Você está na página 1de 13

ARTIGO DA REVISTA PROTEÇÃO DEZ/95 normas da Association Française de Normalization

(AFNOR), o Code d ‘Appareilis à Pression (Codap), as


normas soviéticas, alemãs, japonesas e outras.
A REVOLUÇÃO DO VAPOR

Desenvolvimento industrial a partir das caldeiras traz o


risco de explosões

A Revolução Industrial teve impulso pelo uso


do vapor sob pressão, para geração de energia das
máquinas. No século II a.C., como resultado de uma
série de experiências, Heron de Alexandria criou um
aparelho, chamado de Eolípila, que vaporizava água e
movimentava uma esfera em torno de um eixo. E este foi
o precursor das caldeiras e das turbinas a vapor.

Denis Papin, na França; James Watt, na


Escócia; Wilcox, nos Estados Unidos e múitos outros,
entre cientistas, artífices e operários, ocuparam-se, ao
longo dos tempos, com a evolução dos geradores de O que restou da fábrica de calçados - 1905
vapor.
NR-13 - No Brasil, desde 1943 a CLT, de forma
Em 1835, havia cerca de seis mil teares incipiente, contempla a preocupação com a segurança
movidos a vapor. Mas foi após a 1º Guerra Mundial que em caldeiras. Mas somente a partir de 1978 foi criada a
essa evolução se acentuou. As duas características norma sobre Caldeiras e Recipientes sob Pressão, a NR-
básicas das caldeiras - pressão e capacidade de 13, que estabeleceu as medidas de segurança para os
produção de vapor - têm alcançado valores jamais usuários destes sistemas. No final de 1994, a Secretaria
esperados pelos técnicos do século passado. Se, com a de Segurança e Saúde no Trabalho publicou, no Diário
tecnologia, normas, procedimentos e ensaios que Oficial da União, o novo texto da NR-13, elaborado por
existem hoje, as caldeiras ainda explodem, são uma comissão composta por representantes das
incalculáveis quantos acidentes ocorreram e quantas empresas, Governo e trabalhadores. A Associação
vítimas houveram, desde a época em que o vapor passou Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) na NBR-12177 -
a ser o principal responsável pelo movimento das antiga NB-55 - trata dos procedimentos de como fazer as
máquinas na indústria. inspeções, e a NB-227, dos códigos para projeto e
construção de caldeiras estacionárias. Além disto,
Caldeiras com capacidade para produzir até entidades como o Instituto Nacional de Metrologia,
três ou quatro mil toneladas de vapor por hora são Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), o
utilizadas atualmente. O fator limitante dessa Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) e a Associação
característica é o tamanho da unidade e as propriedades Brasileira das Indústrias Químicas (Abiquim), têm
metalúrgicas dos materiais empregados. Assim como procurado contribuir elaborando estudos, pesquisas e
houve um avanço na tecnologia, também era necessário discussões sobre os aspectos de segurança nestes
que se avançasse nas técnicas para proteger tanto os equipamentos. Caldeira não é apenas uma máquina que
homens que trabalham próximos a estes equipamentos, a qualquer problema signifique somente uma parada
como a comunidade ao redor das fábricas. para manutenção. Em muitas situações esta parada
representa, também, a paralisação da produção.
Dependendo do estado de conservação do equipamento,
Em 1905, a explosão da caldeira de uma fábrica da devido à má condição de funcionamento, ou também
cidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, onde falhas na verificação de seus sistemas de segurança, e
morreram 58 pessoas, alertou a sociedade para a de um procedimento incorreto na operação, a caldeira
necessidade de normas e procedimentos na construção, ou os vasos sob pressão podem explodir e destruir
manutenção, inspeção e operação destes equipamentos. parcial ou totalmente uma fábrica. Como conseqüência
pode haver vítimas fatais, interrupção da produção,
prejuízos financeiros com indenizações, reconstrução e
aquisição de novos equipamentos. E se for constatada a
não observância das normas de segurança, o
proprietário, ou o seu preposto, no caso o inspetor de
caldeira, está sujeito a ser responsabilizado civil e
criminalmente.

SEGURANÇA SOB PRESSÃO

Prevenção em caldeiras e vasos vai do projeto e até a


operação

Naquela pequena empresa, que já não é tão pequena


assim, vez por outra, no meio do barulho da produção,
Fábrica de calçados – 1905 - Massachusetts ouve-se o soar da caldeira, daquelas bem antigas. Suas
placas de metal eram unidas com rebites, ao invés de
utilizar a solda. A válvula de segurança tinha
A partir daí, foram criados os códigos da American contrapesos e, de tanto tocar, o proprietário resolveu
Society of Mechanical Engineers (ASME), que se amarrá-la com um arame para que não soasse mais. No
constituem na principal fonte de referência normativa processo de aumento da produção também era
sobre caldeiras e vasos de pressão do mundo. Além necessário elevar a geração de energia termodinâmica.
destes códigos, existem as British Standards (BS), as Mas este acréscimo de consumo ocorreu gradualmente,

1
sem que a caldeira fosse trocada por uma de maior operacional. Cada vez mais é possível trabalhar com
capacidade e com menor desgaste. Para quem não segurança em caldeiras e vasos de pressão. Basta para
conhece como funciona uma caldeira, imagine uma isto que haja a preocupação com a vida daqueles que
panela de pressão com aquela válvula fixa que fica em trabalham nestes equipamentos e também com as
cima da tampa, não deixando o vapor sair. O que pode conseqüências, desastrosas, de uma explosão.
acontecer quando a pressão interna for maior que a
resistência do material da panela? Na mesma situação
OPERAÇÃO INSEGURA
encontrava-se esta caldeira, quando inspecionada pelo
engenheiro Angelo Gaetanino Gaudio, da empresa
Consultag Desenvolvimento Industrial e Energético Ltda, Principais causas de acidentes são provocadas por falhas
no Rio Grande do Sul. humanas

O número de acidentes, considerando a quantidade No Brasil, não existe estatísticas de quantas caldeiras e
destes equipamentos em funcionamento, é pequeno. vasos de pressão estão em funcionamento e muito
Porém, dizem que isto ocorre por causa do fator sorte. menos sobre os acidentes ocorridos. Na opinião do
“Se tem um Deus que protege as crianças e os bêbados. engenheiro mecânico e inspetor de caldeiras Mauro
ele também protege os operadores”, observa Lourenço Pessoa de MelIo, diretor da Mega Steam, empresa
Joaquim de Andrade, chefe de administração, vendas e especializada em inspeção, de Porto Alegre/RS, a maior
assistência técnica da ATA Combustão Técnica S/A. Ele parte dos acidentes que ocorrem com caldeiras são por
diz que geralmente os donos das empresas pensam que falhas humanas. Utilizando as estatísticas norte
os acidentes só vão acontecer com o vizinho. O uso americanas do National Board Builetin realizadas neste
destes equipamentos em diversos setores representa ano, ele mostra que 10% dos acidentes são por falha de
uma opção energética de baixo custo. Uma caldeira pode projeto e fabricação, e os outros 90% são por erro
ser aproveitada de diversas formas. A partir da queima humano. Acidentes por causa de válvulas de segurança,
de um combustível, ela aquece a água que se transforma nível de água, falha nos limites de controle de
em vapor, e sob pressão, gera energia termodinâmica. combustão e dos queimadores, instalação e reparos
Transformada em energia mecânica, gera eletricidade, inadequados, todos têm por trás o elemento humano,
constituindo-se numa fonte alternativa de geração de que durante as inspeções, manutenção e a operação não
energia e calor. O aquecimento da caldeira se obtém pela atuam corretamente.
queima de combustível sólido como a lenha, cavaco,
carvão, bagaços; ou liquido como óleos combustíveis e
“A estatística subentende como único elemento de falha
álcalis; e ainda gasosos como os gases liquefeitos de
humana o erro do operador”, explica Mello.
petráleo.

Nas fábricas de papel são operadas caldeiras


recuperadoras de álcalis. Elas utilizam os resíduos da
extração da celulose da madeira como combustível,
reaproveitando o que seria jogado na natureza, para a
produção da energia elétrica. Esta energia, por sua vez,
impulsiona o funcionamento da fábrica. Além do
aproveitamento do licor preto, como é chamado o
combustível, a soda cáustica é separada e retoma para a
produção da celulose, sendo reaproveitada em 97%, com
uma perda mínima durante o processo.

