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Genética Básica Bio-240. Prof.

Karla Yotoko 10/10/2007

Tradução e adaptação do cap.


10 do livro “Genetics for
Controle da Expressão Gênica Dummies”, de Tara Robinson,
WIley Publishing Inc. 2005
Introdução

Cada célula do seu corpo, com raríssimas exceções, carrega o conjunto completo de instruções que
perfaz todo o seu corpo. Nas células de seus olhos há genes que fazem seu cabelo crescer. Nas
células da sua pele há genes que determinam a cor dos seus olhos. Mesmo os genes supostamente
ativos em certos tipos de células não estão ativos o tempo todo. Ao invés disso, estes genes são
ligados apenas quando sua expressão é necessária e depois são desligados de novo, como quando
você acende a luz do quarto pra procurar alguma coisa e depois desliga pra sair do quarto.

Esta aula tentará explicar porque, por exemplo, seu globo ocular não tem cabelos. Controlando a
expressão gênica, a célula produz o que precisa no tempo certo. Todos os genes disponíveis não
estão ativos o tempo todo e a expressão gênica é tecido-específica (o que significa que apenas
alguns genes são ativados em um determinado tecido).

Primeiro caso de expressão gênica descrito – Operon Lac.

Bactérias cultivadas em laboratório da espécie E. coli apresentam um padrão bem interessante de


utilização de nutrientes. Mais especificamente, na utilização de açúcares, estes organismos, sempre
dão preferência à utilização de glicose, de modo que se houver glicose e outros açúcares, elas
sempre utilizam a glicose. Com isso podemos dizer que:

1. Se houver glicose e lactose no meio, a bactéria utiliza glicose

2. Se houver apenas glicose no meio, a bactéria utiliza glicose

3. Se houver apenas lactose no meio, a bactéria utiliza lactose.

Se pensarmos que a degradação tanto da glicose quanto da lactose depende de enzimas dentro da
célula, podemos concluir que existem enzimas para metabolizar ambos os açúcares, mas que as
enzimas para metabolizar a lactose só são ativadas na presença de lactose e na ausência de glicose.

Este mecanismo foi mais tarde explicado com a descrição do Operon Lac. Um operon é um transcrito
de mRNA que carrega informação para a formação de mais de uma proteína. No caso do Operon
Lac, as proteínas β-galactosidase e permease, entre outras, tem seu RNA transcrito num único
transcrito.

Ora, sabemos que para ativar um gene é preciso transcrever o mRNA e este mRNA deve ser
traduzido, de modo a formar as proteínas. Com isso, quando o Operon é transcrito, as proteínas
podem ser traduzidas. Então, por que as proteínas que degradam a lactose não estão disponíveis
sempre?

Porque o sítio promotor do Operon (no DNA) fica bloqueado por um repressor, que impede que a
transcrição do mRNA ocorra. Quando presente no meio, a lactose se liga ao repressor, que
imediatamente deixa o sítio promotor do Operon, permitindo que a RNA polimerase faça seu
trabalho. Assista ao vídeo OperonLac presente no FTP para entender melhor esta história.

Você deve estar se perguntando sobre o papel da glicose nisso tudo. Pois é, o vídeo não mostra, mas
a transcrição do Operon depende da presença de AMP cíclico na célula. O AMP é o último produto
da degradação do ATP, a molécula que fornece energia para a célula. O AMP primeiro é quebrado
em ADP e depois em AMP. Com isso, se há alta concentração de AMP na célula, é porque os níveis
de energia estão baixos, ou seja, faltou glicose!

Mantendo os genes sob controle

Controle Espacial

Voltando para o mundo dos eucariotos, o controle da expressão gênica se inicia na formação do
zigoto e se estende por toda a vida de um organismo. No início, todas as células são iguais, ou
totipotentes (o que chamamos de células tronco, que podem se tornar qualquer tipo de célula do
corpo). Em um determinado momento uma célula se especializa, ou seja, “decide” qual conjunto de
genes poderá nela ser expresso e desliga permanentemente todos os demais.

