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SENTIMENTO INTROVERTIDO

COMO AS OUTRAS FUNÇÕES DE JULGAMENTO, o Sentimento


Introvertido nos leva a raciocinar e a dar sentido às nossas
experiências. Esta função é um pouco menos acessível, entretanto, do
que as três já discutidas. Embora nos incentive a avaliar uma situação,
como o Sentimento Extrovertido, seu caráter do lado direito do
cérebro nos liga à experiência enquanto ela está acontecendo. Assim,
podemos não reconhecer o Sentimento Introvertido como uma forma
de julgamento. Temos a tendência de considerar o ponto de vista que o
Sentimento Introvertido incentiva como “intuitivo” ou empático.
Quaisquer que sejam nossos tipos, usamos todos os quatro meios de
julgamento de uma forma ou de outra. Por exemplo, se estivéssemos
montando uma estante de livros:

• O Pensamento Extrovertido nos levaria a raciocinar com lógica


causal: para ter certeza de que entendemos o manual de
instruções e as consequências previsíveis que temos ao seguir o
passo-a-passo.

• O Pensamento Introvertido nos levaria a raciocinar com a


lógica situacional: lidar com as variáveis ​imediatas à medida que
elas acontecem. Talvez os furos na segunda prateleira não se
alinhem com os furos da ranhura que deveria ocupar. Nossas
instruções passo-a-passo não cobrem essa possibilidade, então
temos que considerar nossas opções e seus prováveis ​efeitos em
todo o projeto.

• O Sentimento Extrovertido nos encorajaria a julgar a estante


finalizada em termos de expectativas sociais gerais. Por
exemplo, podemos folhear livros e revistas sobre design de
interiores, tentando determinar se essa estante em particular
ficaria “certa” na sala de estar.

• O Sentimento Introvertido nos levaria a tornar estante “nossa”


— isto é, dar a ela um lugar entre as coisas que importam para
nós. Talvez o usemos para os livros que mais amamos. Talvez
coloquemos nossa coleção de miniaturas na prateleira de cima.
Vamos tentar algo, mudar, tentar outra coisa, até que os
elementos estejam em harmonia para nós e estejamos felizes
com o todo.

Embora o Pensamento Introvertido e o Sentimento Introvertido nos


façam raciocinar perceptivamente, à medida que uma situação está
acontecendo, eles presidem diferentes áreas de julgamento.

O Pensamento Introvertido é desapaixonado e impessoal, despertando


um interesse pela lógica sistêmica: as prováveis ​consequências da
escolha imediata. Por exemplo, se fizermos novos furos em nossa
ranhura de prateleira, teremos que compensar em outros pontos do
processo?

Os ITPs, a quem o Pensamento Introvertido é fundamental, são


geralmente técnicos criativos que raciocinam literalmente em termos
de padrões e variáveis ​emergentes. Paul Simon, por exemplo, fala
sobre a evolução constante de uma música à medida que explora seu
potencial estrutural, incorporando um fragmento de Bach aqui, uma
mudança de acorde gospel ali, cada decisão afetando o todo, criando
novas consequências e possibilidades.

O Sentimento Introvertido concentra nossa atenção de maneira


diferente. Encoraja um relacionamento pessoal com um padrão em
evolução, uma vontade de avaliar a situação por um ideal experiencial.
Por exemplo, se usarmos o Sentimento Introvertido para fazer um
bom molho de espaguete, não seguiremos receitas ou mediremos
ingredientes. Vamos provar o molho enquanto o preparamos,
avaliando seu sabor, cheiro e textura por seu resultado ideal e
ajustando as variáveis ​circunstanciais para que o padrão emergente
permaneça no caminho certo.

Embora esse processo possa ser chamado de julgamento estético, ele


não opera com base em princípios artísticos. Sua base é viver, respirar
e experimentar em primeira mão. Se nunca tivéssemos encontrado um
molho de espaguete decente, não usaríamos o Sentimento
Introvertido. Nos voltaríamos para o Julgamento objetivo: adquirir
uma receita (Pensamento Extrovertido) ou pedir conselho a um amigo
(Sentimento Extrovertido). Podemos até usar o Pensamento
Introvertido e experimentar.

Para invocar o Sentimento Introvertido, entretanto, temos que saber a


diferença entre um resultado bom e um mau — saber com nossos
sentidos, em nossos ossos.

A DIMENSÃO MORAL DO SENTIMENTO


INTROVERTIDO:
Conforme observado, usar o Sentimento Introvertido não nos faz nos
"sentirmos" razoáveis. Podemos nem mesmo sentir que estamos
agindo com base em nosso "conhecimento". Nos sentimos receptivos,
criativos e guiados por percepções que não podemos explicar. No
entanto, tendemos a fazer essa distinção — entre uma abordagem
racional da vida e uma abordagem criativa — porque associamos a
razão com muita firmeza às funções do cérebro esquerdo,
particularmente os padrões generalizados e o controle lógico feito por
seu oposto direto, o Pensamento Extrovertido.

A situação é complicada pelo fato de que apenas 6% dos americanos


usam o Sentimento Introvertido como sua abordagem primária para a
vida. Isso significa que muitos tipos associam essa função em grande
parte ao seu potencial inferior para o impressionismo e o
sentimentalismo. O estereótipo é particularmente comum quando o
julgamento estético assume uma dimensão moral.

As escolhas morais induzidas pelo Sentimento Introvertido não são


derivadas de princípios legais ou das obrigações sociais que advêm de
nossos papéis no mundo. Elas são derivados da experiência subjetiva
de ser humano, nossa vontade de lidar com uma situação em termos de
ideais humanos. As decisões tomadas dessa forma são frequentemente
mal interpretadas como um produto de emoção ou uma rejeição
assumida da autoridade estrutural.

Por exemplo, em um episódio da série La Femme Nikita sobre uma


mulher em treinamento, a heroína é impulsionada pelo Sentimento
Introvertido a ignorar o risco estatístico e resgatar o filho sequestrado
de um colega. Depois, seu superior aconselha: “Você é uma boa
agente, Nikita. Não deixe sua humanidade atrapalhar.”

Isso é precisamente o que o Sentimento Introvertido faz: ele ignora as


considerações estruturais e coloca o valor humano em primeiro lugar.
Tal julgamento é inquestionavelmente ilógico, mas de forma alguma
irracional. Na verdade, colocar o valor humano acima do risco
estatístico não é possível sem a capacidade de raciocinar. Pode-se até
dizer que é o caráter racional do Julgamento Introvertido que nos
separa das espécies que compartilham a maior parte do nosso DNA.

Pode-se observar que nossos parentes primatas mais próximos usam


as habilidades de Julgamento Extrovertido. Eles reconhecem uma
hierarquia de relacionamentos, reagem aos estímulos sociais,
sacrificam suas opções por um companheiro ferido ou por um bebê.
Eles podem ser ensinados a realizar cálculos, a manipular sinais, a
abstrair conceitos gerais. Mas eles não podem ser ensinados a desafiar
as probabilidades estatísticas puramente por causa do valor humano.
Na verdade, ninguém aprende a tomar tais decisões por meio de
instruções formais. Como afirmado, o Sentimento Introvertido é
desenvolvido por meio da experiência de vida subjetiva.

Os IFPs, que dependem dessa função como meio principal de


raciocínio, precisam de experiência objetiva suficiente para
reconhecer o potencial moral de seu julgamento. Sem isso, eles não
apreciam a diferença entre valores puramente circunstanciais e
valores que os ligam ao empreendimento humano mais amplo. Afinal,
alguns de nossos valores são moldados por um contexto específico e
são irrelevantes quando as circunstâncias mudam. Outros são
essencialmente humanos e, como tais, incondicionais. Os valores
incondicionais não podem ser apagados da psique humana, não
importa que tipo de sistema social esteja em vigor. Expressá-los é ver
através das divisões que as distinções externas reforçam.

Pode-se considerar, a esse respeito, o famoso incidente em 1880,


quando os Texas Rangers cercaram um grupo de apaches no Novo
México e começaram a linchar três por hora até que alguém revelou o
esconderijo de seu chefe. Uma tropa da Cavalaria dos EUA entrou e não
apenas se opôs às táticas, mas prendeu os Rangers por assassinato.
Esses soldados eram os “soldados búfalos”, ex-escravos recrutados
para o serviço na fronteira ocidental. A dura experiência ensinou a
esses homens muito sobre a desumanidade institucionalizada. Na
verdade, eles se angustiaram com o conflito entre provar que eram
soldados competentes e conspirar com seus antigos mestres no tipo de
discriminação que conheceram em primeira mão.

Este conflito não tem nada a ver com sentimentalismo. Ele mede a
base da identidade coletiva em relação ao critério do valor humano
incondicional. Como sugerido, o Sentimento Introvertido não é um
substituto para o Julgamento Extrovertido. Ele não vai resolver os
problemas analíticos que a lógica e o raciocínio causal são projetados
para resolver e não vai estabelecer uma base para interações sociais
previsíveis. Mas, ao contrário, ele lida com aspectos da realidade
humana que o raciocínio extrovertido não consegue lidar.

SEM UMA MÚSICA


Jornada nas Estrelas: A Nova Missão oferece um retrato interessante de
um povo que opera sem Sentimento Introvertido — uma espécie
chamada Vorta — e é instrutivo considerar a forma como esses
humanóides entendem a vida. Os Vorta foram geneticamente
modificados por uma raça conhecida como os Fundadores, que não
têm forma permanente. Seu objetivo é gerenciar os assuntos objetivos
dos Fundadores (política, negócios, estratégia militar) entre as
espécies “sólidas” em planeta-satélites. Em sua sabedoria malévola,
os Fundadores deixaram o Julgamento Introvertido de fora do código
genético dos Vorta e, embora um administrador Vorta ocasionalmente
se arrependa de sua incapacidade de apreciar arte ou de cantar, os
Vorta acreditam que tais capacidades são irrelevantes para suas
tarefas básicas. O que os Vorta não reconhecem é sua consequente
falta de perspectiva holística — em todos os níveis de aplicação.

Por um lado, eles não podem apreciar a estratégia militar, que requer
Pensamento Introvertido. Eles entendem os planos de batalha apenas
em termos dos objetivos limitados que pretendem alcançar e do tempo
que “deveriam” levar para alcançá-los. Mais significativamente, essas
criaturas não têm consciência. Eles não reconhecem a possibilidade de
questionar o que os Fundadores ordenaram que eles fizessem, e eles
não são capazes de sentir empatia pelas pessoas que suas ações
afetam.

Como afirmado, o julgamento estético tem uma valência moral que vai
além das questões de arte e música. Isso nos dá a capacidade de ver
uma situação como um todo, além das suposições que absorvemos de
uma comunidade específica — e de determinar, a partir dessa
perspectiva mais ampla, a integridade de nossas ações. O Sentimento
Extrovertido, com sua ênfase nos comportamentos sociais
predominantes, não pode fornecer esse aspecto holístico na sua
tomada de decisão. Na verdade, os Vorta são perfeitamente capazes de
demonstrar afinidade social com os outros. Eles sorriem quando
necessário, dizem as coisas certas — mas ninguém acredita neles.
Pode-se considerar um personagem de desenho animado recente que
descreve o ser socialmente correto como a capacidade de sorrir e
mentir, como em “Que bom ver você! Você perdeu peso? Como está a
família?” Sem capacidade alguma para o Sentimento Introvertido,
nossos comportamentos e relações são puramente estratégicos; sem
conteúdo subjetivo.

