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Cada célula do seu corpo, com raríssimas exceções, carrega o conjunto completo de instruções que
perfaz todo o seu corpo. Nas células de seus olhos há genes que fazem seu cabelo crescer. Nas
células da sua pele há genes que determinam a cor dos seus olhos. Mesmo os genes supostamente
ativos em certos tipos de células não estão ativos o tempo todo. Ao invés disso, estes genes são
ligados apenas quando sua expressão é necessária e depois são desligados de novo, como quando
você acende a luz do quarto pra procurar alguma coisa e depois desliga pra sair do quarto.
Esta aula tentará explicar porque, por exemplo, seu globo ocular não tem cabelos. Controlando a
expressão gênica, a célula produz o que precisa no tempo certo. Todos os genes disponíveis não
estão ativos o tempo todo e a expressão gênica é tecido-específica (o que significa que apenas
alguns genes são ativados em um determinado tecido).
Se pensarmos que a degradação tanto da glicose quanto da lactose depende de enzimas dentro da
célula, podemos concluir que existem enzimas para metabolizar ambos os açúcares, mas que as
enzimas para metabolizar a lactose só são ativadas na presença de lactose e na ausência de glicose.
Este mecanismo foi mais tarde explicado com a descrição do Operon Lac. Um operon é um transcrito
de mRNA que carrega informação para a formação de mais de uma proteína. No caso do Operon
Lac, as proteínas β-galactosidase e permease, entre outras, tem seu RNA transcrito num único
transcrito.
Ora, sabemos que para ativar um gene é preciso transcrever o mRNA e este mRNA deve ser
traduzido, de modo a formar as proteínas. Com isso, quando o Operon é transcrito, as proteínas
podem ser traduzidas. Então, por que as proteínas que degradam a lactose não estão disponíveis
sempre?
Porque o sítio promotor do Operon (no DNA) fica bloqueado por um repressor, que impede que a
transcrição do mRNA ocorra. Quando presente no meio, a lactose se liga ao repressor, que
imediatamente deixa o sítio promotor do Operon, permitindo que a RNA polimerase faça seu
trabalho. Assista ao vídeo OperonLac presente no FTP para entender melhor esta história.
Você deve estar se perguntando sobre o papel da glicose nisso tudo. Pois é, o vídeo não mostra, mas
a transcrição do Operon depende da presença de AMP cíclico na célula. O AMP é o último produto
da degradação do ATP, a molécula que fornece energia para a célula. O AMP primeiro é quebrado
em ADP e depois em AMP. Com isso, se há alta concentração de AMP na célula, é porque os níveis
de energia estão baixos, ou seja, faltou glicose!
Controle Espacial
Voltando para o mundo dos eucariotos, o controle da expressão gênica se inicia na formação do
zigoto e se estende por toda a vida de um organismo. No início, todas as células são iguais, ou
totipotentes (o que chamamos de células tronco, que podem se tornar qualquer tipo de célula do
corpo). Em um determinado momento uma célula se especializa, ou seja, “decide” qual conjunto de
genes poderá nela ser expresso e desliga permanentemente todos os demais.
Controle temporal
Assim como diferentes genes são acionados em localidades diferentes no embrião, outros são
acionados em tempos diferentes do desenvolvimento. As hemoglobinas dão um bom exemplo disso.
Seu genoma contém um grande grupo de genes que codificam as hemoglobinas, que transportam o
oxigênio ao longo do corpo. Durante o seu desenvolvimento, nove genes de globinas se combinam
de maneira a formar três tipos de hemoglobina, que atuam em diferentes estágios de sua vida.
Quando você era um embrião, e logo depois, um feto, você dependia completamente do oxigênio
captado por sua mãe. Este oxigênio precisava atravessar uma membrana para chegar até você. Este
processo é um tanto ineficiente, e esta ineficiência precisava ser compensada por uma grande
afinidade por oxigênio por parte destas moléculas para sustentar o seu crescimento e
desenvolvimento.
