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Revista Concilium, Vol.

22, Nº 6
DOI: 10.53660/CLM-567-646
ISSN: 1414-7327

Prevenção do Desmame Precoce: Importância da atuação dos


profissionais de Enfermagem
Prevention of Early Weaning: Importance of the role of Nursing professionals

Luis Otávio Walacy Gutierry Silva Santos1*, Paulo Ubiratan Oliveira Almeida*2, Edilaine
Assunção Caetano de Loyola¹

RESUMO
Entende-se por desmame precoce quando ocorre a substituição do leite materno por outros alimentos e/ou
leites derivados de outras fontes, na dieta da criança antes que ela complete seis meses de vida. Partindo
dessa asserção, a presente pesquisa tem como objetivo, identificar as evidências disponíveis na literatura
científica sobre os fatores predisponentes para o desmame precoce e o papel dos profissionais de saúde na
prevenção do mesmo. Trata-se de uma revisão integrativa com artigos pesquisados nas bases de dados
SCIELO, Periódico CAPES e Google Acadêmico e ao final, incorporou-se 6 artigos à revisão. Como
resultados, os artigos identificaram as evidências disponíveis na literatura científica sobre os fatores
predisponentes para o desmame precoce e o profissional de enfermagem se faz cada vez mais necessário
na prevenção ao desmame precoce.
Palavras-chave: Aleitamento materno; Desmame precoce; Profissionais da Enfermagem.

ABSTRACT
Early weaning is understood to be when breast milk is replaced by other foods and/or milk derived from
other sources in the child's diet before the child is six months old. Based on this assertion, the present
research aims to identify the evidence available in the scientific literature on the predisposing factors for
early weaning and the role of health professionals in its prevention. This is an integrative review with
articles searched in the SCIELO, CAPES Periodical and Google Scholar databases and in the end, 6 articles
were incorporated into the review. As a result, the articles identified the evidence available in the scientific
literature on the predisposing factors for early weaning and the nursing professional is increasingly
necessary in the prevention of early weaning.
Keywords: Breastfeeding; Early weaning; Nursing professionals.

1
Instuição de afiliação . Universidade Professor Edson Antônio Velano- UNIFENAS.
*E-mail: luis.santos@aluno.unifenas.br
E-mail: edilaine.caetano@prof.unifenas.br
2
E-mail: paulo.almeida@aluno.unifenas.br
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INTRODUÇÃO

Sabe-se que o aleitamento materno é imprescindível para a promoção de saúde mundial.


Vale salientar que o aleitamento materno (AM) é muito mais do que nutrir uma criança, é a mais
sábia estratégia natural de interação profunda entre mãe e filho, afeto, habilidade de se defender
de infecções, em sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional, além de ter
implicações na saúde física e psíquica da mãe. Constitui a mais sensível, econômica e eficaz
intervenção para redução da morbimortalidade infantil (BRASIL et al, 2009).

Lopes (2016) enfatiza que embora a amamentação proporcione diversos benefícios


tanto para a criança quanto para a mãe, as consequências negativas do desmame precoce
representam um grave problema de saúde coletiva.

Giugliani (2000) apud Lopes (2016), enfatizam que os principais fatores envolvidos no
desmame prematuro estão o desconhecimento de sua importância para a saúde da criança e da
mãe, algumas práticas e crenças culturais, a promoção inadequada de substitutos do leite materno,
a falta de confiança da mãe quanto a sua capacidade de amamentar o seu filho e práticas
inadequadas de serviços e profissionais da saúde.

Um fato que contribui para o desmame precoce é a contradição que existe entre os seis
meses de aleitamento materno exclusivo, recomendados pelo Ministério da Saúde, e a licença à
maternidade de quatro meses vigente, de acordo com a Lei nº 10.421 de 15 de abril de 2002, art.
392 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). As mães começam a introduzir outros
alimentos antes de voltar ao trabalho para que seus filhos se acostumem ao novo hábito alimentar
(OLIVEIRA et al, 2010).