Como isso acontece? Em Drosophila, alguns experimentos mostraram resultados interessantes:


marcadores coloridos para determinados tipos de proteínas foram aplicados a ovos de Drosophila, e
o resultado foi um ovo com listras coloridas, mostrando que diferentes partes do embrião
continham proteínas diferentes. Estas proteínas promovem a transcrição de outros genes, que por
sua vez promovem a transcrição de outros, numa cascata que culmina com a diferenciação das
células e dos tecidos.

Figura 1: Ovo de Drosophila. As cores


evidenciam que diferentes proteínas
são expressas em diferentes
localizações do embrião.

Neste caso, o desenvolvimento de diferentes estruturas em adultos de Drosophila depende da


posição das diferentes células no embrião. Experimentos de trocas de segmentos depois de algumas
horas após a fertilização do óvulo de Drosophila provocam o aparecimento de estruturas como
antenas no lugar de pernas ou vice-versa. O mais interessante disso é que os genes que provocam a
diferenciação em Drophila foram encontrados em outros animais, inclusive nos mamíferos.
Figura 2: Ovo e adulto de Drosophila. As
diferentes cores indicam os genes
homeóticos ativados em cada local do
ovo que darão origem a diferentes
estruturas nos adultos.

Figura 3: Curiosamente, os mesmos


genes que acionam o desenvolvimento
em Drosophila acionam o
desenvolvimento em outros animais.

Controle temporal

Assim como diferentes genes são acionados em localidades diferentes no embrião, outros são
acionados em tempos diferentes do desenvolvimento. As hemoglobinas dão um bom exemplo disso.
Seu genoma contém um grande grupo de genes que codificam as hemoglobinas, que transportam o
oxigênio ao longo do corpo. Durante o seu desenvolvimento, nove genes de globinas se combinam
de maneira a formar três tipos de hemoglobina, que atuam em diferentes estágios de sua vida.
Quando você era um embrião, e logo depois, um feto, você dependia completamente do oxigênio
captado por sua mãe. Este oxigênio precisava atravessar uma membrana para chegar até você. Este
processo é um tanto ineficiente, e esta ineficiência precisava ser compensada por uma grande
afinidade por oxigênio por parte destas moléculas para sustentar o seu crescimento e
desenvolvimento.
Figura 4. Os genes que
produzem diferentes
tipos de hemoglobinas
são ligados na mesma
ordem em que aparecem
nos cromossomos.

Os genes que controlam a produção destas hemoglobinas estão nos cromossomos 11 e 16. Estes
genes em ambos os cromossomos são acionados em ordem (5’ → 3’, figura 2) ao longo do tempo.

Nós sabemos que as hemoglobinas são sempre formadas por quatro polipeptídeos, formando um
tetrâmero. Nossa primeira hemoglobina, durante as primeiras semanas de vida, é formada por duas
cadeias épsilon e duas zeta (zeta 1 e zeta 2). Após este período, tanto a produção das cadeias
épsilon quanto zeta cessam, e as cadeias alfa e gama começam a ser produzidas (de modo que
temos hemoglobinas com duas cadeias alfa e duas gama). Esta é a nossa hemoglobina fetal. Quando
o bebê nasce, a produção de globina gama decai enquanto a produção da globina beta aumenta. A
combinação de duas cadeias alfa e duas beta compõe a hemoglobina adulta normal, ou
hemoglobina A (HbA). O gene delta, localizado entre os genes gama e beta no cromossomo 11
produz um pequeno número de globinas delta em crianças e adultos. O produto da globina delta é
chamado hemoglobina A2 (HbA2), normalmente perfaz menos de 3% do total de hemoglobinas
adultas e é composto por duas cadeia alfa e duas delta.

Controle Ambiental:

Efeitos do calor Calor. Os organismos precisam responder rapidamente a alterações no ambiente. A


indução gênica ocorre quando condições externas acionam genes. Respostas a luz e calor são dois
tipos de indução particularmente bem conhecidos.

