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O Livro de Jó Reinaldo W. Siqueira, Ph.D.

Professor da Faculdade de
Teologia do UNASP
O Título
O livro leva o nome do seu personagem principal ’Yob (Jó).
• Significado:
1º) Tradicionalmente relacionado com a raiz hebraica ’yb (“ser um
inimigo”) e o particípio substantivado ’oyeb (“inimigo”), interpretado
tanto na voz ativa – “aquele que se tornou um inimigo/oponente” de
YHWH; ou na voz passiva – “aquele que foi feito um inimigo” ou
“tratado como um inimigo” (cf. Jó 16:8-14; 17:6; 30:1-31).
O Título
Esse sentido de “inimigo” é verificado também na raíz ’yb no antigo

árabe do sul e no tamúdico (dialeto árabe antigo do norte), e no termo
acadiano ayyâbu.
O Título
2º) Outra proposta é relacionar o nome Jó ao babilônio antigo
Ayyâbum, ou ao nome A-ia-ab, que ocorre nas cartas de Tell el-
Amarna (c. 1350 a.E.C.), em textos de execração do antigo Egito (c.
2000 a.E.C.), e em documentos das antigas cidades de Mari, Alalakh e
Ugarit. Seria assim um nome semita ocidental comum, significando
“onde está o pai?” ou “não [há] pai” (proposta original de William F.
Albright).
O Título
3º) Já a proposta de F. Horst seria de identificar o nome Jó com raíz
verbal árabe ’ayyûb (“arrepender-se”; “voltar para tras”). Na ortografía
árabe o nome seria ’Awwabum e no acadiano Ayyabum (“aquele que
se arrependeu”).
(cf. La Sor, Hubbard & Bush, 1994, p. 560; Pope, 2008, p. 5-6)
Jó: Sua Origem e Localização
• Jó era um sábio da terra de Uz, região localizada no norte da Arábia,

perto dos Edomitas do monte Seir (Lm 4:21).
O nome dessa terra pode estar ligado a um descendente de Naor (Gn
22:21) ou de Esaú/Edom (Gn 36:28).
Os amigos de Jó: Origem e Localização

• Elifaz era de Temã (Jó 2:11), a mais importante cidade de Edom (Am
1:12; Ob 9; Jr 49:7; Ez 25:13; Hc 3:3);
• Bildade, o suíta (Jó 2:11). O nome Sua não ocorre como um nome
de uma região no texto bíblico, mas ele lembra o nome de um dos
filhos de Abraão com Quetura, que passou a viver nas terras do
oriente (Gn 25:1-6; 1Cr 1:32);
Os amigos de Jó: Origem e Localização

• Zofar, o naamatita, é difícil localizar sua origem, porque não temos
nenhuma evidência para um nome de lugar chamado Naamá (o nome
Naamá parece como nome próprio da mãe de Roboão, uma amonita –
1Rs 14:21);
• Eliú (Jó 32:2), o jovem que se dirige a Jó no final da série de
diálogos, era de Buz, país ao leste da Arábia, mencionado também em
Jr 25:23. É bem provável que o nome Buz esteja relacionado a um dos
filhos de Naor, irmão de Abraão (Gn 22:21).
Mapa
A Época de Jó
A descrição de Jó, sua vida e posses, se encaixa na descrição da
época dos patriarcas:
• Jó viveu muito mais que 100 anos (Jó 42:16);
• A organização da família era a de um clã, no qual Jó funcionava

como patriarca e sacerdote da família (Jó 1:5), de forma semelhante a
Abraão;
A Época de Jó
• A descrição da sua riqueza (em gado) se assemelha à descrição da
riqueza dos tempos patriarcais (Jó 1:3), em contraste com a riqueza
dos dias de Salomão, por exemplo (ouro, prata, cavalos, etc.);
• A referência à quesitá, uma moeda de prata (Jó 42:11), remete à

época dos patriarcas (Gn 33:19 – Jacó) ou à época de Josué, no mais
tardar (Js 24:32);
A Época de Jó
• O relato dos ataques dos Sabeus (Jó 1:15) e dos Caldeus (1:17), no
livro, parece descrever uma época antiga, por volta do início do 2º
milênio a.E.C., quando estes povos ainda viviam numa condição
nômade.
A Autoria do Livro
O livro de Jó não indica quem foi seu autor e nem quando o livro foi
escrito. As principais propostas são (cf. Andersen, 1991, p. 59-62;
Archer Jr., 1991, p. 409-416; Nichol, 2018, p. 549):
A Autoria do Livro
• Autoria de Moisés (15º século a.E.C.):

É a posição mais comum no meio judaico antigo, segundo o Talmude
Babilônico:
“Moisés escreveu seu próprio livro e as passagens sobre Balaão e Jó”

(Baba Bathra, 14b e 15a).
A Autoria do Livro
Alguns argumentos a favor da autoria mosaica:
O quadro de Deus como Criador e Mantenedor

01
em Jó corresponde com a narrativa da Criação
registrada no livro de Gênesis;
A Autoria do Livro
Certas palavras comuns em Jó só ocorrem no Pentateuco, ou são
02 raramente usadas por outros escritores bíblicos. Ex.: a) O
título/nome divino ’El Shaddai ocorre 36 vezes em Jó e 6 vezes em
Gênesis, e, nessa forma, em lugar nenhum mais na BH; b) o termo
qesitá (“moeda de prata”), só ocorre em Jó (42:11), em Gênesis
(33:19) e uma outra vez em Josué (24:32 – mas ligando ao que foi
narrado em Gênesis).
A Autoria do Livro
A evidência arqueológica aponta para a antiguidade e o uso
03 de escrita alfabética na região do Sinai e em Canaã, pelo
menos desde o Século 16 a.E.C. (ver sobre a escrita proto-
sinaítica descoberta na região do Sinai por Hilda e Flinders
Petrie, no inverno de 1904-1905):
A Autoria do Livro
É possível que a história registrada no livro de Jó tenha
04 primeiramente sido transmitida de forma oral entre as tribos da
região arábica, e Moisés a teria posto por escrito durante sua
estadia no deserto do Sinai, entre os Midianitas. Ou, ele pode
ter tido acesso a algum material escrito que registrava essa
história e que ele tenha trabalhado sobre esse material lhe
dando o formato final do livro.
A Autoria do Livro
• Autoria da época de Salomão (10º século a.E.C.):

Essa é a posição defendida por Lutero, por Keil e Delitzsch, por Young
e por Unger. Os principais argumentos a favor dessa proposta são:
A Autoria do Livro
Época de grande interesse na Sabedoria em
01
Israel, e nas questões sapienciais contemplativas
que aparecem no livro de Jó;
Semelhança entre a exaltação da Sabedoria em

02
Jó 28 e Provérbios 8;
A Autoria do Livro
Conhecimento extenso de países estrangeiros que pode muito
03 bem denotar o caráter internacional da Sabedoria e os
contatos internacionais nesse âmbito nos dias de Salomão.
A Autoria do Livro
Críticas a autoria de Jó nos dias de Salomão:
– Os argumentos a favor dessa posição são puramente

01
especulativos;
– Se o livro provém da época salomônica, então os personagens
e os fatos nele relatados seriam fictícios, uma composição literária
sapiencial sem base histórica (contrário à visão bíblica, que vê Jó
como personagem histórico: Ez 14:14, 20; Tg 5:11).
A Autoria do Livro
• Autoria da época de Manassés (7º século a.E.C.):

Posição defendida por Ewald e Hitzig. Os principais argumentos a
favor dessa proposta são:
A Autoria do Livro
Época de degeneração moral e de injustiça
01
social, período no qual questões sobre a
providência divina estaria em questão;
Tempo quando a questão do sofrimento do

