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SIMPÓSIO
ABR / /
CIENTÍFICO
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O OLHAR DO ESTUDANTE
1. Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto. Curso de Arquitetura e Urbanismo
Rua Abrahão Issa Halach, 980 – Ribeirânia – Ribeirão Preto (SP)
anacirigliano.arquitetura@gmail.com

DE ARQUITETURA SOBRE O 2. Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto. Curso de Arquitetura e Urbanismo
Rua Abrahão Issa Halach, 980 – Ribeirânia – Ribeirão Preto (SP)
cep_arquitetos@hotmail.com

PATRIMÔNIO: PROJETO DE
ATIVIDADE PEDAGÓGICA
DE RECONHECIMENTO
HISTÓRICO-
ARQUITETÔNICO DO
QUADRILÁTERO CENTRAL
EM RIBEIRÃO PRETO (SP)
VILLELA, ANA TERESA CIRIGLIANO (1); CARLUCCI, MARCELO (2)

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RESUMO banco de dados digital, acessível a toda população. Este projeto se propõe a ampliar
o reconhecimento da arquitetura histórica para além do patrimônio tombado; a
documentar sistematicamente a produção arquitetônica do Quadrilátero Central; a
O chamado Quadrilátero Central constitui-se como uma área delimitada do entender a formação e transformação da área central de Ribeirão Preto e a ensinar
tecido urbano da cidade de Ribeirão Preto (SP) que concentra uma quantidade aos alunos a olhar para a paisagem, seja ela antiga ou recente, histórica ou não.
significativa de edifícios de interesse patrimonial públicos e privados. É lá onde
estão a Prefeitura Municipal, o Teatro Pedro II, a Catedral, os palacetes ecléticos Palavras-chave: Documentação, Reconhecimento histórico-arquitetônico,
e os grupos escolares do início do século XX, além de inúmeros exemplares do Art Quadrilátero Central
Déco, Protomodernismo e Moderno. Diante da existência de um discurso veiculado
pela mídia e outras instâncias culturais locais sobre a importância desses edifícios
de maior escala e prestígio social, alguns deles já tombados, propusemos como
projeto de pesquisa universitária um trabalho de reconhecimento da totalidade
das edificações construídas no Quadrilátero Central, inclusive e, sobretudo, as
residências mais modestas e os edifícios comerciais menos imponentes. A proposta
foi recebida pelos estudantes como instigante, pois lhes pareceu difícil entender
que “arquiteturas menores”, imóveis produzidos por “anônimos” (mestres-de-obras,
pedreiros e práticos-licenciados) possam ser objeto de estudo e preservação, ainda
que a significação cultural das obras ditas modestas seja considerada desde a
Carta de Veneza de 1964. O projeto foi dividido em 3 etapas: varredura fotográfica,
cadastramento e banco de dados. O recorte territorial de estudo foi dividido em 10
subáreas distribuídas entre os 30 alunos envolvidos na primeira etapa, que consistiu
no levantamento fotográfico das faces dos 187 quarteirões do Quadrilátero Central.
A partir do banco de fotos, na segunda etapa, foram selecionados os imóveis com
potencial interesse histórico e arquitetônico, utilizando-se como critérios, inicialmente,
aspectos formais, materiais e estéticos. Por meio deste exercício, os alunos foram
instigados (e ensinados) a olhar para as edificações existentes, independentemente
de tipologias ou datações. Os imóveis selecionados foram cadastrados em fichas
baseadas no modelo adotado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, com dados referentes à localização, grau de proteção (se existente), e
fotografias externas. Foram também levantados os números dos processos segundo
arquivamento municipal, de modo a possibilitar o desenvolvimento da última etapa,
em andamento, que consistiu na consulta e reprodução fotográfica dos projetos
arquitetônicos originais e de reformas das edificações selecionadas. Os imóveis então
sendo mapeados em plataforma CAD e identificados de forma que os documentos
e informações levantadas até então possam ser associados e assim compor um