Riscos diversos - A utilização de caldeiras também


implica em riscos diversos. Elas podem explodir, causar
incêndios, choques elétricos, intoxicações, quedas e Um outro fator importante se refere aos
queimaduras. A prevenção deve ser considerada em proprietários das caldeiras, que não cumprem as
todas as fases: no projeto, na fabricação, na operação, normas legais vigentes. Ou se cumprem é só pró-forma,
na manutenção e na inspeção. A explosão pode se com a conivência de alguns inspetores de caldeira, que
originar da combinação de três causas: a diminuição da fazem os laudos de inspeção sem terem ido na empresa.
resistência do material, em decorrência do super Ou, então, não seguem as recomendações dos laudos de
aquecimento ou da modificação estrutural; a diminuição inspeção e não executam as medidas propostas,
da espessura advinda da corrosão ou da erosão; e o contratando pessoas sem lhes fornecer o treinamento
aumento da pressão por falhas de operação ou dos necessário. Segundo Lourenço Joaquim de Andrade, da
equipamentos de segurança. No entanto, uma caldeira ATA - Combustão Técnica S/A, em São Paulo explodem
bem cuidada pode durar muitas décadas. Os critérios de cerca de três a quatro caldeiras por ano.”Existem
segurança deveriam iniciar antes da compra e da caldeiras que, com dois anos de operação ,estão em
instalação. O ideal seria que o engenheiro inspetor de péssimo estado de conservação por terem sido mal
caldeiras e vasos de pressão, fosse consultado para operadas. No entanto, uma caldeira bem cuidada pode
acompanhar o processo de fabricação e não depois que ter 15 anos e continuar como nova”, relata. Ele
elas estão instaladas. Além do cuidado na compra, acrescenta que a situação em São Paulo é uma tragédia,
procedimentos simples como as exigências das porque existe muita picaretagem por falta de
especificações técnicas grafadas no corpo do fiscalização. Se não houvesse impunidade, estes
equipamento, com os dados do projeto, da fabricação e acidentes serviriam como exemplo”, explica.
operação, nome do fabricante, ano de fabricação e o
serviço a que se destina, ajudam na hora da inspeção.
Outros elementos como o treinamento dos operadores e Desinformaçâo - No dia 24 de outubro, a
a manutenção preventiva combinada com as inspeções explosão da caldeira que funcionava na Narwe
periódicas, garantem o funcionamento seguro destes Lavanderia e Tinturaria, na zona norte de São Paulo,
equipamentos. Com técnicas de inspeção convencionais destruiu um galpão de 400 m2 e matou o funcionário
- testes hidrostáticos, ultrasom, e outros - e não encarregado pela caldeira. Antônio Avelino da Costa, 42
convencionais, como os ensaios-não-destrutivos, anos, morreu na hora, queimado pela água quente.
mantém-se sob controle cada componente de uma Conforme avaliação do delegado de polícia, talvez ele não
caldeira ou vaso de pressão, garantindo a segurança

2
tivesse tido tempo de regular os controles depois de trabalhadores durante os cursos de operadores de
ouvir o alarme que indica o superaquecimento. caldeiras. Dos 175 entrevistados, mais de 50%
declararam que assimilaram mais ou menos o que
estava sendo ministrado. Ele constatou que o nível de
Outro acidente que ilustra a situação de risco e
escolaridade destes profissionais é muito baixo, não
desinformação ocorreu em 1989, na cidade de
ultrapassando sequer o 1° grau. Embora vários deles
Sananduva/RS. Por total falta de cuidados, uma
trabalhem com caldeira há tempo, a maioria tem um
caldeira de 1.000 Kg/h de vapor e pressão de 4 kgf/cm2
conhecimento muito superficial do que seja o
de uma destilaria de álcool explodiu, matando o
equipamento em si e os riscos que ele oferece. Este
operador e ferindo duas pessoas. O trabalhador que
estudo, desenvolvido na região de Bauru/SP, revela que
operava a caldeira não tinha realizado nenhum curso ou
cerca de 23% ainda não têm o curso de operador de
treinamento e a caldeira nunca foi inspecionada. Até
caldeira.
hoje o processo civil e criminal está em andamento na
Justiça.
A Portaria nº 23 (NR-13) faculta o curso para aqueles
com pelo menos três anos de experiência nessa
No caso das grandes caldeiras, segundo o
atividade, até 8 de maio de 1984. Mas, na avaliação de
engenheiro de equipamentos Marcelo SaIles, da
Valle, isto representa um grande risco para as empresas
Refinaria Duque de Caxias da Petrobrás, no Rio de
que empregam este tipo de operador. “Em muitos casos
Janeiro, a chance de acidentes por falhas de
eles não têm a mínima noção de porquê e o que fazer
manutenção, projetos e equipamentos é quase
numa situação de emergência e podem provocar danos
nenhuma. “A causa nunca é isolada, mas
ao equipamento”, explica. Nestas circunstâncias as
predominantemente existe a falha humana”. Salles
empresas deveriam, na primeira oportunidade, fazer este
destaca que nenhuma empresa deixa um operador
operador participar do curso, para aprofundar os seus
numa caldeira de grande porte sem nenhum preparo.
conhecimentos práticos e com um mínimo necessário de
“Sempre há um treinamento”, afirma.
teoria.

Como exemplo, SalIes lembra de um acidente


No final do trabalho, Valle sugere que, para o nível de
que ocorreu numa das refinarias da Petrobrás, onde o operadores hoje existente, estes cursos deveriam ser
visor de nível da água, no painel de controle, estava em
recicláveis e acontecer a cada dois anos. E neste caso, o
pane. O gerente, para resolver o problema, deixou um conteúdo seria mais ameno na teoria e mais intenso na
operador de área 24 horas de plantão, olhando o visor.
prática, para que haja melhor aproveitamento por parte
“Claro que não ficou ali. Isto é humanamente impossível
dos trabalhadores. Eles manteriam-se atentos e
e ele se afastou”, observa. O operador que estava no
acompanhariam a evolução dos novos equipamentos.
controle dos painéis percebeu que havia perda de nível,
mas não indicava se tinha baixado ou subido, e a água
secou. Só que ele tomou a decisão errada e cortou a Ele cita, no seu trabalho, o caso de um
alimentação de água, que já estava faltando. A caldeira acidente onde o operador com curso de operação em
superaqueceu e danificou o tubulão. Outras falhas caldeira, feito há tempo, se descuidou do nível de água
freqüentes acontecem no acendimento dos queimadores, da caldeira à lenha. Houve falha no automático de
como a que ocorreu na caldeira de CO (monóxido de alimentação de água e, ao perceber que não havia mais
carbono), da Refinaria Duque de Caxias, no Rio de nível no visor, tentou a bomba d’água, que não
Janeiro, em julho de 1990. É bom lembrar que a funcionou. Em seguida tentou o injetor de emergência,
Petrobrás possui toda uma preocupação com os que por sorte não conseguiu operar, pois na situação em
aspectos de segurança e suas exigências são maiores que se encontrava a caldeira, qualquer injeção de água
que as estabelecidas legalmente. Os seus funcionários provocaria uma explosão. Tanto que logo em seguida
recebem um treinamento rigoroso e existem os serviços houve uma implosão. Na conclusão, o trabalho avalia o
especializados só para cuidar das caldeiras, que são círculo vicioso que existe. “O operário não tem
mais de 100 em todo o país, e centenas de vasos de qualificação e recebe, por isso, baixa remuneração. Em
pressão, localizados nas refinarias, navios e plataformas contrapartida, opera com equipamento especializado e
marítimas. de alto risco, que requer conhecimento e experiência
para o qual não está preparado. Portanto, para operar
caldeiras, seria necessário um operador com, no
Conhecimento superficial - A formação dos operadores
mínimo, nível técnico”.
de caldeiras, mesmo fazendo o curso exigido na NR-13,
deixa muito a desejar. A pesquisa realizada pelo
engenheiro Mecânico e de Segurança, José Olimpio
ValIe, da Universidade de Bauru/SP e apresentada em
junho deste ano, mostra o grau de aproveitamento dos

3
Outro motivo para o superaquecimento ocorre
quando se coloca uma caldeira com potência baixa em
relação às necessidades da produção de vapor e, para
atender a demanda, intensifica-se o fornecimento de
energia na fomalha. Nestes casos, ao invés de alcançar a
produção desejada, se consegue rupturas, fissuras ou
deformação dos tubos, potencializando o perigo de
explosão.

