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Ecologia Aplicada

Material Teórico
Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero
Revisão Técnica:
Prof. Me. Camila Moreno de Lima Silva
a

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Energia e Ciclos biogeoquímicos
nos ambientes

• Energia nos ecossistemas;


• As Leis da Termodinâmica;
• Energia;
• Os ecossistemas e os tipos de energia;
• Fontes de Energia;
• Os Ciclos Biogeoquímicos;
• Teoria de Gaia.

Os objetivos desta unidade são:


»» Possibilitar a compreensão do papel da Energia para o funcionamento dos
ecossistemas;
»» Apresentar o Sol como a principal fonte energética para os seres vivos do
planeta Terra;
»» Apresentar noções básicas sobre transferência de energia nos ecossistemas;
»» Explicar o que são e como funcionam os ciclos biogeoquímicos;
»» Introduzir a importância do conhecimento sobre os ciclos biogeoquímicos
para a organização da sociedade;
»» Apresentar a Teoria de Gaia como uma forma respeitosa e harmônica de
vida no planeta.

Nesta Unidade, serão apresentados os ciclos biogeoquímicos e apresentar informações


sobre como ocorre o sistema cíclico de elementos vitais para a sobrevivência na Terra e como
a energia está envolvida nos ciclos biogeoquímicos através dos processos ecossistêmicos de
interações entre os seres vivos e o ambiente; como esses processos ecossistêmicos ocorrem
em todo o globo terrestre. Além disso, trataremos da Teoria Gaia e de suas especificidades.
Recomendamos que você, além de fazer uma leitura tranquila do conteúdo consulte, ainda,
os materiais complementares e assista aos vídeos sugeridos. Recomenda-se também, que
utilize a internet e busque outras fontes que possam contribuir com o seu aprendizado.

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Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Contextualização
Sabemos que para o funcionamento do ecossistema acontecer vários elementos vivos e não
vivos estão envolvidos por um conjunto de interações ecológicas. Esta Unidade te apresentará
quais os principais elementos não vivos e, além disso, como ocorre o ciclo desses elementos
enquanto as interações ecológicas acontecem.
Fora isso, a visão que integra todos os elementos da biosfera como sendo um único
organismo vivo está à sua espera. Nela, você poderá perceber como cada atividade realizada
no planeta interfere de alguma forma no seu funcionamento como um todo. Uma espécie de
“efeito borboleta” fará você perceber que cada elemento está de alguma forma interligado
dentro deste grande organismo vivo chamado planeta Terra.
Atualmente vivenciamos graves problemas ambientais e o que mais tem repercutido é a falta de
água em algumas regiões do país, que é considerado um dos maiores riscos à nossa subsistência.
A seguir, seguem dois links: uma reportagem e um vídeo que tratam do assunto da água.

Navios-tanque traficam água de rios da Amazônia:


http://www.ecoagencia.com.br/?open=noticias&id=VZlSXRFWwJlUspFUjdEeXJ1aKVVVB1TP

Tecnologia do Futuro! “Chega de usar água para transportar fezes”:


https://youtu.be/RfAy45B8k2k

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Energia nos ecossistemas

Por meio dos princípios ecológicos você pode compreender que o ecossistema vincula as
relações existentes entre os animais e vegetais aos fatores físicos e químicos do ambiente – tais
como clima, luminosidade, temperatura, umidade, pressão atmosférica, salinidade, pH, entre
outros. Dessa forma, cada organismo inserido no seu contexto ecológico desempenha função
ecossistêmica (Figura 1).

Figura 1. Representação esquemática do fluxo de energia através dos componentes do ecossistema.

Fonte: ib.usp.br

Por exemplo, imagine que uma população de indivíduos de uma espécie qualquer foi
dizimada do ambiente em que estava inserida. As funções ecológicas que eram executadas
pelos indivíduos dessa população deixam de existir. Consequentemente, o ecossistema entra
em desequilíbrio funcional e busca se reordenar de modo a repassar as funções perdidas para
novos organismos. Esses novos organismos surgem para desempenhar as funções ecológicas
antes realizadas pela população que foi extinta, de forma a manter o equilíbrio das demandas
de energia e matéria que fazem funcionar todo o conjunto ecossistêmico. Portanto, para que
se mantenha uma função ecológica, necessita-se da permanência do fluxo de energia entrando
e saindo do ecossistema.

