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PAPEL DO HPV NA GÊNESE DAS

LESÕES PRÉ MALIGNAS DO COLO


DO ÚTERO
BEATRIZ MELO DE ALMEIDA¹
CELESTE DE AGUIAR CARDOSO¹
IZABEL BRITO TEIXEIRA1

1. Discente - Medicina na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais campus Betim

Palavras-chave:
Papilomavírus; Câncer do colo uterino; Carcinogênese.

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INTRODUÇÃO

Papilomavirus humano (HPV) se trata de um grupo de vírus não envelopado, de formato


icosaédrico e com dupla fita de DNA capaz de infectar pele e mucosa oral, genital e anal
resultando em verrugas anogenitais e em lesões pré malignas genitais, sendo mais recorrente na
região cervical. São identificados mais de 200 tipos de HPV, sendo 20 oncogênicos ou de alto
risco. Dentre as espécies, a 16 e a 18 são as mais prevalentes para câncer de colo de útero.

A integração do genoma viral ao do hospedeiro é essencial para que ocorra a


carcinogênese, uma vez que a expressão dos genes virais E6 e E7 é o gatilho para o acúmulo de
mutações e consequente transformação celular maligna ao interagir com as proteínas supressoras
de tumor pRb e p53. A carcinogênese é um processo de múltiplas etapas que envolvem mudanças
genéticas, ativação de proto-oncogeneses e inativação de genes supressores de tumor, modificando
o fenótipo celular.

O HPV pode transformar e imortalizar células hospedeiras fazendo com que a célula
maligna se torne independente no controle do seu ciclo celular. Antecedendo o câncer cervical, as
alterações consideradas pré malignas, segundo o projeto Lower Anogenital Squamous Terminol-
ogy (LAST), são as Lesões Intraepiteliais Escamosas de Alto Grau (LIEAG).

O objetivo deste estudo é trazer atualizações quanto ao papel do papilomavírus no


desenvolvimento da lesões pré malignas de câncer de colo de útero por meio de uma revisão nas
etiologias, epidemiologias e fisiopatologias das doenças pré citadas.

MÉTODO

Para a presente revisão sistemática, primeiro houve a identificação dos últimos dados
disponíveis relacionados ao HPV. Este capítulo foi desenvolvido com objetivo de compreender o
papel do HPV na Gênese das Lesões Pré Malignas do Colo do Útero, abrangendo a etiologia,
fisiopatologia e epidemiologia. Trata-se de uma revisão de literatura, disponível nas bases de
dados eletrônicos UpToDate, LILACS, BVS, Portal de Periódicos CAPES e PubMed.

Adotou-se como critérios de inclusão apenas artigos publicados nos últimos 8 anos,
revisados por pares e com descritores em ciências da saúde (DeCS): “papilomavirus”, “câncer de
colo uterino” e “carcinogênese”. Foram encontrados 84 artigos dentro desses critérios, sendo 13
escolhidos para a revisão. Além disso, os artigos foram analisados qualitativamente conforme
amostra, escopo, desenho metodológico, resultados e conclusões.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