A necessidade rigorosa de transferência de


calor dos tubos para água mantém a temperatura
interna. Caso não haja refrigeração no contato da água
com o aço e faltando água nas regiões de transmissão de
calor, ocorrerá um superaquecimento do aço e a perda
de sua resistência. A maioria absoluta dos acidentes
com caldeira ocorre em razão da falta de água. Para
tentar suprir esta deficiência, o operador esquece-se que
o metal está superaquecido, e injeta água, causando o
RIGOR NAS INSPEÇÕES choque térmico que explode a caldeira. Os defeitos de
mandrilagem (expansão de tubos) são o trincamento das
chapas ou tubos e as descontinuidades microscópicas
Muito tempo de uso dos equipamentos exige maiores do aço, que podem ocasionar vazamentos. As operações
cuidados nos exames periódicos de soldagem são numerosas na fabricação de caldeiras.
As falhas nas juntas soldadas potencializam os riscos de
A NR-l3 estipulou um prazo de 25 anos para os explosão, uma vez que podem representar uma área de
equipamentos serem submetídos a uma rigorosa menor resistência. O Instituto Internacional de Solda
avaliação de integridade, visando determinar sua vida (IIW) classifica os defeitos por famílias ou grupos. As
remanescente e novos prazos máximos para inspeção, fissuras ou trincas (grupo 1), cavidades (grupo 2),
caso ainda tenham condição de uso. Em principio não inclusão ou escória (grupo 3), falta de fissão e de
existe vida útil para uma caldeira ou vaso, que penetração (grupo 4) e defeitos de forma (grupo 5).Seja
dependem da correta utilização e manutenção. Existem qual for o processo, a execução das operações de
caldeiras em pleno funcionamento com mais de 40 anos soldagem devem ser realizadas por soldadores
de uso, e que ainda podem continuar trabalhando por qualificados e seguindo processos reconhecidos por
mais 40. Grande parte destes equipamentos possui vida normas técnicas específicas. Após a soldagem, as
útil longa. É comum também a aquisição de caldeiras e caldeiras devem passar por tratamento térmico para
vasos de pressão de segunda mão. Isto aumenta a aliviar as tensões dos metais (ajuste). O controle
necessidade das inspeções de segurança serem mais radiográfico das juntas é a principal ação entre os
rigorosas, pois este é o único método para a detecção de ensaios não destrutivos aplicáveis nestes casos. A
várias causas de acidentes. O sucesso de um programa corrosão constitui um dos mais importantes fatores de
de inspeção está associado à escolha adequada das deterioração de caldeiras. Ela atua como fator de
ferramentas que permitirão o permanente controle da diminuição da espessura das partes sujeitas à pressão.
condição de integridade dos equipamentos. A corrosão interna processa-se sob diversas formas e
seguindo vários mecanismos. Porém, sempre é
conseqüência direta da presença da água: de suas
Vários indícios aparecem na estrutura das características, impurezas e de seu comportamento em
caldeiras e dos vasos, que podem ser detectados. Devido contato com o ferro, nas diversas faixas de
ao superaquecimento, o aço exposto a temperaturas temperaturas.
superiores às admissíveis pode perder resistência e criar
o risco de explosões. A escolha inadequada de materiais
no projeto de caldeiras pode ocasionar o risco de ruptura A corrosão externa depende dos combustíveis
de partes submetidas à pressão, em razão do emprego empregados e das temperaturas. Outro fator importante
de materiais não resistentes às solicitações impostas. é a atmosfera. Caldeiras instaladas em regiões úmidas,
Falhas no projeto, como o prolongamento excessivo dos próximas ao mar e em locais fortemente poluídos,
tubos expandidos em espelhos de câmaras de reversão, apresentam esta deterioração.
impedem a trajetória livre dos gases quentes, causando
o superaquecimento nestas partes e conseqüentemente, As explosões ocasionadas por elevação da pressão
fissuras nos tubos ou nos espelhos, nas regiões entre os ocorrem por falha dos sistemas de modulação de
furos. O posicionamento dos queimadores também chamas, de pressão máxima, válvula de segurança, e
constitui num risco de superaquecimento. nos controles manuais que acionam diversos
dispositivos da caldeira. Os erros no sistema manual são
Outro problema clássico é a incrustação, devido decorrentes de defeitos em instrumentos de indicação ,
à deposição e agregação de sólidos juntos ao aço da manômetros e nível, principalmente.
caldeira, no lado da água. Ela funciona como isolante
térmico e não permite que a água refrigere o aço. Ou As explosões por gases de combustão têm características
seja, há menor transferência de calor do aço para a peculiares, originadas por reação química - a
água. Por exemplo, o aço previsto para trabalhar na combustão. O maior perigo destas explosões é quando se
ordem de 300°C fica exposto a temperaturas de 500°C. recoloca a caldeira em marcha ou se promove a ignição
Com a incrustação, também aumenta a possibilidade de com retardo, sem purga prévia, condição em que a
corrosão. fornalha se encontra inundada de mistura combustível.
Para percepção destes diversos tipos de situações que
A falta de refrigeração dos tubos ocasiona o podem ocorrer com os equipamentos e, diante do muito
ocultamento. Este fenômeno ocorre porque a tempo de uso de uma caldeira ou vaso, os ensaios-não-
concentração dos sólidos dissolvidos na água se destrutivos vêm contribuir para melhorar a avaliação, na
cristalizam sobre os tubos, formando uma camada hora das inspeções.
aderente.

4
Como pode-se perceber, vários são os fatores que prontuário com as especificações técnicas do
contribuem para um acidente com caldeiras. No entanto, equipamento.
várias também são as técnicas e formas de detectar
estes problemas e garantir um funcionamento seguro.
Este inspetor anota tudo e, todo ano, tem que fazer a
Procedimentos simples, como as inspeções periódicas, e
vistoria. Nestas circustâncias, inspeciona novamente,
exames mais rigorosos, com auxílio de técnicas mais
interna e externamente, através de exame visual, e
apuradas e seguras, permitem a indicação do tempo
examina a estrutura metalográfica da caldeira com
remanescente de uma caldeira.
alguns testes. Ele descobre se existe trinca no metal,
corrosão ou incrustação, utilizando instrumentos como
ultra-som, raio-x, líquidos penetrantes, partículas
magnéticas. Conforme a situação, pode usar outros
recursos, como os ensaios-não-destrutivos, para uma
avaliação minuciosa. Além disso, o inspetor simula a
falta de água, vê se tem ferrugem na água e se os
equipamentos de segurança estão funcionando,
regulando a válvula de segurança. Faz também outros
testes com a caldeira fria e aquecida.

