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CÂ MA RA LEGISLA TIVA DO DISTRITO FEDERA L ​

​COMISSÃO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA, ÉTICA E DECORO


PARLAMENTAR

O FÍCIO Nº 186/2023-CDDHCEDP
Brasília, 28 de fevereiro de 2023.
A ssunto : Racismo Religioso no Centro Educacional 03, de Sobradinho
Referência: Demanda nº 282/2023

Senhora Secretária,

Ao passo que cumprimento-lhe cordialmente, apresento à Vossa Excelência relatos do


senhor Leandro Mota Pereira, também conhecido como Pai Leandro de Oxossi, Sacerdote de
Candomblé. Trata a denúncia de possíveis violações de direitos fundamentais relacionados a
práticas discriminatórias de natureza racista. A demanda informa que uma adolescente de 14
anos foi vítima de racismo religioso no Centro Educacional 03, de Sobradinho, escola que
segue o modelo Cívico-militar.
Segundo relato do demandante, uma adolescente de 14 anos que está sob sua
orientação religiosa chegou na escola utilizando seu Fio de Conta e foi informada pela Tenente
responsável pela vistoria dos estudantes que não poderia permanecer na unidade utilizando o
item, momento no qual a Tenente colocou a mão no acessório religioso tentando tirá-lo do
pescoço da aluna. Neste momento, a adolescente disse que precisaria ligar para seu Sacerdote
para informá-lo da situação, e tal ação foi autorizada pela Tenente.
Ainda segundo o relato, com a chegada do referido Sacerdote à escola acompanhado
pela responsável legal da adolescente e uma advogada, todos foram encaminhados para a
Direção Escolar. Ao entrar na Direção, Pai Leandro se apresentou às pessoas que estavam
participando da reunião e solicitou que a reunião fosse gravada, momento no qual o Diretor
da unidade, Geraldo, disse que entendia de direitos por também ser Advogado, apresentando
postura ríspida que instaurou clima de animosidade no recinto. A reunião prosseguiu e Pai
Leandro explicou porquê de sua filha de santo – alcunha dispensada aos adeptos das religiões
de matriz africana – se encontrava com seu Fio de Conta, que se trata de um acessório da
indumentária das religiões de matriz africanas voltado à proteção individual, conexão com
divina e identificação social, bem como explicou sobre a importância do uso do acessório
naquele momento específico da vida da adolescente. Diante a explicação, a Tenente que
abordou a adolescente se desculpou e disse não conhecer a religião, motivo pelo qual tentou
tirar o Fio de Conta da aluna. Contudo, que a partir daquele momento a estudante poderia
continuar utilizando, contanto que fosse por dentro do uniforme escolar, o que foi acatado
pela responsável da aluna e pelo Sacerdote.
Adicionalmente, quando tudo parecia estar resolvido, ao final da reunião o Diretor
Geraldo se irritou com as gravações feitas pela advogada do demandante, pela mãe da
adolescente e pelo 2° Sargento Scartezini, que trabalha na escola e também estava presente
na reunião. O Diretor disse que iria processar os demandantes, proferiu xingamentos
e palavras de baixo calão contra Pai Leandro e sua fé e saiu da sala dizendo que iria procurar
seus advogados. O demandante aponta que a Tenente e o 2º Sargento tentaram amenizar a
situação e entraram em contato com o Diretor Geraldo, que já não estava nas dependências da
escola, para que o mesmo se retratasse com os demandantes, contudo, o Diretor disse que
não iria se retratar e voltou a utilizar palavras ofensivas para se referir ao Pai Leandro de
Ofício 186 (1063326) SEI 00001-00008700/2023-19 / pg. 1
não iria se retratar e voltou a utilizar palavras ofensivas para se referir ao Pai Leandro de
Oxóssi.
O Anexo 1063326 contém a gravação da reunião realizada pelo demandante.
Diante o exposto e considerando:

1. O Art. 5º da Constituição Federal que diz

"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
locais de culto e a suas liturgias;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em
lei;"

2. A Lei nº 7.226, de 23 de janeiro de 2023, que institui diretrizes e ações para o Programa
Distrital de Combate ao Racismo Religioso, e diz:
Ar t. 2º Para os fins desta Lei, considera-se racismo religioso toda e qualquer
conduta praticada por agente público ou privado que resulte na discriminação
dos povos negros ou indígenas ou em restrição de seus direitos coletivos ou
individuais em razão da prática de religiões de matriz africana.
Ar t. 3º É garantido aos praticantes de religiões de matriz africana,
independentemente de raça ou etnia:
I – o direito a tratamento respeitoso e digno;
III – o uso de vestimentas e indumentárias características, em lugares abertos
ou fechados, públicos ou privados, inclusive solenes;

Solicitamos apuração dos relato apresentado na com vistas a identificar as possíveis


faltas de conduta empregadas, de modo que a sanar as possíveis falhas e promover um
ambiente escolar integrativo, respeitoso e acolhedor para toda a comunidade escolar. A inda,
solicitamos resposta a este ofício em até 30 dias corridos com o informe sobre as ações
adotadas e seus desdobramentos.
Por fim, reiteramos a necessidade de desenvolver ações educativas junto aos
servidores e estudantes do ambiente escolar, de modo que tomem ciência sobre os direitos de
todas as pessoas, bem como de seus deveres enquanto cidadãos e profissionais, sobretudo
buscando serem replicadores de informação, respeito e valorização a todos os direitos
humanos.
Contando com a sensibilidade, aguardamos retorno e nos colocamos a disposição para
trabalhar nos encaminhamentos.

Atenciosamente,

FÁ BIO FELIX
Presidente da Comissão de Direitos Humanos

Ofício 186 (1063326) SEI 00001-00008700/2023-19 / pg. 2


À Vossa Excelência a Sra.
HÉLVIA MIRIDA N PA RA NA GUÁ FRA GA
Secretária de Estado
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
SBN Quadra 2, Edifício Phenícia, Bloco C
Brasília, DF

Praça Municipal, Quadra 2, Lote 5, 1º Andar, Sala 1.39 ̶ CEP 70094-902 ̶ Brasília-DF ̶ Telefone: (61)3348-8700
www.cl.df.gov.br - cddhcedp@cl.df.gov.br

00001-00008700/2023-19 1063326v11

Ofício 186 (1063326) SEI 00001-00008700/2023-19 / pg. 3

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