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Composição de custos

Identificação dos serviços


O custo total de uma obra é fruto do custo orçado para cada um dos serviços
integrantes da obra. A origem da quantificação está na identificação dos serviços.

Levantamento de quantitativos
Cada serviço identificado deve ser quantificado. O levantamento de
quantitativos é um dos principais trabalhos do orçamentista. O levantamento de
quantitativos inclui cálculos baseados em dimensões precisas fornecidas no projeto
(volume de concreto armado, área de telhado, área de pintura, etc.) ou em alguma
estimativa (volume de escavação em solo, quando são dados perfis de sondagem,
por exemplo).

Custos Diretos
Os custos diretos são aqueles diretamente associados aos serviços dos
trabalhos em obra. Representam o custo orçado dos serviços levantados.
A unidade básica é a composição de custos, os quais podem ser unitários, ou
seja, identificados a uma unidade de serviço (quando ele é mensurável, por
exemplo: kg de armação, m3 de concreto) ou dado como verba (quando o serviço
não pode ser traduzido em uma unidade fisicamente mensurável, por exemplo:
paisagismo, sinalização).
Cada composição de custos unitários contém os insumos do serviço com
seus respectivos índices (quantidade de cada insumo requerida para a realização de
uma unidade do serviço) e valor (provenientes da cotação de preços e da aplicação
dos encargos sobre a hora-base do trabalhador).
A empresa pode usar composições de custos próprias obtidas pela
experiência e levantamento por meio de obras de igual dimensão já anteriormente
realizadas ou obtê-las em publicações especializadas, como a TCPO (Tabelas de
Composições de Preços para Orçamentos), da Editora PINI (TCPO, 2011), sendo
atualmente uma das publicações mais completas e difundidas no mercado da
Construção Civil.
Custos Indiretos
Os custos indiretos são aqueles que não estão diretamente associados aos
trabalhos de obra em si, mas que são necessários para que tais serviços possam
ser realizados. Nestes custos são dimensionadas as equipes técnicas (engenheiros,
mestres, encarregados), de apoio (almoxarife, apontador) e de suporte (secretária,
vigia), e identificadas às despesas gerais da obra (contas, materiais de escritório e
limpeza, etc.), mobilização e desmobilização do canteiro de obras, taxas e
emolumentos, entre outras despesas.

Cotação de preços
A cotação de preços consiste na coleta de preços dos fornecedores do
mercado para os diversos materiais da obra, tanto os que aparecem no custo direto,
quanto no custo indireto. É importante que esta etapa seja feita em seguida à
seleção das composições de custos, para que o orçamentista possa ter uma relação
completa de todos os materiais do orçamento.

Definição de encargos sociais e trabalhistas


Análise dos encargos sociais e trabalhistas, a serem aplicados à mão de obra
a ser utilizada na obra analisada. Envolvem os diversos impostos que incidem sobre
a hora trabalhada e os benefícios a que têm direito os trabalhadores e que são
pagos pelo empregador.

Determinação do preço

Definição da margem de lucro


Basea-se nas condições intrínsecas e extrínsecas da obra, o construtor define
a margem de lucro que deseja obter na obra em questão. Ele deve levar em conta
fatores como: concorrência, risco do empreendimento, necessidade de conquistar a
obra para imagem da empresa, etc. Aplicação do BDI (Benefícios e Despesas
Indiretas) sobre o preço do trabalho como taxa de majoração importante ao custo do
orçamento.
Ao analisar os conceitos fundamentais aqui apresentados, é importante
identificar que o propósito do orçamento não se resume à definição do custo da
obra. Ele tem uma abrangência maior, servindo de subsídio para outras aplicações,
tais como (MATTOS, 2006):

Levantamento dos materiais e serviços


A descrição e a quantificação dos materiais e serviços ajudam o construtor a
planejar as compras, identificar fornecedores, estudar formas de pagamento e
analisar metodologias executivas.

Obtenção de índices para acompanhamento


Com base nos índices de utilização de cada insumo (mão de obra,
equipamento, material), o construtor poderá realizar uma comparação entre o que
orçou e o que está efetivamente acontecendo na obra. Os índices servem também
como metas de desempenho para as equipes de campo.

Dimensionamento de equipes
A quantidade de homem-hora requerida para cada serviço serve para a
determinação da equipe. A partir do índice, determina-se o número de trabalhadores
para uma dada duração do serviço.

