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22 de junho de 1955 Tabela de sessões

Conferência: “ Psicanálise e cibernética ou a natureza da linguagem ”.

Professores, senhoras e senhores, em meu discurso, gostaria de destacar aqueles entre vocês que
geralmente me ouvem às quartas-feiras um pouco mais tarde. Seria associá-los a mim na homenagem e no reconhecimento que
prestamos àquele a quem citei primeiro, a Jean DELAY, que teve a amabilidade de inaugurar esta série de conferências e que
hoje nos dá a honra de estar presentes neste encontro .

É muito pessoalmente que eu também gostaria de agradecê-lo por ter dado a esse tipo de troca, de ensino em forma de
seminários, que venho desenvolvendo aqui há dois anos, um lugar, um teto que por si só eu ilustra, que não só o ilustra pelo
seu lugar e por todas as memórias que aí se acumulam, mas faz com que este ensinamento participe da ressonância das suas próprias
palavras.

Hoje quero falar com vocês sobre psicanálise e cibernética. É pelo menos um assunto que, nessa ordem de
aproximação entre a psicanálise e as diversas ciências humanas, me pareceu digno de atenção, e vocês verão
por quê.

Digo-vos desde já, não vamos procurar aqui as relações entre a nossa técnica e as várias formas mais ou menos
sensacionais da cibernética. Não vou falar sobre as máquinas grandes ou pequenas, não vou nomeá-las pelo nome, não
vou contar as maravilhas do que elas fazem.
Por que tudo isso nos interessaria? No entanto, há algo que me parece claro:
– do que chamaremos de contemporaneidade relativa : surgimento simultâneo de duas técnicas,
de duas ordens de pensamento e ciência, que são a psicanálise e a cibernética,
– e, por outro lado, alguns dos significados concernentes a cada um.

Em meio a tudo isso, terei que reger a forma como gostaria de dar a vocês um vislumbre dos significados da cibernética.
Portanto, não espere algo que, por um lado ou por outro, pretenda ser exaustivo.
Trata-se de encontrar um eixo de relação pelo qual algo se ilumine do sentido de um e do outro.
E esse eixo nada mais é do que a linguagem. E é por isso que é da natureza da linguagem que eu tenho que fazer você
perceber certos aspectos, digamos em flash, no que eu vou tentar explicar para você hoje.

A questão da qual começaremos é esta. Esta é uma questão que se colocou - já que aludi aos seminários posso legitimamente
falar sobre isso - no nosso seminário quando, uma coisa levou à outra, viemos questionar o que seria um jogo de azar perseguido
à máquina. Esse jogo de azar que havíamos escolhido era o jogo par ou ímpar. Obviamente, pode ser uma surpresa que em um
seminário onde falamos sobre psicanálise, estejamos interessados no jogo par ou ímpar. Também conversamos sobre outras coisas.
Algumas vezes falamos, este ano, de NEWTON. Acredito mesmo assim que essas coisas não vêm aí por acaso, é o caso de dizê-lo.

É justamente porque neste seminário estamos falando do jogo do par ou ímpar - e também de NEWTON, talvez - que a técnica da
psicanálise corre o risco de não tomar caminhos degradantes, senão degradantes, que é a nossa preocupação.
Pois bem, nesse jogo par ou ímpar tratava-se de mostrar, de recordar que algo nos evocava, analistas, que nada acontecia por acaso
e que algo também poderia ser revelado mesmo no jogo do acaso, o que parece confinar-se ao mais puro acaso. O resultado foi muito
surpreendente.

É que entre esse público de analistas encontramos uma espécie de indignação real, ao pensar - como alguém me disse - que eu
queria suprimir o acaso. Na verdade, a pessoa que me disse isso era uma pessoa com convicções firmemente deterministas e foi isso
que o assustou. Ela tinha razão, essa pessoa: existe uma estreita relação entre a existência do acaso e a base do determinismo. Mas
vamos refletir um pouco sobre o acaso.

O que queremos dizer quando dizemos que algo acontece por acaso?
Queremos dizer duas coisas que podem ser muito diferentes: –
queremos dizer que não há intenção ali, – e queremos dizer –
este é outro significado – que existe uma lei ali.

Mas precisamente a própria noção de determinismo é que a lei não tem intenção. É por isso que qualquer desenvolvimento da teoria
determinista sempre buscará ver o engendramento do que foi constituído no real, o que funciona segundo uma lei de algo originalmente
indiferenciado que é precisamente o acaso, desde que não haja intenção.
Nada acontece sem causa, claro, diz-nos o determinismo, mas é uma causa sem intenção.

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Bem, entendemos então que na medida em que esse tipo de experimentação exemplar poderia sugerir ao meu
interlocutor que algo no final teria sido apreendido - Deus sabe que a mente escorrega facilmente nessas questões - o
que reintroduziria o determinismo, não exatamente no jogo da par ou ímpar, pois é isso mesmo que preocupa e preocupa o meu
interlocutor, mas até ao jogo do cara ou coroa, com o qual ele mais ou menos intuitivamente identificou o jogo par ou ímpar : se há
determinismo no jogo de cara ou coroa, para onde vamos?
Nenhum determinismo mais verdadeiro é possível. Esta questão nos abre para saber o que é então este determinismo
que nós, analistas, supomos fundamentalmente na própria raiz de nossa técnica :
– quando pensamos que algo pode ser destacado como determinado e determinável, – quando nos esforçamos
para que o sujeito nos dê seu discurso, seus pensamentos, digamos, suas observações, sem intenção, senão diz que está
intencionalmente se aproximando o mais possível do acaso que possível?

Qual é esse determinismo que será buscado com a intenção do acaso?


É sobre esse assunto, acredito, que a cibernética pode lançar alguma luz.

A cibernética é - como eu acho que muitos de vocês já sabem - um campo com fronteiras extremamente indeterminadas.
Encontrar a própria unidade é algo que nos obriga, por um momento, a esquadrinhar esferas de racionalização que cobrem
partes importantes e dispersas, reunidas por uma certa unidade que se trata precisamente de encontrar, como todas as
ciências humanas.