TESTANDO AS ESTRUTURAS

Novas técnicas de ensaios garantem a operação segura


dos equipamentos

O processo de fabricação de uma caldeira ou um vaso de


pressão exige cuidados especiais. Na seleção do material Todos estes cuidados para manter a caldeira e os vasos
a ser empregado, as chapas devem ser específicas e sob pressão em plena condição de funcionamento
classificadas segundo as normas e procedimentos dependem muito da ação do inspetor. “O engenheiro que
internacionais de fabricação. A união das chapas deve inspeciona só é lembrado urna vez por ano, e mesmo
ser feita por soldadores qualificados no processo. “Soldar assim, o êxito depende da vontade do dono da empresa
não é só juntar duas chapas, tem que saber o ângulo e em cumprir as recomendações”, revela o engenheiro
qual o tipo de eletrodo a ser utilizado primeiro. Enfim, Roque Puiatti, fiscal da DRT/RS, explicando que se o
tem que ser perfeita”, explica Lourenço Joaquim de piofissional não se impor, as empresas não atendem o
Andrade, da empresa ATA Combustão Técnica S/A, de que é recomendado. No caso dos vasos de pressão, a
São Paulo. situação é muito pior. Segundo o engenheiro Mauro
MelIo, da empresa Mega Steam, de Porto Alegre/RS, com
Além destes cuidados, a solda tem que ser radiografada excessão dos setores petroquímico, químico e de
para ver se não ficou nenhum furinho. Depois de pronta, celulose, nos demais segmentos os problemas começam
a chapa tem que ser aquecida para aliviar as tensões na hora de identificar o fabricante. “Muitos vasos de
criadas no processo de soldagem, para o material se pressão são construídos em fábricas de fundo de
autoregular. “Não é todo mundo que faz isto”, observa quintal, não se sabe a procedência, não têm prontuário,
Andrade, Para ver se a caldeira tem resistência e as empresas aceitam comprar os vasos sem questionar
estrutural, o teste hidrostático é o mais utilizado. Nele é suas condições construtivas”. A nova NR-13, na
acumulada a pressão de uma vez e meia maior que a avaliação de Mauro MelIo, veio ajudar muito o trabalho
pressão normal de operação, para ver se o material pode dos inspetores. “As informações são tão claras que deixa
operar. Após todo este processo, as caldeiras são muito pouco furo para o engenheiro inspetor. E em caso
testadas em bancada antes de serem despachadas para de algum processo civil ou criminal, se não cumprir o
o cliente. que está na norma, será dificil se safar da
responsabilidade”. Porém, ele acrescenta que a
tendência atual não é apenas cumprir o que está na
No término da fabricação, são colocados diversos legislação, mas utilizar técnicas que permitam saber
sistemas de segurança, para indicar falta de água, falha qual a real situação do equipamento.
na chama, excesso de pressão e pressão de vazão do
combustível. “Estes dispositivos têm sensores que
acionam automaticamente quando há algum defeito. Em Inspeções simples - Concordando com este ponto de
caso de faltar água, um deles liga a bomba d’água, outro vista, o engenheiro Wagner Branco, da divisão térmica
apaga a chama e oúltimo soa o alarme. Se a caldeira da Confor, de São Paulo, diz que a realização de ensaios-
parar por algum problema de segurança, não acende não-destrutivos não é cara e fornece informações mais
mais”, esclarece Andrade. precisas sobre a estrutura metalográfica das caldeiras e
vasos de pressão. O grande problema é a concorrência
entre os inspetores”, aponta Branco, esclarecendo que
Laudo de inspeção - Ao ser instalada a caldeira, é muitos profissionais cobram preços muito baixos e
necessário que seja feita a primeira inspeção por um fazem inspeções simples, enquanto aqueles que fazem
profissional. Ele é responsável pelo laudo de inspeção, um trabalho mais rigoroso, utilizando técnicas
abertura do livro de registro da caldeira, e por anexar o apuradas, têm que cobrar o custo compatível com a

5
qualidade do serviço. Geralmente as empresas avaliam A então secretária de Segurança e Saúde no Trabalho,
somente o valor da inspeção, mas não levam em Raquel Rigotto, deu inicio à formação do primeiro Grupo
consideração a relação custo/benefício de um exame Técnico de Trabalho Tripartite - composto pelo Governo,
mais minucioso nos equipamentos. Por exemplo, numa empresários e trabalhadores - para a revisão da NR-13.
inspeção simples com os métodos convencionais, o Num período de 10 meses e com participação dos
inspetor pode condenar o uso do equipamento. “É segmentos representados, o novo texto para a NR- 13 foi
comum encontrar trincas e já é suficiente para condenar elaborado. Walter Barelli estava para sair do Ministério
o equipamento”. Explica Jorge Alberto Vianna, da do Trabalho e o grupo avaliou que teriam que aproveitar
Brasitest, empresa especializada em ensaios-não- aquele momento para concretizar os trabalhos, explicou
destrutivos, de São Paulo. o engenheiro Luiz António Moschini de Souza, chefe do
setor de Inspeção de Equipamentos na PQU.

Os objetivos de cada segmento, Governo, trabalhadores


e empresários, foram colocados à mesa. Em cima deles
ocorreram os debates e as negociações. O texto da antiga
NR-13 foi considerado pobre: não constava nada sobre
vasos de pressão; as DRTs funcionavam como cartório
para o recebimento da documentação; não existia o
controle social sobre as condições dos equipamentos e
as condições de risco grave e iminente eram pouco
previstas, não havendo proibições claras. O trabalho de
revisão foi intenso. No total, o grupo realizou 18
reuniões, 13 para tratar de caldeiras e quatro sobre
vasos de pressão. No processo de consulta à sociedade,
foram enviados 17 mil correspondências via fax para
diversas empresas usuárias de caldeiras e vasos, com
um texto base para o recebimento de sugestões. Entre
os setores consultados destacam-se o químico, petro-
quimico, do petróleo, metalúrgico, elétrico, têxtil, álcool e
açúcar, siderúrgico, seguros, hospitais e hotéis, sendo
que estes dois últimos não responderam. Quanto ao
aspecto geográfico, 16 estados brasileiros participaram
Vianna ressalta que os testes convencionais apontam o com suas opiniões. Destas consultas, retomaram 634
defeito, mas não indicam qual a severidade e qual a comentários sobre caldeiras e 124 sobre vasos. 49% se
segurança em se trabalhar com o equipamento. Os referiam à forma do texto, 13% foram inseridos na NR e
ensaios- não-destrutivos como a termografta, a emissão 14% ficaram para ser utilizados no manual técnico sobre
acústica, as correntes parasitas, a endoscopia industrial e caldeiras e vasos de pressão, que será lançado até
as aplicações especiais de ultra-som, detectam os janeiro de 96, pelo grupo tripartite. 24% não foram
problemas que os exames convencionais não podem inseridos.
analisar. “Deve-se avaliar o defeito para ver se é
perigoso. Condena-se o equipamento quando não há Descartorização - Os representantes do Govemo
nenhuma alternativa técnica”, completa. Ele relata que apresentaram a necessidade de descartorizar as DRTs,
várias caldeiras já estavam prestes a ser condenadas, e suprimindo a necessidade de envio dos relatórios de
com esta análise, foi possível prever sua vida útil com inspeção, aprovação das plantas de instalação e as
segurança, e fazer uma operação de substituição Anotações de Responsabilidade Técnica (ART).
planejada, tanto na parte de operação quanto em relação
ao custo. “Este tipo de trabalho resulta numa economia
que não tem como medir”, destaca. Luiz Antônio Moschini explica que a situação era
anacrônica, pois as empresas que se empenhavam em
mandar os relatórios de inspeção para as Delegacias
NORMA AQUECIDA Regionais do Trabalho, conforme dizia a norma, eram as
mais visadas, mas se não mandassem, ninguém iria
Nova NR-13 é complexa e técnica, resultado de fiscalizar. Ele calcula que foi gasto um milhão de dólares
discussões participativas para cumprir a burocracia da legislaçâo,e a DRT nem
olhou os documentos.
Em 1992 ocorreram dois acidentes na Petroquimica
União (PQU), em São Paulo. Houve uma morte e alguns
feridos. A DRT e o Ministério Público interditaram a
empresa por 15 dias. Com esta interdição houve uma
reação em cadeia, que comprometeu o funcionamento da
Central de Matérias Primas do pólo petroquimico de São
Paulo, e dai por diante outras empresas, que dependiam
dos produtos de segunda geração produzidos por ela,
paralisaram suas atividades. Este episódio revelou uma
série de deficiências na parte da segurança industrial e
entre elas que a NR-13 (Caldeiras e Recipientes sob
Pressão) em vigor, não estava sendo cumprida. A
repercussão do acidente contribuiu para que a
Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho atentasse
para a necessidade de revisão da norma. Paralelo a este
evento, o Instituto Brasileiro do Petróleo e a ABNT
estavam gestionando junto à SSST as mudanças das
normas e inclusive com uma proposta já elaborada.

6
Desta forma, passou-se para os Conselhos Federal e paralisação resultaria em vultosos prejuízos de perda de
Regional deEngenharia e Arquitetura (Confea e CREA) a produção e de lucros cessantes.
fiscalização sobre o exercício profissional dos
engenheiros inspetores de caldeira. Por sua vez, os
Visando a volta da operação do equipamento, dentro da
inspetores ficaram responsáveis pelo envio dos relatórios
condição de máximo de segurança e confiabilidade, foi
de inspeção para os sindicatos de trabalhadores da
executado exame de Emissão Acústica, monitorando a
categoria predominante no estabelecimento.
atividade das descontinuidades existentes.

Estas duas questões estão gerando polêmica. A primeira


Após a realização do ensaio, o resultado do
porque qualquer engenheiro está habilitado a assinar
monitoramento não indicou a presença de atividades
um laudo de inspeção. Para alguns profissionais do
signficativas, que somadas as informações da morfologia
ramo é necessário que haja uma habilitação especifica
das descontinuidades, estas presentes desde afabricação
de inspetor de caldeira no sistema Confea. De qualquer
do equipamento, o reservatório foi requalificado para
forma, não compete as DRTs fiscalizar o exercício
operação nas condições em que foi ensaiado.
profissional dos engenheiros. A reclamação do envio dos
“Infelizmente a maioria dos sindicatos não está
relatórios aos sindicatos de trabalhadores, por parte dos
preparado para o recebimento destes relatórios”, afirma.
inspetores, ocorre porque estes profissionais não têm
Freitas pondera ainda que, caso os sindicatos queiram
contato com as categorias.
exercer a fiscalização sobre os locais de trabalho, o
direito está assegurado.
Além deste ponto, há muitas criticas quanto ao interesse
e competência técnica dos sindicatos para analisar os
relatórios. Isto, na opinião de Nilton Freitas, do
Sindicato dos Químicos do ABC e representante da CUT,
no grupo tripartite, é uma realidade.

