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2009-2010

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Genética
Excertos retirados de “Manual de Genética Médica” de Fernando Regateiro

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Regulação da expressão génica

 Explicar a importância da regulação da expressão génica a nível celular e a nível do ser


vivo.
A expressão génica é regulada por variáveis relativas ao lugar, à quantidade, à qualidade e ao momento
da ocorrência.
Condições que resultam do efeito da dosagem génica podem conduzir a uma alteração do equilíbrio
funcional por comportamentos celulares anormais. É o exemplo das trissomias e de amplificações génicas, de
monossomias ou de delecções génicas.
A qualidade do produto codificado por um gene pode ser modificado por splicing ou por uma mutação
que não altera a viabilidade celular.
A variável tempo manifesta-se na expressão génica sequencial, em que um mesmo gene pode estar activo
num momento e silencioso noutro.
A componente lugar ilustra o contexto de complexas redes de interacção génica e de interacção entre os
genes e o meio da regulação da expressão génica. Exemplo destas redes é o fenótipo tumorogénico se reverter
quando as respectivas células são inseridas apenas em determinado meio.
Sendo assim, não é de estranhar que o desenvolvimento de neoplasias e também de um número
considerável de doenças não-neoplásicas esteja associado a alterações da expressão génica. A integridade celular
e física do indivíduo depende, portanto, grandemente dos mecanismos reguladores da expressão génica.

 Identificar os vários níveis de regulação da expressão genica.


o Replicação de DNA;
o Transcrição do DNA;
o Processamento de RNA;
o Tradução do RNA;
o Pós-tradução do RNA.

 Identificar os vários mecanismos de regulação da expressão genica a nível da


transcrição
Em seres eucariontes superiores, a regulação da transcrição de um determinado gene envolve sequências
promotoras e sequências intensificadoras. (ver pág. 33)
Um promotor típico apresenta a sequência TATAAT, cuja função é determinar o local preciso de início de
transcrição e a cadeia que serve de modelo pela ligação, nessa região, da polimerase do RNA. Outra região da

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sequência promotora apresenta UPEs (upstream promotor elements) que controlam a velocidade de transcrição
regulando a frequência de iniciação.
A velocidade está controlada de um modo basal pela sequência promotora é aumentada pela sequência
intensificadora da transcrição, a qual aumenta o número de moléculas de RNA polimerase que se movem ao
longo do gene.
Existem dois tipos de sequências intensificadoras:
 As específicas de período de desenvolvimento ou de tecido;
 As induzíveis.
Os factores de crescimento e as hormonas esteróides são elementos capazes de actuar sobre
intensificadores induzíveis.
Os factores de transcrição são proteínas que actuam sobre sequências promotoras e intensificadoras. Ao
ligarem-se a ambas as sequências promovem a sua aproximação pela exclusão do DNA interposto, formando-se
uma alga. A ligação de RNA polimerase à sequência promotora é providenciada pela conexão entre os factores de
transcrição e toda a sequência reguladora, verificando-se o desenrolamento local de DNA.
Verifica-se por vezes o recurso a promotores alternativos.
Existem também mecanismos de regulação da transcrição de natureza epigenética, sendo portanto
reversíveis, pois não se baseiam na alteração da sequência de DNA. São os casos de diferenciação celular,
lionização e de imprinting.
Também o grau de metilação das bases de citosina em locais de CpG influencia a sua transcrição:
hipometilação revela uma transcrição activa, enquanto hipermetilação corresponde à inibição da transcrição. A
metilação funciona como mecanismo epigenético envolvido na diferenciação celular, no controlo da proliferação
e na transformação neoplásica, podendo ser um mecanismo mutagénico espontâneo, pois moléculas de s-
metilcitosina podem desaminar em timina. A metilação actua ao interferir na ligação dos factores de transcrição.
Quanto há alteração da estrutura de cromatina, há a referir:
 Histonas nucleossómicas (H2A, H2B, H3 e H4) altamente acetiladas;
 Ribolisação de H1 e do H2A pela poli-ADP, que é altamente negativa perdendo as histonas a afinidade
para com o DNA;
 HMG14 e HMG17 (high mobility groups) ligam-se selectivamente aos nucleossomas na cromatina
activa.
Desfazendo-se a ordem mais elevada da organização da cromatina, facilita-se o acesso de factores de
transcrição às sequências reguladoras da expressão génica.
A cromatina menos condensada, eucromatina, pode ser dividida em dois grupos: o da forma activa e o da
inactiva. A eucromatina inactiva é condensada, mas não tanto como a heterocromatina, sua variante com funções
distintas.

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 Identificar os mecanismos de regulação da expressão génica ao nível da pós-transcrição
As moléculas de RNA transcritos pela RNA polimerase II são conhecidos como hnRNA e distinguem-se das
restantes moléculas de RNA por modificações covalentes que sofrem em ambas as extremidades:
 Adição de um nucleótido G metilado, cap, à extremidade 5’;
 Adição de uma cauda de poli-A à extremidade 3’.
Ambos os processos são mediados por enzimas que se ligam selectivamente à polimerase II.
Estas moléculas sofrem splicing, ao serem imediatamente cobertas por proteínas e snRNP’s, sendo as
sequências não-codificantes (intrões) removidos em forma de laço. A alteração existente na sequência de DNA
pode levar a alterações do padrão de splicing. Em alguns casos, é possível que se elimine uma região de splicing, o
que não impede, contudo, que o processo ocorra: a região remanescente procura uma região nova, possibilitando
splicing alternativo. Este processo pode permitir a evolução de novas proteínas.
A edição de RNA específica do tecido permite alterar a sequência de nucleótidos de mRNA.
A eficácia da tradução é influenciada pela:
 Acessibilidade do codão AUG ao ribossoma;
 Disponibilidade dos ribossomas;
 Disponibilidade de tRNA;
 Estabilidade de mRNA;
 Velocidade da síntese peptídica.

 Identificar os mecanismos de regulação da expressão génica a nível da pós-tradução.


A regulação é efectuada por vários processos:
 Clivagem das proteínas por proteases;
O polipeptídeo pode não ser funcional na forma em que foi produzido a nível ribossómico, sendo
necessária a clivagem. Esta depende de enzimas presentes no ambiente do produto que, naturalmente, variam.
Além disso, a acção das proteases pode ocorrer em diferentes locais da sequência do produto, originando
diferentes proteínas consoante o local de cisão.
 Disponibilidade de outras proteínas e iões;
A ter em conta quando o produto entra na constituição de moléculas complexas em que se associa a iões
metálicos, como é o caso das heme-proteínas.
 Organização em oligómeros;
Quando a molécula actua por associação a outras moléculas polipetídicas iguais ou diferentes, a
capacidade funcional de um oligómero pode ser afectada se incorporar um monómero mutado.

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 Fosforilação, glicosilação, hidroxilação, metilação, formação de pontes dissulfeto.
Os mecanismos de regulação a nível da pós-transcrição e da pós-tradução são mais rápidos e económicos
para a célula que os outros. Apresentam também a vantagem de serem os únicos funcionais quando a transcrição
está interrompida.

 Descrever os mecanismos de acção do miRNA.


Os microRNAs são pequenas moléculas de RNA com cerca de 22 nucleótidos que funcionam como
reguladores anti-sense de outros genes.
Formam-se a partir de moléculas precursoras mais longas provenientes de intrões (25% dos casos) e mais
geralmente de transcritos primários não-codificantes. Pensa-se que interferem no controlo da expressão génica
da maioria dos genes codificadores de proteínas do seguinte modo: união a um complexo proteico, RISC (RNA-
induced silencing complex). Este complexo miRISC é que inibe a expressão génica ligando-se a uma extremidade
3’UTR do mRNA e impedindo a transcrição ou mesmo por degradação enzimática do mRNA alvo. Pode também
ocorrer por repressão da tradução.
O mecanismo de controlo da expressão génica através de miRNAs designa-se por interferência do RNA.

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Variabilidade genética. Mutações e Reparação do DNA

 Descrever as bases biológicas e moleculares da variabilidade genética


As bases genéticas da diversidade assentam fundamentalmente em três aspectos:
 Contributo de cromossomas:
O primeiro factor indutor de variabilidade é a junção aleatória de gâmetas, no qual se podem formar 2 23
combinações diferentes. Segue-se o crossing-over no paquíteno da meiose – sobreposição aleatória de
cromossomas homólogos, ocorrendo troca de informação genética entre os dois em locais não constantes. Por
fim, ocorre na anafase a distribuição ao acaso dos cromossomas homólogos pelos dois pólos da célula.
 Contributo do polialelismo:
À excepção dos cromossomas sexuais, para cada locus de um indivíduo há dois alelos em competição.
Podem encontrar-se em homozigotia ou em heterozigotia; uma medida da variabilidade genética numa
população é dada pela frequência de indivíduos heterozigóticos para um determinados locus.
 Contributo do polimorfismo de DNA:
Quando formas alternativas de um gene ou sequência intergénica têm uma frequência igual ou superior a
1% numa população, são consideradas normais e denominadas polimorfismos. As que ocorrem em regiões não-
codificantes estão na base de maior números de polimorfismos, já que não estão sujeitas a tão intensa pressão de
selecção. Sequências de DNA codificadoras em que ocorram mutações sinónimas ou missenses inofensivas
podem ser mantidas na população como polimorfismos.

 Descrever consequências da variabilidade genética


A variabilidade genética promove a variabilidade intraespecífica, o que oferece à espécie a vantagem de
uma maior probabilidade de sobreviver perante uma mudança no meio. Além disso, possibilita a evolução dos
organismos através de mutações favoráveis, resultando, por selecção natural, na evolução da espécie.

 Enumerar diferentes tipos de polimorfismo de DNA


 RFLPs – Restriction fragment lenght polymorphism
Qualquer delecção ou inserção muda o tamanho do fragmento de inserção dentro do qual ocorre. Assim,
RFLP são detectáveis após digestão de DNA por enzimas de restrição.
 VNTRs – Variable number of tandem repeats
São polimorfismos de comprimento que resultam da repetição sequencial de um mesmo conjunto de
bases. As sequências em repetição podem ser minissatélites (9-70pb) ou microssatélites (2-4pb – SNTr).

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 SNPs – Single nucleotide polymorphisms
Assentam portanto na mutação de um único nucleótido, são responsáveis pela variabilidade genética
individual humana – memória, criatividade, coordenação motora, etc.

 Identificar a técnica adequada à caracterização de cada tipo de polimorfismo.


A técnica de RFLPs é efectuada em vários passos:
PCR  Digestão Enzimática  Electroforese
Quanto aos VNTRs podem ser detectados por PCR com recurso a um primer marcado, detectando
produtos amplificados por electroforese.

