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Biblioteca Nacional de Portugal – Catalogação na Publicação
Prefácio ............................................................................................................. 7
PARTE I. INTRODUÇÃO
Capítulo 6 – Os riscos para a saúde humana causados pelo frio nos climas
mediterrânicos – o exemplo da área portuense
Ana Monteiro, Luís Fonseca, Sara Velho, Mário Almeida .......................... 117
6 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
VARIAÇÕES E DESIGUALDADES
SOCIOTERRITORIAIS EM SAÚDE
Helena Nogueira
Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
Paula Remoaldo
Instituto de Ciências Sociais
CICS/NIGP
Universidade do Minho
Resumo
1. Introdução
Mendes, 2010 citados por Costa e Remoaldo, 2012) estão no cerne da dife-
rença. Na realidade, a relação mais próxima com os profissionais de saúde
decorre da maior facilidade de comunicação com estes e do papel da mulher
enquanto cuidadora da saúde dos filhos e ascendentes (Remoaldo e Macha-
do, 2008; Nogueira e Remoaldo, 2010; Costa e Remoaldo, 2012).
concluindo-se pela morte precoce dos indivíduos residentes nas áreas mais
carenciadas (Fukuda, et al., 2004); na Suécia, verificou-se uma estreita
associação positiva entre a taxa de incidência da doença cardíaca coronária e
o nível de privação das áreas de residência (Sundquist, et al., 2004); em
Glasgow, na Escócia, verificou-se que os residentes em áreas de maior
privação têm uma esperança de vida cerca de 12 anos menor do que aqueles
que residem nas áreas mais prósperas (Marmot, 2006). Para a mesma cidade,
Navarro refere que a diferença na esperança de vida entre um indivíduo do
topo e outro da base da hierarquia social – um operário não qualificado e um
empresário no escalão mais elevado de rendimentos – é de 28 anos (Navarro,
2009).
Em Portugal, ainda nos anos oitenta, Santos Lucas (1987) revelou a
existência de marcadas diferenças na mortalidade e na morbilidade em
função da ocupação. Na década seguinte, Giraldes verificou que os indiví-
duos com profissões manuais, e de baixo estatuto socioeconómico, apresen-
tam valores de mortalidade que ultrapassam os registados nas profissões de
maior estatuto (quadros médios e superiores), embora este padrão apresen-
tasse algumas exceções (Giraldes, 1996). À semelhança de investigações
desenvolvidas noutros países, diversos estudos procuraram associar a priva-
ção sociomaterial dos territórios ao nível de saúde das suas populações. Para
a Área Metropolitana de Lisboa, concluiu-se pela existência de uma forte
associação entre um indicador de privação múltipla e diferentes resultados
em saúde – mortalidade prematura e estado de saúde auto-avaliado (Noguei-
ra, 2007, 2008). No caso da mortalidade prematura, verificou-se que a rela-
ção é exaustiva, sendo pois transversal a toda a hierarquia social. Para a Área
Metropolitana do Porto, Nogueira e Remoaldo (2009) apontam também a
estreita associação entre um indicador de privação socioeconómica das áreas
de residência e a mortalidade prematura da população.
Como se referiu, para além do estatuto socioeconómico, existem outros
fatores de estratificação social geradores de hierarquias sociais, nas quais a
posição é também relevante para a saúde. O sexo e a idade, por exemplo,
sendo fatores biológicos, têm um impacte previsível e inexorável na saúde.
Todavia, idade e sexo são também categorias sociais. Adolescência, meia-
-idade e velhice são categorias que definem situações sociais particulares,
nas quais os indivíduos são influenciados por determinado tipo de normas e
expetativas; as diferenças em saúde entre os sexos podem refletir diferenças
puramente biológicas, mas as circunstâncias sociais inerentes às variações
em saúde observadas entre os sexos são evidentes. Diferentes papéis sociais,
diferentes posições no mercado de trabalho e nos níveis de participação
política (Kawachi, et al., 1999; Stafford, 2005; Nogueira, 2009a, 2009b), são
apenas algumas das diferenças de género com impacte nas desigualdades em
saúde. Como foi referido anteriormente, entende-se que a expressão sexo diz
respeito sobretudo a diferenças biológicas, enquanto a palavra género abran-
Variações e desigualdades socioterritoriais em saúde 19
4. Conclusão
5. Referências
EDUCAÇÃO, PROMOÇÃO
E COMPORTAMENTOS EM SAÚDE
CAPÍTULO 2
Resumo
1. Introdução
2. O Território da Saúde
O que se quer dizer quando se fala de saúde ambiental? Pode ser a saú-
de do ambiente, e sendo assim, podemos relacionar isso à saúde de plantas e
animais e à saúde dos ecossistemas. Neste caso, saúde ambiental é a expres-
são da qualidade do ambiente que pode afetar a saúde humana.
Muitos partem da ideia de que saúde ambiental refere-se à saúde do
ambiente, pondo o foco no ambiente, considerando a degradação ambiental e
a poluição. É verdade que a saúde dos ecossistemas e a degradação ambien-
tal afeta a saúde humana, mas, este entendimento vem de um conceito restri-
to de ambiente, como meio físico-biológico-climático, que separa comple-
tamente o homem da natureza.
A WHO (2003 1) diz que saúde ambiental “(…) comprises of those as-
pects of human health, including quality of life, that are determined by
physical, chemical, biological, social, and psychosocial factors in the envi-
ronment. It also refers to the theory and practice of assessing, correcting,
controlling, and preventing those factors in the environment that can poten-
tially affect adversely the health of present and future generations.”
1 http://www.ino.searo.who.int/en/Section4/Section14.htm
34 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
3. Conclusões
4. Agradecimentos
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46 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
Resumo
1. Introdução
Até 1986, a expressão «educação para a saúde» era aquela que era utili-
zada, quer pelas equipas sanitaristas (enfermeiros e médicos, sobretudo),
quer pelos professores, e outros profissionais, que atuavam em programas de
prevenção da doença em todo o mundo.
[…] Mi madre fue la Visitadora Social que com el Dr. Vicente Dañino
organizaron a comienzos de la década del 40, lo que fuel a campaña
Antivenérea en Chile. […] Si cubrió el país de afiches que decían de todas
las maneras posibles, en que consistían las enfermidades venéreas. Se créo
en todo el país un sistema de policlínicos, donde podían ser atendidas las
personas que consultaban, que iban allá donde había una Assistente Social
que investigava discretamente la red sexual de la persona, y por supuesto
estaba el tratamiento gratuito. […] En dos anos […] bajó [mucho] el índice
de nuevos contágios. […] Como pasó así, que yo le pergunte a la mamá
como creia que ella había resultado esto. […] Un factor importante fue que
cuando una persona se saltaba una inyección, el policlínico mandaba un
Carabinero a su casa […], yo le decia no mamá no puede haber sido eso,
primero porque el Carabinero lo único que hacia era recordarle a uno. Há!