02
inocente e a prevalência do infortúnio e das
calamidades (“a terra está entregue nas mãos
dos perversos” – Jó 9:24) faz sentido;
A Autoria do Livro
Críticas a autoria de Jó nos dias de Manassés:
– Os argumentos a favor dessa posição são puramente

especulativos;
– Novamente, os personagens e os fatos nele relatados seriam
fictícios, uma composição literária sapiencial sem base histórica
(contrário à visão bíblica, que vê Jó como personagem histórico:
Ez 14:14, 20; Tg 5:11);
A Autoria do Livro
– Os infortúnios relatados em Jó podem ser realidade histórica em

muitos períodos da história de Israel, ou da experiência geral da
vida humana;
– Não há no livro de Jó qualquer indicação de que se tratasse de
desgraças a nível nacional, nem de que o que ocorreu com Jó
fosse uma parábola que representasse uma situação histórica de
Israel.
A Autoria do Livro
• Autoria da época de Jeremias (final do 7º século e início do 6º

século a.E.C.):
Posição defendida por Eteinmueller e Hartley. Os principais
argumentos a favor dessa proposta são:
A Autoria do Livro
Semelhança de linguagem entre o livro de Jó e o
01
de Jeremias (Jó 21:7-15 // Jr 12:1-3; Jó 3:3-26 //
Jr 20:14-18);
Semelhança entre Jó e a figura do Servo

02
Sofredor em Isaías 40-55 (para eles é o Deutero
Isaías, datado da 1ª metade do 6º século a.E.C.);
A Autoria do Livro
O fato da terra de Uz ser mencionada somente

03
em Jó e em Jeremias 25:20 e Lamentações 4:22.
A Autoria do Livro
Críticas a autoria de Jó nos dias de Jeremias:
– As semelhanças entre Jó, Jeremias e o Servo Sofredor de

Isaías são inconclusivas, elas demonstram somente que os 3
foram fieis servos do Senhor, mesmo em face do sofrimento, mas
não permitem identificá-los como se referindo a um mesmo
personagem;
A Autoria do Livro
– A questão da prosperidade dos perversos, por exemplo, é muito

mais debatida no Salmo 37 do que em Jeremias 12:1-3, e esse
salmo é considerado como sendo de Davi, ou seja, cerca de 400
anos antes de Jeremias (assim o debate sobre a questão da
prosperidade do perverso não implica que Jó fosse do tempo de
Jeremias);
A Autoria do Livro
– O fato de Jeremias amaldiçoar o dia de seu nascimento em

termos semelhantes aos de Jó (Jr 20:14-18) parece indicar mais
que o profeta estivesse usando o texto de Jó do que vice-versa;
– O fato da terra de Uz ser mencionada em Jr 25:20 e em Lm 4:22
só comprova a realidade histórica dessa região. Esse argumento
só teria peso se fosse possível comprovar que a terra de Uz teve
suas origens históricas nos dias de Jeremias e não antes.
A Autoria do Livro
• Autoria durante ou depois do Exílio Babilônico (6º século

a.E.C.):
Posição defendida por Genung, Terrien, Guillaume, Budde e Driver.
Os principais argumentos a favor dessa proposta são:
A Autoria do Livro
O cativeiro de Judá resultou num trauma que

01
provê o contexto necessário para a discussão
sobre o sofrimento humano. O autor escreveu
uma ficção histórica para encorajar os exilados
judeus que padeciam sob o jugo babilônico;
A Autoria do Livro
Os muitos paralelos entre o livro de Jó e Isaías
02
40-55 (Deutero Isaías, datado do período do
Exílio Babilônico);
A forma extraordinariamente desenvolvida da

03
moralidade e da doutrina de Deus encontradas em
Jó evidencia um período bem tardio da historia de
Israel, com a noção de um Deus único e universal.
A Autoria do Livro
Críticas a autoria de Jó durante ou depois do Exílio Babilônico:
– O livro de Jó não trata do sofrimento de alguém no cativeiro, por causa

do pecado e rebelião da nação e de sua infidelidade para com a sua
aliança com Deus, mas sim do sofrimento do inocente sem razão aparente;
– Os sofrimentos de Jó têm semelhanças com as do Servo Sofredor de
Isaías mas não são idênticos; em Jó, seu sofrimento não traz redenção a
ninguém, não é vicário;
A Autoria do Livro
– É difícil imaginar que um autor do período exílico escolhesse um
personagem de origem provavelmente edomita (Jó 1:1 // Lm 4:22) para ser
o herói do seu livro, em vista da aversão dos israelitas a Edom ligada a
uma longa história de conflitos que culminou na participação cruel de Edom
na destruição de Jerusalém (cf. Ez 25:12-14; 35:1-15; Sl 137:7);
– As ideias e a teologia do livro de Jó só podem ser consideradas
“avançadas demais” por aqueles que aceitam a reconstrução crítica-liberal
da história de Israel e rejeita a realidade da revelação divina da Bíblia.
A Autoria do Livro
• Autoria do período do Segundo Templo (4º ou 3º séculos a.E.C.):

Posição defendida por Dhorme, Fohrer e Gordis. Os principais
argumentos a favor dessa proposta são:
A Autoria do Livro
A ordem dos oficiais em Jó 3:14-15 (reis,
01
conselheiros e príncipes) corresponde à hierarquia
do império persa (cf. Ed 7:28; 8:25; Et 1:3);
O pedido de Jó para que suas palavras fossem

02
esculpidas com pena de ferro e com chumbo (Jó 19:23-
24) seria uma alusão à famosa inscrição em Behistum
de Dario, o Grande (datada c. 520 a.E.C.);
A Autoria do Livro
A referência à velocidade do correio (corredores
03
velozes) em Jó 9:25 é vista como uma referência ao
serviço de correio/mensageiros instituído por Dario;
A caravanas de mercadores de Temã e de Sabá (Jó

04
6:19) eram patrocinadas pelos persas;
A Autoria do Livro
O grande número de aramaísmos que aparecem no
05
texto de Jó indicam uma data quando o aramaico tinha
grande influência em Israel (ou seja, após o exílio);
A referência a Satanás no livro de Jó (capítulos 1 e 2)

06
indica um período tardio da religião de Israel quando a
angeologia e a demonologia eram bem desenvolvidas,
após o contato com a religião medo-persa.
A Autoria do Livro
Críticas a autoria de Jó no período do Segundo Templo:
– Reis e conselheiros da terra em Jó 3:14 estão em paralelo,

provavelmente indicando uma mesma classe de pessoas em vez de uma
hierarquia (cf. Am 1:15 – rei e príncipes; 2:3 – juiz e príncipes, onde juiz é
o governante máximo);
– As razões ligadas à velocidade do correio, às palavras esculpidas na
rocha e às caravanas de Temã e Sabá são pura especulação sem muita
base de comprovação;
A Autoria do Livro
– a língua aramaica e a hebraica têm contato desde tempos imemoriais,
como comprova a história de Jacó e Labão (Gn 31:47);
– Dizer que os israelitas só passaram a acreditar na existência de
demônios, e na figura de Satanás, após o exílio babilônico é pura
especulação, só aceitável para aqueles que reconstroem a história da
religião de Israel de acordo com os padrões do método histórico-crítico,
seguindo as ideias de Wellhausen.
Bibliografia
ANDERSEN, Francis I., Jó: Introdução e comentário, Série Cultura
Bíblica. São Paulo: Mundo Cristão, 1991.
ARCHER JR., Gleason L. Merece confiança ao Antigo Testamento?

