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Estruturação do projeto de pesquisa

Esse texto tem a função de ser um auxílio na redação de projetos de pesquisa. Para isso, ele busca
caracterizar o que constitui cada item do projeto, sugerir alguns pontos que podem ser
contemplados em cada um deles, além de oferecer algumas dicas e sugestões. Não há modelo único
e nem sempre se exigem as mesmas coisas nos projetos de pesquisa. Nesse caso, tomamos como
paradigma uma proposta um pouco mais simples, mas que, ao mesmo tempo, permite contemplar
aspectos básicos exigidos num projeto.

1) Título provisório

Trata-se do nomear aquilo que se pretende fazer. Um bom título fornece ao leitor o tema que será
tratado, o recorte a ser adotado e, eventualmente, perspectiva a ser empregada.

Exemplos:

Teatro, Templo e Mercado – A Eficiência do Sistema de Comunicação e Marketing da Igreja


Universal do Reino de Deus. (emprega uma metáfora – a ser retomada no texto – e utiliza o
subtítulo para especificar).

O ensino religioso no estado do Espírito Santo: da legislação à sala de aula

Funções e Disfunções Éticas das Comunidades Religiosas (Título muito vago)

Contribuição para uma História do Protestantismo na Colômbia. A missão e a Igreja Presbiteriana


1856/1946. (título vago e ambíguo. Qual a contribuição?)

Por vezes, é possível utilizar alguma frase de efeito ou metáfora recorrente, seguidas de uma
especificação.

Exemplo: “São os evangélicos que seguram essa cadeia, se não fossem eles, quem iria converter
os mauzão?”: considerações sobre o papel do “proceder evangélico” na prisão

2) Delimitação do tema

Nesse modelo de projeto, essa é a parte mais importante. Após ter nomeado o tema por meio do
título provisório, o que se espera desse tópico é que o projeto apresente e argumente em favor de
um recorte mais específico em torno daquilo que se constitui o projeto. Essa é, geralmente, a parte
mais extensa de um projeto de pesquisa. Abaixo, seguem sugestão de pontos que podem ser
abordados.

a) Contextualização e pressupostos.

Antes de abordar a proposta mais específica do projeto, é importante apresentar informações e


pressupostos que se julguem ser necessários para que o leitor possa compreender a amplitude e a
importância dos temas mais específicos a serem pesquisados. Aqui, é preciso cuidado para se evitar
2

dois extremos. De um lado, é preciso cautela para não se omitir informações e pressupostos
importantes para a melhor compreensão da problemática e da hipótese. Caso se incorra nessa falha,
a problemática e a hipótese podem não ser compreendida em toda sua riqueza. Por exemplo, um
projeto que se propõe a investigar o reiki. É uma boa estratégia apresentar alguns elementos
históricos constitutivos dessa prática, tendo em vista não ser um tema muito usual. Mas, nesse
caso, é preciso evitar o outro extremo: mesmo quando se tratar de oferecer informações mais
gerais, é importante articular essas informações com a problemática e com a hipótese. Assim, ao
invés de simplesmente fornecer informações generalistas, é importante que na redação já vá se
tematizando alguma questão. No caso do exemplo citado, se a problemática de fundo está na
caracterização do reiki como religião ou prática terapêutica, ao tratar da trajetória dessa prática do
Japão para o Brasil já pode ir se tematizando isso. Ao invés de simplesmente dizer que o reiki tem
início no Japão, depois é trazido para o Brasil, etc, é possível tratar dessas informações, mas, já
indicando, por exemplo, se no seu início no Japão era tratado como religião ou com prática
terapêutica. Assim, o texto fica mais interessante e não meramente uma exposição de curiosidades.

Um ponto a se lembrar: a função de se apresentar esses pressupostos é fornecer ao leitor


informações e pressupostos que lhe permitam entender a especificidade e a relevância do trabalho.
Portanto, o critério para escolha de quais pressupostos e informações devem constar e quais devem
ficar de fora deve ser sempre pensada tendo em vista a compreensão da relevância da problemática
e da hipótese.

