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A Água Mineral no Brasil

Guarulhos, 02 de abril de 2006

Consumo da água mineral no mundo – Há uma grande tendência nas


residências e nos escritórios, do uso da água mineral e dos filtros
domésticos. Tudo isto se deve a grande desconfiança que os usuários dos
serviços públicos ou privados de abastecimento de água potável, têm da
qualidade da água potável distribuída.
Isto acontece nos Estados Unidos e outros países na Europa como a
Inglaterra, França, Itália e Alemanha. O aumento da venda de água
mineral e de filtros domésticos avança da ordem de 20% ao ano,
chegando a ponto de nos Estados Unidos alguns serviços de água
venderem água mineral e filtros domésticos, demonstrando não
confiarem eles mesmos na qualidade da água fornecida.

No que se refere a água mineral, o consumo brasileiro é de


24litros/ano/habitante, devendo chegar ao nível dos Estados Unidos que
é de 72 litros/ano/habitante. Na Europa a Itália é a líder de consumo de
água mineral com cerca de 177 litros/ano x habitante, seguido da França
com 153 litros/ano x habitante e os portugueses com 97
litros/ano/habitante.
O Brasil chegará ao consumo dos Estados Unidos de água mineral e não
ao consumo Europeu, pois na Itália e França é comum se usar tomar
vinho com água mineral, enquanto que este costume não é usual no
Brasil. Na Argentina é comum ver-se nas mesas dos restaurantes, uma
garrafa de água mineral ao lado de uma garrafa de vinho.

Histórico da água mineral – A água mineral é usada há cerca de 2500


anos. Em 1605 um Edito do rei Henri IV regulamentava a atividade e o
comércio das águas minerais. Somente em 28 de julho de 1823 com a
“Disposição Real” do rei da França é a água mineral começou a ser
engarrafada.
A água mineral é considerada no Brasil e no mundo, um alimento.
Existem ainda considerações da água mineral, como medicamento e
como produto dietético e de regime.

No Brasil a água mineral é regida através do Decreto-Lei 7841 de


08/08/1945, no chamado Código de Águas Minerais, competindo ao
Ministério de Minas e Energia (MME) através do Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM) as outorgas em todo o território
nacional.
O Código de Águas Minerais foi baseado nas leis francesas,
abandonando as idéias de água mineral dos países de língua alemã, como
a Alemanha e Áustria. Foi então adotado o conceito latino de água
mineral, o qual é mais racional do que o conceito germânico.
A definição principal de água mineral está no artigo primeiro do Código
de Águas Minerais: Águas minerais são aquelas provenientes de fontes
naturais ou fontes artificialmente captadas que possuam composição
química ou propriedades físicas ou físico-químicas distintas das águas
comuns, com características que lhes confiram uma ação
medicamentosa.

Portanto, as águas minerais são geralmente as fontes de água, as


surgências naturais que existem nas fazendas ou podem ser captadas
através de um poço tubular profundo com o uso ou não de bombas
submersíveis. A água mineral de modo geral, está num lugar protegido
de poluição devido a fezes de animais, pessoas, adubo e resíduos
industriais. A fonte de água mineral geralmente está numa fazenda em
lugar protegido por poluição, tudo arborizado e longe das cidades e das
chuvas poluídas pelas indústrias.

Para garantir a qualidade da água mineral, o DNPM (Departamento


Nacional de Produção Mineral) estabeleceu em 1998 por portaria, a
exigência de estudos de área de proteção da fonte natural ou do poço
tubular profundo. Os estudos devem ser feitos por hidrogeólogos,
mostrando as possíveis fontes de poluição e os cuidados a serem
tomados.

A água mineral é essencialmente uma água subterrânea. Não podem ser


de manancial superficial como rios, lagos, córregos e represas, devido
aos perigos de poluição ser maiores. As águas superficiais, não podem
ser classificadas como águas minerais.
O artigo primeiro do Código de Águas Minerais diz ainda que a água
mineral deverá ter uma ação medicamentosa. Isto geralmente não é
levado geralmente a sério, visto que no Brasil não existe e não existiu
nenhuma experiência para constatar cientificamente a ação
medicamentosa da água mineral.
Ação medicamentosa da água mineral – Os franceses que são os
maiores pesquisadores de água mineral do mundo informam que para se
verificar a ação medicamentosa, como exemplo, a diurese, é necessário
que se faça um estudo durante uns dois anos aproximadamente com
cobaias.
Aprovado este estudo, o mesmo é feito com seres humanos durante uns
dois anos, havendo dois tipos de, uma aquela que se quer pesquisar e
outra uma água de torneira. As pessoas que fazem os testes, não sabem
se estão bebendo a água verdadeira ou a água falsa, inclusive o
vasilhame é o mesmo para não haver influencia psicológica.
No Brasil não foi feito até hoje nenhuma pesquisa científica a respeito de
nenhuma água mineral. As pesquisas são informações isoladas de alguns
médicos, que fornecem uma opinião sobre um experimento, mas não
com o alcance cientifico exigido pelos franceses. Portanto, falar de
propriedades terapêuticas e medicamentosas de água mineral no Brasil é
pura balela. É tudo chute.