Capacidade de revisão de valores e índices


O orçamento pode ser facilmente recalculado a partir de novos preços de
insumos e índices de produção. Para isso, basta que os campos de valores sejam
alterados, pois todo o restante é produto de operações aritméticas simples.

Realização de simulações
Cenários alternativos de orçamento com diferentes metodologias construtivas,
produtividades, jornadas de trabalho, lucratividade, etc.

Geração de cronogramas físico e financeiro


O cronograma físico retrata a evolução dos serviços ao longo do tempo. O
cronograma financeiro quantifica mensalmente os custos e receitas desses mesmos
serviços – é a distribuição temporal dos valores.
Análise da viabilidade econômico-financeira
O balanço entre os custos e as receitas mensais fornece uma previsão da
situação financeira da obra ao longo dos meses.

MAPA DE TRABALHOS E QUANTIDADES

O Mapa de Trabalhos e Quantidades deve relacionar todos os serviços a


serem realizados. Em seguida, calcular as quantidades a serem executadas e seus
custos unitários (custo para executar uma unidade de cada serviço em questão).
Os produtos de quantidades por custos unitários fornecem os custos totais
parciais. A soma destes é o custo total do orçamento. Acrescendo-se o BDI,
obtemos o preço total do orçamento (o preço a ser apresentado ao cliente).
Assim, para o exemplo apresentado a seguir (CARDOSO, 2006):
1) Medição de quantidades
escavação = 1,2 x 1,2 x 1,2 = 1,728 m3 remoção de solo = 1,2 m3
compactação do fundo = 1x1 = 1 m2

fundo em concreto = 1 x 1 x 0,05 = 0,05 m3


alvenaria = (1 + 1 + 0,8 + 0,8) x 1,15 = 4,14 m2
reboco interno = 0,8 x 4 x 1,15 = 3,68 m2 grade = 1 m2
reaterro = 0,528 m3

2) Planilha de orçamento discriminado


Orçamento para execução de caixa de drenagem em alvenaria, dimensões
externas 1 x 1 x 1,2 m, rebocada internamente com grelha de aço d=¾”.

Item Serviço Unidade Quantidade Custo unitário Custo parcial

1. Movimento de solo

1.1 Escavação de solo com m3 1,728 15,00 25,92


escoramento
1.2 Apiloamento do fundo m2 1,00 8,00 8,00

1.3 Remoção de solo m3 1,20 5,00 6,00

1.4 Reaterro de solo m3 0,528 10,00 5,28

2. Fundo em concreto magro m3 0,05 120,00 6,00

3. Alvenaria de tijolos maciços, m3 4,14 22,30 92,22


e= 10 cm

4. Revestimento interno m2 – reboco


3,68
misto 14,00 51,52

5. Grade de aço, barra d=¾” m2 1,00 150,00 150,00

Subtotal 345,04

BDI 50% 172,52

Total 517,56

Os Mapas de Trabalhos e Quantidades devem ser apresentados:

• Dividindo os trabalhos (ou projeto) em capítulos;


• Para cada capítulo é necessário individualizar as tarefas;
• Conferir as tarefas. Verificar se estão todas consideradas (um
orçamento antigo semelhante pode ajudar);
• Medir quantidades sobre peças desenhadas definindo previamente a
unidade de medição.

PREÇO DE VENDA (UNITÁRIO) DE SERVIÇOS

O preço de venda de um serviço é o preço calculado por uma empresa para


venda do trabalho em questão.
No estudo do preço de venda devem ser nsiderados os custos da empresa
para a execução do trabalho. Estes custos são definidos por meio de composições
unitárias de custos de serviços.
Para o cálculo de preços de venda deve- se criar a decomposição em
capítulos de um mapa de trabalhos, conforme o exemplo a seguir um edifício
corrente:
Capítulo 1 - Demolições
Capítulo 2 - Terraplanagem
Capítulo 3 - Fundações e estruturas
Capítulo 4 - Construção civil
4.1 - Alvenarias
4.2 - Revestimento exterior - fachadas
4.3 - Revestimento interior - tetos
4.4 - Revestimento interior - paredes
4.5 - Revestimento interior - pavimentos
4.6 - Coberturas e impermeabilizações
4.7 - Carpintaria
4.8 - Serralharia
4.9 - Pinturas
4.10 - Vidros
4.11 - Diversos