Exemplo

Suponhamos que minha problemática e hipótese tenham a ver com a noção de ontoteologia em
Heidegger.

O projeto poderia iniciar dissertando um pouco sobre o debate em torno da presença de uma
dimensão religiosa no pensamento de Heidegger, destacando que ela aparece, por exemplo, quando
no curso sobre as cartas de Paulo, posteriormente, com a noção de sagrado e do último de Deus.
Mas, apesar da importância desses temas, esse projeto se debruçará sobre um conceito empregado
nas obras de Heidegger no início dos anos de 1930 e que se torna importante para entender como
ele articula pensamento filosófico e religião: a noção de ontoteologia. (Obs.: nota-se que se oferece
uma caracterização geral, mas que já aponta para o problema a ser tratado).

Um exemplo ruim: Martin Heidegger (1889-1976) nasceu em Messkirch, Alemanha e se


notabilizou como um dos mais importantes filósofos do século XX. Estudou fenomenologia e se
tornou um de seus maiores representantes ao lado de E. Husserl. É tido por muitos como pai do
existencialismo, principalmente em virtude de sua obra Ser e tempo, que obteve grande
repercussão quando foi publicada. Heidegger também se notabilizou como figura polêmica devido
a sua adesão ao nazismo, ainda que por curto período. Também trouxe contribuições significativas
para o campo da hermenêutica. (Obs.: São informações gerais, mas que tem pouca ou nenhuma
relevância para a delimitação do tema. Fica-se mais em generalidades, com informações
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facilmente encontradas em qualquer site da internet ou no wikipedia. Esse tipo de redação


demonstra bastante incipiência na aproximação do tema. No linguajar popular, é o que se chama
encher linguiça).

b) Problemática e hipótese.

Após contextualizar o tema mais específico, oferecendo ao leitor pressupostos e informações


relevantes, o segundo passo consiste em apresentar a problemática e a hipótese do projeto. Nesse
momento, é importante utilizar recursos linguísticos e estilísticos que ressaltem a importância
desses dois itens, deixando claro que se passou da apresentação dos pressupostos para a parte
central do projeto.

É importante notar como o projeto vai se estruturando de aspectos gerais para mais específicos: no
título, anuncia-se o tema. No início da delimitação, já se afunila um pouco mais ao tratar de
pressupostos e informações relevantes dentro desse tema mais geral. Com a problemática e a
hipótese, observa-se uma delimitação ainda maior, pois eles indicam o que será investigado.

Por isso, o primeiro passo numa pesquisa se constitui na elaboração da problemática e da hipótese.
Esses itens acabam fornecendo direcionamento para outras partes. Assim, na abertura da
delimitação, o projeto deve oferecer pressupostos e informações que sejam relevantes para a
melhor compreensão da problemática e da hipótese. Caso se adote esse critério, dificilmente o
projeto fica divagando sobre temas e assuntos alheios à pesquisa. Além do mais, eles constam
justamente na delimitação por terem essa função. Uma boa problemática e hipótese delimitam um
tema mais amplo.

Já trabalhamos elementos a serem ponderados nesse ponto, especialmente considerando as


características que devem ter a problemática e a hipótese1. De maneira sucinta, podemos dizer que:
a) Uma boa problemática emprega “como” e “por quê” ao invés de “o quê” na elaboração da
pergunta. Com isso, consegue-se uma problematização que escape de generalidades, além de
remeter a investigação para a coleta de evidências. Já uma boa hipótese é uma afirmação que
responde à problemática, tendo como características ser argumentável, falseável, interessante e
original.