Pero el miedo, si claro, pero no había allí una acción, no había un acto
punitivo, no era una falta punible, habia outra cosa más importante, la gente
contaba de de su rede de relaciones sexuales. Y esto es interesante. Esto de
decir que me acoste com él o con ella, oye, pero por favor, esto no era
trivial contar com quien uno tiene una relación sexual imaginense en
1941/42 [….] (Maturana, 2002: 7).
Hoje, a educação para a saúde aparece muitas vezes como uma especia-
lidade dentro das ciências da educação; outras vezes, porém, os profissionais
de saúde reclamam-na como sua. A „educação para a saúde‟ refere-se pois a
50 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
uma área científica que exige uma (auto) formação interdisciplinar nem
sempre fácil de obter, dada a divisão, por vezes extremada, a que as entida-
des certificadoras da formação nesta área (sobretudo as universidades e os
institutos politécnicos) se encontram vinculados.
Tal dificuldade agrava-se, sobretudo com a abrangência de educadores
para a saúde (formais, não formais e informais) que podemos encontrar nas
sociedades humanas de todos os tempos, assunto que desenvolveremos em
breve.
Mas prende-se também com grandes mudanças concetuais que ocorre-
ram no âmbito educativo, durante o século passado, que foi o século de
expansão da educação escolar na Europa mediterrânica, abrindo-se às meni-
nas e aos filhos da classe operária, por exemplo. Não é pois de admirar que o
final desse século, e início do século XX, fossem muito dedicados à educa-
ção formal de tipo escolar. Ele iniciou-se com a “educação bancária” (Freire,
1976) mas também com a esperança trazida por autores como Maria Mon-
tessori, Célestin Freinet, John Dewey, Edouard Claparède, Faria de Vascon-
celos, Carrington da Costa, Delfim Santos, António Sérgio, e outros repre-
sentantes das Escolas Novas.
Ainda que divergindo entre si em vários aspetos, todos sublinharam du-
as dimensões: a valorização da aprendizagem não escolar e a compreensão
dos fenómenos educativos a partir da ciência. Este último era importante
para tentar desvincular a formação de pedagogos da dimensão normativa de
Filosofia, buscando-se antes uma dimensão descritiva dos fenómenos de
aprendizagem que permitisse (acreditava-se) uma educação mais eficaz.
Com os autores das Escolas Novas, foi o próprio mundo escolar que
começou a ser explicitamente confrontado com a educação não formal e
informal dos alunos; Freinet, entre outros, criou métodos inovadores originá-
rios na educação informal, tendo como propósito a revolução social, própria
do seu ideário marxista.
Foi, no entanto, sobretudo a partir da II Grande Guerra que o conceito
„Educação‟ se modificou extraordinariamente, no contexto das Conferências
Internacionais de Educação de Adultos, patrocinadas pela UNESCO. Em
1972 (Conferência de Tóquio), a educação escolar passa a ser considerada
um subsistema da educação permanente e comunitária. Desta Conferência
resultou a Declaração de Nairobi sobre Educação de Adultos (UNESCO,
1976). Nela se estabelecem vários aspetos que nos interessa ter presente: 1 –
a educação é um único processo, que se desenrola (pelo menos) desde o
nascimento até á morte das pessoas; 2 – a educação, enquanto processo
único, não se encontra ontologicamente faseada em etapas ontogénicas
diferenciadas; 3 – a educação ocorre não só em contexto formal (escolas e
centros de formação, por exemplo), mas também em contexto não formal
(associações religiosas, desportivas, por exemplo) e informal, sobretudo (a
educação familiar e entre amigos, por exemplo). Foi nesta Declaração que se
Educação para a Saúde versus Promoção da Saúde 51
3. Promoção da Saúde
1 Note-se que ele se referia à educação escolar, mas não a circunscrevendo, necessaria-
mente, apenas às crianças e jovens.
54 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
Os incontáveis GRR com que cada ser humano se pode deparar, e criar,
foram agrupados por Antonovsky em três grandes categorias: compreensibi-
lidade (comprehensibility), capacidade de gerir (manageability, usualmente
traduzido por gerenciamento) e significação (meaningfulness).
6. Conclusão
4 Por exemplo, no paradigma mecanicista, a teleologia (ou causalidade final, como lhe
chamava Aristóteles) nos sistemas físicos e nos biológicos, deixou de existir, tendo sido
apenas mantida em algumas teorias filosóficas (a Filosofia não pode ser considerada,
rigorosamente falando, uma ciência.
68 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
7. Agradecimentos
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Educação para a Saúde versus Promoção da Saúde 73
Resumo
1. Introdução
tentes. A maior parte das vezes, o ensino pré-natal surge no terceiro trimes-
tre, inserido na vertente de preparação para o parto.
Normalmente, o aumento da informação durante a gravidez contribui
para aumentar os conhecimentos e o bem-estar da mulher, evidenciando
menor ocorrência de complicações e problemas. A intervenção em grupo
pode funcionar como um suporte que permite as trocas de vivências e a
reflexão sobre as mesmas (Nascimento, 2003; Mendes, 2009). Além disso,
uma consciencialização colectiva sobre as condições de vida é resultante do
diálogo estabelecido (Mendes, 2009). Não podemos omitir que cada cidadão
[grávida] assume assim um papel inelutável de actor e de educador de
saúde, pelo que a educação se deve centrar nas disposições e capacidades
individuais e grupais, oferecendo conhecimentos, influenciando modos de
pensar, gerando ou clarificando valores, ajudando a mudar atitudes e
crenças, facilitando a aquisição de competências e produzindo mudanças de
comportamento e estilos de vida (Rodrigues, Pereira e Barroso, 2005: 19).
3. Metodologia
O primeiro impacto foi começar a chorar. (…) comecei a chorar mas era
um choro de alegria. Toda a gente perguntava porque é que eu chorava
…, Estava tão feliz … (Branca, 30 anos, unida de facto, 12º ano de escola-
ridade, 2ª gravidez).
Vivi a gravidez sempre muito ansiosa. O último mês foi o pior de todos.
São os formigueiros que aparecem durante a noite (…). Não se consegue
dormir e, depois (….) nunca mais chega a hora do nascimento. E,
durante o dia, estava sempre a pensar. Sonhava muito com o parto.
Aquela ansiedade. Se me tivessem explicado, se calhar ficaria um boca-
dinho mais sossegada (Graça, 23 anos, unida de facto, 9º ano de escolari-
dade, 1ª gravidez).
Antes, dormia apenas 5 horas por noite e agora, durmo ente 8 e 10 horas.
Estas mudanças são notáveis porque eu não costumava estar muito
tempo em casa. Temos que pensar mais no nosso filho. (Cecília, 28 anos,
casada, Licenciatura, 1ª gravidez).