E isso vai desde a política, desde a teoria dos jogos, passando pelas teorias da comunicação, até certas definições de algo que é a
grande originalidade daquilo que a cibernética trouxe, ou seja, a noção de informação.
A cibernética, dizem-nos, nasceu precisamente do trabalho dos engenheiros sobre a eficiência da informação, a economia
da informação através de certos condutores, a forma de reduzir aos seus elementos essenciais o modo como Para este título dataria
de pesquisa. de ocerca
títulode
foidez anos, desde
encontrado pelo que sai dessas
Sr. Norbert experiências
WIENER, um dospassa
mais e é transmitida
eminentes uma mensagem.
engenheiros deste tipoe

É aqui que veremos essa ciência surgir. Eu certamente acredito que isso limita claramente o seu alcance e é numa reflexão que
remonta a uma certa data que talvez vamos tentar aqui determinar o nascimento da cibernética.
Acredito que para entender o que está envolvido na cibernética, é em torno desse tema, tão candente para nós, do significado, da
significação do acaso, que devemos buscar sua origem. O passado da cibernética, creio eu, nada mais é do que a formação
racionalizada do que chamaremos, para opor às ciências exatas, às ciências conjecturais.

Se tomarmos isso como fundamento, se chamarmos de conjectura algo muito preciso, que vamos tentar definir, e que creio ser o
verdadeiro nome que se deve dar doravante para designar o eixo de um certo grupo de ciências que o O termo " ciências humanas" não
designa indevidamente, porque na verdade na conjectura é a ação humana que está em questão, mas acredito que o termo " ciências
humanas" seja muito vago e eu diria muito infiltrado por todos os tipos de ecos confusos de pseudo - ciências iniciáticas, que certamente
só podem baixar a tensão e o nível, e algo ganharia com esta definição mais rigorosa, mais orientada das ciências da conjectura.

Se a tomarmos assim, cibernética, encontraremos com prazer seus ancestrais tanto em [BOOLE?] quanto no próprio CONDORCET
com sua teoria dos votos - das partes, como ele diz - e mais acima naquele que seria seu pai e verdadeiramente o ponto de
emergência e origem: em PASCAL. Veremos o que isso significa.
Para fazê-los sentir isso, vou justamente partir das noções fundamentais da outra esfera das ciências com muita exatidão, ou seja, das
ciências exatas, cujo desenvolvimento não remonta, em seu florescimento moderno, tão mais alto, e que podemos ser absolutamente
correlativos ao desenvolvimento das ciências conjecturais, obscurecendo-o talvez, eclipsando-o de certa forma, mas sendo estritamente
inseparáveis umas das outras.

Como poderíamos definir as ciências exatas ? As ciências exatas são algo, digamos, diferente das ciências conjecturais, que dizem
respeito ao real. Mas o que é o verdadeiro? Não creio que a esse respeito a opinião dos homens tenha variado muito, ao contrário
do que nos tenta fazer crer uma genealogia psicologizante do pensamento humano, que tenderia a fazer pensar que o homem vivia
- nos primeiros tempos - em sonhos e mesmo que as crianças geralmente sejam alucinadas por seus desejos.

Concepções singulares que viciam, pode-se dizer profundamente, todas as noções de gênese em matéria psicológica, e que
são tão contrárias à observação que assim posso me expressar. Não se pode deixar de buscar a causa da origem de tais mitos, mas
certamente não é hoje que nos empenharemos em fazê-lo.

O real , se tentarmos dar-lhe um sentido, ver o sentido que o homem sempre lhe deu, é algo que encontramos no mesmo lugar, quer
não tenhamos estado lá, quer tenhamos estado lá. Ele pode ter se mudado, mas se ele se mudou, nós o procuramos em outro lugar,
procuramos por que o incomodamos, também dizemos a nós mesmos que às vezes ele se moveu por conta própria, mas ele está
sempre em seu lugar, estejamos nós lá ou se não somos.

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E nossos próprios deslocamentos não têm em princípio – salvo exceção – influência efetiva sobre essa mudança de lugar.
Em outras palavras, o real também, nem sempre caminha conosco. As ciências exatas certamente têm a maior ligação com
essa função do real.

Se, porém, nem sempre existiram, creio que a [...] distinção não está nessa pretensa onipotência do pensamento que se identifica
com a fase igualmente pretensamente arcaica do animismo, não é de modo algum que o homem viveu anteriormente em no
meio de um mundo antropomórfico do qual esperava respostas humanas.

Acredito que esta concepção é bastante infantil e implica a noção de “ infância da humanidade ” que absolutamente não
corresponde a nada histórico. É que o homem acreditava que sua ação tinha algo a ver com a preservação da ordem desses lugares.
Em outras palavras, ele pensava - como nós - que o real é o que encontramos na hora certa:
– sempre na mesma hora da noite encontraremos tal estrela em tal meridiano, – ela
voltará para lá, está sempre lá, é sempre a mesma.

Não é à toa que tomo a referência celeste antes da referência terrestre porque na verdade fizemos o mapa do céu antes de fazer o
mapa do globo. Bem, o homem teve por muito tempo a idéia de que algo se efetuava por meio desses ritos, dessas cerimônias...
– o imperador abrindo o sulco da primavera, – as
danças da primavera garantindo a fecundidade de toda a natureza,
...aquele algo em sua ação - que era uma ação ordenada, que era uma ação significativa, que era uma ação no sentido
verdadeiro: o de uma palavra - era indispensável para manter as coisas em seu lugar.

Eles não achavam que o real desapareceria se eles não participassem dessa maneira ordenada, mas achavam que o real ficaria fora
de ordem. Eles não pretendiam ditar a lei, alegavam que ele era indispensável por sua presença para a permanência da lei.
Definição bastante importante, porque na verdade salvaguarda integralmente o rigor da existência do real.
O limite foi ultrapassado em um determinado momento. É que o homem percebeu que esses ritos, essas danças e essas
invocações realmente não serviam para nada na ordem segundo a qual [...] Ele está certo ou errado? Nós não sabemos.