Uma sugestão é que a problemática e a hipótese sejam apresentadas de maneira bem sucinta. O
ideal é que cada uma seja enunciada numa frase. Caso se adote esse modelo, é óbvio que a
problemática e a hipótese ficarão bastante condensadas. Com isso, será necessário esclarecer
aspectos (conceitos, noções, etc) que ainda podem dificultar a compreensão do leitor sobre o que
está em jogo. Enfim, após a apresentação da problemática e hipótese, é fundamental desenvolver
uma explicitação dos seus elementos constituintes. Além disso, pode ser interessante mostrar como
a hipótese responde à problemática e como ela é argumentável, original e interessante. Caso o

1
HALPERN, Faye et alii. A Guide to Writing in Religious Studies. Cambridge, MA: Havard Webpublishing, 2007.
Disponível em: https://hwpi.harvard.edu/files/hwp/files/religious_studies.pdf
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projeto consiga mostrar esses aspectos com relação à hipótese, o leitor ficará mais convencido da
sua pertinência.

c) Referencial teórico

Especialmente no caso de investigações que envolvam pesquisa de campo, é importante destacar


os referencias teóricos que serão utilizados para abordagem dos dados. Não há uma indicação
muito clara do lugar onde isso pode ser feito. Dependerá de cada projeto. Em alguns casos, o aporte
teórico poderá ser apresentado antes da problemática e da hipótese. Isso ocorre principalmente
quando o aporte teórico é constitutivo da problemática e da hipótese e não apenas uma mera
ferramenta de aproximação do tema. Mas, em outros casos, essa indicação do referencial teórico
deve vir depois, especialmente quando é preciso ter entendido a problemática e a hipótese para se
apreender a relevância do aporte teórico escolhido para a aproximação do tema.

Uma dica: o referencial teórico não é apenas uma oportunidade para citar autores e conceitos,
recorrendo a argumentos de autoridade. Esses autores e conceitos devem estar submetidos a uma
função: eles devem servir para a melhor compreensão do que está sendo investigado. Portanto,
uma pergunta que sempre deve ser feita é: O que esse autor/escola/noção me permite entender do
tema em questão e que sem eles eu não teria me atentado? Quais vantagens determinada
autor/escola/noção trazem para abordar essa temática? Em outros termos, se você pode chegar às
mesmas conclusões sem recorrer ao referencial teórico, pode ser que esteja fazendo um uso pobre
desse referencial ou que ele seja desnecessário ou ainda que ele não seja uma boa escolha – o que
leva à procura de outros que podem cumprir melhor essa função.

d) Alguns argumentos e evidências.

Ainda na parte da delimitação, é importante que você apresente alguns argumentos e evidências
que podem dar suporte à hipótese que o projeto defende. É claro que, em se tratando de um projeto,
não se espera uma argumentação muito consolidada e propositiva. Mas, o projeto consegue
convencer mais o seu leitor se apresenta minimamente evidências capazes de mostrar que a
hipótese é plausível.

Note-se bem. Estamos falando de um projeto. A intenção de apontar evidências aqui não é defender
a hipótese, mas apenas mostrar sua plausibilidade. A defesa da hipótese acontecerá com a
dissertação. Portanto, por ora, essas evidências devem apenas indicar que a hipótese não é algo
que “tirou da cartola”, mas que tem um mínimo de razoabilidade a partir de evidências coletadas
numa aproximação inicial.

No caso, de quem se ocupa com pesquisa bibliográfica, as evidências são citações do texto do
pensador a ser estudado. Já em pesquisas de campo, seria importante trazer algumas impressões
iniciais que se tem do campo e que podem corroborar a plausibilidade da hipótese. Lembre-se
sempre de que, ao citar um autor ou um informante do campo é sempre importante comentar a
citação. Nunca cite e deixe sem tecer um comentário seu, articulando como você interpreta aquelas
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palavras e quais relações elas possuem com a pesquisa. Novamente, a intenção de trazer essas
evidências não é dar suporte á hipótese.

e) Recorte do objeto.

Por fim, no âmbito da delimitação, é importante fazer um recorte também no seu objeto de estudo.
Esse recorte pode ser temporal, geográfico, temático, etc. Além disso, é importante também
justificar essas delimitações.

