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ria, Paracoccus, Azospirillum, Rhodopseudomonas, Thiobacillus, Vibrio,

Xanthomonas e Klebsiella (RITTMAN e LANGELAND, 1985).


Embora seja conhecido como um processo de exclusividade
bacteriana, recentemente foi observado a participação de fungos que
promovem a desnitrificação (TAKAYA, 2002).
O funcionamento global do ecossistema desnitrificante pode ser
afetado pela atuação das populações microbianas, as quais podem
ser afetadas por mudanças nas condições ambientais, como tempe-
ratura, pH, concentração de oxigênio dissolvido, fonte de carbono,
concentração de nitrato, relação C/N, tempo de retenção celular,
presença de substâncias inibidoras e altas intensidades de luz (NAIR
et al., 2007; SOUSA e FORESTI, 1999; BARAK et al., 1998).
A temperatura influencia diretamente o crescimento das bactérias,
sendo que a desnitrificação pode ocorrer na faixa ampla de 0 a 50ºC.
Entretanto, a condição mais favorável de temperatura seria de cerca
de 35ºC. Em relação ao pH, a faixa adequada está compreendida en-
tre 6,5 e 8. Para valores de pH abaixo de 7, a produção de óxidos de
nitrogênio dotados de alta toxicidade é mais acentuada, e caso haja a
presença de nitrito sob estas condições de pH, concentrações elevadas
de ácido nitroso podem estar presentes (SOUZA e FORESTI, 1999). Já
para Surampalli et al. (1997), a desnitrificação ocorre preferencial-
mente em temperaturas situadas entre 10 e 30ºC, e a velocidade de
desnitrificação é reduzida abaixo de pH 6,0 e acima de pH 9,0. Glass
e Silverstein (1998) reportaram que valores de pH entre 6,0 e 7,0 e
concentrações de nitrito de 30 e 250 mg/L, respectivamente, inibiram
a desnitrificação. De acordo com estes autores, para diminuir a inibi-
ção, o pH deveria ser mantido pelo menos em torno de 8,0.
O oxigênio dissolvido tem a capacidade de inibir tanto a atividade
como a síntese de enzimas desnitrificantes. Para se ter uma idéia,
concentrações de OD acima de 1 mg/L já interferem na atividade
desnitrificante (SOUSA e FORESTI, 1999).
A razão C/N requerida para a completa redução de nitrato a nitro-
gênio gasoso pelas bactérias desnitrificantes depende da natureza da
fonte de carbono e das espécies microbianas atuantes. Para a maioria
das fontes de carbono, uma razão mássica de COD/N-NO3 de 3 a 6
permite a redução completa de nitrato para nitrogênio elementar
(NARCIS et al., 1978; SKINDE et al., 1982). Bode et al. (1987), operando
reatores de mistura completa, verificaram que a massa da demanda

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química de oxigênio (DQO) removida por unidade de massa de N-NO3
removida, cresceu proporcionalmente à relação DQO/N-NO3. Çeçen e
Gönenç (1992) utilizaram melaço como fonte de carbono e verificaram
que a maior taxa de remoção de nitrogênio oxidado ocorre quando
a relação DQO/N-NOX for maior ou igual a 5. Aslan e Cakici (2007),
utilizando ácido acético como fonte de carbono, observaram que a
razão C/N ótima foi de cerca de 1,8.
É interessante ressaltar que a limitação de carbono resulta no
acúmulo de produtos intermediários, como NO2 e N2O, enquanto o
seu excesso promove a redução dissimilatória de nitrato à amônia
(TAM et al., 1992).
A desnitrificação via nitrito é uma alternativa para a obtenção
de nitrogênio gasoso. Um exemplo deste tipo de desnitrificação é o
processo SHARON (Single Reactor High Activity Ammonia Removal
Over Nitrite), no qual a nitrificação acontece de modo parcial, sendo
esta interrompida na etapa de nitritação. Entre algumas das vanta-
gens do processo SHARON se encontra a maior velocidade específica
de desnitrificação, economia de 40% de fonte de carbono e de 25%
de aeração. A geração do lodo é também reduzida em torno de 25%
(METCALF e EDDY, 2003).
O processo ANAMMOX (Anaerobic Ammonium Oxidation) consiste
em outra alternativa para se efetuar a desnitrificação. Neste processo
os microrganismos podem transformar o nitrito e o amônio em N2,
utilizando como aceptor de elétrons o nitrito. As bactérias não neces-
sitam da adição de uma fonte externa de carbono e geram pouco lodo,
embora utilizem apenas o nitrito e o amônio como substratos. Desta
forma, é muito comum inserir um processo de nitritação, a exemplo
do SHARON, à montante do reator ANAMMOX (TOKUTOMI, 2004).