É certo que já não temos a convicção que nos parece necessária para o inevitável regresso das estações. A partir desse
momento pode nascer a perspectiva da ciência exata. Mas então para onde vamos daqui?
O homem pensa que o grande relógio da natureza gira sozinho e continua marcando o tempo mesmo quando ele não está presente. A
partir deste momento nasce a ordem da ciência. A ordem da ciência é precisamente esta: de oficiante na natureza, o homem tornou-se
seu oficial. Ele não a governará exceto obedecendo-a. E como um escravo, ele tenta fazer seu mestre cair sob seu controle, servindo-o
bem. A partir daí, ele sabe que a natureza poderá ser exata no apontamento que lhe der.

Mas afinal , que precisão é essa? Essa precisão é justamente o encontro de dois tempos na natureza.
– Existe essa ordem na natureza, existem coisas que funcionam como relógios. Existe um relógio muito grande, que não é outro
senão o sistema solar, cujo diâmetro é percorrido em x vezes luz, do sol ao planeta mais distante, e este é um relógio, por
exemplo, que é o relógio natural que precisava ser decifrado. Seguramente este foi um dos passos mais decisivos e essenciais,
mais seguros na constituição desta ciência exata.

– Mas o homem também deve ter seu relógio e seu relógio. Ele vai conseguir, com o quê? com alguma coisa
que tentaremos indicar muito rapidamente e que ele tomou emprestado do relógio da natureza. Mas no final, esse relógio tem
que ser acertado para alguma coisa.

O que é correto? É a natureza? Não é certo que ela responda a todos os compromissos. Claro, naturalmente pode-se definir que é
natural apenas o que vier a corresponder ao horário da consulta. Quando o Sr. de VOLTAIRE disse da História Natural de BUFFON
que não era tão natural assim, era realmente algo assim que ele quis dizer.

Isso implica que há aqui uma questão de definição talvez um pouco simples: minha noiva sempre vem ao encontro, porque quando
ela não vem, eu não a chamo mais de minha noiva. Por outro lado, é também o homem que é exato?
Onde está a mola mestra da exatidão, senão justamente nessa combinação de relógios?

Não estou aqui dizendo coisas que são apenas sutis. Observe bem que no fundo o relógio... um relógio que funciona, rigoroso, que
divide o tempo de forma isócrona, um relógio cuja pulsação é precisa, regular... Eu levantei: o de PASCAL.

Nomeadamente na altura em que o Sr. HUYGHENS - pronunciamos este nome à maneira francesa, peço desculpa pelos
flamantofones - fabricou, conseguiu fabricar o primeiro relógio perfeitamente isócrono : 1659, inaugurando " um universo de precisão ",
para usar uma expressão que é a do Sr. Alexandre KOYRÉ, sem o qual não haveria absolutamente - e não havia absolutamente -
nenhuma possibilidade de ciência verdadeiramente exata.

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Onde está a precisão? A precisão é composta de algo que baixamos neste relógio e neste relógio, ou seja, um certo fator, um
certo fator emprestado de um certo tempo natural. Este fator é o fator g. g, como você sabe, é a aceleração causada pela gravitação,
em suma, uma relação entre espaço e tempo, é algo que foi trazido à tona por uma certa " experiência mental ", para usar o termo de
GALILEO - até, não se esqueça , é algo que é uma hipótese, uma hipótese que se materializa em um instrumento.

E se o instrumento foi feito para confirmar a hipótese, não há necessidade de fazer o experimento que ela confirma, pois já, pelo
simples fato de o instrumento estar funcionando, você pode se debruçar um pouco atento sobre a questão para você perceba: a
hipótese foi confirmada. Mas ainda é necessário regular este instrumento em algo que é uma unidade de tempo. E uma unidade de
tempo é precisamente algo sempre emprestado dessa referência ao real, isto é, do fato de que ele retorna ao mesmo lugar em algum
lugar, e essa unidade de tempo é o nosso dia sideral.

Devo dizer-vos que se consultarem um físico, por exemplo o Sr. BOREL, ele dir-vos-á que no estado actual das coisas, se um certo
abrandamento...
suficientemente insensível, mas certamente não inapreciável depois de um certo tempo ...
ocorrendo na rotação da terra, ou seja, nosso dia sideral, não poderíamos no momento atual destacá-lo, dado que o referido relógio
que incorpora o tempo para nós é isócrono, que no entanto regulamos sua divisão na medida deste dia sideral, ou seja, de algo que
não podemos controlar.

Em outras palavras, esta observação nada mais é do que fazer você sentir que se medimos o espaço com um sólido, medimos
o tempo com o tempo. O que não é o mesmo. Não admira, nestas condições, que uma certa parte da nossa ciência exacta venha
a resumir-se a um número muito pequeno de símbolos referentes a coisas como a energia, a matéria [E = m.C2 ]. É aqui que, por
um tempo, chegará nossa exigência de que tudo se expresse em termos de matéria e movimento. Isso significava matéria e tempo,
porque justamente o movimento enquanto algo que estava no real, é isso. Conseguimos eliminá-lo, reduzi-lo.

Bom, é uma coisa que no fundo, esse joguinho simbólico, essas letrinhas que eu poderia escrever no quadro, o sistema de NEWTON
e o de EINSTEIN, é uma coisa que no fundo tem muito pouco a ver com a realidade. Essa ciência que reduz o real a esse pequeno
pacote de fórmulas aparecerá sem dúvida com o passar dos tempos como uma epopeia espantosa - e que talvez também se esvazie,
na perspectiva dos tempos, como uma epopéia talvez cujo circuito seja um pouco curto.