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A (trans)formação do conceito de patrimônio A Carta de Veneza de 1964 ampliou o conceito de monumento histórico[3] para
além da criação arquitetônica isolada, superando-se a ideia de monumentalidade
em favor do reconhecimento de obras mais modestas e de menor vulto.
No que se refere às políticas de preservação do patrimônio histórico no Brasil, seja
relacionado à arquitetura, à cidade ou aos valores imateriais, critérios de antigui- O conceito de monumento histórico abrange não só os trabalhos de
dade e valor artístico exemplar dos objetos costumam estruturar grande parte dos simples arquitetura, mas também o enquadramento urbano ou rural
discursos em favor dos processos de tombamento e dos programas de requalifi- onde se encontram as evidências de uma civilização em particular,
cação urbana[1], ainda que tais parâmetros tenham sido significativamente revis- um desenvolvimento significativo ou um acontecimento histórico.
Isto se aplica não só às grandes obras de arte, mas também a obras
tos em nossa história recente[2]. Igrejas, casas de câmara e cadeia, solares per-
mais modestas do passado que adquiriram significado cultural com a
tencentes a personagens históricos, edifícios públicos significativos e portentosos,
passagem do tempo (ICOMOS, 1964).
teatros, palácios de governo, fortificações militares, entre outros, compõe a lista
preferencial dos edifícios a serem protegidos pelos órgãos de preservação oficial, Françoise Choay (2001) apresenta o teórico italiano Gustavo Giovannoni como
os quais, além de uma clara opção por determinadas tipologias, evidenciam tam- um dos primeiros a levantar essa nova abordagem sobre o objeto patrimonial.
bém “(...) uma tendência a impor sobre o edifício um estado original hipotético, Em 1913, Giovannoni escreveu o artigo “Vecchie Città ed Edilizia Nuova”, no qual
segundo uma projeção retrospectiva idealizada e um tanto distorcida da própria a noção de ambiente foi apresentada como uma ampliação do valor do monu-
história da arquitetura brasileira” (KÜHL, 2008, p. 106). mento em si em direção ao valor de seu contexto. Contexto esse que abarcaria
as chamadas arquiteturas menores, ou seja, aquelas que não têm caráter monu-
mental e artístico, mas que testemunham o desenvolvimento das velhas cidades.
Sobre os postulados de Giovannoni, Choay afirma não se tratar da “museificação”
do ambiente urbano, mas de uma intervenção que atualiza, transforma e revitali-
[1]  [requalificação seria] uma ação que preserve, tanto quanto possível, o ambiente za sem descaracterizar ou negar o genius loci.
construído existente (pequenas propriedades, fragmentação no parcelamento do solo,
edificações antigas) e dessa forma também os usos e a população moradora. A reforma
necessária na infraestrutura existente para adaptá-la a novas necessidades não [3]  Até os anos de 1960 usava-se o termo “monumento histórico” ao invés
deve descaracterizar o ambiente construído herdado. Nos edifícios deveria ser feitas de “patrimônio histórico”, o que se explica pela própria etimologia da palavra
“intervenções mínimas” indispensáveis para garantir conforto ambiental, acessibilidade “monumento” originária do latim monumentum, derivada de monere, traduzida como
e segurança estrutural (MARICATO, 2000 apud FIÚZA, 2012). “lembrar”. Ao final do século XIX e início do XX, o termo “monumento” passa a designar
[2]  Beatriz Kühl lembra que nos primórdios da fundação do IPHAN na década de 30: “(...) não só índices do passado como também arquiteturas colossais, arquiteturas do
o interesse recaiu sobre a produção dos séculos XVI e XVII; numerosas manifestações do poder, proezas técnicas. Com o advento da fotografia o monumento perde sua função
século XIX (com exceção do neoclássico, que era, de modo geral, apreciado) e do começo memorial e passa a significar o grande, o belo, o prestigioso, o “monumental”. Assim,
do século XX foram consideradas desprovidas de interesse e fruto de pura importação” o “monument” é feito para sê-lo. É uma construção, arquitetônica ou escultórica,
(KÜHL, 2008, p 101). Obras de restauração como as dos Teatros Municipais do Rio de que, a priori, é memorial; já o “monumento histórico” é escolhido a posteriori pelo seu
Janeiro e São Paulo, do Teatro Pedro II de Ribeirão Preto, a Sala São Paulo na região da valor documental, de forma tal que nem todo monumento é considerado hoje um
Luz e a Agência Central dos Correios no Vale do Anhangabaú em São Paulo, entre vários monumento histórico. Tal ampliação segue em direção ao uso do termo patrimônio,
outros, são sinais dessa revisão de princípios aos quais nos referimos. abrindo-se mão do caráter de grandiosidade implicado anteriormente.