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Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Transformações de Energia
Em nosso planeta podemos dividir a energia em três principais tipos:

Energia térmica: energia em forma de calor;


energia em forma de deslocamento de corpos através de força – como a
Energia mecânica: energia gravitacional;
Energia química: energia obtida através da quebra de ligações moleculares.

Todos esses três tipos de energia existentes em nosso planeta possuem comportamento
regido pelas Leis da física.

As Leis da Termodinâmica

A física diz que o fluxo de energia é sempre um processo unidirecional. A energia entra
no planeta Terra a partir do Sol, que emite energia luminosa através dos raios solares. O Sol
é considerado a fonte de maior produção de calor do nosso planeta, a qual é considerada
indispensável como fonte de energia para existência de vida. Portanto, para que você entenda
como se dá a relação entre a vida e a energia nos processos ecossistêmicos, é importante que
conheça quais as características da energia segundo as Leis da física.

A 1ª Lei da Termodinâmica diz que a energia pode ser convertida de uma forma a outra,
mas em hipótese nenhuma a energia pode ser criada ou destruída – daí vem a célebre frase:
“Nada se cria, tudo se transforma ou se modifica.” Seguindo com os princípios da física, na 2ª
Lei da Termodinâmica, é dito que as transformações de energia sempre resultam em alguma
dissipação de energia, ou seja: sempre quando há transferência de energia de um corpo para o
outro, uma porcentagem dessa energia é liberada para o ambiente. Dessa forma, para manter
a ordem de funcionamento dos ecossistemas, a energia deverá constantemente ser adicionada
ao sistema para compensar a perda de energia resultante das interações ecológicas.

Você deve ter em mente que a energia nos ecossistemas é constante, e dessa forma ela
não é criada e nem destruída por nenhum ser vivo. Porém, as interações ecológicas
são responsáveis pelo fluxo dessa energia entre os mais diversos organismos vivos
Reflita do nosso planeta.

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Energia
Todos os dias você pode observar que a superfície terrestre recebe radiação solar e em
consequência dela ocorre um fluxo de calor conhecido como radiação térmica. Esses dois
tipos de radiação – a solar e a térmica – contribuem diretamente para a formação do clima. É
importante que você saiba que apenas uma parte da radiação solar que adentra na atmosfera
é captada pelas plantas e algas fotossintetizantes e convertidas em energia potencial biológica.
A luz solar que atinge a Terra pode ter a sua intensidade medida através do aparelho pireliômetro
ou solarímetro. Em dias com condições climáticas favoráveis, a intensidade dessa luz corresponde a
apenas 67% do total que sai do Sol. Conforme os raios solares entram na atmosfera terrestre, eles
têm de atravessar as nuvens, os gases, vapores d’água e as partículas presentes no ar, além da própria
vegetação. Com isso, a distribuição dos raios solares é alterada fazendo com que haja variação do
fluxo de incidência da radiação solar nos diversos ecossistemas.

Essa variação de incidência de luz solar influencia diretamente na distribuição


dos organismos sobre a superfície terrestre, uma vez que será a responsável pela
Importante! estruturação do clima.

Como dito anteriormente, a radiação solar, ao penetrar na atmosfera, é atenuada por


vários fatores, sendo que a camada de ozônio é a responsável por “filtrar” grande parte dos
raios ultravioletas nocivos aos seres vivos. As partículas presentes na atmosfera ainda reduzem
bastante a luz visível e a radiação infravermelha de forma que a energia que chega à superfície
compreende apenas 10% do total de raios ultravioletas emitidos pelo Sol. É importante saber
que dentre todas as radiações, a que menos sofre redução ao entrar na atmosfera terrestre é a
luz visível. Tal fato possibilita que ocorra fotossíntese até mesmo em dias nublados ou embaixo
d’água – até uma determinada profundidade.
Você já deve ter sentido o prazer de estar debaixo de uma sombra fresca, dessas localizadas
em florestas. A boa sensação provocada por essas sombras decorre da absorção da radiação
visível e dos raios infravermelhos através das folhagens presentes nas copas das árvores. A
clorofila absorve feixes de luz, enquanto a água presente nas folhas é responsável por absorver
a energia térmica dos raios infravermelhos. Por isso, um clima fresco e ameno é certamente
percebido pelos nossos sentidos.