No caso de pesquisas bibliográficas, é importante mencionar quais obras do autor serão


consideradas com maior ênfase. Por exemplo: para estudar a noção de ontoteologia em Heidegger,
vamos nos deter mais proximamente no curso que Heidegger ofereceu em 1930 sobre a
Fenomenologia do Espírito de Hegel. Afinal, aqui é a primeira vez em que essa noção aparece.
Ao lado desse curso, a conferência A constituição ontoteológica da metafísica será também
considerada com bastante ênfase, uma vez que nesse texto, apresentado numa conferência sobre o
pensamento de Hegel e escrito mais de 20 anos depois do curso, essa noção é retomada com mais
maturidade, sendo apresentadas de modo mais sistemático os contornos da noção de ontoteologia.

Quando se trata de pesquisa de campo, é importante delimitar também quais aspectos do campo
serão estudados. Exemplo: se o projeto pretende investigar a Igreja Mundial do Poder de Deus,
deve sinalizar se esse estudo será feito focando o site oficial e as redes sociais; ou se vai estudar
essa denominação religiosa em Juiz de Fora; se vai tratar das lideranças ou realizar entrevistas com
os fieis; se essas entrevistas serão qualitativas ou quantitativas, etc. O projeto é enriquecido caso
se apresente uma justificativa para cada item. De novo, a problemática e a hipótese servem de
referência que auxiliam no recorte do objeto.

3. Justificativa

Lembre-se que o projeto é a oportunidade que você tem de convencer o seu leitor da pertinência
da sua proposta de pesquisa. Em termos institucionais, ele se configura como momento no qual
você tem de mostrar para uma banca avaliadora ou para seus leitores que sua pesquisa é factível,
interessante, inovadora e, portanto, merece ser aprovada. O lugar para deixar isso mais explícito é
a justificativa.

Uma falha muito comum é a confusão entre a justificativa do tema e a justificativa da pesquisa.
Erroneamente, muitos utilizam esse espaço para justificar a relevância da pesquisa sobre
determinado tema. Assim, por exemplo, argumenta-se a necessidade e importância de se estudar o
pensamento de Heidegger, a noção de ontoteologia, etc. No entanto, a intenção da justificativa não
é ser espaço para defesa da pertinência do tema, mas para mostrar em que a pesquisa contribui
para o conhecimento sobre determinado assunto. Portanto, algo importante deve ser notado: não
se trata de justificar o tema, mas a abordagem que o projeto propõe sobre ele.
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Essa justificativa pode ser amparar em vários aspectos. O mais usual é apontar a falta de estudos
sobre o tema em discussão. Quando não é esse o caso, a justificativa pode mostrar como a
abordagem que a pesquisa traz é inovadora em relação às pesquisas já existentes. Isso pode ser
feito mostrando em que medida ela contradiz, ou corrige ou amplia uma posição consolidada sobre
o tema.

Principalmente no caso de projetos que envolvam pesquisa de campo e de documentos, é


importante mostrar que tal projeto tem condições de ser executado. Por exemplo, se um projeto
pretende investigar a maçonaria e seus ritos, ele deve indicar como se terá acesso a essas práticas,
uma vez que não são abertos ao público. No caso de investigação de documentos, vale mencionar
onde eles estão disponíveis e sob quais condições o pesquisador poderá ter acesso a eles.

Exemplo

A questão fundamental que me provoca a apresentar este projeto no contexto brasileiro é sua
relevância atual. O universo religioso brasileiro é muito rico em manifestações mitológicas e
simbólicas. Não tenho encontrado estudos relacionados com estas características. O crescente
interesse no movimento pentecostal tem resultado em inúmeros estudos a respeito do símbolo, seu
lugar e função no universo religioso. Mas não tenho encontrado estudos dedicados à análise do
símbolo na linguagem religiosa, especificamente. Acho, assim, que o exame da problemática
estudada por Bultmann e desenvolvida depois no mundo teológico e filosófico contemporâneo
poderá ajudar os estudiosos de religião no Brasil na tarefa de interpretar este fenômeno,
característico dos vários movimentos religiosos presentes no Brasil, desde religiões africanas a
espiritualistas, passando por protestantes clássicos.