Figura 4. Os genes que
produzem diferentes
tipos de hemoglobinas
são ligados na mesma
ordem em que aparecem
nos cromossomos.
Os genes que controlam a produção destas hemoglobinas estão nos cromossomos 11 e 16. Estes
genes em ambos os cromossomos são acionados em ordem (5’ → 3’, figura 2) ao longo do tempo.
Nós sabemos que as hemoglobinas são sempre formadas por quatro polipeptídeos, formando um
tetrâmero. Nossa primeira hemoglobina, durante as primeiras semanas de vida, é formada por duas
cadeias épsilon e duas zeta (zeta 1 e zeta 2). Após este período, tanto a produção das cadeias
épsilon quanto zeta cessam, e as cadeias alfa e gama começam a ser produzidas (de modo que
temos hemoglobinas com duas cadeias alfa e duas gama). Esta é a nossa hemoglobina fetal. Quando
o bebê nasce, a produção de globina gama decai enquanto a produção da globina beta aumenta. A
combinação de duas cadeias alfa e duas beta compõe a hemoglobina adulta normal, ou
hemoglobina A (HbA). O gene delta, localizado entre os genes gama e beta no cromossomo 11
produz um pequeno número de globinas delta em crianças e adultos. O produto da globina delta é
chamado hemoglobina A2 (HbA2), normalmente perfaz menos de 3% do total de hemoglobinas
adultas e é composto por duas cadeia alfa e duas delta.
Controle Ambiental:
Na maior parte das vezes, quando um gene é acionado, ele está sendo transcrito. Se este gene for
desligado, é porque a transcrição foi suspensa. A única maneira de produzir proteínas é pela
produção de mRNA. A transcrição produz os mRNAs usados na tradução. Com isso, se a transcrição
está ocorrendo, a tradução também está, e a expressão gênica está acionada. Quando a transcrição
cessa, a expressão gênica é desligada também. A coordenação da transcrição é controlada por uma
série de fatores que incluem:
1) Acessibilidade do DNA
1) Acessibilidade do DNA
No entanto, nem todos os genes podem ficar desligados pra sempre. Com isso, algumas
seções do DNA podem ser acionadas caso necessário. Para acionar estas seções, o DNA
precisa ser desempacotado. Para desfazer os nucleossomos, proteínas específicas precisam
se ligar ao DNA. Várias proteínas, que incluem os fatores de transcrição, coletivamente
conhecidos como complexos de remodelamento de cromatina, fazem o trabalho de
disponibilizar o DNA de acordo com as necessidades do organismo. A maioria destas
proteínas se liga a uma região próxima ao gene a ser ativado e empurra os nucleossomos
para liberar o DNA. Assim que o DNA fica disponível, os fatores de transcrição começam seu
trabalho.
Os genes são freqüentemente controlados pela ação de outros genes. Há quatro tipos de
genes que gerenciam a atividade de outros.
Gerenciamento da Transcrição. Três tipos de genes atuam como agentes reguladores que
aumentam as taxas de transcrição (enhancers, ou acentuadores) ou as diminuem (silencers,
ou silenciadores), ou especificam os efeitos dos acentuadores ou silenciadores (insulators,
ou isoladores).
Enhancers: Este tipo de seqüência inicia a transcrição e a acelera, fazendo que ela
ocorra várias vezes mais rápido e com freqüência maior. Os acentuadores podem
estar localizados antes da unidade de transcrição, depois dela ou no meio dela. Os
acentuadores podem controlar genes a distâncias bem longas (vários milhares de
bases). No entanto, estes elementos são tecido-específicos em suas atividades – eles
somente influenciam genes normalmente ativados em um determinado tipo de
célula.
Silencers: Servem para fazer com que a transcrição fique mais lenta ou cesse. Assim
como os acentuadores, os silenciadores podem estar localizados há vários milhares
de bases do gene que controlam. Os silenciadores mantêm o DNA empacotado e não
disponível para a transcrição.
