Esta semana o IPEC – Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica divulgou pesquisa de
opinião em que 31% do entrevistas dizem concordar plenamente com afirmação de que o Brasil corre o risco de virar um país comunista. Escrevo para eles; ou melhor, escrevo para você, meu irmão, minha irmã, meu amigo,a, meus e minhas colegas; escrevo para falar de uma ideia de comunismo. O medo ao comunismo não é um assunto propriamente novo. Está no ar, pelo menos, desde 1848, data do lançamento do Manifesto Comunista, de Marx e Engel. Já naquela época distante, constatavam seus autores que o espectro do comunismo assustava as potências todas da velha Europa, que se uniam em Santa Aliança para conjurá-lo. Então e agora, opositores eram e são acusados por seus adversários no poder com a pecha infamante de comunista. Então e agora, usavam e usam a infâmia como arma de dividir e enganar, enganar e dominar. Infâmia sem alma, sem espírito, sem humanidade. Para esse embuste, não importa muito saber que ideia é essa de comunismo, que princípios a sustentam. Basta, isso sim, causar o medo, disseminar o horror, propagar o fantasma do fim dos tempos – o Armagedon, o Apocalipse – e, com isso, fazer prevalecer a iniquidade e a miséria social, política, religiosa, sexual. A miséria reforça o poder pelo ódio. Os comunistas, dizem, querem tomar de você o pouco que tem, querem invadir sua casa, querem acabar com sua liberdade, querem destruir a fé e as igrejas! Pura hipocrisia, astuta ou ingênua. São os comunistas os responsáveis pela real destruição da natureza, que agora verdadeiramente ameaça a vida humana no planeta e mata (mata!) em seus cada vez mais comuns eventos climáticos extremos? Não, não são. Isso é obra desse sistema irracional de produção e consumo fruto da necessidade irrefreável de lucro e poder. São os comunistas responsáveis pela existência de bilhões (isso, bilhões) de indivíduos rastejando de fome e miséria em todo o mundo? Não, não são. É o metabolismo voraz de um mercado que se locupleta de acumulação e que, quando o sistema falha, tem a garantia dos governos a seu serviço. São os comunistas a causa do racismo, da homofobia, da xenofobia que causam morte e sofrimento de milhões de pessoas em todo o mundo? Não, não são. É a ignorância e o ódio que sustenta essa alucinação nacionalista irracional que divide territórios, crenças, raças e gêneros e propala a ideia de que uns são mais que outros. É o comunismo o criador das cruzadas, das jihads, do sionismo, da intolerância contra a fé e o culto alheio? Não, não são. É a própria intolerância religiosa e a usurpação da fé por oportunistas que fazem dela negócio e política. Não, e você sabe disso, embora talvez não queira saber. “O comunismo não priva ninguém do poder de se apropriar de sua parte dos produtos sociais; apenas suprime o poder de subjugar o trabalho de outros por meio dessa apropriação”, declaram os autores do manifesto. Os comunistas somos – porque me reconheço como um deles – os que querem o equilíbrio da vida humana possível (porque, sim, somos um nadinha e inevitavelmente seremos pó, donde viemos), os querem a paz e a harmonia; os querem poder trabalhar e realizar no trabalho; os querem educação, e casa, e saúde até a hora derradeira. E isso defendemos sempre e por isso lutamos e lutaremos. E por isso muitos morreram (mesmo sem dizer-se ou saber-se comunistas), morreram resistindo à opressão nazista, ao império americano, ao stalinismo opressor, à desordem do capitalismo selvagem globalizado. Os comunistas queremos – e eu sou um deles – que todos e cada um (não apenas alguns) sonhem com a lua (mas não em fazer dela mais um lugar de turismo exibicionista), sonhem com a festa no céu (com todos os bichos, e não só com os porcos), sonhem acordados vivendo em harmonia e arte o enigma da existência. Sim, uma festa; uma festa de todas as cores, de todas as fés, de todos os jeitos e trejeitos, de todas as formas de ser e viver e conhecer. Não se iluda com a o discurso da ganância disfarçada de oportunistas (oportunidades de quê?). Não repita sem pensar as frases do ódio e da desavença. Não seja hipócrita. O hipócrita, já disse o Papa Francisco recentemente, “é a pessoa que finge, lisonjeia e engana, porque vive com uma máscara no rosto e não tem coragem de enfrentar a verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente e limita-se a viver de egoísmo”.