(…) Sou uma pessoa que vive muito o stress. Ando sempre a correr. (…)
Agora saio de casa, ando a pé, faço piscina ao sábado à noite para
aliviar um bocadito, mas as aulas e todo este acompanhamento, ajuda-
ram-me a ficar mais calma (…) (Flávia, 22 anos, casada, 12º ano de
escolaridade, 1ª gravidez).
3. Conclusão
5. Referências
Helena Nogueira
Departamento de Geografia
CIAS
Universidade de Coimbra
Ana Lourenço
Departamento de Geografia
Universidade de Coimbra
Resumo
Este capítulo inicia-se com uma breve análise teórica sobre a evolução
sofrida pelo conceito de saúde, dado que essa evolução justifica um novo
paradigma em saúde, fundamentado nas inter-relações entre os indivíduos e os
seus lugares. Oportunidade, vulnerabilidade e risco, decorrem não apenas das
características individuais, mas também das condições de vida quotidiana.
Apresenta-se o exemplo da obesidade, cuja evolução nas últimas décadas tem
conduzido os investigadores ao conceito de ambiente obesogénico. Utilizando
dados da Organização Mundial da Saúde e dos Inquéritos Nacionais de Saúde,
termina-se com uma análise aos comportamentos dos portugueses implicados
no aumento de peso e aos níveis de obesidade observados na população,
comparando-se alguns indicadores com outros países europeus.
1. Introdução
sendo por isso mais consumidos nas áreas em que estas são mais abundantes.
Segundo Morland et al. (2002), os residentes em áreas com maior disponibi-
lidade de supermercados têm maior probabilidade de adotar uma dieta sau-
dável; o consumo de fruta e vegetais é maior entre aqueles que compram os
seus alimentos em supermercados, por comparação a quem compra em lojas
mais pequenas (lojas de conveniência), sugerindo-se a existência de uma
relação entre a disponibilidade de certos alimentos, associada a determinado
tipo de comércio alimentar, e a dieta. Nos EUA, Kwate et al. (2009) relacio-
nam a elevada prevalência de obesidade em populações Afro-Americanas ao
ambiente alimentar das suas áreas de residência, com destaque para a densi-
dade de restaurantes de “fast food. Na Holanda, Kamphuis et al. (2007),
sugerem também a existência de uma associação entre disponibilidade e
consumo de alimentos frescos (frutos e legumes).
1 Este valor ultrapassa largamente o valor médio recomendado para o consumo diário de
um adulto (2000 a 2500 kcal).
2 Em 2009/2010, segundo o Health Behaviour in Shool-aged Children Study, a Bélgica
(51,8%), Ucrânia (45,3%), França (45,5%) e Suíça (42,5%) referiram os valores
percentuais mais elevados de adolescentes a consumir uma ou mais porções de vegetais
por dia. Já os piores valores foram referidos pela Estónia (20%), Espanha (21,5%) e
Croácia (24%) (Currie, et al., 2012).
Ambiente, comportamentos e obesidade na população portuguesa 101
masculino e de 54,8% no sexo feminino, tendo sido neste último grupo que
se registaram as formas de obesidade mais severas. Em 1990, baseado nos
registos da inspeção militar de 1983, Cardoso e Vieira (1990) mostram que
10% dos mancebos portugueses com 20 anos são obesos. Num estudo reali-
zado com base nos registos das inspeções militares, relativos ao período de
1960/1990, Castro et al. (1998) verificam que a percentagem de jovens
obesos (IMC≥30 Kg/m2) aumentou de 0,9% para 2,9%. Por sua vez, um
estudo realizado com dados relativos ao período entre 1985 e 1998, utilizan-
do uma amostra de 741476 recrutas nascidos entre 1988 e 1979, mostrou um
aumento da prevalência de excesso de peso de 10% para 13,5% em 13 anos
de intervalo (Padez, 2000). Num estudo realizado no distrito de Setúbal no
âmbito do programa CINDI, Martins, et al., (1993) concluíram que 49,1%
dos homens e 37,7% das mulheres tinham excesso de peso e que 15,3% dos
homens e 20,3% das mulheres apresentavam obesidade. Padez (2002), com
base numa amostra de 6201 estudantes matriculados na Universidade de
Coimbra, encontrou valores de excesso de peso em 20,3% dos rapazes e
10,5% das raparigas e de obesidade de 2,7% e 1,3%, respetivamente em
rapazes e raparigas. Num estudo realizado em Portugal Continental, com
uma amostra representativa da população portuguesa entre os 18 e os 65
anos. Carmo et al. (2008) concluíram que, em 2003/2005, 34,4% das mulhe-
res e 45,2% dos homens apresentavam excesso de peso e que 13,4% das
mulheres e 15,5% dos homens apresentavam obesidade. Este estudo revela,
por outro lado, que a prevalência de excesso de peso e obesidade entre 1995/
1998 e 2003/2005 aumentou de 49,6% para 53,6% 4 (Carmo et al., 2008).
Em 2005/2006, de acordo com o Inquérito Nacional de Saúde (INSA,
2009), 15,2% da população residente em Portugal Continental com mais de
18 anos era obesa 5, sendo a prevalência de obesidade no sexo feminino
superior à verificada no sexo masculino (15,9% vs. 14,4%). Comparando os
resultados dos dois últimos Inquéritos Nacionais de Saúde, verifica-se que a
prevalência de obesidade aumentou 3,2 % nos últimos 7 anos; a Região
Norte e a Região de Lisboa e Vale do Tejo registaram os aumentos mais
acentuados (11,1% e 12,9% em 1999 para 14,9% e 16,8% em 2005, respeti-
vamente) (INSA, 2001; INSA, 2009).
Ao analisar a prevalência de obesidade em 2005/2006 desagregada se-
gundo as cinco regiões plano, observa-se a existência de diferenças geográfi-
cas relevantes, com a região do Alentejo (15,5%) e Lisboa e Vale do Tejo
(16,8%) a registar a maior proporção de obesos, em oposição ao Algarve
(12,0%) (Figura 8) (INSA, 2009).
4 Estes dados sugerem que, apesar de a obesidade ter sido identificada como um
problema de saúde pública há uma década atrás, os esforços desenvolvidos até à data
não surtiram grandes efeitos.
5 No inquérito referido foram consideradas obesas todas as pessoas com um
IMC≥30Kg/m2 (INS, 2005/2006).