Há evidências da influência da maternidade precoce, da baixa renda, da baixa


escolaridade dos pais, do tipo de ocupação dos pais. Incluem também relatos de hipogalactia,
problemas na mama, introdução de mamadeira e chupeta, falta de incentivo e de acompanhamento
dos profissionais de saúde como condições agravantes (ALVES; GOULART; COLOSIMO et al,
2008).

Os profissionais de enfermagem precisam ser e estar preparados para auxiliar as mães


no pré-natal e após o parto em suas dificuldades com relação à amamentação, fomentando
segurança, acolhendo-a em suas ansiedades, fornecendo informações e sanando suas dúvidas.

Desse modo, cabe ao profissional de enfermagem identificar e compreender o processo


do aleitamento materno no contexto sociocultural e familiar e, a partir dessa compreensão, cuidar
tanto da dupla mãe/bebê como de sua família. É necessário que busque formas de interagir com
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a população para informá-la sobre a importância de adotar uma prática saudável de aleitamento
materno (ARAÚJO, et al 2008).

Nesse sentido, o presente estudo justifica-se, uma vez que conhecer as dificuldades
encontradas pelas mães durante a amamentação devido à falta de informações sobre a sucção,
choro do bebê, mamilos com fissuras, pega erradas, ansiedade, entre outros, que levam ao
oferecimento de mamadeira e chupetas, práticas que provocam o desmane precoce auxilia os
profissionais de saúde a oferecerem uma melhor assistência. Cabe aos profissionais de
enfermagem orientar a mãe e o pai sobre a importância e os benefícios da amamentação a fim de
buscarem diminuir as elevadas taxas de desmame precoce, o que pode comprometer o
crescimento e desenvolvimento adequados das crianças.

Dado o exposto, objetiva-se com o presente estudo, identificar as evidências disponíveis na


literatura científica sobre os fatores predisponentes para o desmame precoce e o papel dos
profissionais de saúde na prevenção do mesmo.

REFERENCIAL TEÓRICO

A amamentação corresponde a uma das etapas mais importantes no processo reprodutivo


da mulher e sua prática oferece benefícios tanto para mãe como para o recém-nascido, fortalece
o contato afetivo, vínculo que se inicia na concepção, cresce durante a gestação e se fortalece com
a amamentação (GALLO et al, 2008).

A amamentação é a melhor maneira de alimentar a criança nos primeiros meses de vida,


é ideal para o crescimento saudável e para o seu desenvolvimento (SOUZA et al, 2010).

A criança desenvolve melhor taxa benéfica no seu crescimento e desenvolvimento e a


amamentação não só é importante para o bebê, mas também para a mãe, que com o seu estimulo,
eleva o nível de ocitocina conhecida como hormônio do amor que é produzida pelo hipotálamo;
o mesmo aumenta o afeto mãe e bebe e reduz níveis de estresse e ansiedade que ocorre no seu
dia-dia.

Entende-se que o desmame precoce ocorre quando se substitui o leite materno por outros
alimentos e/ou leites derivados de outras fontes, na dieta da criança antes que ela complete seis
meses de vida, que é até quando o Ministério da Saúde preconiza o aleitamento materno exclusivo,
independente dos motivos que causaram este fim (PARIZOTTO; ZORZI, et al 2008).

Atualmente, as causas do desmame precoce incluem fatores ligados ao binômio mãe filho,
como: a forte cultura da mamadeira, os mitos a respeito da amamentação (leite fraco, queda dos
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seios, dentre outros); a falta de informação correta às mães nos serviços de saúde, as rotinas
hospitalares incompatíveis com o início e a duração do aleitamento materno; a propaganda
indiscriminada de substitutos do leite materno; e a dificuldade em cumprir as leis que protegem
as mães trabalhadoras que amamentam (ARAUJO et al, 2008; ALVES; GOULART;
COLOSIMO et al, 2008) .