São Paulo: Vida Nova, 1991.
BARTHOLOMEW, Craig G.; O'DOWD, Ryan P. Old Testament Wisdom

Literature: A Theological Introduction. Downers Grove/IL: InterVarsity
Press, 2011.
Bibliografia
FREEDMAN, D. N.; LUNDBOM, J. R. ‫ חָ נַן‬chanan. In: BOTTERWECK, G.
Johannes; RINGGREN, Helmer, (eds.). Theological Dictionary of the
Old Testament (Grand Rapids/MI: William B. Eerdmans, 1988), v. 5, p.
22-36.
HARTLEY, John E. The Book of Job. The New International

Commentary on the Old Testament. Grand Rapids/MI: William B.
Eerdmans, 1991.
LA SOR, William Sanford; HUBBARD, David Allan; BUSH, Frederic

William. Old Testament Survey: The Message, Form, and Background of
the Old Testament. Grand Rapids/MI: William B. Eerdmans, 1994.
Bibliografia
MURPHY, Roland E. Wisdom Literature: Job, Proverbs, Ruth, Canticles,
Ecclesiastes, and Esther. The Forms of the Old Testament Literature, v.
XIII. Grand Rapids/MI: Wm. B. Eerdmans, 1988.
NICHOL, Francis D. et al, eds. Comentário Bíblico Adventista do

Sétimo Dia, vol. 3: 1 Crônicas a Cântico dos Cânticos. Série Logos.
Tatuí/SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018.
POPE, Marvin H. Job: Introduction, Translation, and Notes. The Anchor

Yale Bible. New Haven/CT: Yale University Press, 2008.
Bibliografia
YAMAUCHI, Edwin. ‫ חָ נַן‬chanan. In: HARRIS, R. Laird; ARCHER JR.,
Gleason L.; WALTKE, Bruce K., (eds.). Theological Wordbook of the
Old Testament (Chicago: Moody Press, 1980), v. 1, p. 302-304.
A Sabedoria na Reinaldo W. Siqueira, Ph.D.

Bíblia Hebraica Professor da Faculdade de
Teologia do UNASP
e o Livro de Jó
Os Gêneros Literários da
Bíblia Hebraica
Na Bíblia Hebraica encontramos vários gêneros literários (tipos de
texto/literatura) que podem ser agrupados em 5 categorias:
1º) Narrativa: principalmente relatos de histórias como as do livro de
Gênesis, boa parte do livro do Êxodo, Números, Josué, Juízes, 1 e 2
Samuel, 1 e 2 Reis, etc.;
2º) Lei: vários textos da BH são de natureza legal como os 10
Mandamentos, as Leis da Festas Israelitas, Leis do ritual do santuário
e seus sacrifícos, leis sociais, civis, agrícolas, etc.;
Os Gêneros Literários da
Bíblia Hebraica
3º) Profecia: várias partes e livros da BH trazem as palavras e
mensagens proféticas de Deus para indivíduos, para Israel, para as
nações e para a humanidade, como em Isaías, Jeremias, Ezequiel, etc.;
4º) Poesia: Um terço da BH foi escrito em forma primariamente poética,
desde pequenos poemas até livros totalmente poéticos como os Salmos,
Cantares e Lamentações;
5º) Sabedoria: textos de caráter sapiencial ocorrem em quase em toda a
BH, com destaque para os livros de Jó, Provérbios e Eclesiastes.
A Sabedoria na BH e no
Antigo Oriente Médio
A. Nomenclatura:
A expressão “literatura sapiencial” é uma convenção acadêmica usada
para designar os livros de Jó, Provérbios e Eclesiastes, entre os livros
bíblicos, e os livros de Ben Sira (Eclesiástico) e a Sabedoria de
Salomão, entre os apócrifos. A expressão se justifica pelo fato dessas
obras geralmente lidarem com aspectos da Hokhmah (“sabedoria”).
(Cf. Murphy, 1988, p. ix)

A classificação de “literatura sapiencial” tem sido usada também para
obras literárias do Egito e da Mesopotâmia que têm características
semelhantes à literatura sapiencial bíblica. O estudo dessa literatura do
AOM tem tido grande impacto para a compreensão dos textos de
sabedoria na BH.
(Cf. Murphy, 1992, p. 928-930; Bartholomew & O’Dowd, 2011, p. 33-46)

B. Tipos de Literatura Sapiencial no AOM (La Sor, Hubbard & Bush,
1994, p. 533-542):
Geralmente, dois tipos de literatura sapiencial se desenvolveram no
AOM:
1º) A Sabedoria Proverbial:
Na forma de ditados curtos e diretos ao ponto, com conselhos
e regras para a felicidade e bem-estar pessoal, ou que resumiam a
sabedoria adquirida pela experiência de vida.
Exemplo:
Os Ensinos de Ptah-Hotep, linhas 85-95 (Egito, entre 2575-2134 a.E.C. –
cf. Matthews & Benjamin, 1997, p. 266):
“Se você se tornar um governador, faça o que é reto,

mantenha-se acima de qualquer reprovação.
Seja justo na suas decisões,
nunca ignore a lei.
A injustiça traz a punição,
a injustiça torna todo o seu labor em nada.
A injustiça traz sucesso por um momento,
a justiça traz sucesso por duas gerações...”
(Na BH, o livro de Provérbios pertence a este tipo de sabedoria)

2º) A Sabedoria Contemplativa ou Especulativa:

Na forma de monólogos, diálogos ou ensaios que exploravam
os problemas básicos da existência humana, tais como o sentido da vida
ou o problema do sofrimento.
Exemplo:
Um Sofredor e a Alma, linhas 1-20 (Egito, período do reino médio, 2050-
1800 a.E.C. – cf. Matthews & Benjamin, 1997, p. 209):
“Ouça-me, minha alma.
Minha vida agora é mais do que eu posso suportar, mesmo você, minha
própria alma, não pode me entender.
Minha vida agora é mais terrível do que qualquer um pode imaginar.
Estou sozinho.
Então, venha comigo, minha alma, para o túmulo. Seja minha
companheira na morte ...
Se você não pode tirar a miséria do viver, não me negue a misericórdia
de morrer.
Abra as portas da morte para mim. É isso pedir muito?”
(Na BH, os livros de Jó e Eclesiastes pertencem a este tipo de

sabedoria)
C. O Caráter Universal e Internacional da Sabedoria na BH (La Sor,
Hubbard & Bush, 1994, p. 533-542):
Em contraste com o Pentateuco (Gênesis-Deuteronômio), dos livros
históricos (Josué-Ester) e dos livros proféticos (Isaías-Malaquias), que
têm características predominatemente israelitas e são em muitos
aspectos bem distintos da literatura do AOM e do resto do mundo, a
literatura sapiencial da BH é marcada por um caráter internacional e
universal:
1. Jó é o herói de um dos mais importantes livros sapienciais da BH,

mas ninguém é israelita no livro e Israel não é nem sequer citado;
2. A Sabedoria de Salomão é comparada com a sabedoria do Oriente e
com a sabedoria do Egito (1Rs 4:30). Sua fama correu por todas as
nações vizinhas, e de todos os povos vinha gente ouvir sua sabedoria,
rei enviam emissários para ouvir a sabedoria de Salomão (1Rs 4:31, 34;
10:1-13, 23-25);
3. Os livros de Provérbios e Eclesiastes estão focados no “indivíduo”, na
sua responsabilidade diante da vida, dos outros seres humanos e diante de
Deus, o que resulta num foco universal. As referências à lei de Deus nessa
literatura evidencia seu caráter universal (cf. Jó 23:12 e Ec 12:13);
4. Existem partes do livro de Provérbios que são atribuídas a autores
aparentemente não israelitas, como Agur (Pv 30:1) e o rei Lemuel de
Massá (Pv 31:1), reforçando a natureza internacional da literatura
sapiencial no antigo Israel.
Consequências da natureza internacional e universal da Sabedoria na
BH:
• A literatura sapiencial é o tipo de literatura bíblica que têm os paralelos
mais próximos com a literatura do AOM. Isto não deveria ser uma surpresa,
visto que a própria BH indica que a sabedoria bíblica é uma entre muitas
que existiam na época. A sabedoria não era limitada aos israelitas, nem
mesmo a sabedoria de origem divina, como o demonstra o livro de Jó.
• Os muitos paralelos aos livros de Jó, Provérbios e Eclesiastes,
encontrados na literatura egípcia e mesopotâmica, de modo nenhum
diminuem o valor da sabedoria bíblica, nem dão preeminência e
originalidade à literatura sapiencial não bíblica. Muito pelo contrário, a
comparação entre a literatura sapiencial bíblica e a não bíblica parece
antes fundamentar o clamor bíblico de que a sabedoria, que veio da parte
de Deus ao Seu povo, era em muitos aspectos superior à sabedoria dos
povos do Oriente e à sabedoria do Egito (1Rs 4:30).
• Essa excelência da sabedoria bíblica vale também em relação à
sabedoria de outros povos da antiguidade e até do presente, pois em
nenhum povo (passado ou presente) existe uma literatura com uma visão
superior de Deus, do homem, da ética ou da vida.
Bibliografia
BARTHOLOMEW, Craig G.; O'DOWD, Ryan P. Old Testament Wisdom Literature: A
Theological Introduction. Downers Grove/IL: InterVarsity Press, 2011.
COLLINS, John J. Jewish Wisdom in the Hellenistic Age. The Old Testament
Library. Louisville/KY: Westminster John Knox Press, 2011.
LA SOR, William Sanford; HUBBARD, David Allan; BUSH, Frederic William. Old
Testament Survey: The Message, Form, and Background of the Old Testament.
Grand Rapids/MI: William B. Eerdmans, 1994.
MARTIN, James D. Proverbs. Old Testament Guides. Sheffield/UK: Sheffield
Academic Press, 1995.
Bibliografia
MATTHEWS, Victor H.; BENJAMIN, Don C. Old Testament Parallels: Laws and
Stories from the Ancient Near East. Newly revised and expanded second edition.
New York: Paulist Press, 1997.
MURPHY, Roland E. Wisdom Literature: Job, Proverbs, Ruth, Canticles, Ecclesiastes,
and Esther. The Forms of the Old Testament Literature, v. XIII. Grand Rapids/MI:
Wm. B. Eerdmans, 1988.
________. Wisdom in the OT. In: David Noel Freedman, (ed.). The Anchor Bible
Dictionary. New York: Doubleday, 1992. v. 6, p. 920-931.
A Estrutura do Livro de Jó
A estrutura do livro de Jó é facilmente percebida:

1º) Prólogo (narrativa histórica): Jó 1:1-2:13;
2º) A parte central do livro tem 5 ciclos de diálogos em poesia: Jó 3:1-42:6.
3º) Epílogo (narrativa histórica): Jó 42:7-17.
I. Prólogo: Jó 1:1-2:13 (o narrador fala)
II. Diálogos: Jó 3:1-42:6 (os personagens falam)
1. Primeiro Ciclo: Jó 3:1-11:20 (Jó e seus três amigos)
a. Jó (3:1-26)
b. Elifaz (4:1-5:27)
c. Jó (6:1-7:21)
d. Bildade (8:1-22)
e. Jó (9:1-10:22)
f. Zofar (11:1-20)
2. Segundo Ciclo: Jó 12:1-20:29 (Jó e seus três amigos)

a. Jó (12:1-14:22)
b. Elifaz (15:1-35)
c. Jó (16:1-17:16)
d. Bildade (18:1-21)
e. Jó (19:1-29)
f. Zofar (20:1-29)
3. Terceiro Ciclo: Jó 21:1-31:40 (Jó e seus três amigos)

a. Jó (21:1-34)
b. Elifaz (22:1-30)
c. Jó (23:1-24:25)
d. Bildade (25:1-6)
e. Jó (26:1-14)
f. Jó (27:1-28:28) –> Zofar não fala mais!
g. Jó (29:1-31:40)
4. O Ciclo de Eliú: Jó 32:1-37:24 (4 discursos, ele fala pelos 4 amigos)
a. Eliú (32:1-33:33)
b. Eliú (34:1-37)
c. Eliú (35:1-16)
d. Eliú (36:1-37:24)
5. Ciclo de YHWH e Jó: Jó 38:1-42:6

a. YHWH (38:1-40:2)
b. Jó (40:3-5)
c. YHWH (40:6-41:34)
d. Jó (42:1-6)
III. Epílogo: Jó 42:7-17 (o narrador fala)
(Cf. Andersen, 1991, p. 17-21; Bartholomew, O’Dowd, 2011, p. 129-132; Clines,

1989, p. xxxiv-xxxvii; La Sor, Hubbard, Bush, 1994, p. 563-572.)
Significado da estrutura do livro de Jó para sua interpretação e compreensão do

texto e de seus temas:
O leitor tem a perspectiva divina dos eventos e temas evocados no texto!

A Teologia do Livro de Jó
Primeiro Tema: A Graça

O tema central da teologia do livro está estabelecido no Prólogo
(Jó 1:1-2:13). O centro de toda a questão gira em torno de dois desafios
lançados por Satanás a Deus e ao universo (os filhos de Deus reunidos no
céu – Jó 1:6; 2:3):
1) Jó 1:1-5 – Introdução ao Personagem Jó:
“1Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e
reto, temente a Deus e que se desviava do mal. 2Nasceram-lhe sete filhos
e três filhas. 3Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas
de bois e quinhentas jumentas; era também mui numeroso o pessoal ao
seu serviço, de maneira que este homem era o maior de todos os do
Oriente.
4Seus filhos iam às casas uns dos outros e faziam banquetes, cada um por
sua vez, e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem
com eles. 5Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a
seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia
holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham
pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim o
fazia Jó continuamente.”
Na sua descrição do personagem Jó, o narrador/autor enfatiza:
1) Que Jó era da terra de Uz (provavelmente um edomita);
2) Que Jó era um “homem íntegro e reto, temente a Deus e que se
desviava do mal”;
3) Que ele tinha sete filhos e três filhas;
4) Que ele era o homem mais rico de todo o Oriente;
5) Jó era um homem religioso, preocupado com “a religião do intimo do
coração”.
2) Jó 1:6-12 – Mudança de Cena (Céu), a Reunião Celestial:
• Satanás “provoca”:
“ Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o
6
SENHOR, veio também Satanás entre eles.”
• YHWH “provoca” Satanás:

“7Então, perguntou o SENHOR a Satanás: Donde vens? Satanás
respondeu ao SENHOR e disse: De rodear a terra e passear por ela.
8Perguntou ainda o SENHOR a Satanás: Observaste o meu servo Jó?
Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto,

temente a Deus e que se desvia do mal.”
• Satanás responde desafiando YHWH:
“ Então, respondeu Satanás ao SENHOR: Porventura, Jó debalde teme a
9
Deus? 10Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo
quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se
multiplicaram na terra. 11Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo
quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face.”
• YHWH responde autorizando e limitando Satanás:

“12Disse o SENHOR a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu
poder; somente contra ele não estendas a mão. E Satanás saiu da
presença do SENHOR.”
1º Desafio: Jó 1:6-12: “Teme Jó a Deus de graça?” (vs. 9); Deus comprou

sua fidelidade através das bênçãos (vs. 10); tira tudo o que ele tem e ele
blasfemará contra Ti na Tua presença (vs. 11)!
Satanás desafia Deus diante dos anjos celestiais, ou de todo o universo:
Ninguém teme a Deus e se desvia do mal de graça (hinnam)!
• O tema da graça se torna o centro da disputa;
• O termo hinnam, que aparece no vs. 9, está ligado ao verbo hebraico
hanan (“ser gracioso com”, “prover bondosamente” ) e à palavra hen
(“graça”, “favor”), expressões fundamentais para o conceito da “graça” na
BH.
(cf. Yamauchi, 1980, p. 302-304; Freedman & Lundbom, 1988, p.22-36)

Será que Jó “teme a Deus de graça (hinnam)?”
3) Jó 1:13-19 – Mudança de Cena (Terra), O Ataque de Satanás:
“13Sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam e bebiam
vinho na casa do irmão primogênito, 14que veio um mensageiro a Jó e lhe
disse: Os bois lavravam, e as jumentas pasciam junto a eles; 15de repente,
deram sobre eles os sabeus, e os levaram, e mataram aos servos a fio de
espada; só eu escapei, para trazer-te a nova. 16Falava este ainda quando
veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os
servos, e os consumiu; só eu escapei, para trazer-te a nova.
17Falava este ainda quando veio outro e disse: Dividiram-se os caldeus em
três bandos, deram sobre os camelos, os levaram e mataram aos servos a
fio de espada; só eu escapei, para trazer-te a nova. 18Também este falava
ainda quando veio outro e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo
e bebendo vinho, em casa do irmão primogênito, 19eis que se levantou
grande vento do lado do deserto e deu nos quatro cantos da casa, a qual
caiu sobre eles, e morreram; só eu escapei, para trazer-te a nova.”
4) Jó 1:20-21 – A Reação de Jó:
“20Então, Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e lançou-se
em terra e adorou; 21e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei;
o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do
SENHOR!”
5) Jó 1:22 – Observação do Narrador: Jó temia a Deus de graça
(hinnam).
“22Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.”
6) Jó 2:1-8 – Mudança de Cena (Céu), Segunda Reunião Celestial:
• Satanás novamente “provoca”:

“1Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o
SENHOR, veio também Satanás entre eles apresentar-se perante o
SENHOR.”
• Deus novamente “provoca” a Satanás:
“2Então, o SENHOR disse a Satanás: Donde vens? Respondeu Satanás
ao SENHOR e disse: De rodear a terra e passear por ela. 3Perguntou o
SENHOR a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na
terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se
desvia do mal. Ele conserva a sua integridade, embora me incitasses
contra ele, para o consumir sem causa/de graça [hinnam].”
• Satanás responde, novamente desafiando YHWH:
“4Então, Satanás respondeu ao SENHOR: Pele por pele, e tudo quanto o
homem tem dará pela sua vida. 5Estende, porém, a mão, toca-lhe nos
ossos e na carne e verás se não blasfema contra ti na tua face.”
• YHWH responde autorizando e limitando Satanás:

“6 Disse o SENHOR a Satanás: Eis que ele está em teu poder; mas
poupa-lhe a vida.”
O 2º Desafio: Jó 2:4-5
Amor próprio/pela vida

versus
O grande mandamento (amor supremo a Deus)
“... Pele por pele, e tudo o que o homem tem dará pela sua vida!
Estende, porém, a mão, toca-lhe os ossos e a carne e verás se não
blasfema contra Ti na Tua face.” (Jó 2:4-5)
A Limitação Imposta por Deus: Jó 2:6
“... Eis que ele está em teu poder; mas poupa-lhe a vida.”
(Obs.: Essa limitação se tornará, como o tempo, o grande problema de Jó!)

7) Jó 2:7 – Mudança de Cena (Terra), O Ataque de Satanás:
“7Então, saiu Satanás da presença do SENHOR e feriu a Jó de tumores
malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça.”
8) Jó 2:8 – A Reação de Jó: Silêncio.

“8Jó, sentado em cinza, tomou um caco para com ele raspar-se.”
(Ele não fala nada, o que ele estava pensando?)

9) Jó 2:9 – A Reação da Esposa de Jó (como ela entendeu a atitude do
seu marido):
“9Então, sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade?
Amaldiçoa a Deus e morre.”
10) Jó 2:10ab – a resposta de Jó (ele agora fala):

“ Mas
10 ele lhe respondeu: Falas como qualquer doida; temos recebido o
bem de Deus e não receberíamos também o mal?...”
11) Jó 2:10c – Observação do narrador:
“...Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.”
(Não pecou com os lábios? Por que essa ênfase? Pecou no coração?
Essas perguntas ficam em suspense até o final do livro.)
12) Jó 3:1-31:40 – E nos seus discursos? Pecou Jó com seus lábios,
colocando para fora tudo que estava no seu coração?
Resposta humana: Sim!
(Dos 3 amigos de Jó, do jovem Eliú, e de muitos leitores do livro que se

escandalizam com as palavras de Jó)
13) Jó 42:7 - A Resposta Divina Sobre Essa Questão:
Não!
“Tendo o SENHOR falado estas palavras a Jó, o SENHOR disse também a

Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois
amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó.”
A Teologia do Livro de Jó: A Graça Total
• Em Jó 1-2, Deus e Satanás não estão em um “jogo” arbitrário com a vida

de Jó e de sua família, para ver quem ganharia;
• Nesses dois capítulos, bem como no resto do livro, Jó participa do papel de

Cristo de vindicação de Deus diante de todo o céu e do universo criado, no
contexto do grande conflito cósmico;
• Jesus e o Novo Testamento nos convida a participar dessa vindicação:
1) Bem-aventurados os que sofrem por causa da justiça:
“ Bem-aventurados
10 os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o
reino dos céus.
11Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos
perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. 12Regozijai-vos e

exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim
perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.” (Mt 5:10-12)
2) Somos chamados a ser coparticipantes com Cristo dos Seus

sofrimentos, na vindicação do nome de Deus e na efetivação da graça
nesse mundo:
“ O
24 discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do seu
senhor. 25Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu
senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus
domésticos?” (Mt 10:24-25)
“40O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for
bem-instruído será como o seu mestre.” (Lc 6:40)
“16Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu
senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. 17Ora, se sabeis
estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes. ” (Jo 13:16-17)
O que significam essas palavras de Jesus?


“18Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou
a mim. 19Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como,
todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o
mundo vos odeia. 20Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo
maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a
vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.
21Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não
conhecem aquele que me enviou. ” (Jo 15:18-21)
“ Tenho-vos
1 dito estas coisas para que não vos escandalizeis. 2Eles vos
expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar
julgará com isso tributar culto a Deus. 3Isto farão porque não conhecem o
Pai, nem a mim. 4Ora, estas coisas vos tenho dito para que, quando a
hora chegar, vos recordeis de que eu vo-las disse. Não vo-las disse
desde o princípio, porque eu estava convosco.” (Jo 16:1-4)
“ Chamando
40 os apóstolos, açoitaram-nos e, ordenando-lhes que não
falassem em o nome de Jesus, os soltaram. 41E eles se retiraram do
Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer
afrontas por esse Nome.” (At 5:40-41)
“Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e

coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos
glorificados.” (Rm 8:17)

“ Pois
20 que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o
suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois
igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus.
21Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo
sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus
passos, 22o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em
sua boca; 23pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando
maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga
retamente, 24carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os

nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a
justiça; por suas chagas, fostes sarados. 25 Porque estáveis
desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e
Bispo da vossa alma.” (1Pe 2:20-25)

“ Mas,
14 ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-
aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas
ameaças, nem fiqueis alarmados; 15antes, santificai a Cristo, como
Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder
a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,
16fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de
modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem
envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo,

17porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por
praticardes o que é bom do que praticando o mal.” (1Pe 3:14-17)
“ Amados,
12 não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós,
destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos
estivesse acontecendo; 13pelo contrário, alegrai-vos na medida em que
sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na
revelação de sua glória, vos alegreis exultando. 14Se, pelo nome de
Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa
o Espírito da glória e de Deus. 15Não sofra, porém, nenhum de vós como
assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em

negócios de outrem; 16mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe
disso; antes, glorifique a Deus com esse nome.” (1Pe 4:12-16)
“10Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna
glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de
aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. 11A ele seja o domínio, pelos
séculos dos séculos. Amém!” (1Pe 5:10-11)
3) Jó, como todo fiel servo do Senhor, foi um espetáculo ao mundo,

tanto aos homens como aos anjos:
“9Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em

último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos
tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens. 10Nós
somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos,
e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis. 11Até à presente hora,
sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos

morada certa, 12e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias
mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos,
suportamos; 13quando caluniados, procuramos conciliação; até agora,
temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.”
(1Co 4:9-13)
Segundo Tema: O Sofrimento

A questão do porquê do sofrimento aparece no livro na seção
dos diálogos entre Jó e seus amigos, e nos discursos de Eliú. É nesse
nível, o do raciocínio e arrazoamento humanos, que a questão é levantada
e debatida.
Observação:
A restrição de Deus a Satanás “mas poupa-lhe a vida” (Jó 2:6c)
se torna o grande problema de Jó. A pergunta constante que aparece em
seus discursos é: “Por que Deus não permite que eu morra? Por que Ele
prolonga a minha vida neste intenso sofrimento e não me permite
descansar (morrer)?”
Introdução aos diálogos:
1) Jó 2:11 – Os três amigos de Jó e o objetivo do consolo

“Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que lhe sobreviera,
chegaram, cada um do seu lugar: Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e
Zofar, o naamatita; e combinaram ir juntamente condoer-se dele e consolá-
lo.”
2) Jó 2:12-13 – O impacto da situação de Jó sobre eles: “Silêncio”
“12Levantando eles de longe os olhos e não o reconhecendo, ergueram a
voz e choraram; e cada um, rasgando o seu manto, lançava pó ao ar sobre
a cabeça. 13Sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e
nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande.”
1. Primeiro Ciclo de Diálogos: Jó 3-11
a. O discurso inicial de Jó: Jó 3
• Jó preferiria ter nascido morto, pois estaria descansando em paz em
vez de estar passando por aquele sofrimento tão atroz (vs. 1-19);
• O problema de Jó (pergunta básica): Por que Deus estava
preservando sua vida e não o deixava morrer? Por que ele não podia ter
descanso (= morte) de toda aquela tribulação? (vs. 20-26)
“ Por
20 que se concede luz ao miserável e vida aos amargurados de ânimo,
21que esperam a morte, e ela não vem? Eles cavam em procura dela mais
do que tesouros ocultos.