Mas há algo mais. A partir do momento em que vimos esse fundamento da exatidão da ciência exata, ou seja, o instrumento, talvez
possamos pedir outra coisa. Ou seja: “ O que são esses lugares? ".
Em outras palavras, começar a se interessar pelos lugares como vazios. É aliás por isso - os dois termos estão tão associados, coerentes,
inseparáveis - que é exactamente correlativamente ao nascimento das ciências exactas que algo começou a nascer...

que compreendemos mais ou menos, mais mal do que bem: o cálculo das probabilidades.
...mas quem originalmente...
se tomarmos a data em que surge, em que aparece da primeira forma verdadeiramente moderna, científica, rigorosa: 1654,
o tratado de M. PASCAL sobre o triângulo aritmético... é apresentado como o cálculo, não do acaso, como é basicamente ,
o termo " probabilidade" implica, mas o cálculo das chances em si, isto é do encontro, em si.

O que PASCAL elabora numa espécie de primeira máquina, que é justamente esse triângulo aritmético, se recomenda à atenção do
mundo culto pelo fato de permitir regular imediatamente, encontrar imediatamente, o que um jogador tem o direito de jogar .esperar
num determinado momento em que se suspende, em que se interrompe a sucessão de jogadas que constitui um jogo.
O que isso significa ? Isso significa que numa sucessão de golpes, que são a forma mais simples, a mais reduzida que se pode dar da
ideia do encontro, algo já está adquirido, já passou. Mas enquanto a convenção não terminou a sequência desses golpes, que nós não
chegamos ao seu termo, algo ainda pode ser avaliado, que é muito precisamente isso: as possibilidades tomadas como tais do encontro
- tomadas como tais, isto é, dizer do lugar - com: – algo que vem para lá ou que não vem para lá, – algo que surge neste lugar ou que
não vem para lá, como tal, – algo que é estritamente equivalente à sua própria inexistência.

A ciência do " que se encontra no mesmo lugar " é substituída pela ciência da " combinação dos lugares " como tal, isto num
registo ordenado que supõe indubitavelmente a noção de movimentos, ou seja, a noção de escansão. A partir daí nasce algo, que
naturalmente logo consegue reagrupar seu material de uma forma, onde tudo o que, até então, era ciência dos números se torna ciência
combinatória, tudo que era uma espécie de mais ou menos confuso, arriscado, em o sentido do acaso e não do acaso, no mundo dos
símbolos, organiza-se em torno de algo preciso: a correlação da ausência [0] e da presença [1].

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É a partir daí que se pode compreender toda esta evolução que faz com que a procura desta lei de presença e ausência, e da
continuação e ordenação e combinação das presenças, se processe por um processo que se pode dizer com razão, qualificamos de
matemático esse estabelecimento da ordem binária que é justamente a mais notável originalidade pelo menos na gênese, a aparência
simbólica do que emerge, do que resulta ser o que chamamos de cibernética.
Compreendo que ao manter neste limite, nesta fronteira, a originalidade daquilo que surge no nosso mundo sob a forma de cibernética,
é intencionalmente que o ligo a este algo que é a expectativa do homem enquanto tal.

Se a ciência das combinações, do encontro pontuado como tal, chegou ao campo da atenção do homem, é porque ele está profundamente
interessado nela. E não é à toa que isso advém da experiência dos jogos de azar.
Porque também não é à toa que o termo " teoria dos jogos" , por exemplo, no sentido em que o entendemos, de uma forma
extraordinariamente completa, se referiu, por exemplo: - a todas as funções de nossa vida econômica: a teoria das coalizões ,
monopólios... – a teoria da guerra, afinal, porque a noção de [jogo de estratégia ?] sobre a guerra nada mais é do que
tomar e considerar a guerra em suas origens essencialmente um jogo, e desvinculada de tudo o que há de real nela.

Não é à toa que é a mesma palavra que designa isso e o jogo de azar. E porque…
já que nos primeiros jogos de que vos falo, trata-se de uma relação de coordenação intersubjetiva... o homem
chama e procura algo - aliás tanto nos cálculos como a eles se consagra - no jogo do acaso, do qual ele demonstra por essa
homofonia semântica [" eu do acaso "] que deve ter alguma relação com a intersubjetividade, ao passo que justamente no jogo
do acaso parece eliminado?

Isso nos aproxima muito da questão central de onde parti, a saber, qual é essa chance do inconsciente que buscamos e que o
homem tem de certa forma atrás de si? De facto no jogo de azar, é algo onde ele vai testar a sua sorte, sem dúvida, mas também
onde ele vai ler o seu destino que lhe interessa, é a ideia de que ali se revela algo, que é o seu e eu diria o melhor dele porque ele
não tem mais ninguém na frente dele.
Esta é uma observação lateral, à qual só voltarei no final, que vos faço passando num ponto preciso, numa pontuação precisa do que
vos apresento neste momento.

Uma vez engajados nessa teoria da conjectura, o que é preciso para termos cibernética propriamente dita ?
Eu lhes falei anteriormente sobre a convergência de todo o processo da teoria para as teses de BOOLE, para um simbolismo binário,
para o fato de que qualquer coisa pode ser escrita em termos de 0 e 1. ainda é necessário que algo nasça, apareça no mundo, que
chamamos de " cibernética ", e que é uma novidade ?

– Isso deve funcionar na realidade e independentemente de qualquer subjetividade.


– Essa ciência dos encontros como tais, dos lugares vazios como tais, deve combinar, somar, totalizar.
“ Ela tem que começar a trabalhar, se assim posso dizer, por conta própria.

O que você precisa para isso ? É necessário , mesmo assim, tomar algo no real que possa suportar isso. O homem sempre procurou
conjugar esta realidade e este conjunto de símbolos : – Escreveu coisas nas paredes.

– Ele até imaginava que coisas de vez em quando “ Mané, Thécel, Pharès ” eram escritas sozinhas nas paredes.
– Ele colocou números no local onde a sombra do sol parava a cada hora do dia.

Mas, mesmo assim, os símbolos sempre permaneceram no lugar onde foram feitos para estar. Eles estavam presos nessa
realidade, pode-se acreditar que eles eram apenas a identificação dessa realidade. A novidade é que eles puderam voar sozinhos,
se assim posso dizer, e graças a quê? Graças a um dispositivo simples e comum, ao alcance de seus pulsos e basta apertar a maçaneta:
uma porta.

