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MATHEUS

BORGES

a arte de analisar
ESTRUTURAS

1ª Edição
a arte de analisar estruturas 1

1ª Edição

E aí meu amigo, tudo joia?


- Não, Matheus… Não tô joia não… Não dei conta de aprender estruturas na
faculdade e estou triste e desesperado…

Gente… Pois saiba que aprender estruturas é uma das maiores alegrias que você
terá na vida! Sim! Na vida! Entender como uma estrutura funciona é uma das coisas mais
gratificantes que eu já vivi.

- Ah! Matheus, como que estruturas vai ser minha maior alegria se até hoje eu só
tive tristeza com as disciplinas da faculdade?

Pois é… É comum o pessoal sentir tristeza mesmo… Mas isso só acontece até o
dia que a pessoa entende como uma estrutura funciona! E sabe o que é mais legal?

Esse dia chegou na sua vida! Com esse livro super didático (e totalmente gratuito),
sua vida vai mudar! Daqui em diante, é só alegria!

- Que empolgação é essa Matheus? Será que esse livro vai me fazer gostar
mesmo de estruturas?

Bem, vamos fazer o seguinte… Vá para a próxima página… Duvido que você vai
conseguir parar de ler até o livro acabar!
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Uma dúvida que eu sempre tive…


Por que todo livro tem que começar com aquelas páginas padrões que a gente
sempre pula? Sabe… A gente está louco querendo aprender alguma coisa nova e o que
nos mostram é sempre umas folhas com umas coisas escritas que a maioria de nós
nunca irá ao menos ler! Ah, não que elas não sejam importantes, mas penso que elas
poderiam vir em outra parte do livro, não é gente?

Então, para eu começar a te provar que as coisas neste livro são diferentes, antes
mesmo de chegarmos no índice, nós já vamos aprender uma coisa bem interessante!

E para isso, olhe bem para o ambiente em que você está agora.

Sobre você, muito provavelmente tem uma laje. Ela é essa superfície plana onde
as lâmpadas ficam penduradas e que serve para cobrir o ambiente em que você está.

Agora, olhe nos cantos dessa laje. Pode ser que você não consiga ver (pelo fato
da parede ser rebocada) mas nesses cantos muito provavelmente temos vigas.

As vigas são os elementos lineares que trabalham suportando as lajes.


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Agora, olhe na altura dos seus olhos para as quinas da parede. Muito
provavelmente temos, nessas quinas, pilares que seguram essas nossas vigas.

E debaixo desses pilares? Lá dentro do chão, escondido debaixo da construção,


temos as fundações, que servem para transmitir todo o peso da estrutura para o solo.

E sabe o que é mais legal?

Tudo isso junto forma exatamente o que chamamos de estrutura, que é o que você
vai aprender a amar a partir de hoje!

Tá ansioso?

Então bora que eu também estou!


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Índice
Capítulo 1 5

Sua tristeza já vai começar a acabar 5

1.1 Apresentando a área mais linda da engenharia 7

1.1.1 Entenda, de uma vez por todas, o que é uma estrutura 7

1.1.2 Os elementos estruturais e a arquitetura 8

1.1.3 Como funciona a interação entre os elementos estruturais 11

1.2 Quais são os tipos de estruturas que estudamos 12

1.2.1 Pela ótica dos materiais estruturais 12

1.2.2 Pela ótica da estaticidade 14

Capítulo 2 16

Modelagem estrutural 17

Vínculos estruturais 18

Principais tipos de apoios Erro! Indicador não definido.

Capítulo 3 22

Análise estrutural 22

Estruturas isostáticas 23

Como calcular as reações de apoio 23

Estruturas hiperestáticas 25

Método das Forças 25

Método dos Deslocamentos 26

Método da Rigidez Direta 29

Método de Cross 37
a arte de analisar estruturas 5

Capítulo 1
Sua tristeza já vai começar a acabar
Você já vai aprender um tanto de coisa sobre estruturas
a arte de analisar estruturas 6
a arte de analisar estruturas 7

1.1 Apresentando a área mais linda da engenharia

Acho que ninguém tem dúvidas que a engenharia de estruturas é a área mais linda
de toda a nossa profissão. Ela consegue ser interessante, motivante e ao mesmo tempo,
bastante rentável para quem a escolhe. Porém, na faculdade, o que eu mais vejo é um
pessoal bem desanimado em seguir essa área.

Aí surge a seguinte pergunta: Por qual motivo isso acontece? Por que algo tão
interessante e cheio de oportunidades assusta incansavelmente os alunos de engenharia
civil e demais cursos correlatos? Bom, eu também fui aluno de graduação e assim como
todos vocês, passei por várias disciplinas em que eu não consegui aprender o conteúdo
como deveria (e eu até tentei).

E um dos principais motivos disso é que, infelizmente, a engenharia ainda é


apresentada nas salas de aula de forma misteriosa e complexa. Ainda aprendemos
fórmulas de toda espécie sem saber para que servem na prática e ainda, deixamos de ser
aprovados por não dominar tais conteúdos.

Nessas situações, o único recurso que nos sobra é decorarmos a tal fórmula e em
uma avaliação igual vetor perdido (sem direção e sentido), aplicarmos-a como faz um
robô programado a apenas passar na disciplina.

No frigir dos ovos, isso faz com que muitos alunos migrem para áreas da
engenharia onde acreditam que não precisarão de cálculo, ou seja, que toda uma
dificuldade com as fórmulas misteriosas não vão existir. E com isso, a área de estruturas
é deixada de lado por muita gente.

Porém, ensinar e aprender engenharia de estruturas não deveria ser algo tão
tenebroso e complicado. Pelo contrário, aprender a mais bela das artes dentro da
engenharia teria de ser algo interessante e prazeroso!

E é nessa perspectiva que eu trago, nesta seção, os principais fundamentos sobre


estruturas de forma extremamente simples e didática. Agora, você vai ser igual ao
Leonardo da Vinci: vai dominar a arte de projetar coisas, ou mais especificamente, a arte
de analisar e projetar estruturas.