Vale ressaltar que o calor que entra na atmosfera é essencial para que haja
as condições favoráveis à vida na Terra. Você já pensou o que seria dos
ecossistemas e da vida em nosso planeta caso a luz do Sol deixasse de chegar
Reflita até nós?

O fluxo de radiação térmica, ou seja, de energia em forma de calor, incide direta e


indiretamente a todo o instante e por todas as direções na superfície terrestre. Já a radiação
solar é direcional e está presente somente no período do dia que faz Sol. É bastante relevante
que você saiba que a radiação térmica é facilmente absorvida pela biomassa, ou seja, pelos
corpos vivos; mas os organismos assimilam apenas a radiação solar.

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Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Para se ter uma ideia do total de energia solar que adentra a biosfera, apenas 0,8% é
utilizado pelas plantas para realizar a fotossíntese e converter energia luminosa em energia
bioquímica. Dos 99,2% restantes, 23,2% são dissipados por processos naturais de evaporação,
precipitação, correntes de vento e das ondas do mar, 46% dessa energia é diretamente
convertida em calor e os 30% restantes são simplesmente refletidos para fora da atmosfera.
Mesmo sendo ínfima a porção de luz solar que é assimilada pela fotossíntese e convertida
em energia em forma de alimento pelas plantas, os demais processos são extremamente
relevantes para gerar condições favoráveis à vida nos mais variados ambientes da Terra como,
por exemplo, o controle da temperatura e dos climas globais interferindo diretamente no ciclo
da água e nos fenômenos meteorológicos.

Os ecossistemas e os tipos de energia


Além de haver algumas variações entre os ecossistemas naturais e em como eles obtêm
energia do ambiente para funcionarem, surge em nosso planeta, em decorrência da
industrialização, novos sistemas que funcionam através de fontes alternativas de energia, os
quais têm provocado grandes transformações ambientais. A seguir estão exemplificados os
ecossistemas naturais e artificiais encontrados na biosfera de hoje em dia:

» Ecossistemas naturais dependentes exclusivamente da energia solar. Por exemplo: os


oceanos abertos e as florestas de altitude;
» Ecossistemas naturais dependentes de energia solar e subsídios ambientais. Por
exemplo: os estuários de marés e algumas florestas úmidas;
» Ecossistemas artificiais dependentes da energia solar e de subsídios antropogênicos.
Por exemplo: agricultura e aquicultura;
» Sistemas urbano-industriais dependentes de combustível. Por exemplo: as cidades, os
bairros e as zonas industriais.

Pirâmide de Energia
A pirâmide de energia expressa a quantidade de energia acumulada em cada nível da cadeia
alimentar. O fluxo decrescente de energia da cadeia alimentar justifica o fato de a pirâmide
apresentar o vértice voltado para cima. O comprimento do retângulo (tamanho das palavras)
indica o conteúdo energético presente em cada elo da cadeia (Figura 2).

Figura 2. Pirâmide energética indicando três níveis tróficos representando os produtores, consumidores primários e secundários.

Criança 8,3 kcal


Bezerro 1.190 kcal
Alfafa 14.900 kcal

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As estimativas científicas apontam que cada nível trófico transfere apenas 10% da energia
que possui para o nível trófico seguinte. Consequentemente, a pirâmide de energia quase
nunca apresentará mais do que cinco níveis tróficos. Para exemplificar, imagine uma plantação
de milho capaz de alimentar 100 pessoas durante um ano. Caso essa mesma plantação seja
destruída e transformada em pasto, o qual servirá somente para engorda de bovinos de corte, o
número de gado que a área poderá suportar será tão pequeno que não será possível alimentar
mais do que cinco pessoas durante o mesmo período de um ano.
Dessa forma, podemos compreender que a quantidade de energia que se perdeu de um nível
trófico para outro foi muito grande. Ou seja, numa mesma área onde tínhamos seres vivos
produtores de energia, como a plantação de milho, teremos uma enorme perda energética
após a substituição por gado, onde poderemos contemplar apenas uma ínfima parte da
população humana a alimentando com carne. Assim, podemos concluir que os produtores
possuem muito mais carga energética que os demais níveis tróficos da pirâmide de energia.
Infelizmente é muito grande o território brasileiro onde se pratica a pecuária, que inclusive
exporta enormes quantidades de carne, enquanto se poderia potencializar a capacidade de
alimentar mais pessoas incentivando a agricultura.