Uma porta não é algo, por favor, pense nisso, bastante real. Tomá-lo por algo real levaria a estranhos mal-entendidos. Se você
observar uma porta e, por exemplo, deduzir que ela produz correntes de ar, isso faria com que você a levasse debaixo do braço
para o deserto para se refrescar e o resultado não seria nada.
Procurei por muito tempo em todos os dicionários o que significava aquilo, uma porta. Há duas páginas de LITTRE na porta :
– Passamos da porta como abertura à porta como fecho mais ou menos contíguo .
– Nós vamos lá da porta leste, da porta sublime, até a porta: “ se você voltar eu vou fazer uma máscara no seu nariz ”
como escrito REGNARD57 .

Tudo isso não é muito satisfatório. E depois, sem comentários, LITTRE escreve que uma porta deve estar aberta ou fechada.
Ninguém estranhará, não me satisfez completamente, apesar dos ecos literários que suscita.

57 JF Regnard (1655-1709) citado por Littré: “ Mas, minha fé, se você voltar para nós, farei uma máscara sobre o nariz da porta ” em Ménechmes, II, 5.
58 Cf. o artigo de Branko Aleksic: “ O ato poético absoluto de Mallarmé e Lacan ” in Topiques n° 109, 2009/4.

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Tenho uma desconfiança natural da sabedoria das nações. Muitas coisas estão inscritas ali, mas sempre de forma um tanto
confusa. É até por isso que a psicanálise existe. Voltaremos a isso agora.
É verdade que uma porta deve estar aberta ou fechada. Mas não é estritamente equivalente. Observe isso, a linguagem
aqui pode nos guiar. Uma porta, meu Deus, abre-se para os campos, mas não dizemos que se fecha no curral, nem no curral . Sei
muito bem que aqui estou confundindo porta e fores , que é a porta do recinto, mas de qualquer forma não estamos perto disso e
podemos continuar nossa meditação na porta.

Na verdade, se ela abre alguma coisa, o que é? Poder-se-ia pensar que porque falei do campo e do redil se trata do interior e do
exterior. Acho que estaríamos muito errados. Vivemos em um tempo grande o suficiente para imaginar uma grande muralha que daria
exatamente a volta na terra de acordo com um americano, se você abrir uma porta nela, onde está o interior, onde está o exterior?

É toda uma verdade. Uma porta, quando aberta, é algo que não é mais generoso para isso.
Diz-se que uma janela " dá vista para o campo ". É bastante curioso que quando dizemos que uma porta dá em algum lugar,
geralmente se trata de uma porta que costuma ser fechada, e às vezes até condenada, e é nesse caso que se diz que " ela
dá". .. ".

Uma porta, meu Deus, às vezes você pega , e é sempre um ato bastante decisivo e uma porta é muito mais frequente do que qualquer
outra coisa que te é recusada. Pode haver duas pessoas de cada lado de uma porta, observando: você não imagina isso em relação a
uma janela. Você pode arrombar uma porta, mesmo quando ela está aberta, claro - como disse Alphonse ALLAIS - " isso é estúpido e
cruel ". Ao contrário, entrar pela janela sempre passa por um ato cheio de casualidade e, em todo caso, certamente deliberado, ao
passo que muitas vezes se passa por uma porta sem perceber.

Em suma, esta porta tem algo que está bastante distante, em si, já, numa primeira aproximação, desta função verdadeiramente
instrumental que a janela tem. Claro que abre para algo que não sabemos bem se é o real ou o imaginário. Mas é em um dos dois.
A porta é certamente, já por sua natureza, de ordem simbólica.
E é assim que a chave desta assimetria entre a abertura e o fecho é que se a abertura regula o acesso, ou seja algo que se
passa no sentido, pela porta, o facto de fechar regula o fecho.
O que ele fecha não é o invólucro, é o circuito. Especificamente, eu disse que primeiro é a cerca.

E é precisamente a partir deste momento que esta porta é um verdadeiro símbolo, como precisamente o símbolo por
excelência, aquele pelo qual se reconhecerá sempre a passagem do homem algures, que é a interseção de duas linhas, e a
cruz que desenha: acesso e fechamento.

É a partir do momento em que tivemos a possibilidade de dobrar as duas características uma sobre a outra, nomeadamente
de fazer o fecho, precisamente o circuito, ou seja algo por onde passa quando está fechado [1], e onde não não passar quando está
aberto [0], que tínhamos a possibilidade de passar a ciência da conjectura como tal para as conquistas da cibernética.

Pois se existem máquinas que calculam por conta própria, máquinas que somam, que totalizam , que fazem todas as maravilhas
que o homem até então acreditava serem próprias de seu pensamento, é porque temos a possibilidade de estabelecendo, graças à "
eletricidade das fadas " como dizemos, circuitos, circuitos que abrem ou fecham, que são interrompidos ou restabelecidos, conforme a
existência de portas, c. , que é a definição essencial a partir da qual você pode desenvolver todo o manejo dele. Pois observe bem que
se trata da relação como tal, de acesso e fechamento, ou seja, uma vez que a porta se abre, ela se fecha, quando ela se fecha, ela se
abre.

Uma porta não deve estar “ aberta ou fechada ”! Deve ser “ aberto depois fechado, depois aberto, depois fechado… ”.
A base de qualquer tipo de máquina nasce nisso que você conhece, que é a possibilidade, graças ao circuito elétrico e ao
circuito de indução conectado a si mesmo, ou seja, o que se chama um feedback, mas muito original, que tem o efeito de que
a porta só precisa fechar para ser imediatamente chamada por um eletroímã em estado aberto, ela fecha novamente e depois abre
novamente , você gera o que é chamado de oscilação.

Essa oscilação é a escansão, e a escansão é a base sobre a qual você poderá inscrever indefinidamente a ação ordenada por
uma série de montagens que não serão mais, diga-se de passagem, apenas brincadeiras infantis [Cf . Forte-Da].
Todas as combinações de abertura e fechamento são possíveis , então você pode, por exemplo, fazer todas as operações que
consistem neste, por exemplo: 0 0 1 1. Aqui estão quatro casos, que podem ser: – nos dois primeiros caso: 0, 0, porta fechada59
– e nas demais, porta aberta: 1. ,

59 Lacan às vezes toma como exemplo: o


- circuito elétrico onde o 1 (passa) corresponde a “fechado”,
- e a porta onde o 1 (passa) corresponde a “aberto”.