1.1.1 Entenda, de uma vez por todas, o que é uma estrutura


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Uma estrutura pode ser entendida como um conjunto de elementos trabalhando


em equipe, cada qual fazendo a sua função para que alguma coisa não caia por aí.

É como um time de futebol, onde goleiro, zagueiro e atacante fazem funções


totalmente diferentes. No entanto, para o time ganhar o campeonato, todo mundo tem
que fazer a lição de casa direitinho. E mais, se um deles falhar, todo o time perde.

Nessa pegada, uma árvore é um belo exemplo de estrutura. Vamos entender o


porquê?

Em uma árvore, você pode perceber que as folhas atuam absorvendo parte das
cargas horizontais dos ventos e impedindo, por exemplo, que os frutos sejam arrancados.
Ainda, além de garantir a beleza da árvore, elas também exercem funções na planta, como
por exemplo a famosa e necessária fotossíntese.

Portanto, por uma analogia bem simples, as folhas são a arquitetura da nossa
árvore, ou seja, os elementos do conjunto que proporcionam estética e funcionalidade ao
sistema como um todo.

O interessante disso tudo é que uma estrutura, em sua essência, tem como
objetivo sustentar uma arquitetura a qual lhe deu forma, para que esta, por sua vez,
cumpra uma determinada função.

1.1.2 Os elementos estruturais e a arquitetura


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Como em todo tipo de construção, no caso da nossa árvore, uma estrutura deverá
sustentar as nossas folhas, garantindo que tudo funcione bem. E quem faz todo esse
papel na nossa árvore? Os galhos, tronco e raiz.

A imagem a seguir ilustra como cada elemento da árvore exerce sua função:

Percebam que os elementos dessa nossa árvore são diferentes uns dos outros
tanto em formato quanto em material. No entanto, juntos, esses elementos fazem o
sistema estrutural da árvore funcionar de forma perfeita!

E na prática da engenharia civil? Como as coisas funcionam? De forma similar.


Temos diferentes elementos estruturais trabalhando em conjunto para dar sustentação a
uma edificação.

Mas ao contrário de galhos e troncos presentes na nossa árvore de exemplo, os


principais elementos estruturais de uma edificação são:

● Lajes: Elementos de superfície normalmente construídos na horizontal. Sua


principal função é absorver as cargas de cada pavimento, como o peso de móveis
e pessoas.
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● Vigas: Elementos lineares normalmente construídos na horizontal. Sua principal


função é receber as cargas de lajes e/ou alvenarias.
● Pilares: Elementos lineares normalmente construídos na vertical. Sua principal
função é receber as cargas das vigas e direcionar ao pavimento inferior ou às
fundações.
● Fundação: Elementos que transmitem o carregamento dos pilares (e
consequentemente, de toda a edificação) para o solo.

A imagem abaixo ilustra como cada elemento acima se apresenta em uma


edificação.

Além dos elementos acima citados, temos também outros que podem ser
utilizados, apesar de não serem encontrados em todas as obras:

● Rampas e Escadas: São aplicações especiais das lajes, porém agora, construídas
de forma inclinada. Normalmente são utilizadas para ligar níveis arquitetônicos,
como andares em um prédio.
● Reservatórios: Elemento formado por lajes e paredes estruturais, normalmente
construídos para reservar líquidos. As piscinas e reservatórios de água são
notáveis exemplos.
● Muros: São elementos construídos para contenção, normalmente de solo ou água.
O principal exemplo são os muros de arrimo utilizados em diversos tipos de
construções.
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1.1.3 Como funciona a interação entre os elementos estruturais


Nós comentamos anteriormente que os elementos de uma árvore interagem entre
si de forma inteligente para que o seu sistema estrutural funcione bem. Em uma
edificação convencional, as coisas não são diferentes: A estrutura, que como dissemos
anteriormente, é normalmente feita de lajes, vigas, pilares e fundações, tem uma interação
perfeita para que as edificações fiquem, no fim das contas, totalmente de pé.

A figura abaixo ilustra esses elementos sob a ação de um carregamento.

Percebam que neste exemplo, as cargas são absorvidas inicialmente pelas lajes.
Em seguida, acrescidas ao peso próprio destas, essas cargas são direcionadas às vigas.

As vigas, por sua vez, após receberem as cargas da lajes e, em alguns casos,, de
alguma alvenaria sobre ela construída, irá, acrescentando-se também seu peso próprio,
lançar as cargas sobre os pilares.

Os pilares, em sua vez, irão lançar todo o carregamento recebido, além do seu
próprio peso, sobre o lance de pilar inferior, até que cheguemos às fundações, que irá
absorver todo o carregamento da prumada acima construída e lançá-lo no solo, onde esse
fluxo se encerra.
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Em edifícios de múltiplos pavimentos, as lajes e vigas de cada nível irão receber


apenas os carregamentos do seu pavimento. Após, as vigas irão lançar as cargas nos
pilares normalmente, como citamos acima.

Os pilares, por sua vez, irão a cada lance acumular o peso. Assim, o lance de pilar
do último andar recebe a carga apenas deste. Já o pilar que está conectado ao elemento
de fundação, absorverá o carregamento de todos os pavimentos (dentro de sua área de
influência).

1.2 Quais são os tipos de estruturas que estudamos


No cotidiano de um projetista de estruturas, podemos lidar com vários tipos de
estruturas. Entender, nesse momento da leitura, quais são esses tipos faz com que
consigamos visualizar todo o fluxograma de aprendizado deste tema.

Essencialmente, neste livro, iremos classificar as estruturas quanto aos materiais


estruturais e quanto à estaticidade. Isso fará você compreender, por exemplo, em qual
disciplina do curso você deverá aprender sobre cada parte do processo.

1.2.1 Pela ótica dos materiais estruturais


Assim como os elementos estruturais de uma árvore são feitos de madeira e
fibras vegetais, as estruturas de uma edificação convencional são feitas dos chamados
materiais estruturais. Mas o que vem ser um material deste tipo?