Não se deve supor, a esse respeito, que o Sentimento Introvertido se


opõe ao Sentimento Extrovertido. Ambos envolvem a ordem “certa”
de nossos relacionamentos e lealdades. Seus diferentes efeitos no
cérebro, entretanto, fazem com que produzam resultados inversos.

O Sentimento Extrovertido se baseia nos critérios externos do cérebro


esquerdo dos costumes sociais e da lei para marcar as decisões que vão
além de nossa experiência imediata para afetar a comunidade mais
ampla.

Por exemplo, no capítulo 20, mencionei o estupro e o abuso infantil,


que não são questões de escolha individual, porque envenenam a
sociedade como um todo.

O Sentimento Introvertido se baseia nos critérios internos do cérebro


direito de experiência e empatia para marcar decisões que vão além de
nossos papéis na sociedade para nos afetar como seres humanos.
Afinal, a lei e os costumes gerais são o denominador comum mais
baixo dentro de uma comunidade definida. Associamos caráter e
comportamento humano aos imperativos morais moldados por
valores internos.

Pode-se considerar a seguinte história de Chicken Soup for the Soul: 101
histórias para abrir o coração e reacender o espírito:

Em um assento do ônibus, um senhor estava sentado segurando um


ramo de flores frescas. Do outro lado do corredor estava uma jovem
cujos olhos olhavam repetidamente para as flores do homem. Chegou
a hora do senhor descer. Impulsivamente, ele jogou as flores no colo
da garota. “Vejo que você adora as flores”, explicou ele, “e acho que
minha esposa gostaria que você as recebesse. Vou dizer a ela que dei a
você.” A menina aceitou as flores, depois observou o velho descer do
ônibus e passar pelo portão de um pequeno cemitério.

O significado e a força dessa história dependem inteiramente do


ouvinte ter um ponto de referência interno, influenciado pela sua
experiência pessoal. Quem são as pessoas, em que cidade estão, com
que fé praticam, sua composição racial e social — nada disso importa.
A história ignora tudo isso para se concentrar no humano por si só.

Os IFPs, que usam o Sentimento Introvertido para sua abordagem


dominante da vida, são atraídos, mais do que qualquer outro tipo, para
ocupações médicas e religiosas e, particularmente, para organizações
como o Corpo da Paz, Médicos sem Fronteiras e Habitats para a
Humanidade, que lhes permitem tomar uma ação humana
transcendendo as fronteiras sociais extrovertidas “convencionais”.

O Sentimento Introvertido também pode precipitar sentimentos de


dúvida, porque os ideais do tipo geram expectativas que são maiores
do que uma vida extrovertida pode acomodar. Os IFPs podem, por
exemplo, ter a sensação de que não se encaixam e podem se sentir
solitários debaixo de seu dilema exterior “viva e deixe viver”. Eles se
sentem impulsionados a fazer algo significativo e bom, algo que traga
seus valores para o meio comunitário, e se eles não têm como fazer
isso, eles não sabem como se definir. Eles podem acreditar que estão
apenas “sobrevivendo” até que seu propósito se torne claro para eles e
sua “vida real” comece.

INFLUÊNCIAS SECUNDÁRIAS
Embora ISFPs e INFPs sejam motivados pelo Sentimento Introvertido,
eles são estimulados por sua função extrovertida secundária a
desenvolver e expressar seus valores de maneira diferente. ISFPs, que
se relacionam com o mundo por meio da Sensação Extrovertida, estão
engajados na realidade material como ela existe, e seus valores,
portanto, são um produto da experiência concreta. INFPs, que se
relacionam com o mundo por meio da Intuição Extrovertida, são
engajados por padrões de significado e seus valores são uma mistura
de experiência e impressão mental de padrões alternativos.

A preferência extrovertida desempenha um papel tão forte na


determinação dos interesses e comportamentos do IFP que as
semelhanças básicas entre ISFPs e INFPs podem ser difíceis de ver. Os
ISFPs exigem envolvimento sensorial para colocar em ação seu
julgamento, então eles estão inclinados a ser fisicamente ativos e
podem ficar inquietos quando não o são.

A esse respeito, eles se assemelham a ESPs mais do que seus parentes


INFPs, que são mais especulativos. De fato, as distinções
comportamentais entre ISFPs e INFPs levaram David Keirsey e
Marilyn Bates, em Please Understand Me: Character and Temperament
Types, a contestar a ideia de que ISFPs são do Introvertidos. Conforme
mencionado no capítulo 19, Keirsey e Bates acreditam que os ISPs
devem ser classificados junto com ESPs como tipos SP.

Os SPs, dizem eles, são temperamentalmente distintos dos INFPs:


insubordinados; facilmente entediados, desejosos de excitação, riscos,
chances e testes de sorte; descomplicados na motivação. . . . ISFPs são mal
compreendidos. . . porque os junguianos os classificaram como “tipos
sentimentais introvertidos” e, portanto, muito parecidos com os INFPs.
Observe alguns ISFPs e você descobrirá que eles têm muito pouco em
comum com os INFPs.

Embora os comportamentos externos de ISFPs e INFPs sejam


inquestionavelmente influenciados por preferências extrovertidas
opostas, Keirsey e Bates foram conduzidos pelas demandas de sua
teoria do temperamento para ignorar a motivação interna do IFP. O
Sentimento Introvertido é uma maneira de ver a vida, uma lente
embasada por experiências diretas do que é do bem e do mal, mas que
deve ser ajustada para as condições externas imediatas, como uma
câmera. ISFPs entendem essas condições externas por meio da
Sensação Extrovertida, então eles estão ajustando suas lentes para
mudanças concretas em seu ambiente físico. INFPs entendem as
condições externas por meio da Intuição Extrovertida, então eles estão
se ajustando para padrões ocultos e potencial não realizado. A clareza
de enfoque que os IFPs estão tentando manter, entretanto, é
consistente e é determinada pelo Sentimento Introvertido.

COMO FUNCIONA O SENTIMENTO INTROVERTIDO:


O Sentimento Introvertido funciona no fundo da consciência, muito
parecido com o Pensamento Introvertido. Ele nos leva a nos
ajustarmos racionalmente a uma situação enquanto ela está
acontecendo. Conforme declarado, o processo é um pouco como usar
uma câmera cujas lentes foram retificadas por nossa experiência
pessoal em situações boas e ruins. Estamos olhando através dessa
lente para o mundo exterior, mas também estamos fazendo ajustes
para variáveis ​inesperadas, para as circunstâncias que existem aqui e
agora. É mais fácil ver a natureza desse processo quando os IFPs
fazem arte — ou seja, quando eles “tiram uma foto” com sua câmera
tipológica e trazem um pouco de sua visão para o mundo objetivo.

Elvis Presley, por exemplo, ilustra uma perspectiva ISFP clássica, em


que a expressão externa é determinada pelos interesses e experiências
concretas de cada um. Quando tinha dezoito anos, Presley havia
absorvido todas as formas de música que existiam ao seu redor —
blues, gospel, country, pop — mas ele não fazia distinções formais
entre eles, não tinha julgamentos extrovertidos sobre os “slots” que a
sociedade americana havia determinado para eles. Tudo o que ele viu
foi o que era “bom” e o que não era. A consistência de seu julgamento
unificou essas influências em um som que mudou a direção da música
popular — e forçou as pessoas a reconhecer algumas das barreiras
raciais e sociais no mundo da música.

Deve ser enfatizado, a este respeito, que ISFPs que usam sua
experiência subjetiva para se concentrar no que é incondicional na
natureza humana não necessariamente fazem arte que coincide com
as prescrições sociais do que é um “bom” comportamento. É mais
provável que façam como Elvis — tocando em algum princípio
humano vital que a sociedade tentou isolar como um problema de
classe ou racial. INFPs demonstram exatamente o mesmo tipo de
julgamento, mas sua arena extrovertida tem mais probabilidade de
envolver padrões de significado. Por exemplo, o diretor Errol Morris
usa o filme para explorar o mistério do esforço humano — por que
persistimos em fazer coisas que podem desaparecer quando as
fazemos.

Em Fast, Cheap & Out of Control, Errol Morris encontra temas


sobrepostos em quatro buscas diferentes, entrevistando um domador
de leões, um jardineiro topiário, um cientista robótico e um
especialista em ratos-toupeira. Nenhum desses campos tem uma
relação externa aparente com os outros, mas cada homem está
obcecado com o que faz, e Morris tece as observações de seus temas de
uma forma que acaba por produzir uma narrativa completa. Tanto as
entrevistas quanto os visuais começam a se misturar, revelando
padrões, temas e relações que transformam o filme em uma elegia
poética a todo o projeto humano.

Os IFPs não precisam ser artistas no sentido convencional da palavra,


mas precisam de alguma forma de integrar seus reinos externos e
internos. Uma psicóloga INFP que conheço aborda esse problema
hospedando uma reunião regular de pessoas que influenciaram, em
vários momentos de sua vida, suas idéias sobre o crescimento
espiritual e sua prática. As idades, profissões e convicções religiosas
dessas pessoas são amplamente diversas, mas isso não importa para
ela. Ela convoca o grupo porque os membros nutriram sua vida
interior e ajudaram a dar-lhe expressão verbal. Por sua vez, o grupo é
guiado por seus valores subjetivos para interagir em termos de sua
busca humana em comum.

Como o Sentimento Introvertido atua em diferentes tipos:

Uma vez que esteja claro como o Sentimento Introvertido opera, seu
caráter é aparente em todos os tipos que o usam — assim como as
diferenças em sua expressão externa.

● EFPs:

Os EFPs, como Perceptores Extrovertidos dominantes,


consideram a realidade externa como algo natural — como algo
que “acontece” com eles. Gostam de pessoas, gostam da
natureza imprevisível da experiência direta e têm tendência a
viverem no presente. Consequentemente, a maioria dos EFPs
aceita trabalhos que envolvem um ambiente em rápida mudança
e interação com outras pessoas, e usam o sentimento
introvertido para encontrar um terreno humano em comum com
as pessoas que estão encontrando.

Quando o Sentimento Introvertido é minimamente


desenvolvido, os EFPs o usam apenas para apoiar seus motivos
extrovertidos e confiam demais na experiência externa para
determinar sua autoimagem. Esses tipos são bons em se
identificar com os outros, mas parecem imprevisíveis, porque
sua base para o relacionamento é moldada por quaisquer pessoas
com quem estejam lidando. Eles ficam magoados e confusos, no
entanto, quando outros questionam sua inconsistência, porque
eles estão se esforçando muito para se conectar com os outros de
uma forma empática.