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de revisão integrativa, que segundo Souza et al (2010), é o método


mais amplo de abordagem em relação as demais revisões. Desse modo, os autores afirmam que:

A revisão integrativa é a mais ampla abordagem metodológica referente às


revisões, permitindo a inclusão de estudos experimentais e não experimentais
para uma compreensão completa do fenômeno analisado. Combina também
dados da literatura teórica e empírica, além de incorporar um vasto leque de
propósitos: definição de conceitos, revisão de teorias e evidências, e análise de
problemas metodológicos de um tópico particular. (SOUZA et al 2010, p. 103)

Para a elaboração da revisão integrativa, foram realizadas algumas etapas, sendo, a


identificação da questão do estudo, critérios de busca nas bases de dados, identificação das
informações que respondem ao tema prevenção ao desmame precoce e por fim inclusão dos
estudos que apresentam a relevância da atuação dos profissionais da enfermagem frente a
prevenção do desmame precoce.

A estratégia de busca desta revisão integrativa pretendeu responder a seguintequestão


norteadora: Qual a importância dos profissionais da enfermagem na prevenção do desmame
precoce? Os artigos para compor essa revisão foram selecionadosdos seguintes bancos de
dados: SCIELO e Periódicos CAPES.

Utilizou-se os descritores controlados em saúde: “desmame, cuidados de enfermagem


e o operador booleano “and”.

Foram usados como critérios de inclusão os artigos que contivessem: pesquisas


realizadasno Brasil e que coadunam com o tema proposto, textos completos disponíveis para
análise publicados nos últimos dez anos. Como critérios de exclusão, foram: artigos com
publicação há mais de 15 anos, artigos com a temática repetitiva e que não se referissem aos
profissionais da enfermagem ou que continham apenas revisão bibliográfica.
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A partir da busca foram identificados no total 271 estudos, sendo 64 no SCIELO e 207
no Portal CAPES. Em seguida, foi feita a seleção dos que apresentavam relação dos
profissionais da enfermagem na prevenção ao desmame precoce. Ao final, incorporou-se 6
artigos à revisão. As sínteses dos dados retirados dos artigos foram realizadas de forma
descritiva, possibilitando observar, descrever e classificar os dados, com o intuito de reunir
o conhecimento produzido sobre o tema explorado na revisão. A busca sobre as estratégias
usadas pelos profissionais da saúde, em especial, da enfermagem na literatura científica
resultou na seleção de seis estudos, conforme apresentado na Figura 1 abaixo.
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Figura 1 – Fluxograma Prisma

Identificação de novos estudos por meio de bancos de dados e registros Identificação de novos estudos por meio de
outros métodos

Registros identificados Registros removidos antes da


nas bases de dados: Registros identificados de:
triagem:
Identificação

Sites (n =54)

Scielo (n=64)
Registros duplicados
removidos (n = 50)
Portal CAPES (n=207)

Registros removidos por


Total (n=271)
outros motivos (n = 45)
Registros avaliados para
elegibilidade (n = 10)
Registros selecionados
Registros excluídos
(n=71)
(n = 200)
Seleção

Registros excluídos:
Artigos selecionados para
elegibilidade (n = 47) Registros excluídos:

Outros profissionais de saúde (n = 23)

Estudos secundários (n = 42) Área hospitalar (n = 7)


Novos estudos incluídos na revisão
(n = 9)
Inclusão

Total de estudos incluídos na


revisão (n = 6 )

Fonte: Page, Mckenzie, Bossuyt, Boutron, Hoffmann, Mulrow, et al. (2021)

RESULTADO E DISCUSSÃO

Em todas as publicações encontradas a partir dos critérios de busca, foi investigada a


relevância dos profissionais da enfermagem na prevenção do desmame precoce. Os principais
achados dos trabalhos encontrados são apresentados nos quadros, a seguir.
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Quadro 1- Amostra final dos estudos selecionados.

AUTOR/TÍTULO/ANO OBJETIVO MÉTODO RESULTADO

E1: Monteschio, C; Analisar a atuação Estudo descritivo de abordagem Os enfermeiros, na maioria das
Gaíva, M; Moreira, M. do enfermeiro qualitativa. Participaram do estudo vezes, utilizaram estratégias
frente ao desmame enfermeiros que realizavam consulta apropriadas para o manejo dos
O enfermeiro frente ao precoce em crianças de enfermagem à criança de maneira problemas mais comuns na
desmame precoce na menores de 6 meses programática em unidades de saúde da amamentação. No manejo da
consulta de enfermagem à de idade. família em Cuiabá-MT. Os dados amamentação, é fundamental
criança. Ano: 2015. foram coletados nos meses de janeiro que os profissionais de saúde
e fevereiro de 2012, por meio da estejam preparados para
observação participante da consulta detectar e propor intervenções
de enfermagem. Para análise dos adequadas e eficazes para os
dados foi utilizada a análise de principais problemas
conteúdo. relacionados a esse processo,
que geralmente estão
associados às dificuldades na
técnica da amamentação.