Ambiente, comportamentos e obesidade na população portuguesa 107
Portugal não ocupa um lugar muito diferente no que diz respeito à pre-
valência de excesso de peso e obesidade infantil indicada pelos outros paí-
ses, apesar dos estudos representativos nesta área serem escassos 6. Um
estudo realizado por Padez et al. (2004), com uma amostra representativa
nacional de crianças dos 7 aos 9 anos, revelou que 20,3% das crianças portu-
guesas têm excesso de peso e que 11,3% são obesas. No distrito de Coimbra,
num estudo realizado com crianças entre os 3 e os 5 anos, foram calculadas
prevalências de excesso de peso de 17% e de obesidade de 6,7%, superiores
no sexo feminino (Rito, 2006). Outro estudo realizado com crianças entre os
5 e os 10 anos, matriculadas em escolas do ensino público da área de abran-
gência do Centro de Saúde Norton de Matos, em Coimbra, evidenciou
prevalências de excesso de peso de 14,3% no sexo feminino e 13,3% no sexo
masculino (Cordeiro et al., 2007). Esse mesmo estudo conclui que a preva-
lência de obesidade no sexo feminino era de 11,5% e no sexo masculino de
11,4%. Num estudo mais recente, Rito et al. (2012) revelam que 17,6% das
crianças portuguesas dos 6 aos 9 anos apresentam pré-obesidade e que
14,5% são obesas. Verifica-se, ainda, que os rapazes apresentam valores
6 Em Malta, num estudo com crianças entre crianças e adolescentes dos 10 aos 16 anos,
foram calculadas prevalências de pré-obesidade de 25,4% e de obesidade de 7,9%
(Janssen, et al., 2005). Um estudo realizado na Grécia, envolvendo crianças com idades
compreendidas entre os 6 e os 10 anos, revelou que 25,3% tinham pré-obesidade e
5,6% eram obesas (Krassas, et al., 2001). Na Itália, Lazzeri, et al., (2008) verificaram
que 33,4% das crianças com 9 anos eram pré-obesas e obesas.
Ambiente, comportamentos e obesidade na população portuguesa 109
4. Conclusão
4. Referências
VULNERABILIDADE, DESIGUALDADES E
RISCOS EM SAÚDE
CAPÍTULO 6
Resumo
1. Introdução
Protozoários (Protozoa)
Amor (Love)
(Helminths)
Trauma Monóxido de Carbono
(Trauma) (Carbon monoxide)
Radiação (Radiation) Drogas (Drugs)
Light (Luz) Benzeno (Benzene)
Condicionantes Condicionantes
Físicos Químicos Formaldeído (Formal-
Ruídos (Noise)
(physical insults) (chemical insults) dehyde)
Eletricidade Deficiência de Cálcio
(Electricity) (Calcium deficiency)
Pressão de ar Privação de Oxigénio
(Air pressure) (Oxygen deprivation)
Fonte: Elaboração própria através da Cartografia Digital fornecida em Abril de 2010 pela
Câmara Municipal de Guimarães.
4.2 Resultados
Segundo Ciclo do
Ensino Básico
5 8,5 3 5,1 8 6,8
(antigo ensino
Preparatório).
Terceiro Ciclo do
Ensino Básico (9º
6 10,2 10 16,9 16 13,6
ano ou antigo 5º ano
do liceu)
Ensino Secundário 4 6,8 5 8,5 9 7,6
Curso Médio ou
2 3,4 0 0,0 2 1,7
Superior
Total 59 100 59 100 118 100
Não sabe ler nem
1 5,6 3 8,1 4 7,3
escrever
Sabe ler e escrever
sem ter frequentado 0 0,0 1 2,7 1 1,8
o sistema de ensino
Primeiro Ciclo do
Ensino Básico
8 44,4 18 48,6 26 47,3
(antiga quarta
Não expostos
classe).
Segundo Ciclo do
Ensino Básico
5 27,8 8 21,6 12 21,8
(antigo ensino
Preparatório).
Terceiro Ciclo do
Ensino Básico (9º
1 5,6 2 5,4 3 5,5
ano ou antigo 5º ano
do liceu)
Ensino Secundário 3 16,6 4 10,8 7 12,7
Curso Médio ou
0 0,0 2 5,4 2 3,6
Superior
Total 18 100 37 100 55 100
Fonte: Inquérito realizado à população da freguesia de Serzedelo entre Julho e Dezembro de
2010.
132 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
Fonte: Inquérito realizado à população da freguesia de Serzedelo entre Julho e Outubro de 2010.
Subestações de energia elétrica, radiação eletromagnética 135
3.3 Discussão
4. Conclusão
5. Referências
ABRICEM Associação Brasileira de Compatibilidade Eletromagnética (1999),
Proposta Regulamentação Anatel, São Paulo.
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ção de Mestrado, Universidade Federal do Amazonas.
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ção de Mestrado, Guimarães, Universidade do Minho.
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produção de melatonina na glândula pineal, São Paulo, Instituto de Ciências
Biomédicas, Universidade de São Paulo.
Subestações de energia elétrica, radiação eletromagnética 137
Resumo
Os riscos para a saúde humana causados pelo frio nos climas tempera-
dos mediterrânicos, apesar de serem muito graves são, em Portugal, esqueci-
dos ou subestimados pelas autoridades de saúde e da proteção civil. Uma boa
parte da explicação para esta perigosa lacuna deve-se ao fato da sua previ-
são, prevenção e mitigação exigir, por um lado, a adequação dos limiares
térmicos de risco ao contexto climático local e regional específico e, por
outro lado, à grande diferenciação nas consequências consoante o fácies do
indivíduo alvo. Em Portugal como num grande número de países do sul da
europa, a injustiça ambiental, isto é, os espaços mais degradados e mais
inóspitos tanto no verão como no inverno, coincide com a injustiça social.
Os mais pobres, os mais idosos, os mais dependentes e/ou os que têm maior
grau de iliteracia, ocupam frequentemente as áreas onde os edifícios estão
menos preparados para responder como envelope adequado às variabilidades
térmicas exteriores. São também estes os que têm menos condições para
atenuar o desconforto térmico recorrendo a sistemas de aquecimento artifici-
al e, normalmente, os que têm também mais dificuldades em fazer a sua
autoavaliação de sintomas sinalizadores de risco de doença ou morte.
Por isso, a prevenção dos riscos de doença e morte pelo frio nestes ca-
sos não pode cingir-se à monitorização climática, tem de ter previamente
diagnosticadas as características de privação da população alvo.
Demonstrámos isso mesmo neste contributo, definindo para a Grande
Área Metropolitana do Porto (GAMP) os limiares térmicos de risco de frio
excecional, mas também a população com níveis elevados de privação
ambiental, social e económica aos quais eles se aplicam.
1. Introdução
1 Os dados de mortalidade diária por freguesia foram cedidos pelo Instituto Nacional de
Estatística (INE) para o período 2002-2007. Os dados de morbilidade diária, entre 2000
e 2007, foram cedidos pela Administração Central dos Serviços de Saúde (ACSS) para
os 4 maiores hospitais públicos da GAMP – hospital S. João, hospital Stº António,
hospital Santos Silva e hospital Pedro Hispano.
Os riscos para a saúde humana causados pelo frio nos climas mediterrânicos 143
abaixo da normal climatológica desse período 2. Por esse motivo, não foram,
na maioria dos casos prevenidas pela emissão dos alertas e das recomenda-
ções adequadas.