Os vários tipos de água engarrafadas no Brasil


Quase ninguém percebe uma diferença entre a água mineral e água
potável. Para a água potável, obedece-se a limites máximos enquanto
que para água mineral se obedece a limites mínimos.
Como exemplo, uma água mineral é classificada como alcalino-
bicarbonatada quando tem o mínimo de 200 mg/litro de carbonato de
sódio. Á água é sulfurosa quando tem no mínimo 1mg/l do ion sulfeto.
A água é cloretada quando tem no mínimo 100mg/litro de cloreto de
sódio. A água é ferruginosa quando tem no mínimo 5 mg/litro de ferro.
Para a água potável, que obedece a Portaria 518/2004 do Ministério da
Saúde, obedece aos limites máximos.
Assim o limite máximo do ferro é de 0,3 mg/litro, carbonato de cálcio é
de 500 mg/litro. Como se vê existem conflitos entre os limites de água
potável e de água mineral.
Na prática isto é resolvido pela Comissão Permanente de Crenologia
(Crenos=fonte, logos=estudo, portanto, estudo das fontes) hoje suspensa
que será reabilitada. É ligada ao DNPM e os membros são nomeados
pelo presidente da República.
Na Comissão de Crenologia, estão médicos, hidrogeólogos, biólogos,
microbiólogos e químicos. A legislação básica para a qualidade da água
mineral é a Resolução 25 do ano de 1976 do Ministério da Saúde que foi
revogada pela Resolução 54 de 15 de junho de 2000 sobre a Qualidade
da água mineral natural e água natural, da qual fomos o coordenador ad
hoc junto ao ministério da Saúde.
A água potável de torneira que os serviços públicos de abastecimento de
água no Brasil distribuem, são de modo geral águas superficiais, que são
tratadas e obedecem aos limites máximos estabelecidos pela Portaria
518/2004 do Ministério da Saúde. Muitas vezes a água distribuída vem
de poços tubulares profundos, devendo ser acrescido de flúor e de cloro,
para atender aos limites máximos da citada portaria.
Quando uma água de torneira é tratada por diversos métodos e ainda
acrescida de sais, a mesma é envasada e vendida como água comum
adicionada de sais. Isto às vezes trás confusão com a água mineral.
A água mineral não pode sofrer nenhum tratamento e a água comum
adicionada de sais é de uma água tratada. De modo geral a água comum
adicionada de sais provém de mananciais de superfície. São adquiridas
das concessionárias, tratadas, engarrafadas e vendidas.
Quando se retira água de poço tubular profundo e se envasa, trata-se de
água potável de mesa. O Código Nacional de Águas Minerais estabelece
limites mínimos para a classificação ao invés de limites máximos das
águas potáveis de torneira. Como no Brasil existiam águas sem as
qualidades das águas minerais, elas foram classificadas como água
potável de mesa, que na verdade é a maioria das nossas águas ditas
minerais.

No Código de Águas Minerais no artigo terceiro, diz “serão consideradas


águas potáveis de mesa, as águas de composição normal, provenientes de
fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas, que preencham tão
somente as condições de potabilidade para a região”.

Portanto, as águas de fontes e poços tubulares profundos que não se


encaixem como água mineral, tornam-se água potável de mesa, desde
que atendam aos padrões de potabilidade.

Esta foi uma maneira sutil de deixar o que já existia. As águas de mesas
são águas leves e de ótima qualidade. A grande vantagem é que o
manancial subterrâneo é protegido contra poluição. Isto é o mais
importante.
No Brasil existe ainda outro tipo de água, a água soda, que é autorizada
pelo Ministério da Agricultura. A água soda é a água potável de torneira
que é acrescida de dióxido de carbono e usada com sifões de 1,5 litros.
Usada muito na Argentina e pouco no Brasil.

