosos à pele
para estimular a vasodilatação e a sudorese
! A vasodilatação cutânea aumenta a
transferência convectiva de calor do núcleo do
corpo para a periferia, por meio da circulação
sanguínea
! A sudorese contribui para o aumento da
perda de calor pelo resfriamento da pele
através da evaporação do suor
No Sistema Nervoso Central estão o
Tálamo e o Hipotálamo

O hipotálamo
controla a
temperatura
corporal, a sede e
o equilíbrio
hídrico, a pressão
arterial, a raiva, a
agressividade
Temperaturas do corpo

Temperatura Interna - Ti:


Temperatura dos centros termorreguladores do
hipotálamo, temperatura do núcleo do corpo

Medição da TI: sonda no esôfago ou no reto

Estimativa da TI: temperatura oral 0,25 a 0,5 ºC


mais baixa que TI
Temperaturas do corpo

Temperatura retal = 0,4ºC mais alta que Temperatura oral


Temperatura retal = 0,8ºC mais alta que Temperatura axilar
Temperatura do esôfago: reflete melhor a temperatura central

Mulheres que menstruam:


Temperatura matinal é menor nas duas semanas que antecedem a
ovulação
depois aumenta cerca de 0,6ºC com a ovulação e
permanece nesse patamar até o início da menstruação
Temperaturas do corpo

Temperatura corporal central: 36,5 a 37,5 ºC

Indivíduos sadios entre 18 e 40 anos


Temperatura oral média 36,8 ± 0,4 ºC com níveis mais baixos às 6h
e mais altos entre 16 e 18h
T oral normal máxima às 6h = 37,2º percentil 99
T oral normal máxima às 16 = 37.7 ºC

Temperatura oral > 37,2 ºC de manhã = febre


Temperatura oral > 37.7 ºC à tarde = febre
Variação total diária da temperatura: até 1 ºC
Sobrecarga Fisiológica por Calor

Resposta fisiológica global do organismo resultante da


sobrecarga térmica, com o objetivo de dissipar o excesso de
calor acumulado ( calor interno )
SISTEMA NERVOSO CENTRAL e NEURÔNIOS DO ENCÉFALO E DA
SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO MEDULA ESPINAL; GÂNGLIOS
CENTRO TERMORREGULADOR HIPOTÁLAMO

PELE SENSORES

SISTEMA CARDIOVASCULAR CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS

OUTROS SISTEMAS ORGÂNICOS RINS, GLÂNDULAS ENDÓCRINAS


Sobrecarga Fisiológica por Calor
Avaliação
ACGIH 2014 Aclimatação,vestimenta, efeito do peso na
taxa de metabolismo, presença de sintomas,
sódio urinário

ISO 7933:2004 Determinação e interpretação do


Ergonomic of the thermal environmental estresse térmico usando o cálculo da
predição da sobrecarga fisiológica

ISO 8996:2004
Ergonomics of the thermal Determinação da taxa metabólica
environmental
ISO 9886 FC, temperatura corporal, perda de
Ergonomic – Evaluation of the thermal massa corporal, temperatura da pele
strain by physiological measurements
Várias Normas ISO Fatores ambientais, clima,
carga de trabalho
Ponto de Ajuste

! É a temperatura interna que o organismo está


tentando manter
! O hipotálamo efetua a maioria das respostas
termorreguladoras, por meio do sistema nervoso
simpático, mandando sinais que trafegam pelos
NERVOS ESPINHAIS T1 a L3 para os
VASOS SANGUÍNEOS da PELE e para as
GLÂNDULAS SUDORÍPARAS, os músculos
esqueléticos
Como o calor acumulado pelo
organismo é dissipado?
! Condução do calor através do corpo,
do núcleo para a periferia
! Convecção do calor do núcleo para a
periferia, por meio da circulação do
sangue e da superfície da pele para o ar
ambiente
! Radiação do calor para o meio
ambiente
! Evaporação do suor para o meio
ambiente
Água nos Compartimentos
Como o organismo reage quando
está ganhando (acumulando) calor?
! Hipotálamo recebe informação externa da
temperatura da pele e da temperatura interna
! Hipotálamo libera impulsos nervosos à pele
para estimular a vasodilatação e a sudorese
! A vasodilatação cutânea aumenta a
transferência convectiva de calor do núcleo do
corpo para a periferia, por meio da circulação
sanguínea
! A sudorese contribui para o aumento da
perda de calor pelo resfriamento da pele
através da evaporação do suor
De onde vem o suor?

! O suor deriva do sangue


! A água é retirada do sangue para formar o
suor que sai pelas glândulas sudoríparas
! O líquido perdido do sangue é reposto pelo
líquido intersticial
! As proteínas do plasma – albumina- atraem
água para dentro dos vasos sanguíneos por
osmose
! As células cedem água para o líquido
intersticial
! O volume das células diminuído dispara o
mecanismo de retenção de água pelos rins
Pele e a termorregulação
Barreira física contra
Raios UV e
danos mecânicos
Barreira física de retenção
de água e solutos
Reduz perda por
evaporação dos tecidos
abaixo dela

Receptores sensoriais
Raízes nervosas e
Glândulas Sudoríparas
Glândulas sudoríparas

Secretam líquido para a superfície da


pele ( água = solução hipotônica )

A evaporação do líquido resfria a pele,


mas pode comprometer o equilíbrio
hídrico e a função cardiovascular

A pele pode produzir 1 a 1,5 L / h de


suor até cerca de 3L / h em
Indivíduos aclimatados ao calor
Reação ao calor

Fluxo de sangue
Vasodilatação
normal para pele:
250 ml / min
Aumenta o fluxo de
Exposição ao calor e
sangue para a pele
elevação da
temperatura
corporal:
Sudorese
Fluxo de sangue para
pele aumenta para
6 a 8 l / min