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Então, alternadamente, uma porta fechada ou aberta : 0 1 0 1. Qual será o resultado? A seu critério, você decretará, por
exemplo, que uma terceira porta estará seguindo esta, aberta ou fechada nos seguintes casos:
0 0: 0
0 1: 1
1 0:1 1
1:1

Ou seja, quando houver apenas uma porta aberta - 3 em 4 casos - isso será suficiente para que a 3ª seja aberta.
Existem outras tantas fórmulas: você pode decretar que ambas as portas devem estar abertas para que a terceira seja.
Voce terá :

0 0:0 0
1:0 1 0:0
1 1:1

Vou te fazer um 3º porque tem seu interesse. Aqui, você vai decretar que a 3ª porta só será aberta quando apenas uma
das duas estiver aberta.
0 0:0 0
1:1 1 0:1
1 1:0

O que é tudo isso? Isso é tudo o que queremos. Por exemplo isto :

0 0:0 0
1:1 1 0:1
1 1:1

pode ser logicamente chamado de união ou conjunção. Outra tradução é " ou... Também pode ser , ou...", " ou aquilo, ou aquilo ".
uma certa forma de montar o circuito, ou seja, duas portas, dois relés colocados em série, no outro caso:

0 0:0 0
1:0 1 0:0

1 1: 1

É aqui que você vai ter a montagem em série, isso é o que podemos chamar de outra forma de qualificar uma operação lógica:
uma conjunção do termo “ e ”. Deve haver " 1 e 1 " para que haja 1. E isso também é confuso, veja bem, se você se lembra de
certas leis elementares das operações aritméticas, as da multiplicação, é por isso que às vezes a chamamos de multiplicação
lógica.

Finalmente isso:
0 0:0 0
1:1 1 0:1
1 1:0

completamente original, exigia um termo especial: " adição módulo 2 ". Não é algo tão estranho, pois se você fizer uma adição
com sinais binários, terá que usar esta tabela, ou seja, quando você adiciona 1 e 1, em um mundo de notação binária, é 0 e
você retém 1.

Isto simplesmente para vos dar a perspectiva disto, que numa certa redução, simplificação dos símbolos, e a partir do momento
em que se dá a possibilidade de encarnar no real este 0 e este 1, esta notação da presença e da ausência como tal , e para encará-
lo em um ritmo e em uma escansão fundamental, algo aconteceu no real, sobre o qual devemos nos perguntar, talvez não por muito
tempo, mas de qualquer maneira, até perguntamos muito bem, e mentes que não são tão insignificantes , se isso é algo que poderia
ser chamado, como já foi dito, "máquina de pensar" máquina, e pensa - meu Deus - o que lhe foi dito para pensar.
. Claro, sabemos muito bem que esta máquina não pensa. Nós fizemos isso, isso

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Porque, finalmente, quando fazemos as mesmas coisas...


e fazemos as mesmas coisas assim que pegamos um lápis com a mão e começamos a escrever em um pequeno pedaço de
papel um dos sinais, e a fazer adições, multiplicações, coisas muito tediosas, muito tediosas, embora cada uma inclua um tipo de
ação decididamente original, ou seja, que alguém tenha feito esses símbolos com sua ação

…e de repente ele os põe de volta em ação, ou seja, ele fez uma coleção.

Esta é a base da adição. E de repente o que foi feito é meio que reaberto e desfeito. E a partir daí faremos outro. Essa é a essência do
[mecanismo?]. Quando realmente o operamos, ou seja, quando somamos 2, 4 e 5, se nos dizem que não estamos pensando naquele
momento, ficamos bastante ofendidos. E, no entanto, é claro que, se nos recusamos a pensar na máquina, também não estamos pensando
no momento em que estamos realizando uma determinada operação. Seguimos exatamente os mesmos – entre aspas, por favor – “
mecanismos ” da máquina.

O importante aqui é, portanto, perceber: – que algo


existe, que é o encadeamento possível de todos os tipos de possibilidades de combinações do encontro
Tal como,
– que isso pode ser estudado como tal, e que se o estudarmos como tal, veremos que é uma ordem que subsiste em seu rigor – digo “
rigor” para não dizer bem “ verdade” que nos diz nos levaria agora - independente de qualquer subjetividade.

O símbolo, através da cibernética, é corporificado de forma literalmente transsubjetiva, e que pode, como tal, ser corporificado em um
objeto, um dispositivo. Claro que não é o dispositivo em questão - o dispositivo é o seu suporte - o que está em causa é um jogo simbólico
enquanto tal e um jogo que envolve o quê? dimensões próprias.

Eu tive que operar de maneiras que certamente podem parecer lentas para você. Mas você deve tê-los apoiado em espírito para
entender o verdadeiro significado de tudo o que nos é trazido pela cibernética. Por exemplo, a noção de mensagem.
A noção de mensagem na cibernética nada tem a ver com o que costumamos chamar de mensagem, ou seja, algo que
sempre tem sentido. Esta mensagem é uma série de sinais, e uma série de sinais sempre se resume a uma série de 0s
ou 1s.

É por isso mesmo que aquilo que se chama " unidade de informação ", ou seja, esse algo pelo qual se mede a eficácia de qualquer signo,
sempre se refere a uma unidade primordial, chamada teclado, e que é simplesmente a alternativa. A mensagem, dentro desse sistema de
símbolos, é apanhada em uma espécie de rede basal , que é aquela
– da combinação como tal, – do encontro
como tal,
baseado em uma escansão unificada, ou seja, um 1 que é a escansão.

