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Existe possibilidade de paz na Síria sem Bashar al-Assad?

Uma análise
com base na situação atual síria e na perspectiva para o futuro do país

Desde o ano de 2011 se prolonga um dos maiores conflitos já vistos desde a


Segunda Guerra. Estima-se que mais de 306 000 civis(1) tenham perdido a
vida na guerra civil que se prolonga sem prazo para acabar. Após mais de 10
anos de guerra, se verifica o fracasso das potências ocidentais e dos países
sunitas de retirar o Bashar Hafez al-Assad do poder por meio das suas guerras
de procuração que andam de acordo com os interesses de cada país e,
portanto, são contraproducentes para o fim do conflito. Nesse contexto,
verifica-se que a visão do presidente sírio para o futuro do país envelheceu
melhor que a narrativa global anti-Assad. O chefe de Estado evoca a imagem
de ordem e o discurso patriótico no país, que é essencial para a relembrar a
população o significado de ser sírio e a importância de retomar primeiramente
todos os territórios perdidos para enfim desenvolver o país. Para além disso,
Bashar vêm demonstrando grande interesse em encerrar todos os conflitos e,
de forma muito prudente, oferece projetos para a reconstrução e reconciliação
do país mostrando que está disposto a apertar as mãos com países antes
hostis em prol de unificar a nação e possibilitar a volta da normalidade
associada ao progresso.

As forças do governo sírio e seus aliados foram mais bem-sucedidas que


nunca ao manter Assad no poder e retomar territórios dominados por rebeldes,
de forma que não se pode mais falar da derrubada do governo por uma
revolução. Os países posicionados contra o governo Assad agem de forma
contraditória ao apoiar rebeldes armados que sob nenhuma condição aceitam
viver no país com o incumbente governo e falar da possibilidade de
restabelecer a paz. O governo não irá abrir mão de sua autoridade e
claramente não mais será derrubado, logo, apoiar rebeldes se tornou uma
estratégia danosa que apenas prolonga a agonia síria.

Assad está há 22 anos no poder e seu pai, Hafez as-Assad, também governou
o país por 30 anos antes dele. Independente de opiniões pessoais sobre o
governante, há de se admitir que ele possui experiência e conhecimento sobre
o país, fator importante para identificar os problemas e propor soluções. O
presidente possui ligadas a ele a lembrança de um país um dia unificado sob
uma identidade e território, apesar de divergências étnicas ou ideológicas.
Quando sua autoridade foi contestada, o país mergulhou em uma década de

(1) UN Human Rights Office estimates more than 306,000 civilians were killed over 10
years in Syria conflict | OHCHR
guerra, ficando territorialmente dividido e enfraquecido. Vale ressaltar o
discurso patriótico de Assad, que invoca os sírios a pensar no bem para a
nação acima de todas as diferenças, enquanto respeita a diversidade de etnias
e religiões. Porém, o Estado é o seu território, e mudanças no seu território
envolvem mudanças na própria forma de pensar no Estado, e isso denota a
importância da recuperação do governo das áreas ocupadas em sua totalidade.
Ademais, o território além de ser uma força simbólica é também física, pois é
nele que estão os recursos humanos, naturais e o espaço onde se
desenvolverá a Síria do futuro. A união dos sírios por uma causa comum e a
incorporação das áreas tomadas por rebeldes é o passo inicial para a paz e o
desenvolvimento do país, e isso só será possível com um líder disposto a
alcançar esses objetivos e que tenha a experiência para governar nesse
sentido. Por conseguinte, isso só será possível com Assad à frente do
comando.

O atual líder sírio também faz preparativos para estabelecer planos para o
futuro. Já tendo restabelecido diálogo com nações antes hostis como a Arábia
Saudita e os Emirados Árabes Unidos, Bashar busca investimentos na Síria a
serem feitos apesar das sanções impostas pelo ocidente. Hoje já se discute a
reinserção da síria na liga árabe e até acordos com o Líbano e Egito graças ao
relaxamento de sanções estadunidenses(2). Dessa forma Assad gradualmente
insere o país de volta no cenário internacional mostrando que possui projetos
para desenvolver a Síria, ao contrário dos que querem tirá-lo do poder mesmo
sob a condição de aumentar o tempo de guerra e o número de mortos e
refugiados, transformando a Síria em algo semelhante àquilo que se tornou a
dividida e debilitada Líbia, e mostrando que o caminho mais rápido para a paz
e estabilidade é inevitavelmente se aliar às forças da ordem do governo.

Conclusivamente, a solução da questão síria é a permanência do governo


Assad e o suporte ao seu projeto de poder para o país. Resgatando
primeiramente o sentimento patriótico e o significado de se unir sob um
comando, uma bandeira e um povo sírio, paralelamente à retomada dos
territórios dominados e à destruição dos Estados dentro do Estado é que se
reconstruirá o país, de forma estrutural e espiritual. Assim, o presidente precisa
do apoio das nações verdadeiramente interessadas na pacificação do país, e,
nesse sentido, os avanços têm sido positivos. A paz está ligada com a ordem e
o progresso.

(2) https://www.csis.org/analysis/politics-lebanons-gas-deal-egypt-and-syria

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