3)Hormônios
Hormônios são substâncias complexas que controlam a expressão gênica. São secretados
por diversos tecidos no cérebro, gônadas e outras glândulas ao longo do corpo. Eles circulam
na corrente sanguínea e podem afetar tecidos localizados muito longe da área onde foram
secretados. Neste sentido, podem afetar genes em vários tecidos simultaneamente.
Essencialmente, hormônios atuam como uma chave geral para a regulação gênica para o
corpo todo.
Alguns hormônios não podem cruzar as membranas das células diretamente, pois são
moléculas grandes. Estas grandes moléculas se ligam a proteínas receptoras que transmitem
sua mensagem através da transdução de sinal. Veja o filme do you tube sobre transdução de
sinal: http://www.youtube.com/watch?v=tMMrTRnFdI4. Outros hormônios, como os
esteróides, são solúveis em gorduras e pequenos, então passam diretamente pelas
membranas e se ligam a proteínas receptoras. Esteróides e proteínas receptoras foram um
complexo que entra no núcleo celular para atuar como um fator de transcrição que aciona
genes específicos.
Genes que reagem a sinais hormonais são controlados por seqüência de DNA conhecidas
como elementos de resposta a hormônios. Estes elementos se situam proximamente aos
genes a serem transcritos e se ligam ao complexo receptor de hormônios. Vários destes
elementos podem influenciar o mesmo gene. Na verdade, quanto maior for a quantidade de
elementos presentes, mais rápido ocorrerá a transcrição.
Além de tudo isso, o uso de anabolizantes tem vários efeitos colaterais indesejados.
Homens que possuem o gene para a calvície aparentemente apresentam o fenótipo
mais cedo se usarem anabolizantes. Hormônios esteróides podem causar perda
temporária da produção de esperma e crescimento de mamas. Essas drogas
provocam o aumento da libido, mas diminuem a habilidade de manter uma ereção.
Anabolizantes esteróides também aumentam a pressão sanguínea a níveis perigosos.
Tem mais: homens que usam anabolizantes podem sofrer de ataques do coração e
apresentam comportamento violento.
Convenções: Os elementos que interferem na transcrição do mRNA são divididos entre elementos de
ação CIS e TRANS. Elementos de ação CIS são todos aqueles presentes na mesma molécula de DNA,
podem ser proximais, como as seqüências promotoras ou distais, como os acentuadores e
silenciadores. Elementos de ação TRANS são aqueles produzidos em outra molécula de DNA, em geral
são proteínas que interagem com as seqüências de ação CIS, promovendo ou inibindo a síntese de
mRNA, ou transcrição.
Splice do RNA. O mRNA de eucariotos contém exons e íntrons, e os primeiros compõe a parte que
de fato será traduzida em proteínas. Os íntrons são porções não codificadoras de DNA que se
encontram entre os éxons. Antes de ocorrer a tradução do mRNA, os íntrons devem ser retirados, ou
seja, o mRNA deve ser editado. Quando vários íntrons estão presentes no mesmo mRNA, várias
combinações de éxons podem resultar do processo de edição, ou seja, várias proteínas podem ser
formadas. Esta flexibilidade genética explica como pode ser produzida uma quantidade tão grande
de proteínas com tão poucos genes.
Exemplo: Dscam. Um gene grande que tem 115 exons e pelo menos 100 sítios de “splice”. O Dscam
pode ser transcrito em 30.016 proteínas diferentes. No entanto, a produção de proteínas do Dscam
é regulada. Alguns dos produtos só são produzidos durante os primeiros estágios do
desenvolvimento embrionário.
Depois que o mRNA é transcrito, os genes podem ser regulados através do silenciamento do mRNA.