Quanto melhor os EFPs desenvolvem o Sentimento Introvertido,


mais eles reconhecem seu poder de apoiar os valores humanos
incondicionais nos aspectos da vida que a sociedade
negligenciou. Os ESFPs tendem a fazer isso concretamente,
familiarizando-se com os fatos e alcançando as pessoas que
precisam deles. A falecida princesa Diana, por exemplo, tomou
seu mundo sensorial como garantido, mas usou suas vantagens
nesse meio — sua riqueza, fama e carisma — para atrair a
atenção do mundo para os pobres, os doentes e os deslocados.

ENFPs são mais propensos a se concentrar em padrões de


compreensão, tentando mudar as ideias das pessoas sobre as
estruturas sociais ou psicológicas prevalecentes, ou para
mostrar às pessoas, por exemplo profético, os benefícios
criativos de uma nova abordagem.

● IFPS:

Orientados pelo próprio Sentimento Introvertido, os IFPs não se


reinventam a cada experiência que têm. Eles dependem da
Percepção Extrovertida para controlar sua experiência exterior
— para garantir sua conexão com seus valores.

A diferença é imediatamente clara se compararmos a Princesa


Diana, que usou de sua fama “sensorial” para ajudar causas
populares, com Madre Teresa, que limitou seu mundo sensorial
a uma área de serviço direto.

Quando a Percepção Extrovertida é minimamente desenvolvida,


os IFPs a usam apenas para apoiar seus motivos introvertidos e
não obtêm muita experiência fora das situações que envolvem
seu julgamento. Eles precisam de Sensação ou Intuição
suficiente para reconhecer a diferença entre a preferência
subjetiva e os valores humanos incondicionais. Caso contrário,
eles tendem a usar suas lentes como uma lupa, enfatizando a
importância de sua própria experiência em detrimento de todo o
resto. Ou eles vão depender de outros para uma estrutura
objetiva e relacionamento social, “acompanhando” as atividades
extrovertidas necessárias sem estar totalmente engajado por
elas.

Mesmo um artista tão bem-sucedido como Elvis Presley, em


última análise, usou sua riqueza e status social para adaptar seu
ambiente exatamente ao que ele achava que valeria seu tempo e
esforço, e sua absorção e dedicação total naquele mundo
tornou-se lendária. Apesar de toda a sua experiência como
musicólogo autodidata, ele renegou qualquer tarefa que exigisse
uma perspectiva do Pensamento Extrovertido e, portanto,
dependeu de outros para tomar suas decisões objetivas: ele não
estabeleceu uma forma organizada de pagar seus assessores,
permitiu que seu gerente determinasse sua orientação
profissional e não impôs limites aos seus próprios apetites.

Quanto mais os IFPs desenvolvem suas habilidades de percepção


extrovertida, menos discriminam suas experiências e mais
valorizam o conhecimento direto de muitas áreas da vida. Esses
tipos adquirem a capacidade de levar a vida como ela se
apresenta, seus valores são como rochas sob a superfície da água
em movimento, dando-lhes um certo caminho a seguir.

Por exemplo, a popular Irmã Wendy Beckett, de Sister Wendy’s


Story of Painting , foi guiada por seus valores para construir uma
vida de reclusão para si mesma, passando muito de seu tempo
absorvendo informações sobre arte. Foi sua habilidade de
localizar os aspectos humanos comuns da arte que a trouxe à
atenção do público, e ela aproveitou tal oportunidade para dar
aulas sobre cinema. Embora sua fama consequente possa parecer
paradoxal, dada sua vocação primária, os IFPs que desenvolvem
suas habilidades de percepção prestam pouca atenção às
distinções externas.
OS TIPOS IFP:
Conforme declarado, os IFPs constituem cerca de 6% da população —
quase todos eles ISFPs, que contam com suas habilidades de Sensação
para obter informações sobre a realidade. INFPs, que representam
apenas 1% de nós, confiam mais em sua capacidade de encontrar
significado e potencial no que vêem. Essa diferença é ampliada pela
cultura popular, em que cerca de 40% dos americanos lidam com a
realidade externa por meio da Sensação Extrovertida. Assim, os ISFPs
têm mais oportunidades do que os INFPs para desenvolver sua função
secundária e se relacionar com outros nessa base. A maioria é atraída
por profissões práticas que lhes permitem atender às necessidades
sensoriais e físicas de outras pessoas — medicina e serviço social, por
exemplo, ou cozinhar, ou fazer música. Também é provável que sejam
artistas: pintores, ceramistas, joalheiros, fabricantes de instrumentos
e assim por diante.

INFPs, por outro lado, têm mais flexibilidade do que ISFPs, porque
eles não são tão dependentes de ação física para expressar seus
valores. Eles estão mais inclinados a buscar significado e profundidade
em seu trabalho, em áreas como psicologia, desenvolvimento
espiritual, edição e educação especial. INFPs se assemelham a ENFJs
neste aspecto, que seguem muitas das mesmas profissões. Deve-se
enfatizar, entretanto, que ENFJs são tipos de Sentimento
Extrovertido, que agem como defensores sociais. Eles ajudam as
pessoas a realizarem seu potencial de uma forma que a sociedade
acabará aceitando. INFPs são defensores do mundo interior, os valores
que nos conectam a outros seres vivos de uma forma fundamental.
Eles vão aonde sentem que são necessários, ajudando a nutrir esses
valores ou a apoiar as pessoas que caíram nas fendas de um sistema
social vigente. Embora os ISFPs não tenham o mesmo interesse na
teoria psicológica e social, eles têm o mesmo impulso para conectar
sua experiência externa aos ideais humanos fundamentais. Eles
também vão onde são necessários — curando os doentes, cuidando
dos perdidos, cuidando dos animais ou da natureza. Mas esses tipos
também são atraídos por atividades sensoriais que os façam sentir em
harmonia com todo um ambiente: praticar um esporte ou um
instrumento, passar o tempo na floresta, se livrar dos apegos e apenas
“ser”.

Na verdade, a maioria dos IFPs tem algum investimento em uma


atividade que expressará seu senso fundamental de harmonia com a
vida. Se sua carreira não pode satisfazê-los desta forma, eles vão criar
um “espaço” para si mesmos em suas horas de folga, onde podem
fazer contato com aquela parte interna de si. Essas atividades não são
necessariamente “artísticas”, mas geralmente envolvem algum meio
em que o tipo pode apreender os padrões estruturais do mundo
interior — ouvir música, pintar um mural, cuidar de um jardim,
praticar uma disciplina, frequentar o culto.

Por exemplo, um jovem ISFP que conheço colecionava histórias em


quadrinhos e passava seu tempo de lazer desenhando heróis e vilões.
Tendo perdido o pai na infância, ele se identificou fortemente com
personagens fictícios como Batman — heróis introvertidos para os
quais a tragédia impulsionou poderes especiais e a habilidade de lutar
pelo bem comum. Ele tinha uma afeição particular pelo astro de
cinema Brandon Lee, filho carismático do falecido especialista em
artes marciais Bruce Lee.

Como sugerido anteriormente, a natureza sensorial do


entretenimento popular tende a ser consistente com uma maneira
introvertida de julgamento, e os ISFPs são capazes de usá-la para uma
perspectiva racional. Deu a esse jovem em particular uma maneira de
construir significado a partir de um evento da infância: ver um
universo no qual todos os eventos, por mais inúteis e irracionais que
possam parecer na época, têm um propósito arquetípico mais amplo.

Quando Brandon Lee também morreu, em um acidente estranho, o


jovem sentiu uma tristeza que mal conseguia explicar. O universo
integrado que ele vislumbrou por meio da imagem de Lee parecia
perdido, junto com a conexão que ele sentia com outras pessoas que
apreciavam o trabalho de Lee. Ele finalmente aceitou a situação
criando um ritual próprio. Ele ergueu um altar em seu quarto e todos
os anos, no mês da morte de Lee, colocou flores frescas no altar e fez
orações especiais.
Uma das ideias duradouras de Jung é que os aspectos incondicionais
da realidade humana são normalmente mediados por imagens e
rituais culturais, que vinculam suposições sociais prevalecentes a
verdades humanas mais amplas. Quando as imagens coletivas não
fazem mais essa conexão para as pessoas, os indivíduos são forçados a
se apropriar dessas verdades mais amplas. Os IFPs, em alguns
aspectos, são ilustrações vivas de como esse processo psicológico
funciona. Eles reconhecem por meio de sua própria experiência um
valor incondicional que os vincula à humanidade como um todo, e são
movidos, portanto, a sacralizar o evento que o revelou a eles. A
vontade de fazer arte ou performar é uma extensão desse motivo, na
medida em que universaliza a experiência do IFP, tornando-se uma
janela que abre espaço para um significado maior.

Os IFPs, portanto, têm uma ampla gama de apresentações pessoais.


Alguns são atraídos por uma vida mais parecida com os fundamentos
humanos e parecem zen ou sobrenaturais; outros estão determinados
a ajudar os outros além das suposições convencionais sobre status e
poder. Alguns fazem arte que combina a situação individual com seu
significado universal, outros se colocam em risco, quebrando a lei por
um propósito moral mais elevado e são dispostos a pagar o preço por
isso.

Em todos esses casos, os IFPs estão sustentando ideais que são


maiores e mais estáveis ​do que um universo de acaso e possibilidade
pode conter, e o esforço para fazer isso lhes dá um senso quase
cármico de bom e mau. Estar apegado, preocupar-se com os objetos
coloca em movimento o drama arquetípico dos opostos. Não se pode
buscar o bem sem, eventualmente, esbarrar com o outro lado.

Como os ITPs, os tipos de Sentimento Introvertido podem ser


desafiadores para os julgadores do lado esquerdo do cérebro. Tipos
orientados por Sentimento Extrovertido, por exemplo, acreditam que
ter valores é fazer a coisa certa nas circunstâncias certas, mesmo
quando o desejo subjetivo os encoraja a fazer o contrário. Os IFPs têm
a ideia inversa. Valor, para esses tipos, é uma reivindicação fatídica
que vem de dentro e alinha os comportamentos de uma pessoa com
um propósito mais amplo, independentemente da circunstância
percebida ou da obrigação social. Isso é o que faz com que os
comportamentos do IFP pareçam irracionais para um observador
externo.

Eles não podem ser deduzidos causalmente sobre a perspectiva da


situação objetiva. Na verdade, é por isso que as questões de motivação
espiritual são quase invariavelmente formuladas em termos do
Sentimento Introvertido.

Pode-se considerar a seguinte citação usada por Dorothy Day, a


fundadora do movimento Catholic Worker:

“Ser testemunha não consiste em fazer propaganda ou mesmo em agitar


as pessoas, mas em ser um mistério vivo; significa viver de tal maneira que
sua vida não faria sentido se Deus não existisse.”