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Os inovadores dizem: as cidades não são museus ou arquivos, mas são constituyen tejidos concentrados y/o dispersos, destinados a clases
feitas para serem vividas da melhor forma possível e nós não podemos sociales medias y realizados por constructores, idoneos y en menor
comprometer o desenvolvimento delas e parar o caminho da civilização, medida profesionales, utilizando técnicas y tecnologías principalmente
fechando a vida nova dentro de ruas estreitas e tristes, apenas por um post-industriales (SANCHEZ & CACOPARDO, 2012, p.2).
equivocado respeito fetichista em relação ao passado. (...) Respondem
os conservadores: a vida não pode ser movida somente por um conceito
O reconhecimento histórico-arquitetônico do
material utilitário, sem um ideal, sem uma busca de beleza; menos
ainda do que a vida de um indivíduo, pode ser tal a vida coletiva das Quadrilátero Central
cidades, que deve conter em si os elementos de educação moral e
estética e que não pode prescindir da tradição na qual se encontra boa
parte da glória nacional (GIOVANNONI, 2013, p.95-6).
Histórico da área
A origem da cidade de Ribeirão Preto como núcleo de povoamento faz parte de
O trabalho de estudo e levantamento do Quadrilátero Central de Ribeirão Preto[4] um conjunto de estratégias de incorporação de terras devolutas aos seus já am-
se apoia justamente no reconhecimento do valor do conjunto urbano, da pais- plos domínios, pelos grandes latifundiários paulistas do café do século XIX. Es-
agem cultural e da chamada “arquitetura menor”, frequentemente desconsid- tes lançavam mão da doação de terras à Igreja a fim de constituir os chamados
erada no rol de bens representativos do patrimônio oficial da cidade. patrimônios religiosos, glebas separadas de suas propriedades destinadas à con-
strução de uma capela a partir da qual se organizavam quadrículas urbanas cujos
As forças interessadas na preservação de alguma maneira não atuam
lotes seriam transferidos para os interessados em estabelecer moradia no povoa-
simplesmente movidas pelo valor histórico ou artístico do bem em
si, mas vinculam a ação de preservação a narrativas de afirmação do que então se delineava. O objetivo da formação destes núcleos de povoamento
de identidade. Mas as razões concretas que levam à seleção deste ou forjados pela vontade e iniciativa do fazendeiro era a valorização e o progresso de
daquele bem ou arquitetura, para lhe ‘outorgar’ mérito e valor suficiente suas terras com a possibilidade de atrair mais interessados em habitar e trabalhar
que justifique sua seleção entre os bens a serem preservados, variam e em áreas tão remotas como o oeste paulista[5]. Ainda que o intento de valorização
se ajustam às circunstâncias (ZEIN; MARCO, 2008, p.4). e progresso de terras tenha sido alcançado em um relativamente curto período
de tempo, o acesso a essa nova fronteira era ainda precário. Referindo-se às áreas
Outra filiação que poderia ser incorporada ao trabalho em questão seria o de “pat-
de avanço do café no estado de São Paulo, Guirardello mostra que “não havia
rimônio modesto”:
profissionalização na empreita de abrir e manter estradas; a tarefa de abertura de
caminhos e picadas, bem como sua manutenção, era confiada pelo governo aos
En términos conceptuales, este patrimonio puede definirse como el
conjunto de aquellos bienes urbanos característicos de cada urbe, inspetores de estradas da província” (GUIRARDELLO, 2010, p.44).
principalmente las viviendas de pequeña y mediana escala que

[4]  “AQC: Área Especial do Quadrilátero Central, que abrange a área urbana situada
entre as avenidas Nove de Julho, Independência, Francisco Junqueira e Jerônimo [5]  Uma primeira e importante característica destes povoados, portanto, é sua origem
Gonçalves, a qual será objeto de programa de reestruturação e requalificação urbana” não espontânea nem naturalmente criada por influências diversas como foi o caso das
(PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO, 2007). cidades mineiras do ciclo do ouro (MG).