Um material estrutural é aquele que, pela ótica da resistência dos materiais, possui
um comportamento de tensão e deformação que o torna apto para esse fim. O vidro, por
exemplo, é um material de construção, mas que em estruturas convencionais, não é
utilizado como material estrutural.

Assim, dentre os principais materiais estruturais utilizados na construção de


edificações, temos:

● Concreto Armado: Este material é um compósito feito da união perfeita entre o


concreto e o aço. O concreto simples, que é um material cerâmico, resiste bem
apenas aos esforços de compressão, não resistindo de forma adequada à tração.
Com a inserção do aço, que é um material metálico, surge este novo material
composto, que é resistente tanto à compressão quanto à tração.

OBS: O aço resiste à compressão mais do que o próprio concreto.


a arte de analisar estruturas 13

Nos cursos de graduação, vocês normalmente vão aprender sobre esse tipo de
estrutura nas disciplinas de Concreto Armado 1 e 2.

A imagem abaixo ilustra um pilar de concreto armado:

● Aço: Apesar de relativamente mais caro que o concreto armado, possui maior
resistência que este. Por isso, é recomendado em projetos onde se necessita de
seções mais esbeltas para os elementos estruturais.

Nos cursos de engenharia, normalmente tem uma disciplina chamada Estruturas


de Aço, que apresenta todo o conhecimento básico sobre esse tipo de estrutura.

A imagem abaixo ilustra um pilar de aço conectado à uma fundação de concreto.


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● Madeira: Atualmente, vem sendo utilizada apenas para confecção de estruturas


de telhados residenciais. Damos notável destaque ao fato deste material ser
anisotrópico, ou seja, possui características físicas que variam de acordo com a
direção. Isso deve ser considerado no momento do cálculo de estruturas de
madeiras, de acordo com o sentido dos veios da madeira em relação às cargas e
até mesmo aos cortes e ligações.

Nos cursos de engenharia, normalmente aprendemos sobre esse tipo de estrutura


em uma disciplina chamada Estruturas de Madeira.

A figura abaixo ilustra um segmento de uma tesoura de um telhado feita em


madeira:

1.2.2 Pela ótica da estaticidade


A estaticidade de uma estrutura diz respeito à possibilidade ou não dela se
movimentar. Quando temos restrições suficientes para que uma estrutura não se
desloque, consideramos que ela está estática.

Mas e como são, no fim das contas, classificadas as estruturas pela ótica da
estaticidade? É o que vamos aprender agora!

Para isso, Imagine que você foi à padaria de bicicleta. Existem três formas de deixá-
la enquanto você compra o pão:
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1. Sem cadeado e sem colocar uma das rodas em um suporte (bicicletário). Neste
caso, as únicas restrições de movimento que temos são as reações de apoio das rodas. Se
alguém chegar e pedalar a bicicleta, ela irá andar, não é mesmo?

Quando as reações de apoio não garantem que a estrutura ficará parada sob a
aplicação de algum esforço, classificamos a estrutura como Hipostática!

2. Para não deixar a bicicleta "solta", você colocou uma das rodas em um suporte.
Assim, uma reação de apoio foi acrescentada às demais, atingindo a quantidade necessária
de reações para ela ficar paradinha!

Agora, não tem como fazer a bicicleta andar (a não ser que alguém retire a roda do
suporte, tornando ela hipostática novamente).

Quando a quantidade de reações de apoio é exatamente a necessária para garantir


que a estrutura ficará parada sob a aplicação de algum esforço, classificamos a estrutura
como Isostática!

3. Se você quiser restringir ainda mais as possibilidades de movimentação da sua


bicicleta, você tem a opção de colocar um cadeado. Assim, ao menos mais uma reação de
apoio é adicionada às demais.
a arte de analisar estruturas 16

Perceba que a reação de apoio do cadeado é algo a mais, e que você colocou para
garantir que realmente a bicicleta não vai poder movimentar!

Quando você tem mais reações do que de fato necessário, nós chamamos a estrutura
de Hiperestática!

O interessante é que essa ideia de ter mais reações de apoio sempre traz uma
impressão de segurança, já que estamos provendo mais condições de suporte do que
necessárias. Porém, isso nem sempre é verdadeiro, já que, por diversos fatores, podemos
ter estruturas hiperestáticas com menos segurança do que uma isostática.

Outra coisa: quando aumentamos a quantidade de reações de apoio, alteramos o


método de solução destas estruturas já que, matematicamente, elas deixam de ser
estaticamente determinadas e passam a ser estatisticamente indeterminadas. Na prática
matemática, passamos a ter mais incógnitas do que equações dentro do sistema linear
que usamos para encontrar as reações de apoio.

Conclusão
Viu como entender estruturas não é algo complicado? Na verdade, é algo até
mesmo interessante e legal de se fazer.

E agora que você aprendeu o básico de estruturas, vamos para o próximo passo,
que é aprender a modelar uma estrutura preparada para o cálculo estrutural. Vamos lá?

Capítulo 2
a arte de analisar estruturas 17

Modelagem estrutural
Agora você vai aprender a como converter uma estrutura real em um modelo que nós ou
um software conseguimos calcular
a arte de analisar estruturas 18

2.1 O que é essa tal de modelagem estrutural


Assim como nos demais problemas físicos, simplificações também fazem parte
da vida de uma estrutura.

E assim como movimento retilíneo uniforme não existe na prática por conta da
complexidade do universo real e seus coeficientes de atrito, uma estrutura real também
não consegue ser analisada tal como ela é na prática.

Em tese, o que normalmente calculamos é uma representação o mais fiel possível


de uma realidade. Portanto, simplificações são aceitas de forma com que os resultados
finais não fiquem muito distantes do que seria a verdadeira realidade.

E para cobrir essas diferenças entre a realidade e o que calculamos? O que é feito?
Bem, as imperfeições que temos na prática não são esquecidas. Elas entram no cálculo
normalmente como esforços adicionais ou coeficientes de segurança.