E2: Oliveira, C; Locca, F; Conhecer a Pesquisa do tipo descritiva- Os dados apontaram que ao
Carrijo, M; Garcia, R. vivência de mães exploratória, com abordagem término dos 6 meses das
Amamentação e as em relação à qualitativa realizado em uma unidade crianças, somente 19,1%,
intercorrências que amamentação e as de Estratégia da Saúde da Família, no continuavam em Aleitamento
intercorrências que município de Cáceres-MT, por meio Materno Exclusivo e as
contribuem para o contribuem para o de entrevista semiestruturada com 21 principais alegações para sua
desmame precoce. Ano: desmame precoce mulheres que tiveram filhos de ocorrência foram: Déficit de
2015 janeiro/2012 a janeiro/2014. conhecimentos
inexperiência/insegurança;
Banalização das angústias
maternas; Intercorrências da
mama puerperal;
Interferências familiares; Leite
fraco/insuficiente; trabalho
materno.

E3: Rocha, M; Costa, E. Identificar os Estudo qualitativo realizado com 12 As entrevistadas reconhecem a
Interrupção precoce do fatores que levam as mães que participavam de rodas de importância do aleitamento
aleitamento mães a interromper conversas como estratégia dialógica materno, no entanto, são
o aleitamento de educação em saúde para influenciadas por familiares e
materno exclusivo: materno exclusivo proporcionar uma troca de por questões culturais, que
experiência com mães antes do sexto mês. experiências sobre o a importância do somadas à falta de orientação,
aleitamento materno exclusivo. fazem-nas achar que o seu
de crianças em consultas Realizou-se o estudo em uma Unidade “leite é fraco”, levando ao
de puericultura. Ano: Básica de Saúde de Tauá/CE, durante desmame precoce.
2015
o mês de março 2015. Os dados foram
coletados por meio de entrevista
semiestruturada, analisados de forma
temática, dos quais emergiram duas
categorias: “Desmame precoce
porque o leite é fraco” e “Desmame
precoce por interferência familiar e
questões culturais”
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E4: Mesquita, A.L; identificar as Constitui em uma revisão integrativa A partir dos fatos extraídos
Souza, V.A. B, et al. atribuições do de literatura científica e para coleta entende-se que a falta de
Atribuições de enfermeiro no dos materiais foram utilizadas as orientação sobre aleitamento
enfermeiros na processo de bases de dados Biblioteca Virtual em materno e os cuidados
orientação de conscientização do Saúde (BVS), os Periódicos Capes e o preventivos de intercorrências
aleitamento Google Acadêmico; os critérios de mamárias são os principais
lactantes acerca do materno para com inclusão foram indexação de estudos motivos de desmame precoce;
aleitamento materno. as gestantes. nas respectivas bases de dados; desta forma o enfermeiro tem
Ano: 2016. relação direta com os descritores; um papel importante na
pesquisas desenvolvidas no Brasil; prevenção e promoção de
idiomas de publicação em português; saúde a estas nutrizes,
período de publicação compreendido estratégias devem ser criadas
entre 2011 e 2016 em conjunto com equipes de
saúde para diminuir o índice de
intercorrências mamarias e
consequentemente garantir um
período de amamentação
adequado sem prejuízos tanto
para a mãe quanto para o bebê.