 Descrever aplicações dos polimorfismos na clínica médica e na medicina forense


O estudo do conhecimento do genoma tem vindo a ser alcançado por múltiplas vias, como estudos de
associação, os estudos de ligação génica, a recombinação e a clonagem de DNA, a PCR e a sequenciação, para
além dos estudos citogenéticos clássicos e da citogenética molecular. Para os estudos de ligação génica, podem
ser usados as RFLPs, os VNTRs ou os SNPs.
Os polimorfismos são seleccionados de modo a que o padrão de bandas em estudo permita determinar o
trajecto dos cromossomas com origem em diferentes indivíduos de uma família. Pela presença do marcador (o
polimorfismo) pode predizer-se, de forma indirecta, a eventual ocorrência ou ausência da doença no futuro, pela
ligação daquele ao gene com a mutação patogénica.
Na medicina forense, os RFLPs são usados para a identificação de paternidades e de indivíduos, enquanto
na prática clínica, tal como os SNPs, permitem a detecção indirecta de mutações, como já referido.
Os VNTRs possibilitam a realização de fingerprinting de DNA de um indivíduo, sobretudo se se
identificarem vários VNTRs no mesmo organismo.

 Descrever vantagens e desvantagens dos diversos tipos de polimorfismos quando


aplicados à medicina forense.
Os VNTRs polimorfismos são mais rápidos e mais informativos que os RFLPs mas, caso as sequências em
repetição ocorram em sequências intergénicas, não podem ser usadas como polimorfismos.
Os RFLPs são os polimorfismos menos usados em medicina forense por serem poucos específicos, como
os SNPs, pouco informativos.

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 Descrever as indicações, vantagens e desvantagens da identificação de doentes e portadores por
estudos directos e indirectos
Nos estudos da natureza indirecta, destacam-se os de associação e os de ligação génica. Nos primeiros,
compara-se incidência de um polimorfismo marcador na população de indivíduos afectados com a incidência na
população de controlo, tendo em conta que o marcador não é o responsável pela doença. A taxa de mutação do
alelo estudado tem de ser baixa ou conhecida.
Vantagem dos estudos de associação:
 Não precisam de ligações de parentesco;
 Podem detectar efeitos genéticos;
 Podem estudar loci que codifiquem proteínas relacionadas com a doença.
Os estudos de ligação génica permitem identificar a presença de alelos que podem ser herdados em
conjunto com um polimorfismo de DNA que, pela proximidade entre ambos, funcione com marcador.
Vantagens dos estudos L.G.:
 É preferível ao estudo directo em caso de heterogeneidade alélica para mutações patogénicas.
Desvantagens dos estudos L.G.:
 Necessidade de haver um doente na família;
 Nem sempre são informativos;
 Resultados só válidos para uma família;
 Possibilidade de erro por recombinação;
 Possibilidade de erro por falsa paternidade.
Os estudos directos são mais seguros, mas para se efectuarem é preciso que se conheça integralmente o
gene causador da doença, o que nem sempre acontece, já que existem inúmeras possibilidades de novas
mutações.

 Descrever a diferença de conceito entre mutação patogénica e polimorfismo


Um polimorfismo é uma mutação que não conduz a patologias, por exemplo, ocorrendo em sequências
intergénicas, isto é, dando origem a uma mutação sinónima ou missense.
Consoante as doenças, existem diversos limiares de mutações que as distinguem entre polimorfismos e
patologias. Na doença de Huntington, o limiar é 36 repetições de CAG.

 Descrever e identificar os diversos tipos de mutações pontuais


As mutações podem ser muito extensas, implicando alterações do número de cromossomas, ou da
estrutura das mesmas, ou podem ser de menor dimensão (mutações genicas). Quando está envolvida só uma
base, designam-se mutações pontuais.

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 Transições – quando uma purina é substituída por outra purina, ou uma pirimidina por outra
pirimidina;
 Transversões – quando uma purina é substituída por uma pirimidina ou vice-versa;
 Sinónimas – substituição de uma base nucleotídica em posição que não altera a codificação para o AA
em questão, embora altere o codão. É o caso de muitas bases terceiras do codão, devido à
degenerescência do código genético;
 Missense – substituição de uma base de forma a que o codão codifique um AA diferente do original;
 Nonsense – conversão de um codão que codifique um AA num codão Stop;
 Frameshift – Formação de uma grelha de leitura diferente quando as delecções ou inserções dizem
respeito a um número de nucleótidos não múltiplos de 3  nova sequência de codões a partir do
local mutado;
 Dinâmicas – expansão do número de unidades repetitivas tipicamente constituídas por tripletos. Esta
expansão ocorre durante a meiose e durante as fases precoces do desenvolvimento fetal por
instabilidade mitótica pós-zigótica.

 Descrever consequências de mutações na expressão génica.


A gravidade das consequências de mutações depende das alterações que provocam a nível da capacidade
funcional das proteínas que codificam e do impacto dessa função no organismo.
No que respeita aos efeitos das mutações, estas podem ser aleatórias, neutras ou benéficas. Nas
primeiras, esses efeitos relacionam-se com a penetrância (completa / incompleta / precoce) e com a
expressividade. Ao criarem desvantagens biológicas para a espécie, são naturalmente eliminados. Em mutações
neutras, o portador não é afectado e nas mutações benéficas, há vantagens evolutivas para o portador.
As mutações neutras e benéficas incluem-se entre os mecanismos responsáveis pela diversidade humana.
Uma mutação pode ocorrer “de novo” numa família. Se esta originar uma patologia que não afecte a
capacidade reprodutiva, instala-se na família em causa. Caso seja uma mutação somática, afecta apenas o
indivíduo em causa, originando uma eventual condição esporádica de doença.

 Explicar os mecanismos pelos quais uma mutação se associa a fenótipos dominantes


ou recessivos.
Nas mutações dominantes, há expressão fenotípica em heterozigotia. A natureza dominante pode ser
devida a um ganho de função, à aquisição de nova função ou à produção de uma proteína mutada com efeito
tóxico.
Nas mutações recessivas, apenas ocorre expressão fenotípica em homozigotia para a mutação. À natureza
recessiva associa-se a perda de função motivada por uma mutação que conduza à inactivação física ou funcional

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do gene. Quando ambos os alelos são mutados, há ausência completa da proteína a codificar, instalando-se as
respectivas condições patológicas.

 Descrever causas endógenas e exógenas na origem de mutações.


A probabilidade de ocorrência de uma mutação num gene depende de factores intrínsecos (mutações
espontâneas) e de factores extrínsecos, mutagéneos (mutações induzidas) sendo estas muito mais frequentes.
Factores Intrínsecos:
 Extensão do gene;
 Número e extensão de intrões – Maior probabilidade de erro no splicing;
 Tipo de bases presentes: em posições mais ocupadas por bases púricas, há maior probabilidade de se
sofrer depurinação de DNA; em regiões mais ocupadas por citosinas, há maior probabilidade de
ocorrerem mutações por desaminação;
 Presença de sequências repetitivas nomeadamente tripletos, maior probabilidade de se registarem
mutações dinâmicas;
 Agressão oxidativa do DNA por radicais livres.
Factores Extrínsecos:
 Acção de agentes químicos;
 Incorporação no DNA de análogos de bases azotadas;
 Efeito da proflavina e de corantes de acridina, moléculas que se intercalam na cadeia nucleotídica,
podendo provocar mutações frameshift;
 Carcinogéneos a provocar metilação ou modificações covalente no DNA;
 Benzeno, formaldeído, nitrito de sódio, cloreto de vinilo ou aflatoxina B1;
 Radiações ionizantes associadas a trocas de bases ou a quebra da cadeia dupla de DNA;
 Radiações não-ionizantes a provocar ligações covalentes entre bases pirimídicas adjacentes.

 Enumerar os diferentes mecanismos envolvidos na reparação de mutações.


Na manutenção da integridade do genoma, participa a capacidade discriminativa de DNA polimerase em
relação ao emparelhamento correcto ou incorrecto das bases na replicação da cadeia complementar.
Envolvidos directamente na reparação de mutações estão os seguintes mecanismos:
 Reparação directa capaz de remover dímeros de pirimidina;
 Reparação por excisão de bases;
 Reparação por excisão de nucleótidos;
 Reparação por erros de emparelhamento que ocorrem durante a replicação de DNA por incorporação
de um nucleótido errado ou por inserção/delecção de sequências resultante de um desvio de cadeias
durante a síntese de sequências repetitivas ou por erros em recombinação.

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A detecção e reparação requerem a intervenção de proteínas MMR, mismatch repair. Actuam na mesma
sequência que o sistema anterior:
1. Reconhecimento do erro de emparelhamento;
2. Recrutamento de factores adicionais ao sistema MMR;
3. Identificação da cadeia anómala recém-sintetizada e excisão da sequência de DNA com 1-2 Kb
onde se inclui o erro;
4. Ressíntese da porção excisada.

 Dar exemplos de patologias associadas à falência dos mecanismos de reparação.


Anemia de Fanconi – Deficiência no processo de excisão
 Hereditariedade autossómica recessiva;
 Pancitopenia progressiva, pigmentação cutânea, malformações congénitas, baixa estatura, risco
aumentado para leucemia não linfocítica aguda, carcinomas hepatocelulares e de células escamosas.
Ataxia Telangiectasia – Paragem do ciclo celular
 Hereditariedade autossómica recessiva;
 Ataxia cerebelosa na infância, telangiectasia, aumento da sensibilidade aos raio-X, aumento de risco
para leucemias e linfomas antes dos 16 anos e carcinomas em idade posterior.
Síndrome de Bloom – Deficiência na ligase de DNA
 Hereditariedade autossómica recessiva;
 Baixo peso ao nascer, baixa estatura, rash da face, aumento das SCE, aumento de risco para
leucemias e linfomas antes dos 25 anos e carcinomas posteriormente.
Xeroderma Pigmentosum – deficiência no processo de excisão
 Hereditariedade autossómica recessiva;
 Elevada sensibilidade aos UV, cancros múltiplos da pele, escaras da córnea.
Síndrome de HNPCC – deficiência no Sistema MMR (mismatch)
 Hereditariedade autossómica dominante;
 Risco aumentado para carcinoma colorrectal do endométrio, do estômago, das vias biliares, das vias
urinárias e dos ovários.

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Hereditariedade Mendeliana

 Identificar os três grandes grupos de doenças genéticas e as suas frequências


relativas.
A determinação de um carácter ou doença pode ser
 Monogénica – quando é devida a um único gene (1,4%);
 Poligénica – quando se deve a diversos genes (0,6%);
 Mutifactorial – resulta da interacção entre as proteínas codificadas por diversos genes e factores
ambientais (5,6%)

 Descrever as características das doenças de hereditariedade mendeliana


autossómica dominante e recessiva.
Hereditariedade autossómica dominante
O fenótipo determinado pelo genótipo heterozigótico é igual ao fenótipo determinado pelo genótipo
homozigótico para a forma recrutada do alelo. Na dominância incompleta, um genótipo heterozigótico origina um
fenótipo intermédio entre a homozigotia para o alelo normal e a homozigotia para o alelo mutado.
Há a considerar os critérios seguintes:
 Ambos os sexos são afectados;
 Ambos os sexos transmitem a doença em iguais proporções;
 Deve observar-se pelo menos uma vez a transmissão entre indivíduos do sexo masculino;
 A doença ou caracter manifesta-se em heterozigotia;
 Transmite-se de modo vertical, encontrando-se em gerações sucessivas da família;
 Um individuo doente tem sempre um progenitor doente ou com o caracter, a não ser que se tenha
verificado uma mutação “de novo”;
 Os filhos normais de um indivíduo com caracter ou doença terão sempre filhos normais se procriarem
com um indivíduo saudável.

