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Biologia molecular e biotecnologia:

Bases da epigenética

Profª Me. Yuri N. Fróes


Introdução

• Há algumas décadas, acreditava-se que os genes eram os únicos


responsáveis pela transmissão das características de uma geração para
outra.
• Entretanto, nos dias atuais, sabe-se que variações não genéticas
adquiridas durante a vida do indivíduo podem ser transmitidas para seus
descendentes.
• Para explicar os mecanismos que regulam essas variações herdáveis, que
são independentes do genoma, surgiu o conceito de epigenética.
EPIGENÉTICA
• epi-(grego: επί-over, acima) – genética
• o termo epigenética se refere a fatores que alteram a expressão gênica, de forma herdável, mas que
não estão relacionados a mudanças na sequência de nucleotídeos da fita de DNA. Desse modo,
podemos considerar que os mecanismos epigenéticos formam uma etapa adicional na regulação da
expressão gênica.
• É o estudo das mudanças produzidas na expressão gênica causadas por outros mecanismos que não
as mudanças na sequência de bases do DNA.
• Representa as características de organismos unicelulares e multicelulares estáveis ao longo de
diversas divisões celulares mas que não envolvem mudanças na sequencia do DNA no organismo.
EPIGENÉTICA
EPIGENÉTICA

• A história da sua vida depende da combinação entre a genética que você


herdou e do ambiente em que você vive

• Isso inclui todas as pequenas escolhas que você faz e os eventos que
acontecem ao longo da vida.
EPIGENÉTICA
• A herança epigenética traz implicações profundas para o estudo da evolução
reforçando o que dizia o naturalista Jean Baptiste Lamarck, século XVIII que
acreditava que a evolução era dirigida em parte pela herança de características
adquiridas durante a vida. Seu exemplo clássico é a girafa.

• Os ancestrais das girafas forçaram seus pescoços para alcançar folhas mais
altas nas árvores, por isso seus pescoços tornaram-se ligeiramente maiores, uma
característica que foi passada para seus descendentes. Assim, geração após
geração a espécie herdou pescoços ligeiramente maiores, e o resultado são as
girafas que conhecemos hoje.
EPIGENÉTICA
• Em irmãos gêmeos idênticos, alguns estudos confirmam que durante a transição
da infância para a vida adulta, os gêmeos passam a diferenciarem-se quanto a
questões como ansiedade e depressão
• Apesar de terem o mesmo background genético essas diferenças surgem graças
a experiências individuais adquiridas durante a vida, ou seja, das mudanças
epigenéticas.
Cromatina
• A cromatina é formada pela interação
entre o DNA e as proteínas,
principalmente histonas, formando
unidades denominadas
nucleossomos.
• Os nucleossomos são formados por
um octâmero de histonas, constituído
de duas histonas H2A, duas histonas
H2B, duas histonas H3 e duas
histonas H4, envolvidos pela
molécula de DNA.
Cromatina
• Após a formação do nucleossomo, unidades
de histonas H1 se ligam externamente ao
octâmero, e as histonas H1 de nucleossomos
adjacentes podem interagir entre si,
acarretando em maior grau de compactação
do DNA.
• Desse modo, para que ocorra a ligação das
proteínas reguladoras na estrutura de DNA,
são necessários mecanismos celulares
capazes de reorganizar a estrutura da
cromatina.
• Esses mecanismos são denominados
epigenéticos, capazes de modular os
nucleossomos por meio de alterações
químicas nas histonas e de modificações na
fita de DNA.
Processos celulares alterados pela epigenética

• Imprinting genômico ou memorização: silenciamento de um dos


cromossomos isso ocorre devido a mecanismos de metilação do DNA e
remodelamento de histonas, alterando a conformação da cromatina.
• Inativação do cromossomo X: A inativação do cromossomo X equilibra o
número de genes entre machos e fêmeas e está relacionado a mecanismos
epigenético.
• Desenvolvimento da plasticidade celular: ativação epigenética que
remodela a transcrição gênica nas células durante o desenvolvimento, sem
apresentar alterações no genoma.
EPIGENÉTICA

• A epigenética investiga a informação contida no DNA, transmitida na divisão celular,


mas que não constitui parte da sequência do DNA.

• Os mecanismos epigenéticos envolvem modificações químicas do próprio DNA, e


modificações nas proteínas que estão associadas a ele. Cada uma destas
modificações age como um sinal de regulação e modificação na expressão
genética.
Alterações epigenéticas

• O DNA encontra-se compactado na forma de cromatina.


• Essa compactação ocorre pela interação da fita de DNA com proteínas,
principalmente histonas, em unidades denominadas nucleossomos.
• Durante a transcrição gênica, essa estrutura precisa passar por um
processo de relaxamento, diminuindo a interação da fita com as histonas e
permitindo a ligação de proteínas reguladoras da transcrição.
• Para ocorrerem essas modificações na estrutura do nucleossomo, a célula
possui mecanismos de modificações que atuam no DNA e nas histonas.
• Esses mecanismos funcionam por meio de processos de metilação,
acetilação, ubiquitinação e fosforilação.
Alterações epigenéticas: Metilação do DNA

• A metilação do DNA consiste na transferência de um grupo metil (CH3) para uma citosina (C).
• O grupamento metil é transferido de uma molécula doadora de S-adenosilmetionina devido à ação de enzimas
da família DNA metiltransferase (DNMT). As DNMTs estão divididas em dois grupos: as enzimas DNA
metiltransferases (DNMT2, DNMT3A e DNMT3B1), responsáveis pela metilação de regiões do DNA que não
apresentavam metilação prévia, e as DNMT1, responsáveis por padrões de metilações preexistentes.
• A transferência do grupo metila pelas enzimas DNMT ocorre em uma citosina, seguida de uma guanina (G), em
regiões ricas em CG denominadas ilhas CpG.
• O processo de metilação pode ocasionar o silenciamento gênico por meio da inibição da ligação de fatores de
transcrição em regiões de regulação.