Recursos energéticos
Assim como nos ecossistemas naturais, nós seres humanos, também necessitamos de
energia para desenvolver nossas atividades vitais. Nossa alimentação é a essencial fonte de
energia para que nossos sistemas respiratórios, circulatórios, digestivos, entre outros continuem
funcionando normalmente e assim permaneçamos vivos. Mas acontece que a sociedade criou
uma série de atividades industriais e domiciliares que demandam muito mais energia do que
de fato precisamos para viver.
Essa demanda de energia que a sociedade precisa para desenvolver suas atividades
é suprida por meio da exploração dos Recursos Energéticos oferecidos pelo nosso
planeta. Os recursos energéticos são o conjunto de meios com que os países do mundo
exploram para atender às suas demandas na cadeia produtiva de bens de consumo materiais.
São diversas as fontes energéticas exploradas pelo homem, mas as mais utilizadas são:
petróleo, gás natural e carvão.
Você pode observar que a quantidade de veículos tem aumentado drasticamente nas cidades.
Dessa forma, o petróleo cru e o gás natural são encontrados em quantidades comerciais em
mais de 50 países de todos os continentes do planeta. As maiores e mais da metade das jazidas
de petróleo se encontram no Oriente e quase um terço das reservas já descobertas de gás
natural também estão lá.
O carvão é um termo genérico que se refere a uma grande variedade de materiais sólidos
que possuem alto conteúdo de carbono. Esses materiais são queimados em centrais térmicas
que geram vapor d’água destinado a impulsionar geradores de energia. O grande problema
desse combustível é a queima excessiva de madeira, a falta de fiscalização favorece grandes
desmatamentos de áreas naturais, sem contar com a imensa quantidade de gás carbônico que
é lançada na atmosfera.

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Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Por outro lado, a energia solar não é apenas uma tecnologia energética, mas também um termo
que se aplica a diversas tecnologias de energias renováveis. Sua característica comum é que, ao
contrário de quase todas as demais, é inesgotável, totalmente limpa e segura. No Brasil, infelizmente,
falta percepção do Governo para as potencialidades dessa fonte inesgotável que não prejudica o
meio ambiente e nem impõe riscos de contaminação ou de doenças para os humanos.

Fontes de Energia

Atualmente, as pesquisas científicas estão preocupadas em desenvolver novas fontes de


energia, as quais possam substituir os combustíveis não renováveis e poluidores do meio
ambiente – como o petróleo e o carvão mineral. Vamos conhecer um pouco mais sobre as
fontes de energia.

Energia hidrelétrica
É a energia gerada pela força da água. Provoca-se represamento de grande área alagada
através de uma interrupção com barragem no curso de um rio. A água irá cair para um nível
inferior da barragem, provocando assim a movimentação de turbinas geradoras de energia.
Essa energia provoca impacto ambiental principalmente na construção dessas barragens, pois
grandes áreas naturais acabam sendo alagadas. O rio perde o seu potencial turístico ou de
lazer e as populações ribeirinhas são desabrigadas.

Álcool
O álcool vem sendo usado em substituição à gasolina e outros combustíveis derivados
do petróleo. No Brasil, a cana-de-açúcar tornou-se a principal fonte de produção de álcool
hidratado. Para tanto, muitas usinas foram implantadas em vários estados brasileiros.

A principal vantagem do uso do álcool como combustível é a redução de consumo do


petróleo pela população. No entanto, a utilização desse combustível traz também algumas
desvantagens: grandes áreas, antes reservadas à produção de alimentos e de preservação da
biodiversidade, estão agora sendo convertidas em enormes latifúndios de cana-de-açúcar.

