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O sólido e o líquido: As eras da Modernidade

Em Modernidade Líquida (2001), Zygmunt Bauman (1925-2017), acunha o termo


“liquidez” para atrelar o conceito de maleabilidade, transformação, fluidez
apresentada pelos líquidos como metáfora que caracteriza a modernidade. Ao
fazê-lo, Bauman realiza uma comparação entre a liquidez dessa modernidade à
solidez do início da era moderna, em que, os valores, ideologias, ideias eram
muito mais fixas. Já os líquidos fluem, não se atém ao tempo, se transmutam,
dificilmente mantém-se em uma forma, características que o autor utiliza para
descrever o século XXI.

O conceito “líquido” e “sólido” que Bauman apresenta para caracterizar a


Modernidade no fim do século XX e no começo do século XXI já começam a ser
traçados no século XVIII, presentem no romance A Nova Heloísa (1761) de Jean-
Jacques Rousseau, segundo Marshall Berman, em Tudo que é sólido se
desmancha (2007). Em sua jornada do campo para cidade em busca da amada,
arquétipo comum no século XVIIi com a ascensão do romance, o protagonista
Saint-Preux “experimenta a vida metropolitana como ‘uma permanente colisão de
grupos e conluios, um contínuo fluxo e refluxo de opiniões conflitivas.’” (BERMAN,
2007, p. 16). Para Berman (2007, p. 18), Saint-Preux “[...] reafirma sua intenção
de manter-se fiel ao primeiro amor, não obstante receie, como ele mesmo o diz:
‘Eu não sei, a cada dia, o que vou amar no dia seguinte’. Sonha
desesperadamente com algo sólido a que se apegar[...]” representando o conflito
das relações modernas, entre o que é duradouro e passageiro, entre o que é
profundo e rígido e o que é leve e fluído, entre o que é sólido e líquido.

Quando Bauman cunha o estágio sólido da era moderna, se refere à formação


dos Estados-Nação, em que a unidade social tinha como princípio a defesa de um
território, da formação de uma identidade nacional, caracterizados por valores
sociais, religiosos, linguísticos etc. A Revolução Francesa ressignifica o público e
o privado, logo, o que é social e individual. A família, o trabalho, a vida social até
então seguiam determinadas estruturas sólidas, inquestionáveis. A Revolução
Industrial traz a mudança de paisagem, o avanço tecnológico-científico, o
surgimento da imprensa que trariam a sociedade um otimismo em relação ao
futuro, como relata Bauman (2016) em sua entrevista para Fronteiras.
No século XXI, não é possível negar a importância dos avanços tecnológicos,
principalmente o advento da Internet, principalmente para as relações sociais. O
mundo que no século XV se “globaliza” através das grandes navegações é
transformado pelas modificações que as novas possibilidades tecnológicas
apresentam ao encurtar o espaço-tempo, em que a velocidade que se tem acesso
à informação se opõe ao tempo necessário para transforma essa informação em
conhecimento.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da


modernidade. São Paulo: Companhia das Letras de Bolso, 2007.

LINS, M. A fluidez do mundo líquido de Zygmunt Bauman. Milênio/Globonews,


24 abr. 2016.

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