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Seguindo esse padrão de fundação que representou a origem de grande parte dos às ruas do centro da cidade: rua Coronel Américo Baptista da Costa, fazendeiro,
dos atuais núcleos urbanos do interior do estado de São Paulo, Ribeirão Preto viu proprietário das fazendas Tambaú, Bela Aurora, Boa Vista e Lageado e ainda a rua
nascer sua área urbana por volta de 1845: Coronel Luiz da Cunha, também um ilustre fazendeiro do século XIX, entre outros.
O título de coronel que figurava antes de seus nomes significava a láurea pelo
José Mateus dos Reis, dono da maior parte da Fazenda das Palmeiras, poder alcançado que se concretizava com sua incorporação à Guarda Nacional[7].
fez a primeira doação de terras no valor de 40 mil reis, com a condição
de no terreno ser levantada uma capela em louvor a São Sebastião
A regulamentação fundiária levada a cabo pela Lei de Terras e a normatização de
das Palmeiras. Em 2 de novembro de 1845, no bairro das Palmeiras,
um desenho urbano voltado ao ordenamento e saneamento da cidade em meados
era fincada uma cruz de madeira como tentativa de demarcação de
um patrimônio para a futura capela de São Sebastião [...] Com esta, do século XIX no Brasil não podem ser entendidos como fenômenos distintos dos
surgiram outras doações objetivando ampliar o patrimônio da capela, agenciamentos urbanos embasados pelas formulações teóricas e científicas pro-
doações que foram anexadas à primeira feitas por José Alves da Silva venientes de pensadores e cientistas europeus da época[8]. O modelo de um poder
(4 alqueires), Miguel Bezerra dos Reis (2 alqueires), Antônio Bezerra burguês, baseado na sua exuberância econômica, que aliado eventualmente a um
Cavalcanti (12 alqueires), Alexandre Antunes Maciel (2 alqueires), poder instituído, a monarquia constitucional, toma as rédeas da história, serve
Mateus José dos Reis (2 alqueires), Luís Gonçalves Barbosa (1 alqueire) e
Mariano Pedroso de Almeida (CIONE, 1996).
[7]  “A Guarda Nacional era recrutada entre os cidadãos com renda anual superior a
200 mil réis, nas grandes cidades, e 100 mil réis nas demais regiões. Era vista por seus
O grupo de fazendeiros que a historiografia local[6] elege como fundadores idealizadores como o instrumento apto para a garantia da segurança e da ordem, vale
da cidade faz parte de um elenco de figuras notórias no cenário político e dizer, para a manutenção do espaço da liberdade entre os limites da tirania e da anarquia.
econômico do início do século XX, os ฀coronéis do café฀. O poder econômico Tinha como finalidade defender a Constituição, a liberdade, a independência e a integridade
do Império, mantendo a obediência às leis, conservando a ordem e a tranquilidade
advindo da lavoura cafeeira ligava-se intimamente à obtenção de ampla influência
pública. (...) Tudo isto no período em que o Brasil era o Império do Café, mesmo quando o
política, tanto na esfera municipal quanto na federal.
processo econômico brasileiro se desenvolvia nas condições de economia incipiente nos
moldes de um capitalismo tardio, com traços coloniais, dependente e mercantilista, ainda
O Partido Republicano Paulista (PRP) núcleo político representativo dos grandes que no século XIX o mercantilismo já tivesse sido superado como modelo internacional,
produtores de café do estado de São Paulo no século XIX, tinha como um de seus os pequenos e médios cafeicultores coexistiam, agiam e interagiam no tão afamado
principais projetos políticos o aumento da autonomia municipal das cidades onde mundo das grandes propriedades, formando neste caso um contingente com poder
sua influência se espraiava. Fortalecendo a base regional através da autonomia político e econômico. Pois fazendo parte ativa dos Corpos da Guarda Nacional se viam
como verdadeiros baluartes da independência e a integridade do Império e braço de Sua
política municipal obtinha-se a possibilidade de negociar diretamente com o gov-
Majestade Imperial Defensor Perpétuo do Brasil.” (SOARES, 2011, p. 17).
erno federal preços e medidas favoráveis aos cafeicultores e à região onde suas
[8]  Nesse sentido, as reflexões foucaultianas a respeito do nascimento da medicina
propriedades se localizavam. O coronel do café era bem mais que o promotor do social (capítulo homônimo da sua obra “Microfísica do poder”) ao longo dos séculos
desenvolvimento econômico da região por ele influenciada. No caso de Ribeirão XVIII e XIX esclarecem e contextualizam o quadro brasileiro. Essa reflexão parece
Preto a presença da categoria se manifestava, por exemplo, através dos nomes da- guardar estreita relação com as estratégias políticas usadas no contexto histórico
descrito neste trabalho. “As técnicas de controle do meio e os dispositivos disciplinares
produzidos a partir do saber médico subsidiaram a idealização de espaços modelares e
[6]  Cione (1996), Lages (1996), Faria (2003) e Silva (2006), entre outros. corretivos por homens do século XIX” (CORREIA, 2004, p.25).

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tanto à Europa como ao Brasil. Tal burguesia, rebatizada aqui de “aristocracia rural Quadrilátero Central de Ribeirão Preto, delimitada a norte e a oeste pelos cór-
paulista”, demanda, promove e financia a nossa “revolução industrial”. regos Retiro Saudoso e Ribeirão Preto, respectivamente. Sua relevância, portanto,
se afirma não só pela ocorrência de exemplares da arquitetura eclética e neoco-
Lideranças políticas da região de Ribeirão Preto – leia-se burguesia cafeicultura e lonial regional, mas pela originalidade do traçado urbano e perfil das calhas do
personalidades lotadas em cargos públicos a ela ligadas – diante da precariedade sistema viário (fachada, calçadas e ruas) mantidos intactos até hoje, sem planos de
dos meios de transporte e escoamento da produção de café das longínquas fazen- alargamentos, retificações e modernizações que o descaracterizassem.
das do oeste paulista, à época realizado em tropas conduzidas por animais, mo-
bilizaram-se a fim de pressionar o Estado na busca de soluções para o problema. O projeto de atividade pedagógica de reconhecimento
Esta ação dava continuidade ao movimento de expansão de ferrovias no estado,
cujo resultado foi a formação de uma malha ferroviária significativa que se irradia-
histórico-arquitetônico do Quadrilátero Central
va por toda a região oeste do estado de São Paulo e cujo traçado seguia a lógica A área de estudo do Quadrilátero Central refere-se aos três primeiros momentos
do escoamento da produção agrícola convergindo à cidade de São Paulo de onde da formação urbana ribeirão-pretana. O primeiro, dentre o final do século XIX até
o café descia ao porto de Santos. a década de 1920 - marcado pela chegada de imigrantes e da crescente economia
cafeeira - que deu origem ao núcleo urbano entorno da atual Praça XV de Novem-
O tráfego gerado nos cruzamentos e entroncamentos de ferrovias
bro. Em seguida, dentre as décadas de 20 e 40, quando a crise do café afetou con-
estimulariam o comércio local, criando áreas de influência que
excederiam os limites municipais e, com o passar do tempo, criariam sideravelmente o crescimento populacional e as habitações de alta renda deslo-
necessidades de estabelecimento de postos de administração pública, caram-se para o sul do núcleo original. E, finalmente, entre as décadas de 40 e 60,
bancos e hospitais (LUZ, 2006, p. 54). quando a região central passa a ser ocupada predominantemente pelo comércio
popular e as habitações de elite passam a ocupar os bairros ao sul do município
No caso de Ribeirão Preto esse desenvolvimento trazido pelo trem se potencializa (CALIL JR, 2003; FIGUEIRA, 2013).
e encontra condições mais favoráveis pela criação de um projeto de arruamento
produzido pelo fabriqueiro[9] Manoel Fernandes do Nascimento (SILVA, 2006) cuja
característica mais evidente é o desenho em tabuleiro de xadrez, um padrão bas-
tante utilizado em colônias e possessões da América portuguesa e espanhola des-
de o século XVIII. Núcleo original e formador da futura cidade, inclusive abrigando
a capela, sede da Fábrica da Matriz[10], nasce assim a área hoje conhecida como conjunto das doações de terras e valores pecuniários dos fazendeiros da região.
O termo “condomínio” não seria equivocado no caso por se tratar de um espaço
compartilhado entre proprietários privados e sobre o qual tem poderes e direitos
[9]  “Fabriqueiro: nome dado ao administrador das capelas e das “fabricas”, como limitados, atribuídos, no caso ao “fabriqueiro”, espécie de “síndico” desse patrimônio
eram chamadas todas as fontes de renda da Igreja, como as porções de terras que condominial constituído. Cabe acrescentar ainda que a administração cadastral,
constituíam o patrimônio do santo, engenhos, prédios, etc.” (VALADÃO, 1998 apud civil e penal desse espaço era delegada à Igreja Católica representada pelo pároco
SILVA, 2006, P.61). local, devidamente instalado na capela matriz do povoado e que junto do fabriqueiro
[10]  O termo “Fábrica da Matriz” significa o conjunto de bens e espaços de caráter condensava e dava corpo aos poderes executivo, legislativo e judiciário (ainda o
supra-privado, ainda incipiente para se chamar de “público” caracterizado pelo espiritual) da região.

