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As qualificações e responsabilidades bíblicas

dos diáconos
Benjamin L. Merkle 16 de dezembro de 2013 520,450 Visualizações Artigo14 min de leitura
Ministério Fiel Liderança da Igreja

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Quem deveria ser um diácono? O que a Bíblia diz que os diáconos devem fazer?

Os Dois Ofícios Bíblicos: Presbíteros e Diáconos


Comparar o ofício de diácono ao de presbítero nos ajudará a responder essas
questões. Os líderes espirituais primários de uma congregação são os presbíteros, os
quais são também chamados bispos ou pastores no Novo Testamento. Presbíteros
ensinam ou pregam a Palavra e pastoreiam as almas daqueles que estão sob seus
cuidados (Ef 4.11; 1Tm 3.2; 5.17; Tt 1.9; Hb 13.17). Os diáconos também possuem
uma função crucial na vida e saúde da igreja local, mas a sua função é diferente
daquela dos presbíteros. O papel bíblico dos diáconos é cuidar das necessidades
físicas e logísticas da igreja, de modo que os presbíteros possam se concentrar no
seu chamado primário.

Essa distinção é baseada no padrão encontrado em Atos 6.1-6. Os apóstolos eram


devotados “à oração e ao ministério da palavra” (v. 4). Uma vez que esse era o seu
chamado primário, sete homens foram escolhidos para lidar com assuntos mais
práticos, de modo a dar aos apóstolos a liberdade para continuarem a sua obra.

Essa divisão de trabalho é semelhante à que vemos com os ofícios de presbítero e


diácono. Como os apóstolos, a função primária dos presbíteros é pregar a Palavra de
Deus. Como os sete, os diáconos servem a congregação em todas as necessidades
práticas que possam surgir.
As Qualificações dos Diáconos
A única passagem que menciona as qualificações para os diáconos é 1Timóteo 3.8-
13. Nessa passagem, Paulo apresenta uma lista oficial, porém não exaustiva, dos
requerimentos para os diáconos.

As similaridades entre as qualificações para diáconos e presbíteros/bispos em


1Timóteo 3 são notáveis. Assim como as qualificações para os presbíteros, um
diácono não pode ser dado ao vinho (v. 3), avarento (v. 3), irrepreensível (v. 2; Tt
1.6), marido de uma só mulher (v. 2), e um hábil governante de seus filhos e de sua
casa (vv. 4-5). Além disso, o foco das qualificações é o caráter moral da pessoa que
há de preencher o ofício: um diácono deve ser maduro e acima de reprovação. A
principal diferença entre um presbítero e um diácono é uma diferença de dons e
chamado, não de caráter.

Paulo identifica nove qualificações para os diáconos em 1Timóteo 3.8-12:

