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BRASILEIRO
NO PENSAMENTO SOCIAL
Olá alunos,
Bons estudos!
Início do século XX. Tempos de desilusão com a Europa devido às duas guerras mundiais
e a todo o rastro de violência e intolerância deixados pelos países ditos civilizados. Em meio
a um cenário devastador, o Brasil começou a se questionar sobre a superioridade (racial,
intelectual e moral) europeia, no caso legitimada pela ciência ocidental, por meio da criação
e divulgação das teorias racialistas, chegadas nas terras brasileiras em finais do século XIX.
Esse novo olhar sobre a Europa, embora de modo lento e descontínuo, fez com que
artistas, intelectuais, profissionais liberais, funcionários públicos e/ou gente mais
simples do povo, aos poucos começassem a valorizar a mestiçagem de raças, de
credos e de toda a sorte de costumes.
No plano artístico e intelectual, o movimento que deu início aos novos debates chamou-
se de modernista. Nascido por volta de 1917, o modernismo estendeu-se pelos anos 20, 30
e 40 do século XX. Em termos estéticos e políticos, primava pelo experimentalismo e pela
reinterpretação crítico-criativa das tradições do Brasil, além de propor um nacionalismo
renovado, do tipo ufanista para os integrantes do grupo Anta – Cassiano Ricardo, Menotti
del Picchia e Plínio Salgado – ou do tipo antropofágico, para os que estavam vinculados à
revista Antropofagia – Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Raul Bopp. De todo modo,
segundo Mariza Veloso e Angélica Madeira (1999), havia nos dois grupos o desejo de
valorizar os elementos nativos e a natureza tropical do país.
delas, voltar-se para a renovação do presente com olhos postos no futuro. É nesse sentido
que o modernismo brasileiro propõe uma valorização do passado histórico e da tradição,
a valorização de um olhar para o “antes”, o “outrora”, mas não com uma perspectiva
“passadista” e nostálgica, que estabelece uma relação de continuidade ou imitação do
tempo antigo, como bem advertiram as autoras (VELOSO, MADEIRA, 1999).
Para ilustrar esse pensamento, é interessante conhecer a avaliação do movimento sobre o barroco
brasileiro e da obra do escultor Antônio Francisco Lisboa, conhecido pelo apelido de Aleijadinho.
Em suas viagens à Ouro Preto, ainda em 1919, por ocasião de umas férias de julho e
de sua visita ao poeta simbolista Alphonsus de Guimarães, Mário de Andrade se encantou
com as ruínas, as pinturas e as esculturas da arte religiosa barroca que floresceu em terras
mineiras no século XVIII, auge da extração do ouro (NOGUEIRA, 2005).
Em uma outra viagem a Minas Gerais, desta vez em 1924, acompanhado pelo poeta
francês Blaise Cendras e por intelectuais paulistas – o escritor Oswald de Andrade e seu filho
Nonê, a pintora Tarsila do Amaral, o escritor René Thiolhier e a rica senhora Olívia Penteado,
conhecida como “A rainha do café”, juntamente de seu genro Godofredo Telles – Mário de
Andrade foi a Belo Horizonte e às cidades históricas mineiras para as festas da Semana Santa.
Pela primeira vez, o barroco brasileiro era considerado como um patrimônio artístico
detentor de valor artístico inquestionável e universal. Mas foi sobretudo o barroco mineiro,
interiorano e não o litorâneo – localizado nas cidades de Salvador, Olinda e João Pessoa, por
exemplo – que, para os modernistas, melhor ressignificou os traços do modelo barroco lusitano,
no caso incorporando elementos nativos e com eles desenvolvendo novas facetas estéticas.
Desde então, o barroco mineiro foi entendido pelos modernistas como uma arte
autenticamente nacional e universal. Arte que trabalhava com o passado na perspectiva
da criação voltada para o futuro. Era, portanto, uma arte-novidade situada no presente
da época do Brasil colônia. Mas uma arte que, no século XX, continuava a dar mostras
flagrantes de sua abertura para o eterno porvir (NOGUEIRA, 2005).
Vale salientar que as relações entre o nacional e o universal, o passado e o futuro eram
dois dos pontos mais importantes do pensamento modernista em questão.
Corcunda, baixo e sem nenhuma das duas mãos, Aleijadinho seguia sendo, conforme
Mário de Andrade, um escultor ao mesmo tempo primitivista, realista e comparável aos
mestres europeus do período da arte renascentista. No entanto, se as deformidades de
suas obras eram vistas como intencionais e já prenhes de ares modernistas por seu grande
defensor Mário de Andrade, aos olhos de Oswald de Andrade, Aleijadinho era sim um
grande gênio da arte, embora fosse inculto e nada conhecesse de anatomia. Daí que as
distorções de sua estatuária jamais poderiam ser consequência de uma intenção e de um
apuro técnico seus (NOGUEIRA, 2005).
