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Controle da expressão gênica em

eucariotos
Profa. Elaine Scherrer
No embrião, todas as células são indiferenciadas e
totipotentes.
Em animais, a maioria das células adultas (diferenciadas) perderam sua
capacidade totipotente, entretanto restaram algumas células
indiferenciadas, que ainda mantêm essa característica de “pluripotência”,
as células-tronco.
O que essas observações sugerem em relação às
duas hipóteses que nós levantamos inicialmente?

Todas as células de um organismo contêm o mesmo


conteúdo genético.
O que muda entre células distintas, ou entre condições
fisiológicas distintas, são os genes que são expressos,
ou seja o complemento de proteínas que cada célula
produz.

Regulação gênica dá o controle sobre todas as células,


estrutura e função, e é a base para a diferenciação
celular, a morfogênese, a versatilidade e a adaptabilidade
de qualquer organismo.
Todos os tipos de célula somáticas contêm 46 cromossomos
e os mesmos genes.
Elas diferem pelos genes que estão ativados (on) ou
inativados (off).
A morfogênese é um processo coordenado de regulação
sequencial da expressão gênica.

Genes contendo homeobox codificam


proteínas de ligação a DNA que regulam a
expressão gênica e controlam vários
aspectos da morfogênese e diferenciação
celular. Em particular, o HoxA família de
genes homeobox agrupados desempenha
um papel fundamental na morfogênese do
embrião de vertebrados, fornecendo às
células informação regional ao longo do eixo
principal do corpo.
Tipos de genes
Estruturais: codificam proteínas que são usadas no metabolismo ou
biossíntese com papel estrutural na célula.

Regulatórios: seus produtos, RNA ou proteínas interagem com outras


sequências e afetam a transcrição gênica ou tradução dessas sequências.
A expressão de genes/proteínas é controlada em três níveis:

1º Temporal: quando um determinado gene/proteína só é expresso em um


“tempo” determinado.
Ex: proteínas que só são expressas no embrião, ou durante uma determinada
fase do ciclo celular;

2º Espacial: quando a expressão de determinado gene/proteína é diferente


dependendo do tipo celular.
Ex: proteínas que só são expressas em células nervosas (ex: mielina) ou no
tecido muscular (ex: miosina).

3º Ambiental: Quando um organismo é exposto a altas temperaturas, stress ou


poluentes um conjunto específico de genes é colocado em ação para produzir
proteínas de choque térmico.( ex. na hipoxia induz genes angiogênicos)
Exemplo de Controle temporal nos genes das cadeias de globinas humanas
Durante o desenvolvimento humano, nove genes de globinas se combinam de maneira a formar
três tipos de hemoglobina, que atuam em diferentes estágios da vida.

Fase
embrionária
gama
Até 8ª semana
epsilon delta beta Período
Embrionário

11p

1%

16p
zeta alfa
Hemoglobima γ
apresenta maior
eficiência para
captar oxigênio da
circulação materna.

Idade após concepção (semanas) Idade pós-natal (semanas)


Exemplos de Sinais que Regulam a Expressão Gênica em
Eucariotos

 Hormônios (ex: hormônios esteróides)


 Fatores de Crescimento e de Diferenciação Celular
 Contato célula-célula (adesão celular)
 Alterações nutricionais (resposta é limitada)
 Alterações ambientais (ex: choque térmico)
Níveis de Regulação da Expressão
Gênica em Eucariotos

 Ativação da estrutura do gene (cromatina ativa);


 Início da Transcrição;
 Processamento do Transcrito;
 Transporte do mRNA para o citoplasma;
 Estabilidade do mRNA;
 Tradução do mRNA;
 Processamento da Proteína;
Níveis de Regulação da Expressão
Gênica em Eucariotos
A célula acessa esta informação genética quando o DNA esta
descompactado.
Epigenética

 Acredita-se que a plasticidade fenotípica esteja muito ligada às alterações


epigenéticas do DNA, principalmente quando os indivíduos possuem pouca
variação genética entre eles.

 Fatores epigenéticos provocam uma maneira herdável, reversível e dinâmica


de modular a expressão gênica sem que haja modificação na sequência do
DNA.

Holliday R. (2006) Epigenetics A Historical Overview. Epigenetics 1:2, 76-80


Processos epigenéticos

Histonas:
-Acetilação
-Metilação
-Fosforilação

DNA
- Metilação de ilhas CpG
Solenoide : 6 a 8 nucleossomos
Acessibilidade ao DNA

O Empacotamento

1. Heterocromatina: tipicamente, 10% da cromatina esta sempre


supercondensada, essas regiões são transcricionalmente inativas.
Na forma compactada o DNA não pode ser transcrito, já que os fatores de
transcrição são incapazes de se ligar ao DNA para encontrar a fita molde e
transcrevê-la.