Aumenta o
débito cardíaco
Taxa de Metabolismo

Categorias Taxa Metabólica Exemplo de Atividade


Watts
Descanso 115 Sentado
Leve 180 Sentado com trabalho
manual leve com mãos ou
mãos e braços
Moderado 300 Trabalho contínuo com
mãos e braços; trabalho
leve de levantar empurrar;
andar a passo normal
Pesado 415 Trabalho com pá; serrar
manualmente
Muito Pesado 520 Atividade intensa com ritmo
mais rápido possível
Sobrecarga Fisiológica por Calor
Parâmetro Comentários
FC > (180 bpmin – idade) FC se mantém por vários minutos
acima desse valor calculado, para
pessoas com desempenho cardíaco
normal
Temperatura Interna > 38.5 ºC Temperatura do núcleo do corpo
para aclimatados e selecionados
clinicamente
Temperatura Interna > 38 ºC Temperatura do núcleo do corpo
para não aclimatados e não
selecionados clinicamente
Recuperação da FC > 120 bpmin Após um minuto do pico do esforço
de trabalho
Sintomas de fadiga severa e Qualquer parâmetro
repentina, náuseas, vertigens alterado = emergência
ou tonturas
Risco de Doenças Relacionadas ao Calor

Condição ou Parâmetro Comentários


Sudorese intensa mantida por Desidratação, síncope
várias horas
Perda de Peso Corporal > 1,5% Perda de peso durante a jornada
de trabalho
Excreção de Sódio na urina em Monitoramento durante 24h
24h menor que 50 mmoles
Distúrbios do sono Homens e mulheres
Infertilidade temporária Homens e mulheres
Fadiga, irritabilidade
Em gestantes: risco ao feto Temperatura interna > 39ºC
Determinação da Taxa Metabólica:
ISO 8996

Nível 1 Rastreamento – Atividade (NR 15 Anexo 3) Erro > 20%

Nível 2 Observação – Atividade Específica 20%

Nível 3 Análise – Medida da FC 10%

Nível 4 Especializado – Calorimetria direta 5%


Consumo de O2
INTERMAÇÃO
Hipertermia + Disfunção do Sistema Nervoso Central

Irritabilidade
Distúrbio da marcha
Confusão mental
Convulsões
Coma
Falta de apetite, tontura, fadiga, mal-estar, dor de cabeça, náusea,
distúrbio visual, fraqueza, pele seca ou molhada

Edema pulmonar, choque, arritmia cardíaca, rabdomiolise, dano


renal e hepático, distúrbio da coagulação, outros danos...
Doenças Causadas pelo Calor

Intermação

Alta taxa de mortalidade ( ≥ 10% )


Sequelas psicológicas
Sequelas neurológicas (33%)
paraplegia
paresia
disartria
perda de memória
dificuldade de concentração
ataxia
Doenças Causadas pelo Calor

• Câimbras
• Dermatoses
• Distúrbios hidro-eletrolíticos
• Edema pelo calor
• Espasmos musculares
• Infertilidade masculina
• Má formação fetal em gestantes
• Síncope
• Hipertermia : insolação ou exaustão térmica AMEAÇA
À VIDA
intermação ou choque térmico
Doenças Causadas pelo Calor

DERMATOSES EM AMBIENTES QUENTES

• Miliária: retenção sudoral com obstrução da glândula


sudorípara na epiderme superficial, profunda ou derme
superficial

• Eritema abigne: exposição direta e prolongada da pele a uma


fonte de calor insuficiente para causar queimadura

• Intertrigo: erupção eritematosa em áreas de atrito

• Urticária pelo calor: pápulas de 1 a 2 mm


Doenças Causadas pelo Calor

RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA E INFRAVERMELHA

• UV-A 320 - 400 nm (onda longa) próximo da luz negra


•UV-B 280 - 320 nm (onda média) eritema e queimaduras solares
•UV-C 200 - 280 nm (onda curta) ação germicida
•Câncer cutâneo: epitelioma basocelular e espinocelular
melanoma
• Ceratite, conjuntivite, queimaduras
• IV : catarata , queimaduras
Doenças Causadas pelo Calor
CASOS GRAVES e INTERMAÇÃO são uma combinação de:
1. Direta toxicidade às células
2. Severa resposta inflamatório sistêmica
3. Encefalopatia predomina precocemente no
curso da doença
4. Sobrecarga cardiovascular, arritmias
5. Insuficiência renal
6. Coagulopatia, disfunção hepática
7. Falência de múltiplos órgãos
INTERMAÇÃO

Risco à Saúde e à Vida


Sobrecarga Térmica por Calor:
Hierarquia dos Níveis de Prevenção
A PREVENÇÃO PRIMÁRIA
requer ação prioritária sobre o processo, a organização do
trabalho e o ambiente de trabalho a fim de eliminar ou reduzir
os fatores que geram a sobrecarga térmica por calor
(monitorada pelo IBUTG, clo, metabolismo, outras variáveis,
legislação aplicada) e incluir pausas ou interrupção do trabalho

A PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
requer informação sobre risco e reconhecimento de seus efeitos,
EPI, vestimenta de trabalho, filtros de proteção solar,
aclimatação, hidratação, exames médicos admissionais e
periódicos, educação em saúde ocupacional, vigilância em saúde
e o monitoramento da sobrecarga fisiológica por calor
Obrigado pela atenção
Prof. Môsiris R. Giovanini Pereira

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