E5: Sardinha, D. et al. Realizar uma ação Trata-se de um estudo descritivo, tipo Percebeu-se que as gestantes
Promoção do aleitamento educativa sobre o relato de experiência. Refere-se a um ainda acreditam em muitos
materno na assistência aleitamento jogo de perguntas aplicado a 15 mitos que podem aumentar as
pré-natal pelo materno, para gestantes, depois, ocorreu a discussão chances de desmame precoce,
Enfermeiro. Ano: 2019. gestantes na sala de dos temas abordados. como acreditar que o leite
espera das consultas esteja fraco, ocasionando o
de pré-natal, em baixo peso e adoecimento da
uma unidade criança, porém, estão cada vez
municipal de saúde. mais informadas sobre a
importância da amamentação,
mas ainda precisam de
orientações e atenção nesse
momento da vida delas, pois
ainda existem alguns mitos que
prevalecem, podendo
dificultar a adesão à
amamentação exclusiva.

E6: Ederli, S.F; Knoop, Comparar os Estudo descritivo, exploratório, Evidenciou-se que os
N.E et al. A formação do conhecimentos dos qualitativo, realizado na Universidade estudantes percorrem uma
enfermeiro influenciando discentes dos 1º e 8º do Oeste Paulista (UNOESTE). construção científica do saber,
na promoção do termo do curso de Foram avaliados 16 acadêmicos de tornando-os estruturados e
aleitamento materno. Enfermagem, a fim enfermagem por meio de entrevista aptos a promover o
Ano :2021 de compreender a semiestruturada, sendo as mesmas aleitamento materno e prevenir
influência deste gravadas e transcritas na íntegra. seu cessamento precoce.
conhecimento na Analisou-se o conteúdo através da
promoção do “Técnica de Análise de Conteúdo de
aleitamento Bardin”.
materno e na
prevenção do
desmame precoce.

Fonte: Elaborado pelos autores (2022)


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Ao analisarmos os estudos 1 e 2 evidenciou-se o importante papel que o enfermeiro


possui em desmistificar algumas inverdades em relação ao desmame precoce. Por exemplo, no
estudo 1, os enfermeiros realizaram entrevistas esclarecedoras em relação ao retorno das mães
ao trabalho, ao uso de mamadeiras e as crendices populares quanto à produção de leite da
lactante. O estudo apontou que muitas das participantes não conheciam os direitos de amamentar
no trabalho até os 6 meses de vida do bebê. Esse papel do enfermeiro em orientá-las corrobora
com as recomendações do Ministério da Saúde, em que os profissionais devem desencorajar a
utilização de bicos e mamadeiras, por serem protagonistas do desmame precoce, doenças
diarreicas e problemas na dentição e na fala (MONTESCHIO; GAÍVA et al, 2015). Nesse
contexto, observa-se a necessidade do posicionamento do profissional de enfermagem diante da
mulher que deseja amamentar, tornando-se preciso reconhecer que, por ser uma prática
complexa, não se deve reduzir apenas aos aspectos biológicos, mas incluir a valorização dos
fatores psicológicos e socioculturais (GUIMARÃES, 2015).

Por outro lado, no estudo 2, outro ponto importante acerca do apoio ao aleitamento
materno pelos profissionais de enfermagem, foi possível identificar que as mães vão em busca do
profissional para solucionar os seus problemas relacionados ao aleitamento, porém o profissional
geralmente impõe tantas normas e regras que não fazem parte de sua realidade, que isso acaba
gerando medo e insegurança nessas mulheres (OLIVEIRA et al, 2015).

Outro quesito convergente entre os estudos 1 e 2 é em relação às crendices populares e a


falta de apoio à prática da amamentação. Nesse sentido, o apoio à prática da amamentação não
existia e, portanto, muitas mulheres deixaram de amamentar por encontrarem dificuldades com o
baixo volume de leite produzido ou com o receio de possuir um leite fraco que não suprisse as
necessidades fisiológicas da criança. Logo, a presença do profissional enfermeiro no pré e pós
parto é de suma importância para a orientação da adequada pega, da possível demora para a
descida do leite nas primeiras horas, da desmistificação de tabus relacionados a prática, e para a
resolução de possíveis intercorrências nos primeiros dias entre mãe e filho (CARDOSO et al,
2020).

Diante desses apontamentos, destaca-se mais uma vez a importância do enfermeiro na


construção de valores sobre o AM, junto à lactante e sua família, valorizando a sua rede de apoio
e incluindo-a nos programas de educação em saúde sobre o aleitamento materno.