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O “prestígio social” representado pelas casas e instituições localizadas no


Quadrilátero Central foi duramente abalado pela desativação, em 1967, da es-
tação ferroviária da Companhia Mogyana situada à Av. Francisco Junqueira, em
cujo terreno foi construída a atual rodoviária. Embora o traçado urbano original
não tenha sofrido alterações significativas, as edificações remanescentes dos três
períodos em questão, quando não abandonadas, foram bastante modificadas e,
em muitos casos, descaracterizadas, mas ainda assim identificam-se elementos
que atestam diferentes períodos, materiais, técnicas, usos e, portanto, a dinâmica
à qual está sujeita a arquitetura, como por exemplo, ornamentos, esquadrias, tel-
hados e platibandas que se superpõem como verdadeiros palimpsestos (Figura 2).

Figura 2. Elementos arquitetônicos de diferentes períodos se sobrepõem nas fachadas de vários


imóveis do Quadrilátero Central. Fonte: autores.

No que se refere aos imóveis tombados, a maioria é produto do ecletismo, o es-


tilo preterido pelos grandes fazendeiros do café. A classe média, na medida do
possível, imitava as fachadas e a organização tripartida do interior das residências
burguesas, movida pelo desejo de se adequar aos novos modos de morar ensina-
dos pela República. Embora as residências da classe média, dotadas de ambientes
destinados a atividades comerciais, representem um maior número de imóveis
Figura 1. Delimitação dos três períodos de formação do Quadrilátero Central e fotografias construídos até os anos 30, são os monumentos públicos e os palacetes os princi-
da década de 1900, em sentido horário, da Praça XV de Novembro, Antiga Matriz, Praça das pais representantes do atual patrimônio tombado da cidade: 35 foram tombados,
Bandeiras/ Nova Matriz, Rua da Estação e Estação ferroviária. Fonte: autores a partir do mapa do
Google Earth e fotografias do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto.

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sendo 28 em nível municipal (Conppac[11]), 6 em nível estadual (Condephaat[12]) e 1


em nível municipal e estadual, conforme o mapa reproduzido na Figura 3. Instru-
mento legal esse que não só é insuficiente para efetivar medidas de preservação
histórico-arquitetônica como também reforça a aderência a critérios de monu-
mentalidade e excepcional valor artístico na seleção de tais bens como patrimônio
oficial de Ribeirão Preto.

Figura 3. Mapeamento dos bens tombados na área do Quadrilátero Central de Ribeirão Preto.
Fonte: mapa elaborado pelos autores a partir do levantamento feito por Flávia Villas Boas[13].