Mas nesse contexto todo, o que é mais importante é que aprendamos a modelar
(ou representar) uma estrutura com o máximo de coerência e fidelidade com o que
teremos na prática. E é isso que iremos aprender neste capítulo.

2.1 Tipos de modelos estruturais


Quando pretendemos calcular algum elemento estrutural, temos antes que decidir
qual tipo de modelo estrutural iremos escolher, já que isso irá ser determinante no grau
de fidelidade que teremos em nossos resultados.

Dentre os modelos estruturais, temos:

2.1.1 Estruturas não reticuladas

São estruturas que não conseguem ser representadas em um modelo composto


por nós e barras, mas sim por funções de superfície, sendo os seus principais exemplos
as placas, as cascas e as membranas. Neste livro, não iremos estudar este tipo de
estruturas.

2.1.2 Estruturas reticuladas


Essas são as que mais estudamos na graduação. Elas são essencialmente
formadas por nós e barras, sendo os seus principais exemplos as vigas, os pórticos, as
a arte de analisar estruturas 19

treliças e as grelhas. A seguir, temos uma ilustração de um castelo de cartas, que é um


grande exemplo de uma estrutura que pode modelada de forma reticulada.

Ah! Neste livro, a partir de agora, iremos dedicar nossos estudos a todo o
fluxograma de modelagem e análise das estruturas reticuladas, tanto isostáticas quanto
hiperestáticas. Para tal, as próximas seções irão discorrer sobre todos os aspectos da
modelagem dessas estruturas.

2.1 Componentes de um modelo estrutural


Compõem um modelo estrutural reticulado os nós e barras, sendo que para os
nós, são sempre previstos graus de liberdade de deslocamento, restritos ou não. Ah!
Matheus, mas o que são esses graus de liberdade?

Imagine que você irá jogar um videogame. Para isso, você irá utilizar um joystick
(ou como chamamos por aqui de manete). Perceba que essa manete já tem os locais
certos em que você pode deslocar o controle após aplicar uma força.

Esses locais foram pré-definidos pelo fabricante do videogame e correspondem


exatamente às movimentações que os jogos precisam. A imagem a seguir ilustra tudo
isso:
a arte de analisar estruturas 20

Os graus de liberdade são, portanto, as direções em que o joystick pode se


movimentar. Em uma estrutura, as coisas funcionam da mesma maneira. Consideramos
que um pilar tem um grau de liberdade vertical caso ele possa, em nosso cálculo e de
alguma forma, se movimentar nessa direção.

A definição dos graus de liberdade é extremamente importante para qualquer


modelagem estrutural, já que isso vai definir desde qual modelo iremos utilizar até quais
esforços solicitantes teremos ao fim da análise estrutural.

E além dos nós, quais outros componentes temos em um modelo estrutural típico:
As barras, que são linhas que representam algum elemento estrutural na prática, podendo
ser um peça de uma treliça, uma viga e até um pilar.

Ainda, de acordo com o funcionamento desses graus de liberdade e das barras,


teremos as ações estruturais ocorrendo nas barras e nós ou somente nos nós.

2.1.1 Vínculos estruturais


Os vínculos, na prática, são elementos construtivos ou algum dispositivo que liga
elementos construtivos para garantir à estrutura a estaticidade necessária e o equilíbrio
de forças e deslocamentos. Normalmente, na Teoria das Estruturas, chamamos os
vínculos ou apoios, a qual descrevemos a seguir:
a arte de analisar estruturas 21

● Apoio móvel: Também chamado de apoio de 1º Gênero. Concede à estrutura uma


reação de apoio e uma restrição de deslocamento de translação. Como exemplo,
temos as rodas de veículos, como carros e bicicletas.

● Apoio fixo: Também chamado de apoio de 2º Gênero. Concede à estrutura duas


reações de apoio e duas restrições de deslocamento de translação. Como
exemplo, temos a cancela de estacionamentos.

● Apoio engastado: Também chamado de apoio de 3º Gênero. Concede à estrutura


três reações de apoio e duas restrições de deslocamento de translação e uma de
rotação. Como exemplo, as ligações no apoio de uma viga em balanço.

A figura abaixo ilustra, de forma simplificada, como esses apoios podem aparecer
no nosso cotidiano:
a arte de analisar estruturas 22

2.1.2 Cargas estruturais


O próximo ponto que temos que aprender a modelar são as cargas. Na realidade,
todos os elementos são tridimensionais. Porém, na hora de calcularmos, simplificamos
a maioria das estruturas em algo bidimensional.

Assim, uma carga que na prática é tridimensional, será considerada como algo
bidimensional. Essa supressão de um eixo acaba deixando as cargas diferentes de como
elas são na realidade, o que normalmente confunde os alunos de estruturas.

Portanto, aqui, você vai aprender como interpretar e modelar cargas de acordo
com os critérios práticos e teóricos da teoria das estruturas.

Já com as devidas considerações e simplificações, podemos dizer que usamos


os seguintes tipos de cargas em nossos projetos:

Capítulo 3
Análise estrutural
a arte de analisar estruturas 23

Estruturas isostáticas

As estruturas isostáticas são aquelas que possuem a quantidade mínima


necessária para manter a estrutura parada (ou seja, estática).

Subentendemos assim, que elas são, pela ótica das restrições de deslocamento,
e portanto, dos apoios, a forma mais barata possível para se montar uma estrutura. No
entanto, como veremos mais adiante, pela ótica do elemento estrutural, isso nem sempre
é verdade.

Dentre exemplos de estruturas isostáticas temos:

Como calcular as reações de apoio

Exercícios

Força Cortante

1. Faça a análise estrutural das vigas abaixo, determinando os valores de reações de


apoio e desenhando os diagramas de esforços cortantes.

OBS: Considere que as vigas obedecem à hipótese de Euller-Bernoulli e portanto, não


terão ações horizontais. Ainda, os apoios são do tipo pré-moldado articulado.

a)
a arte de analisar estruturas 24

b)

c)

d)

2. Considerando os seus conhecimentos básicos de concreto armado, faça o esquema


do detalhamento dos estribos das vigas da questão 1.