1. Respeitáveis (v. 8): Esse termo normalmente se refere a algo que é


honorável, digno, estimado, nobre, e está diretamente relacionado a
“irrepreensível”, que é dado como uma qualificação para os presbíteros
(1 Tm 3.2).
2. De uma só palavra (v. 8): Aqueles que têm a língua dobre dizem uma
coisa a certas pessoas, mas depois dizem algo diferente a outras, ou
dizem uma coisa, mas querem dizer outra. Eles têm duas faces e são
insinceros. As suas palavras não podem ser confiadas, então eles
carecem de credibilidade. 
3. Não inclinados a muito vinho (v. 8): Um homem é desqualificado para
o ofício de diácono se for viciado em vinho ou outra bebida forte. Tal
pessoa carece de domínio próprio e é indisciplinada. 
4. Não cobiçosos de sórdida ganância (v. 8): Se uma pessoa ama o
dinheiro, não está qualificado para ser um diácono, especialmente
porque os diáconos com freqüência lidam com questões financeiras da
igreja. 
5. Sólidos na fé e na vida (v. 9): Paulo também indica que um diácono
deve “conservar o mistério da fé com a consciência limpa”. A expressão
“o mistério da fé” é simplesmente um modo de Paulo falar do evangelho
(cf. 1Tm 3.16). Conseqüentemente, essa afirmação se refere à
necessidade de os diáconos manterem-se firmes no verdadeiro
evangelho, e não oscilantes. Contudo, essa qualificação não envolve
apenas as crenças de alguém, pois o diácono também deve manter essas
crenças “com a consciência limpa”. Isto é, o comportamento de um
diácono deve ser consistente com suas crenças. 
6. Irrepreensíveis (v. 10): Paulo escreve que os diáconos devem ser
“primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis,
exerçam o diaconato” (v. 10). “Irrepreensíveis” é um termo genérico,
que se refere ao caráter geral de uma pessoa. Embora Paulo não
especifique que tipo de teste deve ser feito, no mínimo, deve-se
examinar a vida pessoal, a reputação e as posições teológicas do
candidato. Mais do que isso, a congregação não deveria examinar apenas
a maturidade moral, espiritual e doutrinária do diácono em potencial,
mas deveria também considerar o histórico de serviço da pessoa na
igreja. 
7. Esposa piedosa (v. 11): É discutível se o versículo 11 se refere à esposa
do diácono ou a uma diaconisa. No que interessa a esta discussão, vamos
assumir que o versículo esteja falando das qualificações da esposa de um
diácono. De acordo com Paulo, as esposas dos diáconos devem ser
“respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo” (v. 11).
Como o seu marido, a esposa deve ser respeitável ou honorável. Em
segundo lugar, ela não deve ser maldizente, uma pessoa que espalha
fofocas. A esposa de um diácono deve também ser temperante ou sóbria.
Isso é, ela deve ser apta a fazer bons julgamentos e não deve estar
envolvidas em coisas que possam embaraçar tal julgamento. Por fim, ela
deve ser “fiel em todas as coisas” (cf. 1Tm 5.10). Esse é um
requerimento genérico que funciona semelhantemente ao requerimento
para que os presbíteros e diáconos sejam “irrepreensíveis” (1Tm 3.2; Tt
1.6; 1Tm 3.10). 
8. Marido de uma só mulher (v. 12): A melhor interpretação dessa
passagem difícil consiste em entendê-la como a fidelidade do marido
para com sua esposa. Ele deve ser “um homem de uma única mulher”.
Isso é, não deve haver qualquer outra mulher em sua vida com a qual ele
se relacione em intimidade, seja emocionalmente, seja fisicamente. 
9. Governe bem seus filhos e a própria casa (v. 12): Um diácono deve
ser o líder espiritual de sua esposa e filhos. 
De modo geral, se uma qualificação moral é listada para presbíteros, mas não para
diáconos, aquela qualificação ainda se aplica a estes. O mesmo ocorre para aquelas
qualificações listadas para diáconos, mas não para presbíteros. Por exemplo, um
diácono deve ser um homem de “uma só palavra” (v. 8). Paulo não afirma
explicitamente o mesmo acerca dos presbíteros, mas não há dúvida de que tal se
aplica a eles, uma vez que Paulo disse que os presbíteros devem ser
“irrepreensíveis”, o que incluiria essa injunção.
Ainda assim, nós deveríamos observar as diferenças nas qualificações, uma vez que
ou elas significam um traço peculiarmente adequado ao oficial para que cumpra seus
deveres, ou são algo que era problemático no lugar para onde Paulo escreveu (no
caso, Éfeso). Isso deve ficar mais claro à medida que passemos a considerar as
responsabilidades de um diácono.

As Responsabilidades dos Diáconos


Se o ofício de presbítero é freqüentemente ignorado na igreja moderna, o ofício de
diácono é freqüentemente mal-entendido. Conforme o Novo Testamento, a função
do diácono é, principalmente, ser um servo. A igreja precisa de diáconos para
proverem suporte logístico e material, de modo que os presbíteros possam focar na
Palavra de Deus e na oração.

O Novo Testamento não nos dá muita informação acerca do papel dos diáconos. Os
requerimentos dados em 1Timóteo 3.8-12 focam no caráter e na vida familiar do
diácono. Existem, contudo, algumas dicas quanto à função dos diáconos quando os
requerimentos são comparados àqueles dos presbíteros. Embora muitas das
qualificações sejam as mesmas ou muito similares, há algumas notáveis diferenças.