Isso define a perspectiva da mensagem e também mostra exatamente o limite dentro do qual você pode admitir ou não admitir usos
mais ou menos adulterados da palavra " mensagem ", dentro da cibernética, que dela se deduzem.
Por outro lado, a noção de " informação ", e tudo o que vos dizem sobre " informação " na medida em que tem uma certa relação ou não
com a entropia, é tão simples de ver que este pequeno quadro que fiz para vos mostrar-vos que era o próprio princípio da introdução no real
deste sistema simbólico enquanto tal.

Vê isto. Quando falo, por exemplo, de uma série de dois lances que devem me dar como resultado [...] a aposta, quando
começo por esta tabela:
0 0:0 0
1:0 1 0:0
1 1:1

onde devo ter os dois lances positivos para vencer, para ter 1, isso quer dizer que na largada tenho uma expectativa que é 1/4.
Há apenas 1 em 4 casos que vou ganhar, entre as combinações possíveis.

Suponha que eu já tenha feito um movimento. Se eu já fiz uma jogada:


– em um caso [1ª jogada: 0], não tenho mais nenhuma chance, –
em um caso [1ª jogada: 1], tenho uma chance em duas.

O que isso significa ? Isso significa que houve uma diferenciação de nível em minhas chances e que essa diferenciação foi
feita em um sentido crescente. Os chamados fenômenos energéticos e naturais caminham sempre na direção do desnivelamento que
se iguala na ordem do que diz respeito à mensagem e ao cálculo das chances.

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À medida que a informação chega, o desnível se diferencia. Não estou dizendo que está sempre aumentando, você pode encontrar 1
caso em que não está aumentando, mas não está necessariamente se deteriorando e está sempre indo em direção à diferenciação.
A existência desse elemento básico em torno do qual tudo o que chamamos de “ linguagem ” pode ser ordenado. Pois o que falta para
que algo comece a nascer que é a linguagem, que se relaciona com o que comumente chamamos de linguagem?

Para que a linguagem venha à tona, é preciso introduzir coisinhas chamadas ortografia e sintaxe.
Mas tudo isso já está dado no começo. Pois tudo isso é muito precisamente como tal sintaxe. É por isso que podemos fazer as
máquinas realizarem operações lógicas. Em outras palavras, a sintaxe existe antes da semântica nessa perspectiva. A cibernética é
uma ciência da sintaxe, e que talvez sirva também para ver que tudo o que chamamos de ciências exatas nada mais é do que ligar o
real a uma sintaxe.

O que é então a semântica, isto é , as linguagens concretas, aquelas com as quais lidamos com toda a sua ambigüidade, seu
conteúdo emocional, seu significado humano? Vamos dizer também que é povoado, mobiliado, pelo desejo dos homens? Somos
nós que trazemos o significado. Isso é certeza. É muito certo para uma grande parte das coisas.

Mas podemos dizer também que tudo o que circula na máquina não tem nenhum tipo de sentido? Certamente não em todos os sentidos
da palavra " significado ". Porque tem uma coisa que eu ainda não te disse, que é que, para a mensagem ser uma mensagem, ela não
deve ser apenas uma série de signos, mas deve ser uma série de signos orientados. E para funcionar de acordo com uma sintaxe, a
máquina deve ir em uma determinada direção. E quando digo máquina, você pode sentir claramente que não é mais uma questão para
o momento - simplesmente - da caixinha, quando escrevo tudo isso no meu papel, quando dou as hipóteses para a transformação da
pequena 1 e 0, também é algo sempre orientado em uma direção.

Portanto, não é - suspeitávamos - absolutamente rigoroso dizer que nessa linguagem primitiva é o desejo humano como
tal e por si só que introduz todo o significado. A prova é que no final tudo isso não funciona, nada sai da máquina que - observe - o
que esperamos dela, ou seja, não tanto o que nos interessa, mas o ponto onde fixamos que iria parar e que seria lido um
determinado resultado. Toda a base do sistema já está no jogo. Claro, como poderia ser estabelecido se não repousasse como tal,
uma vez que repousa na noção de acaso, na noção de uma certa expectativa pura, que já é um significado.

Aqui, então , está o símbolo na forma mais pura, naquela que já pode dar em si mais do que erros sintáticos, porque erros sintáticos só
engendram erro. Mas direi que erros de programação criam algo que não é simplesmente acidente, mas falsidade. Já neste nível, o
verdadeiro e o falso como tal estão interessados.

O que isso significa para nós, analistas ? Com o que estamos lidando no discurso do sujeito humano que se dirige a nós?
Neste discurso, estamos lidando com um discurso impuro. Um discurso impuro, por quê?
É apenas por causa de erros de sintaxe ? Claro que não. Toda a psicanálise ali se funda justamente no fato de que não era uma
questão de lógica extrair algo válido do discurso humano, que tem seu sentido, ela está por trás desse discurso, em algo que se
manifesta por meio dele, em sua função simbólica.

Qual é esse outro significado da palavra símbolo, que surge agora que estamos procurando seu significado?
Ora, é aqui que entra em jogo um dado precioso que a cibernética nos mostra e que é este: há algo que não
pode ser eliminado da função simbólica do discurso humano, e é isto: o papel desempenhado pela imaginação.
Os primeiros símbolos, os símbolos naturais, são derivados de uma série de imagens predominantes, a imagem do corpo
humano, a imagem de uma série de objetos óbvios como o sol, a lua e alguns outros e c É isso, sabemos , que dá seu peso, sua
mola, sua vibração emocional, a toda uma parte da linguagem humana.

Esse imaginário é algo homogêneo com o simbólico ? Não ! O fato de a análise tender a impô-lo, a fazer prevalecer
o imaginário da coaptação do sujeito a um objeto eletivo privilegiado, que é o que nos dá o módulo do que ora denominamos deste
termo à moda ora em análise: “ a relação de objeto ”.
Reduzir a psicanálise à aparência, ao engrandecimento, ao limite do discurso desses temas imaginários e da
coaptação do sujeito a esses temas, é algo que, fundamentalmente, perverte o sentido da análise.