Objetivo sindical - Para o sindicalista, o acidente da


CONTINUIDADE OPERACIONAL
Petroquímica União alertou para duas coisas. A primeira
é que não havia nenhum controle social sobre o
Exemplo do uso de ensaios não destrutivos em inspeção funcionamento destes equipamentos nas empresas. E a
de vasos segunda, que aquela norma estava somente no papel,
sem nenhuma utilidade. Ele informou que do ponto de
vista dos trabalhadores, a participação no grupo
O caso descrito procura mostrar a importância da
tripartite foi importante porque os sindicatos não tinham
realização de inspeção criteriosa, onde se tornou
conhecimento da gravidade destes problemas.
necessário o uso de técnicas de Ensaios-não-
Convencionais, de modo a permitir a continuidade
operacional do equipamento dentro de padrões mínimos A partir deste exemplo, no caso da PQU, foram
de segurança e conflabilidade.Durante medição de constatados pontos criticos na segurança e a interdição
espessura por uiltra-som, para adequação do só foi suspensa após um acordo com o Sindicato dos
equipamento à NR-13, notou-se reduções bruscas dos Químicos, quando foram definidas as soluções a curto e
valores em regiões da superfície examinada. médio prazos.
Descartando a hipótese de corrosão já que o vaso
possibilitou inspeção visual interna, ficou a evidência de Mesmo sem conhecimento técnico sobre o que era uma
descontinuidades internas no material. Lançou-se mão
caldeira, o Sindicato começou a visitar as empresas e
da técnica de Ensaio de Ultra-Som, objetivando mapear
descobriu que poderia interditar todas elas, porque
e qualificar a(s) descontinuidade(s) do metal As fotos
ninguém cumpria a NR-13. “Isto ficou explícito e nós
mostram o mapeamento das descontinuidades
começamos a definir os nossos objetivos para participar
encontradas no exame de ultra-som, que pelas
neste grupo tripartite”, relata Nilton Freitas. Segundo
dimensões e origem (segregações e duplas laminações)
ele, o objetivo foi aumentar o controle sobre as inspeções
condenavam o componente do vaso. Tratando-se de
através da participação das CIPAs e das entidades
equipamento que trabalha em regime contínuo, dia e
representativas dos trabalhadores.
noite durante meses, submetido a um ritmo severo de
operação, sem paradas para manutenção e inspeção
formando uma cadeia contínua, atravês da qual A participação dos sindicatos não chegou a um décimo
circulam os fluidos do processo, a sua falha ou em relação às empresas e DRTs. “Como não tínhamos

7
conhecimento técnico, organizamos reuniões com os Embora a norma mencione alguns itens que devam
operadores de caldeiras do ABC paulista e todas as constar no relatório de inspeção, não existe uma
sugestões foram absorvidas pela Comissão”, ressalta padronização, por isto o próximo passo será tentar
Freitas. Entre elas foi colocada a probição de calços, que formular um modelo de relatório.
significa a anulação dos sistemas de segurança das
caldeiras para que elas continuem funcionando. Esta
Nível técnico - A representação empresarial no grupo
prática é muito comum nas empresas e, além de
tripartite queria elevar os prazos de inspeção e o nível
comprometer o equipamento, é um forte componente
técnico da norma. A base do texto partiu dos pontos
para que ocorra os acidentes.
fracos detectados na norma anterior e nas referências do
código da American Society of Mechanical Engineers
Barrando a corrupção – O livre acesso da CIPA e dos (ASME), National Board, norma ABNT NB-55, API RP
sindicatos à documentação das caldeiras e vasos para 510 e nas legislações francesa, espanhola e inglesa.
evitar os relatórios fantasmas de inspeção; os estágios
práticos na própria caldeira onde o operador vai
Para as empresas com grandes caldeiras, do tipo A,
trabalhar; os manuais de operação em português; a
cumprir os prazos de inspeção, conforme a norma, era
proibição de sistema de drenagem rápida em situação
uma dificuldade. “Após o periodo de 12 meses, nós
perigosa, assim como a terceirização dos serviços
prorrogávamos os prazos por mais seis. Assim,
próprios de inspeção; e a negociação no caso de
conseguiamos cumprir a norma”, esclarece Rubens
qualquer modificação de projeto e condições
Walter Osés, supervisor Técnico da fábrica de celulose
operacionais, nasceram dos operadores. “Procuramos
Riocell, de GuaibaJRS. “A antiga norma não estava
colocar o mínimo para que as coisas sejam feitas com
adequada para os usuários de grandes caldeiras”, relata
segurança. Aquelas empresas que não estiverem de
o engenheiro Marcelio SalIes, da Refinaria Duque de
acordo, devem procurar o seu sindicato para negociar.
Caxias da Petrobrás, no Rio de Janeiro.
Com isto, nós acreditamos também estar evitando a
corrupção”, afirma Freitas.
Ele explica que as inspeções nestes equipamentos devem
ter períodos mais longos, porque a cada parada a vida
Moschini disse que a participação dos trabalhadores
útil do equipamento se reduz. O resfriamento, a queima
neste processo teve uma contribuição fundamental.
do combustível, e o reaquecimento podem causar fadiga
Piincipalmente,para desfazer os preconceitos sobre a
térmica no material da caldeira. “Cada dia de parada
falta de conhecimento técnico dos trabalhadores.
custa 300 mil dólares”, calcula 1, explicando que as
“Durante o processo de revisão da norma, percebemos
caldeiras acopladas à unidade de processos podem
muitas coisas que dizem respeito ao trabalho deles que
operar até quatro anos continuamente.
nós, técnicos, desconhecíamos”, ressaltou. O
representante da SSST no grupo, Almir Augusto Chaves,
alerta para outro detalhe. “A partir de agora não dá para Dentre as modificações apresentadas, destacam-se o
subestimar os sindicatos porque eles estão procurando enquadramento das caldeiras por categorias,
se informar, estão realizando cursos e vão começar a estabelecendo a relação entre pressão e volume. Além
discutir e cobrar tecnicamente as questões”. disto são estabelecidas exigências especificas para cada
categoria. Os vasos de pressão passaram a ser
enquadrados a partir de exigências quanto à segurança
específica, segundo a toxicidade e a quantidade de
produtos armazenados. Outro acréscimo importante é a
necessidade de apresentarem o prontuário na sua
documentação, a exemplo do que se exige para as
caldeiras.

Enfoque invertido - No entanto, houve uma inversão de


enfoque na nova NR-13. “Ela não dá atenção aonde há
maior relaxamento e, em conseqüência, maior risco”,
observa o engenheiro e inspetor de caldeira Angelo
Gaudio, consultor da Consultag, de Porto Alegre - RS. A
maioria das caldeiras em operação são de pequenos
usuários de caldeiras do tipo B e C, e as empresas com
caldeiras do tipo A possuem serviços de manutenção e
inspeção próprios, com operadores mais treinados, o que
diminui as chances de acidentes.
Um exemplo desta atuação ocorre em São Paulo, onde o
Sindicato dos Químicos do ABC entrou com processo na
Promotoria Pública contra todas as empresas do pólo
petroquímico. “Nós encaminhamos esta ação porque
estas empresas representam riscos potenciais para os
trabalhadores e para toda comunidade”,explica Nilton
Freitas. Ele esclarece que atualmente existem duas
empresas, a Oxiteno, com 90 vasos de pressão e seis
caldeiras, e a Polibrasil, com 35 vasos. “Os prazos já
estão todos vencidos e podemos exigir seu cumprimento.
E o sindicato pode fazer muito mais”, destaca.

O envio dos relatórios de inspeção já começou a


funcionar. “Recebemos 60 desde que a norma entrou em
vigor. Estamos analisando e entrando em contato com
os inspetores e as empresas, pedindo esclarecimentos
quando alguma coisa nos chama atenção”, revela
Freitas.