Além disso, a produção de álcool causa drásticos desequilíbrios nos ecossistemas, interferindo
na qualidade dos rios e demais corpos d’água. Grandes quantidades de resíduos altamente
tóxicos, como o vinhoto, são pulverizados nas plantações de cana, e esses elementos químicos
acabam contaminando mais do que o solo, mas também os rios, lagos e inclusive o lençol
freático, tornando a água altamente cancerígena para o consumo a longo prazo.

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Energia nuclear
É a energia liberada durante a fissão ou fusão de núcleos atômicos. Uma fonte inesgotável
de energia, onde enormes quantidades podem ser obtidas mediante processos nucleares de
alguns átomos específicos. A energia nuclear supera em muito as demais fontes de energia,
e uma vez que se tenha total controle sobre a manipulação dessa fonte, ela é considerada
totalmente eficaz e limpa.

Energia solar
Energia inesgotável produzida pelo Sol. Os raios solares chegam à atmosfera terrestre
através dos fótons, os quais interagem com a atmosfera e a superfície terrestre.
Na atmosfera, nos oceanos e nas plantas ocorre a absorção natural de energia solar, mas a
energia solar pode ser obtida artificialmente através de dispositivos denominados de coletores
solares. A energia solar, uma vez absorvida, pode ser convertida em energia elétrica sem
nenhum dispositivo mecânico intermediário.

Os Ciclos Biogeoquímicos

Os ciclos biogeoquímicos são processos naturais que, por diversas formas, promovem reciclagem
de importantes elementos ou de compostos químicos do meio ambiente para os organismos, e
vice-versa. Ou seja, é através dos ciclos biogeoquímicos que ocorre o fluxo cíclico dos elementos
químicos importantes tanto para a vida quanto para os ecossistemas existentes na biosfera. Portanto,
elementos como a água, o carbono, oxigênio, nitrogênio, fósforo e cálcio percorrem esses ciclos,
unindo todos os componentes vivos e não vivos da Terra.
Você já deve ter em mente que a Terra é um sistema dinâmico que está constantemente
em evolução, portanto, qualquer alteração dos ciclos biogeoquímicos acaba afetando todos os
demais processos físicos e biológicos.

Os elementos químicos da natureza são constantemente transformados durante os


processos de composição e decomposição da matéria orgânica, sendo que todos eles
Importante! estarão sempre contidos na biosfera sendo, portanto, recicláveis.

Para que fique claro, os ciclos biogeoquímicos que acontecem a todo instante em nosso dia
a dia podem ser entendidos como o movimento ou o percurso de um determinado elemento
ou molécula química através de um ou vários meios como a atmosfera, a hidrosfera e a litosfera
da Terra. Desse modo, os ciclos estão intimamente relacionados com processos geológicos,
hidrológicos e biológicos.

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Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

O estudo desses ciclos se torna cada vez mais importante, como, por exemplo, para avaliar
o impacto ecossistêmico que a exploração de um recurso natural possa vir a causar no meio
ambiente e nos seres vivos que dependem direta ou indiretamente desse meio para garantir a
sua sobrevivência.
Um triste exemplo tem sido a falta de água na região metropolitana de São Paulo. Tanto a
população humana quanto a fauna e flora têm sofrido com a escassez desse recurso nessa região.
Uma vez que os rios e lagos estão sendo poluídos e altamente consumidos principalmente por
indústrias e plantações agrícolas, os rios e os demais mananciais de água potável tem sido
contaminados pelo despejo de resíduos cancerígenos (metais pesados) e superexplorados por
conta da irrigação de latifúndios de cana-de-açúcar.

Em síntese:
Como dito anteriormente, qualquer matéria pode ser constantemente reaproveitada
na natureza. Por exemplo, quando uma planta ou um animal morre, as bactérias e
os fungos existentes no solo dão início à decomposição da matéria que compunha
seus corpos. É justamente através da decomposição que se devolve ao solo os sais
minerais, a água e os demais elementos – como sódio (Na), potássio (K), fósforo
(P) e nitrogênio (N). A partir da decomposição desses elementos, eles estarão
novamente disponíveis no solo, no ar ou na água, onde o processo todo se reinicia
como se fosse uma grande engrenagem do mundo natural.
Algumas atividades cíclicas ligadas aos elementos biogeoquímicos podem ser
exemplificadas. O nitrogênio, por exemplo, que naturalmente é encontrado no ar
que respiramos, é absorvido por algumas bactérias que vivem aglomeradas nas raízes
de algumas plantas (Figura 3). Já o fósforo que está presente no solo é novamente
incorporado pelos seres vivos a partir das plantas para compor os fosfolipídios.