Quando um organismo é exposto a altas temperaturas, um conjunto específico de genes é colocado


em ação para produzir proteínas de choque térmico. Sabemos que as proteínas são desnaturadas
com a ação do calor (por exemplo, a cor da clara do ovo muda de cor e textura com o contato com
altas temperaturas). As proteínas de choque térmico são produzidas por 20 diferentes genes que
evitam que outras proteínas sejam desnaturadas. Estas proteínas também podem reparar danos em
outras proteínas e fazê-las voltar a funcionar. Estes genes estão sempre em stand-by, prontos para
entrar em ação assim que a temperatura aumenta muito. Estes genes também protegem contra os
efeitos de estresses e poluentes.

Controle transcricional da expressão gênica

A maior parte do controle da expressão gênica em eucariotos ocorre durante a transcrição.

Na maior parte das vezes, quando um gene é acionado, ele está sendo transcrito. Se este gene for
desligado, é porque a transcrição foi suspensa. A única maneira de produzir proteínas é pela
produção de mRNA. A transcrição produz os mRNAs usados na tradução. Com isso, se a transcrição
está ocorrendo, a tradução também está, e a expressão gênica está acionada. Quando a transcrição
cessa, a expressão gênica é desligada também. A coordenação da transcrição é controlada por uma
série de fatores que incluem:

1) Acessibilidade do DNA

2) Regulação por outros genes

3) Sinais enviados aos genes por outras células na forma de hormônios.

1) Acessibilidade do DNA

Os seus genes estão normalmente desligados, ou seja, só serão ligados se houver um


estímulo pra isso. Este estado faz sentido se você se lembrar que quase todas as células do
seu corpo contêm o genoma completo. É simplesmente impossível ligar todos os genes de
todas as suas células ao mesmo tempo, é preciso especificar a ação gênica apenas nos
tecidos onde esta ação é necessária. Portanto, manter a maior parte dos genes desligados é
tão ou mais importante que ligar um pequeno conjunto de genes por célula.

Os genes são mantidos desligados de duas maneiras diferentes

A – O Empacotamento é um mecanismo muito efetivo de assegurar que a maior


parte dos genes vai ficar desligada durante a maior parte do tempo, porque evita a
transcrição de fatores que acessam diferentes genes. O DNA é uma molécula
enorme, e a única maneira dele caber numa célula é mantê-lo compactado (ele se
enrola nas histonas e forma os nucleossomos). Nesta forma ele não pode ser
transcrito, já que os fatores de transcrição são incapazes de se ligar ao DNA para
encontrar a fita molde e transcrevê-la.
Cromatina não
condensada Figura 5. Regiões de
cromatina condensada e
não condensada
Cromatina
condensada

B – Repressores. Em partes desempacotadas do DNA, algumas proteínas bloqueiam


a transcrição se ligando nos mesmos sítios onde ocorre a ativação da transcrição ou
interferindo na ação do grupo de enzimas que iniciam a transcrição (holoenzima).
Em qualquer destes casos, os genes permanecem desligados.

No entanto, nem todos os genes podem ficar desligados pra sempre. Com isso, algumas
seções do DNA podem ser acionadas caso necessário. Para acionar estas seções, o DNA
precisa ser desempacotado. Para desfazer os nucleossomos, proteínas específicas precisam
se ligar ao DNA. Várias proteínas, que incluem os fatores de transcrição, coletivamente
conhecidos como complexos de remodelamento de cromatina, fazem o trabalho de
disponibilizar o DNA de acordo com as necessidades do organismo. A maioria destas
proteínas se liga a uma região próxima ao gene a ser ativado e empurra os nucleossomos
para liberar o DNA. Assim que o DNA fica disponível, os fatores de transcrição começam seu
trabalho.

Conforme explicado na aula de transcrição, ela se inicia quando um grupo de enzimas


chamado holoenzima se liga à seqüência promotora. Seqüências promotoras são partes dos
genes que controlam a transcrição, mas se encontram distantes deles. As proteínas
ativadoras de transcrição são parte do conjunto. Estas proteínas ajudam a posicionar os
componentes certos no momento certo da transcrição. Estes ativadores de transcrição
também empurram os nucleossomos para manter o DNA livre para a transcrição.

2) Regulação por outros genes

Os genes são freqüentemente controlados pela ação de outros genes. Há quatro tipos de
genes que gerenciam a atividade de outros.