3. Com base nos diagramas de força cortante abaixo, esboce como provavelmente é a
estrutura:
a arte de analisar estruturas 25

a)

b)

4. Considerando os seus conhecimentos básicos de concreto armado, faça o esquema


do detalhamento dos estribos das vigas da questão 1.

Momento Fletor

5. Utilize como base os diagramas de força cortante da Q1 e trace os diagramas de


momento fletor. Após, determine os prováveis detalhamentos para as armaduras
longitudinais.

Estruturas hiperestáticas

Método das Forças

Exercícios

1. Dada a estrutura abaixo, faça os seguintes itens de projeto:


a) Calcule as reações de apoio da viga abaixo:
a arte de analisar estruturas 26

b) Agora, suponha que o apoio A recalcou 11mm para baixo e o apoio B 5mm para
baixo. Após os recalques, o que irá alterar na estrutura?

2. Dada a estrutura abaixo, faça os seguintes itens de projeto:

OBS: Seção de 10cm x 20cm.


a) Calcule as reações de apoio.
b) Dimensione o cabo B. σ = 50MPa.
c) Agora, considere que este cabo sofrerá uma deformação normal em decorrência
do carregamento imposto. E = 150GPa.
d) Com o deslocamento ocorrido no ponto B por conta da deformação normal do
cabo B, recalcule as reações de apoio.
e) O que você consegue deduzir de tudo o que foi calculado?

Método dos Deslocamentos

LISTA DE EXERCÍCIOS - ESTRUTURAS ESTATICAMENTE


INDETERMINADAS - MÉTODO DOS DESLOCAMENTOS #1
TEORIA DAS ESTRUTURAS II

OBS: Todas as questões abaixo devem ser desenvolvidas utilizando o Método dos
Deslocamentos. Recomenda-se o uso do FrameDesign ou Ftool como ferramenta
auxiliar, para melhor compreensão do conteúdo proposto.

1. Um dos grandes desafios de um engenheiro projetista de estruturas é a


concepção do projeto estrutural, etapa na qual ele precisa determinar a posição,o
pré-dimensionamento de cada elemento pertencente à estrutura e também os
a arte de analisar estruturas 27

vínculos das ligações. Dada a estrutura abaixo, onde apenas questões de vínculos
podem ser trabalhadas, determine qual opção minimiza a função custo:

f(x) = 0,25.Cm + 0,55.Mm + 0,20.Σ(Rm)


Onde,
Cm = Cortante Máxima no Diagrama
Mm = Momento Máximo no Diagrama
Σ(Rm) = Somatório de todas as Reações de Apoio. Se a ligação for engastada,
multiplique Rm por 2, ponderando assim, o custo de construção da ligação.

2. O entendimento do comportamento estrutural é um dos principais quesitos para


o desenvolvimento de um bom projeto/laudo. Em uma situação em que você foi
contratado e será necessário a confecção de um laudo técnico, temos uma estrutura
que foi construída com as seguintes características:
a arte de analisar estruturas 28

Para a confecção do laudo técnico, determine as seguintes informações:


a) Reações de apoio.
b) Diagramas de força cortante e de momento fletor.

Agora, por meio dos resultados numéricos obtidos, dê o seu parecer técnico no que
tange aos seguintes assuntos:
c) Aparentemente, um erro de execução diminuiu a rigidez da ligação em A,
passando a funcionar como um apoio articulado. Como esse erro impactou os
demais apoios?
d) Você recomenda o reforço de fundações em algum dos pilares?

3. Dada a estrutura abaixo, faça os seguintes itens de projeto:

a) Calcule as reações de apoio.


b) Represente os diagramas de força cortante e de momento fletor.
c) O que você propõe para melhorarmos o lançamento desta estrutura?
d) Supondo que essa flecha ultrapasse o limite permitido pela norma, qual seria a
sua proposta de intervenção? OBS: Sua proposta precisa ser notadamente mais
econômica do que o atual sistema e não alterar o posicionamento dos pilares,
interferindo na arquitetura.

4. Determine as reações de apoio na estrutura abaixo utilizando o Método dos


Deslocamentos.
a arte de analisar estruturas 29

Método da Rigidez Direta

1. Dada a barra tracionada abaixo, faça o que se pede:


Considere EA = 1

a) Construa a matriz de rigidez da barra.


Esta questão tem como objetivo apenas a construção da matriz de rigidez k da
estrutura acima. Para resolvê-la, temos que inicialmente organizar as informações
que temos. Um primeiro passo será identificar as barras e os nós, as coordenadas
cartesianas dos nós e os graus de liberdade de cada nó (cada nó tem dois graus de
liberdade).

Agora, nós iremos calcular λx e λy:


a arte de analisar estruturas 30

Com os valores de λx e λy calculadores, iremos construir a matriz de rigidez k, conforme


modelo abaixo:

Substituindo os valores, teremos:

Por questões práticas, não há problemas em deixar a resposta assim mesmo. Se


fôssemos implementar essa matriz em algum software, essa multiplicação seria
feita de forma bem simples. E o interessante de deixar assim é que para qualquer
dimensão da barra, teremos esse mesmo formato da matriz, mudando apenas o
AE/L.

a) Calcule as reações de apoio

Para calcular as reações de apoio, a seguinte equação é válida:

onde Q é o vetor de cargas, K a matriz de rigidez global (neste caso, a matriz local
é a mesma matriz global, visto que temos apenas um elemento).

Se detalharmos essas matrizes, teremos:


a arte de analisar estruturas 31

Assim, temos que alimentar os vetores e matrizes com o que conhecemos. Assim,
teremos:

Assim, podemos encontrar o seguinte sistemas de equações:

Ou seja,

Assim, com um único sistema matricial, conseguimos encontrar as reações de


apoio e o deslocamento no ponto B (dFx), que é de 20 (neste exemplo, como usamos
um EA unitário, este deslocamento não faz sentido geométrico).