Diminui a regulação gênica.


Alterações epigenéticas: Alteração de histonas

• As propriedades das histonas podem ser alteradas por mecanismos pós-


traducionais.
– Metilação de histonas: A metilação de histonas pode ocorrer em
resíduos de lisina e de arginina pela ação de enzimas histona-
metiltransferases (HMT). As HMTs têm capacidade de transferir um
grupamento metílico de S-adenosil-L-metionina para os aminoácidos
das histonas, lisina e arginina.
– A) A metilação do resíduo de lisina na posição 4 na histona 3 está
relacionada à ativação da transcrição.
– B) Já a metilação do resíduo de lisina também da histona 3, porém na
posição 9, está relacionada à região de repressão da transcrição.
Alterações epigenéticas: Alteração de histonas

• As propriedades das histonas podem ser alteradas por mecanismos pós-traducionais.


– Acetilação de histonas: A acetilação de histonas ocorre por meio da transferência de um
grupo acetílico, proveniente de uma molécula de acetilcoenzima A, para o grupamento amino
do aminoácido lisina em histonas H3 e H4 (enzimas HATs).
– Como o DNA é carregado negativamente, a neutralização das cargas positivas faz com que
haja uma interação menor entre a fita de DNA e as histonas, relaxando a compactação da fita
nos nucleossomos.
– Esse fato deixa as regiões reguladoras dos genes mais expostas a fatores de transcrição.

Aumenta a regulação gênica.


Alterações epigenéticas: Alteração de histonas

• As propriedades das histonas podem ser alteradas por


mecanismos pós-traducionais.
– Ubiquitinação de histonas: A ubiquitina é um
polipeptídio presente nas células eucarióticas que tem
papel fundamental na regulação das proteínas. A
ubiquitina pode tanto marcar uma proteína para
degradação pela poliubiquitinação da proteína,
levando à via proteolítica da ubiquitina-proteassoma,
como acarretar o transporte da proteína pela
membrana, a reparação da fita de DNA e a
modificação da cromatina.
– O efeito da ubiquitinação de histonas no controle da
expressão gênica é semelhante ao visto no
processo de metilação, além de ser dependente da
quantidade de ubiquitinas na cadeia, do resíduo de
lisina e da histona.
– A monoubiquitinação da H2B está ligada à ativação da
transcrição gênica, enquanto a monoubiquitinação de
H2A está associada à repressão da transcrição.
Alterações epigenéticas: Alteração de histonas

• As propriedades das histonas podem ser


alteradas por mecanismos pós-traducionais.
– Fosforilação de histonas: A fosforilação
de histonas ocorre por meio da ação de
quinases, que transferem um grupamento
fosfato de uma molécula de ATP para um
grupo hidroxil do aminoácido.
– O mecanismo de fosforilação está
associado a diferentes processos
celulares como: reparo do DNA,
regulação de genes durante o
desenvolvimento embrionário,
condensação da cromatina, apoptose e
ciclo celular.
Mecanismos epigenéticos e patologias humanas

• Síndrome de Rett (RTT)


– A síndrome RTT é um distúrbio do espectro do
autismo que leva a problemas de desenvolvimento
psicomotores graves, com incidência de 1:10.000
meninas.
– A RTT é ocasionada, na maioria das vezes, por
mutações no gene da proteína que liga à CpG-
metilada 2 (MeCP-2). A MeCP-2 reconhece regiões
CpG metiladas pelo seu domínio de ligação à CpG
metilada (MBD).
– Não há cura, mas medicamentos, fisioterapia,
psicoterapia e suporte nutricional ajudam a controlar
os sintomas, evitar complicações e melhorar a
qualidade de vida.

Lembrando: C: citosina e G a guanina.


Mecanismos epigenéticos e patologias humanas
• Lúpus eritematoso sistêmico (LES)
– O LES é uma doença autoimune em que os anticorpos
apresentam autorreatividade por diferentes tecidos em
diferentes órgãos, gerando um processo inflamatório
crônico.
– A incidência de LES é de 1:1000, com frequência maior
em mulheres. O LES tem causas multifatoriais, porém
estudos recentes vêm indicando que uma das causas
está ligada ao mecanismo epigenético de metilação do
DNA.
– No LES, a enzima DNMT1 (DNA metiltransferase) e,
por consequência, as regiões de metilação em CpG
encontram-se em baixos níveis nas células T em
indivíduos afetados.
– Embora não haja cura para o lúpus, os tratamentos
atuais procuram melhorar a qualidade de vida pelo
controle dos sintomas e pela diminuição das crises.
Isso começa com modificações no estilo de vida,
incluindo dieta e proteção contra o sol. Outras medidas
de controle da doença incluem medicamentos, como
anti-inflamatórios e esteroides.
EPIGENÉTICA Mecanismos
Métodos de Análise dos Processos Epigenéticos Mapeamento
do Metiloma

• Enzimas de restrição sensíveis à metilação + PCR ;


• PCR-metilação específica (MS-PCR);
• Sequenciamento;
• Microarray;
• Análise de fusão de alta resolução: avalia alterações nas sequencias dos
ácidos nucleicos.
Biologia molecular e biotecnologia:
Bases da epigenética

Profª Yuri N. Fróes

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