Se há algo que a cibernética destaca para nós, é a distinção entre essa ordem simbólica radical e a ordem imaginária ,
que pode ser percebida no fato de que um cibernético ainda me admitiu recentemente, a extrema dificuldade que temos,
seja lá o que for. digamos, traduzir ciberneticamente as funções da Gestalt, ou seja, a coaptação da boa forma como tal com outra boa
forma : o que é boa forma na natureza viva é forma errada no simbolismo.

Como antes falei do pêndulo e do PASCAL, vou fazer uma observação simples: o verdadeiro pêndulo isócrono, que
data a construção de HUYGHENS, é a descoberta da ciclóide.

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Agora, como sempre foi dito, o homem inventou a roda. A roda não está na natureza, mas sabemos que é uma boa forma, o círculo. No
entanto, qual é a verdadeira diferença? É que a roda não rola na natureza: – não há roda que rola, – não há roda que inscreve o traço de
um de seus pontos em cada um de seus circuitos, – não há ciclóide, na imaginação.

A ciclóide é uma descoberta do simbólico. Pode ser feito em uma máquina cibernética, mas tem-se a maior dificuldade do mundo, exceto da
forma mais artificial, para fazer - através do diálogo de duas máquinas - responder um círculo a um círculo.
Esta é a verdade fundamental, que aqui pode ser trazida à luz e na qual se distingue o que é para nós a distinção de dois planos essenciais,
nomeadamente esta inércia do imaginário que vemos intervir no discurso do sujeito, ao borrar o discurso, o que significa que não vejo: – que
quando desejo o bem a alguém, desejo-lhe o mal, – que quando o amo, sou a mim mesmo que amo, – ou quando penso que me amo, é
precisamente neste momento que eu amo outro.

Essa confusão do imaginário, que é justamente o exercício dialético fundamental da análise, que permite a restituição do sentido do discurso, é
em torno dela que se distinguem duas orientações fundamentais de análise. Trata-se de saber se o simbólico existe como tal, ou se o simbólico
é simplesmente, por assim dizer, a fantasia no segundo grau das coaptações imaginárias. É aqui que se faz a escolha entre dois termos e duas
orientações de análise.

O que inevitavelmente, já que todos os significados foram acumulados por muito tempo pelas aventuras da história no lastro da semântica, se
trata de seguir o sujeito no sentido que ele já deu ao seu discurso, e já deu no sentido de que ele sabe que está fazendo psicanálise: – e que
a psicanálise já deu normas, – e que a psicanálise já lhe disse que era preciso ser muito gentil, ou seja, ser um personagem real que havia
alcançado sua maturidade instintiva e emergiu de etapas e etapas

onde domina a imagem fundamental deste ou daquele orifício.

Trata-se de saber se isto tem a sua importância, a ser reduzida, corrigida, nesta continuação do discurso universal em que o sujeito se envolve,
ou se se trata de uma coaptação a estas imagens fundamentais. Trata-se de saber se é uma normativação, uma retificação em termos do
imaginário ou uma liberação de sentido no discurso que está envolvido na análise.

É aqui que divergem as orientações e as escolas, e creio poder dizer que se FREUD - que no máximo tinha esse senso de sentido, que
faz com que suas obras sejam lidas como as de um adivinho - toma o tema da os três caixões e reconhece a morte na personagem [de Pórcia?].
Podemos dizer que ele é guiado por algo que é da ordem da inspiração poética. Trata-se de saber se, sim ou não, a análise prosseguirá nessa
direção freudiana, nessa direção que, para além da linguagem, não busca o inefável, o limite, o ponto a que a linguagem adere, onde ela para, ou
sobre o contrário busca significado além dele. E o que significa significado?

O significado é que o ser humano não é o senhor dessa linguagem primordial e primitiva.
Ele foi jogado lá, engajado, preso em uma marcha. A origem, não sabemos.
Dizem-nos que nas línguas os números cardinais apareciam antes dos números ordinais : não esperávamos isso.

Se realmente pensássemos na forma normal como o homem entra neste jogo de lugares: – é a ordem
da procissão, – é a ordem da dança, à qual aludi antes, hora, da dança primitiva ou da a procissão
civil e religiosa, – a ordem de precedência, – a ordem em que se imagina a organização da cidade, que nada mais é do que ordem e
hierarquia,

…finalmente é o número ordinal que deve aparecer antes. Mas o número cardinal - afirmam os linguistas - aparece antes.

Devemos nos maravilhar com o paradoxo. O homem não é aqui o senhor de casa, há algo em que ele está integrado e que já regula pela lei das
suas combinações, as leis da dança pela qual o homem passa da ordem da natureza para a ordem da cultura, é a mesmas tabelas de
combinações matemáticas que serão usadas para classificar e explicar.

M. LEVI-STRAUSS as chama de “ estruturas elementares de parentesco ”. E, no entanto, os homens primitivos não deveriam ter sido PASCAL.
Bem, o homem já está envolvido com todo o seu ser nessa procissão, essa procissão de números ou de um simbolismo primitivo e fundamental
que se distingue dessas representações imaginárias, é algo em torno do qual se estabelece o conflito fundamental.

Porque afinal o homem também tem, no meio disto, de ser reconhecido. Mas esse algo que deve ser reconhecido, dizem-nos - esse é o
sentido do que FREUD nos diz - não é expresso. Ele é rejeitado.

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Se fosse numa máquina, simplesmente teria caído, não reclamaria nada, desde que não chegasse a tempo, não explica mais o timing
da máquina. No homem não é a mesma coisa, a escansão está viva.
Assim, o que não entrou na máquina a tempo permanece suspenso, permanece reprimido. É disso que se trata.

O sentido da análise é este : algo sem dúvida que não se expressa, não existe, mas está sempre presente, que insiste e que pede para ser.
A relação fundamental do homem com esta ordem simbólica é precisamente aquela que funda a própria ordem simbólica :
– é a ordem do não-ser para o ser, – o
que insiste em ser satisfeito e que só pode ser satisfeito no reconhecimento, é o não-ser,
final deste relato, desta grande aventura do homem em relação ao simbolismo.

Não podemos separar dela a psicanálise ou a cibernética.


Este fim é que o não-ser vem a ser, que é, porque falou.

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