8
O engenheiro Rui Magrini, da DRT de São Paulo, que
coordenou os trabalhos do grupo, disse que neste
aspecto, as empresas que utilizam caldeiras pequenas
não terão dificuldades de se adequarem. Isto porque a
dilatação dos prazos atinge as grandes caldeiras, que
precisam de tempo para se reestruturarem. “As
pequenas têm que ser inspecionadas rigorosamente a
cada 12 meses. Isto é uma questão de mérito e não tem
prorrogação”, destaca.

Outro problema levantado é a exigência do operador de


caldeira ter a formação de primeiro grau. “A norma exige
mais que o Conselho Estadual de Educação”, contesta o
presidente da Associação dos Engenheiros de Caldeiras
e Vasos de Pressão do Rio Grande do Sul (AIERGS),
Salvador Arias Gonzales.

Se por um lado ela objetiva a qualificação deste Como já é tradicional no país, o jeitinho brasileiro
profissional, que lida com um equipamento perigoso, por também funciona no caso das inspeções. “Numa
outro, a realidade em algumas empresas demonstra que ocasião, foi constatado que um mesmo inspetor esteve
o operador possui outras funções. Fora o baixo grau de em três empresas, no mesmo dia e horário”, relata
escolaridade e o analfabetismo, muitos operadores que Gonzales. Esta é uma realidade que pode terminar com
hoje trabalham com caldeiras aprenderam na prática. a fiscalização dos trabalhadores e seus sindicatos.
“Eles não sabem o que estão operando, como atuar em Também, a ação do Ministério Público responsabílizando
casos de emergência e os riscos que representam os àqueles que por imprudência, imperícia ou negligência
equipamentos”, revela Wagner Branco, químico venham a causar danos a outros, é outro reforço para
industrial da Divisão Térmica da Confor, de São Paulo. garantir a segurança das caldeiras e vasos sob pressão.
Ele diz que estão habituados com a tecnologia de boca a
boca e possuem muitos vícios operacionais.
O envio do relatório de inspeção para as DRTs visava o
acompanhamento da situação das caldeiras, o que para
Repercussão – Apesar de muitos questionamentos sobre os vasos de pressão nem existia. A DRT do Rio Grande
a complexidade da nova norma, o resultado obtido pode do Sul foi pioneira na iniciativa de controle dos
ser avaliado pela repercussão que está atingindo junto à relatórios de inspeção, ao firmarem convênio entre o
sociedade. Centro de Apoio a Pequena e Média Empresa (Ceag/RS)
- antecessor do Sebrae - onde os relatórios eram
Vários cursos, seminários e encontros foram e estão centralizados e submetidos a uma avaliação por um
sendo realizados para explicar o novo texto, e as engenheiro inspetor, mantido pela entidade. Mas no
possíveis dúvidas e imperfeiçôes já estâo sendo final da década de 80 este convênio foi extinto. “O
colocadas. “Nós percebemos que no Brasil inteiro trabalho era eficiente porque dava uma garantia ao
existem pessoas preocupadas, porque foi feita uma empresário e mantinha a ética entre os profissionais”,
norma participativa. A outra foi imposta e não se sabe esclarece Gonzales, relatando que, na falta de dados, o
quem fez”, observa o engenheiro Luiz Antônio Moschini, inspetor era chamado para explicá-los. Se não fosse
representante das empresas no grupo. Ele acrescenta convincente, teria que refazer o laudo e até, em último
que as DRTs e uma centena de empresas participaram, caso, a inspeção.
e mais de mil técnicos deram palpites.
Com este procedimento houve uma moralização nos
As possíveis distorções que ocorreram foram por causa serviços de inspeção. A partir da detecção dos laudos
da conjuntura. O recente processo de reelaboração da fantasmas, houve a necessidade de um resgate da
norma apresentou um texto que contempla aspectos não questão ética da profissão e com este objetivo foi criada
suscitados na anterior, como a manutenção e a a AEIERGS, em 1988.
operação, e os não menos perigosos vasos depressão.
Faltou somente aparte de tubulação, que ficou para uma Atualmente, embora não exista mais este controle sobre
próxima norma. os laudos, a entidade se propõe a reorganizar este tipo
de atendimento, servindo como intermediária entre os
A BUSCA DA ÉTICA sindicatos e os inspetores, facilitando o envio e ainda
fazendo a análise. Mas para isto é preciso fazer um
acordo com o CREA, a DRT e os sindicatos, porque a
Entidade luta pela moralidade nos serviços de inspeção entidade não possui esta competência legal.
de caldeiras e vasos de pressão

A promoção de cursos de reciclagem, palestras e


A nova NR-13 aumentou as exigências da qualidade e da seminários tem sido outra preocupação da diretoria da
eficiência nas inspeções e repassou o controle dos entidade. No dia 20 de outubro, por exemplo, foi
laudos de inspeção para os sindicatos das categorias realizado o Encontro Anual dos Engenheiros Inspetores
predominantes nas empresas. Até que eles se organizem de Caldeiras e Vasos de Pressão, que contou com a
para avaliar estes laudos, os inspetores terão uma participação do secretário de Segurança e Saúde no
grande responsabilidade. “Eles devem ser conscientes e Trabalho, Zuher Handar; do assessor da SSST, Almir
terem conhecimento pleno do que estão assinando. Chaves; do engenheiro Luiz Moschini, da Petroquímica
Qualquer deslize pode acarretar em processo na vara União; de representantes da FIERGS; e do Ministério
civil e penal”, observa Salvador Arias Gonzales, Público, para discussão na NR13. Nesta ocasião, foram
presidente da Associação dos Engenheiro Inspetores de prestados esclarecimentos sobre o processo de revisão
Caldeiras e Vasos sob Pressão e Correlatos do Estado do da norma, sobre a questão da responsabilidade civil e
Rio Grande do Sul (AEIERGS). penal dos empregadores e dos profissionais para o
público presente.

9
Os valores das inspeções no Rio Grande do Sul também
foram resolvidos com a confecção de uma tabela de
honorários, pela AEIERGS, que é utilizada por todos os
engenheiros, não havendo concorrência por questão de
preço, mas sim da qualidade. “Isto favorece o
profissional e o empresário. Porque o primeiro recebe
pelo seu trabalho e o segundo paga com a certeza de ter
um bom serviço”. Para auxiliar nos testes de inspeção, a
associação coloca à disposição dos engenheiros um
aparelho de ultra-som. Além disto, a entidade colabora
prestando informações sobre dúvidas e esclarecimentos
para os usuários de caldeiras.

Hoje, ser sócio da entidade representa uma garantia


para os empresários, na hora da contratação de um
inspetor. “Posso afirmar que 96% dos inspetores do
Estado são filiados”, destaca o engenheiro Angelo
Gaetanino Gaudio, um dos fundadores da entidade. Ele
ressalta que, mesmo com a nova NR, ainda não existe o
controle sobre os laudos, porque depende da vontade
dos empresários em fazê-la cumprir e dos sindicatos em Cabe, portanto, ao engenheiro inspetor estabelecer o
fiscalizar. “O caminho está aberto para as empresas que plano de inspeções aplicável a cada caso. O objetivo final
não estão preocupadas com a segurança”, observa. é obter evidências suficientes e documentáveis da
Segundo ele, existem dois tipos de proprietários de capacidade do equipamento de operar com segurança,
caldeiras: os conscienciosos que se preocupam com a até a próxima inspeção. E não, simplesmente, atender a
segurança e os não conscenciosos, que, pela falta de um requisito nem sempre aplicável e muito menos
fiscalização, e pelo fato das implicações civis e penais suficiente para atestar a segurança operacional.
que recentemente estão sendo aplicadas, não faziam as
inspeções ou, quando faziam, não atendiam as A inspeção visual interna e externa é o mínimo que deve
recomendações dos laudos. ser feito. A maior parte dos defeitos são: corrosão,
abrasão, erosão, desgastes, incrustações e depósitos.
MAIS RESPONSABILIDADES Aqueles que não se consegue detectar visualmente e
avaliar, como a redução de espessura, hoje a medição
com ultra-som é uma obrigatoriedade na inspeção de
Inspeções dos equipamentos exigem mais competência vasos de pressão e caldeiras.
profissional

A espessura de chapa deve ser feita no projeto. Em geral


A inspeção de segurança em vasos sob pressão pela a documentação do equipamento, o prontuário não
antiga NR- 13, numa interpretação simplista, levaria à existe. Nele deveria estar todo o memorial de cálculo do
conclusão que a inspeção periódica fica limitada à equipamento mas os fabricantes não fornecem e os
execução de um teste hidrostático a cada cinco anos, e a proprietários, quando compram, não exigem.
realização de outros tipos de exames só é necessária no
caso de não ser possivel a realização deste.
Quando o engenheiro faz a inspeção, se depara com um
equipamento sem estes dados. Aí não vale presumir qual
A nova NR-13 insiste no teste hidrostático mas fala de a espessura, que tipo de solda foi utilizada, etc, vai ter
inspeção interna e externa. Não diz o que é, se visual ou que recalcular para testar as condições de uso. Este
não, mas chama à responsabilidade do engenheiro para problema pressupõe o conhecimento de uma série de
definir o que deve ser feito. A norma fixa as condições coisas que as vezes é dificil saber, que o fabricante
mínimas. deveria ter determinado. Olhando para o vaso não dá
para dizer que material é, que resistência mecânica tem,
Ela abre possibilidades para não se fazer este teste e se o material tem certificado de usina ou não. Se o
utilizar ferramentas que forneçam mais informações, engenheiro for verificar ao pé da letra, vai ter que retirar
com alternativas técnicas melhores. Na realidade, o uma amostra, fazer um ensaio de tração, de
resultado de um teste hidrostático periódico não é dobramento, químico, metalográfico, para tentar ver o
condição suficiente e nem necessária para a aprovação e que é. Este trabalho, além de dificil e complicado, não é
operação de um vaso sob pressão. viável.