3.4.2.4. Sistemas clássicos de nitrificação e desnitrificação


Existem diversos tipos de sistemas com diferentes configurações que
congregam as etapas de nitrificação e desnitrificação. A forma mais
simplificada para a realização das duas etapas está ilustrada esque-
maticamente na Figura 3.56, a qual consiste na pré-desnitrificação
(SCHMIDELL e SPILLER, 2005, VON SPERLING, 1996)

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Figura 3.56. Representação esquemática simplificada do processo de nitrificação
e desnitrificação (Adaptado de SCHMIDELL e SPILLER, 2005).

No processo ilustrado na Figura 3.56, também conhecido por


Ludzack-Ettinger modificado, a alimentação do sistema é realizada
primeiramente no processo anóxico, onde a presença de material
orgânico oriundo do efluente bruto possibilita o desenvolvimento do
processo desnitrificante. Subseqüentemente, o efluente do processo
anóxico entra no próximo sistema, agora sob condições de aerobiose,
onde ocorre a etapa de nitrificação, sendo o amônio convertido em
nitrito ou nitrato. Os nitratos são direcionados à zona anóxica por
meio de circulação interna, cujas razões de recirculação podem variar
de 100 a 400% da vazão de afluente. Na zona anóxica, os nitratos são
convertidos a nitrogênio gasoso, o qual é liberado na atmosfera. Por
fim, ocorre a fase de sedimentação, com retorno do lodo concentrado
a uma razão que pode variar de 50 a 100% da vazão de entrada do
afluente (SCHMIDELL e SPILLER, 2005; VON SPERLING, 1996).
Vale ressaltar que a eficiência da desnitrificação está diretamente
relacionada à quantidade de nitrato que é retornada à região anóxica.
Caso não houvesse recirculação interna, a única forma de retorno
dos nitratos seria via o reciclo de lodo, com os possíveis riscos ope-
racionais de desnitrificação no decantador secundário, ocasionando
a formação de bolhas de N2 e, conseqüentemente, lodo ascendente.
Nas zonas anóxicas de sistemas com pré-desnitrificação, a taxa de
desnitrificação é mais elevada, em decorrência da maior concentração
de carbono orgânico oriundo do afluente (VON SPERLING, 1996).
Dentre as vantagens da configuração com pré-desnitrificação está
o menor tempo de retenção na zona anóxica em comparação com
o arranjo de pós-desnitrificação, redução do consumo de oxigênio
devido à estabilização da matéria orgânica que utiliza o nitrato como
aceptor de elétrons na zona anóxica, e possibilidade de redução do

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volume da região aeróbia em virtude da estabilização de parte da
DBO na zona anóxica (VON SPERLING, 1996).
A desvantagem do sistema com pré-desnitrificação é a necessida-
de de razões de recirculação interna bastante elevadas, o que acarreta
no aumento dos custos de operação. Um problema adicional que
pode vir a ocorrer é a recirculação do oxigênio dissolvido do tanque
aeróbio para o anóxico, prejudicando o desempenho do processo
desnitrificante (VON SPERLING, 1996).
Existem outras modificações simplificadas que também almejam
atingir elevadas eficiências de remoção de nitrogênio. A Figura 3.57
ilustra uma modificação da forma simplificada.

Figura 3.57. Modificação da configuração simplificada do processo de nitrificação


e desnitrificação - Processo UCP (EPA, 1993).

Esta configuração é designada por processo UCT (University of


Cape Town). Como pode ser visualizado nesta configuração, além do
tradicional reciclo de lodo, dois reciclos adicionais foram inseridos no
intuito de aumentar as eficiências de nitrificação e desnitrificação. Um
deles corresponde ao reciclo do efluente do tanque aeróbio, destinado à
nitrificação, para o tanque anóxico, destinado à desnitrificação, e o ou-
tro, do efluente do tanque anóxico para o tanque anaeróbio. As vazões
de reciclo são bastante elevadas, alcançando duas a três vezes a vazão
de afluente alimentado ao sistema (SCHMIDELL e SPILLER, 2005).
As configurações dos sistemas ilustrados nas Figuras 3.56 e 3.57
operam sem a separação dos lodos que realizam as diversas etapas da
remoção de nitrogênio. Em outras palavras, as fases aeróbia e anóxica
funcionam de maneira acoplada. Existem sistemas que primam pela
separação destas fases. A Figura 3.58 representa, de forma esquemá-
tica, um exemplo desta última configuração. Esse sistema também
é conhecido como pós-desnitrificação, sendo o carbono oriundo da
respiração endógena. Reciclos internos poderiam ser inclusos nes-

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se sistema a fim de propiciar o aumento da eficiência do processo
(SCHMIDELL e SPILLER, 2005; VON SPERLING, 1996).