Pôde-se observar que no estudo 3 corrobora com os fatores discorridos nos estudos
anteriores (1 e 2). Ao investigar as causas da interrupção do aleitamento materno, o estudo
apontou que os mitos acerca da amamentação e as questões familiares e culturais são bem
salientados. Essa associação entre o contato familiar e uma menor duração do AME, identificada
no estudo, demonstra que o aleitamento é um processo altamente influenciado culturalmente, o
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que torna necessária a implantação de estratégias de promoção de saúde dentro de um contexto


adequado à população-alvo (GOMES; SILVA, 2015).

Percebe-se nos estudos a necessidade de se intensificar a atuação do enfermeiro em prol


do aleitamento materno, de forma a aumentar o número de mães que aderem a esta prática que é
de imprescindível para o desenvolvimento do bebê.

Nota-se ainda que embora as vantagens proporcionadas pelo aleitamento são mais que
comprovadas, o resultado está muito aquém do que é preconizado pela Organização Mundial de
Saúde. A amamentação sofre influências socioculturais, dessa forma, não existem causas isoladas
para o desmame precoce, e sim uma relação de fatores existentes entre a mãe, o filho e o contexto
social em que se inserem.

Em contrapartida, a partir dos fatos extraídos no estudo 4, ratificou-se ainda que a falta
de orientação sobre aleitamento materno e os cuidados preventivos de intercorrências mamárias
são ainda os principais motivos de desmame precoce; desta forma o enfermeiro tem um papel
importante na prevenção e promoção de saúde as lactantes, estratégias devem ser criadas em
conjunto com equipes de saúde para diminuir o índice de intercorrências mamárias e
consequentemente garantir um período de amamentação adequado sem prejuízos tanto para a mãe
quanto para o bebê (MESQUITA et al, 2016).

Os estudos apresentados demonstraram quase de forma unânime o que motiva ao


desmame precoce. No estudo 5, por exemplo, identificou-se, na dinâmica sobre mitos e verdades,
que as gestantes acreditam em muitos mitos sobre a temática, o que pode favorecer o desmame
precoce, o baixo peso, maiores chances de adoecer etc. Destaca-se ainda que a mamadeira é uma
das principais causas do desmame precoce, além de ser uma importante fonte de contaminação, e
influencia a amamentação negativamente (SARDINHA et al, 2019).

Sabe-se então que o aleitamento materno é muito importante para a mãe e bebê, só
trazendo benefícios para os dois, mais ainda hoje existem muitos mitos sobre a temática, falta de
conhecimento, cultura e crenças. Considera-se o enfermeiro o profissional fundamental para a
promoção do aleitamento materno, sendo o momento ideal no pré-natal, mas não se descartam
outros momentos, pois ela sempre é válida em qualquer ocasião (SARDINHA et al, 2019).

Um dado elucidado no estudo 6 relacionou-se à questão da formação dos acadêmicos em


Enfermagem. Quando iniciam a graduação, são inexperientes a respeito do aleitamento materno,
bem como de suas orientações e prevenção ao desmame precoce. No entanto, os acadêmicos que
estão no término do curso, já possuem base científica sólida para instruir na promoção do
aleitamento materno. Vale ressaltar que os futuros e profissionais atuantes precisam estar em
constante atualização e progressos contínuos na área. Nesse contexto, o enfermeiro como
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disseminador e educador em saúde, deve estar preparado para realizar orientações adequadas e
esclarecer dúvidas, assegurando que a amamentação ocorra de forma natural, humanizada e
efetiva (EDERLI; KNOOP et al, 2021).

CONCLUSÃO

Foi possível por meio dessa revisão integrativa concluir que as evidências
disponíveis na literatura científica sobre os fatores predisponentes para o desmame
precoce foram identificadas e o profissional de enfermagem se faz cada vez mais
necessário na prevenção ao desmame precoce.
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PAGE, MCKENZIE, BOSSUYT, BOUTRON, HOFFMANN, MULROW, et al.


Fluxograma da seleção dos estudos recuperados nas bases de dados, adaptado do
Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses (PRISMA).
2021
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Recebido em: 20/09/2022


Aprovado em: 25/10/2022
Publicado em: 02/11/2022

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