ETIOLOGIA

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Papilomavirus humano (HPV) é um grupo de vírus do gênero Papillomavirus da família
Papillomaviridae, com cerca de 55 nm, formato icosaédrico constituído de 72 capsômeros, não
envelopado e sem enzimas ou glicoproteínas (FEBRASGO, p. 852, 2020). Apresenta um capsídeo
que engloba uma molécula de ácido desoxirribonucleico (DNA) de dupla fita e circular que é
constituído por aproximadamente oito mil pares de bases, codificando apenas nove genes
(FARHAT, Calil K. et al., 2010)
A organização genômica é dividida a partir de regiões funcionais, sendo a região precoce
(E1, E2, E4, ES, E6 e E7), a região tardia ( proteínas estruturais encapsuladas L1 e L2) e a região
reguladora denominada LCR (long control region) ou URR (região regulatória upstream). A LCR
se localiza entre os genes L1 e E6, em um segmento de aproximadamente 1000 pares de base sem
a presença de uma ORF (open reading frame). Essa região apresenta numerosos sítios de ligação
para inibidores e ativadores de transcrição, auxiliando na determinação da variedade de
hospedeiros para tipos específicos de HPV (FARHAT, Calil K. et al., 2010).
De acordo com a literatura atualizada, são identificados mais de 200 tipos de HPVs, que
podem ser subdivididos em categorias cutâneas ou mucosas com base em seu tropismo tecidual,
infectando apenas seres humanos (PALEFSKY, 2022). Dentre eles, 40 apresentam caráter
infectante na região anogenital, sendo agrupados a partir de seu potencial oncogênico. Os HPVs
de baixo risco para infecção da região anogenital são 6, 11, 26, 30, 40, 42, 43, 44, 54, 70 e 73 e os
de alto risco são 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 50, 51, 52, 53, 55, 56, 58,59, 64 e 68. Além disso, sabe-
se que 20 espécies de HPV são responsáveis por induzir a carcinogênese, sendo a 16 e a 18 as
mais prevalentes para câncer de colo de útero (FEBRASGO, p. 852, 2020).
Além do câncer cervical, o vírus é associado à transformação maligna em ânus, orofaringe,
base da língua, amígdalas, vagina, vulva e pênis (PALEFSKY, 2022). Antecedendo ao câncer, as
alterações consideradas pré malignas, segundo o projeto Lower Anogenital Squamous Terminol-
ogy (LAST), são as Lesões Intraepiteliais Escamosas de Alto Grau (LIEAG). As LIEAGs são
lesões de maior risco biológico caracterizadas por marcantes proliferações de células com
desorganização, perda de polaridade, atipias e atividade mitótica, acometendo terço médio ou toda
a espessura do epitélio. Inclui-se os termos NI-2/3 ou NI-3 nos casos de LIEAGs com o intuito de
realizar uma correlação com a terminologia diagnóstica de neoplasia intraepitelial (NI-)
universalmente realizada. De acordo com a localização da LIEAG, a lesão é denominada NIC se
cervical, NIP se peniana, NIPA se perianal, NIA se anal, NIVA se vaginal e NIV se vulvar
(FOCCHI, 2018).

O papilomavírus humano é fundamental para o desenvolvimento da neoplasia cervical e


pode ser detectado em 99,7 por cento dos cânceres cervicais. De acordo com a literatura, os tipos
histológicos mais comuns de câncer cervical são células escamosas (70%) e adenocarcinoma
(25%) HPV (FRUMOVITZ, 2023).

EPIDEMIOLOGIA

O HPV anogenital é a infecção sexualmente transmissível mais frequente, apresentando


um pico de prevalência geralmente na primeira década após a sexarca, ocorrendo entre 15 e 25

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anos na maioria dos países ocidentais (PALEFSKY, 2022). Ademais, sabe-se da existência de um
segundo pico em mulheres após a menopausa (SILVA, Carlos H. M. et al., 2018).

Estima-se que pelo menos 80 por cento dos ativos sexuais são expostos ao HPV pelo
menos uma vez na vida, embora muitos especialistas acreditem que praticamente todos os adultos
após a sexarca sejam infectados pelo vírus. Sabe-se que o diagnóstico muitas vezes não é realizado
devido a transitoriedade da infecção, impossibilitando o dimensionamento exato da patologia
(PALEFSKY, 2022). A infecção crônica na região cervical é mantida em aproximadamente 10%
das mulheres, em virtude da capacidade do HPV de escapar de vigilância imune do hospedeiro
(SILVA, Carlos H. M. et al., 2018).

Para o ano de 2023 foram estimados 17.010 novos casos de câncer cervical no Brasil, o
que representa um risco considerado de 13,25 casos a cada 100 mil brasileiras (INCA, 2022). As
taxas globais de incidência e mortalidade estão diretamente relacionadas à eficiência de programas
de triagem para pré-câncer e câncer cervical e de vacinação contra o HPV (FRUMOVITZ, 2023).