Após Bultmann, a arte hermenêutica tornou-se a problemática central de muitos pensadores


contemporâneos (como Heidegger, Ricoeur e Gadamer) contribuindo para o amadurecimento de
muitas questões. Em virtude destas novas visões, faz-se importante a reavaliação do projeto de
Bultmann Está presente aí de maneira básica a problemática da linguagem que hoje perpassa
diversas áreas da vida acadêmica brasileira.

Além disto, a academia brasileira carece de estudos sobre este teólogo, que ao lado de Karl Barth
e Paul Tillich, é considerado um dos grandes expoentes da teologia do século passado, sendo sua
importância também reconhecida por renomeados filósofos. Não circulam no Brasil muitas das
obras primárias de Bultmann. Encontramos apenas pequenos artigos em revistas teológicas, uma
coletânea de artigos selecionados2 de sua autoria e o livro, Jesus Cristo e Mitologia. Comprova-
se, dessa forma, a carência existente na academia brasileira no que concerne aos estudos sobre
Rudolf Bultmann.

2
BULTMANN, Rudolf. Crer e Compreender. Artigos Selecionados. Trad. Walter Altmann e Walter Schlupp.
Sinodal, São Leopoldo, 1987.
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4. Objetivos

Nessa parte, o projeto deve indicar onde a pesquisa pretende chegar. Para melhor ordenar as coisas,
é importante distinguir entre objetivo geral e objetivos específicos. O objetivo geral aponta para o
lugar onde o projeto pretende chegar. Por isso, ele se aproxima muito da hipótese que se levantou.
Por exemplo, o objetivo geral de uma pesquisa pode ser demonstrar como a religião está presente
e a figura de Deus assume caráter ambíguo, de repulsa e de entrega, no cotidiano de mães cujos
filhos receberam diagnóstico de câncer.

Já os objetivos específicos são relativos às etapas que se deve construir para chegar a esse objetivo
final. Partindo do exemplo anterior, objetivos específicos podem ser: a)Expor criticamente a teoria
dos cinco estágios que o indivíduo passa em situação de sofrimento elaborada por Kübler-Roos,
indicando como esse modelo pode ser ampliado com a inserção do tema da religião; b) Analisar
os discursos das mães que se encontram nessa situação de sofrimento, buscando identificar como
elas interpretam a relação com a divindade diante dessa situação.... etc.

Nesse caso, vale um paralelo. Suponha que você está planejando uma viagem: você quer sair de
Juiz de Fora e ir para o Rio de Janeiro. Nesse caso, seu objetivo geral é chegar ao forte de
Copacabana no Rio de Janeiro. Os objetivos específicos são as etapas que você deve cumprir para
que esse objetivo maior seja realizado. Por exemplo, em primeiro lugar, você deve chegar à
rodoviária de Juiz de Fora; depois, pegar um ônibus que vai passar por Itaipava e Petrópolis; por
fim, descer na rodoviária do Rio de Janeiro e pegar um transporte para Copacabana, etc... Por isso,
é importante o projeto ter clareza quanto ao seu objetivo geral. Afinal, se não aonde quero chegar,
é bem possível que me perca no caminho. Por outro lado, se isso está bem traçado sei que vou
passar por Petrópolis, mas não vou descer lá, pois não é esse meu objetivo. Muitos projetos se
perdem e temas paralelos ou divagações por não ter clareza quanto a esse aspecto.

Em resumo, o objetivo geral define o que o pesquisador pretende atingir com sua investigação. Os
objetivos específicos definem etapas do trabalho a serem realizadas para que se alcance o objetivo
geral. Os objetivos podem ser: exploratórios, descritivos e explicativos. É importante sempre
utilizar verbos no infinitivo para iniciar os objetivos:

Exploratórios (conhecer, identificar, levantar, descobrir)


Descritivos (caracterizar, descrever, traçar, determinar)
Explicativos (analisar, avaliar, verificar, explicar)

No âmbito de um projeto, a parte dos objetivos é curta e deve ser organizada em tópicos.