SENTIMENTO INTROVERTIDO NA CULTURA POP:


A natureza cada vez mais sensível da cultura popular assegurou um
aumento na associação popular da consciência espiritual com o
desenvolvimento do Sentimento Introvertido. Pode-se ver essa
associação no número extraordinário de livros dedicados à criação de
"espaços" sagrados, altares de oficinas e rituais pessoais que ressoam
com nosso "eu autêntico". Pode-se ver isso também em nosso
panteão midiático de ícones SFP. De Luke Skywalker a Buffy, a caçadora
de vampiros, esses heróis são geralmente do tipo quieto e relutante,
com seus valores amadurecendo sob a força de paradigmas sociais
disfuncionais, pressionando-os à ação contra as forças caóticas das
trevas. Isso é claramente Sentimento Introvertido e, como sugeri,
essas imagens têm valência tipológica genuína. Elas refletem a fome
de uma sociedade sensorial por valores mais duradouros do que os
prazeres da experiência superficial.

Além disso, como a história dos "soldados búfalos" deixa claro,


suportar o impacto da desumanidade de uma sociedade pode treinar
um ponto de vista que tem potencial evolutivo para a consciência
humana. Existem vários problemas, no entanto, com a iconização das
imagens do Sentimento Introvertido. Um desses problemas, por
exemplo, é o fato de que, por mais que se preste a expressões de
consciência espiritual e profecia política, o Sentimento Introvertido
não é equivalente a espiritualidade. Embora ofereça um profundo
testemunho do sagrado, cada função oferece seus próprios meios de
testemunho espiritual e vocação. Mais significativamente, os valores
humanos que o Sentimento Introvertido traz à consciência são apenas
isso - introvertidos. Eles não oferecem uma base para um sistema
social objetivo. No mínimo, eles oferecem uma base para o desapego
do condicionamento social. É isso que lhes dá o poder de mudar
corações. O único tipo de mundo em que o Sentimento Introvertido
poderia ser obtido como fonte primária de julgamento social é um
mundo caótico e imprevisível, no qual os sistemas projetados para
proteger a comunidade não têm poder para fazê-lo.

Este é precisamente o tipo de mundo que heróis como Hércules, Xena,


Sinbad, Conan e Buffy habitam semana após semana — um mundo em
que deuses e demônios rancorosos prevalecem, e nossa única
esperança é reconhecer nossa conexão fundamental com "a força” ,
“o rugido” ou a “energia eterna” que permeia todas as coisas vivas. O
inegavelmente envolvente Hércules mal consegue arranjar tempo para
um jantar agradável com a sua mãe antes que o cosmos dê errado e ele
seja obrigado a retornar ao seu destino singular.
Muito além das histórias em quadrinhos de TV e do cinema, a
premiada peça Angels in America retrata exatamente o mesmo tipo de
mundo apocalíptico.

A realidade impiedosa da AIDS derrubou fronteiras sociais e agendas


políticas familiares, e aqueles que estavam morrendo sentem que são
chamados à Grande Obra: a de unir as pessoas em torno de valores
humanos comuns em uma experiência de vida que de outra forma
seria horrível.

O tema em comum que permeia essas histórias FP é a ideia


esperançosa de que, se todos desenvolvessem o Sentimento
Introvertido, os limites externos não importariam mais.
Perceberíamos que todas as pessoas são únicas, têm seus próprios
dons e são valiosas como seres humanos. E pode-se notar, a esse
respeito, que as pessoas cuja experiência subjetiva as levou a defender
esse tipo de visão quase sempre obtêm altas pontuações de INFP em
testes de tipologia.

A dura realidade, entretanto, é que o sentimento introvertido adquire


poder profético apenas em virtude de sua relação com uma estrutura
de expectativas comuns. Indiscutivelmente, chama a sociedade para
prestar contas, mas não sugere um sistema substituto para as relações
sociais.

A Água da Vida: Uma anedota interessante fala sobre este último


ponto. Madre Teresa estaria fazendo um discurso em um dia quente de
verão. Sua voz estava ficando rouca, então um homem na plateia saiu
do auditório lotado para uma cozinha próxima e serviu um copo
d'água para ela. Quando ele subiu o longo corredor até o pódio e o deu
a ela, Madre Teresa mal olhou para ele. Ela o entregou a uma das
pessoas sentadas num banco. Então o homem voltou para a cozinha e
serviu outro copo. A mesma coisa aconteceu — não uma, mas
repetidamente, até que todos no banco tomassem um copo d'água,
junto com vários membros da plateia. O homem estava em um dilema.
Ele se imaginou passando o resto da tarde tentando servir a todas as
pessoas no auditório.
Esta história nos dá uma imagem perfeitamente ilustrada das fortes
características IFP de Madre Teresa: seu desprezo por questões de
status ou privilégio; sua seleção pessoal de variáveis ​relacionadas a
seus valores; e sua habilidade, nessa obstinação, de oferecer ao
público uma lição objetiva. Com absoluta clareza, as pessoas que
assistiram ao pequeno drama puderam apreciar a imensidão da tarefa
que Madre Teresa se propôs ao mundo. Mas a história também ilustra,
com igual clareza, como o Sentimento Introvertido inverte os padrões
coletivos de julgamento, elevando os valores subjetivos acima das
expectativas sociais extrovertidas. Se o comportamento de Madre
Teresa foi deliberado, uma tentativa de mostrar ao seu público como a
realidade se parece quando o valor humano incondicional supera as
suposições convencionais sobre status e poder, foi também astuto,
porque sua capacidade de fazer isso dependia dessas suposições
sociais.

Uma sociedade que treina seus membros para confiar apenas no


Julgamento Introvertido para suas escolhas não resulta em membros
que são mais caridosos e atenciosos; trata-se de pessoas orientadas
para si mesmas que julgam cada situação social em termos de sua
própria experiência.

Por exemplo, um anúncio recente de um workshop sobre celebrações


de feriados alternativos diz:

“Imagens de alegria e de relacionamentos afetuosos e amorosos podem


ser dolorosamente contraditórias com a experiência pessoal que outras
pessoas têm com feriados. Traga o seu eu autêntico enquanto, juntos,
buscamos estabelecer conexões que nos levarão durante as férias de uma
maneira nova e animada.”

Este ponto de vista é empático e bem intencionado. Pessoas que estão


de luto quando outros estão celebrando podem precisar de ajuda para
ver além das imagens comerciais para a mensagem mais profunda de
Natal, que é sobre a renovação em tempos de escuridão. Mas o anúncio
também sugere o estado de espírito que se desenvolve quando o
Julgamento Introvertido se torna nossa fonte primária de perspectiva
moral. Os rituais coletivos perdem seu caráter objetivo: eles não
moldam mais nossas relações com os outros; eles parecem,
meramente, nos forçar a uma falsa conformidade.

Os personagens de Angels estão lutando contra as consequências desse


ponto de vista subjetivo. Atraídos por uma busca comum introvertida
em um mundo dizimado por doenças e instituições sociais falidas, eles
não têm ideia de como conduzir ou manter relacionamentos mais
permanentes entre si.

Louis, um personagem ENFP visionário, fala sem parar sobre os


problemas morais de uma sociedade cujas leis condenam sua
identidade sexual, mas que, quando se depara com seu parceiro
aterrorizado à beira da morte, não consegue ficar ao lado dele. Nada
em sua própria experiência o obriga a ir além do que ele sabe manejar,
e nada no “pacto social” obriga sua fidelidade.

O autor claramente pretende este paradoxo, mas as premissas que ele


estabeleceu não permitem uma resolução. Mencionei anteriormente o
déficit psicológico no povo fictício Vorta, membros do universo Star
Trek. Sem os valores de Sentimento Introvertido, seus
comportamentos de Sentimento Extrovertido não têm nenhuma
conexão com a experiência humana real. Eles são apenas
performances. Mas o inverso também é verdadeiro. Sem a estrutura
extrovertida, os valores introvertidos prendem uma cultura sensorial
em um presente eterno, onde nada importa, exceto a própria
experiência, e os sistemas sociais são sempre percebidos como
inadequados porque não tratam das injustiças da vida em si.

A FUNÇÃO INFERIOR DOS IFPS:

Como todas as funções introvertidas, o Sentimento Introvertido é um


ponto de vista individual: algo que trazemos para a realidade de
dentro de nós mesmos. Conforme afirmado anteriormente, ele não
pode ser usado sem experiência direta. É isso que torna tão difícil
legislar sobre os comportamentos que ele impulsiona. Avançar em
direção a uma sociedade organizada além das distinções externas
requer a vontade de ignorar interesses e necessidades conflitantes.
Na verdade, os IFPs sentem exatamente esse tipo de tensão quando
tentam adaptar o mundo objetivo ao interior. É como se alguma
resposta não formulada que revelaria a interconexão do universo
estivesse presa dentro deles, e todas as perguntas que as pessoas
fazem são muito pequenas, não podem conter exatamente o que eles
têm a dar.

Esta é uma das razões pelas quais os IFPs recorrem às imagens


arquetípicas — figuras da mídia, romances góticos ou arturianos,
deusas — para representar seus valores mais profundos. Essas
imagens abrangentes ressoam com seu senso interno de paixão e
idealismo. Mas os arquétipos que não têm conexão direta com a
experiência real são tão abrangentes que a vida cotidiana fica aquém
deles. Os IFPs podem acabar vivendo frugalmente na expectativa,
esperando a situação certa para reivindicá-los. Enquanto isso, a maré
extrovertida de expectativas sociais os leva a situações que não foram
inteiramente pensadas. Esses tipos parecem descontraídos,
acomodando-se às rotinas e estruturas dos outros, fazendo o que é
exigido deles e muito mais, mas eles não estão realmente engajados.

Simpático, de boa índole, de pensamento positivo, impressionável e


pouco assertivo na superfície, sua vida interior é uma caixa de pólvora
ansiando por algo que eles não podem definir.

Como os pensadores introvertidos, os IFPs precisam desenvolver suas


habilidades extrovertidas bem o suficiente para se investir na vida
como ela realmente é. Caso contrário, eles gastam muito tempo
protegendo-se de situações incompatíveis com seu reino interior, e
sua função menos desenvolvida, o Pensamento Extrovertido, sai de
seu controle.

Conforme declarado em outros capítulos, todos os tipos usam as


habilidades que sua função inferior os dá, e IFPs não são exceção.
Quando seus valores os levam a buscar matemática, contabilidade,
medicina ou ciências, por exemplo, os IFPs são tão motivados e
capazes quanto os tipos Pensadores. O que é difícil para esses tipos é a
abordagem de vida que advém do Pensamento Extrovertido.
Compreender a realidade por meio de princípios gerais parece aos IFPs
algo frio e desumanizador. Reduz as pessoas a categorias, rouba-lhes
da experiência interior de si. Os IFPs não veem esse ponto de vista
como parte de sua própria convicção, então ele permanece primitivo e
não desenvolvido, formando a base de seus estereótipos sobre os
outros.