Hereditariedade autossómica recessiva


A natureza recessiva de uma mutação traduz-se por perda de função do alelo mutado, este não se
exprime. Em heterozigotia, conserva-se 50% da expressão pelo alelo normal, suficiente para assegurar a função
do gene.
Caracteriza-se pelos seguintes critérios:
 Ambos os sexos são afectados e transmitem doença em igual proporção;

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 A hereditariedade é horizontal: os casos aparecem geralmente todos na mesma geração, habitualmente
numa única fratria;
 A taxa de consanguinidade dos progenitores de um indivíduo afectado é habitualmente mais elevada que
na população geral.

 Identificar situações como expressividade variável, penetrância incompleta,


expressão tardia, pleiotropismo, heterogeneidade genética, neomutação e
mosaicismo gonadal e consequências no aconselhamento genético.
Existem diversas variáveis que dificultam a identificação da natureza mendeliana de um carácter ou
doença:
Mutações “de novo”
A doença ou o caracter não está presente no progenitor e estabelece-se nas gerações seguintes se não
tornar inviável a reprodução. Constitui o principal factor de risco quando a idade do progenitor é avançada.
Quando a mutação ocorre na gametogénese, é provável que apenas um dos descendentes exprima o
fenótipo correspondente, sendo negligenciado o risco de ocorrência em gestações futuras. Por outro lado,
quando a mutação ocorre numa fase precoce da embriogénese das células germinais, pode formar-se um
mosaicismo gonadal.
Aconselhamento genético  é essencial distinguir entre uma condição herdada e uma condição originada
por mutação “de novo”, tal como o tipo de hereditariedade associada à patologia presente, para calcular
eficazmente o risco de recorrência.
Mosaicismo gonadal
Diz respeito à presença num indivíduo de células com diferente constituição genética oriundas do mesmo
ovo. Há múltiplas espermatogónias ou ovócitos com a mutação e outras não-mutadas. Assim, o gene pode ser
transmitido à descendência. Quanto ao portador, uma vez que a mutação não está presente em todas as células
somáticas, não a expressa.
Heterogeneidade Génica
Nestes casos observam-se fenótipos clinicamente idênticos provocados pela expressão de genes diversos:
as mutações localizam-se em diferentes loci, mas a expressão clínica não é diferenciável.
Tomando como exemplo o casamento entre surdos-mudos autossómicos recessivos, apenas 5% a 14%
dos filhos virão a ter surdez congénita. O nascimento de filhos saudáveis demonstra que há vários genes
responsáveis pela surdez quando em homozigotia para uma mutação recessiva. Partindo de dois loci
homozigóticos recessivos, os descendentes serão heterozigóticos para os loci e, então, com audição normal.
A heterogeneidade pode também ocorrer para um mesmo locus sob a forma de heterogeneidade alélica,
tornando possível a ocorrência de heterozigotos compostos.

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Aconselhamento genético  o reconhecimento da heterogeneidade e a identificação do tipo de
hereditariedade são essenciais, mas o diagnóstico laboral é habitualmente demorado e dispendioso.
Pleiotropismo
A mutação de um único gene pode ter reflexos na expressão de diversos fenótipos caso a proteína que ele
codifique, actue em diversos órgãos do corpo humano.
Aconselhamento Genético  o reconhecimento do pleiotropismo no progenitor pode permitir que a
partir de uma única manifestação, ainda que menor, pertencente ao espectro de efeitos conhecidos da mutação,
seja possível reconhecimento do portador dessa mutação ou se suspeite de anomalias internas graves que exijam
intervenção médica.
Penetrância Incompleta
A penetrância de um alelo é dada pela proporção de indivíduos com manifestações de doença ou caracter
num determinado universo de indivíduos portadores da doença. A penetrância é completa quando o alelo se
exprime em 100% dos portadores e o alelo é não-penetrante quando não se expressa em heterozigotia.
A penetrância pode ser precoce ou tardia, consoante a idade média com que os indivíduos exprimam o
alelo em causa. É a penetrância tardia que reduz a selecção natural, aumentando a frequência da doença na
população.
A penetrância pode ser influenciada pela presença de outros genes ou por factores ambientais, variando
portanto com as famílias.
Expressividade Variável
Refere-se à intensidade com que o gene é expresso, daí que não é possível estabelecer uma
correspondência directa entre o genótipo e o fenótipo. A expressividade é variável ao ponto de não ser possível
detectar clinicamente no progenitor a mutação por as manifestações serem ligeiras. O alelo é transmitido a um
descendente e neste há uma expressão grave da mutação.
Fenocópias
Um fenótipo que mimetiza a expressão de um genótipo pode ser produzido por acção de factores
ambientais, independentemente de uma alteração génica específica. Se este mecanismo ocorrer em mais do que
um membro de uma família, pode imitar uma condição hereditária.
Aconselhamento genético  é claramente essencial reconhecer uma fenocópia associada à doença e
identificar os factores ambientais de risco para os quais os indivíduos desenvolverem a doença.
Teratogéneos
Substância ou agente externo ao genoma do embrião ou feto que provoca um defeito no seu organismo
durante o desenvolvimento intra-uterino. Os teratogéneos originam um padrão específico de defeitos cuja
intensidade varia consoante o momento do desenvolvimento em que ocorreu a exposição e a quantidade da
substância exposta.

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Os teratogéneos podem ser de natureza infecciosa, física, química, medicamentosa ou de natureza
metabólica materna.

 Identificar o tipo de hereditariedade de patologias mais frequentes


Autossómica Dominante – página 111
Autossómica Recessiva – página 115

 Descrever as características de doenças de hereditariedade mendeliana recessiva e


dominante ligada ao X.
Hereditariedade recessiva ligada ao cromossoma X
Como é raro haver homozigotia para os loci do cromossoma X, as doenças hereditárias recessivas ligadas
ao X exprimem-se, habitualmente, apenas nos indivíduos do sexo masculino, à excepção as anomalias associadas
a regiões pseudo-autossómicas.
Nestas doenças, podem definir-se três fenótipos para as mulheres:
 O correspondente à presença de dois alelos normais;
 O associado à heterozigotia;
 O associado a dois alelos mutados.
Nos homens, por outro lado, existem apenas dois fenótipos:
 O associado à hemizigotia para o alelo normal;
 O associado ao alelo mutado.
As características das doenças deste tipo permitem definir a hereditariedade como oblíqua:
 Os homens são quase sempre os únicos afectados;
 A transmissão do alelo mutado aos filhos de um casal verifica-se por mulheres portadoras não-
afectadas;
 A transmissão da mutação entre indivíduos do sexo masculino não se observa em gerações
sucessivas, mas o alelo pode ser transmitido a um neto passando por uma filha portadora obrigatória.

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Hereditariedade dominante ligada ao cromossoma X
Manifesta-se em mulheres heterozigóticas e homozigóticas e em homens hemizigóticos. A presença de
um único alelo mutado no sexo feminino está associada a menor severidade do que no sexo masculino, devido à
lionização, apenas metade das células exprimem o alelo mutado.
Apresenta algumas características:
 Um homem doente transmite a doença a todas as filhas, enquanto os filhos são normais;
 Uma mulher heterozigótica para a mutação, que procrie com um homem normal, transmite a doença a
50% da descendência;
 Uma mulher homozigótica transmite a doença a todas os descendentes;
 Nas famílias há um maior número de mulheres afectadas comparativamente ao número de homens.

 Descrever as características das doenças de hereditariedade mendeliana ligada ao


cromossoma Y.
Também conhecida por hereditariedade holândrica:
 Só os homens portadores da mutação no cromossoma Y exprimem e transmitem o gene, que se
manifesta sempre;
 Todos os filhos do sexo masculino de um homem afectado recebem o alelo mutado;
 Em condições normais, de disfunção cromossómica e na ausência de recombinação anormal, nenhuma
filha é portadora.

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 Explicar as situações em que uma mulher pode ter manifestações de doenças
recessivas ligadas ao X
A ocorrência de mulheres doentes pode registar-se
 Quando se verifica lionização assimétrica que conduza a um número de células superior a 50% que
tenham o cromossoma normal inactivado;
 Em descendentes homozigóticos para a mutação;
 Em casos de monossomia parcial ou completa do cromossoma X em que o herdado seja o alelo
mutado.
Caso a mulher não seja homozigótica para a mutação, pode ainda manifestar uma doença recessiva ligada
ao X. Enquanto que em doenças autossómicas recessivas todas as células produzem 50% de proteína normal,
nestes casos, como a lionização inactiva aleatoriamente um dos cromossomas da célula, encontram-se 50% de
células a produzir a proteína normal e outros 50% a não o fazer, estando assim as mulheres em igual condição a
um homem hemizigótico para a mutação.

 Explicar as consequências para o aconselhamento genético das situações anteriores.


Face a um caso de doença recessiva ligada ao X, é necessário esclarecer se a mãe é portadora ou se se
está perante uma mutação “de novo”.
A condição de portadora obrigatória pode ser afirmada quando estudos moleculares revelam uma
mutação patogénica no gene em questão ou por uma história familiar convincente (2 filhos ou 1 filho e 1 irmão
doentes).
Nesse caso, o risco de recorrência numa nova gravidez é de 50% para os descendentes do sexo masculino.

17
 Identificar o tipo de hereditariedade das patologias mais frequentes.

Exemplo de condições da natureza hereditária:


 Recessiva ligada ao X (página 119)
 Dominante ligada ao X (página 123)

18
Hereditariedade não mendeliana

Hereditariedade mitocondrial e imprinting


 Enunciar as situações de hereditariedade não-mendeliana.
As condições de natureza hereditária podem ser consideradas como mendelianas ou não-mendelianas.
Dentro das condições não-mendelianas, incluem-se a hereditariedade poligénica, a hereditariedade
multifactorial, a hereditariedades mitocondrial, o “imprinting” genómico, o digenismo, a dissomia uniparental e
as mutações dinâmicas.

 Descrever as características de hereditariedade mitocondrial.


 A doença é transmitida sempre por via materna (as mitocôndrias de origem paterna são eliminadas
após a penetração do espermatozóide no ovócito);
 A descendência de uma mulher doente é doente;
 A descendência de um homem doente é saudável;
 Pode observar-se heterogeneidade dos indivíduos afectados devido à heteroplasmia;
 Os órgãos são afectados de forma diversa em função do tecido preponderante.

 Distinguir entre doença mitocondrial e doença de hereditariedade mitocondrial.