2. Dada a treliça abaixo, faça o que se pede:


Considere EA = 1
a arte de analisar estruturas 32

a) Determine as matrizes de rigidez de cada elemento


Inicialmente, precisamos organizar as informações da nossa estrutura:

Agora, nós iremos calcular λx e λy para os Elementos 1 e 2:

Com os valores de λx e λy calculados, iremos construir a matriz de rigidez k de cada


Elemento, conforme modelo abaixo:

Assim, k1 pode ser determinada da seguinte forma:


a arte de analisar estruturas 33

Já k2 pode ser determinada da seguinte forma:

b) Determine as matrizes de rigidez global K.


A matriz de rigidez global K agora será construída! A ideia é preencher a seguinte
matriz global com os valores de cada matriz local:

Agora, é só fazer a anotação de cada posição das linhas e colunas de acordo com o
número do grau de liberdade. Para valores da matriz local k1, vou usar a cor verde.
Para os valores da matriz local k2, vou usar a cor vermelha.
a arte de analisar estruturas 34

Nas posições não anotadas, teremos valor nulo. Para as posições onde apenas um
valor foi preenchido, este será o valor da posição. Para posições onde mais de um
valor foi preenchido, devemos somá-los para indicar o valor final desta posição.
Assim, teremos:

Ou seja, nossa matriz de rigidez global K será:


a arte de analisar estruturas 35

c) Calcule as reações de apoio.


Para calcular as reações de apoio, a seguinte equação é válida:

onde Q é o vetor de cargas e K a matriz de rigidez global. Se detalharmos essas


matrizes e substituirmos as cargas nodais q e também os deslocamentos nodais d,
teremos a seguinte equação matricial. OBS: Os apoios em A e B tem condições de
contorno de deslocamentos translacionais = 0. Por isso, os deslocamentos
associados aos graus de liberdade 3, 4, 5 e 6 são nulos::

Com a equação matricial montada, podemos extrair o sistema de equações:


a arte de analisar estruturas 36

Como iremos precisar encontrar d5 e d6, iremos condensar as informações que


temos e montar um novo sistema de equações:

Poderíamos resolver esse sistema com qualquer método visto em GAAL ou Cálculo
Numérico, mas como esta parte não é foco de nossa disciplina, vou utilizar uma
aplicação web para tal, disponível no site https://matrixcalc.org/pt/slu.html.

Com isso, achamos d5 = 383/5 e d6 = -20. Usando esses valores, podemos encontrar
By como -10KN. Ou seja: Ax = 10KN, Ay = 10KN, Bx = 0 e By = -10KN. Modelando
a mesma estrutura no Ftool, teremos como resposta:
a arte de analisar estruturas 37

Ou seja, a nossa abordagem do Método da Rigidez encontra os mesmos


resultados do Ftool.

Método de Cross
Como vimos anteriormente, temos na engenharia civil estruturas classificadas
como isostáticas e hiperestáticas (as hipostáticas não são aplicáveis ao nosso caso). As
estruturas isostáticas são calculadas pelas equações universais da estática, tal como
vocês viram em Mecânica Aplicada e Teoria das Estruturas I. As estruturas hiperestáticas
recebem uma atenção aqui em Teoria das Estruturas II.

Especificamente, iniciamos nossa disciplina trabalhando o Método das Forças,


que por meio das equações da elástica e a consideração de forças unitárias atuando em
pontos onde tínhamos reações de apoio excedentes (teoricamente supérfluas),
encontrávamos as reações de apoio.

Após, trabalhamos o Método dos Deslocamentos, que por meio de


deslocamentos unitários e os valores de rigidez de cada tipo de situação (tabelados),
conseguimos achar a deslocabilidade e depois as nossas reações de apoio.

Ainda, vimos também uma aplicação do Método dos Deslocamentos, a saber: O


Método da Rigidez. Basicamente, é uma aplicação matricial do método dos
deslocamentos, abrindo as portas para o entendimento do Método dos Elementos Finitos
para aqueles que se interessarem em seguir na área de Engenharia de Estruturas.
a arte de analisar estruturas 38

Agora, iremos ver o último dos métodos clássicos de solução de estruturas


hiperestáticas: O Método de Distribuição de Momentos, também conhecido por Método
ou Processo de Cross, em homenagem ao criador.

O Processo de Cross

O Processo de Cross é um método iterativo de cálculo de estruturas hiperestáticas


sem deslocabilidades externas do tipo translação, ou seja, para estruturas que
necessariamente tem engaste ou apoio fixo em suas extremidades. Ele pode ser
aplicado em cálculos de vigas, grelhas e pórticos planos e espaciais. Apesar de não
ser utilizado hoje com muita frequência pelos escritórios de engenharia, este
método marcou um período onde as estruturas de concreto armado estavam em
ascensão e não tínhamos ferramentas computacionais para o cálculo destas
estruturas, que são caracterizadas por altos graus de hiperestaticidade. Assim, no
atual cenário da engenharia de estruturas, aprendemos este método não para
aplicações tradicionais de engenharia, mas para um passo a mais na compreensão
do comportamento de uma estrutura hiperestática.

O funcionamento do método - Vigas de dois tramos

Considere uma resolução do sistema hiperestático abaixo usando o Processo de


Cross. OBS: Considere neste exemplo EI = 1, Q = 10KN/m, L1 = 4m e L2 = 3m.

1. A aplicação do método consiste inicialmente na consideração de um sistema


hipergeométrico (SH). Basicamente, nesta etapa, iremos enrijecer todas as ligações
internas colocando “chapas de aço imaginárias”.
a arte de analisar estruturas 39

2. Agora, iremos aplicar uma rotação unitária na(s) ligação(ões) enrijecidas com
nossa(s) “chapa(s) de aço imaginária(s)”. Assim, teremos um comportamento da
elástica conforme ilustrado abaixo:

Nesta etapa, precisamos determinar as rigidezes de cada ligação. Para tal, iremos
usar a tabela disponível no Classroom:

OBS: Os d’ não necessitam ser utilizados neste caso.