Se os IFPs não desenvolverem a Sensação Extrovertida ou Intuição


Extrovertida o suficiente, eles não terão nenhuma experiência
extrovertida para usar, e o Pensamento Extrovertido se distancia
muito de seus objetivos conscientes. Isso os inunda com impulsos
conflituosos relacionados com sua autoimagem, levando-os a usar
outras funções. Como todos os tipos, os IFPs não reconhecem esse
drama interno como uma oportunidade de crescimento. Eles
simplesmente se sentem infelizes, e uma perspectiva inferior de
Pensamento concentra sua atenção nas estruturas impessoais do
mundo exterior. Esses tipos adquirem uma impressão cada vez maior
de que não estão cumprindo seu propósito na vida — que
comprometeram seus valores por causa das prioridades estruturais
dos outros. Essa impressão pode envolver um relacionamento pessoal,
o local de trabalho, uma situação escolar, uma organização religiosa
ou uma estrutura política, e é importante reconhecer que sempre tem
alguma base na realidade.

Os IFPs que não desenvolveram seu lado extrovertido não podem


deixar de cair em situações determinadas pelas necessidades e
interesses dos outros. A solução para este problema está em aprimorar
suas habilidades sensoriais ou intuitivas. Os IFPs precisam ver sua
situação como ela é e descobrir como nutrir e expressar o que
acreditam de uma forma criativa. Se eles estão lutando com impulsos
de Pensamento Extrovertido, no entanto, os IFPs não têm incentivo
suficiente para fazer isso. Eles estão muito ocupados defendendo suas
crenças contra “ameaças externas”.

Eles se concentram nas imposições que já vêm acomodando por um


tempo, na esperança de eliminá-los do cenário. Para sua surpresa, os
outros se sentem ameaçados por sua autoafirmação, e o IFP se sente
magoado e zangado. Afinal, se os IFPs passaram metade de suas vidas
acomodando limites incompatíveis com eles próprios, eles esperam
que as pessoas que apoiam essas imposições façam alguns
compromissos em troca.

USANDO A PERCEPÇÃO EXTROVERTIDA COMO UMA


DEFESA:
É muito difícil para os IFPs verem onde se encaixam neste tipo de
conflito externo, porque as fronteiras estruturais que estão
enfrentando são muito reais. Eles simplesmente se sentem num “beco
sem saída”. Eles estão insatisfeitos com a situação, mas não querem ir
embora e não sabem como mudá-la. Essa experiência de paralisia é
sempre uma indicação de que um tipo está evitando um conflito
interno secundário.

Os IFPs que desenvolvem a Percepção Extrovertida, invariavelmente,


vêem a diferença entre valores puramente subjetivos, que os fazem
sentir pessoalmente à vontade, e valores que são incondicionais, parte
de cada situação humana que encontram. Depois de reconhecerem
essa distinção, eles não precisam mudar a opinião das pessoas. Eles
enxergam através dos limites extrovertidos de uma situação e se
alinham com seu eixo fundamental, mudando assim o coração dos
outros. Às vezes, isso acontece por necessidade.

Um pianista INFP que conheço foi levado por seus valores internos a
seguir carreira no ministério e foi designado por dez anos a trabalhar
para um programa de desenvolvimento musical em Taiwan. Essa
tarefa o forçou a desenvolver sua Intuição Extrovertida, porque seus
comportamentos habituais foram moldados por uma cultura muito
diferente daquela de Taiwan. Dado o fato de que todas as suas
experiências eram novas, ele não teve oportunidade de se concentrar
nos limites e fronteiras que estava encontrando. Ele simplesmente
jogou com as cartas que recebeu, lidando com o “Eu” refletido de volta
para ele por seus colegas e alunos. No processo, ele reconheceu
conscientemente a utilidade das estruturas de Julgamento
Extrovertido para colaborar com outros e organizar as informações de
que precisava.
Como resultado, sua perspectiva se ampliou. Ele descobriu que tinha
um verdadeiro dom para unificar pessoas de diversas origens e,
quando voltou para sua província natal, foi encarregado de cerca de
150 igrejas.

Os IFPs que estão resistindo ao seu lado extrovertido encaram o


mundo exterior como se o mesmo tivesse muito poder sobre eles. Sob
a influência do Pensamento Extrovertido, eles usam sua função
secundária não para receber informações, mas para categorizá-las
como adequadas ou alheias a seus valores internos. Em consequência,
eles desvalorizam os aspectos de uma situação que consideram
“inaceitáveis”.

ISFPs tendem a montar essa defesa com seu imediatismo sensorial.


Convencidos de que as pessoas estão tentando defini-los, eles se
frustram com essas expectativas, geralmente recusando a identidade
social imposta ou fazendo algo obviamente ilógico. Madre Teresa fez
isso conscientemente quando o bom homem estava tentando lhe
trazer um copo d'água. Ela queria que seu público visse a diferença
entre prestar serviço a uma pessoa e não fazer qualquer distinção
entre as pessoas. Mas os ISFPs não desenvolvidos farão esse tipo de
coisa inconscientemente, tentando manter o controle subjetivo.

INFPs são mais propensos a usar sua intuição para se distanciar de


categorias e definições. Esses tipos atenderão às expectativas das
pessoas em um trabalho ou relacionamento que realmente não os
representam, enquanto investem seu eu "real" em outro lugar.

Em última análise, os IFPs em conflito com impulsos de pensamento


inconscientes se encontram em um dilema porque sua função
dominante os incita a fazer as pazes - para encontrar um terreno
comum com os outros e para garantir o direito das pessoas de serem
quem são. Esses tipos podem dobrar seus esforços para ver o lado bom
das pessoas e ser caridosos em relação aos outros, mas o esforço
simplesmente perpetua situações nas quais eles não querem estar.
VOLTANDO-SE PARA A FUNÇÃO TERCIÁRIA:
Quanto mais esses tipos lutam para conformar o mundo externo ao
interno, menos contato eles têm com o caráter extrovertido de sua
Percepção. Eles começam a confiar, em vez disso, em sua função
terciária, Sensação Introvertida ou Intuição Introvertida, para obter
informações sobre a realidade.

Como vimos nos capítulos 15 e 17, a Percepção Introvertida promove


uma forte identificação com ideias e prioridades que existem além dos
pressupostos culturais predominantes. Esse tipo de identificação é
importante para tipos de Julgadores Extrovertidos, que tendem a
subordinar sua experiência imediata às expectativas dos outros. Os
tipos com sentimento introvertido, no entanto, já acreditam que estão
subordinando seu eu autêntico às expectativas dos outros. Sua função
terciária os convence de que estão absolutamente certos ao acharem
isso. O problema é a situação deles — o comportamento dos outros, as
crenças dos outros, as ideias dos outros, a falta de tolerância e
compreensão dos outros.

INFPs, que se voltam para a Sensação Introvertida, tornam-se


profundamente preocupados com o discrepâncias entre sua
experiência própria e as expectativas dos outros em relação a eles. Eles
podem literalmente evitar situações que os forçam a se comprometer,
estreitando seu mundo perceptivo às pessoas e experiências que os
fazem se sentir "como eles próprios".

ISFPs, cuja função terciária é a Intuição Introvertida, são mais


propensos a seguir um estilo de vida alternativo, tentando incorporar
nele suas críticas sociais. Às vezes, os INFPs também fazem isso, mas
não antecipam o conflito que isso gerará em suas vidas. Um ministro
INFP, por exemplo, passou grande parte de seu tempo pregando as
virtudes do vegetarianismo para uma congregação criada à base de
carne e batatas, bastante certo de sua moral, e ficou chocado quando
foi demitido porque os membros da igreja não confiavam nele para
cuidar de seus problemas domésticos e espirituais.

Deve-se enfatizar que muitos IFPs estão envolvidos em questões de


justiça social e trabalham arduamente para tornar os sistemas gerais
mais compatíveis com os valores humanos. Alguns optam pelo
pacifismo ou por manter, como o exemplo do ministro INFP, uma
alimentação em harmonia com seus valores. Essas são escolhas
honrosas e não estou sugerindo que não devam ser feitas ou que
fazê-las seja uma indicação de um problema. Meu ponto é que os IFPs
que fazem essas escolhas sob a influência de sua função terciária o
estão fazendo defensivamente. Eles transformaram seus valores em
um sistema de classificação do cérebro esquerdo que lhes permite
categorizar outras pessoas como boas ou más e acabando definindo
suas experiências por meio disso, antes que elas realmente
experienciem.

DESENVOLVENDO A FUNÇÃO SECUNDÁRIA:


Quero compartilhar uma história aqui porque ela se concentra na
questão de definir a experiência antes de tê-la.

Em algum momento nos meados dos anos 70, quando estava


apaixonadamente interessada na filosofia sufi, fui a uma conferência
sobre novos métodos de educação. Acho que foi “educação para o lado
direito do cérebro”. Fui porque vários apresentadores eram
pensadores sufis, um deles um homem chamado Idries Shah, cujos
livros eu gostava. Fiquei tão animada em ver Idries Shah pessoalmente
que convidei vários amigos para ouvi-lo na conferência.

Acontece que sua apresentação foi a última antes do almoço, e as


pessoas já estavam um pouco inquietas. Ele foi apresentado com
grande alarde e fiquei realmente surpreso ao vê-lo subir ao pódio. Ele
estava inquieto e um pouco irritado, e parecia terrivelmente
despreparado. Ele mal conseguia terminar uma frase sem gaguejar e
limpar a garganta e começar de novo. Todos nós nos entreolhamos.
Ele era terrível! Ele fez bainhas, pigarreou, fez várias piadas grosseiras
e parecia aborrecido por estar ali. As pessoas começaram a sair.
Também pensei em sair, mas tinha tanto respeito pelos livros do
homem que não queria abandoná-lo. No entanto, eu estava
definitivamente desconfortável e envergonhado, porque disse aos
meus amigos o quão especial ele era.

Bem, dez minutos depois do início da apresentação, a audiência havia


diminuído de quinhentas para cerca de cinquenta pessoas espalhadas
por todo o auditório. O Dr. Shah olhou em volta, satisfeito, e então
pediu aos poucos de nós que viéssemos e sentássemos juntos. Não me
lembro mais exatamente do que ele disse, mas foi mais ou menos
assim:

“Você está aqui porque está interessado em tipos alternativos de educação.


Uma das coisas que impedem a mudança de um sistema são as
expectativas que as pessoas trazem consigo. As pessoas que saíram ficaram
desapontadas porque eu não correspondi às suas expectativas como
professor. Você, que pôs de lado seus preconceitos e me deu uma chance,
são as pessoas com quem quero falar.”

Bem, não vou dizer que o homem depois disso se tornou o melhor
orador que já ouvi. Isso não aconteceu. Mas ele acabou se revelando
um excelente professor. E o que ele fez — frustrar as expectativas das
pessoas que queriam que ele confirmasse o que elas já pensavam —
explicou muito do que eu vi em outros professores sufis que pareciam
deliberadamente desapontar seus seguidores para mostrar a eles
como suas expectativas estavam os impedindo de ter a experiência
real.
Lembro-me de um professor que escandalizou as pessoas em um
retiro de fim de semana assando um porco e convidando todos para
comer e beber com ele. Muitos de seus seguidores mais leais voltaram
para casa furiosos porque esperavam dois dias de jejum, orações e
cânticos. O homem estava nos mostrando como um relacionamento
com Deus transcende nosso investimento na forma externa, mesmo
que essa forma externa seja boa e adequada.