A hereditariedade mitocondrial apresenta a informação genética transmitida pelo DNA mitocondrial.
Associados à presença deste numa célula, podem encontrar-se duas condições: homoplasmia e heteroplasmia. A
homoplasmia traduz a presença de DNA numa célula, seja normal ou mutado. A heteroplasmia designa a
condição em que podem coexistir DNA mitocondrial normal e mutado na mesma célula.
Doenças mitocondriais estão relacionadas com a integridade das mitocôndrias.

 Explicar os mecanismos moleculares subjacentes às particularidades das doenças de


hereditariedade mitocondrial.
As mutações de DNA mitocondrial desempenham um papel significativo no desenvolvimento de doenças
crónicas degenerativas, particularmente em órgãos que requerem elevados níveis de energia como o cérebro, os
músculos estriados esquelético e cardíaco, entre outros. As manifestações clínicas resultam de uma redução
acentuada da produção de energia mitocondrial como consequência de um aumento de moléculas de DNA
mitocondrial mutado.

19
 Descrever genericamente as principais características de doenças de hereditariedade
mitocondrial.
 Encefalomiopatia mitocondrial familiar – doença que cursa com epilepsia mioclónica, miopatia,
surdez, demência, ataxia, hipoventilação e cardiomiopatia;
 Neuropatia óptica hereditária de Leber – deve-se a alterações de proteínas envolvidas na cadeia de
transporte de electrões. O primeiro sintoma a aparecer é a perda de visão central em ambos os olhos
simultaneamente, seguido de escotoma central. Desenvolve-se habitualmente entre os 20 e os 30
anos e as proporções de indivíduos de sexo masculino relativamente aos do feminino afectados é de 4
para 1.

 Descrever as dificuldades de aconselhamento genético de doenças de


hereditariedade mitocondrial.
Nos casos em que há heteroplasmia de uma mulher afectada, não possível prever o que acontece na
descendência, já que se podem herdar apenas mitocôndrias com DNA normal, mutado ou uma mistura de ambos
em proporções variáveis. A expressividade pode então variar entre irmãos devido a mutações de diversa
severidade, em diferentes genes. Por outro lado, a severidade pode ainda variar consoante o número de
mitocôndrias com DNA mutado em cada órgão, com a percentagem de células mitocondriais mutadas e com o
reflexo das deficiências provocadas nesses órgãos para o fenótipo doente.

 Definir imprinting.
O imprinting consiste numa modificação epigenética da expressão genica que inibe a expressão de um
alelo em gerações sucessivas, em função do sexo do progenitor que o transmite. Cria haploidia funcional
localizada a um locus.
Designa-se por imprinting materno o processo em que a inactivação de um alelo resulta da sua passagem
por um progenitor do sexo feminino e por imprinting paterno se a inactivação ocorreu no progenitor masculino.

 Descrever os mecanismos moleculares associados ao imprinting.


A inibição da expressão genica ocorre a nível da transcrição por metilação das bandas de citosina em
regiões reguladoras do gene. A metilação ocorre durante a gametogénese e mantém-se estável durante as
divisões mitóticas, atingindo apenas algumas regiões cromossómicas específicas
A expressão fenotípica não é mendeliana. O fenótipo pode ser afectado em termos de expressividade,
idade de início ou natureza d sintomas. Por acontecer que o imprinting se verifique em apenas alguns órgãos do
organismo, ou que a sua expressão seja mono-alélica em alguns tecidos e bi-alélicas noutros. Pode também
revelar-se somente em algumas fases do desenvolvimento.

20
Heredograma característico de hereditariedade sujeita a imprinting paterno

 Descrever situações médicas associadas ao imprinting.


 Síndromes de Angelman, de Pradder-Willi e de Beckwith-Wideman;
 Distrofia miotónica;
 Coreia de Huntington;
 Diabetes juvenil;
 Retinoblastoma;
 Tumor de Wilms;
 Leucemia mielóide crónica.
O imprinting genómico pode estar subjacente ao aumento de determinação dos cancros na criança, como
os referidos. A inactivação de um dos alelos de um locus antioncogénico seria herdado por imprinting, a
inactivação ou perda do alelo funcional restante ocorreria posteriormente, conduzindo a homozigotia recessiva
do ponto de vista funcional.

 Explicar a associação entre dissomia uniparental e patologia.


A dissomia uniparental pode ocorrer por heterodissomia ou por isodissomia. Na heterodissomia, o
complemento cromossómico diplóide é constituído por um par de cromossomas homólogos que provém do
mesmo progenitor. Deve-se à não-disjunção dos cromossomas na primeira divisão da meiose. Na isossomia, o par
de cromossomas tem também origem num único progenitor, mas resulta da duplicação de um dos homólogos,
devendo-se à não-disjunção na segunda divisão da meiose.

21
Caso ocorra heterodissomia ou isodissomia uniparental em genes sujeitos a imprinting, podem
desenvolver-se doenças por falta de expressão do gene inactivado ou por haver expressão de dois alelos idênticos
porque não ocorreu imprinting.

Hereditariedade poligénica e multifactorial


 Definir hereditariedade poligénica e multifactorial
Hereditariedade poligénica
Quando o fenótipo resulta do efeito parcial e aditivo de múltiplos genes de forma independente de meio
ambiente, em que cada um tem um efeito minor e não interagem entre si. Nestes casos, não há dominância nem
recessividade. Ex.: Cor do olhos, como um carácter que resulta exclusivamente da quantidade de melanina
produzida pela íris.
Hereditariedade multifactorial
Quando resulta de efeito aditivo de vários genes e da interacção entre o produto génico e o meio
ambiente. A conjugação diferenciada dos factores ambientais e genéticos associados à condição ambiental
determina a maior ou menor susceptibilidade de cada indivíduo desenvolver a doença/carácter em causa –
liability. Geram-se frequências fenotípicas passíveis de se distribuírem numa cura normal, delimitando-se uma
linha a partir da qual os indivíduos têm uma expressão do carácter considerada anormal ou há manifestação da
doença: prevalência. Se estiver presente uma condição hereditária, a curva desloca-se para a direita, aumentado
a percentagem de indivíduos à direita desse limiar.

 Enumerar os diferentes tipos de doenças de hereditariedade multifactorial.


 Alcoolismo;
 Obesidade;
 Doença coronária cardíaca;
 Atraso mental;
 Alzheimer;
 Diabetes Mellitus;
 Cancro;
 Doenças psiquiátricas;
 Hipertensão arterial.

22
 Descrever como se quantifica a contribuição genética para os traços multifactoriais.
É possível definir um grau de concordância para um determinado traço ou doença pela proporção de
pares de gémeos em que há coincidência na expressão fenotípica em relação ao total de gémeos.
A partir da concordância, é possível determinar a hereditabilidade do traço ou doença devido à
componente genética numa condição multifactorial. O valor de hereditabilidade é o dobro da diferença entre os
valores encontrados para os gémeos verdadeiros e para os falsos.

 Identificar os factores que interferem na avaliação de risco de recorrência das doenças de


hereditariedade multifactorial.
O aumento do risco de recorrência de uma condição multifactorial depende de:
 Severidade da doença;
 Precocidade no aparecimento da doença;
 Incremento o grau de parentesco em relação ao indivíduo afectado;
 Sexo do familiar afectado quando a incidência é diferente em cada sexo. Há um risco maior quando o
indivíduo afectado é do sexo em que a doença é mais rara;
 Prevalência da doença na população;
 Hereditabilidade.

23
Consanguinidade e genética e populações

 Explicar a importância da consanguinidade no aconselhamento genético.


Em casos consanguíneos, a probabilidade de um filho herdar as duas cópias de um mesmo gene que
tenha sofrido uma mutação é maior que na população em geral, podendo as consequências ser dramáticas – o
risco de alterações graves que incluem atraso mental e epilepsia é cerca de quarenta vezes maior que o da
população em geral. Habitualmente, estão em causa algumas formas também de surdez, cegueira, fibrose
quística, doenças metabólicas, drepanocitose ou talassémia.

 Explicar noções de coeficientes de consanguinidade e de endocruzamento e


proceder aos cálculos.
Coeficiente de consanguinidade
Define a probabilidade de duas pessoas num mesmo locus terem herdado o mesmo gene de um ancestral
comum. Para o calcular, contam-se as linhas que unem cada indivíduo a um ancestral comum:

I
1 2

II
1 2 3 4

III
1
2

Coeficiente do Endocruzamento
Define a proporção de loci para os quais o indivíduo é homozigoto por descendência; probabilidade de os
dois alelos de um locus serem idênticos num descendente de um acasalamento consanguíneo:

24
 Identificar as populações em que a consanguinidade constitui um risco para doenças
específicas.

População Patologia
Deficiência em G6PD
Bacia do Mediterrâneo (italianos, gregos) Talassémia β
Febre mediterrânea familiar
Brancos sul-africanos Homozigotia para hipercolesterolémia familiar
Deficiência em G6PD
Chineses Deficiência em lactose do adulto
Talassémia α
Escandinavos Deficiência em α1-antitripsina

Europeus (Norte da Europa) Fibrose quística

Japoneses Acatalasémia
Drepanocitose
Negros (África)
Deficiência em G6PD

 Explicar as consequências da lei de Hardy-Weinberg.


A frequência de dois alelos tende a manter-se constante ao longo das gerações. Se dois alelos A e a
tiverem respectivamente a frequência de p e q e forem os dois alelos para o locus em causa (p + q = 1), após uma
geração de acasalamento ao acaso, os três genótipos AA, Aa e aa, encontram-se em equilíbrio nas proporções
relativas. O equilíbrio de Hardy-Weinberg é .

Para um locus ligado ao cromossoma X, o equilíbrio sé é atingido ao fim de várias gerações. Para dois loci,
o número de gerações necessárias é ainda maior, dependendo da fracção de recombinação.

 Explicar as diferenças entre frequências alélicas e genotípicas.


Frequência alélica
É a razão encontrada entre o número total de cópias de um determinado alelo e o número total de alelos
na população considerada.
Quando o número de loci for maior que um, o número de genótipos será , sendo o número possível
de genótipos para cada locus, conforme o número de alelos, e o número de loci implicados.

25
Tomando como exemplo uma população de 40 indivíduos em que:
 105 têm homozigotia para o alelo A;
 200 têm homozigotia para o alelo a;
 95 têm heterozigotia Aa.
Para determinar a frequência alélica.
Alelo A:
Alelo a:
Sendo a soma dos alelos igual a 800, temos que:

Para calcular a frequência genotípica, segue-se o equilíbrio de Hardy-Weinberg, em que ao genótipo AA


corresponde e . O cálculo do número de indivíduos com cada genótipo obtém-se multiplicando o

número total e indivíduos estudados pela frequência determinada para cada genótipo.

