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GHAZAL, Gazal ou Gazel

Por Bill1

1.0 - Definição

É uma forma poética originada na Poesia Árabe, surgida no século 7, mas que se
espalhou pelo Sul da Ásia no século 12, a partir das conquistas muçulmanas.
Ainda é um tipo de poesia que prevalece no mundo islâmico, especialmente no
subcontinente indiano e na Turquia. Inúmeros ghazais foram e ainda são
transformados em canções populares. Trata-se da mais antiga forma de poesia
ainda em uso.

2.0 - Forma

As estrofes de um ghazal são dísticos (linhas de dois versos), num mínimo de 5 e


no máximo 15 (a partir de 16 dísticos, o ghazal se torna outra forma de poesia, a
qasida).

3.0 - O esquema rimático

Tecnicamente falando, há dois tipos de ghazais hoje em dia: os tradicionais e


aqueles escritos por poetas de Língua Inglesa. Em ambos os casos, utilizam-se o
esquema rimático como citado abaixo:

a
a

b
a

c
a

d
a

e
a

4.0 - A Métrica

Ao escrever ghazais, os poetas de Língua Inglesa não utilizam métrica, embora se


espere que os versos sejam, aproximadamente, de um mesmo tamanho.

Poetas islâmicos, mais tradicionais, utilizam-se da métrica.

1
Poeta, prosador e presidente do CLAG – Clube de Leitura e Artes de Goiana-PE.
Uma das vantagens do ghazal é que o autor pode se utilizar de qualquer métrica
que desejar, contanto que os versos, ao final, sejam todos isométricos (tenham um
mesmo comprimento, em termos de métrica).

No exemplo que usei nesta apostila, a métrica utilizada foi o decassílabo.

5.0 - A Temática

Embora, atualmente, poetas modernos utilizem qualquer tema em seus ghazals,


tradicionalmente é uma poesia que fala das maravilhas e dores do amor, daí que,
uma das possíveis traduções para o termo ghazal, em árabe, etimologicamente
falando, é "o lamento da gazela ferida". No Português brasileiro, pode-se dizer que
o tema geral dos ghazals é a sofrência.

6.0 - As Estrofes de um Ghazal

Como foi dito, o ghazal é organizado em dísticos, que são independentes entre si
e cada um deles tem sentido completo (como ocorre com as trovas).

A regra acima é válida para os ghazais tradicionais, os modernos rompem esta


recomendação, produzindo dísticos que contam uma mesma oração (como no
cordel) e, mesmo, praticam enjabment (continuação de um verso na linha
seguinte).

7.0 - O Refrão (Radif)

Talvez a característica que pode soar mais estranha a um poeta ocidental, quando
vai escrever um ghazal, seria o refrão (radif):

O refrão (radif) é a frase ou palavra que vai se repetir, sempre, na segunda linha
de cada estrofe de um ghazal. Deve ficar sempre no fim do segundo verso da
estrofe, logo após a palavra que vai rimar.

Por exemplo:

O Amor o humano coração habita


Mas a ele vive a flagelar. Oh, Deus!

Nesta estrofe, que retirei do exemplo que utilizo nesta apostila, o refrão (radif) é
"Oh, Deus!". Observe que a palavra que vai rimar é "flagelar". Veja uma explicação
abaixo usando duas estrofes:

Rei dos Céus, ousastes o Amor criar


Para só nos atormentar. Oh, Deus!

O Amor o humano coração habita


Mas a ele vive a flagelar. Oh, Deus!

Observe que, independente do refrão (radif) as rimas acontecem entre


"atormentar" e "flagelar".
É importante observar que o refrão (radif) não precisa ser uma frase, pode ser
uma palavra, que pode até precisar de outras para completar seu sentido, mas que
sempre vai ficar no fim do verso, após a palavra que rima.

Exemplo:

O amante que perdeu seu amor


Sozinho, sofre perdido a noite

O coração do amante desprezado


Ele chora mais ferido na noite

Observe que as rimas se dão entre "perdido" e "ferido" e o refrão (radif) é "noite",
que necessitou de palavra para completar seu sentido.

8.0 - Elisão?

Se a métrica que você utilizar comporta o conceito de elisões, então, sim pode
usar elisão no verso.

9.0 - A Última Estrofe de um Ghazal

É muito comum, embora não obrigatório, que o poeta cite seu nome no segundo
verso da última estrofe de um ghazal, para assinar o poema. Isso é feito de modo
criativo, como forma de demonstrar a habilidade do poeta, que fecha o poema
com um comentário espirituoso, profundo ou filosófico.

Ex:

Amor, belo milagre e feitiço,


E eu, Bill, não o sei evitar. Oh, Deus!

10.0 – As Polêmicas sobre os Ghazals

Além das duas vertentes de ghazals citadas anteriormente nesta apostila, há


uma terceira: foi inaugurada por Manoel Bandeira e é ainda hoje imitada por
muitos poetas brasileiros:
Bandeira escreveu um ghazal sem refrão (radif), supostamente se inspirando no
poeta persa Hafiz.
Então, qual versão utilizar?
O autor desta apostila acredita que em arte não deve haver proibições, mas sim
recomendações, embora, por razões didáticas, optou por ater-se ao ghazal
tradicional, evitando assim o de Bandeira. Cabe a cada poeta escolha qual
vertente usar.
GHAZAL DO AMOR

1 A Rei dos Céus, ousastes o Amor criar


A Para só nos atormentar. Oh, Deus!

2 B O Amor o humano coração habita


A Mas a ele vive a flagelar. Oh, Deus!

3 C Se é o Amor nobre como um nobre vinho


A Também é fel que faz chorar. Oh, Deus!

4 D O Amor anima até mesmo ao covarde


A E ao valente faz se curvar. Oh, Deus!

5 E Amor, belo milagre e feitiço,


A E eu, Bill, não o sei evitar. Oh, Deus!

Poesia: Bill

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