[11]  Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de


Ribeirão Preto.
[12]  Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do [13]  VILAS BOAS, Flavia Fernanda Segismundo. Fragmentos Patrimoniais: Percursos pela
Estado de São Paulo história de Ribeirão Preto. 2015. Trabalho Final de Graduação (Orientadora: Me. Ana

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Cientes do descolamento entre as políticas patrimoniais de Ribeirão Preto e as dis- levantamento fotográfico; cadastramento dos imóveis de interesse e formulação
cussões nacionais e internacionais, especificamente no que se refere à ampliação de banco de dados.
do valor do edifício isolado em favor do valor de conjunto, chegando à noção re-
cente de paisagem cultural, desenvolvemos o projeto “Levantamento histórico-pat- De fevereiro de 2016 a julho de 2017, foram realizadas as duas primeiras etapas
rimonial do Quadrilátero Central de Ribeirão Preto (SP)”, coordenado pelos docentes no âmbito do Escritório Modelo. Durante o primeiro semestre de 2016, dez gru-
autores deste artigo, no âmbito do Escritório Modelo do Curso de Arquitetura e pos, com três participantes cada, fizeram uma varredura fotográfica de todos
Urbanismo do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto. Transformado hoje os 187 quarteirões que compõem o Quadrilátero Central. Dividiu-se a área pelo
em projeto de extensão, seu propósito é reconhecer e documentar imóveis de número de equipes e cada uma delas realizou a captação de imagens referentes
interesse histórico-arquitetônico inseridos na área em questão. aos trechos de ruas das respectivas subáreas.

O Quadrilátero Central concentra uma quantidade significativa de edifícios que at- Na segunda etapa, desenvolvida de agosto de 2016 a julho de 2017, deu-se início
esta o processo de formação e transformação urbana de Ribeirão Preto. Inseri-los à seleção dos imóveis de potencial interesse histórico e arquitetônico para que os
em estilos históricos específicos seria, porventura, muito restritivo por terem sido mesmos fossem cadastrados em fichas específicas. Desta vez, estiveram envolvi-
modificados ao longo dos anos, garantindo-lhes usos diversos. Ainda que não doc- dos 23 alunos que, a partir dos levantamentos fotográficos das subáreas previa-
umentadas, as alterações pontuais ou as reformas desses edifícios respondem à mente realizados, identificaram, junto aos professores coordenadores, os imóveis
dinâmica inerente à arquitetura, sobretudo nas áreas centrais. O reconhecimen- com características morfológicas e estéticas indicativas de sua antiguidade ou
to dos estratos sobrepostos que pudessem periodizar tais modificações só seria relevância arquitetônica. Platibandas, esquadrias, ornamentos, volumetrias e es-
possível se realizados estudos diagnósticos próprios do campo do restauro e da quemas de composição de fachada foram alguns dos elementos analisados que
conservação arquitetônica. pautaram esse longo processo de reconhecimento. Muitas edificações foram con-
tinuamente modificadas ao longo dos anos, por isso, tivemos o cuidado de nos
Este projeto, por sua vez, partiu do reconhecimento do conjunto de edificações atentar a elementos pontuais e não apenas ao conjunto da arquitetura, por vezes
construídas no Quadrilátero Central para que, posteriormente, fossem identifica- já descaracterizado. Em alguns casos, no entanto, a acentuada descaracterização
dos aspectos formais e materiais de interesse histórico, artístico e arquitetônico. de formas, volumetrias e ornamentações originais não justificava tal inclusão.
Por meio deste exercício, os alunos foram instigados (e ensinados) a olhar para as
edificações existentes, independentemente de tipologias ou datações. Com um total de 353 edificações consideradas de interesse patrimonial, foram
elaboradas Fichas Cadastrais de cada uma delas como forma de sistematizar e
O desafio de ensinar aos alunos a olhar para a arquitetura (antiga ou recente) padronizar as informações colhidas, fazendo uso do modelo utilizado pelo IPHAN
pressupunha a adoção de uma metodologia de levantamento que garantisse o para o Inventário Nacional de Referências Culturais. Foram registrados em tais
alinhamento dos dados coletados. Para tanto, o projeto foi dividido em três etapas: fichas dados referentes à localização, grau de proteção (se existente) e fotografias.
A partir da relação de endereços, foram solicitadas as Folhas de Informação dos
Imóveis junto à Seção de Informações Cadastrais da Secretaria de Planejamento
Teresa Cirigliano Villela). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Centro Universitário e Gestão Pública da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto. Por meio desse doc-
Estácio de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, 2015.

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umento, seria possível verificar os números dos processos concernentes a cada


edificação conservados no Arquivo Público e Histórico. As Folhas de Informação
foram então escaneadas e arquivadas junto às fichas de cadastramento produzi-
das para que pudessem ser consultadas posteriormente[14].

Encerradas as atividades no âmbito do Escritório Modelo, deu-se continuidade ao


trabalho como projeto de extensão universitária, iniciada em outubro de 2017[15].
Todo o material foi revisado e os imóveis inseridos em um mapa em plataforma
CAD (Figura 4), a partir do qual foi possível conferir e identificar possíveis lacunas
nos levantamentos. Tal conferência encontra-se hoje em andamento e, ao ser con-
cluída, daremos início à terceira etapa, de coleta de informações para composição
do banco de dados.

Figura 4. Imóveis de interesse histórico-arquitetônico levantados no Quadrilátero Central de


[14]  Devido à grande quantidade de fichas produzidas, para facilitar a consulta ao Ribeirão Preto (as cores indicam cada uma das 10 subáreas nas quais a área foi dividida para
banco de dados em construção, manteve-se a divisão do território estudado em 10 efeito de estudo). Fonte: autores.
subáreas.
[15]  Participam as alunas Leticia Baptista Fiacadori, Livia Vilela Mendonça Amorim, Tainah
Mogno Melchior dos Reis, Talita Elioenara de Oliveira e Vanessa Pereira Laredo.