 Descrever as situações que interferem com a lei de Hardy-Weinberg:

 Migração: a entrada de uma determinada percentagem de genes numa população altera a


frequência genica verificada antes da migração;
 Mutação: aparecimento de um gene novo numa população constitui fonte de variabilidade genética;
 Selecção: selecção de um alelo em detrimento de outro cuja ocorrência diminui a sua capacidade de
procria. Traduz-se na possibilidade de um gene mutado passar à geração seguinte, em comparação
com o normal;
 Equilíbrio entre selecção e mutação: a frequência de um alelo mutado é o resultado do equilíbrio
estabelecido entre a eliminação por selecção natural e a sua ocorrência de novo;
 Deriva genética: fixação dos alelos que ocorrem numa população pequena. Teoricamente, muitos
dos alelos possíveis numa grande população, nunca chegam a ocorrer em isolados populacionais;
 Acasalamento por escolha: quando os casamentos são organizados por fenótipos, tendendo a ter o
genótipo também semelhante. Aumenta a proporção de homozigotos na população;
 Endogamia: acasalamento entre consanguíneos.

 Explicar o conceito de “vantagem heterozigota”


Indivíduos heterozigotos apresentam maior variabilidade genética, podendo os seus descendentes
sobreviver mais facilmente face a uma alteração do meio. Além disso, não estão sujeitos à manifestação de
doenças de hereditariedade autossómica recessiva.

26
Farmacogenética. Ecogenética e erros inatos do metabolismo

 Descrever o conteúdo das áreas de farmacogenética, Ecogenética e erros inatos do


metabolismo.
Independentemente do traço comum das condições tradicionalmente estudadas sob a designação de
metabolopatias, foi feito um enquadramento diverso para melhorar a intervenção preventiva e/ou terapêutica,
valorizando-se o processo que conduz à reacção adversa:
 Farmacogenética: casos em que a reacção adversa resulta da exposição a factores ambientais sem
fins farmacológicos, como a dieta;
 Erros inatos do metabolismo: podiam ter sido integrados na ecogenética, mas foi mantida uma
abordagem autónoma por serem demonstrativos da forma como se desenvolvem as doenças do
metabolismo.

 Descrever exemplos de adaptações ao meio dependentes de polimorfismos.


A Ecogenética estuda a variabilidade das respostas individuais geneticamente determinadas a agentes
ambientais. As diferenças interindividuais devem-se aos polimorfismos genéticos e a alelos mutantes raros. Esta
variabilidade é tradutora da adaptação ao meio e conflui na combinação dos alelos que se estabelecem no fundo
genético da população. É o caso do favismo ou da deficiência em G6PD.

 Descrever exemplos de factores do meio que modifiquem a expressão de mutações


patogénicas.
Os factores ambientais são agentes primordiais na selecção dos indivíduos, em parte devido às condições
de natureza multifactorial. Nestes factores incluem-se os produtos alimentares, os produtos ambientais, os
tóxicos produzidos por fungos e variados agentes físicos, químicos e infecciosos.
Na interacção por indivíduo/meio, interagem factores que;
 Promovam o desenrolar de uma série de etapas que medeiam entre o início da reacção e a
manifestação da doença;
 Aumentem a concentração de substância activa no local activo;
 Aumentem a reacção das moléculas alvo no organismo com substâncias químicas que origine uma
resposta nefasta.

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 Explicar como a variação genética interfere na resposta a fármacos.
Quando os polimorfismos estão presentes em loci que codificam enzimas envolvidas na actividade de
agentes terapêuticos e a actividade enzimática é diversa em função do polimorfismo presente, podem registar-se
variações significativas da actividade fisiológica do produto usado, determinadas geneticamente.
Da interacção dos fármacos com as enzimas envolvidas no seu metabolismo podem ocorrer efeitos
adversos, como uma reduzida acção do fármaco com ausência do efeito terapêutico esperado, uma resposta
fisiológica exagerada, efeitos colaterais ou o desencadeamento de efeitos característicos de doenças
geneticamente determinadas.

 Enumerar situações em que os fármacos possam interferir com mutações


patogénicas.
Quando as mutações se manifestam apenas no caso de os seus portadores contactarem com
determinadas substâncias, designam-se mutações condicionadas.
É o caso da deficiência de G6PD, em que há produtos medicamentosos que provocam reacções adversas,
como sulfonas, sulfonamidas, análogos da vitamina K, etc. …

 Explicar o papel da genética na terapia personalizada.


O avanço do conhecimento no âmbito da farmacogenética permite antever a possibilidade de a
prescrição de medicamentos vir a ser feita de medo personalizado, recorrendo-se à genotipagem por SNP’s. Pode
igualmente contribuir para o desenho e desenvolvimento de novas moléculas com finalidade terapêutica.

 Descrever os mecanismos patogénicos dos erros inatos do metabolismo.


As metabolopatias consistem num extenso grupo de perturbações hereditárias causadas por mutações
em genes que codifiquem enzimas envolvidas em vias metabólicas. As alterações genicas podem traduzir-se.
- Na ausência de proteína ou na produção de pequenas quantidades, quer seja por um codão STOP na
região proximal do gene, por alterações do splicing ou instabilidade do mRNA;
- Na produção de uma enzima anormal com pouca ou nenhuma actividade em relação ao substrato.

 Descrever as diferentes formas de apresentação dos erros inatos de metabolismo.


Os mecanismos patogénicos anteriores podem originar bloqueios metabólicos e alterações patológicas
por:
- Acumulação do precursor não metabolizado a montante, podendo exercer efeitos tóxicos por
acumulação de grandes quantidades ou acumular-se no interior de organelos;
- Produção de moléculas tóxicas por activação de vias metabólicas alternativas;

28
- Deficiência de moléculas resultantes do metabolismo que funcionem como substrato em reacções
subsequentes;
- Perturbação de mecanismos de regulação do metabolismo por feedback.

 Descrever a etiologia da fenilcetonúria, o seu método de rastreio e a terapêutica.


O bloqueio na posição 1 dá origem à fenilcetonúria, por ausência da fenilalanina hidroxilase, enzima 1. A
activação da via alternativa origina ácido fenilpirúvico e, subsequentemente, os ácidos fenilacetético e fenil-
láctico.
A forma mais comum de detectar as FCU decorre da realização de rastreios aos recém-nascidos. A partir
de uma gota de sangue recolhida no quarto dia de vida, em papel mata-borrão, é feito o teste de inibição do
crescimento bacteriano de Guthrie, sendo enviada pelos seus pais para o Instituto de Genética Médica Jacinto
Magalhães.
Deve ser imediatamente iniciada uma dieta pobre em fenilalanina para prevenir o desenvolvimento de
atraso mental. Os valores devem ser mantidos entre 2 mg/dL e 6mg/dL durante toda a vida. A dieta deve ser
estendida aos edulcorantes artificiais, como o espartamo, também metabolizados para fenilalanina.

29
Anomalias congénitas

 Definir anomalia congénita.


Anomalia congénita é uma alteração estrutural ou funcional decorrente de perturbações no
desenvolvimento físico presentes ou já determinadas in utero ou no momento do nascimento, que não seja
originada por traumatismo durante o parto.
As anomalias congénitas dividem-se em anomalias congénitas major (3% dos recém-nascidos) e as
anomalias congénitas minor ( 15% dos recém-nascidos). As primeiras são defeitos estruturais com relevância
médica ou estética, enquanto que as outras são desprovidas dessa relevância. Em 20% dos casos com anomalias
congénitas minor múltiplas, observam-se, concomitantemente, anomalias congénitas major.

 Descrever os vários tipos de anomalias congénitas.


Em função do mecanismo de origem, as anomalias congénitas classificam-se em malformações,
associações, sequências, disrupções, deformações ou em diplasias.
Malformações
Defeito morfológico ou estrutural de um órgão, parte de um órgão ou de uma região do organismo que
resulta de um erro primário e precoce do desenvolvimento embrionário. Quanto mais precocemente ocorrer esse
erro, mas graves e complexas são as consequências. De facto, se ocorrer antes do 23º dia de gestação, raramente
os fetos chegam ao parto.
Os órgãos mais frequentemente atingidos por malformações major são o cérebro, o coração, os rins e as
vias urinárias e os membros.
Quando um determinado grupo de anomalias primárias ocorrem num indivíduo e estabelecem um
padrão que se repete noutros indivíduos, e estando relacionadas patogenicamente, a condição designa-se como
uma síndrome.
Associações
Grupo de malformações que se verifica concomitantemente no mesmo indivíduo e que se repete noutros.
Difere de síndrome por não se encontrar uma relação causa-efeito entre as anomalias. Habitualmente, não é de
natureza genética, pelo que o risco de recorrência é baixo.
Uma associação é frequentemente designada pelo acrónimo constituído pelas primeiras letras das
palavras das palavras que traduzem as anomalias consideradas.
Sequências
Condições em que duas ou mais anomalias congénitas se estabelecem uma após outra, secundariamente
a uma anomalia inicial única. Esta pode ser uma malformação, uma disrupção ou uma deformação.

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Disrupções
Defeito morfológico de um órgão ou de uma região do organismo que resultou das paragem ou
interferência de um processo de desenvolvimento originalmente normal. Os factores extrínsecos podem ser
isquémia, infecção, radiação, agressão teratogénica ou traumatismo. Afecta 1 a 2% dos recém-nascidos.
Deformações
Alterações da forma ou da posição de partes do organismo causadas por forças mecânicas exercidas no
organismo por um longo período de tempo. Tais forças podem ser intrínsecas (defeitos do tecido conjuntivo, pé
boto por miopatia, etc. …) ou extrínsecos (gravidezes múltiplas, etc. …).
As deformações surgem numa fase tardia do desenvolvimento uterino do feto, sendo a causa mais
comum a falta de movimento. Afecta 2% dos recém-nascidos.
Diplasias
Defeito primário que envolve uma má organização das células num tecido ou de um tecido numa
estrutura. São atingidas as diversas partes do corpo em que esses tecidos estejam envolvidos.

 Explicar a etiologia das anomalias congénitas.


Causa multifactorial: implica factores genéticos e factores ambientais. Risco de recorrência varia entre 2
e 5%.
Causa monogénica: risco de recorrência para condições A.R. ou recessivas ligadas ao X é de 25% e para as
A.D. é de 50%.
Causa monossómica: anomalias congénitas em que estão envolvidas aneuploidias completas ou parciais
dos cromossomas. Risco de recorrência atinge 100% quando um progenitor tem uma translocação robertsoniana
do cromossoma envolvido na trissomia.
Causa teratogénica: agente capaz de provocar anomalias congénitas de forma ou função por perturbação
do desenvolvimento normal do feto. Na ausência da exposição ao teratogéneo na nova gravidez, não há risco de
recorrência.
Devido a doenças maternas.

31
Cromossomopatias

 Enumerar as situações em quais está indicado o estudo citogenético.


O pedido de um cariótipo deve ser sempre acompanhado de uma história clínica cuidada e que
especifique a razão desse pedido. São indicações para um pedido de um cariótipo:
 Suspeita de uma anomalia cromossómica;
 Estudos familiares em que há um rearranjo cromossómico conhecido;
 Anomalias congénitas múltiplas, atraso de crescimento ou atraso mental;
 Alterações da diferenciação sexual;
 História de abortos de repetição;
 Amenorreia primária ou menopausa precoce;
 Neoplasias hematológicas;
 Atraso mental com incidência familiar em indivíduos do sexo masculino.

