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O IMPEACHMENT DA MULHER

Carolina Pilaski

Resumo: Em 31 de agosto de 2016 a atual presidenta da república da época sofre um


impeachment. Neste presente artigo abordo um breve relato do partido em que Dilma estava filiada e sua
história no decorrer do tempo, chegando na parte principal em como a presidenta é vista e colocada até
então pelas revistas, acentuando o caráter machista patriarcal e misógino em relação a destituição da chefe
do estado. Com resultados das análises, concluímos que as revistas insistiram no personagem de mulher
“louca”, para assim, desqualificar toda a sua conduta como mulher e como presidenta da nação.

Palavras chaves: Impeachment; Dilma Roussef, Gênero, Presidenta.

No final dos anos 70, a repressão da ditadura entrava em seu declínio, seu
mecanismo embora ainda atuante, ameaçava cada vez menos. Dentro desse cenário e com
a inquietação da população, começou a surgir vários movimentos sociais, um dos
principais a greve dos operários no ABC paulista e o movimento das Diretas Já. E foi
nessa conjuntura que o PT foi criado, um partido que começou por trabalhadores com a
insatisfação vendo homens no poder que diziam governam para a classe operária, porém
que nada faziam. Assim o Partido dos Trabalhadores nasceu de um sonho de
trabalhadores governarem para trabalhadores. Com as Diretas Já, Luiz Inácio Lula da
Silva o primeiro candidato à presidência pelo partido esquerdista, ficou em segundo lugar,
perdendo para o eleito presidente Fernando Collor de Melo. Porém, com uma nova
candidatura, Lula, em 2002 ganha as eleições para presidente e em 2003 toma posse como
o primeiro presidente filiado ao partido dos trabalhadores. Lula foi reeleito e termina seu
2° mandato em 2011 com uma aprovação de mais de 80% de aprovação, assim sendo, ele
apresenta sua sucessora para o concorrer ao cargo, Dilma Rousseff, filiada ao Partido dos
Trabalhadores (PT) e seu vice Michel Temer do Partido da Social-Democracia Brasileira
(PSDB). Quando perguntado o porquê da união de partidos Lula responde: se Jesus viesse
para o Brasil, até ele teria que fazer aliança com Judas.

A primeira mulher eleita como presidente do Brasil, Dilma que foi ex


guerrilheira, presa pelo regime militar passando por vários dias de tortura. Em uma
eleição acirrada com José Serra do PSDB, ela se sobressai com mais dos 55% dos votos
válidos. Dilma veio como a continuidade de um sonho para o povo brasileiro apoiador de
Lula, entretanto quando ela subiu ao poder o mundo passava por uma forte crise
econômica que consequente atingiu também o país. A presidenta tentou de várias formas
assolar a crise, mas sem sucesso, de modo consequente, manifestações assolaram por todo
o país, que logo se transformaria em uma das maiores manifestações da história do país.
Com uma tentativa de recuperar a credibilidade de seu governo, a Presidenta aprova uma
série de medidas contra corrupção, entre elas, a deleção premiada, e assim, começa o fim
de seu governo e de sua credibilidade.

A operação Lava a Jato investiga a Petrobrás que a liga com grandes partidos
políticos. Com as eleições chegando, muitos culpam Dilma por não interferir nas
investigações. A presidenta se candidata para a reeleição contra o então candidato do
PSDB, Aécio Neves, que perde para ela nos votos e fica em segundo lugar na corrida
presidencial. Aécio, um personagem importante para o declínio da então presidente, não
aceita o resultado e seu partido pede uma auditoria das urnas, quando o resultado não
muda, ele então, começa a defender o impeachment de Dilma.

A mídia então entra em cena, retratando e filmando cada parte da insatisfação


popular e suas manifestações naturalizando seu caráter agressivo onde a violência de
gênero começa. Dilma começa a ser atacada então, de todas as formas, e é nesse meio que
o congresso aceita o pedido de impeachment contra a Presidenta.

FIGURA 1 – Capa da revista ISTOÉ, edição de 1° e abril de 2016.


Fonte: revista istoé

Compreendemos, ao ver esta capa de revista, que a imagem escolhida com


os textos em volta, fazem parte de uma junção para deslegitimar a então presidenta. Visto
que, o título da matéria de capa traz a decorrente frase: “As explosões nervosas da
presidente”. Com isso, podemos dizer que o termo usado, para fazer referência as ações
de Dilma “nervosa”, não é usada inocentemente, mas carregada de significado, pois
adjetivos concordantes a esse, se usa apenas para desqualificar as pessoas do sexo
feminino, que socialmente são vistas, desde a antiguidade, como incapazes de segurar
suas emoções ou entendidas como indivíduos descontrolados, e justamente por causa
disso são denominadas como incompetentes para gerir certos cargos como de gerência,
presidência e outros que precisam de um certo “pulso firme”. Sendo assim, a intenção do
autor deixa bastante claro suas intenções, que é inabilitar as ações de Dilma, como mulher
e como presidenta da república. Todavia, após a publicação desta foto de capa, veio à
tona a verdade, onde a foto foi tratava-se de uma montagem que foi feita com base em
outra imagem onde Dilma comemorava, com gritos e felicidade, um gol da seleção
brasileira na Copa do Mundo que foi realizada aqui no Brasil em 2014.