Como se pode ver temos quatro tipos de água engarrafadas:


A águas minerais são autorizadas pelo Ministério de Minas e Energia e
são envasadas e distribuídas em todo território nacional. Está prevista no
Código de Águas Minerais (Decreto-Lei 7.841/45 artigo 1º).
1) E a águas potáveis de mesa, são autorizadas pelo Ministério de Minas
e Energia e são envasadas e distribuídas em todo território nacional. Está
prevista no Código de Águas Minerais (Decreto-Lei 7.841/45 artigo 3º).
2) As águas comuns adicionadas de sais são autorizadas pelo Ministério
da Saúde e trata-se de água potável de torneira que sofrem novo
tratamento, adicionam-se alguns sais e envasam (Portaria 328/95
Ministério da Saúde).
4) A água soda é água potável de torneira acrescida de dióxido de
carbono. É aprovada pelo Ministério da Agricultura, envasada e vendida
(Decreto 2.314 de 4 de setembro de 1997 que regulamenta a Lei 8.918
de 14 de julho de 1994).
Os padrões de identidade e qualidade das águas minerais e potáveis de
mesa são estabelecidas por legislação própria.
Trata-se da Resolução 25/76 do Ministério da Saúde que está sendo
revista, baseada no Codex Alimentarius da Organização Mundial de
Saúde, conforme reuniões realizadas na Suíça nos anos de 1996 e 1997.
Nos Estados Unidos quando há uma contaminação local de uma rede de
distribuição de água potável, o órgão público ou privado é obrigado a
informar a população e pedir que se ferva a água ou que se use água
mineral.
Código de Águas Minerais- conceito latino – O Código de Águas
Minerais Brasileiro (Decreto-Lei 7841 de 08/08/1945) foi baseado nas
leis francesas, abandonando as idéias de água mineral dos países de
língua alemã, como a Alemanha e Áustria. Foi então adotado o conceito
latino de água mineral, o qual é mais racional do que o conceito
germânico.
A definição principal de água mineral está no artigo primeiro do Código
de Águas Minerais: Águas minerais são aquelas provenientes de fontes
naturais ou fontes artificialmente captadas que possuam composição
química ou propriedades físicas ou físico-químicas distintas das águas
comuns, com características que lhes confiram uma ação
medicamentosa.
Portanto, as águas minerais são geralmente as fontes de água, as
surgências naturais que existem nas fazendas ou podem ser captadas
através de um poço tubular profundo com o uso ou não de bombas
submersíveis. A água mineral de modo geral, está num lugar protegido
de poluição devido a fezes de animais, pessoas, adubos e resíduos
industriais. A fonte de água mineral geralmente está numa fazenda em
lugar protegido por poluição, tudo arborizado e longe das cidades e das
chuvas poluídas pelas indústrias.
A qualidade indiscutível da água mineral – Mesmo sem considerar as
propriedades terapêuticas que os consumidores acreditam ter nas águas
minerais, atribuindo-lhes a cura de inúmeras doenças, principalmente das
vias urinárias e digestivas sem justificar suas razões, isto vem mostrar a
imagem de saúde que as águas minerais transmitem.
Hoje em dia no Brasil, encontram-se nas residências e nos escritórios
vasilhames de água mineral de 20 litros, atestando mais uma vez, a
tendência brasileira de seguir os americanos.

Pois, embora seja comum o uso dos vasilhames de 20 litros de água


mineral nos Estados Unidos, isto não acontece na Argentina e nos países
europeus como a Itália, França e Alemanha. A venda dos vasilhames de
20 litros embora exista é muito pequena.

Existe o perigo e a confusão de se comprar no supermercado água que


não é água mineral, pois o usuário presta atenção em duas coisas
fundamentais, o preço e a beleza da embalagem. É necessário que se veja
o rótulo, e ver onde está escrito água mineral. O comprador tem o direito
de ter as informações para tomar a sua decisão.
No Brasil foi vendido cerca de 5 bilhões de litros no ano 2003 de água
mineral, pois as pessoas julgam a água mineral um produto diferenciado,
bom para a saúde, dietético, socialmente desejado e imitado. Nos últimos
anos a venda de água mineral era acrescida de 20% ao ano.

No México, o quarto consumidor de água mineral no mundo, os


vasilhames de 10litros e 20litros são isentos de impostos. Abaixo de
10litros o imposto é de 15%.
No Brasil o imposto cobrado da água mineral é de 40%, isto quer dizer,
que a água mineral é considerada alimento pelo Ministério da Saúde e ao
mesmo tempo bebida para efeito de impostos. O imposto ideal deveria
ser de 12% abaixo de 10litros e isenção para vasilhames de 10litros e
20litros.
Sem sombra de dúvida a água mineral do Brasil é a melhor do mundo.
Engenheiro civil Plínio Tomaz
Diretor de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da ACE

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