 Descrever as diferentes metodologias de diagnóstico citogenético.


Para a concretização de um estudo citogenético, podem usar-se células de diferentes tecidos, como os
fibroblastos obtidos por biopsia de pele ou células da medula óssea, linfócitos de sangue periférico, células de
descamação de mucosas, etc. As células são diluídas numa cultura adequada à qual se adiciona um mitogéneo
para estimular a sua proliferação e também um produto antimicrotubular (colchicina ou colcemida) para que as
células interrompam o ciclo em metáfase. Fixa-se depois a mistura com ácido acético e etanol. O processo de
coloração varia consoante o objectivo de estudo.
Actualmente, a citogenética é combinada com estudos moleculares, o que aumenta as possibilidades de
situações em estudo: possibilita ir além do estudo de cromossomas metafásicos e detectar anomalias
cromossómicas em células interfásicas.
 Fish, hibridação in situ – recorre a sondas de DNA específicas para detectar determinadas sequências
no genoma. Os resultados surgem após 2/3 dias, vantagem em relação aos 15 dias dos estudos de
citogenética convencional. Permite inferir cromossomopatias numéricas, microdelecções e
translocações específicas;
 Hibridação genómica comparativo – não é necessário que as células do doente estejam em divisão.
Assenta na hibridação competitiva de uma mistura equimolecular de dois tipos de DNA, um do
doente e outro controlo, marcados com fluorocromos diferentes. A mistura é aplicada sobre uma
lâmina em condições de hibridação in situ. Na ausência de anomalias do paciente, as quantidades são
iguais e a coloração é uma mistura dos dois fluorocromos; caso o doente apresente trissomias, a
quantidade de DNA é maior que a do de controlo e a região anormal terá a cor do fluorocromo que

32
marca o DNA doente; se se registar monossomia, a região cromossómica ou o cromossoma em causa
será da cor do fluorocromo do DNA controlo. Assim, este método permite detectar duplicações e
delecções;
 PCR in situ – procedimento semelhante ao do método de PCR. É possível detectar DNA viral, proviral,
rearranjos de DNA e translocações.

 Descrever as diferentes anomalias numéricas e estruturais.


Alterações numéricas
A um complemento cromossómico normal designa-se euploidia e corresponde a 46 na espécie humana,
diplóide 2n.
 Poliploidia: número de cromossomas é múltiplo de n, mas não 2n. 3n – triploidia, 4n – tetraploidia,
(…). Zigotos poliplóides dão origem a situações de anasarca com placentas volumosas e são letais
precocemente;
 Aneuploidia: número de cromossomas difere de 2n por um ou mais cromossomas, sem ser múltiplo
de 2n; monossomia (2n-1), trissomia (2n+1), tetrassomia (2n+2). É responsável por cerca de 50% dos
abortos espontâneos.
Alterações estruturais.
 Delecções – perda de um segmento acêntrico de um cromossoma – monossomia parcial. Podem ser
terminais ou intersticiais. Quando ocorrem duas quebras terminais, pode ocorrer fusão dos topos
adesivos e formar-se um cromossoma em anel, que frequentemente se perde após alguns ciclos
celulares, originando monossomia de algumas células e então mosaicismo. O risco de recorrência é
negligenciável;
 Duplicações – existência de duas cópias de um mesmo segmento cromossómico. O risco de
recorrência é baixo, a não ser que um dos progenitores apresente um rearranjo – inversão ou
translocação;
 Isocromossomas – o material dos dois braços dos cromossomas é de igual constituição, como um
espelho a partir do centrómero, o outro braço perde-se. A anomalia pode ter tido origem na divisão
central do centrómero na meiose ou mitose. O risco de trissomia para os descendentes é de 100%,
todos os gâmetas produzidos serão nulissómicos ou dissómicos;
 Inversões – duas quebras seguidas de uma rotação de 180º do fragmento cromossómico. Podem ser
paracêntricas ou pericêntricas. O risco de anomalias na descendência é elevado;
 Translocações – podem identificar-se três tipos de translocações:
o Robertsonianas – ocorre entre cromossomas acrocêntricos. A quebra ocorre no centrómero, os
braços curtos perdem-se após algumas divisões celulares e os braços longos fundem-se e
originam uma nova forma de cromossoma, sendo o cariótipo 45,XX ou 45,XY. O portador tem um

33
fenótipo normal, pois nos braços curtos há apenas heterocromatina, mas os gâmetas produzidos
são cromossomicamente anormais;
o Recíprocas – intercâmbio de 2 fragmentos entre cromossomas não-homólogos, estabelecendo-se
um rearranjo equilibrado. No emparelhamento meiótico podem formar-se quadrivalentes com
segregação anormal durante a meiose, daí a infertilidade e abortos espontâneos repetidos. O
risco de recorrência dos portadores é de 20-30%;
o Insercional – um fragmento cromossómico muda de local dentro do mesmo cromossoma ou para
outro. Há um risco elevado da descendência ter anomalias.

 Descrever os diferentes mecanismos de origem de anomalias numéricas.


A aneuploidia pode resultar de anomalias na mitose por atraso na migração do cromossoma para o pólo
da célula, ou na meiose por não disjunção, o que então origina um mosaico – duas linhas celulares provenientes
do mesmo zigoto. Na dissomia uniparental, os dois cromossomas homólogos têm origem no mesmo progenitor.
As anomalias numéricas podem também surgir, embora mais raramente, por quimerismo – células provenientes
de dois zigotos diferentes.

 Explicar a idade materna como factor de risco para anomalias numéricas na


descendência.
O facto de os oócitos permanecerem várias décadas em profase, envelhece-os e, quanto mais tarde
forem formados, maior o risco de não-disjunções meióticas, resultando em trissomias ou em monossomias.

Autossomopatias
 Descrever os fenótipos e prognósticos das trissomias 21, 18 e 13.
Trissomia 21
 Fenótipo: hipotonia muscular, braquicefalia, rosto redondo, orelhas mal formadas, manchas de
Brushfield na íris, estrabismo, epicantos, nariz pequeno e achatado, boca aberta e protusão da língua,
palato alto, estreito e arqueado, mandíbula hipoplásica, pálpebras orientadas obliquamente para
cima e para fora, aumento de pêlo na nuca, reflexos de Moro diminuídos, atrésia duodenal, maior
susceptibilidade a infecções, leucemia, atraso mental, baixa estatura, hiperflexibilidade das
articulações, displasia da pélvis
 Prognóstico:
o Cerca de 70% dos embriões com trissomia 21 abortam espontaneamente.
o A quase totalidade dos doentes que vivem para além dos 40 anos manifesta Doença de
Alzheimer.

34
o Esperança média de vida menor que a da população geral.
Trissomia 18
 Fenótipo: hipotonia muscular, seguida de hipertonia, pé boto com calcanhar proeminente, unhas
hipoplásicas, dedos da mão em flexão com cavalgamento do 2º sobre o 3º dedo e do 5º sobre o 4º,
occipital proeminente, orelhas malformadas e de baixa implantação, microgratia, esterno curto, boca
pequena, dolicocefalia, atraso mental, atraso de crescimento, onfalocelo, cardiopatia congénita.
 Prognóstico: sobrevivência rara para além dos 6 meses de vida.
Trissomia 13
 Fenótipo: holoprosencefalia, microcefalia, microftlamia, ciclopia, agenesia do corpo caloso,
arrinencefalia, hidrocefalia, coloboma da íris, deformações do couro cabeludo, orelhas malformadas,
fenda labial e/ou palatina uni ou bilateral, polidactilia das mãos e dos pés, malformações orgânicas
múltiplas, crescimento deficiente.
 Prognóstico: sobrevivência rara para além dos 6 meses.

 Descrever os diferentes mecanismos citogenéticos na origem da trissomia 21 e


correlacioná-las com o risco de recorrência.
 93-95% dos casos de Síndrome de Down são devidos à presença de um Idade
Risco
cromossoma 21 supranumerário num dos gâmetas originado por não disjunção (anos)
meiótica. Em 90% dos casos, o cromossoma supranumerário é de origem materna 37 1/242
e em 5-7% tem origem em não disjunção da meiose paterna. 75% das vezes, a não 38 1/189
disjunção ocorreu na primeira divisão da meiose. Nestes casos, o risco de
39 1/146
recorrência é altamente influenciado pela idade materna.
40 1/112
 3-4% das situações devem-se a translocações robertsonianas. Teoricamente, um
41 1/85
indivíduo portador de uma translocação robertsoniana equilibrada entre o
42 1/65
cromossoma 21 e um do grupo D, ou entre 21 e 22, pode gerar 1/3 dos
43 1/49
descendentes com SD, outro 1/3 de indivíduos normais, mas portadores de
44 1/37
translocação equilibrada e outro com um complemento cromossómico normal.
45 1/28
Contudo, o risco é bem menor devido ao aborto precoce. O risco é de 2,5% se o
46 1/21
pai for portador da translocação e de 10-15% se for a mãe. Se t(21,21), risco é de
47 1/15
100%. Nos casos de translocação recíproca envolvendo os dois cromossomas 21,
48 1/11
risco é de 10%.
49 1/8
 2,5% dos casos devem-se ao mosaicismo, acontecimento pós-zigótico. A sua
50 1/6
origem mais comum é a perda de um cromossoma 21 supranumerário em

35
algumas células de um embrião inicialmente trissómico, ou por não disjunção mitótica de um embrião
outrora cromossomicamente normal. Visto ser um motivo pós-zigótico, não há qualquer alteração
cromossómica nos progenitores e o risco de recorrência é inferior a 1%.

Heterocromossomopatias
 Descrever os fenótipos, prognósticos e terapêuticas dos síndromes de Turner,
Klinefelter, Triplo X e cromossoma Y supranumerário.
Síndrome de Turner
 Fenótipo: pescoço curto e largo, excesso de pele na nuca, linfodema das mãos e dos pés, hipoplasia
das unhas, baixa implantação das orelhas e do cabelo, pregas alares, tórax em escudo, palato alto e
arqueado, baixa estatura, osteoporose, cubitus valgus, malformações cardíacas e renais,
impuberismo, esterilidade, doenças auto-imunes, obesidade, diabetes. QI está dentro dos limites
normais, mas pode haver perturbações da percepção espacial e do comportamento social,
especialmente quando o cromossoma X é de origem materna.
 Prognóstico: embriões e fetos com este cariótipo – 45,X – têm pouca viabilidade, menos de 1%
sobrevive até ao parto. Dos indivíduos que nascem, muitos têm mosaicismo placentar. Mães com
mosaicismo somático e gonadal podem ter filhos com S. Turner por anomalia herdada.
 Tratamento:
o Administração da hormona de crescimento.
o Administração de ciclos de tratamento com estrogénios e progesterona.
o Gonadectomia se presença de cromossoma Y.
o Cirurgia cardiotorácica e ecocardiogramas de 3 em 3 anos.
o Procriação medicamente assistida.
Síndrome de Klinefelter
 Fenótipo: deficiente desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, impotência, esterilidade,
ginecomastia, maior risco de cancro da mama, alta estatura, osteoporose, tumor de células germinais,
diabetes, úlceras pépticas, enfisema pulmonar, sem atraso mental, mas QI menos elevado,
dificuldade de aprendizagem.
 Prognóstico: normal.
 Tratamento:
o Suplementos de testosterona.
o Cuidados médicos e educativos suplementares.
o Vigilância da próstata a partir dos 30 anos de idade.