22Eles se regozijariam por um túmulo e exultariam se achassem a
sepultura.
23Por que se concede luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem
Deus cercou de todos os lados?

24Por que em vez do meu pão me vêm gemidos, e os meus lamentos se
derramam como água?

25Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece.
26Não tenho descanso, nem sossego, nem repouso, e já me vem grande
perturbação.” (Jó 3:2-26)

b. A resposta de Elifaz: Jó 4-5
• Introdução (respeito/apelo/repreensão): 4:1-6
Você ajudava e ensinava a tantos que sofriam, “Mas agora, em chegando a
tua vez, tu te enfadas; sendo tu atingido, te perturbas.” (v. 5)
• 1ª Tese: O inocento/reto não é destruído por Deus; enquanto que o
ímpio sim, este é destruído por Deus (4:7-11) – base observação.
“7Lembra-te: acaso, já pereceu algum inocente? E onde foram os retos
destruídos? 8Segundo eu tenho visto, os que lavram a iniquidade e semeiam
o mal, isso mesmo eles segam.” (Jó 4:7-8)
• 2ª Tese: Não existe ninguém justo/puro diante de Deus; a vida do
homem é frágil e sujeita a calamidade (4:12-21) – base revelação (vs. 12-16).
“12Uma palavra se me disse em segredo; e os meus ouvidos perceberam um

sussurro dela.
13Entre pensamentos de visões noturnas, quando profundo sono cai sobre os
14
homens, sobrevieram-me o espanto e o tremor, e todos os meus ossos
estremeceram.
15Então, um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os cabelos do
meu corpo; 16parou ele, mas não lhe discerni a aparência; um vulto estava
diante dos meus olhos; houve silêncio, e ouvi uma voz:
17Seria,porventura, o mortal justo diante de Deus? Seria, acaso, o homem
puro diante do seu Criador?
18Eis que Deus não confia nos seus servos e aos seus anjos atribui
imperfeições; 19quanto mais àqueles que habitam em casas de barro,

cujo fundamento está no pó, e são esmagados como a traça!
20Nascem de manhã e à tarde são destruídos; perecem para sempre, sem
21
que disso se faça caso. Se se lhes corta o fio da vida, morrem e não
atingem a sabedoria.”
• Advertência: Jó não proceda como um louco, amaldiçoando o dia em
que você nasceu e desejando a morte (5:1-7);
• Apelo: Busque ao Senhor e entregue-Lhe sua causa, porque só nEle
há salvação! Se você está sofrendo, não despreze a disciplina que vem do
Senhor, pois ela visa o seu bem! Ele lhe abençoará ricamente se você O
buscar! (5:8-27)
c. A resposta de Jó a Elifaz: Jó 6-7
• Protesto: Elifaz estava tomando muito a sério as palavras de um
desesperado ditas ao vento. De um amigo se espera compaixão, a menos
que se tenha abandonado o temor do Todo-Poderoso. Eu não O abandonei,
não errei e não pequei! (6:1-3, 14, 21, 24-30).
(Questão: quão a sério devem ser tomadas as palavras de uma pessoa

desesperada ditas ao vento em momentos de grande dor?)
• O problema de Jó (pergunta básica, novamente): Por que Deus
prolonga a minha vida em meio a tanto sofrimento? Quem dera eu pudesse
morrer (6:8-12);
• Jó contende com Deus: Estou sofrendo há meses e logo irei morrer,
por que então não me deixa morrer? Por que preserva a minha vida em meio
a um sofrimento contínuo, dia e noite sem cessar? Se pequei, perdoa a
minha iniquidade e me deixa dormir no pó! (Jó 7)
d. A resposta de Bildade a Jó: Jó 8
• Reação: Jó, como você pode falar tais coisas? (8:2)
“Até quando falarás tais coisas? E até quando as palavras da tua boca serão
qual vento impetuoso?”
• Tese de base: Deus não perverte o juízo/direito (8:3);
“Perverteria Deus o direito ou perverteria o Todo-Poderoso a justiça?”

• 1ª aplicação da tese: se seus filhos foram destruídos é porque eles
pecaram; mas você tem sido preservado em vida porque Deus lhe está
dando uma chance de arrependimento e lhe abençoará se você aceitar essa
oportunidade (8:4-7);
• Base para este tipo de raciocínio: a “sabedoria”/”lógica”, a tese da
causa/efeito (8:8-12);
“ Pois,
8 eu te peço, pergunta agora a gerações passadas e atenta para a
9
experiência de seus pais; porque nós somos de ontem e nada
sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra.
10Porventura, não te ensinarão os pais, não haverão de falar-te e do próprio
entendimento não proferirão estas palavras:

11Pode o papiro crescer sem lodo? Ou viça o junco sem água?
12Estando ainda na sua verdura e ainda não colhidos, todavia, antes de
qualquer outra erva se secam.” (Jó 8:8-12)

• 2ª aplicação da tese: sofrimento e juízo são as consequências sobre
todos aqueles que se esquecem de Deus, o ímpio será destruído (8:13-19);
• Exortação: se voltares para Deus em arrependimento, Ele lhe
abençoará e você não mais sofrerá, antes, a sua boca se encherá de riso
(8:20-22 // 8:5-7).
e. A resposta de Jó a Bildade: Jó 9-10
• Reação: Jó concorda com Bildade. Deus é justo e não perverte o juízo
e a justiça (9:2). Quem pode contender com Deus? Quem pode Lhe
responder qualquer coisa? Deus é o Todo-Poderoso, o Criador soberano.
Que poderia eu responder-Lhe? A Ele eu poderia somente pedir misericórdia
(9:3-15);
(Obs.: O que é dito aqui está em paralelo com as ideias expressas no
diálogo entre Deus e Jó, no fim do livro)
• Dúvida de Jó: Mas mesmo que eu Lhe pedisse misericórdia, atenderia
Ele à minha voz? Pois Ele me esmagou e multiplicou minhas chagas sem
causa/de graça (hinnam); enquanto que aos perversos, Ele permite que eles
dominem sobre a terra (9:16-24);
• O temor de Jó: Não há como contender com Ele, pois Ele é Deus
enquanto que eu sou apenas um homem (9:25-35);
• O Protesto contra Deus: Devido à amargura de minha alma, darei
livre curso à minha queixa (10:1); “não me condenes, faze-me saber por que
contendes comigo” (10:2 – 1º pedido); “Tu não és homem [como os outros
que me condenam], bem sabes que não sou culpado, porque então me
atacas?” (10:3-17); “deixa-me morrer!” (10:18-22 – 2º pedido).
(Obs.: atenção a esses dois pedidos de Jó, veja como Deus o responde no
final do livro)
f. A resposta de Zofar a Jó: Jó 11
• Reação: Jó, você é um tagarela, um zombador, um pretencioso que
diz: “sou puro, não pequei para merecer isto” (11:2-4);
• Acusação: você é um grande pecador, Jó, e por cauda disto você está
sofrendo; mas Deus não trata você como mereceria (10:6), antes, Ele o trata
com muita misericórdia (11:5-12);
• Exortação: aproveite então a oportunidade da misericórdia divina,
arrependa-se, lance fora a iniquidade das suas mãos, não pratique mais a
injustiça; então, Deus lhe abençoará, você será feliz e estará seguro (11:13-
19);
• Advertência: É só o ímpio quem tem esperança na morte (o render o
espírito), implícito: “como você pode desejá-la?” (11:20).
2. Segundo Ciclo de Diálogos: Jó 12-20
g. A resposta de Jó a Zofar (e aos outros amigos): Jó 12-14
• Protesto contra seus três amigos: Que grande ajuda eram esses
amigos! Eles estavam ali para desprezá-lo e dificultar ainda mais as coisas
(12:1-5);
• Contestação da teoria dos seus amigos: os tiranos gozam paz e os
provocam a Deus estão seguros, e isto sob o consentimento de Deus. Por
outro lado, Deus muitas vezes faz sofrer o justo. O princípio não é o da
“causa-efeito”, mas o que Deus decidir (12:6-25);
• Novo protesto contra os seus amigos: eles falavam perversidades a
favor de Deus, eram parciais por Ele e por Ele contendiam falando mentiras.
Isto era inaceitável! Tomara que eles se calassem de todo e isto seria a
sabedoria deles (13:1-13);
• Pedidos e perguntas dirigidas a Deus (13:14-28): Jó 13:14-16,
confiança e esperança em Deus? – “Eis que Ele me matará, já não tenho
esperança” ou “ainda que Ele me mate, eu nEle esperarei”? (vs. 15a).
“Eis que me matará, já não [‫ ]ל ֹא‬tenho esperança; contudo, defenderei o
meu procedimento.” (Jó 13:15 - ARA)
“Ainda que ele me mate, nele [‫ ]לֹו‬esperarei; contudo os meus caminhos