Gerenciamento da Transcrição. Três tipos de genes atuam como agentes reguladores que
aumentam as taxas de transcrição (enhancers, ou acentuadores) ou as diminuem (silencers,
ou silenciadores), ou especificam os efeitos dos acentuadores ou silenciadores (insulators,
ou isoladores).

Enhancers: Este tipo de seqüência inicia a transcrição e a acelera, fazendo que ela
ocorra várias vezes mais rápido e com freqüência maior. Os acentuadores podem
estar localizados antes da unidade de transcrição, depois dela ou no meio dela. Os
acentuadores podem controlar genes a distâncias bem longas (vários milhares de
bases). No entanto, estes elementos são tecido-específicos em suas atividades – eles
somente influenciam genes normalmente ativados em um determinado tipo de
célula.

Silencers: Servem para fazer com que a transcrição fique mais lenta ou cesse. Assim
como os acentuadores, os silenciadores podem estar localizados há vários milhares
de bases do gene que controlam. Os silenciadores mantêm o DNA empacotado e não
disponível para a transcrição.

Insulators: às vezes chamados de elementos de ligação, estas seqüências têm um


trabalho um pouco diferente. Elas protegem alguns genes dos efeitos de
silenciadores e acentuadores, confinando a atividade destes elementos ao conjunto
adequado de genes. Em geral esta proteção significa que o isolador precisa estar
posicionado entre o acentuador (ou silenciador) e os genes que estão fora dos
limites da ação destes elementos.

Como os acentuadores e silenciadores estão freqüentemente localizados há muitos pares de bases


dos genes que controlam, a maioria dos geneticistas acredita que o DNA se dobra de forma a
permitir que acentuadores e silenciadores se aproximem do gene que influenciam. A figura 3 ilustra
a dobra.

Figura 6: dobra no DNA para que um acentuador (enhancer) possa


acessar o gene sob seu controle.

3)Hormônios

Hormônios são substâncias complexas que controlam a expressão gênica. São secretados
por diversos tecidos no cérebro, gônadas e outras glândulas ao longo do corpo. Eles circulam
na corrente sanguínea e podem afetar tecidos localizados muito longe da área onde foram
secretados. Neste sentido, podem afetar genes em vários tecidos simultaneamente.
Essencialmente, hormônios atuam como uma chave geral para a regulação gênica para o
corpo todo.

Alguns hormônios não podem cruzar as membranas das células diretamente, pois são
moléculas grandes. Estas grandes moléculas se ligam a proteínas receptoras que transmitem
sua mensagem através da transdução de sinal. Veja o filme do you tube sobre transdução de
sinal: http://www.youtube.com/watch?v=tMMrTRnFdI4. Outros hormônios, como os
esteróides, são solúveis em gorduras e pequenos, então passam diretamente pelas
membranas e se ligam a proteínas receptoras. Esteróides e proteínas receptoras foram um
complexo que entra no núcleo celular para atuar como um fator de transcrição que aciona
genes específicos.

Genes que reagem a sinais hormonais são controlados por seqüência de DNA conhecidas
como elementos de resposta a hormônios. Estes elementos se situam proximamente aos
genes a serem transcritos e se ligam ao complexo receptor de hormônios. Vários destes
elementos podem influenciar o mesmo gene. Na verdade, quanto maior for a quantidade de
elementos presentes, mais rápido ocorrerá a transcrição.

Hormônios esteróides: Anabolizantes esteróides são formas sintéticas da


testosterona, o hormônio que controla a masculinização. O aspecto anabólico destes
esteróides refere-se ao aumento da massa muscula pelo aumento do número de
células, e não pelo aumento das células, como acontece após o exercício. Há notícias
do uso de anabolizantes esteróides tanto por atletas de alto nível quanto jovens
freqüentadores de academias de ginástica.