Figura 3.58. Sistema de nitrificação e desnitrificação com separação dos lodos (EPA, 1993).

Esse sistema, também conhecido por processo Wuhrmann,


compreende uma zona aeróbia seguida por uma zona anóxica. A
remoção de carbono e a produção de nitrato (nitrificação) ocorrem
na zona aeróbia. O nitrato formado entra na zona anóxica, sendo
reduzido a nitrogênio gasoso durante a desnitrificação. Assim, não
se fazem necessárias as recirculações internas, como no caso da pré-
desnitrificação (VON SPERLING, 1996).
Entretanto, a desnitrificação ocorre em condições endógenas, visto
que a maior parte do carbono orgânico a ser utilizado pelo consórcio
microbiano desnitrificante é removida na zona aeróbia. Conseqüen-
temente, a taxa de desnitrificação é menor, o que demanda maiores
tempos de retenção na zona anóxica em comparação com a pré-
desnitrificação. A fim de se atingir maiores taxas de desnitrificação,
pode-se pensar na adição de uma fonte externa de carbono, a exemplo
do metanol. Entretanto, essa alternativa, além de repercutir no au-
mento dos custos de operação em virtude da necessidade da adição
de um produto químico, contribui decisivamente para o aumento da
complexidade operacional do sistema (VON SPERLING, 1996).
Outra alternativa para o aumento da taxa de desnitrificação seria
direcionar parte do efluente bruto a ser tratado para a zona anóxica,
através de by-pass à zona aeróbia. Entretanto, mesmo que uma fração
considerável da DBO da linha do by-pass possa ser removida na zona
anóxica, há o problema de se introduzir amônia não nitrificada na
zona anóxica, deteriorando a qualidade do efluente (VON SPERLING,
1996).
Há ainda o processo Bardenpho de quatro estágios, apresentado
na Figura 3.59, que consiste em uma combinação das configurações
anteriores. Compreende uma etapa de pré-desnitrificação e uma etapa
de pós-desnitrificação (VON SPERLING, 1996).

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Figura 3.59. Processo Bardenpho de quatro estágios
(Adaptado de VON SPERLING, 1996).

Nesse sistema, pode-se atingir altos níveis de remoção de nitro-


gênio, tendo em vista que os nitratos não removidos na primeira
fase anóxica têm uma segunda oportunidade de serem removidos na
segunda fase anóxica. Entretanto, possui como desvantagem a neces-
sidade de reatores com volume total maior (VON SPERLING, 1996)
Além das configurações ilustradas anteriormente, vale ressaltar o
uso de reatores de batelada seqüencial (RBS) na remoção de nitrogênio
de efluentes líquidos. Conforme foi ressaltado no item 3.3.5.1, esse
reator é operado em uma série de etapas cíclicas, iniciando com o
enchimento do mesmo, seguido da etapa de reação, na qual podem
ser intercaladas fases com aeração e sem aeração, a fim de propiciar
condições para a ocorrência da nitrificação e desnitrificação no
mesmo reator. Após esta etapa, o sistema de aeração é interrompi-
do a fim de que ocorra a sedimentação da biomassa, possibilitando
a retirada do líquido sobrenadante e o reinício do processo (VON
SPERLING, 1996).
Os sistemas RBS podem ser operados com vários reatores em pa-
ralelo, a fim de permitir a sua operação de forma ininterrupta. Desta
maneira, quando um reator estiver operando com seu volume máximo,
os outros estão sendo alimentados (SCHMIDELL e SPILLER, 2005).
Durante o período de enchimento, pode ocorrer alguma remoção
de formas oxidadas de nitrogênio (principalmente nitratos), rema-
nescentes do ciclo anterior, caso os aeradores estejam desligados.
Tem-se, portanto, uma pré-desnitrificação com carbono orgânico do
esgoto afluente. Após a etapa de reação aeróbia, tem-se uma etapa
anóxica, na qual ocorre a pós-desnitrificação, que ocorre sob condições
endógenas (VON SPERLING, 1996).
A simplicidade conceitual e a flexibilidade de operação do sistema
RBS são algumas de suas vantagens, além do fato de dispensarem
o uso de decantadores e recirculações separados. Um inconveniente

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