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O banco de dados será composto dos documentos de cada um dos imóveis con- tombamento, sem sequer serem consultadas as fontes primárias. O reconheci-
stantes no Arquivo Público e Histórico para que possam ser identificados e docu- mento do objeto histórico tem sido restrito à descrição de elementos compositi-
mentados projetos arquitetônicos originais e de reforma. Por meio desse proces- vos da arquitetura associada às (escassas) informações acerca dos proprietários
so documentação, será possível reconhecer cronologias histórico-arquitetônicas, e usos originais. A fragilidade desse reconhecimento se manifesta no hiato exis-
aspectos materiais, técnicas construtivas e assim conhecer o patrimônio não-ofi- tente entre o reconhecimento preliminar e os projetos de restauro e conservação,
cial da cidade de Ribeirão Preto. Sabe-se de antemão que muitos desses projetos já que estudos direcionados à investigação da matéria arquitetônica em si acabam
foram perdidos ou nunca constaram nos arquivos oficiais, o que também será um suprimidos por um rol de dados restrito e nem sempre utilizado.
dado importante acerca do controle e aprovação das construções empreendidas
na região central e seus rebatimentos com as normas impostas pelos Códigos de Embora projetos e obras de restauro de edifícios históricos no Quadrilátero Cen-
Posturas e Códigos Sanitários no início do século XX. tral de Ribeirão Preto sejam raros, sobretudo em bens não tombados, o trato
desses objetos no âmbito acadêmico tem sido motivo de interesse crescente den-
A constituição de um banco de dados a partir de informações primárias é um tre os alunos das faculdades de Arquitetura e Urbanismo da cidade. O volume de
trabalho extenso e que demanda o engajamento de professores e alunos. O trabalhos finais de graduação com propostas de intervenções em bens tombados
desenvolvimento de atividades paralelas à sala de aula, ainda que não superada – em geral, intitulados, equivocadamente, de “restauro” ou “restauração” – é cres-
a totalidade das dificuldades enfrentadas, propicia o diálogo com as pré-existên- cente, mas, em sua maioria, suprimem os necessários levantamentos documen-
cias - sejam elas antigas ou recentes, históricas ou não –, frequentes no campo tais, métricos e fotográficos, essenciais à abordagem crítica do exercício projetual.
profissional. Parece prevalecer o desejo de se construir anexos e impor novas espacialidades e
morfologias, condicionando o valor da pré-existência ao valor da novidade. O an-
Acerca dos resultados parciais e seus rebatimentos no seio por adiantar a etapa projetual - como se os levantamentos não integrassem

ambiente acadêmico o projeto – faz do objeto histórico-arquitetônico mero cenário ao gesto e ao gosto
do aluno a se formar. Hotel Brasil, Palacete Camilo de Matos, Palacete Jorge Lo-
A disparidade entre o número e, sobretudo, dos critérios utilizados para seleção bato, Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP), Palacete Albino de Camargo e Bib-
dos imóveis tombados e aqueles identificados como dotados de valor histórico lioteca Altino Arantes são alguns dos patrimônios tombados que mais despertam
durante o trabalho de reconhecimento do Quadrilátero Central denuncia a frágil o interesse desses alunos, inclusive no âmbito das disciplinas de Técnicas Retro-
relação entre o conjunto urbano e as edificações em si, entendidas ainda hoje spectivas. O levantamento documental se apoia então nas (escassas) fotografias e
como monumentos isolados. Exceções como a Rua José Bonifácio e o chamado nos projetos (quando existentes) disponibilizados pelo Arquivo Público e Histórico
Quarteirão Paulista, tombados na categoria Conjuntos e Sítios Urbanos respec- de Ribeirão Preto. O “reconhecimento” histórico, por sua vez, reproduz o que con-
tivamente pelo Conppac e pelo Condephaat, no entanto, somam imóveis densa- tam historiadores e memorialistas locais.
mente descaracterizados, quando não em ruínas. A máxima “conhecer para preser-
var” parece também se limitar a uma certa quantidade de informações históricas A preferência repetitiva por esses imóveis parece atestar o senso comum de que

sobre os bens arquitetônicos que integram o patrimônio oficial da cidade, escritas apenas os bens tombados constituem o patrimônio da cidade, reforçando-se

e re-escritas em livros, jornais, revistas, sites, trabalhos acadêmicos e dossiês de assim a pertinência do desenvolvimento do projeto de extensão aqui relatado.