Hormônios como a testosterona controlam a expressão gênica. Pesquisas sugerem


que a testosterona exerce seus efeitos anabólicos reprimindo a atividade do gene
que produz a proteínas p27, um supressor de tumor. (mutações no p27 foram vistas
em uma forma de leucemia). Quando a quantidade de p27 diminui no tecido
muscular, as células podem se dividir mais rapidamente. Defeitos em genes
supressores de tumor como o p27 em geral são associados a câncer. Não só isso, mas
alguns cânceres dependem de hormônios que fornecem sinais captados por células
tumorais (para se multiplicar). Alguns trabalhos sugerem que anabolizantes
esteróides são carcinogênicos. Além disso, esteróides obtidos de forma ilegal podem
conter contaminantes potencialmente carcinogênicos, o que no fim das contas é
introduzido no corpo junto com um repressor do gene supressor de tumor. Não é
preciso ser um gênio pra adivinhar o quão perigoso isso pode ser. Cânceres
associados a anabolizantes esteróides incluem o câncer de fígado, de testículo, de
próstata e leucemia. Homens com histórico familiar de câncer de próstata ou de
mama devem tomar cuidado especial.

Além de tudo isso, o uso de anabolizantes tem vários efeitos colaterais indesejados.
Homens que possuem o gene para a calvície aparentemente apresentam o fenótipo
mais cedo se usarem anabolizantes. Hormônios esteróides podem causar perda
temporária da produção de esperma e crescimento de mamas. Essas drogas
provocam o aumento da libido, mas diminuem a habilidade de manter uma ereção.
Anabolizantes esteróides também aumentam a pressão sanguínea a níveis perigosos.
Tem mais: homens que usam anabolizantes podem sofrer de ataques do coração e
apresentam comportamento violento.

Convenções: Os elementos que interferem na transcrição do mRNA são divididos entre elementos de
ação CIS e TRANS. Elementos de ação CIS são todos aqueles presentes na mesma molécula de DNA,
podem ser proximais, como as seqüências promotoras ou distais, como os acentuadores e
silenciadores. Elementos de ação TRANS são aqueles produzidos em outra molécula de DNA, em geral
são proteínas que interagem com as seqüências de ação CIS, promovendo ou inibindo a síntese de
mRNA, ou transcrição.

Depois da transcrição é possível haver controle da expressão gênica?

Sim! Após a transcrição pode ocorrer controle da expressão gênica!

Splice do RNA. O mRNA de eucariotos contém exons e íntrons, e os primeiros compõe a parte que
de fato será traduzida em proteínas. Os íntrons são porções não codificadoras de DNA que se
encontram entre os éxons. Antes de ocorrer a tradução do mRNA, os íntrons devem ser retirados, ou
seja, o mRNA deve ser editado. Quando vários íntrons estão presentes no mesmo mRNA, várias
combinações de éxons podem resultar do processo de edição, ou seja, várias proteínas podem ser
formadas. Esta flexibilidade genética explica como pode ser produzida uma quantidade tão grande
de proteínas com tão poucos genes.

Exemplo: Dscam. Um gene grande que tem 115 exons e pelo menos 100 sítios de “splice”. O Dscam
pode ser transcrito em 30.016 proteínas diferentes. No entanto, a produção de proteínas do Dscam
é regulada. Alguns dos produtos só são produzidos durante os primeiros estágios do
desenvolvimento embrionário.

Figura 7: “Splice” alternativo de um


transcrito com quatro éxons e três
íntrons.
Silenciamento do mRNA

Depois que o mRNA é transcrito, os genes podem ser regulados através do silenciamento do mRNA.
Silenciar o mRNA significa basicamente interferir com o mRNA de forma que não possa ser
traduzido. O silenciamento é chamado de interferência. Este mecanismo não é usado unicamente
para regular a expressão gênica do organismo, ele é usado também para proteger o organismo de
genes de vírus. Quando as defesas do organismo detectam um vírus de RNA dupla-fita, uma enzima
denominada Dicer é produzida. Esta enzima quebra o RNA em pedaços pequenos (de 20 a 25 pares
de bases). Estes pedaços pequenos, chamados de pequenos RNAs interferentes (siRNAs) são então
usados como armas contra RNAs virais. O RNA viral é então sumariamente destruído e degradado.
Veja o vídeo sobre o silenciamento do mRNA por siRNA (http://www.youtube.com/watch?v=D-
77BvIOLd0) .