Capítulo 5 - Instalações Hidráulicas


Capítulo 6 - Instalações Elétricas
Capítulo 7 - Instalações de Ar-condicionado
Capítulo 8 - Instalações de Gás
Capítulo 9 - Elevadores

Composições unitárias de custos de serviços

As composições unitárias de custos são as "fórmulas" de cálculo dos custos


unitários nos orçamentos discriminados. Cada composição consiste das quantidades
individuais do grupo de insumos (material, mão de obra e equipamentos)
necessários para a execução de uma unidade de um serviço.
Exemplos:
Para a execução de escavação de solo para vigas de fundação, o único
insumo é a mão de obra (servente), sendo estimado um consumo de quatro horas
para cada m3 escavado.
Escavação de solo normal, até 3,0 m de profundidade – m2

TABELA

Item Descrição Quantidade Custo unitário Custo


(função) unitária parcial

1 Servente 4,00 h 5,60/h R$ 22,40

Total R$ 22,40

O custo unitário do serviço é obtido multiplicando-se a quantidade empregada


do insumo por seu custo respectivo. No caso apresentado, o valor da hora é de R$
2,00.
Acrescendo-se os percentuais de Leis Sociais, considerados como 180%, o
preço do insumo "Servente" é de R$ 5,60/h e o preço do serviço "Escavação" é de
R$ 22,40/m3.
A execução da armadura de uma viga, em aço CA-50 de 12,5mm, envolve os
seguintes insumos, já incluídas as perdas nas quantidades unitárias:

TABELA - ARMADURA CA-50, 12,5 MM – KG

Item Descrição Quantidade Custo Custo


unitária unitário parcial
1 Aço CA-50, 12,5 mm 1,05 kg 3,00/kg 3,15

2 Arame recozido 0,02 kg 7,00/kg 0,14

3 Armador 0,10 h 8,40/h 0,84

4 Servente 0,10 h 5,60/h 0,56

Total : R$ 4,69
Da mesma forma, os percentuais de Leis Sociais estão embutidos nos custos
de mão de obra. Não é necessário que seja assim, podendo-se calcular em
separado, acrescendo-se como um subtotal.
O valor adotado depende de vários fatores, principalmente da legislação
vigente na data e nas condições particulares da empresa (rotatividade, horas extras,
índice de ações trabalhistas, etc.).
Para estes dois exemplos, o valor calculado é o custo, válido genericamente,
para obras comuns. Contudo, em cada caso, devem ser verificados aspectos
singulares, tais como: local da obra (transporte), horário e condições de trabalho
(horas extras, periculosidade, insalubridade). Além disso, devem ser acrescidos os
custos não discriminados e o lucro desejado (BDI) (SILVA, 2006).

Obtenção das composições

As composições de custos podem ser obtidas de várias fontes. A melhor


forma é o levantamento direto nas próprias obras, verificando-se o consumo de
acordo com a produtividade da mão de obra local e nas condições técnicas em que
se produz. Porém, pela quantidade de trabalho envolvido, geralmente no início das
composições são obtidas por meio de referências em publicações.
A utilização indiscriminada, porém, é perigosa, pois os coeficientes foram
determinados em locais distintos, e não há garantias de que sejam adequados para
as condições das nossas obras. Por exemplo, uma publicação editada em São
Paulo, há trinta anos, evidentemente deve refletir condições muito diferentes das
encontradas nos dias de hoje. Outra forma de obtenção de composições é o cálculo
direto, para o qual se apresentam dois casos:

Argamassa para alvenaria (1:2:9) - m3:

a) Materiais - traço em volume, considerando os pesos específicos: o volume


para cada parcela do traço é: 1 m3 / (1+2+9) = 0,083333 m3
a1) cimento (1600 kg/m3): 0,83333 x 1600 = 133,3333 kg
a2) cal hidratada (1030 kg/m3): 0,83333 x 2 x 1030 = 171,6666 kg
a3) areia: 0,83333 x 9 = 0,75 m3
a4) perdas: assume-se perda média de 10% nos materiais

b) Mão de obra: estimada (ou medida na obra) em 10h/m3.

c) Betoneira: tempo ocupado estimado (ou medido na obra) em 4 h.