Silenciar o mRNA significa basicamente interferir com o mRNA de forma que não possa ser
traduzido. O silenciamento é chamado de interferência. Este mecanismo não é usado unicamente
para regular a expressão gênica do organismo, ele é usado também para proteger o organismo de
genes de vírus. Quando as defesas do organismo detectam um vírus de RNA dupla-fita, uma enzima
denominada Dicer é produzida. Esta enzima quebra o RNA em pedaços pequenos (de 20 a 25 pares
de bases). Estes pedaços pequenos, chamados de pequenos RNAs interferentes (siRNAs) são então
usados como armas contra RNAs virais. O RNA viral é então sumariamente destruído e degradado.
Veja o vídeo sobre o silenciamento do mRNA por siRNA (http://www.youtube.com/watch?v=D-
77BvIOLd0) .
Depois que o mRNA é transcrito, editado (cap 5’, cauda poli-A) e tem seus íntrons retirados, é
transportado para o citoplasma. Deste momento em diante, inicia-se a destruição do mRNA, já que
as enzimas do citoplasma começam a atacá-lo assim que ele chega. mRNAs têm tempos de vida
relativamente curtos, que dependem de uma série de fatores. Dentre estes fatores, a cauda poli-A
parece ser o mais importante, já que quanto maior a cauda, mais tempo o mRNA dura.
Na aula de estrutura e replicação do DNA foi falado sobre as diferenças do DNA e do RNA. Uma destas
diferenças era o fato do RNA conter uma molécula de oxigênio a mais que o DNA, o que torna a molécula mais
reativa (ou menos estável). Outra diferença sempre ressaltada nos livros didáticos é o fato do RNA ter a base
Uracila ao invés da Timina, presente no DNA. A principal diferença entre estas bases é que a Timina contém um
grupo metil ausente na Uracila. Sabemos que a metilação ajuda a proteger o DNA da ação de nucleases
(enzimas que quebram moléculas de ácidos nucléicos). Além disso, o DNA permanece no núcleo, onde fica
protegido, enquanto o RNA migra para o citoplasma. Todas estas características, somadas ao fato de que
moléculas de DNA são dupla-fita, enquanto as moléculas de RNA são simples-fita, sugerem que o DNA é uma
molécula a ser protegida de modificações, que poderiam levar a mutações indesejadas, enquanto o RNA é, e
precisa ser, uma molécula efêmera, com curto tempo de duração. Refletindo um pouco, o pequeno prazo de
validade do RNA permite que a regulação gênica seja precisa, ou seja, uma determinada proteína só é
produzida quando a transcrição do mRNA que a codifica é permitida, ou seja, regulada.
A tradução do mRNA em aminoácidos é um passo crítico na expressão gênica, mas às vezes os genes
são regulados durante ou depois da tradução.
O controle da expressão gênica pelo controle da tradução pode ocorrer de duas maneiras:
A maquinaria que faz a tradução, como as proteínas de iniciação que interagem com
os ribossomos, é modificada para aumentar ou diminuir a efetividade da tradução
O mRNA carrega uma mensagem que controla quando e onde será transcrito.
Todo mRNA carrega pequenas seqüências em suas extremidades 5’ que não são traduzidas,
e estas sequencias podem levar mensagens a respeito do “timing” da tradução. As
seqüências não traduzidas são reconhecidas por fatores de iniciação que ajudam o
ribossomo a se ligar ao códon de inciação do mRNA.
Algumas células produzem mRNAs, mas atrasam sua tradução até que certas condições
sejam atendidas. Algumas células respondem a níveis críticos de elementos químicos a que
são expostas. Por exemplo, proteínas que precisam se ligar a moléculas de ferro só são
traduzidas quando o ferro está disponível, mesmo que o mRNA seja produzido o tempo
todo. Em outros casos, as condições do organismo enviam mensagens que controlam a
tradução. Por exemplo, a insulina, hormônio que controla os níveis de açúcar no sangue,
controla a tradução de alguns genes, que é bloqueada na ausência de insulina.
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Bibliografia:
Robinson, Tara. Genetics for Dummies, Cap. 10. Wiley Publishing Inc. 2005.