Data de validade dos mRNAs

Depois que o mRNA é transcrito, editado (cap 5’, cauda poli-A) e tem seus íntrons retirados, é
transportado para o citoplasma. Deste momento em diante, inicia-se a destruição do mRNA, já que
as enzimas do citoplasma começam a atacá-lo assim que ele chega. mRNAs têm tempos de vida
relativamente curtos, que dependem de uma série de fatores. Dentre estes fatores, a cauda poli-A
parece ser o mais importante, já que quanto maior a cauda, mais tempo o mRNA dura.

Na aula de estrutura e replicação do DNA foi falado sobre as diferenças do DNA e do RNA. Uma destas
diferenças era o fato do RNA conter uma molécula de oxigênio a mais que o DNA, o que torna a molécula mais
reativa (ou menos estável). Outra diferença sempre ressaltada nos livros didáticos é o fato do RNA ter a base
Uracila ao invés da Timina, presente no DNA. A principal diferença entre estas bases é que a Timina contém um
grupo metil ausente na Uracila. Sabemos que a metilação ajuda a proteger o DNA da ação de nucleases
(enzimas que quebram moléculas de ácidos nucléicos). Além disso, o DNA permanece no núcleo, onde fica
protegido, enquanto o RNA migra para o citoplasma. Todas estas características, somadas ao fato de que
moléculas de DNA são dupla-fita, enquanto as moléculas de RNA são simples-fita, sugerem que o DNA é uma
molécula a ser protegida de modificações, que poderiam levar a mutações indesejadas, enquanto o RNA é, e
precisa ser, uma molécula efêmera, com curto tempo de duração. Refletindo um pouco, o pequeno prazo de
validade do RNA permite que a regulação gênica seja precisa, ou seja, uma determinada proteína só é
produzida quando a transcrição do mRNA que a codifica é permitida, ou seja, regulada.

Controle gênico pelo controle da tradução

A tradução do mRNA em aminoácidos é um passo crítico na expressão gênica, mas às vezes os genes
são regulados durante ou depois da tradução.

Local da tradução: A tradução de determinados genes só ocorre em alguns locais do


citoplasma. Com isso, algumas proteínas que se encontram em locais específicos da célula.
Embriões utilizam esta estratégia para o desenvolvimento. Proteínas são produzidas em
diferentes lados do ovo para criar, por exemplo, a parte de frente e a de trás do embrião.
Modificações que ocorrem durante a tradução: Muitas vezes, a chegada do mRNA no
citoplasma não é suficiente para que ocorra a tradução. Alguns genes são limitados por
determinadas condições que evitam que a tradução ocorra. Por exemplo, um ovo não
fertilizado contém muitos mRNAs produzidos pela fêmea. A tradução ocorre no óvulo não
fecundado, mas é lenta e seletiva. Quando o espermatozóide entra no óvulo, várias
modificações acontecem e estas modificações são causadas pela tradução do mRNA que já
estava no citoplasma.

O controle da expressão gênica pelo controle da tradução pode ocorrer de duas maneiras:

 A maquinaria que faz a tradução, como as proteínas de iniciação que interagem com
os ribossomos, é modificada para aumentar ou diminuir a efetividade da tradução

 O mRNA carrega uma mensagem que controla quando e onde será transcrito.

Todo mRNA carrega pequenas seqüências em suas extremidades 5’ que não são traduzidas,
e estas sequencias podem levar mensagens a respeito do “timing” da tradução. As
seqüências não traduzidas são reconhecidas por fatores de iniciação que ajudam o
ribossomo a se ligar ao códon de inciação do mRNA.

Algumas células produzem mRNAs, mas atrasam sua tradução até que certas condições
sejam atendidas. Algumas células respondem a níveis críticos de elementos químicos a que
são expostas. Por exemplo, proteínas que precisam se ligar a moléculas de ferro só são
traduzidas quando o ferro está disponível, mesmo que o mRNA seja produzido o tempo
todo. Em outros casos, as condições do organismo enviam mensagens que controlam a
tradução. Por exemplo, a insulina, hormônio que controla os níveis de açúcar no sangue,
controla a tradução de alguns genes, que é bloqueada na ausência de insulina.

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Bibliografia:

Robinson, Tara. Genetics for Dummies, Cap. 10. Wiley Publishing Inc. 2005.

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