O argumento do Dr. Shah pode ajudar os IFPs a entender o que está em


jogo no cultivo de sua função secundária. Quando eles resistem a uma
experiência antes de realmente vivê-la, a vida não pode mais
ensiná-los por meio da surpresa. Eles estão deixando de lado suas
habilidades mais fortes. IFPs bem desenvolvidos estão tão presentes
em sua situação imediata que parecem totalmente pessoas sem
expectativas. Eles sabem que os valores incondicionais são
verdadeiramente incondicionais, por isso não têm motivos para fazer
previsões sobre como uma experiência atenderá ou não às suas
necessidades. Este estado de espírito não cega os IFPs para a realidade
objetiva; na verdade, abre seus olhos para ela. Diz a eles exatamente o
que é importante e exatamente o que não é.

Na verdade, os IFPs às vezes resistem à sua função secundária porque


lhes ocorre que aceitar a realidade pelo que ela é os tornará comuns.
Eles querem lutar pelo bem, fazer a diferença. Um episódio clássico de
Mash fala comoventemente sobre essa questão. Como na maioria das
histórias que tratam do Sentimento Introvertido, o mundo retratado é
imprevisível, e o sistema regente inadequado para aliviar a dor e
sofrimento comum:

É época de Natal, os médicos estão desmoralizados, os pacientes


mutilados e morrendo, e o Padre Mulcahy se sente totalmente
ineficaz. Ele não é médico; ele não pode salvar a vida de
ninguém. Ninguém está pedindo conselhos a ele; seu
confessionário está vazio, seus serviços não são buscados pelos
outros. Tudo o que ele pode fazer é dar às pessoas os seus
últimos momentos por meio de palavras religiosas.

Na véspera de Natal, no entanto, ele percebe que é sua


generosidade consistente em um mundo enlouquecido que
mantém os outros em movimento e lhes dá fé em uma ordem
moral superior.

Os IFPs precisam entender as mitologias sensoriais ao seu redor e


reconhecer que, quando um sistema social não está fazendo o
suficiente, ser exatamente quem eles são pode transformar vidas.
Como o padre Mulcahy naquele clássico episódio de Mash, os IFPs
nem sempre são vistos como heróicos, mas os efeitos cumulativos de
suas ações realizam coisas extraordinárias. IFPs bem desenvolvidos
estão em casa consigo mesmos, em harmonia com a vida e ensinam
principalmente pelo exemplo. Eles não têm que pregar; seus valores
são expressos em escolhas comuns de seu cotidiano. Na verdade, eles
são os mais compassivos dos tipos, reconhecendo que mesmo as vidas
mais miseráveis ​podem ser mudadas pela esperança e pelo apelo à
dignidade e ao valor humano.

ISFP: SENTIMENTO INTROVERTIDO/SENSAÇÃO


EXTROVERTIDA
A literatura que nos aconselha a encontrar nossa criança interior
provavelmente tem em mente a visão nova e descomplicada que os
ISFPs trazem para o seu mundo. Orientados pelo Sentimento
Introvertido e pela Sensação Extrovertida, esses tipos estão muito
presentes no aqui e agora. Naturalmente espontâneos, eles vivem
como se cada experiência fosse descoberta recentemente e seu
objetivo principal fosse estar em harmonia com ela. Esses tipos
entendem a realidade externa por meio de habilidades sensoriais tão
bem ajustadas que provavelmente têm uma forte identificação com a
natureza.

Pode-se dar como exemplo todos aqueles heróis do cinema


enganosamente descontraídos que fazem suas reivindicações
invadindo um laboratório científico e soltando os chimpanzés ou
conduzindo os cavalos para fora do curral e vendo-os trovejar de volta
para a selva.
Quase todos os ISFPs têm um dom especial para se comunicar com
crianças e animais, e também podem ter um talento natural para
cuidar de plantas e da natureza. Esses tipos são frequentemente
atraídos para especialidades médicas, onde sua capacidade perceptiva
tem aplicação prática, e para o trabalho veterinário, onde tal
capacidade é imperativa. Os animais às vezes escondem a dor e a
doença, porque os sinais de fraqueza os tornam vulneráveis ​aos
predadores, mas os ISFPs parecem saber o que procurar e tratam todas
as criaturas com respeito por sua dignidade.

Tal natureza incondicional pode ser ilustrada por um ISFP conhecido


meu que “adotou” um filhote gerado por computador. Quando um
amigo lhe pediu para esguichar a criatura com água virtual de um
borrifador que veio com o programa, ela ficou horrorizada. "Como eu
posso fazer isso?" ela perguntou. “O bichinho está tão feliz!”.

Sempre que essa sensibilidade entra em jogo na arena social, os ISFPs


sentem que têm um senso de missão. Eles podem, por exemplo, optar
por um estilo de vida pacifista, vegetariano ou anticrueldade, ou
oferecer seus serviços a movimentos como o Greenpeace e a Anistia
Internacional. Como outros tipos que usam o Sensação para lidar com
o mundo exterior, os ISFPs aprendem por experiência e precisam de
contato prático para saber algo bem.

Ao contrário dos Sensores Extrovertidos, no entanto, eles não


requerem novidade perceptual para permanecerem interessados ​em
algo. Quando seu julgamento é acionado, os ISFPs são focados,
contidos e quase imparáveis. Quer sejam atletas, artistas, paramédicos
ou enfermeiras, quer façam música ou cuidem de animais, esses tipos
tendem a considerar seu trabalho mais uma vocação do que uma
profissão. Na verdade, o envolvimento deles não tem nada em comum
com o julgamento orientado a objetivos dos ESJs. Os ISFPs não pensam
em termos de imposições e requisitos objetivos. Eles pensam em
termos de valores — o que é certo na situação em questão. Eles
perdem a visão de si mesmos como objetos, correndo para onde os
anjos temem pisar.

Conheci um ISFP que trabalhava em um programa comunitário,


localizando recursos para pessoas que normalmente viviam em
caixas, túneis e debaixo de pontes. Depois do trabalho, ele saía
sozinho tentando encontrar pessoas que abandonaram o programa,
para persuadi-los a voltar. Ele frequentemente acabava em situações
perigosas, mas isso nunca o deixou mais cauteloso. A vulnerabilidade
dessas pessoas parecia-lhe mais importante do que sua segurança
emocional e física.

Os ISFPs costumam ser assim em uma atividade que realmente os


captura. Eles não estão tentando "ir além". É quem eles são. Na
verdade, a falta de limites objetivos geralmente os impede de usar
suas habilidades como freelancers, da mesma forma que seus parentes
ISTP fazem. Os artistas ISFP, por exemplo, tendem a buscar apoio
contínuo nas suas atividades — na forma de doações, contribuições,
oportunidades de atuação e assim por diante. Esses tipos não querem
pensar muito sobre as condições objetivas de seu emprego. Eles
querem um espaço que lhes permita fazer o que se sentem chamados a
fazer.

Pode-se notar, a este respeito, Fox Mulder, de The X-Files, que


gradualmente se transformou (com o sucesso do programa) de um
INTJ obsessivo para um herói folk ISP peripatético, que passa quase
todo o seu tempo ao ar livre, investindo a si mesmo nos casos que
surgem, feliz em evitar os limites da instituição que fornece seus
meios objetivos. Além disso, sua parceira, a hiper-racional Scully,
agora o serve menos como um contraponto analítico do que como uma
protetora frustrada, aconselhando-o sobre suas opções burocráticas e
aquilo que ele devia seguir.

Os ISFPs tendem a atrair Pensadores Extrovertidos, cuja ancoragem


no mundo dos sistemas estabelecidos mantém o tipo ciente das suas
responsabilidades objetivas. Os ISFPs não buscam tanto esse tipo de
relacionamento, apenas deixam que essa relação “aconteça” com eles,
deixando o investimento na estabilidade material e aquisição às
estruturas nas mãos de outrem, sem atribuir-lhes uma importância
muito maior.

Embora os ISFPs sejam calorosos, generosos e desenvolvam conexões


profundas com as pessoas, eles têm certa resistência ao apego por si
só. Pode-se dar como exemplo Zoe, a filha de vinte e poucos anos na
comédia Cybil. Zoe é retratada como um prodígio musical ISFP,
romanticamente atraída por um jovem muito parecido com ela.
Reconhecendo o valor do relacionamento, os dois concordaram em
manter a conexão platônica, para que as repercussões sociais do
envolvimento sexual não os privassem do imediatismo e dos ritmos
naturais da vida conforme ela acontece. Todos os ISFPs não são assim,
é claro, mas a imagem capta o cuidado do tipo com relação à
propriedade e posse material.

Enquanto os ISTPs consideram uma ferramenta, pincel ou


instrumento como uma extensão de seu corpo, os ISFPs são como
aqueles músicos de rock que quebram seus instrumentos no final de
uma apresentação. Eles querem ver através dos objetos que atendem
aos seus talentos e ambições, querem se perder no próprio ato
criativo.

Os ISFPs até assumirão disciplinas destinadas a libertá-los da


dependência material, mas isso é um pouco ineficaz e desnecessário.
Eles são mais propensos a abdicar da responsabilidade por sua
situação objetiva do que a serem presos pelo que possuem. Na
verdade, os ISFPs são mais propensos a se sentir atolados por posses e
restrições materiais quando são muito dependentes de sua função
dominante.

Sua função inferior, Pensamento Extrovertido, está muito longe de


seus objetivos e metas conscientes. Sempre que se deparam com uma
situação que não pode ser resolvida com suas habilidades dominantes,
o Pensamento Extrovertido exerce uma forte influência inconsciente
sobre eles, e eles perdem o contato com seu senso de valores.

Este é o curso normal das coisas quando uma função primária é muito
forte. A psique nos afasta de nossos comportamentos habituais,
dando-nos espaço para desenvolver mais do nosso potencial.

Como outros tipos, no entanto, os ISFPs não reconhecem seus


impulsos de pensamento como parte de si mesmos. Eles
simplesmente sentem que estão perdendo o contato com seu Eu mais
profundo, e a única maneira de saberem como resolver o problema é
rejeitando as reivindicações de qualquer coisa que não apoie esse
contato com o interior.

Por exemplo, ISFPs que ingressam em uma organização espiritual


para nutrir uma vida contemplativa podem ficar chocados ao
descobrir que a contenção estrutural não tem relação direta com suas
aspirações. Seus valores estão sendo padronizados e direcionados, em
vez de nutridos.

Uma vez que esses tipos definem o problema dessa forma, eles não
sabem o que fazer. O caráter do lado direito do cérebro de seus
objetivos de sentimento sugere uma vida vivida em rendição a sua
missão ou compromisso, mas eles não têm certeza de como fazer isso
acontecer por conta própria. Assim, a frustração empurra
gradualmente os ISFPs a usar sua função secundária defensivamente,
para afirmar sua liberdade existencial.