36
Síndrome do Triplo X
 Manifestações fenotípicas pouco aparentes: hipertelonismo, anomalias esqueléticas, QI dentro do
normal, mas ainda diminuído que o dos irmãos, dificuldade de aprendizagem.
Síndrome de Cromossoma Y supranumerário
 Sem manifestações significativas a nível do fenótipo: estatura maior que a média, hipotonia da
musculatura peitoral, deficiente coordenação motora dos movimentos finos, macrodontia, redução
do tamanho do pénis, QI diminuído, mas sem atraso mental.

 Descrever os diferentes mecanismos citogenéticos que estão na origem dos


síndromes de Turner, Klinefelter e das trissomias XXX e XYY.
Síndrome de Turner:
 45,X – 80% das vezes por não-disjunção meiótica paterna:
o 45,X/46,XX ou 45,X/46,XY – mosaicismo;
o 46,X, i(Xq) – isocromossoma do braço longo do X;
o 46,X, i(Xp) – isocromossoma do braço curto do X;
o 46,X, r(X) – cromossoma em anel;
o 46,X, del(Xq) – delecção do braço longo do X;
o 46,X, del(Xp) – delecção do braço curto do X.
Síndrome de Klinefelter:
o 47,XXY – trissomia em 85% das vezes;
o 46,XY/47,XXY – mosaicismo por 15%.
Trissomia XXX: não-disjunção meiótica materna.
Trissoma XYY: não-disjunção meiótica paterna.

37
Genética do cancro

 Descrever as características fenotípicas da célula tumoral.


 Células neoplásicas exprimem genes diferentes qualitativa e quantitativamente diferentes dos que
são expressos pelas células normais correspondentes;
 Evidenciam autocrinia;
 Capacidade proliferativa aumentada;
 Capacidades angiogénica e metastática;
 Iludem sistema imunológico;
 Resistem à apoptose.
O crescimento de um tumor depende do ritmo proliferativo das células tumorais, da percentagem de
células em proliferação e da extensão da morte das mesmas.

 Enumerar os diferentes grupos de genes envolvidos na carcinogénese.


Há vários tipos de genes envolvidos na regulação da proliferação celular:
 Protooncogenes;
 Antioncogenes;
 Genes de reparação de DNA;
 Genes de metabolismo de genotóxicos.
Quando alterados a nível estrutural ou de expressão, podem aparecer relacionados com o
desenvolvimento do cancro.

 Descrever as funções das proteínas codificadas por protooncogenes.


Os protooncogenes são genes normais que codificam proteínas constituintes de uma rede implicada na
recepção e transdução de sinais e na regulação da expressão génica. Incluem factores de crescimento, receptores
de membrana, transdutores intracelulares de sinais e factores de transcrição nucleares.

 Descrever como um protooncogene se transforma em oncogene.


As mutações a nível dos protooncogenes que levam a alterações qualitativas ou quantitativas dos
produtos que codificam podem originar transformações celulares de um modo dominante – aquisição de novas
características pela célula, o que lhe confere vantagem proliferativa. Formam-se oncogenes.

38
Assim, é apenas necessária a mutação de um dos alelos para que ocorra a estimulação da proliferação
celular e do desenvolvimento do fenótipo tumoral. Os tipos de mutação mais frequentes são a amplificação, a
mutação pontual e a translocação cromossómica.

 Dar exemplos de genes supressores tumorais – antioncogenes.


À semelhança dos protooncogenes, são sequências de DNA altamente conservados ao longo da evolução
filogenética, o que é sugestivo da sua importância no controlo da proliferação e diferenciação celular. São
antioncogenes: TP53, RB, PTEN.

 Explicar os tipos de mutações dos genes supressores tumorais e dos genes de


reparação associados à carcinogénese.
As mutações dos antioncogenes podem ser somáticas ou germinativas. Em casos hereditários, a
inactivação do primeiro alelo é herdada, enquanto que a do segundo é somática, bastando portanto a perda do
único alelo funcional para a ausência da produção da proteína antioncogénica. Daí serem conhecidas mais
síndromes neoplásicas hereditárias, a mutação em oncogenes ocorre de forma recessiva.
Nesses, as mutações mais frequentes são as mutações pontuais, as microdelecções e as mutações
frameshift.
Agentes agressores do genoma, quer sejam químicos, físicos ou biológicos, podem actuar sobre qualquer
locus, inclusive em protooncogenes e antioncogenes. Quando ocorrem mutações nos genes de reparação do
DNA, o genoma permanece lesado, podendo acumular-se mutações ao ponto de se desencadear necrose,
apoptose ou paragem de replicação celular.

 Explicar a função de proteínas codificadas por genes supressores tumorais.


 RB – codifica p105RB, envolvida na regulação do ciclo celular, em especial na entrada do ciclo celular
da fase S;
 TP53 – codifica proteína TP53, com importante papel no controlo da proliferação celular, quer
parando o ciclo celular em G1/S para permitir a reparação, em caso de lesões de DNA, quer induzindo
a apoptose. A ausência desta proteína conduziria à imortalização da célula e a uma acumulação de
erros no DNA ao longo de varias gerações celulares;
 PTEN – codifica uma fosfatase que actua sobre produtos envolvidos em vias de sinalização
intracelular; regulação da adesão, migração e diferenciação celulares;
 P21 – toma papel importante na regulação da proliferação celular: a proteína p105RB tem a
capacidade de formar complexos com outras proteínas quando não está fosforilada, incluindo com
factores de transcrição. Quando fosforilada, p105RB deixa os factores de transcrição livres para

39
exercer a sua função, essencial na progressão do ciclo celular. Para que volte à sua forma original não
fosforilada, é preciso que p105RB esteja sob a influência de fosfatases.
A paragem do ciclo celular implica então que p105RB não esteja fosforilada, o que pressupõe a ausência
de actividade da proteinocinase do complexo ciclina G1-p34COK. É preciso um outro mecanismo que actue a nível
deste complexo – mediação feita por P21.
P21 tem, portanto, capacidade para inibir fosforilação do p105RB e interromper o ciclo celular.

 Descrever o papel da telomerase na carcinogénese.


As células normais têm uma capacidade proliferativa limitada – após um previsível número de divisões
implica que haja um mecanismo de contagem de mitoses. Esse mecanismo reside na alteração do processo de
restauro do comprimento dos telómeros por perda da actividade da telomerase.
A telomerase é uma enzima cujo componente de RNA tem uma sequência que serve de modelo para a
adição de unidades repetitivas aos telómeros, promovendo a compensação de perda de DNA ao longo de ciclos
replicativos, mantendo o comprimento dos telómeros constante. Na ausência da telomerase, os telómeros
encurtam progressivamente à medida que as células se dividem, atingindo um comprimento crítico – ponto de
restrição M1, limite de Hayflick, células entram em senescência.
Se neste ponto as proteínas TP53 e p105RB não actuarem, as células continuam a dividir-se até um novo
ponto crítico – ponto de restrição M2, desencadeando a apoptose. Contudo, algumas células ultrapassam este
ponto, traduzindo assim a sua imortalização com a recuperação da actividade da telomerase. Tais células
imortalizadas podem ser tumorogénicas.

 Explicar o papel da apoptose na carcinogénese.


A velocidade de acumulação de células num tecido poderá dever-se ao aumento da proliferação celular
ou à redução do ritmo da morte celular programada. Assim, o crescimento neoplásico pode ser promovido por
factores que inibam a apoptose.

 Explicar a dinâmica da carcinogénese e a formação de subclones celulares.


1) Agressão do genoma;
2) Aumento da expressão de TP53;
3) Aumento da expressão de p21;
4) Inibição da actividade da proteinocinase do complexo ciclina-p34COK;
5) Não fosforilação de p105RB;
6) Complexação de factores de transcrição pela p105RB não fosforilada;
7) Inibição da transcrição de genes cujos produtos são essenciais à progressão do ciclo;
8) Paragem do ciclo celular;

40
9) Reparação integral das lesões de DNA;
10) Diminuição da [TP53];
11) Diminuição da [p21];
12) Aumento da actividade da proteinocinase do complexo ciclina-p34COK;
13) Fosforilação da p105RB;
14) Libertação dos factores de transcrição;
15) Prosseguimento do ciclo celular e entrada na fase S.
Quando os genes de reparação de DNA estão alterados, não ocorre o ponto 9 e o retomar do ciclo pode
ser com acumuladas mutações no DNA, podendo incluir uma mutação dominante que origina um oncogene com
consequente vantagem proliferativa para um clone celular e formação de um tumor.

 Explicar as diferenças entre cancro hereditário e esporádico.


Em casos hereditários, há à partida heterozigotia constitucional devido à herança de um alelo mutado e
de um alelo normal com produção de 50% de proteína normal, pelo que basta a perda ou inactivação do único
alelo funcional para ausência de produção da proteína antioncogénica. Em cancros esporádicos, a ocorrência de
uma mutação torna apenas o individuo, anteriormente portador de dois alelos normais, heterozigoto para a
mutação.
Assim, no cancro esporádico é importante a influência dos hábitos sociais, alimentares, das condições
socioeconómicas, regista-se variação de incidência consoante a geografia e não existe risco significativo para
familiares. Pelo contrário, num cancro hereditário, existe parentesco entre os doentes, havendo excesso de casos
em familiares de 1º grau. O cancro hereditário manifesta-se em idades atípicas, jovens e é geralmente bilateral e
multicentral, pleiotropismo.

 Descrever os mecanismos da carcinogénese no cancro multifactorial.


Os factores ambientais têm sido identificados como agentes etiológicos do cancro, sendo de natureza
química, física ou biológica.
A iniciação, promoção e progressão de um tumor, como etapas da carcinogénese química, resultam da
interacção entre factores ambientais e individuais. A predisposição individual é criada ou aumentada por agentes
iniciadores, a proliferação é provocada por agentes promotores cuja acção conduz à malignidade. O citocromo
P450 está envolvido na activação de promotores tumorais, que podem ser dioxinas, tetracloreto de carbono,
raios UV, ácidos biliares e hormonas.