Que testes executar e com que freqüência, depende de Nestes recálculos às vezes se arbitra, se adota valores
uma infinidade de fatores que influenciam na conservativos e chega-se a conclusão que o vaso não tem
deteriorização de um vaso sob pressão, como os condições operacionais. Porque todos os valores foram
materiais utilizados; fluidos contidos; pressão; subestimados, visando o lado da segurança. E, por
temperatura e regime de trabalho; processos de desconhecimento, sugere-se que o vaso trabalhe com
fabricação adotados; etc. uma pressão mínima. O proprietário, por sua vez, alega
que precisa de determinada pressão no vaso para o
processo de produção. Como não existe nenhum
documento técnico, no dia que acontecer um acidente, a
Justiça irá questionar quem atestou que o equipamento
podia operar com segurança. Se não tem como
comprovar que estava trabalhando com segurança,
entra a preocupação legal, que os engenheiros devem
ter.

Hoje, há preocupação em ir atrás do histórico destes


vasos. Não se pode fazer a coisa empírica. Por esta razão

10
utiliza-se ferramentas como os ensaios-não-destrutivos. programa de manutenção é um registro de informações e
Mas, por exemplo, se for radiografar vasos antigos, sua utilização eficiente. Os dados registrados servem de
fatalmente você irá condenar o equipamento. Neste guias de consulta, padrão operacional e registro do
aspecto, entra o problema da nossa realidade cultural, histórico. Poucas indústrias possuem um levantamento
econômica, de desenvolvimento e de tecnologia. Existe operacional adequado. A ação da terceira linha de
uma infinidade de vasos, com finalidades diferentes, atuação depende do empresário e do operário.
trabalhando em temperaturas altas e baixas, com Precisamente, uma maioria de atos inseguros foram
materiais corrosivos, ácidos, bases, líquidos, gases e atribuidos à falhas humanas. De acordo com os
assim por diante. As combinações fazem com que o inspetores, são as seguintes atitudes e os procedimentos
universo seja maior do que caldeiras, e requer do relacionados com o problema:
engenheiro uma versatilidade muito grande. Ele se
depara com coisas nunca vistas antes e para o qual não
a) Demasiada confiança nos controles automáticos, ao
tem uma receita de bolo. Cada caso tem que ser
ponto de substituir o pessoal qualificado por estes
analisado e imaginada uma solução para garantir que o
dispositivos;
equipamento trabalhe com segurança, evitando que não
cause prejuízos operacionais e sociais. Por isto, os
engenheiros devem utilizar sua habilitação profissional b) Desvalorizar ou esquecer completamente as normas
para realmente assumir responsabilidades, prescrever, de segurança na operação de caldeiras;
recomendar e projetar inspeções, definindo roteiros e
não procurar única e exclusivamente se basear em
c) Conhecimentos insuficientes e treinamento precário
normas existentes. Porque não temos normas para tudo
do empresário e do operador;
e não dá para se fazer inspeções em equipamentos
imaginando que existe um roteiro pré-definido.
d) Deficiência de informações aos operadores e técnicos
da equipe, no que se refere à operação e as normas de
EVITANDO OS RISCOS
manutençào;

Recomendações auxiliam empresários e trabalhadores a


e) Desconhecimento de procedimentos corretos, que
prevenir erros
acabam por acumular vícios operacionais;

Apesar das normas que regulamentam a instalação,


f) Utilização, por parte do empresário, de um sistema
operação e segurança em caldeiras, acidentes
incorreto de seleção e contratação de pessoal;
continuam a acontecer. Quando falamos em acidentes
com caldeiras, o público em geral associa este fato as
grandes explosões, que arrasam quarteirões. Na g) Inobservância dos programas de testes regulares dos
indústria, inúmeros acidentes com caldeiras vêem dispositivos de controle e segurança;
causando vitimas fatais e danos materiais, sem que a
imprensa, às vezes, tome conhecimento. São acidentes
h) Permitir o descuido e a apatia na operação de
de menores proporções como: explosões de fornalhas;
caldeiras.
por vazamento de gás em salas de caldeiras; ruptura de
válvulas de segurança, colunas de nível ou uma boca de
inspeção por estar corroida; queimaduras, quedas; etc. Para que os empresários e os operadores passem a
observar normas de segurança, eliminando as condições
que provocam os erros humanos, foram feitas as
Dentre as principais causas, os itens manutenção
seguintes recomendações:
insuficiente e erro do operador, surgem em primeiro e
segundo lugares, respectivamente, com mais frequência.
O fato indica que as categorias mais envolvidas com a) Utilizar somente pessoal qualificado e bem treinado
falhas humanas estão à frente das que se referem às na operação de caldeiras;
falhas mecânicas.
b) Nunca permitir que alguém efetue qualquer operação
Depois de conhecer as causas, o segundo passo, para a qual não estiver credenciado;
consiste em determinar as medidas corretivas e
preventivas mais adequadas a serem usadas. A
c) As ordens e instruções aos operadores devem sempre
experiência demonstra que a segurança em caldeiras
ser completas e claras, procurando sempre atender ao
pode ser conseguida através de três linhas de atuação. A
nível técnico dos mesmos;
primeira é o planejamento e a construção adequada. O
segundo, a manutenção e inspeção adequada e o
terceiro, a operação correta por parte do responsável. d) Prevenir riscos em potencial. Investigar diariamente
as condições de trabalho e efetuar testes que
possibilitem a certificação de bom funcionamento dos
Este terceiro fator geralmente alcança os indices mais
dispositívos e controles de segurança;
altos como principais causas de acidentes e sua solução
depende do elemento humano. O primeiro fator e o
segundo, juntos, alcançam 30% das causas de e) Dotar a operação de equipamentos e instrumentos
acidentes. Cuidar bem do projeto e da construção que possibilite ao operador determinar o grau de
significa respeitar os códigos, as normas e a fiscalização eficiência da caldeira;
exercida por força da NR-l3. Os usuários têm um
controle limitado sobre o projeto e a construção. Já que f) Preparar um plano de emergência, mantendo sob
sua atuação consiste em promover a instalação de controle qualquer acidente, reduzindo suas
acordo com as normas e oferecer treinamento aos conseqüências se não for possível preveni-lo;
operadores. No Brasil, os fabricantes de caldeiras têm se
orientado pelo American Society Mechanical Engineering
(ASME,), adotando seus códigos de construção e g) Operar com uma relação de normas de segurança e
fabricação. De qualquer forma, os empresários e os fazer com que o pessoal esteja ao par dessas normas;
operadores podem ter uma atuação mais direta no setor
de manutenção e operação. A chave para um bom

11
h) Insistir no cumprimento das normas e Relato. No momento do acidente a caldeira queimava
recomendações; apenas gás combustível. O sistema de óleo combustível
encontrava-se isolado em manutenção e o gás CO estava
desviado para a atmosfera, A equipe de operação estava
i) Promover treinamento de todo operário encarregado de
composta por um supervisor, um operador de painel e
caldeira aos operadores para que estejam sempre em dia
um operador de campo.
sobre novos equipamentos e tecnologias;

10h10. A caldeira operava com produção de vapor de 43


j) Nunca improvisar, em termos de manutenção e
ton/h, controles em automático e os seguintes valores
reparação de caldeiras e nem impedir ou restringir a
das variáveis: - Pressão do gás no coletor geral com 3,4
aplicação de normas operacionais e de segurança do
kgf/cm2 - Abertura de válvula controladora de gás
trabalho.
combustível 50%; - Pressão de gás nos queimadores 1,2
Kgf/cm2 - Vazão de gás combustível 3,9 ton/h com
apenas dois queimadores acesos.