Figura 3. Raízes de leguminosas com nódulos contendo bactérias fixadoras de nitrogênio.

Fonte: Xavier et al. (2015)

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O ciclo da água
Você já deve saber que a água pode ser encontrada naturalmente em três estados físicos:
sólido, líquido e gasoso. Nos oceanos e mares temos aproximadamente 97% de toda a água
do nosso planeta. Dos 3% restantes, 2,25% está em forma de gelo nas geleiras e nos polos
norte e sul, e apenas 0,75% está presente nos rios, lagos e lençóis freáticos que a população
humana tem de dividir com os demais animais terrestres.
A quantidade de água na forma de vapor que se encontra na atmosfera é extremamente inferior
quando comparada às grandes quantidades de água encontradas nos demais estados físicos. Porém,
apesar dessa quantidade ser ínfima, a presença de vapor de água no ar é vital para os seres vivos e
fundamental para que se estabeleça as condições climáticas do nosso planeta.
Esse vapor de água que se encontra na atmosfera é proveniente da evapotranspiração que
ocorre de forma natural na biosfera. A evapotranspiração nada mais é do que a própria
transpiração realizada pelos seres vivos e a evaporação da água líquida por conta do aquecimento
pelo Sol. Portanto, você já deve ter imaginado que a evapotranspiração exige certa quantidade
de energia para ser realizada. A água gasosa evaporada para atmosfera pela radiação térmica
solar se condensa na atmosfera por perda de calor e se precipita em forma de chuva (líquida),
ou por um resfriamento excessivo na forma sólida (neve ou granizo).
Como a maior parte da água em nosso planeta se concentra nos oceanos, a quantidade de
evapotranspiração é bem maior do que a precipitação nas áreas oceânicas. Por outro lado,
nos continentes e nas ilhas ocorre o inverso: a água evapora em menor quantidade e chove
em maior proporção. Essa inversão possibilita nos continentes a formação de rios, lagos e
lençóis freáticos.
Então, como a chuva ocorre de forma mais pronunciada nos continentes do que nos
oceanos, poderemos pensar que a tendência do nível de água nos oceanos seria diminuir ao
longo do tempo. Entretanto, vemos que isso não tem acontecido. Você sabe por quê? Bom,
esse processo dos oceanos secarem não ocorre devido ao acúmulo de água dos continentes
ser transportado de volta aos mares e oceanos através dos rios.
Figura 4. Esquema ilustrativo do ciclo da água.
É muito importante que você observe
que todo o movimento realizado pela
água em nosso planeta acontece de forma
cíclica. Desse modo, a água evaporada
pelo Sol e transpirada pelos animais
percorre seu trajeto, seja ele na terra
ou na atmosfera, cumprindo todas suas
funções, até que ocorra a precipitação,
quando ela voltará a estar disponível para
recomeçar o seu ciclo na natureza. Veja o
ciclo completo na Figura 4 (ao lado).
Fonte: ga.water.usgs.gov

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Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Teoria de Gaia

Olhando o ecossistema como um todo, podemos observar que a população é extremamente


ampla e ainda em constante crescimento. Além disso, observamos vários pontos negativos
para a qualidade do ambiente, como a degradação das áreas de matas, o esgotamento dos
recursos naturais, o acúmulo de resíduos de todos os tipos de lixo transformados em poluição
de rios, solo e ar, além da mudança climática e a destruição da biodiversidade em todas as suas
formas. Todas essas situações provocadas pela humanidade constituem juntas uma ameaça
ao bem-estar do próprio ser humano – ameaça essa que até então era desconhecida pelas
gerações anteriores.

Dessa forma, é extremamente fácil perceber que precisamos restabelecer o equilíbrio em


nosso planeta, e isso depende essencialmente do ser humano voltar a respeitar a natureza da
forma como ela merece. É nesse contexto que surge a Teoria de Gaia, a qual foi proposta para
mostrar à humanidade o que temos feito com nosso planeta, e que a necessidade de equilibrar
o meio ambiente é urgente, tendo em vista que a existência de vida está comprometida pelo
nosso grande descaso.