Talvez a distinção mais perceptível entre presbíteros e diáconos seja que os diáconos
não precisam ser “aptos a ensinar” (1Tm 3.2). Diáconos são chamados a “conservar”
a fé com uma consciência limpa, mas não são chamados a “ensinar” aquela fé (1Tm
3.9). Isso sugere que os diáconos não têm um papel de ensino oficial na igreja.

Como os presbíteros, os diáconos devem governar bem sua casa e seus filhos (1Tm
3.4, 12). Porém, ao referir-se aos diáconos, Paulo omite a seção na qual compara
governar a própria casa a cuidar da igreja de Deus (1Tm 3.5). O motivo dessa
omissão é, mais provavelmente, devido ao fato de que aos diáconos não é dada uma
posição de liderança ou governo na igreja – essa função pertence aos presbíteros.

Embora Paulo indique que um indivíduo deva ser testado antes de poder exercer o
ofício de diácono (1Tm 3.10), o requerimento de que ele não seja um neófito não
está incluso. Paulo observa que, se um diácono for um recém convertido, pode
ocorrer que ele “se ensorbebeça e incorra na condenação do diabo” (1Tm 3.6). Uma
implicação dessa diferença poderia ser que aqueles que exercem o ofício de
presbítero são mais suscetíveis ao orgulho porque possuem liderança sobre a igreja.
Ao contrário, não é tão provável que um diácono, o qual se acha mais em um papel
de servo, caia no mesmo pecado. Finalmente, o título de “bispo” (1Tm 3.2) implica
a supervisão geral do bem-estar espiritual da congregação, ao passo que o título
“diácono” implica alguém que possui um ministério orientado para o serviço.

Além do que podemos vislumbrar dessas diferenças nas qualificações, a Bíblia não
indica claramente a função dos diáconos. Contudo, baseado no padrão estabelecido
em Atos 6, com os apóstolos e os Sete, parece melhor enxergar os diáconos como
servos que fazem o que for necessário para permitir que os presbíteros cumpram o
seu chamado divino de pastorear e ensinar a igreja. Assim como os apóstolos
delegaram responsabilidades administrativas aos Sete, também os presbíteros devem
delegar certas responsabilidades aos diáconos, de modo que os presbíteros possam
focar os seus esforços em outras atividades. Como resultado, cada igreja local é livre
para definir as tarefas dos diáconos conforme as suas necessidades particulares.

Quais são alguns deveres pelos quais os diáconos devem ser responsáveis hoje? Eles
poderiam ser responsáveis por qualquer coisa que não seja relacionada ao ensino e
ao pastoreio da igreja. Tais deveres poderiam incluir:

o Instalações: Os diáconos poderiam ser responsáveis por administrar a


propriedade da igreja. Isso incluiria assegurar que o lugar de culto esteja
preparado para a reunião de adoração, limpá-lo, ou administrar o sistema
de som.
o Benevolência: Semelhante ao que ocorreu em Atos 6.1-6 com a distribuição
diária em favor das viúvas, os diáconos podem estar envolvidos em
administrar fundos ou outras formas de assistência aos necessitados.
o Finanças: Enquanto os presbíteros deveriam, provavelmente, supervisionar
as questões financeiras da igreja (At 11.30), pode-se deixar
apropriadamente que os diáconos lidem com as questões cotidianas. Isso
incluiria coletar e contar as ofertas, manter registros, e assim por diante.
o Introduções: Os diáconos poderiam ser responsáveis por distribuir boletins,
acomodar a congregação nos assentos ou preparar os elementos para a
comunhão.
o Logística: Os diáconos deveriam estar prontos a ajudar em uma variedade de
modos, de modo que os presbíteros possam se concentrar no ensino e no
pastoreio da igreja.
Conclusão
Ao passo que a Bíblia encarrega os presbíteros das tarefas de ensinar e liderar a
igreja, o papel dos diáconos é mais orientado ao serviço. Isso é, eles devem cuidar
das preocupações físicas ou temporais da igreja. Ao lidarem com tais questões, os
diáconos liberam os presbíteros para que foquem no pastoreio das necessidades
espirituais da congregação.

Contudo, embora os diáconos não sejam os líderes espirituais da congregação, o seu


caráter é da maior importância, motivo pelo qual deveriam ser examinados e
apresentar as qualificações bíblicas arroladas em 1Timóteo 3.

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