De certa maneira, aspectos apontados na delimitação acabam reaparecendo aqui, ainda que de
forma mais concisa e resumida.

5. Metodologia
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Nessa parte, espera-se que o projeto indique qual a metodologia será empregada. No âmbito da
Ciência da Religião, temos, num nível mais geral, basicamente dois tipos de estudos.

Em primeiro lugar, há pesquisas bibliográficas. Nesse caso, adotam-se como metodologia a leitura
e interpretação de textos de autores. Aqui, pode-se adotar como metodologia a leitura exegética ou
estruturalista desses textos ou ainda análise do discurso 3. De maneira, mais geral, pode-se indicar
que tipo de análise será feita: seletiva, crítica ou reflexiva, descritiva, analítica etc.

Em articulação com a anterior, há a pesquisa de documentos. Entende-se por pesquisa documental


aquela que utiliza documentos (na maioria das vezes, com valor histórico) como fonte de seus
dados. O documento como fonte de pesquisa pode ser um texto, mas não se restringe a ele: filmes,
vídeos, fotografias, esculturas, etc. podem se constituir como objeto de análise. Como no caso
anterior, pode-se indicar que tipo de análise será feita: seletiva, crítica ou reflexiva, descritiva,
analítica etc.

Em segundo lugar, quando a pesquisa envolve interação com outros indivíduos e grupos, diz-se
que há pesquisa de campo. Nesse caso, é importante indicar que tipo de metodologia será
empregado na inteiração com o campo. Há pesquisas quantitativas ou qualitativas. No primeiro
caso, a intenção é analisar, dentro de um padrão estabelecido, o maior número de entrevistas
possível. O limite é que essas entrevistas acabam tendo de ser pré-elaboradas pelo pesquisador.
Com isso, há pouco espaço para manifestações mais espontâneas dos pesquisados. Já no segundo,
privilegia-se um número menor de entrevistas, o que permite uma análise mais aprofundada e
individualizada. Aqui também vale mencionar se será empregada a observação participante ou
outro tipo de interação com os pesquisados.

Um aspecto que pode enriquecer o projeto é justificar a escolha por determinado procedimento
metodológico. Por exemplo, se o projeto afirma vai fazer uma pesquisa quantitativa com
questionários estruturados, eu tenho de indicar por que essa estratégia se apresenta como mais
adequada para mostrar a pertinência da hipótese que pretendo defender.

Uma vez que se trata de um pré-projeto, é possível indicar apenas de modo mais genérico a
metodologia que será empregada. No entanto, caso se queira pontuar com mais precisão o tipo de
metodologia que será empregada, é possível consultar o texto The Routledge Handbook of
Research Methods in the Study of Religion4. Aqui, há sugestão de mais de 20 métodos distintos
que podem ser empregados no estudo da religião. Lembrando que a metodologia empregada
depende muito do objeto a ser analisado e dos objetivos que a pesquisa pretende atingir.

Exemplo de metodologia bibliográfica

3
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/2814/caderno%20direito%2016%20-
%20revisado%20031207.pdf
4
STAUSBERG, Michael; ENGLER, Steven. The Routledge Handbook of Research Methods in the Study of Religion.
London: Routledge, 2011.
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A) Estudo da bibliografia existente. Levantamento de livros, artigos em revistas e jornais que nos
possibilitem melhor compreensão do projeto de desmitologização, da função religiosa do
simbólico e possibilidades de articulação entre ambos. Neste item, destacamos principalmente
a pesquisa em obras escritas por Bultmann.

B) Confronto entre posições divergentes. Uma das características marcantes em Bultmann e seu
projeto é a polêmica. Na análise da bibliografia existente, encontramos grande diversidade de
posicionamentos, críticas e propostas. A confrontação destes posicionamentos nos levará à
adoção de visão crítica com relação ao projeto de desmitologização e a função do simbólico
na linguagem religiosa, de forma que poderemos, melhor embasados, propor pistas sobre o
relacionamento do simbólico na linguagem religiosa de acordo com Bultmann e a realidade
religiosa brasileira.