defenderei diante dele.” (Jó 3:15 – ARC)
Por que essas duas traduções tão diferentes?

– A questão do Ketiv (”o está escrito”) e Qerê (“o que deve ser lido”) no texto
hebraico:
‫אֹוכיחַ ׃‬
ִֽ ִ ‫ְך־ד ָר ַַ֗כי אֶ ל־פָנָ ָ֥יו‬
ְ ְּ֝ ַ‫ֵהֵ֣ן ִ֭ ִיקְ ְטלֵנִ י ל ֹא [לֵ֣ ֹו] ֲאי ֵַחֵ֑ל א‬
Pedidos: “Concede-me somente duas coisas” (vs. 20): 1) “Alivia a Tua mão
sobre mim e não me espante com o Teu terror” (vs. 21); 2) “Interpela-me e
eu Te responderei, ou deixa-me falar e Tu me responderá” (vs. 22).
Perguntas: “Quantas culpas e pecados tenho eu?” “Porque me tens por
inimigo?” “Porque me persegues?” (13:23-28).
• Reflexão sobre a brevidade da vida, a morte e a ressurreição
(implícita): Jó 14 – indício da esperança de Jó (não a morte, mas a
ressurreição).
A Esperança da Ressurreição em Jó
“ Porque
7 há esperança para a árvore, pois, mesmo cortada, ainda se
renovará, e não cessarão os seus rebentos.
8Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco, 9ao
cheiro das águas brotará e dará ramos como a planta nova.

10O homem, porém, morre e fica prostrado; expira o homem e onde está?
11Como as águas do lago se evaporam, e o rio se esgota e seca, 12assim
o homem se deita e não se levanta; enquanto existirem os céus, não

acordará, nem será despertado do seu sono.
13Que me encobrisses na sepultura e me ocultasses até que a tua ira se
fosse, e me pusesses um prazo e depois te lembrasses de mim!

14Morrendo o homem, porventura tornará a viver?
Todos os dias da minha luta esperaria, até que eu fosse substituído.

15Chamar-me-ias, e eu te responderia; terias saudades da obra de tuas
mãos;...” (Jó 14:7-15)

A Esperança da Ressurreição em Jó
Esperança na ressurreição agora explícita (confirmando qual era a
verdadeira esperança dele):
“25Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a
terra.
26Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a
Deus.
27Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de
saudade me desfalece o coração dentro de mim.” (Jó 19:25-27)

3. Os amigos intensificam seus ataques a Jó a fim de defender a justiça

de Deus:
• Elifaz (Jó 15): ver vs. 1-6, 11, 15-16 e 17-35 (o justo castigo dos
perversos // Jó);
• Bildade (Jó 18): vs. 1-4, 5-21 (as sorte do perverso // Jó);
• Zofar (Jó 20): vs. 1-3, (calamidades dos perversos // Jó);
• Elifaz (Jó 22): acusa a Jó de grandes pecados específicos (vs. 4-20),

último apelo a Jó (vs. 22-30);
• Bildade (Jó 25): resposta indireta (exalta a Deus e deprecia o homem)
– o diálogo acabou;
• Zofar: silêncio (não fala mais com Jó)
4. Os “altos e baixos” de Jó:
• Momentos altos:
– 1:21; 2:10 (suas respostas nas provações);
– 9:2-15 (// com o diálogo final entre Deus e Jó);
– 13:15-16 (“ainda que Ele me mate, eu nEle confiarei”);
– 14:13-17 (esperança na ressurreição);
– 16:19-21 (esperança no “Advogado celestial”);
– 17:3 (pedido para que Deus fosse seu Fiador);
– 19:25-27 (esperança no seu Redentor e na ressureição);
– 27:1-10 ( a diferença entre o ímpio e o que teme a Deus, mesmo
em meio a todo o sofrimento o que teme a Deus “O invoca em todo o
tempo”).
• Momentos baixos:
– 3:1-26 (maldiçoou o dia de seu nascimento, desejo pela morte);
– 7:1-21 (descrição dos meses de sofrimento, desejo pela morte);
– 9:16-24 (“teria Deus misericórdia dele?” Certeza que Deus o
condenaria [vs. 28-29]);
– 16:7-18 (ele está exausto, já não tem mais forças);
– 17:1-2, 4-16 (ele aguardava nada mais que a sepultura/sepulcro);
– 19:2-23 (Deus o oprimiu e o perseguiu);
– 30:19-21 (o Deus cruel).
• Que momentos expressam a fé de uma pessoa que sofre?

• A que momentos deveríamos dar mais valor?
• Que momentos Deus valoriza?
5. O protesto de Jó contra seus amigos:
– 12:5 (desprezo para com ele);
– 13:7-13 (“advogados de Deus” e seus acusadores – ver Elifaz em
Jó 15:1-4; Eliú em Jó 36:1-4);
– 16:2-5 (consoladores molestos);
– 19:21-22 (pedido de compaixão // Jó 6:14, 25-27);
6. Jó contesta a tese da “causa e efeito”:
Os ímpios prosperam
– 12:6 (a tenda dos tiranos gozam paz);

– 21:7-34 (a prosperidade dos perversos);
– 24:1-25 (os perversos muitas vezes não são castigados);
Etc...
7. O grito final de Jó:
• Jó declara a sua integridade: Jó 31:1-34 (contra as acusações
explícitas de pecado por parte de Elifaz e as insinuações dos outros amigos);
• O grito final de Jó dirigido a Deus: Jó 31:35-40

“Que o Todo- Poderoso me responda!”
“Que o meu adversário escreva a sua acusação!”
8. Resposta de: Eliú!!
Em vez de Deus, quem responde ao grito final de Jó é Eliú!
A resposta do homem em lugar de Deus!!!
A ira de Eliú contra Jó e contra seus três amigos!!
Jó 32-37
(Mais um advogado de Deus e acusador de Jó)
9. Os diálogos de Deus com Jó: Nenhuma resposta, só perguntas!!
• Primeiro discurso divino: Jó 38:1-40:2
– Interpelação divina a Jó: 38:1-3
“1Depois disto, o SENHOR, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó:

2Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem
conhecimento?
3Cinge, pois, os lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás
saber.”
– Perguntas divinas: Jó 38:4-39:30 (“Onde estavas tu, quando eu
lançava os fundamentos da terra?...”) – foco na Criação, no poder do Deus
Criador e Mantenedor de tudo, e na ignorância de Jó.
“Disse mais o SENHOR a Jó: Acaso, quem usa de censuras contenderá
com o Todo-Poderoso? Quem assim argui a Deus que responda.”
• A resposta de Jó a Deus: Jó 40:3-5
“3Então, Jó respondeu ao SENHOR e disse:

4Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca.
5Uma vez falei e não replicarei, aliás, duas vezes, porém não prosseguirei.”
• Segundo discurso divino: Jó 40:6-41:34

“6Então, o SENHOR, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó:

7Cinge agora os lombos como homem; eu te perguntarei, e tu me
responderás.”
– Perguntas divinas: 40:8-41:34 (“Será que você está querendo

anular a Minha justiça? Ou Me condenará, para se justificar? Você tem um
braço tão forte como o braço de Deus? Você pode trovejar com a voz como
ele troveja? Adorne-se, então, de excelência e grandeza, e vista-se de
majestade e glória. Derrame as torrentes da sua ira…”) – repreensão a Jó,
foco no poder de Deus e na incapacidade de Jó.
• A resposta de Jó a Deus: Jó 42:1-6
“1Então, respondeu Jó ao SENHOR:
2Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.
3Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o
conselho? [// Jó 38:2]

Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para
mim, coisas que eu não conhecia.
4Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me
ensinarás. [// 38:3 e 40:7]

5Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem.
6Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.”
Finalmente, Deus colocou Jó no seu lugar?

Aquilo que Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú não conseguiram fazer,
agora aconteceu?
Jó finalmente reconheceu sua arrogância e se arrependeu?
10. Deus repreende os Seus “advogados”, vindica e restaura Jó: Jó
42:7-17
“Tendo o SENHOR falado estas palavras a Jó, o SENHOR disse também a

Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois
amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó.”
(//Jó 13:1-13; 10:2-7; ver também Jó 38.1-42:6 // Jó 9:1-15)
11. A solução divina para o caso de Jó e o seu sofrimento: Jó 42:5, 10, 12.
Não foi uma explicação, mas foi Ele mesmo!

A solução é Deus, não uma verdade ou uma explicação!
12. A restauração de Jó: Jó 42:10-17.
“10Mudou o SENHOR a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos; e o
11
SENHOR deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra. Então, vieram a ele
todos os seus irmãos, e todas as suas irmãs, e todos quantos dantes o
conheceram, e comeram com ele em sua casa, e se condoeram dele, e o
consolaram de todo o mal que o SENHOR lhe havia enviado; cada um lhe deu
dinheiro e um anel de ouro. 12Assim, abençoou o SENHOR o último estado de
Jó mais do que o primeiro; porque veio a ter catorze mil ovelhas, seis mil
13
camelos, mil juntas de bois e mil jumentas. Também teve outros sete filhos e
três filhas. 14Chamou o nome da primeira Jemima, o da outra, Quezia, e o da
terceira, Quéren-Hapuque. 15Em toda aquela terra não se acharam mulheres
tão formosas como as filhas de Jó; e seu pai lhes deu herança entre seus
16
irmãos. Depois disto, viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos e
aos filhos de seus filhos, até à quarta geração. 17Então, morreu Jó, velho e
farto de dias.”
(Jó, um homem realmente diferenciado: comparar Jó 42:13-15 com Números

27:1-11 – ele tinha uma perspectiva profunda da lei de Deus e do espírito dos
mandamentos de Deus).
13. Conclusões:
1. Cuidado ao tentar explicar aquilo que nós não sabemos;
2. Com os que sofrem, imitar a Deus, valorizar os “pontos altos” e não dar
muita atenção aos “pontos baixos”;
3. Cuidado com a tendência de ser “advogado de Deus” a qualquer preço, e
usando qualquer meio;
4. Paciência com os jovens (caso de Eliú);
5. O sofrimento pode não ter uma explicação, mas tem uma solução: Deus!

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Licenciado para - Gabriel Rodrigues - 61450277381 - Protegido por Eduzz.

O Livro de Jó Reinaldo W. Siqueira, Ph.D.

Esse sentido de “inimigo” é verificado também na raíz ’yb no antigo

Jó: Sua Origem e Localização

• Jó era um sábio da terra de Uz, região localizada no norte da Arábia,

Os amigos de Jó: Origem e Localização

Os amigos de Jó: Origem e Localização

• Jó viveu muito mais que 100 anos (Jó 42:16);

• A organização da família era a de um clã, no qual Jó funcionava

• A referência à quesitá, uma moeda de prata (Jó 42:11), remete à

• Autoria de Moisés (15º século a.E.C.):

“Moisés escreveu seu próprio livro e as passagens sobre Balaão e Jó”

O quadro de Deus como Criador e Mantenedor

• Autoria da época de Salomão (10º século a.E.C.):

Semelhança entre a exaltação da Sabedoria em

– Os argumentos a favor dessa posição são puramente

• Autoria da época de Manassés (7º século a.E.C.):

Tempo quando a questão do sofrimento do

– Os argumentos a favor dessa posição são puramente

– Os infortúnios relatados em Jó podem ser realidade histórica em

• Autoria da época de Jeremias (final do 7º século e início do 6º

Semelhança entre Jó e a figura do Servo

O fato da terra de Uz ser mencionada somente

– As semelhanças entre Jó, Jeremias e o Servo Sofredor de

– A questão da prosperidade dos perversos, por exemplo, é muito

– O fato de Jeremias amaldiçoar o dia de seu nascimento em

• Autoria durante ou depois do Exílio Babilônico (6º século

O cativeiro de Judá resultou num trauma que

A forma extraordinariamente desenvolvida da

– O livro de Jó não trata do sofrimento de alguém no cativeiro, por causa

• Autoria do período do Segundo Templo (4º ou 3º séculos a.E.C.):

O pedido de Jó para que suas palavras fossem

A caravanas de mercadores de Temã e de Sabá (Jó

A referência a Satanás no livro de Jó (capítulos 1 e 2)

– Reis e conselheiros da terra em Jó 3:14 estão em paralelo,

ARCHER JR., Gleason L. Merece confiança ao Antigo Testamento?

BARTHOLOMEW, Craig G.; O'DOWD, Ryan P. Old Testament Wisdom

HARTLEY, John E. The Book of Job. The New International

LA SOR, William Sanford; HUBBARD, David Allan; BUSH, Frederic

NICHOL, Francis D. et al, eds. Comentário Bíblico Adventista do

POPE, Marvin H. Job: Introduction, Translation, and Notes. The Anchor

A Sabedoria na Reinaldo W. Siqueira, Ph.D.

(Cf. Murphy, 1988, p. ix)

(Cf. Murphy, 1992, p. 928-930; Bartholomew & O’Dowd, 2011, p. 33-46)

“Se você se tornar um governador, faça o que é reto,

(Na BH, o livro de Provérbios pertence a este tipo de sabedoria)

2º) A Sabedoria Contemplativa ou Especulativa:

(Na BH, os livros de Jó e Eclesiastes pertencem a este tipo de

1. Jó é o herói de um dos mais importantes livros sapienciais da BH,

A estrutura do livro de Jó é facilmente percebida:

2. Segundo Ciclo: Jó 12:1-20:29 (Jó e seus três amigos)

3. Terceiro Ciclo: Jó 21:1-31:40 (Jó e seus três amigos)

5. Ciclo de YHWH e Jó: Jó 38:1-42:6

(Cf. Andersen, 1991, p. 17-21; Bartholomew, O’Dowd, 2011, p. 129-132; Clines,

Significado da estrutura do livro de Jó para sua interpretação e compreensão do

O leitor tem a perspectiva divina dos eventos e temas evocados no texto!

Primeiro Tema: A Graça

SENHOR, veio também Satanás entre eles.”

• YHWH “provoca” Satanás:

Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto,

• YHWH responde autorizando e limitando Satanás:

1º Desafio: Jó 1:6-12: “Teme Jó a Deus de graça?” (vs. 9); Deus comprou