10h13 . Variações excessivas dos flaps causam a queda


da caldeira por atuação do baixo fluxo de ar. A pressão e
vazão de gás caem a zero. Com o controle automático, a
APRENDENDO COM OS ERROS
abertura de válvula sobe para 100% em função do corte
de vazão. O supervisor ordena ao operador de campo
Sucessão de equívocos provocam explosão de caldeira na que feche as válvulas de gás dos dois queimadores. Com
Petrobrás os ventiladores operando o sistema de inter- travamento,
começa a contar o tempo de purga de três minutos. Mais
preocupado com a causa da queda da caldeira do que
Decálogo de segurança da Petrobrás
com o seu imediato retorno à operação, o operador de
painel verifica o nível do tubulão que varia bastante.
Item 1 - A integridade física das pessoas, a segurança
das instalações e a preservação do meio ambiente
10h16 . O intertravamento permite um rearme das
prevalecerão sobre a produção e o desenvolvimento da
válvulas shutoff, o supervisor ordena, pelo
continuidade operacional.
intercomunicador, que o operador de campo rearme as
válvulas e acenda o primeiro queimador. Com a abertura
No dia 10 de julho de 1990 ocorreu uma explosão na da válvula controladora de gás até 100%, e com o
caldeira de CO (monóxido de carbono) da Refinaria rearme das válvulas shutoff a pressão de gás nos
Duque de Caxias, resultando na morte de três pessoas e queimadores sobe, equiparando-se à pressão do sistema.
ferimentos em outras oito. Além das perdas humanas, a
reconstrução da caldeira implicou num custo de 12
10h19 - Cumprindo as orientações do supervisor, o
milhões de dólares.
operador de painel passa para o FC (Feed Control -
controle de alimentação) de gás manual e tenta reduzir a
Projetada e construída pela Companhia Brasileira de abertura da válvula controladora de gás.
Caldeiras e Equipamentos Pesados, a caldeira de CO
começou a operar em 1977, na Refinaria Duque de
10h20 . O operador de campo acende o primeiro
Caxias (Reduque) da Petrobrás, no Rio de Janeiro.
queimador. A abertura da válvula é de 85%. A pressão
Utiliza como combustível principal o monóxido de
do gás no queimador é de 2,775 Kgf/cm2 e a vazão de
carbono efluente da unidade de craqueamento catalítico,
gás 3.440Kg/h. O supervisor insiste em que o operador
e tem capacidade para gerar 150 toneladas/hora de
de painel continue fechando a válvula de gás até 40% de
vapor superaquecido, a pressão é de 42 kgf/cm2 e
abertura. O operador de campo comunica que o primeiro
temperatura de 399 ºC. Possui oito queimadores e pode
queimador está aceso. O operador de painel nota algo
utilizar, além do gás CO, óleo e gás como combustíveis
estranho e comunica ao supervisor, que ordena o
suplementares.
acendimento do segundo queimador. O operador de
painel passa o controlador de pressão mínima de gás
Os queimadores de gás combustível têm pressão para o manual e continua tentando fechar a válvula. Ao
máxima de 1,5 Kgf/cm2 e vazão de projeto de 1.500 atingir a abertura de 80% o PIC assume o controle e não
Kg/h. A instrumentação é do tipo Sistema Digital de fecha mais, embora o operador continue reduzindo o
Controle Distribuído (SDCD). O controle de vazão de gás sinal de saída do FIC. Ao iniciar o acendimento do
é associado a um controlador de pressão mínima, segundo queimador, o operador de campo não percebe
através de um seletor passa maior (relé de que o primeiro está apagado. A pressão de gás era de 2,8
instrumentação, seletor de fluxo em função da Kgf/cm2 e, com a abertura do bloqueio, desce para 2,6
modificação de alguma variável operacional). Kgf/cm2. A abertura da válvula controladora era de 80%
e a vazão de gás de 4.800 Kg/h.
Quando o sinal do FIC (Feed Indicator Control- controla e
indica a alimentação de gás) torna-se menor que o sinal 10h23 -Ocorre a explosão da caldeira. Após o
do PIC (Pressure indicator Control- controla e indica a acendimento do primeiro queimador, a caldeira ficou
pressão) este passa a garantir o fornecimento de gás a aproximadamente três minutos e meio recebendo gás
uma pressão adequada para os queimadores. sem queimar a uma vazão média de 3,50 ton/h. Até a
ignição da mistura explosiva, causada pelo acendimento
do segundo queimador, estima-se que a caldeira tenha
A caldeira é equipada com duas válvulas de bloqueio
recebido 204 Kg de gás combustível. Estudos técuicos
rápido - shut off. Assim, quando o sistema de segurança
mostram que uma quantidade de gás na ordem de 25 Kg
atua, as duas válvulas fecham automaticamente e o
já seria suficiente para explodir a fornalha. Em síntese,
alívio para a atmosfera abre, impedindo a passagem de
as causas do acidente foram:
gás para os queimadores. Cada queimador é equipado
• Hábitos impróprios;
com um duplo bloqueio manual, contendo um déficit
• Falha na avaliação do risco;
intermediário que reduz a possibilidade de passagem de
• Após a queda da caldeira, ela foi reacesa sem
gás dentro da fornalha.
verificação das variáveis operacionais;

12
• Houve pressão não justificada, em colocar a caldeira
novamente em operação, já que as demais tinham
capacidade suficiente para absorver a queda da CO
5001. Essa precipitação resulta de uma cultura onde a
continuidade operacional e o rápido retorno à operação
ainda prevalecem sobre o fator segurança.

Falha na supervisão - O supervisor e o operador de


painel permaneceram no painel durante o
reacendimento com apenas um operador no campo. A
prática é a permanência de dois operadores no campo e
apenas um no painel, para melhor supervisão do
acendimento. Houve falha de supervisão por ter sido
liberado o acendimento do primeiro queimador sem a
certeza do correto posicionamento da válvula
controladora de gás. Repetiu- se a falha no acendimento
do segundo queimador.
A maior explosão de caldeira do Brasil – Refinaria Duque
Quebra de procedimento Ao receber a liberação do de Caxias/RJ
supervisor, o operador de campo acendeu o primeiro
queimador sem observar a condição limite de pressão.
Fato semelhante ocorreu no acendimento do segundo
queimador.

Postura imprópria - Apesar de previsto em projeto, a


caldeira não dispõe de sensores de chama,
fundamentais para que o operador de painel percebesse
o apagamento do primeiro queimador. Por serem
inadequados, os sensores originais foram removidos e
sua substituição não recebeu a prioridade devida.

Falha de habilitação - O procedimento do operador de


painel para fechamento da FRCD (válvula controladora e
registradora da alimentação) foi inadequado, porque
estava sendo utilizado a tela indevida do SDCD (Sistema
Digital de Controle Distribuído). Por isso, decorrido
quatro minutos desde o momento em que o controle foi
passado para o manual, o operador de painel ainda hão
havia conseguido reduzir a abertura da válvula até o
valor pretendido. Esse procedimento revela a falta de
habilitação do operador. Dentre os danos causados pelo
acidente foram anotados:

• Morreram três pessoas


• Deformação das paredes, pisos e teto da câmara de
combustão;
• Ruptura dos tubos de interligação dos coletores;
• Danos no invólucro do economizador,
• Rompimento das câmaras de expansão;
• Colunas retorcidas e abalos nos elementos estruturais.

Medidas - Para evitar a repetição da ocorrência, foram


tomadas as seguintes medidas:

• Desenvolver trabalho junto a supervisão de operação


para que se cumpra o item 1 do Decálogo de Segurança;

• Implantar e desenvolver métodos de auditagem que


permitam à gerência operacional avaliar o cumprimento
e conhecimento dos procedimentos existentes;

• Reformular o sistema de intertravamento e


monitorização de caldeira, incluindo câmeras de vídeo
para a supervisão das chamas pelo painel e sensores de
chama com ação de intertravamento e atendimento dos
demais itens do NFPA.

• Efetuar reciclagem dos operadores nas seguintes


disciplinas: malha de controle de caldeiras, combustão e
SDCD.

13

Você também pode gostar