Sua devoção a uma vocação torna-se paralela a uma necessidade


igualmente forte de provar que seu eu objetivo não é importante. Essa
necessidade não resulta necessariamente em um estilo de vida que
prejudicial, embora possa. Esses tipos podem simplesmente fazer o
que for preciso para permanecer cientes da sua força criativa interna
— sem pensar muito nas consequências lógicas.

A imagem que esses ISFPs constroem tem um pouco de ressonância


com a cultura pop, e esses tipos podem adquirir o que pode ser
chamado de um trágico senso “descolado”.

É irônico, portanto, que o que eles realmente precisam é de mais


contato com seu lado Sensorial Extrovertido - não para se defenderem
de objetivos inferiores, mas para equilibrar suas necessidades
primárias com suas circunstâncias reais. Quando os ISFPs não obtêm
desenvolvimento sensorial suficiente, eles acabam usando a Intuição
Introvertida, sua função terciária, para manter sua autoimagem
dominante intacta. Na maioria das circunstâncias, a intuição
introvertida mantém os ISFPs bem preparados. Isso os ajuda a
reconhecer que sua maneira de ver a realidade é importante e real —
mesmo quando eles não conseguem encontrar uma maneira de
expressá-la. Usada como uma defesa contra os impulsos de
pensamento, no entanto, a Intuição Introvertida simplesmente
aumenta a resistência do ISFP à influência dos outros sobre eles.

Em um dos episódios de Arquivo X, por exemplo, Scully pergunta a


Mulder: “Você já pensou em morrer?” "Sim", diz ele, "Uma vez,
quando eu estava numa apresentação teatral com patinação no gelo."

Os ISFPs que estão tentando resistir às reivindicações dos outros sobre


eles são quase sempre defensivos dessa forma inversa, acreditando
que os outros apenas se apropriarão de seus sentimentos mais
profundos para seus próprios propósitos. Esses tipos podem acabar se
sentindo como Kevin McCarthy em Invasion of the Body Snatchers,
diante de duas escolhas ruins: eles podem ir dormir, deixar os pods
assumirem o controle e acordar feliz por ser programado, ou pode
lutar para permanecer acordado e passar o resto de suas vidas
resistindo à cooptação.

Quando os ISFPs desenvolvem Sensação Extrovertida suficiente, isso


os leva a se desmantelar do típico dilema “ou é isso ou é aquilo”. Eles
começam a ver que seu potencial interno dita responsabilidades
externas.

Uma imagem que me foi dada pela Dra. Ann Ulanov, uma analista
junguiana, aborda essa situação de uma maneira interessante. Ela
disse que se você vive em contato próximo com o seu mundo interior,
é como viver à beira-mar. Você pode ficar inundado, a menos que
consiga construir uma estrutura que atenda às suas necessidades. Seu
primeiro instinto, no entanto, é construir o tipo de casa em que os
habitantes da cidade vivem, porque esse é o tipo de abrigo que outros
irão ajudá-lo a construir. Esse é exatamente o tipo de casa que ficará
arruinada quando a maré subir. Por um tempo, você pensa: “Eu
deveria ter construído uma casa geminada melhor”. Mas,
gradualmente, você rejeita o conselho dos outros e vive sem estrutura.
Por que não construir o tipo de casa que atenderá às suas necessidades
reais? Construa o tipo de casa que os pescadores constroem, uma casa
pela qual a água possa passar sem derrubá-la. E quando aparecerem
visitantes, avise-os para não calçarem os seus melhores sapatos, pois
podem ficar com os pés úmidos durante o jantar. Esta é realmente a
principal tarefa dos ISFPs: reconhecer sua necessidade, por assim
dizer, de viver à beira-mar de seu mundo interior.

Sua função secundária os ajuda a construir uma vida para si mesmos


que honre seus dons e vocações genuínas. Não os impele a rejeitar
tudo o que já têm e sabem. Isso os leva a reconhecer seu propósito de
estar vivo e a encontrar seu próprio caminho. ISFPs bem
desenvolvidos vivem, por assim dizer, entre o mar e a cidade, fazendo
o que precisam fazer. Em consequência, suas criações, suas escolhas,
seu jeito de ser podem lembrar as pessoas de coisas importantes que a
comunidade esqueceu.

INFP: SENTIMENTO INTROVERTIDO/INTUIÇÃO


EXTROVERTIDA
INFPs são o tipo de pessoa que as pessoas dizem: “As águas mais
paradas são também profundas”.

Orientados por Sentimento Introvertido e Intuição Extrovertida, eles


são altamente idealistas e tolerantes com as escolhas dos outros.
Embora o Sentimento sempre determine uma forma de idealismo, os
valores determinados pelo Sentimento Introvertido são diferentes
daqueles do Sentimento Extrovertido. O Sentimento Extrovertido
preside os valores sociais — ideias atuais sobre como os
relacionamentos na comunidade são mais bem conduzidos. O
sentimento introvertido determina valores subjetivos — convicções
sobre como a vida é melhor vivida. Esses valores são treinados pela
experiência direta de bons e maus comportamentos, e eles nos
influenciam internamente. Mas ao cultivarmos relacionamentos
gradualmente, nos ensina que alguns deles transcendem nossas
circunstâncias individuais, ligando-nos irrevogavelmente a outros
seres humanos.

Encontrado em apenas 1% da população, o entendimento da realidade


de um INFP é quase como aquele descrito pelos místicos, que
acreditam que a energia espiritual desce à terra por meio de ideais
eternos — padrões estruturais que trazem ordem ao caos material. Ao
alinhar seus comportamentos com esses ideais, os místicos podem,
presumivelmente, harmonizar a vida com seu potencial divino. Os
INFPs podem não descrever sua abordagem da vida em termos
metafísicos, mas é um raro um INFP que não vê nas sugestões de
padrões subjacentes da natureza um propósito maior. Quer escrevam,
ensinem, cultivem, conduzam pesquisas, façam arte ou devotem suas
vidas ao serviço espiritual, seu trabalho se torna a agência por meio da
qual eles podem alcançar aquelas "profundezas e céus distantes" em
que tais "simetrias assustadoras" são enquadradas.

INFPs querem experienciar união com suas circunstâncias reais, mas a


intuição os impede de satisfazer esse desejo como fazem os ISFPs,
perdendo-se em uma atividade física. A intuição não força os INFPs a
agir. Ela os leva a interpretar: a ver o potencial de seus pensamentos e
comportamentos em termos de seus ideais.

Como seus ideais são holísticos, os INFPs se sentem responsáveis ​não


apenas por suas ações, mas também por seu desejo de agir, e têm uma
ideia quase cármica de equilíbrio. Se eles traem seus ideais por atos ou
sentimentos quaisquer, eles tentam fazer uma restituição deles.
Quando coisas boas acontecem, eles podem acabar se preocupando em
“pagar um preço”.

É instrutivo comparar esses tipos com ENFPs, que compartilham as


mesmas duas funções, mas entendem a vida de maneiras muito
diferentes. ENFPs confiam na intuição para avaliar a natureza de um
contexto externo e no sentimento para reconhecer os valores das
pessoas nele. A melhor ilustração de como isso funciona é a
capacidade incomparável do presidente Clinton de se identificar com o
público e simpatizar com suas aspirações. Os ENFPs geralmente
acreditam que as pessoas reconhecerão suas boas intenções, mesmo
que seus comportamentos sejam insuficientes. INFPs abordam a
realidade pelo contrário. O Sentimento Introvertido os estimula a
manter valores humanos incondicionais e eles usam a intuição para
descobrir o que isso significa em termos de seu contexto existencial.
Questionado sobre se ele já teve um caso extraconjugal, o presidente
Jimmy Carter disse que não, mas admitiu que havia experimentado
“luxúria em seu coração”. Esta é uma perspectiva INFP quintessencial.
Esses tipos se sentem responsáveis ​por suas intenções ocultas, mesmo
que seus comportamentos excedam as expectativas das pessoas.

Dado seu foco no que significa ser humano, os INFPs nem sempre são
fáceis de reconhecer como tipos. Seus comportamentos externos
variam amplamente. Alguns são reservados e preferem conversas
individuais, mas um número surpreendente de INFPs gosta de se
apresentar e podem ser cantores, atores e comediantes. Em todos os
casos, entretanto, os INFPs precisam de um bom tempo para si
próprios. Embora eles se identifiquem fortemente com expressões de
alegria, tristeza, dor e vulnerabilidade nos outros e respondam com
compaixão às pessoas que precisam deles, eles são acessíveis apenas
até certo ponto. Uma vez que esse ponto seja alcançado, eles
realmente esgotam sua energia social e precisam se recuperar. É fácil
interpretar mal os INFPs a este respeito, porque eles se relacionam
com os outros da mesma maneira discreta e tranquila que caracteriza
os ISFPs.

Eles costumam ser irônicos e, se se sentirem confortáveis,


contribuirão com um padrão contínuo de observações perspicazes.
Assim, surpreende as pessoas quando o INFP desacelera
abruptamente e quer ficar sozinho. Além disso, esses tipos são
ouvintes solidários, genuinamente interessados ​no que os outros
fazem e acreditam, o que encoraja as pessoas a antecipar um
relacionamento mais extenso do que o INFP pode ter desejado
inicialmente.

Até que reconheçam o que está acontecendo, os INFPs podem ser


constantemente obrigados a se libertar de situações em que entraram
simplesmente em virtude do calor e da boa vontade. Na mesma linha,
esses tipos têm elevados ideais românticos e expressam esse aspecto
de sua personalidade de maneira um tanto provisória. Isso pode levar
as pessoas a acreditar que eles são tímidos ou que não estão
interessados em intimidade física. Na realidade, os INFPs anseiam
pela conexão de mente, corpo e espírito e imaginam um parceiro que
possa apreciar a natureza de seu mundo interior e dar-lhes acesso a
ele em termos sexuais. No entanto, como todos os tipos P, eles não
querem definir metas para seus relacionamentos; eles querem que
coisas boas aconteçam naturalmente, para deixar a situação
desenrolar como ela naturalmente existe. Além disso, suas habilidades
intuitivas afinadas os levam a acreditar que a pessoa certa veria
através de todo o absurdo superficial até o potencial incipiente
interior, ler em sua linguagem corporal, seus gostos musicais, as
imagens que os movem, o significado subjacente de suas palavras.
Essa imagem ideal também é consequência de seu ponto de vista
holístico. Os INFPs têm dificuldade em articular quem são por dentro e
continuam esperando que a situação objetiva lhes dê pontos de
referência suficientes para se expressarem de uma forma que pareça
verdadeira e correta. Na verdade, os INFPs podem ter dificuldade em
descobrir no que são chamados a fazer na vida.