As consequências do frio na saúde humana – hipotermia, vasoconstrição
periférica e aumento da sobrecarga na função cardíaca e respiratória; gan-
grena das extremidades; fadiga física; agravamento de doenças cardiovascu-
lares, respiratórias, crónicas do foro músculo-esquelético, metabólico, men-
tal; estado confusional, comportamentos irracionais; síncope – que podem
conduzir até à morte por falência cardiorrespiratória, têm coincidido, na
GAMP, com dias em que a temperatura é baixa, mas nem sempre, necessari-
amente, 5°C abaixo da normal climatológica do Porto (Quadro 4), nem
perdurando, forçosamente, por pelo menos 6 dias consecutivos.
2 O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) emite alertas para vagas de frio
para o Porto quando a temperatura mínima é durante mais de 48h entre -1ºC e 1ºC
(amarelo); entre -3ºC e -2ºC (laranja) e abaixo de -3ºC (vermelho).
Os riscos para a saúde humana causados pelo frio nos climas mediterrânicos 145
O mês de janeiro foi, ao longo dos últimos 107 anos de registos, fre-
quentemente o mês mais frio do ano tanto no que diz respeito à temperatura
média como à máxima e à mínima, e, agosto foi quase sempre o mês mais
quente, sobretudo tendo em conta o comportamento da temperatura média e
máxima. As temperaturas mínimas mais elevadas ocorreram sobretudo em
julho.
A observação do comportamento da temperatura entre 1901 e 2007
mostra a esperada variabilidade intrínseca do sistema climático com uma
notória tendência positiva a partir da década de 80 do século XX (Fig. 2 a
Fig. 4). Ao longo destes 107 anos a temperatura média aumentou 0,95°C, a
mínima 0,42°C e a máxima 1,59°C. Estes valores excedem os 0,6°C menci-
onados em McElwain (2007), e em IPCC (2001), e, estão mesmo acima do
intervalo projetado pelo IPCC (2007) que aponta para aumentos entre 0,56°C
e 0,92°C.
Tudo isto parece porém reforçar o interesse do enfoque sobretudo nos
extremos térmicos de calor e não, como pretendemos, nos de frio. Todavia, a
sobremorbilidade e sobremortalidade verificada no Porto (Quadro 1, Quadro
2 e Quadro 3) durante o período mais frio do ano suscita um olhar mais
cuidadoso sobre os limiares de resistência ao frio dos portuenses e sobre o
que o seu corpo de fato percebe como um momento de frio normal e exceci-
onal.
Os riscos para a saúde humana causados pelo frio nos climas mediterrânicos 147
Figura 9 – Eventos extremos de frio nos meses de inverno em que durante pelo
menos 7 dias consecutivos a temperatura mínima foi ≤ 5°C (Percentil 30) de
acordo com o critério Monteiro, et al. 2012a (Porto-Serra do Pilar, 1901-2007)
23 fevereiro - 11março 2005 CLASSES DE INDICES IMPACTES DURANTE O EVENTO EXTREMO DE FRIO
1º MORTALIDADE
34% de excesso por todas as causas
2º MORBILIDADE
65% de excesso de pneumonia e pleurisia
PET - [-9ºC-(-1)ºC] ≤4ºC 49% de excesso de acidente vascular cerebral
PET ≤-5ºC (50% do período) + Extremamente Frio 44% de excesso por doença pulmonar obstructiva crónica
PET ≤-1 (100% do período) 31% de excesso de causas respiratórias (todas as causas)
27% de excesso por bronquite e asma
6% de excesso de doenças circulatórias (todas as causas)
5% de excesso de insuficiência cardíaca
1% de morbilidade de enfarte do miocárdio
2º MORTALIDADE
34% de excesso por todas as causas
1º MORBILIDADE
107% de excesso de acidente vascular cerebral
97% de excesso de pneumonia e pleurisia
PET - [-5ºC-(-1)ºC]
≤4ºC 57% de excesso de insuficiência cardíaca
PET ≤-3ºC (80% do período)
Extremamente Frio 51% de morbilidade de enfarte do miocárdio
46% de doenças respiratórias (por todas as causas)
43% de excesso de doença pulmonar obstructiva crónica
30% de excesso de doenças circulatórias (por todas as causas)
29% de excesso de bronquite e asma
comum – que foram vivenciados sempre que a PET atingiu estes valores
limite de desconforto pelo frio. Assim, parece razoável acreditar que para um
ser humano adaptado ao contexto climático, social, cultural e económico
portuense, a emissão de alertas para o frio deveria iniciar-se sempre que a
temperatura mínima fosse 3ºC e a temperatura máxima 13ºC (Quadro 10).
Tmax Tmin
Amarelo [13ºC-11ºC[ [5ºC-3ºC[
Laranja [11ºC-9ºC[ [3ºC-1ºC[
Vermelho [9ºC-7ºC[ [1ºC--1ºC[
Castanho ≤7ºC ≤-1ºC
≈P30 T max ou T min 13 5
≈P10 T max ou ≈P15 T min 11 3
≈P2T max ou ≈P7 T min 9 1
Pelo que já foi dito sobre a especificidade dos riscos para a saúde hu-
mana causados pelo frio, sobretudo, relativamente à enorme importância da
matriz ambiental, cultural, social e económica do indivíduo para que um
contexto térmico excecionalmente frio se transforme de facto num risco
climático gerador de sobremortalidade e sobremorbilidade, torna-se impres-
cindível, depois de obtidos os limiares térmicos de resistência, definir as
principais determinantes de privação que podem incrementar a vulnerabili-
dade a este risco climático e, só então, estaremos dotados da informação
necessária para prevenir este risco.
Contudo, o cálculo desta vulnerabilidade – a privação social e ambiental
que potencia a exposição aos impactes negativos causados pelo frio em
contextos temperados mediterrânicos – é muito complexo, já que para ser
obtido de uma forma simples, implicaria a utilização de um conjunto de
informação individual desagregada que colide com os mais elementares
códigos de ética, reserva e sigilo há muito consagrados na maioria dos
países. Por isso, só é possível estimá-lo por aproximações, mais ou menos
grosseiras, tratando variáveis indiciadoras da condição social e económica.
Acresce ainda que a privação de per si é um conceito muito controverso
e que envolve dimensões subjetivas cuja valoração, tanto pode depender da
personalidade e da condição física do indivíduo e da sociedade a que perten-
160 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
ce, como do momento histórico e político em que vive ou até da sua porosi-
dade à manipulação de influências externas, por exemplo, quanto ao que
define como felicidade, qualidade de vida, bem-estar e saúde.
Há inúmeros exemplos de aplicação deste conceito para o desenho de
estratégias de promoção da saúde e prevenção da doença (Lombardo, 2009;
Nogueira, 2007, 2009 e 2010). Jarman, (1983 e 1984), para descrever as
fragilidades na resposta aos episódios de frio excecional, considerou o peso
dos idosos isolados, da população com menos de 5 anos, dos desemprega-
dos, das habitações sobrelotadas, dos imigrantes há menos de um ano, das
minorias étnicas. Townsend (1992), utilizou apenas o peso dos desemprega-
dos, das famílias sem carro próprio, dos que não são proprietários da sua
habitação e das habitações sobrelotadas. Carstairs et al. (1989) combinou
apenas o peso das habitações sobrelotadas, dos rendimentos mais baixos e
dos que não têm carro próprio.