C) Síntese. Após análise de bibliografia primária e confrontação de posicionamentos divergentes,


proporemos, melhor fundamentados, o que chamamos de transmitologização, adotando
aspectos do pensamento de Bultmann que julgamos relevantes e construindo críticas
pertinentes a outros elementos de sua proposta.

Exemplo de metodologia com trabalho de campo

Dos materiais: Levantamento bibliográfico em bibliotecas universitárias (programas de graduação


e pós-graduação em ciências sociais, sociologia, antropologia e ciências da religião): monografias,
capítulos de livros, artigos em periódicos especializados. Levantamento bibliográfico em bases de
dados digitalizadas e portais disponíveis na web. Levantamento de materiais impressos de
circulação comum (livros, jornais e revistas). Monitoramento do site oficial da IMPD
(www.impd.com.br), transmissões de cultos e reuniões públicas on-line (TV Mundial),
acompanhamento da programação distribuída nos Canais de TV aberta (Bandeirantes e Canal 21)
e TV à cabo (CNT). Catalogação de materiais produzidos e distribuídos pela IMPD: Jornal Fé
Mundial, carnês de contribuição e dízimos, envelopes de ofertas, objetos consagrados não
perecíveis (ex.: pequenas toalhas, martelos, travesseiros etc). Material áudio-visual (gravações de
cultos e reuniões, fotos).

Dos métodos: Métodos qualitativos – serão empregadas estratégias passíveis de convivência por
parte da pesquisadora. Os métodos principais consistem na observação participante (ouvir o que
não foi dito, ver o que não foi mostrado) que envolve observação direta dos grupos em estudo e
entrevistas. As entrevistas poderão ser desde individuais, nos modelos estruturada (com roteiros
padronizados), semi-estruturada (com roteiro geral, aberto ao aprofundamento de certas questões)
e não estruturada (com tema geral), até coletivas (com grupos focais), a depender das situações e
possíveis aberturas.
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6. Cronograma de execução

Nesse item, o projeto deve prever um plano de trabalho dentro de um prazo estipulado para
realização da pesquisa. No caso do TCC, tem-se um semestre. Para o mestrado, são dois anos. No
caso do doutorado, são quatro anos. Nesses dois últimos casos, é possível pensar um cronograma
dividido por semestres. No cronograma é importante prever as etapas envolvidas na pesquisa,
respeitando seu encadeamento cronológico. Por exemplo, coleta das fontes é sempre anterior à
análise das fontes. Abaixo, segue um modelo com os itens a serem considerados no cronograma.

Outra forma de se organizar o cronograma:

1o semestre de 2019: Cursar quatro disciplinas no programa de mestrado do Curso de Pós-


Graduação em Ciência da Religião. Levantamento de bibliografia, leituras básicas e encontros
com o orientador.

2o semestre de 2019: Cursar as disciplinas restantes. Levantamento de bibliografia,


principalmente secundária. Aprofundamento na bibliografia primária levantada. Preparar exame
de qualificação. Exame de qualificação

1o semestre de 2020: Readequação do projeto às indicações do exame de qualificação. Redação


do primeiro capítulo da dissertação.

2o semestre de 2020: Redação dos capítulos restantes, da introdução e da conclusão. Revisão


geral.

1º semestre de 2021: Defesa da dissertação.


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7. Bibliografia Básica

Inclui textos de referência que se julgam mais importantes. Nesse caso, podem-se incluir: a)outras
pesquisas feitas em torno do tema; b)no caso das pesquisas bibliográficas, incluir os textos de
referência apontados na delimitação; c)Em havendo, não se esquecer de elencar textos importantes
do aporte teórico; d) textos relativos ao tema estudado. Bibliografia em torno de uma página é o
suficiente para projeto de mestrado.

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