Finalizando, importa dizer que outra característica que diferenciava o modernismo brasileiro
do modernismo das vanguardas europeias, além da diferença na postura em relação à releitura
do passado histórico e da tradição, segundo Marisa Veloso e Angélica Madeira (1999), era a
falta de preconceitos e a ampla liberdade do movimento para se apropriar das mais diferentes
propostas estéticas, na época em vigor. São palavras das autoras (1999, pág. 106):
Delas resultam o diário de viagens “O turista aprendiz”, escrito por Mário de Andrade e mais
tarde publicado tanto em livro como sob a forma de crônicas de jornal. No espaço de tempo entre
essas viagens, Mário de Andrade também escreveu “Macunaíma”, lançado em 1928.
Com esta iniciativa, sempre regida pelo olhar modernista, Mário de Andrade também
acreditava estar juntando material para assegurar a preservação de uma memória brasileira,
a qual deveria servir às pesquisas dos artistas e intelectuais brasileiros, como matéria-prima
e importante fonte de renovação estética (NOGUEIRA, 2005; VELOSO, MADEIRA, 1999).
Por esta época, conforme Antônio Gilberto Nogueira (2005), Mário de Andrade já se
valia do método da etnografia – aprendido nas aulas de Dina Lévi-Strauss – em suas
pesquisas por um Brasil profundo, além do uso de multimeios, como dito anteriormente,
para o registro de um rico patrimônio cultural brasileiro.
Se a mestiçagem era algo a ser ressaltado pelos modernistas como um traço positivo e
fundamental na identidade recente de um novo país, um Brasil moderno e sintonizado com o
futuro, seria natural imaginar que ela deveria estar descolada, tanto em termos formais quanto
temáticos, de toda a sorte de preconceitos, das formas antigas de se pensar. No entanto, segundo
Renato de Sousa Porto Gilioli (2009), não foi bem isto o que aconteceu nas artes plásticas.
No que diz respeito ao mundo da pintura, alguns traços comuns podem ser percebidos
na forma de representar o negro e o indígena pelos modernistas.
Exemplo: negros e índios, vistos sob a ótica de suas mestiçagens, tinham suas
identidades étnicas diluídas sob nomes como “mulato”, “mameluco” e outros.
Mas isto era de se esperar, já que na época a ideia de mistura era o que realmente
devia ser festejado. No entanto, segundo o autor, esses “tipos” apareciam nas
obras de maneira bem diferente quando se tratava de brancos. (GILIOLI, 2009)
Importa esclarecer, diz Gilioli (2009), que essa postura não era necessariamente
consciente na maioria dos casos. O fato é que a mentalidade social recém-
saída da escravidão representava uma barreira severa que dificultava as
tentativas de perceber e superar a visão discriminatória tão comum às elites e
à boa parte da população. Tanto que, quando alguns dos artistas e intelectuais
modernistas tomaram consciência desta situação, chegaram mesmo a se
autocriticar. Para o autor, tal atitude valoriza ainda mais o esforço dessas
pessoas em remodelar a cultura nacional, mostrando o quanto o movimento
foi plural e criativo (GILIOLI, 2009).
Na poesia, também não era raro encontrar um ou outro escrito que celebrasse a
mistura do povo brasileiro, tal como fez Manuel Bandeira ao dedicar sua atenção ao livro
“Casa Grande e Senzala”, de Gilberto Freyre em poema homônimo. Disse o poeta:
Isto sem falar da imagem da cantora Carmen Miranda e do papagaio Zé Carioca que
chegaram aos Estados Unidos em tempos de aproximação entre o governo estadunidense
e os da América Latina, num sistema político e econômico chamado de “política da boa
vizinhança”. Zé Carioca foi um personagem de desenho animado criado por Walt Disney
em 1943. Muito malandro, apresentou o Pato Donald às terras brasileiras em meio a samba,
cachaça e a presença da “The Brazilian Bombshell” no filme “Alô, amigos”. Mais tarde
apareceu em novo filme de animação, intitulado “Você já foi à Bahia?”
Para saber mais sobre o conceito de Democracia Racial, procure o artigo “Casa-
Grande & Senzala e o mito da democracia racial”, postado em sua Unidade 2.
NOGUEIRA, Antônio Gilberto Ramos. Por um inventário dos sentidos: Mário de Andrade
e a concepção de patrimônio e inventário. São Paulo: HUCITEC/FAPESP, 2005.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na
sociabilidade brasileira. São Paulo: Claro Enigma, 2012.
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O trabalho Arte e Cultura Brasileira- Unidade 2 – O modernismo de Carmen Luisa Chaves Cavalcante, Núcleo de Educação a Distância
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