No caso da GAMP socorremo-nos da análise hierárquica multicritério
(Saaty, 1980, 2008; Adda et al., 2003; Laszlo et al., 2010; Monteiro et al.,
2012a e d), para, tendo em conta as características da área de estudo, ponde-
rar as variáveis que melhor podem ilustrar as áreas que deveriam ser alvo de
atenção redobrada durante os períodos de frio excecional.
A combinação de variáveis avaliada na análise hierárquica multicritério
teve em conta a enorme heterogeneidade na distribuição da mortalidade e
morbilidade (Figura 18 a Figura 20), na condição social e económica dos
residentes (Figura 21 a Figura 32) e no contexto biogeofísico (Figura 33 a
Figura 35).
Os riscos para a saúde humana causados pelo frio nos climas mediterrânicos 161
Figura 36 – Vulnerabilidade
Importância relativa
Muitíssimo mais importante 9 Pouco menos importante 1/3
Muito mais importante 7 Ligeiramente menos importante 1/5
Ligeiramente mais importante 5 Muito menos importante 1/7
Pouco mais importante 3 Muitíssimo menos importante 1/9
Igual importância 1
5 Em média no verão, à latitude do Porto, um lugar exposto a norte recebe 200 kWh/m2
enquanto um lugar exposto a sul recebe 380kWh/m2. Em média no inverno, à latitude
do Porto, um lugar exposto a norte recebe 70 kWh/m2 enquanto um lugar exposto a sul
recebe 108 kWh/m2.
180 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
5. Considerações Finais
Depois de ter demonstrado que o frio pode ser excecional para um ser
humano residente na GAMP a partir de temperaturas máximas e mínimas
muito superiores às consideradas nos alertas institucionais, e de ter evidenci-
ado a magnitude dos impactes na sobremortalidade e sobremorbilidade
durante e até 10 dias após o episódio paroxismático, foi sublinhada a impor-
tância, neste tipo de risco, da condição ambiental, social e económica do
indivíduo que ao acumular-se com a sua condição física pode transformar o
frio excecional num risco muito severo de doença e de morte.
Os riscos para a saúde humana causados pelo frio nos climas mediterrânicos 181
6. Agradecimentos
7. Referências
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da Universidade do Porto (edição de autor).
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CARSON, C. et al. (2005), “Declining Vulnerability to Temperature-related Mortality
in London over the 20th Century”, American Journal of Epidemiology, 164(1):
77-84.
182 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
Resumo
1. Introducción
Sobre estas bases, este capítulo ten dous obxectivos principais. Por un
lado, analizar a construcción dos sistemas de saúde modernos en Galicia e
Portugal, destacando os profundos cambios acontecidos nas últimas décadas
motivados pola influencia de posturas e ideoloxías conservadoras e neolibe-
rais que están producindo o desmantelamento dos modelos públicos. Por
outro, demostrar como as profundas reformas nos sistemas públicos que
están coñecendo Galicia e Portugal na actualidade non teñen a súa orixe na
crise económica e as políticas de control do déficit público, se ben éstas
utilízanse como escusa e xustificación dos recortes que están a ser acometi-
dos. As reformas comezaron con anterioridade a crise actual e aceléranse no
actual escenario económico regresivo. En este sentido, as últimas reformas
sanitarias en Portugal e Galicia están caracterizadas pola privatización, a
reducción de dereitos, a defensa de estratexias ultraliberais, etc.. Medidas
que están a xerar un grave aumento das desigualdades sociais e desequili-
brios territoriais.
O traballo comeza coa última etapa das dictaduras militares (1970) pero
centrándose nas reformas sanitarias da década dos 1990 e principios do
2000, xermes dos actuais cambios de modelo. O capítulo estructúrase en
dúas partes principais. O primeiro introduce o modelo Beveridge, sistema
sanitario no que se fundamentan Galicia e Portugal. A segunda desenvolve
de forma extendida o proceso de formación, desenvolmento e reforma dos
sistemas públicos en Galicia e Portugal.
sur na década dos 1980 (Grecia, Italia, Portugal e España). Canadá optou
polo Servizo Nacional de Saúde nos anos 1970. As vantaxes que implica
son, fundamentalmente, o seu carácter universal, o control de gastos, maior
xustiza e liberdade de acceso. As reformas sanitarias desenvolvidas nos
E.U.A. nos últimos anos están influenciadas polo modelo canadense e o
europeo do SNS. A pesar dos seus recoñecidos logros sobre todo respecto á
mellora da saúde da poboación e a universalidade, as reformas actuais dos
sistemas están a introducir elementos contractuais dentro das estructuras
administrativas, co obxectivo de aumenta-la flexibilidade e de, parcialmente,
abandonala planificación.
Evans y Hurst agruparon os sistemas públicos en tres modelos atenden-
do á forma de pago ós provedores sanitarios (Gervás, López e Sánchez,
1993): reembolso, por salario e por contrato. O modelo utilizado tanto en
Galicia como en Portugal é o segundo, o de pago por salario. O médico é un
empregado ou un funcionario do sector público (Estado ou Comunidade
Autónoma) que traballa en edificios de propiedade pública. Este é o sistema
desenvolvido tamén en países como Suecia, Noruega, Finlandia, Bulgaria,
Hungría, Polonia ou Romanía. Algunhas nacións o están abandonando, ben
de forma experimental (Suecia e Finlandia) ou ben definitivamente (Bulga-
ria, Romanía).
O financiamento do SNS tanto en Galicia como en Portugal (Orzamento
Xeral do Estado, OXE) é público e efectúase a través dos impostos. Este
sistema, baseado na solidariedade e no principio redistributivo, facilita o
acceso universal e o control parlamentario. Este carácter universal e equitati-
vo, coherente co Obxectivo 1 do principio “Saúde para todos no ano 2000”
(SPT) da Organización Mundial da Saúde (OMS), é una avantaxa importante
se valoramos as elevadas taxas de desemprego, as desigualdades sociais, o
empobrecemento das clases baixas e medias e os crecentes problemas de
segregación urbana e exclusión social en Portugal e Galicia. Segundo este
modelo, o Parlamento aproba o orzamento global e monitoriza a asignación
dos recursos (Majnoni, 1993). O financiamento vía impostos esconde igual-
mente un principio redistributivo. É dicir, unha parte importante dos recursos
son obtidos das rendas, dunha maneira progresiva (quen máis ten, máis paga)
e o resto do imposto sobre o valor engadido. Así, cando o gasto en saúde
increméntase incluso tan so un pouco coa renda, os pagos dos grupos máis
favorecidos pasan a financiar ós máis pobres. Non obstante, un financiamen-
to por impostos non trae consigo obrigatoriamente unha xestión funcionarial.