"Em surtos de descontrole com a iminência de seu afastamento e


completamente fora de si, Dilma quebra móveis dentro do Palácio, grita com
subordinados, xinga autoridades, ataca poderes constituídos e perde (também)
as condições emocionais para conduzir o País." (IstoÉ, 2016).
Ataques a Dilma e a seu governo se tornam frequentes, pois resta à mídia o poder
o controle da área da visibilidade pública.

FIGURA 2 - 15 de janeiro de 2015

Fonte: Revista veja

Nesta edição da revista Veja, podemos perceber claramente a analogia do texto


da capa com a foto estampada. Nesta imagem, Dilma conversa com o ex – ministro da
fazenda Joaquim Levy. Com a frase “O poder e o saber” fica claro a estratégia de colocar
Dilma como possuidora do poder e Joaquim como detentor do saber, desqualificando
assim, as habilidades e o conhecimento da presidenta restando apenas a seu alcance o
poder.

FIGURA 3 – 16 de dezembro de 2015


FONTE: Revista VEJA

Essa capa mostra Dilma em um televisor antiquado, em preto e branco, onde a


expõe em uma imagem atrasada, que está relacionado à falta de eficácia e inovação que
são atributos essenciais para a liderança, características que são julgadas inexistentes em
uma mulher. Ou seja, a chefe de estado se constitui à uma máquina atrasada e regressa,
sem capacidade de liderança, que é marcada na sua categoria social, por ser mulher.

A violência de gênero é classificada pela ocorrência de ações violentas


praticadas a uma pessoa em relação ao gênero que ela se identifica. No mundo todo, esse
tipo de violência ocorre quase que unicamente contra as mulheres, levando em conta que
se agressor é o gênero oposto. Pois quando falamos de gênero, geralmente, temos em
mente as mulheres. (MORAES; DINIZ – PEREIRA. 2014, p. 7). Joan Scott, argumenta
que, em sua utilização recente mais simples “gênero” é sinônimo de “mulheres”.
(SCOTT, p. 75). Heleieth Saffioti define violência de gênero como a que é exercida pelo
patriarcado.

No exercício da função patriarcal, os homens detêm o poder de


determinar a conduta das categorias sociais nomeadas, recebendo autorização
ou, pelo menos, tolerância da sociedade para punir o que se lhes apresenta
como desvio. [...] (SAFIFFIOTI, 2001, p. 115).

Considerações Finais

Não se esperava, na época, encontrar uma análise de seu governo, perante a


mídia, positivista. Dilma não recebeu apoio de seus aliados, sofreu duras críticas da
oposição e consequentemente da opinião pública. É incontestável que a mídia detém de
um poder na formação de opinião, visto que em uma sociedade onde pecamos em
investigar as verdades e as inverdades impostas nos meios de comunicação, fica fácil de
cairmos em contos. Portanto, entender esse processo e como funciona, fica fácil entender
tudo que aconteceu por detrás das “câmeras”.

O afastamento de Dilma Rousseff apenas confirma a índole machista e misógina


que foi instaurada no meio político em 2016. Conservadores, políticos antiliberais e a
mídia que encobre a elite, não ficaram felizes com mulheres ocupando cargos importantes
e acima dos homens, recebendo mais e tendo maior importância. Mulheres análogas a
luta feminista, antipatriarcal, com lutas raciais, com pautas defensoras promovendo as
questões sociais e possibilitando políticas públicas capazes de promover a igualdade entre
homens e mulheres. Significativo também continuar com debates e ações para
imparcialidade midiática, pois com matérias ainda feitas, como mostrado acima no
presente artigo, são de cunho misógino e baseada completamente nas questões de gêneros,
e segue assim, controladas pelos mesmo grupos que dominaram as mídias a partir de
1964.

A análise do conteúdo acima das capas de revista do impeachment de Dilma


Rousseff, esclarece que a perspectiva negativa da chefe de estado, desqualificando toda
sua conduta e a sua pessoa foram baseadas nas questões de gêneros. Nota-se ainda o
caráter misógino nas imagens que referem à Dilma, qualificando-a como inapta de
governar um país pois não era detentora do saber. É visto claramente que as capas deixam
a claro que ela era também emocionalmente instável, com “explosões de raiva”,
colocando-o em um estereótipo comum nesta sociedade, de que as mulheres são
ineficazes quando o assunto é controlar seus sentimentos e emoções, reforçando que
apenas o homem é que detém esse poder.
Concluímos que, as mídias com tamanho poder que possuem, contribuíram para
a criação de uma imagem de incompetência da atual presidente da época, agravado por
textos e imagens machistas que contribuíram para sua destituição do cargo. As capas
analisadas reforçam a ideia de que uma mulher não pode ou não consegue governar como
um homem.

Referências Bibliográficas

SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Porto Alegre,
Educação & Realidade, 1995.

SAFFIOTI, Heleieth. Contribuições feministas para o estudo da violência de


gênero. 2001.

MORAES. M. Emília; DINIZ-PEREIRA. Júlio Emílio. Formação docente e


diversidade cultural: Complexidade, polissemia e consciência política. 2014.

AS EXPLOSÕES NERVOSAS DA PRESIDENTE. ISTOÉ, 2016. Disponível


em: https://istoe.com.br. Acesso em: 08/10/2022.

O PODER E O SABER. VEJA, 2015. Disponível em: https://veja.abril.com.br.


Acesso em: 11/10/2022.

A MÁQUINA DO ATRASO DE DILMA. Disponível em:


https://veja.abril.com.br. Acesso em: 11/10/2022.

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