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Para os estudantes, é difícil entender que as “arquiteturas menores”, embora


não integrem o patrimônio oficial urbano, possam ser igualmente objetos históri- Referências
cos. Desconhecem-se, pois, os imóveis produzidos por “anônimos” - mestres-de-
CALIL JR, Osório. O centro de Ribeirão Preto: os processos de expansão e setorização.
obras, pedreiros e práticos-licenciados - muitas vezes inseridos nos perímetros
2003. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – EESC, USP, São Car-
de proteção dos bens tombados. Ainda que contemporânea a esses, por não ser
los.
dotada da mesma monumentalidade e estar relacionada a personagens locais
ilustres, a produção da arquitetura popular foi completamente esquecida das dis-
CARTA de Brasília. Brasília: sn, 1995. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/up-
cussões acerca da preservação patrimonial no centro de Ribeirão Preto.
loads/ckfinder/arquivos/Carta%20Brasilia%201995.pdf. Acesso em: 17 abr. 2018.

Além disso, com base na Carta de Brasília de 1995 podemos sugerir que a vali-
CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Ed. UNESP, 2001.
dação de um lugar, um edifício ou um conjunto arquitetônico como patrimônio
histórico vai além da mera identificação desse objeto como obra de arte em si, na
CIONE, Rubem. História de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: IMAG/Legis Summa,
acepção brandiana do termo[16]. Sua valoração deve advir do significado que tal
1996. 5 vol.
materialidade assume para a comunidade local: “os edifícios e sítios são objetos
materiais portadores de uma mensagem ou argumento cujo valor se estabelece
CORREIA, Telma de Barros. A construção do habitat moderno no Brasil, 1870-1950.
pelo fato de serem marcos de um contexto social e cultural determinado e sua
São Carlos: RiMa, 2004.
compreensão e aceitação por parte da comunidade local os converte em patrimô-
nio” (Carta de Brasília, 1995, p. 2). FARIA, Rodrigo Santos. Ribeirão Preto, uma cidade em construção (1805-1930). O
moderno discurso da higiene, beleza e disciplina. 2003. Dissertação (Mestrado em
Grande parte dos imóveis identificados nesse trabalho são residências particu-
História) - IFCH, Unicamp, Campinas.
lares construídas pelos próprios moradores, salvo exceções, sem a participação
de arquitetos ou engenheiros com formação acadêmica. Não se trata de edifícios FIGUEIRA, Tânia Maria Bulhões. Produção social da cidade contemporânea: análise
públicos ou comerciais de grande porte ao gosto eclético sofisticado. Como campo dos condomínios urbanísticos e loteamentos fechados de alto padrão do Subsetor Sul
experimental, o levantamento do Quadrilátero Central abrirá um leque de possib- de Ribeirão Preto/SP. 2013. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) –
ilidades para a leitura do espaço urbano e da produção arquitetônica de Ribeirão IAU, USP, São Carlos.
Preto desde o final do século XIX aos dias atuais.
FIUZA, Juscélia; PETENUSCI, Marcela C.; Plano de Diretrizes Urbanas para o Centro
Histórico do distrito de Bonfim Paulista – Ribeirão Preto (SP). Ribeirão Preto: Fundação
Alphaville; Secretaria Municipal de Cultura de Ribeirão Preto, 2012.
[16]  Cesare Brandi (1906-1988) - crítico, professor e historiador da arte para quem a obra
de arte seria todo produto especial da atividade humana que a distingue do comum dos
outros produtos. GHIRARDELLO, Nilson. A formação dos patrimônios religiosos no processo de ex-
pansão urbana paulista. São Paulo: Editora UNESP, 2010.

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GIOVANNONI, Gustavo. Gustavo Giovannoni: Textos escolhidos. Tradução de Renata Sánchez, Lorena Marina; Cacopardo, Fernando Alfonso. Tandil y Mar del Plata dos
Campello Cabral, Carlos Roberto M. de Andrade, Beatriz Mugayar Kühl. Cotia, SP: historias, dos ciudades, dos tipos de patrimonio modesto. Portal Vitruvius. Arquitex-
Ateliê Editorial, 2013. ano 12, mai 2012. Disponível em: < http://www.vitru-
tos N.144.03,
vius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.144/4342 >. Acesso em
HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2001. 16/04/2018.

______________ . A Era do Capital 1848-1875. São Paulo: Paz e Terra, 1987. SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE RIBEIRÃO PRETO. Filhos do Café - Ribeirão
Preto da terra roxa - tradicional em ser moderna. Curadoria Histórica do Museu do
ICOMOS. Carta de Veneza – Carta para a Conservação e Restauração de Monumentos Café. Ribeirão Preto (SP). Fundação Instituto do Livro, 2010.
e Sítios (1964). Veneza: ICOMOS, 1964. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/.
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racão. Ribeirão Preto, SP: Editora COC, 2006.
KÜHL, Beatriz Mugayar. A preservação do patrimônio Arquitetônico. Problemas teóri-
cos de restauro. São Paulo: Ateliê editorial/FAPESP, 2008. Soares, Julio Cesar Fidelis. As unidades da Guarda Nacional sediada em Resende no
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MORAIS, Marcelo de. As vilas ferroviárias paulistas: arquitetura e as relações urbanas


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tura Municipal, Secretaria da Cultura, Rede de Cooperação Identidades Culturais,
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