2. Eucromatina: cromatina mais “relaxada”, transcricionalmente ativa.


(básico)

(ácido)
Cada histona possui uma cauda N-terminal de aminoácidos que se
projeta para fora do cerne.
Lisinas: podem ser
metiladas pela
metil-transferase
de histonas.
Cromatina é remodelada por acetilação

A modificação das lisinas por acetilação substitui as cargas positivas por grupos
acetil neutros, e enfraquece a interação eletrostática entre o núcleo octâmero de
histonas e o DNA. Com isso os sítios promotores e reguladores estão mais
acessíveis para a ligação dos fatores de transcrição.

Lisinas nas histonas apresentam cargas positivas e


são atraídas pelo fosfato (carga negativa) do DNA.

Ativa o gene

Inativa o gene
Metilação das Histonas

 Metilação da H3 na lisina 9: facilitam a metilação do DNA e o silenciamento


gênico.

 Metilação da H3 na lisina 4: abre a cromatina facilitando a transcrição.


A molécula serotonina ativa receptores específicos na membrana celular
desencadeando eventos de sinalização intracelular que levam a alterações na
cromatina (DNA mais histona) e expressão genética.
Internalização da serotonina através de
transportadores ativam enzimas
transglutaminase dependentes de Este processo tem um papel na indução
cálcio (TGases) no citoplasma. Estes da divisão celular nas células musculares
adicionam moléculas de serotonina lisas, na regulação da secreção de
(uma reação chamada serotonilação) a insulina pelas células β no pâncreas.
certas pequenas enzimas GTPase,
como Rab.
Farrelly e colaboradores (2019) relataram que histonas também podem ser modificadas pela adição
de serotonina, um molécula com papéis essenciais na regulação atividade neuronal.

A serotonilação também ocorre no núcleo, de maneira independente do receptor da serotonina. Uma TGase
nuclear chamada transglutaminase 2 (TGM2) acrescenta serotonina ao resíduo de aminoácido glutamina na
posição 5 da histona H3. Esta modificação pós-traducional, apelidada Q5ser, ocorre predominantemente em
combinação com outra modificação da histona H3, a trimetilação do resíduo de aminoácido lisina na posição 4
(K4me3). Esta modificação é mediada por enzimas metiltransferases como o MLL1, que transfere um grupo
metila da S-adenosilmetionina (SAM) para a histona H3. A presença de K4me3 indica que a cromatina está em
estado transcricionalmente ativo e a marca dupla K4me / Q5ser pode reforçar esse estado.
Controle transcricional por metilação das bases CpG do DNA.

 As Ilhas CpG do DNA :são regiões com alta frequência dos dinucleotídeos
CG;
 Normalmente presentes em regiões promotoras do gene;
 Encontram-se protegidas da metilação por proteínas;
 Podem tornar-se suscetíveis a metilação;
A metilação do DNA leva à atividade gênica alterada:

 Dificulta o acesso dos fatores de transcrição;


 Inativação do gene.

Pode ocorrer em:


Células somáticas: CpG espaçados no genoma ou na região promotora.
Células embrionárias indiferenciadas: metilação alta em CpA;CpT;CpC;CpG.
Os radicais metil são adicionados as citosinas por 3 enzimas
DNA metil-transferases principais:

 Dnmt1 – metilação de manutenção. Mantêm o padrão normal de metilação


durante as replicações.

 Dnmt3a e Dnmt3b – metilação “de novo”. Fazem a metilação em sítios sem


nenhuma indicação prévia.
Regiões metiladas do DNA promove desacetilação das histonas e assim
ocorre maior compactação e silenciamento gênico.
Inativação do X (exemplo de metilação de DNA)
Compensação de dose gênica entre homens e mulheres;
Inativação do cromossomo X ocorre entre o 13º e 16 dia de gestação em
humanos;
Forma-se o Corpúsculo de Barr: X inativo;
Forma de silenciamento gênico e marcação genética diferencial;
Efeito epigenético;
Aleatório e permanente: cromossomo X materno ou X paterno;
Metilação permanente (exceto na gametogênese).
Mecanismo de Inativação do X
 Depende da expressão do gene XIST no centro de inativação do cromossomo X (X-inactive
specific transcript) em um longo RNA Xist de 17 Kb no cromossomo que será inativado:
inativa 80% dos genes;

 O X ativo transcreve o RNA Tsix que é antisenso ao Xist e impede a inativação do


cromossomo.

 Consequências para repressão da transcrição:


- Hipermetilação das ilhas CpG e
- Hipoacetilação das histonas H4.
- Proteína Policomb PRC2: trimetilação da lisina 27 da H3.