É máis, os actuais procesos de reforma separan o financiamento a través dos
impostos do que é a xestión administrativa do sistema, pudendo ser utilizada
tanto para financiar institucións privadas como públicas.
Diferentes estudios demostraron co réxime de financiamento do gasto
sanitario non condiciona a cantidade total do gasto ou o gasto por habitante.
O nivel de renda nacional constitúe o principal factor que se relaciona co
Construcción, desenvolvemento e crise dos sistemas de saúde 189
nivel de gasto por habitante nos países desenvolvidos. Tanto é así co factor
de correlación pode estar entre o 0,8 e 0,92, e a elasticidade do gasto sanita-
rio comparado co Producto Interior Bruto (PIB) é 1,34. Isto significa cun
incremento do 10% do PIB trae consigo, como termo medio, un aumento do
13,4% do gasto sanitario. E á inversa, para poder incrementalo gasto sanita-
rio nun 10%, o PIB ten que facelo nun 7,35%. De acordo con isto, unha
maior atención e prestación de servizos sanitarios só se poderá lograr a
través do crecemento económico (Majnoni, 1993). Non obstante, a política
sanitaria e a organización do propio sistema (concepcións ideolóxicas e
desenvolvemento do Estado social) poden introducir excepcións a esta regra
xeral. Por exemplo, países como o Reino Unido teñen un gasto inferior do
que teoricamente lles correspondería polo seu PIB, mentres que outros
(como Francia), gastan máis.
A evolución do gasto sanitario en España, Galicia e Portugal incremén-
tase progresivamente dende que, coa entrada no período democrático, a
saúde pasa a desempeñar un papel clave na construcción do Estado. A ten-
dencia é a reducir os investimentos públicos e as diferencias respecto a
outras Comunidades Autónomas do Estado e doustros países do noso en-
torno increméntanse de forma notable. O gasto sanitario público en Galicia
representaba unicamente o 4,07% do PIB no 1989, chegando ao 6,70% no
2009 para inmediatamente descender ata o 6,05% no 2010. E o gasto por
habitante en Galicia é o máis baixo da Unión Europea dos 15, coa excepción
de Grecia.
O gasto real do Sergas no 2009 superou os 4.100 millóns de euros, o
que representa uns 400 millóns de euros máis que no 2008, e un gasto por
habitante que supera en case 1.200 euros os datos do 1990, último ano de
xestión do Insalud na nosa Comunidade Autónoma. O incremento do gasto
máis importante produciuse a finais dos anos 1980, cando estaba a concluír o
proceso de transferencias. Pola contra dende o 1997 hai unha acusada des-
aceleración no incremento do gasto sanitario real a causa das reformas
iniciadas no sistema dirixidas á contención do gasto. Aínda que as cifras de
partida son habitualmente moi superiores ás galegas, este proceso de estan-
camento do investimento sanitario público é común en case tódalas nacións
europeas a partir dalgún ano da década dos 1990. No obstante, en contra
desta tendencia, entre 2005 e 2009 o gasto aumenta nuns 100 euros per-
soa/ano, debido probablemente a factores poboacionais relacionados co
avellentamento, pero sobre todo explícase polo aumento do investimento
sanitario realizado polo goberno de coalición socialista-nacionalista que
dirixiu Galicia nestes memos anos, entre o 2005 e 2009. (Táboa 1).
A series estatísticas máis completas e actualizadas son anualmente pu-
blicadas pola OCDE. A análise comparativa entre Galicia e Portugal é com-
plexa debido a que, en tódolos casos, os datos son presentados por estados
nacionais. Aínda que non se correspondan exactamente os investimentos
190 Desigualdades Socioterritoriais e comportamentos em saúde
política sanitaria e é propietaria dos recursos aquí instalados, pero ata moi
recentemente non delimitou normativamente e de maneira global todas estas
avantaxes. Coas excepcións das comunidades autónomas que asumiron
plenas competencias recentemente, Galicia foi una das últimas autonomías
coa totalidade das competencias sanitarias trasnferidas en aprobar un com-
pleto marco normativo que ordene os seus servizos sanitarios. O primeiro
Plan de Saúde anunciou a intención de presentar unha lei de sanidade duran-
te o 1993-1994. Cun importante atraso, no 1998 preséntouse o Anteproxecto
de Lei de Sanidade de Galicia. Unha proposta moi polémica por canto
defendía unha importante reforma do sistema. A oposición social e política
aconsellou a paralización do proceso lexislativo cando, en realidade, non era
máis que a constatación, por medio dunha norma, das reformas parciais xa
postas en marcha dende hai anos, tendentes á privatización encuberta da
xestión e provisión de servizos sanitarios públicos. Pasados cinco anos, a
Xunta de Galicia anuncia o controvertido Proxecto de Lei de Sanidade de
Galicia. Introducíronse cambios respecto ó Anteproxecto do 1998, pero os
principios básicos do futuro sistema de saúde non difiren da primeira idea.
Mediante múltiples e complexas formas de organización empresarial, o
sector privado recebe un impulso sen precedentes na xestión e provisión de
coidados do SNS. Finalmente no 2003 aprobouse a non menos polémica Lei
de Ordenación Sanitaria de Galicia (LOSGA) e, no 2008, o novo goberno
de coalición de esquerdas (PSdeG-PSOE e BNG) aprobou a denominada Lei
8/2008, do 10 de xullo, de saúde de Galicia.
podemos extraer dúas conclusións. Por un lado, tal e como tivemos ocasión
de estudiar noutra ocasión (González, 2000), intúese a escasa transcendencia
atribuída ó Mapa de Saúde e, polo tanto, a falta de integración entre a orde-
nación territorial sanitaria e a organización da Atención Primaria e Especia-
lizada. E isto a pesar de que teóricamente trátase dunha lei de ordenación. En
segundo lugar, o mapa simplifícase de maneira significativa respecto ás
anteriores experiencias. Dos cinco niveis territorial-asistenciais vixentes no
2003, a nova lei redúceos a tres: Áreas Sanitarias (similar ás Áreas de Saú-
de), Distritos Hospitalarios (a medio camiño entre as Zonas de Saúde de
Atención Integrada e as áreas de referencia hospitalarias) e as Zonas Aten-
ción Primaria (similar ás Zonas Sanitarias de Atención Primaria vixentes ata
ese momento). As delimitacións territoriais precisas, é dicir o debuxo do
mapa de saúde propiamente dito, deixase para unha regulación posterior.
Despois dun proceso de xestación longo e complexo, a Losga estivo vi-
xente menos de cinco anos, ata o 24 de setembro do 2008. Neste día entrou
en vigor a Lei 8/2008, de 10 de xullo, de saúde de Galicia. Unha lei marcada
polo novo signo político do goberno de esquerdas (PSdeG-BNG) da Xunta
de Galicia, aspecto que se deixou sentir nos principios fundamentais da lei.