Ao contrário dos extrovertidos, cuja autoimagem primária está ligada


a seus comportamentos externos, os INFPs podem obter sua
experiência própria apenas quando ela conflita com suas escolhas
externas. Mesmo aqueles INFPs que se conectaram a uma carreira que
lhes permite fazer algo significativo e bom podem não ter certeza de
que estão fazendo o suficiente. Eles ficam incomodados com a
impressão de que algo mais deve acontecer, algo que lhes dirá o que
realmente devem fazer. Al Capp, por exemplo, costumava desenhar
uma caricatura chamada Long Sam, em que uma mulher grisalha e
fumante da montanha distribuía sabedoria sobre a vida, adquirida por
meio de duros momentos. Quando se tratava de valores humanos, no
entanto, tudo o que ela podia dizer era: “Ser legal é melhor — porque
é melhor.”

Os INFPs podem se ver na posição de dizer algo muito parecido


quando tentam articular o que acreditam e por quê. Seus valores não
têm pontos de referência previsíveis na lei e nas convenções sociais.
Eles vão direto ao cerne da questão.

Para atualizar suas certezas e ideais, os INFPs geralmente encontram


um lugar para si no sistema social vigente que lhes permite focar no
potencial humano. Mas, dado o fato de que seus valores são mais
fundamentais do que as prioridades institucionais, eles estão
constantemente frustrados com o tempo e a energia que gastam na
manutenção estrutural — o "complexo de edifícios" da sociedade.
Então, eles se encontram em um dilema. Porque, além de trabalhos
desse tipo, eles não têm uma ideia clara do que significaria agir de
acordo com seus valores. O caráter do lado direito do cérebro de seus
objetivos de sentimento sugere uma vida vivida em peregrinação, livre
de apegos objetivos — até mesmo a sensação de estar em casa. E
alguns INFPs dão, de fato, suas vidas para o trabalho missionário ou o
sacerdócio ou uma comunidade espiritual. Mas a maioria dos INFPs,
no momento em que estão lutando com esta questão, estabeleceram
uma casa e família e/ou um lugar para si próprios na comunidade, e
eles não estão inclinados a machucar as pessoas que amam por causa
de um ideal que eles não conseguem definir. Assim, a frustração
empurra gradualmente os INFPs a usar sua intuição defensivamente,
para proteger o que parece ser seu "verdadeiro eu” contra a situação
externa imperfeita em que estão vivendo. Eles também se sentem
culpados por isso; porque pensam que devem ficar satisfeitos com o
que é, afinal, um curso de vida perfeitamente decente.

INFPs que confiam em sua intuição dessa maneira geralmente seguem


uma de duas direções. Ou eles se tornam buscadores permanentes —
bons em muitas coisas, mas não inclinados a ficar em qualquer uma
por muito tempo — ou se tornam um tanto passivos, incapazes de
articular o que querem, mas insatisfeitos com o que estão fazendo.
Esses últimos tipos geralmente sentem que não têm iniciativa
suficiente, mas não conseguem realizar muito além das rotinas e
expectativas estruturais dos outros. Deixados por conta própria, eles
tendem a procrastinar ou fazer tarefas desnecessárias para evitar as
mais importantes. Quando os INFPs gastam a maior parte de sua
energia protegendo seu reino interno do apego a uma situação externa
imperfeita, sua função menos desenvolvida, o Pensamento
Extrovertido, não fica muito consciente. Esses tipos geralmente são
excelentes no gerenciamento de tempo e recursos para os outros, mas
têm mais dificuldade em estruturar e organizar suas próprias vidas.
Na verdade, eles podem se envolver romanticamente com um tipo J
forte, que pode ancorá-los ao mundo objetivo, mas não pode fornecer
o que eles realmente desejam: algo para puxá-los para a superfície de
sua própria personalidade.
INFPs precisam usar sua intuição de uma forma genuinamente
extrovertida. Eles estão acostumados a usar a intuição para descobrir
como lidar com um contexto existente; eles precisam aplicá-lo, em
vez disso, à tarefa de definir como seria uma situação objetivamente
boa. Isso não é fácil para os INFPs fazerem. Quando param de usar a
intuição para se defender, seu primeiro instinto é afirmar a
importância de seus objetivos de sentimento. Eles desafiam as
pessoas, questionam os aspectos da situação que lhes parecem
problemáticos. Isso "parece" um comportamento extrovertido, mas
não é. A extroversão nos leva a dar como certo o mundo objetivo. É a
introversão que se esforça para adaptar a situação objetiva a si mesma.
Enquanto isso, a extroversão que esses tipos realmente exigem se
torna clandestina. O Pensamento Extrovertido torna-se tão
profundamente inconsciente que os inunda com impulsos
diretamente opostos aos seus objetivos de sentimento.

Como todos os tipos, os INFPs não reconhecem essa pressão interna


como uma oportunidade de crescimento. Eles sentem a influência de
sua função de Pensamento, mas a confundem com um problema
externo. Eles se sentem cada vez mais frustrados e encurralados,
falsos em relação ao seu verdadeiro eu, e têm certeza de que a razão é
seu espírito complacente. Assim, voltam a usar a Intuição Extrovertida
como defesa, mas de forma mais agressiva, porque as apostas são
maiores. Eles decidem lutar contra algumas das coisas que os estão
restringindo. INFPs não gostam de conflito, então sua rebelião é
frequentemente sutil e passiva-agressiva na forma. Eles arrastam os
pés quando alguém os pressiona a fazer algo que eles não querem
fazer, às vezes até que a pessoa desista, ou eles dizem que “sim” as
pessoas, e então fazem o que bem quiserem. Nada disso ajuda os
INFPs a encontrar sua própria verdade; na verdade, afasta-os da
busca, concentrando sua atenção em todas as coisas erradas. Pode-se
considerar, a esse respeito, os personagens do filme The Big Chill,
amigos dos anos 60 que se reúnem vinte anos depois para o funeral de
seu compatriota Harold. Harold havia sido um modelo para eles, um
espírito livre guiado inteiramente pelos ideais do Sentimento
Introvertido. Seu suicídio os faz perceber o quão longe as escolhas
subsequentes os afastaram dos valores que Harold inspirou.
Assim, cada um deles tenta provar que não estão presos aos papéis
sociais que parecem defini-los: a advogada solteira decide engravidar;
o rei da franquia de luxo dá a seus amigos informações ilegais sobre
ações; a matrona da sociedade tem um caso extraconjugal.

INFPs sob a influência do Pensamento Extrovertido não são diferentes


desses personagens. Eles são autoconscientes, em vez de idealistas.
Suas ações não são guiadas por um código interno, levando-os à ação
positiva, mas pela necessidade de se defenderem das prioridades dos
outros. Na verdade, esses tipos geralmente descobrem que ignorar as
expectativas dos outros não lhes dá proteção suficiente, e eles se
voltam para a Sensação Introvertida, sua função terciária, para manter
seus valores de sentimento intactos. Eles literalmente evitam
situações que não estão de acordo com sua autoexperiência primária,
abandonando relacionamentos em vez de vivenciar conflitos internos.
Ironicamente, quanto mais inconsciente o Pensamento Extrovertido
se torna, mais os INFPs chamam a atenção para si mesmos em sua
tentativa de manter seu ambiente compatível com seus valores. Suas
preferências objetivas tornam-se idiossincráticas, forçando os outros
a acomodações incomuns para se relacionarem com eles.

Por projetarem seus impulsos STJ nas estruturas impessoais da


sociedade, sentem-se moralmente justificados. O que eles podem
fazer para mudar todo um sistema? O importante é ser verdadeiro
consigo mesmo; outros têm que assumir a responsabilidade por suas
próprias escolhas. Deve-se enfatizar que os INFPs não estão errados
sobre isso. Eles precisam ser “fiéis a si mesmos”. No entanto, a
sensação introvertida não os ajuda a fazer isso. Isso os mantém presos
às coisas como elas são. Transforma seus ideais em um sistema de
valores externo que definem algumas situações como adequadas às
suas necessidades e outras não, deixando-os sem escolha a não ser
ficar de fora daquelas que não os pertencem.

Quando INFPs desenvolvem intuição suficiente, eles param de se


concentrar nas coisas como elas são e começam a ver novas
possibilidades de ação. Pode-se considerar, novamente, os
personagens de The Big Chill. Entre os que foram no funeral está uma
jovem que vivia com Harold quando ele se suicidou. Ela parece aos
velhos amigos como superficial, uma adolescente boba, incapaz de
avaliar quem Harold realmente era.

Quando os INFPs fazem contato pela primeira vez com o caráter


extrovertido de sua intuição, eles o vêem nos mesmos termos - como
uma abordagem superficial da vida, sem sentido. Convida-os a
desistir de suas expectativas, a viver em harmonia perceptiva com
tudo o que acontece. Isso os parece irresponsável. Como diz a música,
“Se você não defende algo, você se apaixonará por qualquer coisa”.
Quanto mais eles lutam com essa perspectiva, no entanto, mais eles
vêem que seus valores não têm nada a ver com seu conforto ou
desconforto em uma situação. Eles constituem uma forma de ver a
vida, uma forma de se relacionar com qualquer situação. Quando os
INFPs usam sua intuição para descobrir como tornar esse
relacionamento manifesto, eles veem que têm muitas opções para
tomar uma ação positiva. Pode-se notar que no final de The Big Chill,
um dos amigos, aquele que vinha resistindo à definição social, decide
ajudar a jovem a terminar uma casa que Harold estava construindo no
deserto. Esse é o tipo de coisa que acontece com INFPs que acordam
para a natureza holística de sua vida interior. Eles percebem que ser
responsável por seus valores não é lutar contra o que existe; é sobre
construir, reconhecer que eles podem fazer coisas, perceber que
querem fazer coisas que podem nem sequer ocorrer a outras pessoas.

Os INFPs que chegam a este ponto não ignoram os problemas da


sociedade nem traem os compromissos que já assumiram. Eles
simplesmente lidam com eles usando seus pontos fortes. Por
exemplo, um assistente social INFP que conheço, depois de muita
reflexão, deixou seu cargo para projetar uma empresa própria e única,
que ajuda outras empresas a reestruturarem suas organizações em
termos de valores humanos. Ele não se sente mais em casa no mundo,
mas está em paz consigo mesmo, trabalhando nas coisas que
realmente o movem.

Às vezes, os INFPs simplesmente precisam abrir espaço em suas vidas


para dar aos seus pontos fortes uma chance de crescer. Por exemplo,
eles podem assumir atividades criativas — escrita, composição,
design, arte: algo que lhes permite dar forma material aos seus ideais.
Às vezes, eles oferecem seus serviços ou cuidam de animais sem-teto.
Em geral, no entanto, INFPs bem desenvolvidos vivem vidas que não
parecem muito diferentes de qualquer outra pessoa. O que é diferente
é a perspectiva deles. Eles parecem ser despretensiosos, até mesmo
respeitosos, porque tratam as pessoas com amor e compaixão
incondicional. Em consequência, suas ações, suas escolhas, seu modo
de vida podem despertar outras pessoas para valores humanos que a
comunidade geralmente não reconhece.

Original: Personality Type: An Owner's


Manual: A Practical Guide to Understanding
Yourself and Others Through Typology,
Lenore Thomson
Tradução: @mbtilogia

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