 Gera mosaicismo nas fêmeas e explica os casos de mulheres heterozigotas (portadoras)


manifestantes, sintomáticas, de distúrbios ligados ao X.
Mulheres portadoras sintomáticas aparecem ocasionalmente como
resultado da inativação aleatória do X afetado (Hipótese de Lyon)

Hemofilia A Hemofilia B
Símbolo de gene: F8 Símbolo de gene: F9
(OMIM 306700) (OMIM 306900)
Localização citogenética: Xq28 Localização citogenética: Xq27.1
Herança ligada ao sexo recessiva Herança ligada ao sexo recessiva
Imprinting genômico

Os genes imprintados (genes silenciados): uma cópia do gene foi


epigeneticamente marcada ou no óvulo ou no espermatozoide.
A expressão alélica de um gene imprintado depende se ele é originário do macho
ou da fêmea das gerações prévias.
Forma epigenética de herança não mendeliana de regulação gênica;
Envolve metilação das ilhas CpG do DNA ;
Alguns genes no cromossomo 11, por exemplo, são
imprintados, incluindo o fator de crescimento similar a insulina
(IGF-2).
Este gene está imprintado no cromossomo de origem materna,
e ativo apenas no cromossomo paterno.
A perda do imprinting associada com a perda da metilação alelo-
específica caracteriza um exemplo de variação epigenética
encontrada em células cancerosas que atua como facilitadora da
expressão de protooncogenes e inativadora de genes supressores
de tumores.
off

Dissomia uniparental
Dissomia uniparental

Síndrome de Angelman
Síndrome de Prader-Willi
Deleção de origem materna
Deleção de origem paterna
Microdeleção 15q11.q13
Microdeleção 15q11.q13
OMIM 105830
OMIM 176270
SÍNDROME DE PRADER- WILLI

Síndrome caracterizada por obesidade, mãos e pés


pequenos, baixa estatura, hipogonadismo
Hipogonadismo (as glândulas não produzem hormônios
sexuais suficientes);
Causada por deleção ou inativação de genes críticos
do cromossomo 15q11–q13 paterno (normalmente não
sofre imprinting - marcação diferencial de expressão
gênica) ou por Dissomia uniparental* materna: os
genes maternos estão presentes, mas o gene está
“imprintado”.
SÍNDROME DE ANGELMAN
Uma desordem neurogenética caracterizado por
sociabilidade exacerbada, risadas frequentes e sem
motivo, e pouca demonstração de sinais afetivos
negativos como raiva e choro.(Síndrome do “boneco
feliz”)
Causada por deleção ou inativação de genes críticos do
cromossomo 15 materno (normalmente o gene paterno
está silenciado) ou por Dissomia uniparental paterna : os
genes paternos estão presentes mas o gene está
“imprintado”, marcado para não expressar.
Famílias de Genes Hox
 Hox genes são genes altamente conservados que codificam fatores de transcrição
que determinam o plano de desenvolvimento embrionário em animais. Em
vertebrados, os genes foram duplicados em quatro grupos: Hox-A, Hox -B, Hox-C
e Hox-D.
As proteínas codificadas por eles
ativam ou reprimem a expressão de
genes alvo.

liga-se à sequência de DNA liga-se à sequência de DNA


Grupo Polycomb (PcG)
Reprimem a expressão de genes de fatores de transcrição (ex: genes Hox).

Divididos em 2 Grupos;
 Os que colocam as marcas – (PRC2) – metil-transferases de histona
Ex.EZH2 que trimetila a lisina 27 da H3 e SUZ12 que metila a lisina 9 da histona H3

 Os que interpretam as marcas – (PRC1)


Ex.CBX2/HPC1 que possui cromodomínio e liga-se a lisinas metiladas.
Grupo Trithorax (TrxG)
Mantem a expressão dos genes Hox;

Ex. MLL (trimetila a lisina 4 da H3), e desta forma dá origem a um sítio de


ligação para acetilase de histonas.
Regulação do processo de edição do RNAm

 Durante o processamento, determinados transcritos podem receber a inserção,


deleção ou modificação de nucleotídeos em sua sequência.
Exemplo da apolipoproteína B (mesmo gene mas com tamanho de proteína
diferente);
Regulação da expressão gênica por controle da tradução :

A função primária da Ferritina é de acumular o ferro intracelular protegendo a célula dos


efeitos tóxicos do metal livre constituindo uma reserva de ferro rapidamente mobilizável.
Regulação da expressão de genes por hormônios esteroides
Controle pós-transcricional por micro RNAs
Os miRNAs pareiam com
sequências complementares no
mRNA e degradam o
mRNA ou inibem sua tradução;
BIBLIOGRAFIA

1. BORGES-OSÓRIO & ROBINSON Genética Humana. Artmed. Porto Alegre.


2ª ou 3ªed. 2013.
2. GRIFFITHS – Introdução à Genética 9ª ed.Ed. Guanabara koogan. 2010.
3.NUSSBAUM, R.L.; MCLNNES, R.R.; WILLARD. H.F.. Thompson &
Thompson Genética Médica.7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008, 640p.
4. WATSON, JD. Biologia molecular do gene. 5ª. ed. Porto Alegre, Artmed,
2006.
5. Lewin, B. Genes IX. 9ª ed. Ed. Artmed, 2009.

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