Analisando a Terra do seu interior, cientistas descobriram que ela é quase totalmente
constituída de rocha fundida e metal. Sendo a Terra um planeta do universo que pulsa vida por
toda a sua porção externa, a Teoria de Gaia considera, portanto, que o nosso planeta funciona
como um imenso sistema fisiológico dinâmico, o qual se tornou apto para a vida há mais
de três bilhões de anos. Dessa forma, Gaia pode ser entendida como um sistema fisiológico
“vivo” que regula as condições climáticas e químicas para que sejam ideais para a vida.

O cerne dos problemas que afligem Gaia está na falta de controle populacional humano,
onde atualmente o número de habitantes ultrapassa as sete bilhões de pessoas e torna
insustentável a vida nos próximos anos. Com o atual modelo de desenvolvimento capitalista,
onde a superexploração dos recursos naturais provoca a destruição maciça de ecossistemas,
polui o globo terrestre e ameaça o clima, o nosso compromisso agora é controlar o crescimento
populacional de modo a sermos condizentes em número de pessoas com aquilo que a
capacidade de Gaia suporta para alimentar-nos a longo prazo.

Para que isso ocorra, é nosso dever para com o planeta alterarmos a ordem dos nossos
valores enquanto sociedade, dando prioridade para o controle populacional, à limpeza das
águas, proteção do solo e ao cuidado com as árvores e animais.

Como dito anteriormente, a própria Gaia é quem regula sua temperatura de modo a ser
ideal para qualquer tipo de vida que a esteja habitando, contudo, a emissão de gases de efeito
estufa, como o CO2, faz com que a nossa atmosfera aqueça o bastante a ponto de derreter
imensos blocos de gelo da Groenlândia e de parte da Antártida ocidental (Figura 5). Aos
nossos oceanos será então acrescentada água suficiente para que os níveis do mar se elevem
e ocasionem êxodo do litoral para as regiões interioranas e mais altas dos continentes.

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Figura 5. Imagem de satélite do iceberg B-15A de 160 Km de comprimento
O aquecimento da atmosfera, em termos de na Antártida desprendido por causa do aquecimento global.
Gaia, em pouco tempo será excessivo para a flora,
fauna e muitas outras formas microbianas de vida.
Esse impacto climático é provocado pela nossa civi-
lização industrial, a qual vem aquecendo Gaia mais
rapidamente do que os processos naturais. Sabe-
mos que Gaia já sobreviveu com sucesso a enormes
catástrofes em seus primeiros milhões de anos de
vida (Figura 6) mas, contudo, caso continuemos a
deixar as coisas como estão, nossa espécie poderá
nunca mais desfrutar deste planeta repleto de vida Fonte: www.apolo11.com

– assim como já perdemos inúmeras belezas naturais verdejantes e cênicas, que existiam há
pouco mais de cinquenta anos e hoje já não existem mais.

Figura 6. O estabelecimento da vida na Terra e sua relação com as chuvas meteoríticas esterilizantes.

Fonte: Damineli e Damineli (2007)

Neste momento, você deve estar pensando que é muito difícil tomarmos medidas de ação
em prol de nosso planeta e de nós mesmos, mas é mais simples do que se imagina. Basta
rompermos com a economia que enriquece poucos e manter a maior parte da população
mundial com pouco dinheiro, transformaremos toda essa situação que antecede o caos apenas
tornando a nossa economia ecológica.
Para isso, nossa matriz energética, por exemplo, deverá se basear em fontes renováveis já
descobertas, tais como a energia eólica e a solar (Tabela 1). Ainda, poderemos substituir os
combustíveis fósseis poluidores, como o carvão mineral e o petróleo, por aqueles de origem
vegetal, como o etanol e o biodiesel. Outra fonte energética seria a proveniente de energia
nuclear que, apesar de ser defendida por diversos intelectuais de gestão ambiental como a