Ou seja, teremos como K em cada ponto:

A B C

1/2 1 4/3 2/3

Agora, para cada lado do(s) nó(s) interno(s), teremos que calcular os Fatores de
Distribuição d:
a arte de analisar estruturas 40

Como temos apenas o nó B como nó interno (neste exemplo), teremos:

3. Agora, iremos particionar nossa estrutura nos pontos em que colocamos nossa(s)
“chapa(s) de aço imaginária(s)”:

Com a nossa estrutura particionada, iremos calcular os momentos de


engastamento perfeito (ver tabela disponível no Classroom) em cada ponto e
preencher a tabela abaixo:

A B C

40/3 -40/3 15/2 -15/2

4. Agora, iremos fazer a distribuição de momentos no(s) nó(s) interno(s). Para isso,
começaremos encontrando o nosso Momento Total em B (soma do momento de
cada lado das estruturas particionadas).

A B C

40/3 -40/3 15/2 -15/2

- -40/3 + 15/2 = -35/6 -

Agora, iremos multiplicar nosso Momento Total em B pelos fatores de


distribuição db (com sinal trocado):
a arte de analisar estruturas 41

A B C

40/3 -40/3 15/2 -15/2

-40/3 + 15/2 = -35/6

1001/400 3997/1200

Agora, precisamos distribuir esses momentos para os nós externos. No entanto,


isso somente deve ser feito se este nó externo for um engaste, que é o caso deste
exemplo. Nós articulados não recebem momentos, e portanto, não devem ser
considerados no momento da distribuição dos momentos que vem dos nós
internos. É aceito ainda que um nó externo engastado recebe, pela metodologia do
Processo de Cross, metade do valor de momento que encontramos na etapa
anterior. Assim, teremos:

A B C

40/3 -40/3 15/2 -15/2

-40/3 + 15/2 = -35/6

1001/400 3997/1200

1001/800 3997/2400

Agora, iremos fazer o somatórios dos momentos (em azul), obtendo como
resultado os momentos fletores em cada ligação (em vermelho):

A B C
a arte de analisar estruturas 42

40/3 -40/3 15/2 -15/2

-40/3 + 15/2 = -35/6

1001/400 3997/1200
1001/800 3997/2400

14,58 -10,83 10,83 -5,83

Ao modelarmos a estrutura no Ftool, teremos:

Aqui, percebemos algo um tanto curioso. O momento da ligação em A está com o


sinal oposto ao encontrado pelo Processo de Cross. O momento em B seria o
referente ao lado esquerdo do ponto B e o momento em C é o que encontramos de
fato. Por que isso ocorreu?

Os diagramas (momento, cortante, normal e torsor) são dados pelas esforços


internos na viga (ou outro elemento). Ou seja, não usamos esforços de ligação para
desenhar os diagramas! Isso é de fundamental importância!

Assim, o que nós encontramos em A, essencialmente é o que ilustro abaixo:

Porém, esse M = + 14,6 apenas indica o momento fletor na ligação, onde o +


especifica que este momento é anti-horário. E isso é bem verdade! Porém, este
a arte de analisar estruturas 43

momento, por sua vez, precisa ter um binário de momento M com sinal trocado em
um ponto infinitesimal após a ligação para que ocorra um equilíbrio. E esse ponto
infinitesimal é exatamente o primeiro ponto da viga. E esse binário de momento é
exatamente a reação interna de momento na primeira seção transversal
infinitesimal da viga. E é exatamente esse momento que representamos no
diagrama!

Resumo: Representamos nos diagramas a reação interna na viga e não a reação de


apoio ou outra coisa que a nossa viga tenha.

E sabe o que é mais interessante? Para alguns (como foi meu caso), somente aqui
neste ponto do Processo de Cross que entendemos que é assim que os diagramas
funcionam!

Ah! Matheus, mas é aí? Como ficam os diagramas com o Processo de Cross?

Bom, vamos basicamente fazer o seguinte: Pegue o valor da esquerda! Vamos


entender isso melhor?

No apoio A, só temos o momento da direita. Então, precisamos “imaginar” uma


continuidade à esquerda de A, que teria o mesmo momento que encontramos em
A, mas com sinal trocado. Mas saiba: isso só acontece em A (primeiro apoio da
viga).

Nos apoios intermediários, sempre teremos momento à esquerda e à direita. Pegue


o da esquerda!

No último apoio, sempre teremos somente o momento da esquerda. Então, basta


pegar o que você encontrou no Processo de Cross. Simples, não?
a arte de analisar estruturas 44

Reações de Apoio

O interessante do Processo de Cross é que ele fornece, de imediato, o diagrama de


momento fletor. É como se tivéssemos pulado a etapa de cálculo das reações de
apoio. Mas isso não é problema, pois podemos também calcular as reações de
apoio.

Para tal, podemos utilizar os sistemas particionados:

Se calcularmos o somatório de momentos em A, por exemplo:

Vamos calcular agora o somatório de momentos em C:

Para encontrar By, podemos somar as parcelas de By em cada situação:

Obtendo as reações de apoio pelo Ftool, podemos confirmar que nosso cálculo está
correto:
a arte de analisar estruturas 45

Ainda, é possível agora determinar os demais valores dos diagramas de momento


fletor e força cortante, usando os métodos de construção de diagramas aprendidos
em Teoria das Estruturas I. Como não é foco deste conteúdo, iremos apenas
reproduzir os resultados de força cortante e momento fletor proporcionados pelo
Ftool:

1. Determine os momentos internos em cada nó da viga abaixo:

Resolução:

O primeiro passo é considerar o sistema hipergeométrico, onde cada ligação


interna (neste caso os nós B e C) serão enrijecidos por uma chapa metálica
imaginária.
a arte de analisar estruturas 46

Após, iremos aplicar uma rotação unitária em cada nó interno (em B e em C) e


verificar por meio da tabela de rigidezes, qual o valor de k para cada lado do nó
enrijecido. Abaixo, eu resumi a tabela de rigidezes nos dois casos que aparecem no
Processo de Cross:

Com isso, teremos:

Agora, podemos calcular os coeficientes de distribuição d para cada nó interno com


a fórmula abaixo:

Assim, teremos para o nó interno B:

E, para o nó interno C, teremos:


a arte de analisar estruturas 47

Precisamos agora, encontrar os momentos de engastamento perfeito. Para isso, eu


deduzi a seguinte tabela para vocês:

Agora, podemos montar nossa tabela do processo iterativo de Cross:

Percebam que começamos preenchendo com os dados dos coeficientes de


distribuição que calculamos, os nossos nós e os momentos de engastamento
perfeito (MEP).
Agora, iremos calcular os momentos totais no nó B:

Agora, iremos multiplicar esse momento total pelos coeficientes de distribuição de


cada lado do nó B:

Agora, iremos redistribuir esses valores de momento residuais. Para nós


articulados, não enviamos nenhuma parcela residual. Para nós rígidos, por sua vez,
enviamos metade dos momentos residuais. Assim temos:
a arte de analisar estruturas 48

Fazendo o somatório dos momento agora no nó C, teremos:

Agora, iremos multiplicar esse momento total pelos coeficientes de distribuição


em C:

Agora, vamos redistribuir esses momentos residuais para os nós vizinhos de C,


seguindo a mesma lógica anterior (50% para nós vizinhos rígidos e 0% para nós
vizinhos articulados). Assim, teremos:

Agora iremos pegar apenas a parcela residual de momento transmitida de C para


B e multiplicar pelos coeficientes de distribuição. Assim teremos:
a arte de analisar estruturas 49

Percebam que fazemos o somatório de momento apenas uma vez por nó. O restante
do processo pegamos apenas o momento residual e redistribuímos entre os nós.

Dando continuidade, iremos pegar o momento residual que transmitimos de B para


C e multiplicar pelos coeficientes de distribuição:

Ah! Matheus, e quando o processo termina? Bom, todo processo iterativo precisa
de um critério de parada. Basicamente, temos que definir um limiar de precisão
requerida para encerramos.
a arte de analisar estruturas 50

Podemos, por exemplo, considerar que um momento residual inferior a 1 (M < 0,01)
seja nosso critério de parada. Como não atingimos esse limiar, iremos dar
continuidade!

Para agilizar o processo, irei reproduzir o quadro até atingirmos esse limiar:
a arte de analisar estruturas 51

Pronto, um momento residual foi menor que nosso limiar. Agora podemos parar!
E quando paramos, o que vem em seguida? O somatório dos momentos em cada
nó:

Pronto! Esses são os momentos do diagrama. Agora, é importante ressaltar que


esses resultados apresentam erros numéricos por conta de arredondamentos ao
longo do processo e por conta da precisão do limiar utilizado no critério de parada.
Mas isso é algo bem normal para esse tipo de método (mais um porquê dos
coeficientes de segurança, quando analisamos o impacto que o Processo de Cross
a arte de analisar estruturas 52

teve na área de Concreto Armado quando não tínhamos softwares a nossa


disposição).

Exercícios

1. Dada a estrutura abaixo, faça os seguintes itens de projeto:

Q = 10KN/m, L1 = 5m e L2 = 3m.

a) Calcule as reações de apoio pelo Processo de Cross.


b) Represente os diagramas de força cortante e de momento fletor (com todos os
valores representativos, ou seja, máximos e mínimos locais).

2. Considerando que o tirante B abaixo foi dimensionado com ϕ 4.2mm e σ = 75MPa,


delibere se a estrutura poderá ser executada. OBS: Utilize o Processo de Cross para
encontrar as reações de apoio.
a arte de analisar estruturas 53

3. Dada a estrutura abaixo, faça os seguintes itens de projeto:

a) Calcule as reações de apoio utilizando o Processo de Cross.


b) Represente os diagramas de força cortante e de momento fletor.
c) Porque o apoio em B tem sobre ele no diagrama de momento fletor, um valor de
momento, mesmo sendo articulado?
d) Se eu precisar diminuir a intensidade deste momento em B, qual estratégia
poderia utilizar?

4. Dada a estrutura abaixo, faça os seguintes itens de projeto:

a) Calcule as reações de apoio utilizando o Processo de Cross.


b) Represente os diagramas de força cortante e de momento fletor.
c) O que você propõe para melhorarmos o lançamento desta estrutura?

5. Dada a estrutura abaixo, faça os seguintes itens de projeto:


a arte de analisar estruturas 54

a) Pela teoria do Processo de Cross, ela pode ser calculada? Se não, por qual
motivo? Se não, faça as alterações necessárias para que seja possível o cálculo.
a) Calcule as reações de apoio utilizando o Processo de Cross.
b) Represente os diagramas de força cortante e de momento fletor.
c) Relate um ponto positivo e um negativo deste lançamento estrutural (somente
em relação aos apoios, visto que as cargas são oriundas da arquitetura e não
temos controle sobre elas).
1. Dada a estrutura abaixo, faça os seguintes itens de projeto:

a) Calcule as reações de apoio pelo Processo de Cross.


b) Represente os diagramas de força cortante e de momento fletor (com todos os
valores representativos, ou seja, máximos e mínimos locais).

2. Dada a estrutura abaixo, faça os seguintes itens de projeto:

a) Calcule as reações de apoio utilizando o Processo de Cross.


b) Represente os diagramas de força cortante e de momento fletor.
c) Porque o apoio em B tem sobre ele no diagrama de momento fletor, um valor de
momento, mesmo sendo articulado?
d) Se eu precisar diminuir a intensidade deste momento em B, qual estratégia
poderia utilizar?
c) Relate um ponto positivo e um negativo deste lançamento estrutural (somente
em relação aos apoios, visto que as cargas são oriundas da arquitetura e não
temos controle sobre elas).
a arte de analisar estruturas 55

3. Dada a estrutura abaixo, faça os seguintes itens de projeto:

Q = 10KN/m, L1 = L2 = 4m, L3 = 5m
a) Calcule as reações de apoio utilizando o Processo de Cross.
b) Represente os diagramas de força cortante e de momento fletor.

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