TABELA - ARGAMASSA PARA ALVENARIA (1:2:9) – M3

Item Descrição Quantidade Custo Custo


unitária unitário parcial

1 Cimento 133,33 kg * 1,10 0,32/kg 46,93

2 Cal hidratada 171,67 kg * 1,10 0,28/kg 52,87

3 Areia média 0,75 m3 * 1,10 35,00/m3 28,88

4 Betoneira 500 litros 0,50 dia 20,00/dia 10,00


(aluguel)

5 Servente 10,00 h 5,60/h 56,00

Total : R$
194,68

Alvenaria de tijolos furados (6 furos, 10x15x20), 10 cm de largura – m2, para


revestir:

Quantidade de tijolos

• tijolos em um metro quadrado: 1/0,16 x 1/0,21 = 29,76 un;


• àrea ocupada pelos tijolos: 29,76 x 0,15 x 0,20 = 0,89 m2;
• volume de argamassa: (1-0,89) x 0,10 = 0,0107 m3;
• perdas: assume-se perda média de 10% nos materiais.

Mão de obra: estimada 1m 1,6h de pedreiro e 0,8h de servente (estes valores


são tradicionalmente empregados)
TABELA - ALVENARIA DE TIJOLOS FURADOS (6 FUROS, 10X15X20), 10
CM DE LARGURA – M2
Item Descrição Quantidade Custo Custo
unitária unitário parcial

1 Tijolos 29,76 un * 1.10 0,28/un 9,17

2 Argamassa 1:2:9 0,0107 m3 * 1,10 194,68/m3 2,29

3 Pedreiro 1,60 h 7,80 /h 12,46

4 Servente 0,80 h 5,60/h 4,48

Total : R$ 28,42

É importante entender que a montagem da composição deve ser coerente


com o critério adotado para a medição de serviços, para que se saiba o que está
incluído e o que não está nos valores resultantes da composição de custos.
Embora os preços possam ser obtidos de listas, do tipo publicado
periodicamente em revistas ou fornecido por contrato (mediante assinatura), para a
execução da obra é necessário obter-se as composições de custos, propriamente
ditas, para que seja possível realizar a aquisição de materiais, contratação da mão
de obra ou de serviços subempreitados e o controle geral da obra.

REALIZAÇÃO DE ORÇAMENTOS
Para a realização de orçamentos é necessário organizar os elementos
identificados no estudo, geralmente compostos pelas seguintes etapas:
• Recebimento do conjunto de documentos e informações
complementares (prazo, condições de execução, entre outros);
• Análise preliminar dos documentos e busca de esclarecimentos ou
detalhes para elementos sobre os quais há dúvidas;
• Identificação dos itens e discriminação orçamentária preliminar dos
serviços;
• Quantificação (medição em obra ou por meio de projetos);
• Lançamento em sistema informatizado e/ou busca das composições;
• Listagem e cotação de materiais, mão de obra e serviços
subempreitados;
• Lançamento dos custos, análise de BDI, análises de prazos e
viabilidade; ajustes finais;
• Fechamento do orçamento, redação das condições da proposta ou
minuta do contrato.

Regras gerais para execução de orçamentos:

• Definir claramente as necessidades;


• Saber o que se compra, para que fim e onde comprar;
• Planejar as despesas;
• Organizar os documentos de despesa de forma funcional;
• Evitar desperdícios.

Um orçamento deve conter:

• Apresentação da empresa;
• Quadro técnico;
• Memória descritiva;
• Relatório fotográfico;
• Mapa de Trabalhos e Quantidades;
• Descrição dos serviços oferecidos;
• Planilha de custos;
• Cronograma de execução;
• Prazo de entrega;
• Validade da proposta;
• Fichas técnicas dos produtos mais relevantes.

Nos casos em que o orçamento não seja gratuito, o profissional deve informar
sempre ao consumidor previamente do valor do seu custo, a não informação
condiciona a não obrigatoriedade de recebimento por este serviço.
Normalmente não é prática usual na construção civil o pagamento pela
realização de um orçamento, mesmo que seja preciso realizar um estudo técnico
que pode corresponder a muitas horas de trabalho.
Esta prática caracteriza o risco que existe por parte das empresas de
construção civil, que muitas vezes dedicam parte de seu tempo na criação de um
orçamento técnico, que mostra o perfil técnico e profissional da empresa, sem a
certeza de que terá sucesso.

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