Estamos ante unha lei de tipo integral que, dende o primeiro momento, e
dados os procedentes das anteriores normas, procurou un maior consenso e
acordo social, destacando o novo papel otorgado á cidadanía e os seus derei-
tos. (Cadro 4).
4. Conclusións
modelos, pero sobre todo dos resultados sociais. Agora ninguén pode dubi-
dar de que o sistema de saúde mixto está plenamente instaurado en Portugal
e Galicia. Veremos se isto logra facer fronte ó incremento dos gastos sen
abandonalo aumento da calidade das prestacións e a reducción da iniquidade.
De momento, isto non está a suceder. Como xeógrafos, probablemente sexa
necesario impulsar máis que nunca o análise territorial na planificación
sanitaria. Pero isto, sempre e cando a crise do modelo público non afecte
tamén ás prácticas planificadoras e de ordenamento territorial.
5. Agradecementos
6. Referencias
ASENSIO, A. (2008), “El debate sobre la sanidad en Portugal: entre lo público y lo
privado, la solidaridad y la gestión empresarial”, Revista Panorama Social, 7:
36-43.
BAGANHA, M.I.; SOUSA J.; PIRES, S. (2002), O sector da saúde em Portugal:
funcionamento do sistema e caracterização sócio-profissional, Centro de
Estudos Sociais, 182, Coimbra, Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra.
CABEZA, X.; GONÇALVES, S. (Coord.) (1998), Os servicios públicos de saúde en
Galicia e no norte de Portugal. Legislación comparada, Santiago de
Compostela, Xunta de Galicia.
GERVÁS, J.; LÓPEZ, A.; SÁNCHEZ, R. (1993), “Atención primaria en Europa”,
Atención Primaria, 12(5): 82-88.
GONZÁLEZ, J.M. (1998), Sanidad y territorio en la provincia de Pontevedra,
Pontevedra, Diputación de Pontevedra.
GONZÁLEZ, J.M. (2000), “La demanda de una verdadera ordenación territorial
sanitaria en Galicia. Desarrollo actual del Mapa de Saúde: ¿cuándo y para
qué?”, Boletín de la AGE, 29: 29-51.
GONZÁLEZ, J.M. (2002), “Mercado sanitario privado e territorio en Galicia.
Neoliberalismo y nuevas pautas de comportamiento social”, Investigaciones
Geográficas, 27: 205-226.
LUCENA, D.; GOUVEIA, M.; BARROS, P.P. (1996), “O que é diferente no sector
da saúde?”, Revista Portuguesa de Saúde Pública, 14(3): 21-23.
MAJNONI, B. (1993), La financiación de los sistemas sanitarios en Europa, in
“Reformas de los sistemas sanitarios en Europa”, Madrid, Ministerio de Sanidad
y Consumo: 43-69.
Construcción, desenvolvemento e crise dos sistemas de saúde 219
Vitor Ribeiro
Instituto de Ciências Sociais
CICS/NIGP
Universidade do Minho
e Departamento de Educação Básica
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti (Porto)
Resumo
1. Introdução
serviços de saúde. Por sua vez, a segunda foca-se na utilização atual dos
serviços sendo medida pela frequência de atendimento (Joseph e Phillips,
1984; Thouez et al., 1988; Luo, 2004). Segundo esta perspectiva o acesso
geográfico aos serviços de saúde é influenciado quer pelos fatores espaciais
(localização e distância) quer pelos fatores não espaciais (e.g., género, idade
e condição económica dos indivíduos) (Remoaldo, 2002; Luo, 2004;
Remoaldo, 2005; Remoaldo e Ribeiro, 2010).
Assim, a distância entre a residência dos indivíduos e os equipamentos
de saúde tem sido reconhecida como uma das premissas mais importantes a
ter em conta em planeamento de serviços de saúde (Guagliardo, 2004;
Guagliardo et al., 2004). Uma grande parte dos estudos sobre esta temática
recorre às distâncias euclidianas, às distâncias-tempo ou às distâncias físicas
(em quilómetros) da rede de acesso. Porém, os estudos raramente são desen-
volvidos à escala local onde se considere algumas barreiras como a influên-
cia do declive ou a velocidade dos idosos “a pé” (Ribeiro et al., 2013;
García-Palomares et al., in press). Atualmente, conhecemos relativamente
bem as taxas de utilização e a disponibilidade dos serviços de saúde, mas
sabemos muito pouco sobre as barreiras que criam desigualdades no acesso
geográfico da população (Guagliardo, 2004).
Os transportes são, por isso, fundamentais para ultrapassar a barreira da
distância entre a população e as oportunidades. Deste modo, é fundamental
avaliar os níveis de acessibilidade das infraestruturas de transportes, ao invés
de se avaliar, exclusivamente a eficiência do sistema de transportes
(Banister, 2002; Straatemeier, 2008).
O planeamento dos transportes deverá ser (re)orientado para enriquecer
a componente social dos territórios (Straatemeier, 2008), dando primazia à
conectividade dos lugares, à qualidade de vida dos indivíduos e à promoção
da inclusão social.
Fonte: Elaboração própria, com base nos Censos 2011, INE, Lisboa.
400.000 377.835
363.749
302.295
300.000
288.749 237.591
263.131 206.479 205.054
200.000 170.683 181.494 175.478 175.136 174.030
199.059 164.192 167.026 175.872 160.825
100.000
0
Lisboa Sintra Vila Nova de Porto Cascais Loures Braga Matosinhos Amadora Almada
Gaia
Fonte: Elaboração própria com base nos Censos 2011, INE, Lisboa.
3.2.2 Envelhecimento
85 e + Homens Mulheres
80 - 84
75 - 79
70 - 74
65 - 69
60 - 64
55 - 59
Grupo etário
50 - 54
45 - 49
40 - 44 Portugal
35 - 39
30 - 34 Braga
25 - 29
20 - 24
15 - 19
10 - 14
5-9
0-4
10 8 6 4 2 0 2 4 6 8 10
%
Fonte: Elaboração própria com base nos Censos 2011, INE, Lisboa.
A (in)equidade no acesso aos serviços de saúde 233
25
20
15
%
10
0
Braga Cascais Porto Lisboa Sintra Amadora Matosinhos Almada Loures Vila Nova de
Gaia
Fonte: Elaboração própria com base nos Censos 2011, INE, Lisboa.
Total de População
Unidade de Unidades N.º de
Unidades Código Designação Observação potencial Área (km2)
saúde funcionais freguesias
Funcionais 2011
60
50
% 40
30
20
10
0
Criação de Serviços de Educação Segurança Serviços sociais Poluição do ar Transportes Condições da Infraestruturas Ruído Não responde
emprego saúde urbana públicos habitação rodoviárias
Problema
Fonte: elaboração própria com base em Directorate General for Regional Policy, 2009.
4. Acessibilidade e SIG
5. Conclusão
6. Referências