Você está na página 1de 3

Entre o behaviorismo e o interacionismo: o que propõe os documentos que

regem o ensino brasileiro e a realidade encontrada em sala de aula

A teoria de aprendizagem behaviorista coloca em foco o comportamento


no processo de aprendizagem. A partir da teoria explorada por Watson, a
psicologia não deveria ser um estudo introspectivo da consciência, mas se focar
na ciência do comportamento a partir da observação das capacidades sensórias
humanas, que podem ser previstas e controladas de acordo com estímulos
(NOGUEIRA, 2015). O Behaviorismo ganha destaque principalmente com o
psicólogo norte-americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), que apresenta
o condicionamento operante como principal fator na situação de aprendizagem.
Segundo Nogueira (2015, p. 81) Skinner apresenta que “a situação de
aprendizagem envolve o comportamento emitido por um organismo [...]” gerando
um resultado que se positivo pode ser reforçado. Segundo Skinner (2003, p. 72
apud NOGUEIRA, 2015, p. 82), “o fortalecimento do reforço será adequadamente
chamado de condicionamento. No condicionamento operante ‘fortalecemos’ um
operante, no sentido de tornar a resposta mais provável ou, de fato, mais
frequente.”
Skinner chega a essa conclusão após a observação de um rato que
após empurrar uma alavanca, recebe o resultado de conseguir algumas bolinhas
de comida. Esse comportamento é reforçado, gerando o que Skinner nomeia de
condicionamento operante. A situação de análise se difere do que encontramos
na realidade, em que

nem sempre o reforço é consistente ou contínuo, embora a


aprendizagem ocorra e o comportamento persista. [...] Não obteremos
nota máxima em todas as provas porque estudamos sem parar. O
reforço aplicado no trabalho ou no estudo é quase sempre intermitente,
uma vez que não é viável controlar o comportamento reforçando toda
resposta. (SKINNER, 2003 apud NOGUEIRA, 2015, p. 83)

A presença dos conceitos behavioristas em sala de aula ainda é


encontrada atualmente em sala de aula, mas tem um longo histórico no Brasil.
Com as correntes tecnicistas que perduraram na década de 60, a escola se
apropriou das práticas behavioristas para formação de “pessoas aptas para
ocupar postos de trabalho. Para isso, é necessário a transmissão eficaz de
conhecimento e técnicas de forma ágil, clara e direta.” (ANTONIO, 2014, p. 95)
A relação estímulo-resultado-reforço/estímulo-resultado-punição pode
ser observada não só no que diz respeito ao comportamento social, mas
também nos processos educacionais.

Com relação especificamente ao reforço do comportamento utilizado


pela agência educacional, Skinner (2003) afirma que os reforçadores
são arranjados e artificiais, normalmente identificados pelas expressões
treino, exercício e prática, que se revelam por intermédio de boas
notas, promoções, graus e medalhas, todas como reforço generalizado
da aprovação. (NOGUEIRA, 2015, p. 89)

Outro grande fator de influência na educação brasileira é a manutenção


das tendências pedagógicas tradicionais em que o papel fundamental da escola é
“tornar o indivíduo apto a exercer suas funções sociais futuras, que por sua vez,
devem estar de acordo com suas capacidades individuais.” (ANTONIO, 2014, p.
89) O behaviorismo de certa forma dá ferramentas, práticas pedagógicas, que
corroboram na manutenção desse sistema, em que o conhecimento é
estratificado, repartido e inquestionável em um currículo com conteúdos
“estabelecidos socialmente e decretados pela legislação, não tem qualquer
ligação com a experiência de vida dos alunos, nem com contexto social, tendo
caráter exclusivamente intelectual.” (ANTONIO, 2014, p. 90)
Entretanto, essa perspectiva de ensino vai bruscamente contra o que
propõe os documentos que norteiam a educação no Brasil. Por exemplo, os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1997, p. 33) reconhecem “a importância
da participação construtiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do
professor para a aprendizagem de conteúdos específicos que favoreçam o
desenvolvimento das capacidades necessárias à formação do indivíduo.” É dessa
forma que os PCNs (1997) reafirmam a função socializadora da escola que
remete a dois aspectos: desenvolvimento individual e o contexto social e cultural.
Essas preocupações vão de encontro com a teoria de aprendizagem
sócio-histórico-interacionista proposta por Lev Vygotsky (1896-1934) nas quais as
“preocupações pautavam-se em uma nova concepção de homem: este não
deveria ser mais visto apenas como produto do meio, mas como ser
historicamente construído e constituinte nas relações com a sociedade.”
(NOGUEIRA, 2015, p. 150). A concepção de que o processo de aprendizagem
perpassa a interação humana e que esse aprendizado impulsiona o
desenvolvimento humano dá a escola um papel fundamental a construção de
indivíduos que vivem socialmente.
Dessa forma, é possível notar que tanto a teoria behaviorista quanto a
teoria interacionista influenciam, de diferentes maneiras, as práticas pedagógicas
atuais. Enquanto o behaviorismo ainda é utilizado como prática pedagógica
recorrente nas salas de aula, a teoria interacionista perpassa os documentos que
norteiam e regulamentam a educação no Brasil.

Referências:

ANTONIO, J.C. Filosofia da educação. São Paulo: Pearson, 2014.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o


Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

NOGUEIRA, M. O.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os


pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico. Curitiba: Intersaberes, 2015.

Você também pode gostar