41
Aconselhamento genético

Terapia genética
 Enumerar diferentes tipos de tratamento nas doenças genéticas.
É a terapia génica que tem como finalidade a cura de uma doença de natureza genética, por integração
nas células do organismo de um gene cópia normal de um gene mutado ou em falta, ou por modulação da
expressão génica.
A prevenção primária evita que seja formado o genótipo anormal responsável; a prevenção secundária
actual pelo DPI ou pelo DPN e eventual interrupção da gravidez. Na ausência de prevenção primária e secundária,
há que recorre às formas de tratamento disponíveis, actuando a nível sintomático ou a nível do genótipo por
terapia génica. Esses métodos de intervenção terapêutica em doenças de natureza génica incluem:
 Afastamento de factores ambientais deletéricos;
 Modificação da dieta;
 Terapêutica medicamentosa;
 Modulação da expressão génica;
 Cirurgia de remoção do órgão doente;
 Administração do produto em falta;
 Transplantação de células ou de órgão;
 Terapia génica.

 Descrever os vários tipos de terapia génica.


Terapia génica somática
Feita em células somáticas do indivíduo doente, submetidas a transfecção ou transdução com o gene
normal. Como não atinge as células germinativas, o mecanismo responsável pela cura não é transmitido à
descendência.
Se efectuada na vida fetal, previne a acumulação de lesões devidas à falta de produto ou da sua forma
alterada.
Terapia génica germinal
Quando é dirigida a células germinais, gâmeta ou um ovo. Todas as células do organismo serão
portadoras da cópia do gene normal inserida, e a cura é já transmitida à descendência.
O genoma da espécie pode ser alterado por esta via devido à codificação proporcionada por um gene
heterólogo ou por eventuais alterações provocadas pela inserção do gene ao acaso.

42
Terapia génica ex vivo
Metodologias desta técnica são viáveis quando o defeito está presente a nível do sangue ou quando o
defeito é sistémico e pode ser corrigido por transdução ou transfecção de células sem especificidade celular. As
células são recolhidas do doente, tratadas in vitro e reintroduzidas no organismo.
Terapia génica in situ
Tem lugar quando é possível definir um território do organismo com uma via de acesso específica –
territórios vasculares do fígado, do cérebro ou dos rins ou as vias respiratórias.
Terapia génica in vivo
Executada no individuo sem definição de um território específico, por injecção na corrente sanguínea do
vector recombinante. Assim, este método depara-se com dificuldades como a acção do sistema imunológico e a
não especificidade dos vectores para as células-alvo.

 Enumerar os principais métodos de transferência e explicar as suas vantagens e


desvantagens.
Métodos físicos/químicos:
 Microinjecção;
 Injecção directa nos tecidos;
 Microprojécteis com DNA;
 Electroporação;
 Lipossomas;
 Conjugação do DNA com proteínas.
Métodos biológicos:
 Retrovírus
o Vantagens
 Elevada eficiência, podem ser transduzidos 100% das células;
 Ausência de toxicidade;
 Transdução simultânea de células;
 múltiplas cópias de DNA transduzido, há a possibilidade de se inserir somente uma cópia;
 Inserção do DNA no genoma e estabilidade do efeito terapêutico.
o Desvantagens
 Necessidade das células estarem em divisão;
 Inactivação rápida pelo sistema de complemento;
 Capacidade limitada em termos de comprimento do gene a inserir;
 Eventual mutagénese insercional por inserção ao acaso;
 Possibilidade de expressão transitória;

43
 Dificuldade de regular com precisão dosagem génica;
 Possibilidade de inserção do genoma pró-viral recombinante nas células terminais, sem se
poder prever ou testar consequências para as gerações futuras.
 Adenovírus
o Vantagens
 Permitem obtenção de elevadas concentrações virusais;
 Possibilitam transferência e expressão de genes em células que não estão em divisão;
 Podem afectar todos os tipos de células humanas;
 Recombinação rara;
 Risco de mutagénese insercional muito reduzido, habitualmente não são incorporados no
genoma.
o Desvantagens
 Em casos de sucessivas administrações, geram-se títulos elevados de anticorpos,
reduzindo a eficácia e gerando efeitos secundários;
 Eliminação de células “infectadas” por linfócitos-T;
 Acção transitória por não inserção no genoma e necessidade de repetir administrações.
 Vírus adeno-associados
o Vantagens
 Efeito terapêutico prolongado.
 Ausência de toxicidade.
 Elevado grau de segurança – é somente conservado 5% do seu genoma, a que não
corresponde nenhum gene virusal.
o Desvantagens
 Baixa capacidade por comportarem apenas sequências de DNA até 4,5kb.
 Vírus Herpes.

 Descrever as principais estratégias de terapia génica.


A terapia génica pode ser equacionada para condições hereditárias ou adquiridas. Entre as condições
hereditárias, os casos de natureza monogénica são as que permitem uma racionalização mais objectiva. A
racionalização das condições monogénicas é diversa, consoante se trate de hereditariedade recessiva ou
dominante.
Quando recessiva, a solução passa pela incorporação na célula de uma cópia do alelo normal, que, uma
vez expressa, proporciona a recuperação da função através do seu produto proteico.

44
Quando dominante, não basta a incorporação da forma normal do alelo, pois já está presente em
heterozigotia, mas sim proceder de modo a que não se observe a expressão do alelo mutado, possível das
seguintes formas:
 Inactivação do produto proteico por complexação com outra proteína ou por alteração do seu grau de
metilação, acetilação ou fosforilação;
 Degradação do respectivo mRNA;
 Inactivação do mRNA;
 Modulação do alelo mutado, de modo a inibir a sua transcrição.
Para além de doenças hereditárias, a terapia génica pode também ter como objectivo o tratamento de
doenças adquiridas, modulando a expressão de determinado gene. Nestas condições, a expressão temporária do
gene transduzido pode ser suficiente para o tratamento, enquanto que nos casos hereditários constituía uma
limitação da terapia génica.

A consulta
 Descrever os principais componentes e regras do aconselhamento genético.
O processo de aconselhamento genético estabelece-se no âmbito da relação médico-doente e comporta
as seguintes etapas:
 Elaboração de um diagnóstico seguro ou, quando não for possível, exclusão de algumas doenças;
 Determinação do curso da doença, do prognóstico e das formas de tratamento e prevenção;
 Identificação da forma de transmissão hereditária e determinação do risco de recorrência;
 Identificação das opções;
 Comunicação das informações anteriores ao consulente;
 Definição de formas de actuação consoante os princípios éticos, morais e religiosos do consulente e
da família.
Durante a consulta, deve estabelecer-se um ambiente de proximidade e confiança entre o consulente e o
médico, de modo a ultrapassar as inibições naturais daquele, permitindo um relato fiel dos factos relativos à sua
condição e/ou da sua família. Devem ser tidos em conta os níveis sócio-educativos e cultural do consulente na
escolha do momento e da linguagem.
Após ter feito o consulente compreender todas as condições da doença, e seja altura de tomada de
decisão, o médico não deve exercer qualquer atitude coerciva em relação ao consulente.

 Descrever os tipos de diagnóstico genético.


Diagnóstico pré-implantatório
Permite fazer o diagnóstico de anomalias genéticas em embriões obtidos por fecundação in vitro, antes
de serem implantados no útero. Consiste numa alternativa ao DPN para casais com elevado risco de transmissão

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de doenças graves genéticas. Tem a contra-indicação das dificuldades inerentes à reprodução medicamente
assistida por fecundação in vitro. Além disso, exige que os resultados sejam conhecidos num espaço de 48 horas,
enquanto o embrião se mantém viável. É uma técnica associada a 5-10% de falsos positivos e falsos negativos por
falha na amplificação de um dos alelos por PCR. Na eventualidade de haver mosaicismo, se estudada apenas uma
célula, o resultado pode também induzir em erro.
Diagnóstico pré-natal
Realizado no período fetal da gravidez. São indicações para DPN:
 Idade da mãe superior a 35 anos;
 Filho anterior com cromossomopatia;
 Registo de familiares com atraso mental;
 Progenitor portador de anomalia cromossómica;
 História de defeitos do tubo neural;
 Ansiedade materna;
 Suspeita de anomalias fetais por rastreio bioquímico ou por ecografia;
 Abortos múltiplos;
 Risco elevado para doença de causa monogénica.
Diagnóstico pós-natal
Abrange os processos de diagnóstico neo-natal e, em idades posteriores, o rastreio de portadores de
mutações recessivas e o diagnóstico pré-sintomático.
São habitualmente feitos em linfócitos do sangue periférico e em fibroblastos. Justifica-se quando após a
detecção da deficiência de causa genética é possível uma abordagem terapêutica.

 Descrever os critérios para a implantação de rastreio de doenças genéticas.


Indicado sempre que seja evidente uma etiologia genética ou quando for necessário excluir uma causa
hereditária:
 Gravidezes de idade materna superior a 35 anos;
 Gravidezes de mulheres portadoras de doenças possíveis de afectar desenvolvimento embrionário;
 Esterilidade conjugal;
 Alteração génica presente em algum dos cônjuges;
 Anomalias cromossómicas conhecidas na família;
 Abortos de repetição.

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Ética em genética
 Descrever situações de aconselhamento genético que mais frequentemente
colocam problemas éticos.
As intervenções terapêuticas a nível das células germinais são as que levantam mais questões éticas
sérias, como sejam os possíveis limites morais quando se mexe com a vida humana, a dimensão da
responsabilidade das gerações actuais para com as gerações futuras por eventual alteração do genoma com
consequências não previsíveis e deletéricas, a utilização de embriões humanos, os riscos clínicos relevantes e o
perigo social.

 Explicar o dilema ético criado pela descoberta do genoma humano.


Para muitos cientistas, a sequenciação do genoma humano poderá ser o precursor de um inevitável
retorno à eugenia, ao proporcionar em larga escala um conhecimento científico mais rigoroso das metodologias
práticas necessárias ao desenvolvimento de estratégias de saúde pública. É seguramente preocupante que surja
alguém com poder para decidir quais as características que devem ser preservadas e quais as que devem ser
anuladas
As visões eugénicas e as tentativas de normalização de seres são um atentado à diversidade, inerente à
vida humana.

 Descrever os principais critérios que orientam as decisões éticas.


Entre os aspectos essenciais para resolver dilemas em Medicina, encontram-se os princípios básicos que
sustentam a dignidade da pessoa:
 Princípio da autonomia e da vulnerabilidade – o exercício da autonomia implica o esclarecimento
adequado e completo do consulente, baseado na verdade e fidelidade da sua circunstância. Diz
também respeito à liberdade de decisão. Este princípio aplica-se a pessoas com reconhecida
capacidade de decidir de forma autónoma. Havendo limites neste princípio, prevalece o princípio da
beneficência;
 Princípio da beneficiência – as intervenções médicas devem contribuir para o bem-estar pessoal;
 Princípio da não-maleficiência – as intervenções médicas não devem dar origem a danos no doente,
quer de forma intencional, quer por negligência;
 Princípio da justiça – todos os cidadãos devem estar no mesmo plano de igualdade em termos de
acesso aos benefícios proporcionados pelo sistema de saúde;
 Princípio da confidencialidade – a confidencialidade sustenta a autonomia, a beneficiência e a não-
maleficiência.

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