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Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

solução de crises ambientais, tem sido repensada pela sociedade atual após alguns acidentes –
embora tenhamos tecnologia suficiente para manter níveis seguros de uso dessa fonte.
Tabela 1. Empreendimentos de geração de energia em ação no Brasil em 2014.
Tipo Quantidade Potência Outorgada (kW) %
CGH 469 288.349 0,22
EOL 178 3.847.529 2,89
PCH 467 4.713.134 3,57
UFV 164 16.287 0,01
UHE 197 86.625.945 63,17
UTE 1.866 39.325.279 28,61
UTN 2 1.990.000 1,52
Total 3.343 136.806.523 100
Fonte: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm

Este assunto acaba entrando no âmbito da sustentabilidade, a qual representa ações


economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas (FIALHO et al.,
2007). Esse conceito vem crescendo e atingindo mais pessoas graças a ações individuais
e de organizações civis não governamentais que possuem visão holística da natureza e da
economia, que perceberam os problemas socioambientais relacionados ao mau planejamento
de governar a população mundial.
Quanto mais conhecimento obtemos, mais clara fica a percepção que Gaia foi e está sendo
bruscamente alterada em razão do desenvolvimento da vida humana sobre ela. À medida
que ocupamos áreas verdes transformando-as em áreas urbanas, alteramos a composição do
ambiente – como a sua temperatura, natureza química e toda a estrutura de vida na superfície da
Terra. O que vêm ocorrendo é que Gaia está em luta contra todas as perturbações provocadas
pela humanidade em função da manutenção de suas formas de vida. Entretanto, os seres
humanos tentam governar a Terra para seu próprio conforto e conveniência. Como resposta,
em analogia aos cuidados maternos, o grande ecossistema Gaia age como uma mãe que
acalenta seus filhos quando esses lhe dão o devido respeito, mas, por outro lado, pune os que
a desrespeitam, sendo que o castigo pode muitas vezes significar a impossibilidade de vida até
mesmo dos que a respeitam.
Com isso, para evitarmos que todos paguem pelo mau comportamento de uma grande
parcela da população, precisamos divulgar o que acontece de verdade com nosso planeta
para todas as pessoas, pois há riscos para todos, tanto para nossas vidas quanto às gerações
futuras. Apenas educando as pessoas de como viver de um modo sustentável, a população se
mobilizará de forma espontânea e generosa com os ecossistemas, adotando uma postura de
vida em harmonia com Gaia.
Comumente, cada um de nós prioriza uma vida boa pensando em um futuro imediato. Por conta
disso, preferimos então protelar a solução dos problemas esquecendo os pensamentos desagradáveis
que uma possível catástrofe provocará no futuro. Dessa forma, nós, seres humanos, nunca nos
responsabilizamos por nossos atos de desrespeito ao planeta, uma vez que as consequências ocorrem
a longo prazo e caem sobre as costas das gerações futuras.

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Material Complementar

Vídeos:
Discovery na Escola - Elementos de Biologia, Ecossistemas
https://youtu.be/5WVhItCdm-o

Biologia - ciclos biogeoquímicos


https://goo.gl/9GtFU7

Teoria gaia de James Lovelock


https://youtu.be/GzhidMRxBuQ

Livros:
PRIMACK, R. B; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: editora Planta. 2001.

ROSA, R. S.; MESSIAS, R. A.; AMBROZINI, B. Importância da compreensão dos ciclos biogeoquímicos
para o desenvolvimento sustentável. Coord. Maria Olímpia de O. Rezende. Instituto de Química de
São Carlos, Universidade de São Paulo. 2003.

Sites:
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia26.php
https://www.biologiatotal.com.br/areas-da-biologia/ecologia/
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia6.php

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Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Referências

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FIALHO, F.A.P. et al. Empreendedorismo na era do conhecimento. Florianópolis: Visual


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LOVELOCK, J. A Vingança de Gaia. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2006. Tradução Ivo Korytowski.

XAVIER, G.R.; RUMJANEK, N.G.; GUEDES, R.E. Fixação Biológica de Nitrogênio.


Embrapa. Agência Embrapa de Informação Tecnológica - Ageitec. Disponível em: http://www.
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Disponível em: http://ga.water.usgs.gov/edu/watercyle.html. Acesso em 23 mar. 2015.

USGS. Water cycle. Departhment of the interior. United States Geological Surveys. 2015.
Disponível em: http://ga.water.usgs.gov/edu/watercyle.html. Acesso em 23/03/2015.

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Anotações

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