FISIOLOGIA

O contato do vírus com o ser humano ocorre através de microtraumas imperceptíveis na


superfície da pele ou mucosas. No colo uterino o HPV infecta preferencialmente células basais da
junção escamo-colunar (JEC), ou seja, células com alto potencial para diferenciação e maturação
tanto no epitélio colunar, quanto no escamoso. Uma vez dentro dessas células, os virions perdem
seu capsídeo e o genoma viral atinge o núcleo celular (FARHAT, Calil K. et al., 2010).
Nas lesões malignas, o DNA viral é integrado aos cromossomos das células do hospedeiro
através da linearização do DNA circular viral, com perda de gene E2 e consequente
superexpressão dos genes E6 e E7. São esses os genes responsáveis por estimular a proliferação,
imortalização e transformação celular, ou seja, o potencial oncogênico do HPV é resultado das
proteínas virais precoces E6 e E7 (SILVA, Carlos H. M. et al., 2018).
A proteína E2 é responsável por inibir a transcrição dos genes E6 e E7 através da ligação
em sítio específico da LCR, uma vez que a proteína codificada por E1 facilita a ligação de E2 na
região promotora. Em casos de lesões malignas, a proporção entre E1 e E2 é alterada quando o
vírus é integrado no cromossomo da célula hospedeira, impossibilitando a inibição de E6 e E7.
Ademais, é decorrente da perda de E2 que E6 e E7 são reguladas positivamente (SILVA, Carlos
H. M. et al., 2018).
A proteína viral precoce E6 se liga ao gene supressor de tumor p53, impedindo a apoptose
de células infectadas com o vírus, assim formando lesões pré-cancerosas. Além disso, a proteína
viral precoce E7 inibe a funcionalidade do retinoblastoma, permitindo que o HPV se reproduza em
células epiteliais previamente diferenciadas. Diante disso, a formação de complexos entre E6 e E7
com a p53 conturba o ciclo normal de regulação celular, repercutindo em instabilidade genômica
e, assim, carcinogênese (SILVA, Carlos H. M. et al., 2018).

CONCLUSÃO

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A revisão objetiva esclarecer os mecanismos pelos quais a infecção pelo HPV induz a
transformação pré-maligna. Dito isso, estudos destacaram que a persistência viral de uma cepa de
alto risco é essencial para o desenvolvimento da carcinogênese, além da carga viral, dos fatores
genéticos e do estado geral e imunológico do hospedeiro. É importante ressaltar que conhecer a
forma de atuação do vírus é essencial para o manejo eficaz dos pacientes e para o
desenvolvimento de tecnologias de combate, como vacinas e farmacoterapias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARHAT, Calil K. et al. Guia prático de imunização da mulher. São Paulo: DoctorPress, 2010. P. 167-185.

FEBRASGO. HPV. Revista Feminina, p. 852, 2020.

FOCCHI, Gustavo R. de A. Terminologia LAST. Febrasgo, 2018. Disponível em: <


https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/326-terminologia-last>. Acesso em: 28 jan. 2023.

5|P á g i n a
FRUMOVITZ, Michael. Invasive cervical cancer: Epidemiology, risk factors, clinical manifestations and diagnosis.
UpToDate, 2023. Disponível em: < https://www.uptodate.com/contents/invasive-cervical-cancer-epidemiology-risk-
factors-clinical-manifestations-and-diagnosis?search=cancer%20de%20col o%20do%20utero
%20epidemiologia&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1>. Acesso em:
30 jan. 2023

INCA. Incidênica câncer colo de útero. Ministério da Saúde, 2022. Disponível em: <
https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/dados-e-
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%202022)>. Acesso em 29 jan. 2023.
PALEFSKY, Joel. Human papillomavirus infections: Epidemiology and disease associations. UpToDate, 2022.
Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/human-papillomavirus-infections-epidemiology-and-disease-
associations?search=hpv&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1>.
Acesso em: 27 jan. 2023.
SILVA, Carlos H. M. et al. Patologia do trato genital inferior e colposcopia. Belo Horizonte: Medbook, 2018.

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Nome completo (sem
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Beatriz Melo de Almeida beatriz.almeida.1263994@sga.pucminas.br @beatrizmeloa

Celeste de Aguiar Cardoso celeste.aguiar@sga.pucminas.br @celesteacardoso

Izabel Brito Teixeira izabelbritoteixeira@gmail.com @belbritot

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